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216 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia ou mesmo simétricas (pararipples), são originadas somente por correntes de velocidade relativamente altas. a) se o comprimento de onda varia muito em pontos diferentes da mesma superfície e, se elas não podem ser traçadas a grandes distâncias, a velocidade da corrente que produziu as marcas deve ter sido limitada à área relativamente pequena, como no caso de canais de rios ou estuários; e b) se o comprimento de onda for notavelmente uniforme, podendo as marcas serem acompanhadas por grandes distâncias, deveremos estar na pre- sença de planícies costeiras agitadas por correntes de maré. 2) Marcas assimétricas de pequeno comprimento de onda indicam a exis- tência pretérita de correntes de baixa velocidade. 3) Marcas linguóides indicam margens de rios ou planícies costeiras, onde há mudanças bruscas no nível das águas. 4) Marcas simétricas de pequeno comprimento de onda indicam corpos de água em oscilação sem formação de correntes. 5) Marcas onduladas cruzadas por outras marcas ou estruturas indicam interferências de correntes aquosas provocadas por variações na direção do vento. Gretas de contração (pelotas de argila e bolas de carvão) O termo greta de contração serve para designar estrutura de fendas, formando polígonos, encontrada em lamas argilosas e calcárias, originadas em virtude da diminuição de volume por ressecação. Na maior parte dos casos, as gretas são formadas quando corpos de água secam e expõem sedimentos argilosos depositados no seu fundo. Em raros casos, no entanto, podem ser formados por congelamento de corpos rasos de água e posterior degelo, e consequente diminuição de volume, mas esses casos podem ser desprezados, na interpretação geológica de gretas, por serem muito raros. White (1961) chamou a atenção para a presença de gretas em argilas, com os minerais dispostos caoticamente (indício de deposição por floculação). Gretas (neste caso chamadas de synaeresis) são desenvolvidas, quando as argilas ainda estão submersas, por expulsão de água contida nos flocos, ori- ginalmente grandes e moles. A expulsão se dá por efeito do peso dos flocos superpostos. Para haver floculação da argila é necessário certa concentração salina da água, contudo, dependendo da quantidade de argila em suspensão e dos tipos de cátions presentes na água, a concentração salina pode ser muito baixa para que o fenómeno ocorra. Burst (1965) chamou a atenção sobre a formação de gretas sob a água, quando a montmorillonita está presente entre os argilo-minerais e quando a salinidade do meio aquoso é aumentada. Tais condições podem ser encon- tradas na natureza em regiões lagunares, canais de maré e outras áreas cos- teiras, onde a salinidade da água é variável de acordo com o movimento das marés e com o suprimento de águas dos cursos que aí desembocam. Tais estruturas sedimentares 217 gretas, de origem subaquática, não são regulares como as formadas por res- secação. Além disso, possuem os lados retos, enquanto nas formadas por ressecação elas são em geral curvas para cima. Em casos mais raros a cur- vatura dos polígonos é para baixo. A curvatura dos polígonos, para baixo 0 u para cima, tem sido atribuída à presença de água salgada, no primeiro caso, e água doce, no segundo. Quando a salinidade é excessiva não se formam gretas, porque o crescimento dos cristais de sais desintegram a argila trans- formando-a em poeira fina. A rachadura da lama se inicia nos pontos de maior fraqueza, por exemplo, um ramo de árvore enterrado, presença de um orifício, partícula de areia, orifício de verme ou qualquer outro fenómeno que enfraqueça a coesão da argila. Se a ressecação não progride além de um certo estádio, são formadas gretas incompletas. Às vezes temos uma mesma superfície com gretas isolando polígonos de formas variadas. Isso porque podem ser formadas diversas gerações de gretas com o progresso da ressecação. As que se formam em primeiro lugar são as mais longas e mais profundas. Em raros casos as gretas adquirem padrão retangular. Quanto às dimensões, gretas típicas raramente excedem poucos centí- metros de largura, mas mostram considerável variação de profundidade. Gretas de tamanho microscópico têm sido descritas de rochas do Pré-Cam- briano do Canadá e gretas gigantes, com profundidades superiores a 3m, foram registradas em folhelhos mesozóicos de Utah, Estados Unidos. Em seu desenvolvimento normal, contudo, possuem profundidades médias de poucos centímetros a poucos milímetros. O espaçamento das gretas é também uma função da espessura e natureza da lama, grau e modo de ressecação, e forma da bacia. O espaçamento nos sedimentos calcários é menor do que nos não-calcários. Ressecação rápida produz maior espaçamento do que ressecação lenta. Em lama, que contém muito material estranho, também ocorre menor espaçamento. Frequentemente as gretas ocorrem em locais de sedimentos cíclicos de regime sazonal ou não, de modo que são formados ritmitos e outros sedi- mentos alternadamente claros e escuros. As gretas estarão presentes nas ca- madas argilosas, de granulação mais fina, e uma parte dos materiais mais grosseiros (areias finas e siltes) irá preencher as gretas anteriormente formadas. Se a sedimentação for contínua durante o período de preenchimento das gretas, a natureza litológica do material que as preenche é a mesma da rocha sedimentada acima e, neste caso, o reconhecimento da presença das gretas seria mais difícil. Quando o preenchimento é de material diferente da super- fície gretada, que é o caso mais comum, sua presença é mais facilmente per- cebida. O preenchimento das gretas tende a adquirir duas formas funda- mentais: a mais comum é a de V, com o vértice apontado para baixo, enquanto que o segundo tipo possui forma tabular e corta a camada argilosa com- pletamente. 