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Resumo de capítulo 2 do Espetáculo das Raças de Lilia Schwarcz

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Resumo de capítulo 2 do Espetáculo das Raças de Lilia Schwarcz
Notas de Cecilia McCallum para a Aula de 2/4 sobre "A invenção de ‘raça’. Teorias raciais no século 19"
Balanço das diferentes teorias raciais sec.XIX. Marcadas pela noção de evolução social – mas havia diferentes escolas de pensamento.
Não havia um conceito de ‘raça’ no séc. XVIII. Falavam de ‘povos’ e ‘nações’. No entanto, distintas formas de pensar a diferença no Sec. XVIII – bases para duas posturas distintas no Sec. XIX.
Humanismo – Rousseau – ‘defesa da humanidade una’.
Buffon, De Pauw e outros – diferenças essenciais entre os homens.
1 - ENTRE EDENIZAÇÃO E DETRAÇÃO
Sec. XVIII povos selvagens – começarem a ser vistos como ‘primitivos’.
Para Rousseau, os seres humanos – aperfeiçoaveis. A perfectibilidade era marca da humanidade una. Mas o ‘estado de civilização’ deixava o ser humano cheio de vicios, infeliz. Levava a desigualdade entre homens. A liberdade e a igualdade – naturais.
Os bons selvagens mais do que nada = um modelo lógico – são contrapostos aos homens ocidentais. Moralmente superiores.
Contra esta visão – Segunda metade do Sec XVIII – maior conhecimento das Américas. Teorias sobre inferioridade. Anti-americanismo.
Infantilidade, Carência, debilidade dos animais e a terra e os homens - Buffon (1707-88)
Degeneração, espécies inferiores, os americanos não só imaturos mas decaídos, corrompidos - Cornelius de Pauw.
"Portanto, no contexto intelectual do século XVIII, novas perspectivas se destacam. De um lado, a visão humanista herdeira da evolução Francesa, que naturalizava a igualdade humana; de outro, uma reflexão, ainda tímida, sobre as diferenças básicas existentes entre os homens. A partir do século XIX, será a Segunda postura a mais influente, estabelecendo-se correlações rígidas entre patrimônio genético, aptidões intelectuais e inclinações morais" (Schwarcz 1993:46-47)
2 - NATURALIZANDO AS DIFERENÇAS
A emergência da "raça" - A noção de "raça" emergiu nos finais do Sec XVIII / começo do Séc. XIX. Para Schwarcz, citando Stocking, quem introduziu o termo foi Georges Cuvier. Más S.J. Gould menciona Lineu (fundador do moderno sistema de classificação cientifica das espécies: " Na primeira definição formal das raças humanas, em termos taxonômicas modernos, Lineu mesclou traços do caráter com anatomia (Sistema Naturae, 1758). O Homo sapiens afer (o negro africano), afirmava ele, é "comandado pelo capricho"; o Homo sapiens europaeus é "comandado pelos costumes". (Gould 2003:21)]
O importante é que surgiu uma nova atitude à diferença – não mais o de ‘narrar’ – agora de "classificar, ordenar" – e hierarquizar.
ESSENCIALISMO: Embora Schwarcz atribui a Cuvier a invenção "da idéia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos" (p.47)., outros veiem essa idéia como bem mais antiga. Gould cita Plato e Socrates como articuladores da noção de que diferentes grupos humanos ( no caso, classes na Grécia antiga – aristocratas, auxiliares, artesãs) tem essências distintas.
"Raça" – a noção fazia parte dos debates sobe o igualitarianismo. Representava uma noção chave para os que se opunhavam às revoluções.
PENSANDO NA ORIGEM: MONOGENISMO X POLIGENISMO
Debate – modelo igualitário contra doutrinas raciais
Pensado em termos de: a origem da humanidade e o problema da relação entre cultura (civilização) e natureza (meninos-lobos)
A visão monogenista – dominante até meados do Séc. XIX – humanidade una
Gradiente – humanos desde os mais próximos ao Eden, aos menos próximos e mais degenerados.
A visão poligenista – contestava o dogma monogenista da Igreja. Dominava a partir dos meados do Sec.XIX. Crescente sofisticação das ciências biológicas. Crença em vários centros de criação, correspondentes às diferenças raciais observadas. Raças humanas = "espécies diferentes". O selvagem não podia ser aperfeiçoado. Igualdade era impossível.
Frenologia – estudo dos traços fisionómicas – teoria ligava estes a capacidades intelectuais e qualidades morais.
Antropometria - tomando medidas do corpo.
Craniologia – estudos quantitativos sobre o crânio.
