Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO PENAL II – 2015 FIC/ESTÁCIO – PROFA.BRUNA SOUZA TEORIA GERAL DA PENA – PARTE 01 SANÇÃO PENAL: PENA E MEDIDA DE SEGURANÇA PENA: ASPECTOS GERAIS 1. CONCEITO É A ESPÉCIE DE SANÇÃO PENAL consistente na provação ou na restrição de determinados bens jurídicos do condenado, aplicada pelo Estado em decorrência do cometimento de uma infração penal, com as finalidades de castigar se responsável, readaptá-lo ao convívio em comunidade e, mediante a intimidação endereçada a sociedade, evitar a prática de novos crimes ou contravenções penais (MASSON, 2014) 2. FUNDAMENTOS DA PENA (≠ finalidade) Tríplice fundamentação. Justificativa. 1º Fundamento político estatal: pena se justifica por que sem ela o ordenamento jurídico deixaria de ser um ordenamento coativo. Capaz de reagir com eficiência diante das infrações. 2º Fundamento psiquicossocial: a pena é indispensável por que satisfaz o anseio de justiça da comunidade. 3º Fundamento ético individual: permite ao próprio delinquente liberar-se (eventualmente) de algum sentimento de culpa. 3. FINALIDADE DA PENA (≠ fundamento) 1ª Teoria absoluta ou retribucionista (HEGEL;KANT): pune-se alguém pelo simples fato de haver delinquido. Crítica: na realidade não há finalidade, ou seja, há desapego a função política da pena (=majestade dissociada de fins). Atua como INSTRUMENTO DE VINGANÇA DO ESTADO. Todavia, trouxe uma importante noção para o direito penal, a teoria introduz o princípio da proporcionalidade (o agente receberá a pena proporcional ao seu delito). Ex.: Lei de Taleão. 2ª Teoria Preventiva ou utilitarista (): tem finalidade política, será meio de combate a ocorrência de crime e reincidência. A pena é instrumental. EVITAR A PRÁTICA DE NOVAS INFRAÇÕES PENAIS. Crítica: enquanto não tiver certeza que o agente não voltará a delinquir a pena permanece, correndo o risco de penas indefinidas, ou seja, a pena deixa de ser proporcional a gravidade do crime praticado. Rogério Greco subdivide esta teoria em: - Preventiva Geral: negativa (por intimidação – reflete na sociedade) e positiva (integradora – respeito aos valores) - Preventiva Especial: negativa (neutralizar o agente – segregação no cárcere) e positiva (ressocializador – evitar que cometa novas infrações) 3ª Teoria Mista ou Eclética: a pena é retribuição proporcional ao mal culpável do delito, mas orienta-se a realização de outros fins, em especial a prevenção. E o Brasil? (duas correntes) 1ª O CP no artigo 59 adotou a teoria eclética – “reprovação e prevenção do crime”. (entendimento de Rogério Greco/Masson) Art.121,§5º - perdão judicial – o agente já foi punido – finalidade retributiva Art.10, Lei 7210/84- finalidade preventiva 2ª O CP não se pronunciou sobre qual teoria adotou. Entendendo a doutrina que a pena tem tríplice finalidade. # 3 momentos (cada finalidade aparece em um momento diferente) PENA EM ABSTRATO APLICAÇÃO DA PENA EXECUÇÃO DA PENA Prevenção geral Prevenção especial + Concretizar a prevenção especial + retribuição + Visa a sociedade Visa o delinquente Atua antes da prática do crime Busca evitar a reincidência Esta finalidade tem 2 aspectos: 1. prevenção geral positiva (afirma a validade da norma) Prevenção geral negativa (evita que o cidadão venha delinquir – por intimidação) Retribuição: retribuir com o mal, o mal causado. Art. 59, CP Ressocialização: caráter reeducativo. O escopo da pena é reeduca-lo para que no futuro possa ingressar ao convívio social, prevenindo a prática de novos crimes. (Rogério Greco chama de prevenção especial positiva a ressocialização da pena.) CONCLUSÃO: a pena tem um caráter polifuncional, ou, POLIFUNCIONALIDADE DA SANÇÃO PENAL (STF – Inf. 598). A pena mostra-se necessária na restauração da ordem jurídica violada pela ação criminosa, retribuindo o mal por ela causado, prevenindo futuras ações delituosas, sem desconsiderar a ressocialização do delinquente. - JUSTIÇA RESTAURATIVA. Justiça retributiva Justiça restaurativa O Crime é ato contra a sociedade, representada pelo Estado. O Crime é ato contra a comunidade, contra a vítima (e contra o próprio