218 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia Gretas de contração são bem mais abundantes em sedimentos não-ma- rinhos, principalmente de sedimentação em ambientes fluviais de planícies de inundação. Quando ligados a ambientes marinhos, possuem desenvolvimento nas planícies descobertas de maré. As condições são particularmente favo- ráveis em climas secos, onde o desenvolvimento de vegetação é dificultado (veja a foto 2). Foto 2 — G R E T A S D E C O N T R A Ç Ã O . A ressecação de sedimento argiloso faz surgirem rachaduras que são posteriormente preenchidas por sedimento geralmente mais grosseiro. Ob- servar na foto que existem gretas definindo p o l í g o n o s maiores, por sua vez gretados em p o l í g o n o s menores por um a v a n ç o no processo de ressecação P r o c e d ê n c i a : F o r m a ç ã o Estrada Nova (Permiano) Conchas — Estado de São Paulo Em sedimentos da Formação Estrada Nova, Permiano da Bacia do Paraná, a sondagem de Araquá, próximo a Rio Claro (SP), atravessou suces- sivos leitos com gretas de contração em argilas, conservadas por leitos are- nosos posteriormente formados. Isso indica sucessivas épocas de inundações, seguidas de épocas secas, formação de água estagnada, deposição da argila que estava em suspensão, evaporação da água estagnada e ressecação da argila com formação de gretas. Novas inundações traziam areia que preencheu as gretas formadas na fase anterior. Esta série de episódios deve ter se repetido muitas vezes. estruturas sedimentares 219 No Estado do Paraná, na região de Prudentópolis, foram revelados, em sondagens, 90 m de depósitos sedimentares pertencentes à Fácies Teresina do Grupo Passa Dois (Permiano) da Bacia do Paraná, onde aparecem interca- lados níveis de gretas preenchidas por siltitos ou arenitos com estratificação cruzada e, por vezes, marcas onduladas (Salamuni, 1964, p. 186). PELOTAS DE ARGILA (Clay Galls) Se alguns poucos centímetros de argila e silte se depositarem sobre uma camada arenosae ficarem sujeitos a ressecamento, a argila será completa- mente fragmentada por gretas e os polígonos ficarão côncavos para cima formando pequenas lascas isoladas. Com forte ressecação, essas placas côn- cavas podem se tornar bastante coerentes e poderão ser recobertas por sedi- mentos posteriormente depositados, sem muita fragmentação ou perturbação. Pode acontecer que esses polígonos sejam mobilizados pela erosão, apare- cendo então sob forma irregular. Quando a erosão for relativamente violenta, somente poucas placas argilosas podem escapar à desintegração, transfor- mando-se em discos arredondados e chatos; assim a maioria será depositada com o plano das duas maiores dimensões paralelo ao acamamento. A esses fragmentos de argila, irregulares ou discóides, muitas vezes, soltos no meio dos sedimentos arenosos, damos o nome de pelotas de argila. Podem existir também pedaços de material argiloso do tamanho de seixos grandes e até matacões. A origem dessas bolas de argila não é a mesma das pelotas de argila. São frequentemente formadas por pedaços de material argiloso, bastante coesos, que caem dos barrancos e são rolados por correntes, juntamente com seixos, grãos de areia, fragmentos de vegetação ou de conchas, etc. As bolas de lama podem aumentar de diâmetro pela adesão de lama adicional, adquirindo assim estrutura concêntrica. Fragmentos placóides, alongados de 20 a 30 cm de diâmetro, constituídos de materiais argilosos, são encontrados nas praias de Conceição da Barra (ES). Neste local, esses discos argilo-orgânicos são arrancados das margens de um rio (o São Mateus) e transportados até a sua desembocadura no mar, presos a raízes de aguapés (plantas de hábito aquático que aí proliferam). Existem também as bolas de carvão (coal balis), formadas por processos similares, que originalmente foram bolas de turfa, de grande coerência e baixa densidade, podendo ser trans- portadas até mesmo pela água. Níveis de pelotas de argila são frequentes em bacias sedimentares de idades correlatas de origem continental, tais como a Bacia de São Paulo, Curitiba e Taubaté (fim do Terciário para Pleistoceno). São verificados também nos sedimentos continentais da Formação Barreiras, que se estende pelo litoral brasileiro desde Espírito Santo, ao norte de Vitória, até a Ama- zónia. Níveis de pelotas de argila aparecem também, com certa frequência, em sedimentos da Fácies Teresina do Grupo Passa Dois, Permiano da Bacia do Paraná. 220 i n t r o d u ç ã o à sedimento!ogi a Estruturas externas singenéticas originadas por correntes turbilhonares e outros mecanismos Aqui detalharemos as estruturas, que, no quadro geral de classificação das estruturas sedimentares, foram referidas como estruturas principalmente singenéticas, principalmente físicas, internas, irregulares. Algumas dessas estru- turas são de difícil interpretação, tendo sido chamadas, por isso, de hieróglifos Muitas dessas estruturas são originadas por correntes que não apresentam fluxo laminar mas sim turbilhonar, de modo que essas estruturas são muito mais irregulares do que as marcas onduladas, por exemplo. Em outros casos a ação das correntes é indireta, isto é, as marcas são produzidas por objetos que são levados pelas correntes. Essas marcas, na maior parte dos casos, mostram-se como depressões sobre a superfície das camadas. A deposição de novas camadas por cima molda as depressões, que aparecerão, então, salientes, sendo por isso facilmente detectáveis. Os moldes aparecem no lado inferior das camadas, sendo a razão por essas estruturas serem conhecidas também pelo nome marcas de sola (sole marks). Geralmente são mais cons- pícuas em sedimentos argilosos. Essas estruturas aparecem sob grande número de formas, sendo, por isso, muito difícil uma classificação sistemática. Aqui será adotada a clas- sificação desenvolvida por diversos autores e sintetizada por Dzulynski e Walton. 1965 (pp. 37-39). que é dada a seguir: I — Marcas de corrente a) Marcas de escavação: aj) escavação por correntes, turboglifos, escavações transversais e diagonais, sulcos de lavagem, sulcos e cristas longitudinais, marcas triangulares acunhando-se à jusante, marcas semelhantes a travesseiro, canais; a 2) escavação por obstáculos, marcas em crescente, marcas longitudinais de obstáculo. b) Marcas de objetos: b x ) marcas contínuas: marcas de sulco, marcas espigadas; b 2 ) marcas descontínuas: marcas de punção, marca de roçadura, marca de empuxo, marca de saltação; b 3) sulcos de lavagem associados a de objetos. estruturas sedimentares 221 I I — Marcas e estruturas ocasionadas por outros mecanismos a) Fraturas de tensão. b) Marcas frondescentes. c) Linhas de deixa (swash marks). d) Pequenas cavidades de sedimentos. TURBOGLIFOS (Flute marks) A série de marcas, reunidas sob a designação de turboglifos, é uma das mais bem conhecidas. Consiste de depressões descontínuas com formas ge- ralmente alongadas, variáveis, dotadas de uma depressão profunda e íngreme a montante, tornando-se gradativamente mais rasas à jusante da corrente que as originou. Turboglifos podem aparecer isolados mas ocorrem, mais comumente, cobrindo densamente a superfície das camadas em padrões definidos e iso- rientados, em direção paralela, transversal ou oblíqua em relação à