Determinismo biológico destas novas ciências como nova e poderosa "base" (suposta) na metodologia e rigor da ciência, dos estudos aparentemente empíricos. Ligação – comportamentos humanos – resultado de leis biológicas e naturais.
Cesare Lombroso – Antropologia Criminal. O comportamento criminoso – resultado de aspectos biológicos dos criminosos. Criminialidade – um fenômeno físico e hereditário (1876)
Nina Rodrigues - a antropologia brasileira – estrita ligação com a criminologia e a medicina legal. Problema do Brasil (esp. Bahia) a miscigenação. Raças não eram iguais – a mistura levava a piores problemas. O criminoso era sobretudo um doente – até curável for medidas fisiológicas. A lei tinha que ser aplicada de forma diferente dependendo da raça do criminis. Deveria focar o criminoso e não a crime.
Suas publicações:
As raças humanas e o responsabilidade penal no Brasil. 1894 .
Africanos no Brasil.1933.
Antropologia física desse tipo (poligenista) X. etnologia (monogenista) Guerra entre etnologia e antropologia – sociedades rivais e instituições distintas. "Imutabilidade dos tipos humanos" x "aprimoramento evolutivo das raças".
Paul Broca – Societé Anthropologique de Paris (1859) – Paul Broca – anatomista e craniologista. Procurava identificar ‘raças puras’ através estudo dos cranios. Tese da imutabilidade das raças.
Samuel George Morton - - American School of Poligeny – Crania Americana – 1839; e Crania Aegypta – 1844.
Sociedades etnologicas de Londres, Paris, Nova Yok. Monogenistas, files a Rousseau.
A EVOLUÇÃO ENQUANTO PARADIGMA
1859 – A Origem das Especies – Darwin- Resultou na diluição das disputas. Evolucionismo ganhou. Origem comum da humanidade.
Mas os poligenistas afirmavam que a divisão entre tipos muito antigo. Heranças e aptidões diversas entre raças... Social-darwinismo cresceu. Interpretações que divergem da intenção do próprio autor. Muitos exemplos do uso de conceitos para fins próprios (geografia, psicologia, lingüística etc.) Os darwinistas sociais ressuscitaram as perspectivas poligenistas do inicio do século.
Vínculos do modelo poligenista com o imperialismo europeu – "seleção natural" explicava o domínio ocidental – e o justificava. (Schwarcz 1993:56)
Mistura de raças- Para poligenistas - entre os quais biólogos, médicos, antropologos fisicos etc. – era um fenômeno recente. Mestiços = degeneração – Broca argumentou que a mula é estéril, e o mulato também. Gobineau – argumentou o oposto – lamentava a extrema fertilidade dos misturados.
Para os poligenistas, a Seleção Natural = Degeneração Social. Deveria se opor ao hibiidismo, manter as raças separadas.
Minimizaram a importância da origen comum. Enfatizaram as "leis da natureza" como determinantes (idéia presentes em Darwin, mas não no sentido social e cultural dado pelos novos poligenistas com a sua teoria de ‘raças’).
Determinismo biológico central, portanto, às suas idéias.
"Uma só teoria fundamentava, desta forma, as diferentes interpretações das escolas, que disputavam a hegemonia na representação de sua época" Schwarcz 1993:57
ANTROPOLOGIA CULTURAL: A DESIGUALDADE EXPLICA A HIERARQUIA
Etnologia ou antropologia cultural – (o que já estudamos nas mais recentes aulas)
civilização e progresso – modelos universais, não específicos a uma só sociedade.
Estágios de evolução –
método comparativo.
Princípio otimista – uma só humanidade, progresso ao alcance de todos.
O DARWINISMO SOCIAL: A HUMANIDADE CINDIDA
Seção mais desenvolvida.
2 grandes escolas deterministas:
Determinismo geográfico – Ratzel e Buckle "o desenvolvimento cultural de uma nação totalmente condicionada pelo meio – condições físicas do país.
Determinismo racial – Também conhecido como ‘darwinismo social’ e ‘teoria das raças’.
prezava a preservação dos ‘tipos puros’ – compreendia a mestiçagem como causa de degeneração racial e social.Os teóricos de raça ensinavam uma antropologia biológica respaldada em 3 proposições básicas:
Realidade das raças. (distintas, como Cavalos vs. Jegues)
Continuidade entre carateres fisicas e carateres morais - A divisão entre raças correspondia a uma divisão entre culturas -
O grupo ‘racio-cultural’ determina o comportamento do sujeito.
Levou a um ‘ideal político’ – a submissão ou até eliminação das ‘raças inferiores’.
