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Alienação Parental - Interlocuções entre o Direito e a Psicologia CAPÍTULO 2 O PSICÓLOGO COMO PERITO E COMO ASSISTENTE TÉCNICO Sandra Maria Baccara Araújo Ainda é recente na prática do Psicólogo a atuação na área da Psicologia Jurídica, o que tem causado confusão para profissionais da Psicologia e do Direito sobre a diferença do lugar do Psicólogo como assistente técnico e como perito judicial. A percepção cada vez maior da importância e da necessidade do trabalho conjunto entre profissionais da área do Direito e da Psicologia, principalmente na área do Direito de Família, e o reconhecimento por parte dos Juizes e Promotores do lugar do Psicólogo nos processos judiciais, estimulou a elaboração desse trabalho. Meu principal objetivo será distinguir o lugar do Psicólogo como Perito e como Assistente Técnico, atuações muito diferentes no processo judicial. O Perito é um profissional que por sua experiência e conhecimento cientifico e técnico fornece informações ao juízo colaborando para que este possa formar uma convicção mais clara sobre o problema a ele apresentado. Ele é um auxiliar do Juiz e como tal é citado no art. 139 do CPC: “São auxiliares,do juízo, além de outros, cujas atribuições são determinadas pelas normas de organização Sandra Maria Baccara Araújo judiciária, o escrivão, o oficial de justiça, o perito, o depositário, o administrador e o interprete”. Ele é um profissional da confiança do juízo, confiança essa decorrente, como afirma Perissini da Silva (2003:25) “não apenas do compromisso, mas da sua capacidade técnica, ou seja, de sua aptidão, habilidade e conhecimentos específicos para exercer com competência a função pericial que lhe é atribuída”. O perito psicólogo deve estar regularmente registrado em seu conselho de classe, e, em pleno gozo de seus atributos profissionais, devendo seguir as normas impostas por este, no caso o CFP e os conselhos regionais. Encontramos dois tipos de peritos: aqueles que são funcionários dos Tribunais de Justiça, atuando nos fóruns, e os peritos particulares que atuam por indicação do Judiciário. Para Freitas e Pellizzaro (2011:49) o perito “é o profissional com conhecimento técnico, científico, solicitado pelo juiz, nos casos em que a prova depender de algum esclarecimento especializado”. Citando Teixeira Filho, os autores afirmam que a Pericia é “um meio de prova destinado ao exame e à avaliação de determinados fatos ou causa, que somente podem ser percebidos por quem possui conhecimentos técnicos ou científicos” Para o CFP em sua resolução 08/2010 o psicólogo que atuar como perito deve fazê-lo de acordo com o Código de Ética Profissional e dentro das normas técnicas e cientificas explicitadas por esse conselho na Resolução 07/2003. Como assistente do juízo, deve exercer tal função com total isenção em relação às partes envolvidas e comprometimento ético para emitir posicionamento de sua competência teórico-técnica. Afirma ainda a resolução 08/2010 que “o psicólogo Alienação Parental - Interlocuções entre o Direito e a Psicologia considerará as relações de poder nos contextos em que atua e os impactos dessas relações sobre suas atividades profissionais, posicionando-se de forma crítica e em consonância com os demais princípios desse Código de Ética Profissional, conforme disposto no princípio fundamental VII, do Código de Ética Profissional”. Quanto ao trabalho de Assistente Técnico a citada resolução do CFP mostra que eles “são de confiança da parte para assessorá-la e garantir o direito ao contraditório, não sujeitos a impedimento ou suspeição legais”. Recomenda na Resolução 08/2010 em seu Artigo 2o que “O psicólogo assistente técnico não deve estar presente durante a realização dos procedimentos metodológicos que norteiam o atendimento do psicólogo perito e vice-versa, para que não haja interferência na dinâmica e qualidade do serviço realizado”. Essa proposição é questionada pelos profissionais do Direito e da própria Psicologia que entendem que esse artigo impede o direito de defesa, por dificultar a compreensão e acompanhamento da realização das provas. O assistente técnico dessa forma só poderá estar presente se houver ordem judicial. O Parágrafo Único do artigo 2o da resolução 08/2010, afirma que “A relação entre os profissionais deve se pautar no respeito e colaboração, cada qual exercendo suas competências, podendo o assistente técnico formular quesitos ao psicólogo perito”. 