corrente. A reprodução artificial de turboglifos, através de experiências de labo- ratório, demonstrou que essas marcas se originam em zonas de forte turbu- lência de água, que escava o fundo lamacento. Turboglifos foram descritos e figurados por Murphy e Schlanger (1963, pp. 229-230) nas formações Ilhas e São Sebastião, e por Salamuni, Marques Filho e Sobanski (1966, pp. 17-18) em sedimentos do Subgrupo Itararé, Per- mocarbonífero da Bacia do Paraná em Rio Negro (Estado do Paraná) e em Mafra (Estado de Santa Catarina). Os turboglifos do Cretáceo da Bahia foram moldados em siltito, com tamanhos variáveis, alguns alcançando mais de 15 cm de comprimento, 1,3 cm de largura e 1 cm de profundidade. Alguns dos contramoldes apresentam o ápice desenvolvido a montante, torcido ou espiralado. Os turboglifos do Subgrupo Itararé são de tamanhos variáveis, desde poucos milímetros em afloramentos da área de Rio Negro (PR), até cerca de 20 cm, em afloramentos da área de Rio Branco (PR). Podem aparecer isolados ou agrupados. ESCAVAÇÕES TRANSVERSAIS E DIAGONAIS (Transverse and diagonal scours) Constituem-se de depressões alongadas, alinhadas em direção trans- versal ou oblíqua à direção da corrente. Parecem ter-se originado pela coa- lescência de uma série de turboglifos, porém é possível a ação de outros íátores ainda não perfeitamente identificados. SULCOS DE LAVAGEM (Rill marks) São canalículos dendriformes formados pelo escoamento de pequena quantidade de água, que se espalha como um lençol em um fundo relati- 222 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia vãmente plano. As bifurcações podem se dar a montante, processo similar ao que normalmente acontece em um sistema fluvial, ou à jusante, processo similar ao que acontece em deltas. Este último caso ocorre quando a água carrega em suspensão maior quantidade de detritos do que a sua capacidade de transporte. A deposição do excesso de carga produz a bifurcação da pe- quena corrente. Os sulcos são contínuos, mas as cristas podem ser descon- tínuas (veja a Fig. 74). Essa estrutura se encontra cornumente em praias e cursos de água rasos. Podem adquirir padrão rombóide, semelhante a certas marcas onduladas, se encontrar pontos densamente distribuídos na superfície da areia, que servirão de obstáculos (Otvos, 1965). SULCOS E CRISTAS LONGITUDINAIS (Longitudinal furrows and ridges) Van Straaten (1951) chamou essas estruturas de marcas onduladas lon- gitudinais e sugeriu que pudesse se originar sob águasextremamente rasas, por correntes de direção constante e de longa duração. Ressaltou que são estruturas mais erosivas do que deposicionais. Os sulcos e cristas longitudinais, aqui tratados, dispõem-se paralelamente entre si. A corrente que as originou tinha direção paralela aos sulcos e cristas, distinguindo-se desse modo das marcas onduladas. São mais densamente agrupadas do que as marcas onduladas. Há ocasional coalescência das cristas. Os sulcos são irregularmente deprimidos e podem ser descontínuos, sendo as cristas, ao contrário, contínuas, diferenciando-se neste particular dos sulcos de lavagem. As cristas podem ser paralelas por grande distância ou podem se unir após pequena distância. A união geralmente se dá à jusante. Os sulcos possuem seção transversal arredondada. Nos moldes, os sulcos aparecem ele- vados e fragmentados por barras pontiagudas que representam os aprofun- damentos irregulares dos sulcos. Essas barras pontiagudas são, quase que invariavelmente, convexas a montante. Figura 74. Estruturas de sulcos de lavagem Figura 75. Estruturas de "chamas" (ftamé) (rill marks) e os sentidos de fluxo das correntes associadas com sulcos e cristas longitudinais (Longitudinal furrows and ridges) (Segundo Dzulynski e Walton, 1965) estruturas sedimentares 223 As cristas em seção podem mostrar saliências pontiagudas e retorcidas - veja a Fig. 75 (Dzulynski e Walton, 1965). Essas cristas são chamadas de /fomes (chamas) pelos autores de língua inglesa, por se assemelharem a la- baredas de uma chama. Como a corrente de água se desloca paralelamente às cristas, elas não têm influência sobre o sentido de torcimento das saliências. Estruturas em flame podem também ter outra origem. As estruturas em consideração são formadas por torrentes de material em suspensão e que, ao se deslocarem, adquirem forma de filamentos ou tubos, com o fluido se deslocando em espiral. Os movimentos em espiral possuem sentidos opostos nos tubos adjacentes. Esses tubos escavam sulcos e o material erodido é acumulado nas cristas. Quando os filamentos indi- viduais se degeneram ou sobem, perdendo o contato com o fundo, as cristas podem coalescer. As cristas se bifurcam à jusante, quando novos filamentos tocam o fundo. Essas duas condições (bifurcação a montante ou à jusante) se originam, nas experiências, pela convergência ou divergência das correntes. Correntes rápidas tendem a produzir cristas retas e paralelas, enquanto cor- rentes mais lentas tendem a produzir cristas coalescentes e sinuosas, visto que essas correntes são mais afetadas por irregularidades de fundo. Ao con- trário do que pensava Van Straaten (1951), ocorrem tanto em águas rasas como profundas, estas originadas por correntes de turbidez. Lento deslize de água sobre lama mole produz um padrão dendritico, constituindo os sulcos de lavagem (já visto), e que é um caso extremo desse tipo de estrutura. Tanto os turboglifos como os sulcos e cristas longitudinais foram obtidos experimentalmente derramando-se suspensão de gesso em tanques de água com lama no fundo: as marcas formadas são moldadas em gesso (D/ulvnski. 