Eugenia:
O que é? Fundador Francis Galton – 1869 – Hereditary Genius. –
Tese central: que a capacidade humana é função da hereditariedade e não da educação.
Tornou-se um movimento social e cientifico vigoroso a partir dos anos 1880. Fundou políticas sociais: Intervenções administrativas dos estados – não mais seleção natural, agora seleção social, direcionado por estados.
Oposição entre: O ocidente – da raça ariana – o progresso e civilização.
X
As terras onde ocorria a miscenigação – a degeneração e a ausência de cultura/civilização.
A perfectabildade – privilégio apenas das ‘raças civilizadas’ (não mais de toda humanidade’)
As diferenças – irreparáveis e definitivas – a igualdade, portanto, um problema ilusório. Os darwinistas sociais filiados aos centros de antropologia (biológia) – pensavam que não havia uma humanidade – senão raças humans distintas – especies diferentes.
Ela então trabalha com 4 desses autores poligenistas:
O conde Gobineau (1816-1882) talvez o mais citado "sacerdote do racismo" : Essai sur l’ínegalité des races humaines 1853. Pp. 63- 64. O resultado da mistura sempre um dano. Sub-raças não civilizaveis. Os mestiços sub-racas Decadentes e degeneradas...
Que papel jogava a miscigenação, portanto, na ‘teoria das raças’?
...."grande divisor entre as concepções monogenistas das escolas etnológicas e as interpretações poligenistas...[da] antropologia da época" (p.64.)
O modelo racial fez sucesso no Brasil – até os anos 30 do Século XX. Más foi bastante adaptado para um pais mestiço.
Referência
Gould, Stephen Jay. ‘Introdução’ In A Falsa Medida do Homem. SP: Martins Fontes, 2003. Pp. 3-14
Schwarcz, L.‘Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do Século XIX’. In: O Espetáculo das Raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Pp. 43-66.
Teóricos Raciais do Século XIX
Resumo de: Schwarcz, Lilia. ‘Uma história de diferenças e desigualdades: as doutrinas raciais do Século XIX’. In: O espetáculo das Raças. São Paulo: Cia das Letras, 1993. Pp. 43-66.
No século XIX, os teóricos raciais se referiam constantemente aos pensadores do século XVIII. A literatura humanista, em especial Rousseau, apareciam como seus principais adversários, autores como De Pauw e Buffon eram assinalados como grandes influências se tratando das justificativas das diferenças essenciais entre os homens.
A percepção da diferença entre os homens se torna assunto de reflexão e debate na época das grandes viagens. Nas narrativas de viagens, os “novos homens” eram constantemente descritos como estranhos em seus costumes, múltiplos em sua natureza.
É no século XVIII que os “povos selvagens passam a ser entendidos como primitivos”. São denominados primitivos porque primeiros, no início do gênero humano.
O conceito-chave na teoria humanista de Rousseau foi a noção de “perfectibilidade” que resumia uma especificidade propriamente humana. A partir dessa noção, a ótica humanista discorria sobre a capacidade singular e indissociável a todos os homens de sempre superarem-se. Segundo o filósofo genebrino: “há uma outra qualidade muito específica que distingue os homens, a respeito da qual não pode haver contestação - é a faculdade de aperfeiçoar-se”. A “perfectibilidade” não supunha o acesso obrigatório à virtude e ao “estado de civilização”, como supunham os teóricos do século XIX. A “perfectibilidade humana”, marca de uma humanidade una, anunciava para Rousseau os “vícios” da civilização, a origem das diferenças entre os homens.
No século XVIII, a reflexão sobre a diversidade torna-se central a partir dos ensinamentos da Ilustração e dos legados políticos da Revolução Francesa, estabelecendo-se as bases filosóficas para se pensar a humanidade enquanto totalidade. A igualdade de princípios era inscrita na constituição das nações modernas, se delegando às desigualdades um espaço “moralmente neutro”.
Para Rousseau, o “estado de natureza” significava um trampolim para se analisar a própria sociedade ocidental, um adequado instrumento para se pensar o próprio “estado de civilização”.
A origem das desigualdades entre os homens, segundo Rousseau, foi concluída, “se há bondade original da natureza humana: a evolução social corrompeu-a”.
A partir de Buffon é possível perceber os primórdios de uma “ciência geral do homem”, caracterizada pela tensão entre o homem americano e uma imagem negativa da natureza, e a representação positiva do estado natural apresentada por Rousseau. Buffon personificou uma ruptura com o paraíso Rousseauniano, caracterizando o continente americano sob o signo de carência. Por meio da obra de Buffon, uma concepção cultural e étnica essencialmente etnocêntrica se delineava.
