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Autores: Luiz Alexandre Moura Penteado1 Natanael Barbosa dos Santo2 Fernando José Camello de Lima3 1 Mestre em Periodontia, Professor de Periodontia do CESMAC, UFAL e ABO/Al 2 Doutor em Odontologia Preventiva, Professor de Cariologia do CESMAC e UFAL 3 Mestre em Clínica Odontológica, Professor de Periodontia do CESMAC e Anatomia Humana da UFAL. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. CONSIDERAÇÕES INICIAIS Na atualidade as enfermidades bucais mais prevalentes ainda são a cárie e doença periodontal. Ambas apresentam como fator etiológico primário o biofilme dentário, porém vale ressaltar que para o desenvolvimento da cárie há necessidade da interação entre diversos fatores, tendo a dieta, rica em açúcares, e a higiene bucal deficiente como fatores principais. Por outro lado as doenças periodontais dependem além do biofilme dentário (virulência microbiana) de fatores ligados ao hospedeiro que tornem o indivíduo susceptível a evolução do processo patológico, ou seja, a evolução de uma gengivite para a periodontite. Recorda-se ainda que a cárie e a doença periodontal trazem consigo experiências desagradáveis como por exemplo dor para a doença cárie (em estágio mais avançado), sangramentos gengivais para gengivite/periodontite, ou até mesmo dentes abalados (em estágios finais de periodontite) e halitose, além disso essas enfermidades podem levar a quadros agudos, como abscessos de origem pulpar e/ou periodontal. Como sequela primária, caso não tratadas, as duas patologias geram a perda do elemento dentário que por sua vez provoca dificuldades mastigatórias, que podem induzir a quadros de alteração da saúde gastro- entérica, de fonética e até mesmo de convívio social, uma vez que a perda de elementos dentários pode influenciar na auto-estima dos indivíduos. Pesquisas científicas têm demonstrado que a cárie (em estágio avançado – comprometimento pulpar) e as periodontopatias podem gerar impactos em nível sistêmico geral. Atualmente se reconhece o potencial de infecções bucais em provocar endocardites infecciosas, bem como de atuarem como fator de risco para acidentes vasculares cerebrais (AVC), contribuir na formação de ateromas em vasos como os do coração, induzir a partos prematuros com bebês de baixo peso e infecções pulmonares. Estas podem ainda interferir no controle da Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. glicemia em pacientes diabéticos, provocar danos a órgãos transplantados, entre outros. Isto posto entende-se que a prevenção das doenças bucais ainda é o melhor meio de promoção de saúde, através de uma Odontologia simples e ao alcance de todos, bastando para isto difundir para a comunidade/sociedade informações sobre os fatores etiológicos destas doenças, e ensinar técnicas de higiene que propiciem o controle efetivo destes fatores. Assim este manual tem o propósito de servir de base para estudantes de odontologia sobre os meios de controle do biofilme dentário, em especial sobre as técnicas de escovação que são até hoje a forma mais efetiva para o controle do biofilme. Espera-se assim que o futuro profissional possa sentir segurança para difundir seu conhecimento e, portanto indicar técnicas de higiene bucal que respeitem as particularidades de cada caso (indicações), bem como que passe a dominar estas técnicas, mesmo sabendo-se que a literatura científica tem demonstrado não haver supremacia entre as diferentes formas de se escovar os dentes. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. CONTROLE MECÂNICO DO BIOFILME DENTAL Clinicamente é importante se distinguir entre biofilme dentário e debris alimentares (matéria alba). O biofilme dental basicamente consiste em um agregado de microorganismos (predomínio de colônias bacterianas interligadas por polissacarídeos extracelulares) embebidos em uma matriz amorfa os quais estão aderidos ao esmalte dentário. Uma característica inerente ao biofilme dentário é o fato deste resistir às forças fisiológicas de auto- limpeza, por exemplo: ação da saliva mais atrito da língua de encontro às superfícies dentárias. Contudo recorda-se e destaca-se, neste ponto do texto, que o biofilme dentário é removido por escovação e uso correto do fio dental. Por outro lado a matéria alba é constituída basicamente por resíduos alimentares, e/ou outros constituintes insolúveis que se depositam ou prendem entre os dentes ou nas fissuras. Estes produtos são advindos da alimentação e normalmente se acumulam em grande quantidade sobre as superfícies dentárias. A matéria alba pode assim estar na cavidade bucal em conjunto com o biofilme dental, contudo destaca-se que a matéria alba é facilmente removida, seja por auto- limpeza, jato de água, ou bochechos enquanto o mesmo não ocorre com o biofilme que só é removido por meio de uma escovação eficiente. Fazer a efetiva distinção clinica entre biofilme dentário e matéria alba é importante uma vez que a escovação objetiva remover não somente a matéria alba, mas principalmente o biofilme dentário e assim promover uma redução da cárie e gengivite. Sendo assim é relevante que o cirurgião - dentista esteja capacitado a reconhecer estas estruturas para que possa difundir este conhecimento aos seus pacientes. É preciso que os pacientes saibam diferenciar estas estruturas para executar uma higienização bucal eficiente e funcional. Isto é uma das funções do cirurgião - dentista, que, entretanto precisa ainda saber Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. reconhecer os diferentes perfis de pacientes, para motivá-los, tocando- os profundamente nos valores que esses têm, e mantê-los firmes nesse hábito, dando continuidade às orientações recebidas. TÉCNICAS DE ESCOVAÇÃO As técnicas de escovação podem ser classificadas de acordo com o tipo de movimento que a cabeça da escova realiza em relação ao dente: vibratória, rolo, circular e horizontal. Podem ainda ser classificadas de acordo com o nome de seu idealizador, como por exemplo: técnica de Bass, de Stillman, de Charters, de Fones. Nas linhas abaixo segue, em ordem histórica, uma descrição das técnicas mais comumente observadas na literatura. Procura-se destacar além da técnica em si suas indicações e particularidades. - Técnica de Bass - (BASS, CC. Effective methods of personal oral hygiene. J. Ia, med. Soc. 106:56. 1954) (BASS, CC. An effective method of personal oral hygiene. II. J. La St. Med Soc. 106:100.1954) OBJETIVO: Limpar o sulco gengival sem provocar danos e possibilitar a formação de queratina no epitélio sulcular. INDICAÇÃO Principalmente para pacientes com doença periodontal. Indicar com cautela em pacientes que tenham dificuldades de coordenação motora ou em crianças, pois a técnica requer certa habilidade. PASSOS: Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. 1. A escova (cerdas macias, multitufos) é posicionada em ângulo de 45 graus em relação ao eixo longitudinal do dente e suas cerdas são gentilmente forçadas em direção e para dentro do sulco gengival e áreas interproximais. 2. Realiza-se movimentos curtos, vibratórios e ritmados no sentido ântero-posterior com duração entre 10 -15s por cada área condicionada ao tamanho da cabeça da escova. (para dentes anteriores superiores e inferiores posicioná-la verticalmente, para facilitar o acesso ao sulco gengival na porção cervical das coroas dentárias) 3. De acordo com a descrição original de Bass (1954) o biofilme supragengival é removido pelas cerdas que não estão no sulco.4. A face oclusal é escovada com movimentos curtos anteroposteriores, devendo as cerdas esfregar firmemente esta face. 5. De acordo com Bass (1954) cerca de 20 golpes/movimentos é recomendado para cada face dentária. Obs.: A técnica de Bass modificada acrescenta o movimento de escovação/rolagem das cerdas para oclusal ao final de cada ciclo de 20 movimentos vibratórios, exercido sobre um ou no máximo dois dentes. Esta modificação objetivou melhorar a remoção de biofilme supragengival provida pela técnica convencional de Bass, uma vez que nesta poderia existir resíduos de biofilme em áreas interproximais e nos dois terços oclusais das faces livres. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. - Técnica de “esfregar” (“Scrub”) - (MAcCLURE, DB. A comparasion of toothbrushing techniques for the preschool child. J. Dent. Child. 33:205. 1966) OBJETIVOS: Remoção do biofilme e matéria alba da superfície dental. INDICAÇÃO: Na literatura consultada não foram encontradas indicações específicas, porém Weidjen et al.(2010) destacam que este é o método frequentemente mais usado por pessoas que nunca receberam instrução das técnicas de higiene oral, e que apesar dos esforços dos profissionais de odontologia em instruir seus pacientes a adotar outras técnicas, muitos indivíduos usam esta técnica por ser a mais simples. PASSOS: 1. As cerdas são posicionadas em 90º em relação à superfície dentária e a escova e deslocada para trás (distal) e para frente (mesial) num movimento de esfregação. 2. As superfícies oclusais, linguais e palatinas são escovadas com a boca aberta. 3. A superfície vestibular é limpa com a boca fechada para diminuir a pressão da bochecha sobre a escova. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. - Técnica de Stillman Modificada - (STILLMAN, PR. A philosophy of the treatment of periodontal disease. Dent. Dig. 38:315. 1932) OBJETIVO: Permite o massageamento gengival, além da remoção do biofilme da superfície dental. INDICAÇÃO: Crianças com mais de 7 anos de idade. Crianças mais hábeis e interessadas. PASSOS: 1. As cerdas da escova são posicionadas em 45º em relação ao longo eixo dental e em direção a gengiva marginal, e as cerdas devem recobrir parcialmente o tecido gengival. 2. Uma leve pressão, juntamente com o movimento vibratório (leve) no sentido mesio-distal é então aplicada sobre o cabo. 3. Segue-se, ainda executando o passo 2, um movimento gradual de deslize da escova em direção ao plano oclusal. 4. Nas superfícies oclusais as cerdas são posicionadas perpedircularmente a esta face e então a escova segue movimentos curtos anteroposteriores, devendo as cerdas esfregar firmemente a oclusal. Obs: A técnica de Stilman clássica (não modificada) segue os mesmos princípios acima descritos, excetuando-se o passo três supra citado. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. - Técnica de Charters - (CHARTERS, WJ. Eliminating mouth infections with the toothbrush and orther stimulating instruments. Dent. Dig. 38:130. 1932) OBJETIVO: Promover a penetração das cerdas da escova nos casos de retração das papilas interdentais. Originalmente elaborada para aumentar a eficiência da limpeza e estimulação gengival em áreas interproximais. Remoção do biofilme supra-gengival. INDICAÇÃO: Pacientes que apresentam espaço interproximal amplo (retração das papilas), visto que, com essa situação em particular, as cerdas da escova podem penetrar nos espaços interproximais. Entretanto deve-se entender que as superfícies proximais não serão limpas eficazmente com essa técnica. PASSOS: 1. Aplicar a cabeça da escova sobre o dente em ângulo de 45 graus com o plano oclusal. 2. Pressionar levemente as cerdas, a fim de que penetrem nos espaços interdentais. 3. Imprimir movimentos vibratórios curtos, a fim de que as cerdas façam a limpeza dos espaços proximais e estimulem o tecido gengival sem sair de sua posição. 4. Realizar os movimentos escovando dois dentes de cada vez e, ao final de um ciclo de 10 movimentos por grupo de dois dentes deslocar a escovar no sentido oclusal Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. - Técnica do “rolo” (“roll”) - (GIBSON, JA; WADE, AB. Plaque removal by the Bass and Roll brushing techniques. J Periodont. 48:456. 1977) OBJETIVO: Remoção do biofilme e matéria alba da superfície dental. INDICAÇÃO: Na literatura consultada não foram encontradas indicações específicas. PASSOS: 1. As cerdas são posicionadas em 45º ao longo eixo do dente, no sentido apical e destaca-se que repousam cobrindo toda gengiva marginal e inserida. 2. As cerdas são então firmemente rotacionadas (giradas/roladas) contra a gengiva e dentes num sentido coronal. 3. Após ter sido feito os passos 1 e 2 em todos os dentes de ambas arcadas, tanto por vestibular quanto por lingual, as cerdas da escova são dispostas perpendicularmente às superfícies oclusais dos dentes e então realiza-se movimentos de esfregação no sentido anteroposterior. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. - Técnica de Fones - (ISSÁO & GUEDES PINTO, 1993) OBJETIVO: Possibilitar um controle da retenção do biofilme dental em crianças com insuficiente habilidade em escovar corretamente os seus dentes. INDICAÇÃO: Crianças pouco habilidosas, principalmente da dentição decídua. PASSOS: 1. A criança empunha a escova e com os dentes cerrados faz movimentos circulares na face vestibular de todos os dentes superiores e inferiores, indo do último dente de um hemiarco a outro. 2. Nas faces palatinas ou linguais, os movimentos também são circulares, agora, como é óbvio, com a boca aberta. 3. Nas faces oclusais e incisais, os movimentos são no sentido ântero- posterior." 4. Estudos realizados pelos autores indicam que o número de movimentos nesta técnica devem ser de 15. Os autores, entretanto recomendam que para crianças mais habilidosas e interessadas a técnica indicada seja a de Stillman modificada ou a de Bass Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. CONSIDERAÇÕES FINAIS Já em 1986, Frandsen comentava que não era possível observar-se supremacia entre os diferentes métodos ou técnicas de escovação: “Pesquisadores têm compreendido que a melhora da higiene oral não depende tanto do desenvolvimento de melhores métodos de escovação quanto da melhora do desempenho do paciente em usar qualquer método de escovação aceitável.” Assim é factível considerar-se que atualmente a melhor técnica de escovação é aquela que o paciente domina: remove o máximo de biofilme dental presente, sem causar danos aos tecidos dentários e periodontais. Desta forma concorda-se com o pensamento de Weidjen et al. (2010) quando afirmam que: “...não há razão para introduzir uma técnica de escovação em particular para cada novo paciente com doença periodontal. Na maioria dos casos, pequenas mudanças no próprio método do paciente seriam suficientes, sempre levando em cosideração que mais importante do que a seleção de determinado método de escovação é a disposição demonstrada pelo paciente em limpar os dentes.” Portanto, deve-se primeiramente conhecer a forma que o paciente faz o controle mecânico da placa bacteriana, sugerindo-se as mudanças necessáriase fazendo o acompanhamento de sua execução, corrigindo movimentos amplos e vigorosos. Por fim pondera-se que a implementação de cada um dos métodos descritos neste manual deve ser feita de acordo com as particularidades que cada caso requeira. Por exemplo, não parece ser pertinente o uso/indicação do método de Bass para indivíduos portadores de retrações gengivas, com estreita faixa de gengiva inserida e que apresentem hábitos enérgicos de escovação, uma vez que estudos científicos têm associado esta técnica à ocorrência de retração gengival. Manual de Técnicas de Escovação Dentária. Autores: PENTEADO, LAM; SANTOS; NB; LIMA, FJC. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASS, CC. Effective methods of personal oral hygiene. J. Ia, med. Soc. 106:56. 1954 BASS, CC. An effective method of personal oral hygiene. II. J. La St. Med Soc. 106:100.1954 CHARTERS, WJ. Eliminating mouth infections with the toothbrush and orther stimulating instruments. Dent. Dig. 38:130. 1932 GIBSON, JA; WADE, AB. Plaque removal by the Bass and Roll brushing techniques. J Periodont. 48:456. 1977 MAcCLURE, DB. A comparasion of toothbrushing techniques for the preschool child. J. Dent. Child. 33:205. 1966 NIKIFORUK, G. Antimicrobial methods – Mechanical and Chemical. IN: NIKIFORUK, G. Understanding dental caries. vol.2 Prevention – Basic and Clinical Aspects. Karger: Switzerland. 1985. STILLMAN, PR. A philosophy of the treatment of periodontal disease. Dent. Dig. 38:315. 1932 WEIDJEN, FV; ECHEVERRIA, JJ; SANZ, M; LINDHE, J. Controle mecânico do placa supragengival. IN: LINDHE, J; LANG; NP; KARRING, T. Tratado de periodontia clínica e implantologia oral. 5ª ed. Editora Guanabara Koogan: Rio de Janeiro. 2010. p.678-705
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