1965, p. 196). Os turboglifos, nessas experiências, se formaram próximo ao ponto de descarga, quando as correntes possuem grande turbulência, enquanto que os sulcos e cristas longitudinais se formaram em lugares mais afastados do ponto de descarga, em condições menos turbulentas e mais regulares. MARCAS TRIANGULARES ACUNHANDO-SE À JUSANTE (Triangular marks tapering down current) Constituem-se em sulcos, que se encontram formando "bicos", que apontam para a jusante da corrente. Ocorrem associados à estrutura anterior e as condições de sua formação, embora ainda não muito claras, devem estar ligadas às que condicionam a formação de sulcos e cristas longitudinais. MARCAS SEMELHANTES A TRAVESSEIRO (Pillow like scour marks) São constituídas de séries de depressões, mais ou menos eqiiidimensionais, associadas. Tais estruturas não possuem direção preferencial e, à primeira vista, não parecem estar ligadas a correntes. Sua associação com sulcos e cristas longitudinais, contudo, demonstra que se formam quando a corrente principal encontra um obstáculo, reflete-se e se incide em sentido oposto à 224 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia corrente principal. Tais estruturas foram obtidas experimentalmente em tanques de prova, com a reflexão das correntes nas paredes do tanque. São morfologicamente indistinguíveis de algumas estruturas de sobrecarga e real- mente pode haver o ciso de origem mista. Sua verdadeira natureza poderá ser percebida pela associação com sulcos e cristas longitudinais. CANAIS (Channels) Dzulynski e Walton (1965, p. 87) propõem o uso deste termo para as grandes estruturas de escavação, com alguns metros de largura e profundi- dade da ordem de 1 m. Frequentemente as exposições não permitem visua- lizar, de um só golpe, a forma do canal. ESCAVAÇÕES POR OBSTÁCULOS (Obstacle scours) Sulcos originados à jusante de pequenos obstáculos, como um seixo ou fragmento de rocha, constituem o caso. O mecanismo de formação é o se- guinte: o obstáculo represa momentaneamente a água depositando-se areia; a água, correndo pelos lados do obstáculo, também deposita areia, deixando a parte na frente do obstáculo mais deprimida. Uma vez vencido o obstáculo, a água passará a correr na depressão cavando um sulco que poderá se bifurcar adiante, como um delta. Partes mais resistentes do fundo também podem funcionar como obstáculos. Dependendo do tamanho do objeto, as marcas, à jusante, podem ter a forma crescente ou longitudinal. Tais marcas são frequentes em praias arenosas, sendo comuns os obstáculos serem consti- tuídos por conchas inteiras ou fragmentadas. MARCAS DE OBJETOS (Tool marks) Objetos flutuantes, tais como gelo, madeira, algas, pequenas conchas, espinhas e vértebras de peixes, pedaços de púmice em regiões vulcânicas, etc. produ/em marcas de grande variedade de tipos. Dzulynski e Walton (1965) consideram fragmentos de argila consolidada, retirados do próprio fundo, como objeto mais comum. Quando tocam continuamente o fundo, produzem marcas contínuas; quando tocam intermitentemente, ao sabor do movimento da água, produzem marcas descontínuas. MARCAS CONTÍNUAS Entre as marcas contínuas devidas a objetos flutuantes distinguimos as marcas de sulco (groove marks) e marcas espigadas (chevron marks). O objeto pode mover-se em uma direção constante, produzindo um sulco reto; o transporte pode se dar por arrastamento ou rolamento. Qualquer que seja o transporte, as marcas originadas denominam-se marcas de sulco (groove marks). Às vezes o objeto não chega a tocar o fundo, mas ocasiona corrente dirigida, que cava o sulco no fundo incoerente. estruturas sedimentares 225 Marcas de sulco são relativamente comuns nos depósitos permocarbo- níferos dos Estados de Paraná e Santa Catarina (Subgrupo Itararé), segundo Salamuni, Marques Filho e Sobanski (1966). Apresentam-se isoladamente ou em grupos paralelos ou subparalelos. As larguras mais comuns estão entre 3 e 10 mm, e as profundidades normalmente não ultrapassam 4 mm. Também nas formações Ilhas e São Sebastião, Cretáceo do Recôncavo Baiano (BA) ocorrem marcas de sulcos (Murphy e Schlanger, 1963). Marcas espigadas são constituídas por impressões em forma de V, ali- nhadas e paralelas à corrente. Os vértices apontam para jusante da corrente que as originou. São claramente relacionadas às marcas de sulco, podendo estar associadas. A origem dessas marcas está relacionada com a consistência da lama de fundo. Alguns objetos podem cortar marcas de sulco retas em lama não coerente, mas, se uma película coerente cobre a lama, esta será amarrotada nos lados do sulco formando marcas espigadas. MARCAS DESCONTÍNUAS Se o objeto flutuante não tocar continuamenteo fundo, mas intermi- tentemente, de acordo com o movimento da água, as marcas serão descon- tínuas. Estas podem se dispor isoladamente ou em série. Radowski (in Dzu- lynski e Walton. 1965) denominou-as genericamente de marcas de impacto. Se a natureza depende do objeto, do modo de transporte, do ângulo de inci- dência e da consistência da lama, diversos são os tipos reconhecíveis. Por exemplo, se tomarmos o ângulo de incidência, em ordem decrescente deste ângulo, temos as marcas de punção (prod marks), marcas de roçadura (bounce marks) e as marcas de empuxo (brush marks). O caso extremo, de ângulo de incidência nulo, produz as marcas de sulco, já descritas acima. Quaisquer das marcas acima descritas podem se repetir regularmente sobre um depósito sedimentar; esta repetição ocorre quando o objeto toca regularmente o fundo. Nesse caso, a estrutura é conhecida como marcas de saltação (skip and roll marks). SULCOS DE LAVAGEM ASSOCIADOS A OBJETOS (Rilled tool marks) A estrutura aqui descrita é uma variedade do sulco de lavagem, já des- crito. O mecanismo, contudo, é ligeiramente diferente. Ocorre quando um substrato muito coerente é tocado por um objeto flutuante, causando uma depressão. Água carregada de lama corre então no sentido da depressão oca- sionando os canalículos dendriformes característicos daquela estrutura. FRATURAS DE TENSÃO (Tension cracks) Algumas cristas associadas a marcas de sulco são cortadas por fraturas de tensão devido ao empuxo da lama pelo objeto em movimento. Algumas lembram superficialmente marcas espigadas. 226 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia MARCAS FRONDESCENTES (Frondescent marks) São marcas constituídas por uma série de sulcos geralmente se ramifi- cando à jusante, lembrando os galhos de uma árvore. As cristas são crenuladas e estas finamente estriadas. A forma varia de estreita a muito alongada a curta e larga. Essas estruturas são formadas primordialmente pelo assentamento de material recém-depositado, quando ainda não totalmente livre da corrente. O sedimento está fortemente embebido em água e, quando encontra a su- perfície mais consistente do fundo, espalha-se radialmente, quando não afe- tado pela corrente ou tendendo a se alongar no sentido da corrente, quando afetado por esta. A estrutura é tanto mais alongada, quanto maior é a velo- cidade da corrente. LINHAS DE DEIXA (Swash marks) São estruturas, frequentemente encontradas em praias, constituídas por cordões anastomosantes, formados pelo acúmulo de materiais leves (frag- mentos de concha, madeira, algas, etc.) e que acompanham aproximadamente a linha do litoral; em geral são curvas com a convexidade voltada para o con- tinente. Constituem local propício para a procura de foraminíferos na praia, pois suas testas ocas são muito leves e adequadamente depositadas nessas estruturas. Marcas