0 CPC em seu Art. 421 diz que: Io-Incum be as partes, dentro de 5 (cinco) dias, contados da intimação do despacho de nomeação do perito: 1 - indicar o assistente técnico; II - apresentar quesitos. Scmdra Maria Baccara Araújo Cabe ao Assistente Técnico, elaborar Parecer Critico a respeito do processo, além dos quesitos que serão respondidos pelo Perito. O Art. 433 do CPC em seu Parágrafo Único diz que: “Os assistentes técnicos oferecerão seus pareceres no prazo comum de 10 (dez) dias, após intimadas as partes da apresentação do laudo”. A compreensão sobre as peças do processo é fundamental para a realização do trabalho. Para tanto entendo que o psicólogo, assistente técnico, precisa conhecer, no Código de Direito Civil, o livro que fala do Direito de Família. Ler o processo e desvendar as questões psicológicas subjetivas, realizando o Parecer Critico sobre o mesmo, leva-o a poder fundamentar o trabalho do advogado, o que ajudará na formulação de suas peças. Além disso ele orientará a parte no que concerne à Perícia, discutirá e responderá o laudo pericial e as respostas dos quesitos por ele formulados. O Assistente Técnico é facultativo, não estando as partes obrigadas a contratá-lo. Em seu Art. 8o a Resolução 08/2010 do CFP informa que “O assistente técnico, profissional capacitado para questionar tecnicamente a análise e as conclusões realizadas pelo psicólogo perito, restringirá sua análise ao estudo psicológico resultante da perícia, elaborando quesitos que venham a esclarecer pontos não contemplados ou contraditórios, identificados a partir de criteriosa análise”. No Parágrafo Único da citada Resolução afirma que “Para desenvolver sua função, o assistente técnico poderá ouvir pessoas envolvidas, solicitar documentos em poder das partes, entre outros meios (Art. 429, Código de Processo Civil)” . Alienação Parental - Interlocuções entre o Direito e a Psicologia A elaboração do Laudo Psicológico e do Parecer Critico pelo Perito e pelo Assistente Técnico Segundo o CFP, na Resolução 07/2003: “A avaliação psicológica é entendida como o processo técnico-científico de coleta de dados, estudos e interpretação de informações a respeito dos fenômenos psicológicos, que são resultantes da relação do indivíduo com a sociedade, utilizando-se, para tanto, de estratégias psicológicas - métodos, técnicas e instrumentos. Os resultados das avaliações devem considerar e analisar os condicionantes históricos e sociais e seus efeitos no psiquismo, com a finalidade de servirem como instrumentos para atuar não somente sobre o indivíduo, mas na modificação desses condicionantes que operam desde a formulação da demanda até a conclusão do processo de avaliação psicológica”. Acitada Resolução diferencia entre outros procedimentos, o Relatório ou Laudo Psicológico e o Parecer Técnico ou Critico. “O relatório ou laudo psicológico é uma apresentação descritiva acerca de situações e/ou condições psicológicas e suas determinações históricas, sociais, políticas e culturais, pesquisadas no processo de avaliação psicológica”. Como todo DOCUMENTO, deve ser subsidiado em dados colhidos e analisados, à luz de um instrumental técnico (entrevistas, dinâmicas, testes psicológicos, observação, exame psíquico, intervenção verbal), consubstanciado em referencial técnico-filosófico e científico adotado pelo psicólogo. A finalidade do relatório psicológico será a de apresentar os procedimentos e conclusões gerados pelo processo da avaliação psicológica, relatando sobre o encaminhamento, as intervenções, o diagnóstico, o prognóstico e evolução do Sandra Maria Baccara Araújo caso, orientação e sugestão de projeto terapêutico, bem como, caso necessário, solicitação de acompanhamento psicológico, limitando-se a fornecer somente as informações necessárias relacionadas à demanda, solicitação ou petição. É função do Perito