Segundo De Pauw, os americanos não eram apenas “imaturos”, mas também “decaídos”, confirmando sua principal tese de “fé no progresso, e falta de fé na bondade humana”.
No contexto intelectual do século XVIII, novas perspectivas destacam-se. De um lado, a ótica humanista da Revolução Francesa, que naturalizava a igualdade humana; de outro, uma reflexão sobre as diferenças existentes entre os homens.
O termo raça é introduzido na literatura especializada no início do século XIX, por George Cuvier, inaugurando a idéia da existência de heranças físicas permanentes entre os vários grupos humanos. O discurso racial se originava como variante do debate sobre a cidadania, já que no interior desses modelos se pensava mais sobre as determinações do grupo biológico do que sobre o arbítrio do indivíduo entendido como “um resultado, uma retificação dos atributos específicos da sua raça” (Galton).
Duas grandes vertentes aglutinavam os autores que na época enfrentavam o desafio de pensar a origem do homem. De um lado a visão monogenista que congregou grande parte dos pensadores que acreditavam que a humanidade era uma. Segundo essa visão, o homem teria se originado de uma fonte comum, sendo os diferentes tipos humanos simplesmente um produto “da maior degeneração ou perfeição do Éden”. Nessa argumentação vinha imbutida a noção de virtualidade. Pensava-se na humanidade como um gradiente, que ia do mais perfeito (mais próximo ao Éden) ao menos perfeito (mediante a degeneração),sem pressupor a noção única de evolução.
A partir do século XIX a hipótese poligenista se transformava em uma alternativa plausível.
A versão poligenista possibilitaria o fortalecimento de uma interpretação biológica na análise dos comportamentos humanos, que passam a ser gradativamente encarados como resultado imediato de leis naturais e biológicas. Esse tipo de versão foi encorajada pelo nascimento da frenologia da antropometria, teorias que interpretavam a capacidade humana tomando em conta o tamanho e proporção do cérebro dos diferentes povos. A craniologia técnica, que incluía a medição do índice cefálico, facilitou o desenvolvimento de estudos sobre as variedades do cérebro humano.
A antropologia criminal, seguindo o modelo determinista, argumentava ser um fenômeno físico e hereditário (Lombroso) e, como tal, um elemento objetivamente detectável nas diferentes sociedades.
O poligenismo insistia na idéia de que as diferentes raças humanas constituiriam “espécies diversas”. A “perfectibilidade” agora lhe era recusada.
Enquanto os estudos antropológico se originam diretamente vinculados às ciências biológicas e físicas, em sua interpretação poligenista, as análises etnológicas se mantêm ligadas a uma tradição monogenista e de orientação humanista. A antropologia se detinha na análise biológica do comportamento humano, enquanto a etnologia mantinha-se fiel a uma perspectivamais filosófica e vinculada a uma tradição humanista Rousseauniana.
Segundo Paul Broca, fundador da “Sociedade Anthropológica de Paris”, as diversidades humanas observáveis eram um produto direto das diferenças na estrutura racial. Para Broca, o principal elemento de análise era o crânio, onde, a partir do mesmo, se poderia comprovar a inter-relação entre inferioridade mental e física. O foco era chegar à reconstrução de “tipos”, “raças puras”, sendo que condenava a hibridação humana, em função de uma suposta esterilidade das “espécies miscigenadas”. Broca acreditava na tese da “imutabilidade das raças”, traçando paralelos entre o exemplo de não-fertilidade da mula e uma possível esterilidade do mulato.
Enquanto as “sociedades antropológicas” anexavam a noção da “imutabilidade dos tipos humanos”, os estabelecimentos “etnológicos” se mantinham leais à hipótese do “aprimoramento evolutivo das raças”.
Com a publicação e divulgação de A origem das espécies, de Charles Darwin, em 1859, o embate entre monogenistas e poligenistas tende a se amenizar. A publicação dessa obra causou um grande impacto na época, sendo que Darwin passou a constituir uma espécie de paradigma de época, dissolvendo as antigas disputas. Com isso, as duas interpretações assumem o modelo evolucionista e atribuem ao conceito de raça uma conotação que escapa da biologia para adentrar questões de cunho social e político. Segundo Hofstadter “se muitos descobrimentos científicos afetaram profundamente maneiras de viver, nenhum teve tal impacto em formas de pensar e crer... O darwinismo forneceu uma nova relação com a natureza e, aplicado a várias disciplinas sociais- antropologia, sociologia, história, teoria política e economia-, formou uma geração social-darwinista".