desse tipo foram descritas de arenitos devonianos do Estado de Nova York, Estados Unidos. PEQUENAS CAVIDADES DE SEDIMENTOS (Pit and mound structure) São orifícios formados em argilas que se sedimentam rapidamente. Cor- rentes de água, movendo-se verticalmente através da lama e emergindo na superfície, produzem crateras rasas. Essas crateras pequenas continuam para baixo por um tubo vertical, o qual desaparece posteriormente por preen- chimento pela lama. Orifícios semelhantes podem ser produzidos, também na lama, por escape de gases. Aqui, ao contrário de estruturas formadas por água ascen- dente, em geral os orifícios não são limitados por uma margem elevada. Concreções singenéticas e epigenéticas Concreções são agregados em sedimentos, diferindo da natureza destes e formados de matéria inorgânica em forma nodular, discoidal, rizóide, ci- líndrica ou outra forma. Diferem dos seixos porque não são transportados. Um núcleo pode estar presente e a estrutura, via de regra, é concêntrica, se bem que nenhuma dessas feições seja essencial na definição de concreção. São geralmente mais resistentes ao intemperismo do que as rochas encai- xantes, dependendo naturalmente das composições das concreções e das estruturas sedimentares 227 rochas encaixantes. Oólitos e pisólitos são os mais abundantes corpos con- crecionares, mas, como eles têm significado diferente das outras concreções, serão considerados separadamente. COMPOSIÇÃO DAS CONCREÇÕES A concreção é normalmente composta de um único material, mas uma ou mais substâncias estão presentes como impurezas. Os materiais mais comuns nas concreções são: calcita, sílica, hematita, limonita, siderita, pirita e marcassita, gipso, barita, aragonita, óxido de manganês, fosfato de cálcio, fluorita, bauxita, etc. Os seis primeiros minerais dessa lista formam as con- creções mais comuns. Concreções calcárias são muito mais comuns em folhelhos e arenitos. Geralmente a composição é calcítica e não aragonítica, porque este último é mais instável. Concreções silicosas são geralmente formadas por sílica quase pura sob a forma de sílex. São comuns, por exemplo, na Formação Irati (Permiano da Bacia do Paraná), onde aparecem em formas bi/arras. de onde vem a desig- nação "bonecas de sílex". Em calcários permianos da Formação Estrada Nova da Bacia do Paraná, aparecem concreções em forma de bolas bastante esféricas de 5 a 10 cm de diâmetro, também constituídas de sílex. Algumas concreções em arenitos consistem de areia cimentada de sílica (ou de car- bonatos). Concreções de hematita e limonita são as mais comuns em arenitos, sendo formadas por areias cimentadas por óxido de ferro. Formam-se atualmente em alguns solos lateríticos. São abundantes nos sedimentos neocenozóicos, que formam a Bacia de São Paulo (SP), e nos arenitos da Formação Barreiras, que se encontra ao longo da costa atual brasileira, desde o Estado de Espirito Santo até a Amazónia. Concreções de pirita e marcassita são comuns. Encontram-se em fo- lhelhos, calcários, carvões e arenitos, sendo abundantes em folhelhos pretos de origem marinha. São encontrados nos ritmitos do Subgrupo Itararé, Permocarbonífero da Bacia do Paraná, em Itu, Estado de São Paulo. Concreções de siderita são comuns nos folhelhos do Eodevoniano da Bacia do Paraná (Formação Ponta Grossa — Membro Jaguariaíva), segundo Lange e Petri (1967). Nódulos de siderita e pirita aparecem também no Neo- devoniano da Bacia do Maranhão (Formação Longa). Camadas vermelhas (red beds) contêm com frequência concreções de gipsita e barita. Nódulos de barita são também encontrados em sedimentos de fundos de mares atuais. FORMA E TAMANHO As formas das concreções são extremamente variáveis, podendo ser agrupadas da seguinte maneira: 228 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia a) esférica, discóide e elipsóide; b) cilíndrica; c) nodular e irregular. Concreções esféricas de calcita, pirita ou marcassita são muito comuns. Concreções de pirita são comuns em carvões brasileiros. As formas elipsoidal e discoidal podem ser originais ou secundárias, causadas por compressão de concreções esféricas. As concreções da Formação Irati, já mencionadas, podem adquirir forma elipsoidal. Concreções cilíndricas são comuns de pirita, mar- cassita e óxidos de ferro; em loess ocorrem frequentemente concreções ci- líndricas de calcita. Concreções de forma irregular podem ser desenvolvidas por união lateral de concreções separadas ou podem adquirir essa forma por crescimento original. Adquirem formas variadas, tendo sido citados casos raros em que tomam a forma de anel. Na praia de Pernambuco, Guarujá, Estado de São Paulo, a calcita cimentou a areia formando concreções irre- gulares. As maiores concreções encontradas estão em arenitos. São citados are- nitos eocênicos do Texas e Louisiania, Estados Unidos, concreções esféricas de 9 m de diâmetro. No Cretáceo de Dakota, Estados Unidos, são citadas concreções cilíndricas queultrapassam 30 m de comprimento. Normalmente, contudo, os diâmetros não excedem valores da ordem de centímetros. As concreções de calcário que ocorrem em margas do Grupo Araripe, Cretáceo do Nordeste do Brasil, adquirem com frequência tamanhos de mais de 30 cm. Nos carvões brasileiros as concreções de pirita podem chegar a 5 cm de diâ- metro. A maioria das concreções obtidas do fundo do mar possuem diâmetros da ordem de fração de milímetro. As maiores concreções são encontradas em arenitos, porque elas podem crescer epigeneticamente, de maneira livre, enquanto que em rochas argilosas isso é mais difícil devido à menor permea- bilidade dessas rochas. FEIÇÕES SUPERFICIAIS E INTERNAS Algumas concreções são mais facilmente separáveis da rocha encaixante por possuírem superfícies relativamente lisas. Outras possuem superfícies ásperas e irregulares. Quanto à estrutura interna, as concreções podem ter estrutura radial, em lâminas concêntricas, ou serem amorfas; podem também possuir simul- taneamente estruturas radial e concêntrica. Muitas concreções de pirita e mar- cassita, gipso e óxidos de ferro, possuem estrutura radial. A textura e a cor podem ser uniformes, mas, comumente, há variações nas partes diferentes, formando bandas e manchas de diferentes cores; manchas são mais comuns em concreções de sílex devido à presença variável de ma- téria carbonosa, óxidos de ferro ou outras impurezas. Concreções de siderita costumam ser mosqueadas devido principalmente a mudanças secundárias de oxidação e hidratação. A estratificação se estende, às vezes, através das con- creções. estruturas sedimentares 229 