agente). O interesse na punição é público. O interesse na punição ou reparação é das pessoas envolvidas no caso. A responsabilidade do agente é individual Há responsabilidade social pelo ocorrido. Todas as pessoas da comunidade são responsáveis. Predomina a indisponibilidade da ação penal. Predomina a disponibilidade da ação penal Foco punitivo Foco conciliador Reequilibrar as relações entre o agressor e a vítima Predomina - Pena privativas de liberdade Predomina – Pena alternativa Pouca assistência à vítima O foco da assistência é voltado à vítima Ex.: Lei Maria da Penha Ex.: Lei dos Juizados Criminais – composição de danos e transação penal RETRIBUIÇÃO DO MAL PRATICADO COM A APLICAÇÃO DA PENA (OUTRO MAL) RESTAURAÇÃO DO MAL PROVOCADO PELA INFRAÇÃO PENAL JUSTIÇA RESTAURATIVA: muda o enfoque, intensifica a figura da vítima. OS crimes nem sempre atingem Interesses difusos interesses individuais (disponíveis). Justiça pública x autor da infração Ofensor x ofendido. Proporciona coragem ao agressor para responsabilizar-se pela conduta danosa, refletindo sobre as causas e os efeitos do seu comportamento em relação aos seus pares, para então modificar o seu modo de agir e ser posteriormente aceito de volta a comunidade (MASSON, 2013). Pode gerar reparação a vítima, pois incentiva o perdão recíproco. 4. PRINCÍPIOS DA PENA 4.1 Princípio da reserva legal (direito penal I) 4.2 Princípio da anterioridade (direito penal I) Reserva legal + Anterioridade = princípio da legalidade “NÃO HÁ CRIME NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL” 4.3 Princípio da personalidade ou pessoalidade da penal Art. 5º, XLV, CRFB Nenhuma pena passará da pessoa do condenando. Princípio Absoluto ou Relativo? 1ª É relativo, admitindo uma exceção prevista da própria constituição federal, qual seja, a pena de confisco. (Flávio Monteiro de Barros) – Art. 5º, XLV – “podendo a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores” 2ª É absoluto. O confisco não é pena, mas efeito da condenação, como a reparação de danos. 4.4 Princípio da individualização da pena Art. 5º, XLVI, CRFB – justa e adequada sanção penal. Evita a aplicação mecanizada ou padronizada. Leva-se em conta os aspectos subjetivos e objetivos do crime – as circunstâncias. Hungria: “ retribuir o mal concreto, com o mal concreto da pena, na concreta personalidade do criminoso” A pena deve ser individualizada considerando-se o fato e seu agente, em três momentos: a) Na cominação abstrata (legislador) – limite do mínimo e máximo; b) Na aplicação (juiz - sentença) – dosimetria da pena; c) Na execução (juiz - execução) – individualização administrativa. Sistemas na fixação da pena no ordenamento jurídico penal brasileiro. Ele respeita o princípio da individualização? Sim, pois o CP segue o sistema conhecido como o das penas relativamente indeterminadas. As penas variando de um mínimo até um máximo, deixando uma margem para a consideração judicial. Alerta: o sistema de penas fixas viola a individualização da pena, em que a pena é determinada, não admite quantificação. No Brasil prevalece a segunda corrente, é absoluto (MIRABETE) 4.5 Princípio da inderrogabilidade ou inevitabilidade da pena Desde que presentes os seus pressupostos, a pena deve ser aplicada e fielmente cumprida. Exceções: perdão judicial; livramento condicional; sursis, anistia. 4.6 Princípio da proporcionalidade Princípio constitucional implícito na individualização da pena. A resposta deve ser justa e suficiente. A pena deve ser proporcional à gravidade da infração penal,deve ser o meio proporcional perseguido com a pena (ou seja, com a prevenção e retribuição). A) PARA EVITAR excessos (hipertrofia da pena) B) (STF) – para evitar a intervenção insuficiente do Estado – evitar a impunidade Art. 319-A, CP – omitir o dever de vedar celular – é uma pena de menor potencial ofensivo. * O STF, na ADI 3112, decidiu: “ os direitos fundamentais não podem ser considerados como proibições de intervenção, expressando também o postulado de proteção. Pode-se dizer que os direitos fundamentais expressam não apenas uma proibição de excesso, mas também podem ser traduzidos como proibições de proteção insuficiente ou imperativos de tutela.” 