judicial após a realização da perícia elaborar o Laudo que ajudará o juízo em sua sentença. Outra forma de pericia é o Estudo Psicossocial normalmente feito em equipe que consta de psicólogo e assistente social, que analisa a dinâmica familiar e as conseqüências sobre seus participantes do conflito que está sendo vivenciado. Difere do Laudo Psicológico, porque não centra no individual, mas na dinâmica relacionai. A escolha da forma de realização da pericia deve levar em conta as circunstâncias do processo, a necessidade de avaliar individualmente os sujeitos envolvidos e as possibilidades técnicas existentes na região geográfica onde corre o processo. O “Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo resultado pode ser indicativo ou conclusivo”. O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma “questão-problema”, visando a dirimir dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de quem responde competência no assunto” (resolução 07/2003 - CFP). O Assistente Técnico não realiza Laudo ou Estudo Psicossocial, conforme determinação do CFP. Cabe a ele a partir da análise do processo, da escuta das pessoas envolvidas e de todas as provas que sejam importantes para seu trabalho elaborar o Parecer Critico que subsidiará o advogado da parte Alienação Parental - Interlocuções entre o Direito e a Psicologia que o contratou, sendo seu parecer parte do processo, podendo com isso também ser subsidio do juízo. A Lei 12.318/10 que trata da Alienação Parental em seu Art. 5o, diz que “Havendo indicio de alienação parental, em ação autônoma ou incidental, o juiz, se necessário, determinará pericia psicológica ou biopsicossocial”. Em seu inciso Io afirma que “O laudo pericial terá base em ampla avaliação psicológica e biopsicossocial, conforme o caso, compreendendo inclusive, entrevista pessoal com as partes, exame de documentos dos autos, histórico do relacionamento do casal e da separação, cronologia de incidentes, avaliação da personalidade dos envolvidos e exame da forma como a criança ou o adolescente se manifesta acerca de eventual acusação do genitor” No inciso 2o a lei propõe que “A pericia será realizada por profissional ou equipe multidisciplinar habilitados, exigido, em qualquer caso, aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico para diagnosticar atos de alienação parental”. Diagnosticar ato de alienação parental não é uma atividade simples, pois demanda um vasto conhecimento cientifico e prático por parte do perito e/ou do assistente técnico. A própria Lei 12318/10 exemplifica o que seriam atos de alienação parental. Porém existem muitas outras formas. Hoje podemos identificar crianças e adolescentes que apesar de não repudiarem o genitor alienado, claramente manifestam um sofrimento psíquico e/ou corporal típicos de um sujeito alienado. Assim, se não tivermos uma visão sistêmica sobre o fato, a alienação parental muitas vezes pode passar despercebida ao juízo e mesmo ao assistente técnico e ao perito. Sandra Maria Baccara Araújo Por ser uma lei recente, embora atos de alienação parental sempre tenham existido, encontramos ainda dificuldade de identificar profissionais que tenham as habilidades que pede a Lei: “aptidão comprovada por histórico profissional ou acadêmico” e que diagnostique os atos de alienação parental com precisão. Precisamos alertar as faculdades de Psicologia, Assistência Social e Direito, para que forneçam a seus alunos a formação adequada para que tenham competência para atuar nesses casos. Deixamos em anexo as Resoluções do CFP citadas no texto, alem do Código de Ética Profissional do Psicólogo, para que possam dirimir quaisquer dúvidas deixadas pelo texto. BIBLIOGRAFIA: ARAÚJO, S. M. B. - ALIENAÇÃO PARENTAL - Publicado na Revista Associação dos Defensores Públicos do Distrito Federal, Ano 3 - Número 3 - Dezembro/2008 - Publicação Anual FREITAS, D. & PELLIZZARO, G. (2 0 1 1 )-Alienação Parental - Comen tários à Lei 12.318/2010. Rio de Janeiro, Ed. Forense, p. 49 SILVA, Denise Perissini (2003)- Psicologia Jurídica no Processo Civil Brasileiro. São Paulo, Casa do Psicólogo, p. 25
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