A maioria das concreções não contém núcleos diferenciados. Outras vezes ocorre um núcleo de material inorgânico, principalmente grãos detríticos, ou orgânicos, fragmentos de conchas, coprólitos ou organismos, como peixe ou insetos, e folhas ou partes de plantas. No Cretáceo do Nordeste (Chapada de Araripe, Ceará), grande número de concreções contém núcleos de peixe fossilizado. No Devoniano do Piauí, há concreções ferruginosas contendo tribolitas como núcleo. No Mioceno do Estado do Pará (Formação Pirabas) certas rochas contêm concreções com núcleos de caranguejos ou folhas de plantas. NATUREZA DA ENCAIXANTE E SUAS RELAÇÕES COM AS CONCREÇÕES Concreções ocorrem em quase todos os tipos de rochas sedimentares, com a única exceção possível dos evaporitos. Concreções em folhelho e argila, em ordem de abundância, são compostas de calcita, ou calcita misturada com argila, pirita ou marcassita, siderita, fosfatos de cálcio, gipso, barita; em folhelhos pretos as concreções mais comuns são de pirita e marcassita; em folhelhos cinzentos, com apreciável quantidade de matéria orgânica, ocorre a siderita; em arenitos, comumente, os grãos de quartzo são cimentados por óxido de ferro; e as concreções mais comuns em calcários são de sílica, em forma de sílex, e, em carvão, as concreções mais comuns são de pirita. As concreções distribuem-se nas camadas das encaixantes ou entre as camadas. A estratificação da encaixante pode-se curvar acima das concreções ou terminar abruptamente contra ela ou com uma pequena curvatura acima. Algumas estratificações avançam através das concreções sem interrupção. Ra- ramente os planos de estratificações se curvam igualmente acima e abaixo da concreção. Concreções dentro dos leitos são menos comuns do que entre os leitos. Os planos de acamamento da rocha encaixante, em relação às con- creções, são muito menos importantes no caso de arenitos do que no caso de folhelhos. Isso se deve à grande permeabilidade dos arenitos; então, a maior parte das concreções dentro de arenitos nada mais são do que partes mais cimentadas dentro do corpo arenoso, cimentação esta que ocorreu muito tempo depois da deposição. CLASSIFICAÇÃO DAS CONCREÇÕES A classificação das concreções pode ser baseada em diversas caracte- rísticas: origem, forma, composição e relação com a encaixante. Tanto a origem como a forma e composição não oferecem base satisfatória, sendo melhor a que relaciona a concreção com a encaixante. Merrill (in Twenhofel, 1932) classifica as concreções baseado nas relações de tempo com a rocha encaixante, considerando-se então dois grupos: a) primárias ou singenéticas - de origem contemporânea à rocha encai- xante; b) secundárias ou epigenéticas - de origem posterior à rocha encaixante. 230 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia Já a classificação de Richard (»i Twenhofel, 1932), baseada no mesmo critério, divide as concreções em três classes: a) contemporâneas — formadas ao mesmo tempo que a encaixante; b) penecontemporâneas — segregadas próximo à superfície, de sedi- mentos recentemente depositados; c) subsequentes — originadas depois da consolidação da rocha. Não existe nenhuma delimitação brusca entre esses tipos. Podem, inclu- sive, existir concreções com a parte central singenética e a externa, epigenética. Embora a passagem seja transicional e algumas concreções possam até ter origem mista, podem ser estabelecidos alguns critérios para distinção das concreções singenéticas das epigenéticas, que são os seguintes: a) curvatura de leitos em torno da concreção; b) espelhos de fricção; c) linhas de estrati- ficação passando através delas; d) fósseis dentro das concreções; e) caráter físico da encaixante; 0 volume da concreção; e g) distribuição. a) Curvatura dos leitos em torno da concreção — Como já vimos, os leitos podem se curvar acima e abaixo das concreções; os leitos acima geralmente se curvam mais pronunciadamente. Tais curvaturas são mais comuns em argilas e folhelhos, ocorrendo raramente em calcários e dolomitos em leitos finos; via de regra, são ausentes em arenitos e calcários formados por leitos espessos. Tais curvaturas têm sido interpretadas de modo diferente pelos estudiosos do assunto. Para alguns, o crescimento das concreções pode forçar os leitos para cima e para baixo, portanto seria evidência de origem epige- nética; mas, para outros, essas curvaturas seriam devidas à acomodação dos leitos: os debaixo, forçados pelo peso da concreção e os de cima, acomodan- do-se ao declive da concreção, donde teríamos evidência de origem singenética. Assim, fornecendo evidências para interpretação dupla, este fato não cons- tituiria critério, por si só, para se chegar à conclusão de origem singenética ou epigenética. b) Espelhos de fricção — Essas feições foram verificadas em algumas concreções e têm sido interpretadas ora como sendo devido ao assentamento do sedimento, sobre a concreção, ora como devido ao atrito formado pelo crescimento da concreção, em contato com a encaixante, portanto a situação seria a mesma do critério anterior, pois, no primeiro caso, a origem seria sin- genética e, no segundo, levaria à origem epigenética. c) Estratificação passando através da concreção — A estratificação pas- sando através da concreção constitui prova irrefutável de origem epigenética e ocorre mais comumente em concreções encaixadas em arenitos. Em cal- cários, mais raramente aparecem essas estruturas, mesmo nos casos de con- creções admitidas como epigenéticas. d) Fósseis dentro das concreções — Fósseis no centro das concreções possuem, em geral, conservação excepcional, havendo exemplos de rochas cambrianas com concreções, onde até medusas foram preservadas no seu interior. Neste caso, a matéria orgânica deve ter sido decisiva na formação da concreção e, portanto, esta deve seir de origem singenética. Não são raros estruturas sedimentares 231 os casos em que essas concreções são as únicas partes fossilíferas de uma formação. e) Caráter físico da encaixante - Características da encaixante, tais como porosidade e permeabilidade, esta de caráter mais importante, têm influência no tipo de concreção. Folhelhos são impermeáveis aos fluidos,mas substâncias dissolvidas podem se difundir através deles. Dificilmente são encontradas con- creções formadas por substituição em folhelhos, porém há maior possibilidade de se formarem por deslocamentos e cimentação. Os materiais cimentantes devem sair da vizinhança imediata, pois alguns elementos traços são empo- brecidos nas imediações das concreções. Arenitos são muito permeáveis, porém