4.7 Princípio da humanização das penas ou dignidade da pessoa humana Art. 5º, XLIX – a pena deve respeitar o condenado como ser humano. Tratamento cruel, degradante, forçados, perpétuos, etc. Se por um lado, o crime jamais deixará de existir no atual estágio da humanidade, por outro, a formas humanizadas de garantir a eficiência do Estado para punir o infrator, corrigindo-o sem humilhação, com perspectiva de pacificação social. Não pode desconhecer o réu como pessoa humana (Zaffaroni) 5. TIPOS DE PENA 5.1 PENAS PROIBIDAS – princípio da limitação das penas - Art.5º, XLVII - De morte, caráter perpétuo, trabalhos forçados, banimento e cruéis. - A CRFB como limite negativo do Direito Penal – toda criminalização que não desrespeite frontalmente a constituição será admitida – derivado da dignidade da pessoa humana. 5.1.1 Pena de Morte - Convenção Americana sobre DH´s referente à Abolição da Pena de Morte (1990)1 - Impede sanar o erro judiciário O Brasil admite pena de morte? Não. Exceções: a) Guerra declarada – art. 84, XIX, CF – com ato presidencial; autorização ou referendo do congresso; conflito armado; guerrilha urbana ou qualquer perturbação que configure guerra – conflitos urbanos ou outras perturbações que não configure guerra nos termos constitucionais não admitem a pena capital; A pena capital se dá por Fuzilamento (art. 56, CPM) b) Lei do abate (Lei 7565/86 – art. 303) – aeronave estrangeira sobrevoando espaço brasileiro sem autorização considerada hostil (toque; parada) – abate aeronave. c) Lei dos crimes ambientais (Art. 24 da Lei 9605/98) – pena de morte da pessoa jurídica poluidora – liquidação forçada. OBS.: Zaffaroni entende que pena de morte não é pena. Não tem prevenção ou ressocialização. 1 Preâmbulo: Que o artigo 4 da Convenção Americana sobre Direitos Humanos reconhece o direito à vida e restringe a aplicação da pena de morte; Que toda pessoa tem o direito inalienável de que se respeite sua vida, não podendo este direito ser suspenso por motivo algum; Que a tendência dos Estados americanos é favorável à abolição da pena de morte; Que a aplicação da pena de morte produz consequências irreparáveis que impedem sanar o erro judicial e eliminam qualquer possibilidade de emenda e reabilitação do processado; Que a abolição da pena de morte contribui para assegurar proteção mais efetiva do direito à vida; 5.1.2 Pena de caráter perpétuo. - as funções da pena, como a prevenção, volta a pena para o futuro. Tem a intenção de reinserir o preso; Como instrumento de reconstrução moral do indivíduo. - Art. 75, CP – 30 anos. Inconstitucional a indeterminação do prazo de medida de segurança – entendimento do STF – pois configura um caráter perpétuo a sua indeterminação. * Estatuo de Roma, art. 77, §1º - letra b 5.1.3 Pena de trabalhos forçados2 Ninguém pode ser obrigado a trabalhar como meio de cumprimento da pena. E o trabalho carcerário? E a prestação de serviços a comunidade? Não se confunde com o trabalho previsto no CP e na LEP exercido concomitante com a pena, pois são meio de ressocialização, gerando direitos e remuneração. 5.1.4 Banimento Expulsão do brasileiro nato ou naturalizado é proibido. 5.1.5 Cruéis Princípio da dignidade da pessoa humana. Execução como espetáculos – Michel Foucault (Vigiar e Punir) 5.2 PENAS PERMITIDAS CLASSIFICAÇÃO DAS PENAS Privativas de liberdade (art. 33 a 42) Restritivas de direito (art. 43, CP) Pecuniária A) Reclusão B) Detenção C) Prisão simples (contravenção penal) A) Prestação de serviços a comunidade B) Limitação de fim de semana C) Interdição temporária de direitos (Lei 12550/2011 – nova espécie – art. 47, V, CP – proibição de inscrever-se em concurso) D) Prestação pecuniária (à vítima) E) Perda de bens e valores A) Multa 2 Convenção 29 – OIT: Art. 2º. Para fins da presente Convenção o termo “trabalho forçado ou obrigatório” designará todo o trabalho ou serviço exigido a um indivíduo sob a ameaça de qualquer castigo e para o qual o dito indivíduo não se tenha oferecido de livre vontade
Compartilhar