O pensamento social da época acabou sendo influenciado por esse tipo de reflexão. Enquanto a etnografia cultural adaptava a noção monogenista aos novos postulados evolucionistas, darwinistas sociais ressuscitavam as perspectivas poligenistas de início do século.
Na ótica poligenista, os mestiços exemplificavam a diferença fundamental entre as raças e personificavam a “degeneração” que poderia ser derivado do cruzamento de “espécies diversas”. Enquanto Broca defendia a idéia de que o mestiço não era fértil, Le Bom e Gobineau lastimavam a extrema fertilidade dessas populações que herdavam sempre os caracteres mais negativos das raças em cruzamento. Segundo a tese poligenista, as raças humanas deveriam ver na hibridação um fenômeno a ser evitado.
A etnologia social ou antropologia cultural tinha como foco a questão da cultura vista sob um prisma evolucionista. Segundo os evolucionistas sociais, no mundo inteiro a cultura teria se desenvolvido em sucessivos estágios, caracterizados por organizações econômicas e sociais específicas. Esses estágios seguiam uma direção que ia do mais simples ao mais complexo e diferenciado. O método comparativo consistia no princípio orientador dos trabalhos, e dessa forma inserido numa determinada fase ou estágio da humanidade. O princípio otimista do modelo evolucionista consistia em entender o progresso como obrigatório e restituía a noção de humanidade única.
Paralelamente ao evolucionismo cultural, duas grandes escolas se tornam influentes, Primeiramente a escola determinista geográfica, cujos principais representantes, Buckle e Ratzel, defendiam a tese de que o desenvolvimento cultural de uma nação seria totalmente condicionado pelo meio.
O determinismo de cunho racial, também denominado “darwinismo social” ou “teoria das raças” observava de forma pessimista a miscigenação, onde atribuíam a mesma sinônimo de degeneração não apenas racial como social e enalteciam a existência de “tipos puros”.
Os teóricos da raça partem de três proposições básicas. A primeira condenava o cruzamento racial. A segunda determinava que a divisão do mundo entre raças corresponderia a uma divisão ente culturas. A terceira conformava-se enquanto uma doutrina de psicologia coletiva.
O saber sobre as raças implicou num “ideal político”, um diagnóstico sobre a submissão ou a possível eliminação das raças inferiores, que se converteu numa espécie de prática avançada do darwinismo social, a eugenia, cujo princípio era intervir na reprodução das populações.
A eugenia cumpria inúmeras metas, ela supunha uma nova compreensão das leis de hereditariedade humana, cuja aplicação visava a produção de “nascimentos desejáveis e controlados”; enquanto movimento social buscava promover casamentos entre determinados grupos e desencorajar as uniões consideradas nocivas a sociedade.
Para os autores darwinistas sociais, o progresso estaria restrito às sociedades consideradas “puras”. Esses autores acreditavam que o bom desenvolvimento de uma nação era resultado de sua conformação racial pura.
Desigualdade e diferença passam a representar princípios e posturas diversas. A noção de desigualdade implicaria a continuidade da concepção humanística de uma unidade indissociável. As diversidades entre os homens seriam apenas remediáveis e transitórias pela ação do tempo ou modificáveis com o contato social.
Dentre os autores poligenistas , quatro se destacam: Renan, Le Bom, Taine e Gobineau.
Para Renan existiam três raças, branca, negra e amarela. Segundo o autor, os grupos negros, amarelos e miscigenados “seriam povos inferiores não por serem incivilizados, mas por serem incivilizáveis e não suscetíveis ao progresso”. Essa concepção chegava a própria negação do darwinismo.
Segundo Le Bom: “Baseando-se em critérios anatômicos, como a cor da pele, a forma e capacidade do crânio, é possível estabelecer que o gênero humano compreende muitas espécies separadas e provavelmente de origem muito diferente”. Segundo o autor, era o grupo que determinava os comportamentos humanos individuais.
Taine enxergava o indivíduo enquanto resultado imediato do seu grupo constituidor.
Goubineau era partidário de um determinismo racial absoluto e favorável à concepção do arbítrio do individuo, “cuja vontade nada pode”. Entendia que a mistura entre “espécies” diferentes ocasionavam na “degeneração das raças”. Segundo o autor: “O resultado da mistura é sempre um dano”.
A miscigenação transformava-se em um amplo divisor entre as concepções poligenistas e monogenistas.
Somente no século XIX que a apresentação das diferenças se transforma em projeto teórico de representação universal e globalizante. “Naturalizar as diferenças” significou o estabelecimento de correlações entre características morais e físicas.
As publicações internas estabelecidas pelas diferentes instituições se revelaram um material básico de investigação. Objeto de comunicação entre inúmeros estabelecimentos.

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