pouco solúveis; há, portanto, pouca substituição em arenitos; as concreções são em grande parte resultado da cimentação. f) Volume das concreções — O tamanho de uma concreção pode ser ca- ráter importante para a consideração de sua origem. Concreções epigenéticas formadas por deslocamentos de sua encaixante provavelmente não atingem grande volume. Contudo, para concreções epigenéticas formadas por subs- tituição ou cimentação e para as singenéticas, o volume não tem grande significação. g) Distribuição das concreções — A distribuição ao longo de planos de acamamento pode significar a formação no intervalo entre a deposição de dois estratos sucessivos, portanto origem singenética; podendo também ser interpretada como epigenética, formada por soluções que percolam através dos planos de acamamento. Para concluir, podemos dizer que cada ocorrência de concreção apre- senta um problema particular e, alguma ideia sobre a origem, deve levar em consideração composição (da encaixante e da concreção), forma, existência ou não dos núcleos, relações entre a concreção e a encaixante, e outras carac- terísticas, que podem ser observadas nos afloramentos. CONCREÇÕES SINGENÉTICAS As concreções singenéticas são formadas por precipitação a partir de soluções ou por coagulação de uma suspensão coloidal. Certas concreções de sílex são de origem singenética, sendo a sílica originada a partir de espículas de esponjas, radiolários ou diatomáceas. Muitas concreções de carbonato de cálcio devem ser singenéticas. A exis- tência de concreções esféricas em sedimentos argilosos parece indicar que, não havendo quantidade suficiente de material calcário no fundo, para formar uma camada, ele se concentra em esferas. A possibilidade de origem singenética dos calcários é provada por alguns fatos observados: a) Concreções calcárias dragadas das costas da Nova Zelândia con- firmam o ponto de vista singenético, pois mostram que elas podem crescer durante a acumulação de sedimentos. Essas concreções contêm cerca de 70% 232 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia de carbonato de cálcio e cerca de 15 cm de diâmetro. Conchas, caranguejos e outros materiais servem como núcleos. Essas concreções se formaram a profundidades de 8,5 a 10,5 m. b) Concreções calcárias com peixes foram achadas em argilas marinhas recentes e sub-recentes das costas da Groenlândia e norte do Canadá. Na Chapada do Araripe no nordeste brasileiro são conhecidas ocor- rências de belíssimas concreções ictiolíticas de carbonato de cálcio. Na Co- lômbia também são conhecidas concreções com Ammonoidea. Na consideração da origem dessas concreções, com peixes, no caso de Araripe, e com Ammonoidea, no caso da Colômbia, e de muitas outras con- creções calcárias no mundo, os seguintes fatos devem ser levados em consi- deração: a) a maior parte dos fósseis está perfeita mostrando que a calcifi- cação foi suficientemente rápida para impedir a fragmentação dos esqueletos; e b) os sedimentos contendo concreções da Colômbia devem ter sido cobertos por carga de sedimentos cretáceos e terciários, com espessuras de 3 000 a 4 500 m, os quais deveriam exercer pressões de pelo menos 700 kg/cm 2. Apesar disso os fósseis não estão comprimidos. Os fatos aqui enumerados parecem constituir razões suficientemente fortes para admitirmos origem singenética para essas concreções. As concreções carbonáticas associadas a folhelhos, margas ou calcários argilosos são geralmente consideradas como formadas em águas mais ou menos estagnadas. Nessas condições, o oxigénio é rapidamente consumido na oxidação da matéria orgânica e ocorre, portanto, um enriquecimento de C 0 2 . Com isso não ocorre precipitação de carbonatos que permanecem em solução sob a forma de bicarbonatos. Com a decomposição anaeróbica das partes orgânicas de peixes e conchas, ocorre uma concentração de N H 4 O H em torno dos resíduos orgânicos, aumentando assim o pH da água e pro- piciando a precipitação de CaC0 3 , que acaba por envolvê-los. Uma vez iniciada a precipitação do carbonato de cálcio, ele serve de germe de crista- lização para precipitação de mais carbonatos. Esta é a razão por que fre- quentemente encontramos fósseis como núcleos de concreções calcárias deste tipo. As concreções sideríticas do Devoniano do Paraná (Jaguariaíva, PR) podem ser parcialmente singenéticas. Dos fósseis aí presentes, alguns não mostram sinais de deformação por compressão, ao contrário dos fósseis fora das concreções. Outros fósseis, contudo, estão fragmentados e muitas con- creções são afossilíferas, caracteres estes que sugerem grande parcela de de- posição epigenética. Outro fato espetacular é a ocorrência de concreções de manganês (nódulos) nos fundos de mares atuais. Bonatti e Nayudu (1965) discutiram a origem dos nódulos de óxido de manganês do fundo do oceano Pacífico. Estudos petrológicos desses nódulos demonstraram a íntima associação com produtos de emanações vulcânicas submarinas. estruturas sedimentares 233 Todas as concreções de pirita em folhelhos pretos e em carvões parecem ser singenéticas; o enxofre parece ter sido originado da decomposição de matéria orgânica. CONCREÇÕES EPIGENÉTICAS As concreções epigenéticas são muito abundantes em arenitos e, em quantidade menor, ocorrem em folhelhos e calcários. Podem ser formadas por substituição ou por deslocamento de outras substâncias. É necessário que as soluções possam se mover através das rochas para haver concentração de material para formação dessas concreções. E a porosidade dos folhelhos é alta, mas a permeabilidade dessas rochas e dos calcários é baixa, dificultando o movimento das soluções. Concreções epigenéticas de sílex são em grande parte confinadas a cal- cários e dolomitos. A sílica pode ser proveniente de testas de microrganismos (radiolários e diatomáceas ou de espículas de esponjas) ou ser de origem climática ou vulcânica. A Formação Irati da Bacia do Paraná possui abun- dantes concreções de sílex, sendo a maioria epigenética. O ponto de vista mais antigo é que essas concreções se derivariam de soluções residuais do vulcanismo basáltico que durante o Mesozóico invadiu a Bacia do Paraná. Contudo, como conhecemos no Estado de São Paulo, afloramentos de Arenito Baum silicificados, rochas essas comprovadamente posteriores ao vulcanismo basáltico, uma origem climática para essa sílica não seria fora de propósito. Também uma origem a partir da dissolução de espículas de esponjas foi aventada por Amaral (1971). O intemperismo pode produzir não só concreções silicosas como também ferruginosas, manganesíferas e de carbonatos de cálcio. As cangas limoníticas podem ser consideradas como tipo particular de concreção epigenética. A mobilização dos óxidos de ferro e de carbonato de cálcio é consequência do pH ácido, mais comumente desenvolvido nos solos tropicais pela influência da matéria orgânica, fornecendo ácidos húmicos. Concreções epigenéticas podem ser formadas em todos os estádios da história da rocha. Podem ser antecedentes à litificação, contemporâneas ou ocorrerem devido a intemperismo. diastrofismo, associado a qualquer evento que propicie ativa circulação de água subterrânea. Estratificações paralelas e cruzadas GENERALIDADES Estrato é uma camada de rocha ou sedimento que é visualmente ou fisi- camente distinguida de outros estratos acima e abaixo por superfícies defi- nidas. A diferença de coloração por si só não defineestratificação, mas este fato pode frequentemente estar associado à ocorrência da estratificação. A estratificação é uma estrutura característica da maioria das rochas sedimentares. Trata-se de uma estrutura singenética, quando não perturbada 234 i n t r o d u ç ã o à sedimentologia por fenómenos posteriores à sedimentação. A rocha estratificada indica, por- tanto, que durante sua formação houve variações nas condições de deposição. Embora a estratificação constitua uma regra para as rochas sedimentares, existem exceções, tais como depósitos de loess, till e tálus, e eventualmente outros tipos, como certos argilitos. Por outro lado, existem rochas não estra- tificadas em virtude da destruição da estratificação pela ação de organismos (veja a Fig. 76, segundo Moore e Scruton, 1957) ou mesmo por processos intempéricos. Figura 76. Sequênc ia de a l teração dos sedimentos pela ação orgânica por vermes e outros orga- nismos. As setas superiores indicam a sequência formada pela des tru ição de estruturas primárias e secundárias . As setas inferiores mostram como mosqueados ou leitos irregulares podem ser orig inários a partir de h o m o g é n e o s (Segundo Moore e Scruton, 1957) Em grande número de casos a ausência de estratificação é apenas apa- rente; ela não é evidente nas rochas, mas pode ser percebida através de pro- cessos que atuem sobre elas ou através de aparelhamentos especiais. Pantin (1960) e Hamblin (1962b) descreveram vários processos de tratamento de rochas por meio de corantes ou por abrasão com a finalidade de ressaltar suas estruturas, principalmente a estratificação. As estruturas estratificadas em se- dimentos homogéneos podem ser também ressaltadas por radiografia de raios X (Hamblin, 1962a). Landim (1970) mostrou que calcários permianos da Formação Estrada Nova, aflorantes no Estado de São Paulo, exibem estratificações pelo processo de raios X, de outro modo não evidente. Na rodovia Sorocaba — Itapetininga (SP), afloram siltitos calcíferos do Grupo Tubarão (Permocarbonífero da Bacia do Paraná), aparentemente maciços. A estratificação, contudo, é bem visível em seções delgadas, quando exami- nadas ao microscópio. Existem também rochas estratificadas que não são sedimentares. Estão neste caso os derrames basálticos, que com o intempe- rismo tornam-se mais difíceis de serem diferenciados das estratificações ver- dadeiras de rochas sedimentares. CLASSIFICAÇÃO DOS ESTRATOS A espessura dos estratos é variável. Diversas foram as tentativas de dar denominações próprias aos estratos de acordo com as suas espessuras. Já Payne (1942) usou o termo "laminae" para estratos com espessura de 1 cm estruturas sedimentares 235 ou menos. McKee e Weir (1953) distinguiram os termos laminae para estratos com espessura até 1 cm e leitos (beds) para estratos com espessuras maiores. O termo leito também tem sido usado no conceito de unidade de sedi- mentação, isto é, "espessura de sedimento que foi depositada sob condições físicas essencialmente constantes" (Otto, 1938; Pettijohn e Potter, 1964). O termo essencialmente foi usado para permitir que pequenas flutuações na direção ou na velocidade da corrente, ou condições de mudança progressiva sem maiores interrupções, não interferissem no conceito de leito. No conceito de Campbell (1967), a espessura não é essencial nas defi- nições de leito e lâmina. A lâmina seria a menor camada megascópica reco- nhccivcl em uma sequência sedimentar. O termo megascópico foi introduzido por Campbell na definição de lâmina, de acordo com a sugestão de Sloss, para excluir diferenças entre camadas distinguíveis somente pelo uso de microscópicos petrográficos ou eletrônicos. A lâmina no conceito de Campbell possui composição e textura relativamente uniformes, não acamada inter- namente (pelo menos megascopicamente). Na prática, contudo, o termo lâmina tem sido usado para leitos de espessura da ordem de milímetros, e leito para camadas de espessura maior que 1 cm. Entre os leitos mais delgados temos as varves e, entre os mais espessos, os leitos de origem eólica. Além da espessura absoluta, um leito é caracterizado pela variabilidade lateral da espessura. Em alguns ela é notavelmente uniforme, em outros, ao contrário, a disposição ondulada é comum, adelgaçando-se e espessando-se regular ou irregularmente e, em outros ainda, se acunham bruscamente. Na descrição de camadas deve-se notar se a superfície de separação é paralela ou não, se é plana, ondulada ou curva, e se é contínua ou descontínua. ESTRATIFICAÇÃO E GRANULAÇÃO Sabemos que todas as rochas elásticas são constituídas de fragmentos de minerais ou rochas que sofreram transporte. Então, se relacionarmos a estratificação com a granulação, verificaremos que, à medida que as rochas elásticas vão se tornando mais finas, os estratos tendem a se tornar cada vez mais delgados, provavelmente porque existe uma relação direta entre a gra- nulação e a velocidade de deposição, isto é, quanto mais fino for o material, mais lenta será a sua velocidade de deposição. Os estratos são também menos distintos, quando a granulação é fina, pois não há variações marcantes no tamanho dos grãos. O diagrama (Fig. 77) mostra as relações entre sedimentos puramente arenosos e calcários, e para os que contêm porcentagens progressivamente maiores de argila. Os folhelhos são, de todas as rochas, as mais finamente laminadas, o que indicaria lenta deposição em ambiente calmo. Sua estru- tura, contudo, é em parte relacionada à compactação e à existência de mi- nerais placóides. Pela compactação há uma reorientação das partículas e os minerais de argila assumem disposição perpendicular ao peso dos sedimentos superpostos.
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