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Genética do câncer hereditário Genética Médica - Biomedicina Profª. Maressa R. Prado Cacau Profa. Erli Souza Epidemiologia Principal causa de morte entre 45-60 anos Incidência no Brasil em 2003 (INCA) 126.290 mortes 402.190 casos novos INTRODUÇÃO A regulação do número de células somáticas é um processo sofisticado, sendo sujeito a defeitos nesse processo. O acúmulo de mutações em uma linhagem somática que inibem a morte celular e aceleram a proliferação desordenadamente é o fator causador do câncer. Introdução Todo câncer humano resulta de mutações no DNA, as quais o tornam a doença genética mais comum. Algumas células passam a crescer e a se dividir descontroladamente neoplasia; o conjunto de células resultantes neoplasma ou tumor Tumores Benignos: autolimitantes ao se disseminarem entre tecidos adjacentes, nem formam metástases, mas podem causar problemas por pressão mecânica. Malignos: crescimento ilimitado, podem se disseminar tanto para os tecidos vizinhos, quanto por metástases. Principais tipos de tumores Carcinomas – tecido epitelial Sarcomas – tecido conjuntivo Linfomas – tecido linfático Glioma – células gliais do sistema nervoso central Leucemias – órgãos hematopoiéticos Características das células cancerosas Características que as distinguem das células normais Crescimento e multiplicação descontrolados Alterações morfológicas, sendo mais arredondadas Perda da inibição por contato, levando a formação de varias camadas celulares Perda da afinidade celular específica Propriedades imunológicas diferentes Desdiferenciação (são menos especializadas do que o tipo normal da qual se originam) Invasividade Maior e mais rápida captação de glicose Utilização do metabolismo anaeróbico Citoplasma indiferenciado, com organelas mal desenvolvidas Origem do tumor Monoclonal: origina-se de uma só célula (maioria) Origem policlona – carcinoma de mama e neurofibromatose Aspectos genéticos Alguns tipos específicos de câncer podem ter herança mendeliana (raro) Há uma predisposição familiar ao câncer, sem indicações de herança monogênica Existe forte associação entre vários tipos de câncer e anomalias cromossômicas Alguns tipos de câncer estão associados a reparo defeituoso do DNA Há muitos fatores ambientais predisponentes ao câncer (radiações, vírus e substancias químicas). Como se desenvolve o câncer? Mudança da programação genética celular Alteração do crescimento e proliferação Desdiferenciação celular Instabilidade cromossômica Clonagem celular Mutação-agentes cancerígenos Causas Células cumprem seu ciclo normal obedecendo um controle genético e bioquímico: multiplicam, crescem, diferenciam e morrem. Exemplo de surgimento de tumor maligno: 1) Célula geneticamente alterada: alguma célula de uma população normal sofre mutação gênica que aumenta sua capacidade de proliferação 2) Hiperplasia: células alteradas e suas descendentes se reproduzem muito mais. Depois de alguns anos, uma dessas células sofre outra mutação, que leva à perda do controle sobre o crescimento celular. 3) Displasia: descendentes dessa célula parecem anormais em forma e orientação. Após algum tempo ocorre uma nova mutação rara que altera o comportamento celular. 4) Câncer in situ: células afetadas tornam-se mais anormais no crescimento e aparência. É chamado in situ se o tumor não ultrapassou suas fronteiras, pode permanecer contido indefinidamente. Porém, algumas células podem sofrer mutações adicionais. 5) Câncer invasivo: quando as alterações genéticas permitem que o tumor invada os tecido subjacentes e suas células se espalhem para o interior de vasos, a massa torna-se maligna. 6) Tumor maligno invasivo cresce irregularmente, e através das correntes sanguíneas ou linfáticas, estabelecem-se em outros locais metástases desorganização de órgãos vitais morte. Várias etapas de progressão para a malignidade em câncer de cérebro. Proto-oncogenes, oncogenes e genes de supressão tumoral 2 classes de genes que têm papeis importantes no desencadeamento do câncer: PROTO-ONCOGENES e GENES DE SUPRESSÃO TUMORAL (ou antioncogenes) (genes envolvidos na síntese de proteínas que estimulam e controlam o crescimento e divisão celular. Estão inativos em células que não se dividem.) PROTO-ONCOGENES Agentes mutagênicos ONCOGENES (gene mutado responsável pela síntese de proteínas com maior atividade estimulando anormalmente a divisão celular) Tumor Proto-Oncogenes Crescimento e proliferação celular Transformação Maligna Perda ou mutação em gene de supressão tumoral (genes envolvidos na regulação do crescimento anormal, inibindo-os.) GENES SUPRESSORES TUMORAIS / anti-oncogenes Agentes mutagénicos Gene mutado incapaz de bloquear a divisão celular que se realiza descontroladamente Tumor Proto-oncogenes Em certas condições podem transformar-se em oncogenes, que são genes que codificam proteínas estimuladoras do crescimento. Oncogenes derivam de genes celulares normais expressos sob uma forma alterada e atuam sinergicamente. Dos 100.000 genes humanos existentes, talvez mais de uma centena sejam proto-oncogenes. Mecanismo de ativação dos proto-oncogenes Podem ser ativados das seguintes maneiras: Mutação pontual: podem ser induzidas por agentes carcinogênicos físicos ou químicos Amplificação gênica: corresponde ao aumento do número de copias dos proto-oncogenes, causando uma superexpressão dos seus produtos. Translocação cromossômica: leva à superexpressão de um proto-oncogene – essa alteração cromossômica resulta em rearranjos que envolvem o proto-oncogene ou são lhe adjacentes. Ativação retroviral: retrovírus podem inserir seus genes no DNA de uma célula hospedeira, levam para a célula versões alteradas de genes promotores do crescimento celular Genes de supressão tumoral São genes recessivos no nível celular, cuja função normal é reprimir divisão celular. Por deleção ou mutação pontual sua função pode ser perdida ou alterada. A perda das proteínas supressoras desregula o crescimento celular, podendo levar à formação de tumores. Retinoblastoma Retinoblastoma Exemplo de inativação do gene supressor tumoral é o do retinoblastoma tumor maligno da retina. Herança autossômica dominante, mas a maioria dos casos é esporádica. Indivíduos que herdam o gene para retinoblastoma tem a primeira mutação (germinativa) em um dos alelos desse gene em todas as células, mas o tumor só inicia quando ocorre uma segunda mutação no outro alelo, em uma das células da retina. Nas pessoas que não apresentam a mutação germinativa, são necessárias duas mutações somáticas na mesma célula da retina, para a alteração maligna, o que é muito mais raro. Sistemas de defesa do organismo humano Sistemas de defesa para evitar a divisão celular descontrolada 1) Apoptose, morte celular programada A perda de uma célula somática é desprezível, uma vez que os tecidos possuem células-tronco para reserva. Quando anomalias celulares são detectadas, a maquinaria de apoptose ativa a destruição da célula. Por exemplo, dano ao DNA, ativação de um oncogene, ou inativação de um gene supressor de tumor.EVENTOS DA APOPTOSE Membranas de organelas se rompem DNA cromossômico é fragmentado Célula torna-se esférica A célula se rompe Remoção por células fagocíticas APOPTOSE: POR QUE É IMPORTANTE TERMOS MECANISMOS DE AUTODESTRUIÇÃO? Células cancerosas usam vários meios para escapar da apoptose Proteína p53: ajuda normalmente a desencadear o suicídio celular; a inativação dessa proteína por algumas células tumorais reduz a probabilidade de eliminação das células com problemas Proteína da membrana mitocondrial Bcl-2: impede a eficiência da apoptose. 2) Sistema íntegro de reparo do DNA Reparo deficiente do DNA causa uma instabilidade genômica, caracterizada por mutações generalizadas, quebras cromossômicas e aneuploidias em todo genoma, que pode comprometer a regulação do ciclo celular, levando à formação de tumores. 3) Sistema imunológico íntegro Por intermédio de anticorpos e citocinas combatem as células cancerosas, muitas das quais possuem antígenos específicos. 4) Ausência de telomerase e encurtamento dos telômeros na divisão celular Mecanismo que “conta e limita o número total de vezes que as células podem reproduzir-se”, relacionado com a apoptose. Telômeros são dispositivos celulares que indicam o número de duplicações pelas quais uma população de células normais passa (segmentos de DNA nas extremidades dos cromossomos que limitam a capacidade de expansão indefinida da célula, devido ao seu encurtamento a cada ciclo de divisões, e a inativação ou ausência da enzima telomerase, cuja função é reconstituir os telômeros, após cada ciclo mitótico). Neoplasias de herança monogênica Muitas doenças de transmissão monogênica predispõem ao câncer. Maioria das neoplasias apresenta herança mendeliana típica, mas alguns cânceres não apresentam transmissão monogênica evidente. Pode ser explicado por 2 fatores: a) Inicio de câncer hereditário na meia-idade, quando alguns indivíduos geneticamente predispostos já faleceram por outras causas b) Presença simultânea, na mesma família, de um câncer hereditário e outro não hereditário. Pistas quanto a um determinado câncer ser hereditário Os mesmos tipos de câncer tendem a ocorrer nos parentes próximos dos probandos Início precoce Origem multicêntrica e ocorrência bilateral, quando em órgãos pares. Neoplasias de herança multifatorial Um gene dominante que predispõe a neoplasias de vários órgãos, como mamas, ovários, cérebro, aparelho gastrintestinal e precursores dos leucócitos. Câncer de mama Ocupa o 3º lugar em frequência, precedidos pelos cânceres de colo uterino e de pele. Grande parte dos casos de câncer de mama hereditário resulta de mutações germinativas nos genes supressores de tumor BRCA1 e BRCA2. Sendo que as mulheres que herdam alelos mutantes de BRCA1 apresentam frequência elevada de câncer ovariano. Câncer de pulmão Maior causa de morte por câncer nos EUA Principal fator ambiental é o tabagismo, existe um polimorfismo genético associado à susceptibilidade ao câncer de pulmão. Leucemias Estudos sugerem uma predisposição genética para essas neoplasias. O risco de recorrência da leucemia em gêmeos idênticos é de 1:5 e em irmãos é de 1:720, comparado com o risco populacional de 1:3000 Neoplasias e alterações cromossômicas Alterações encontradas nas neoplasias podem ser inespecíficas (quebras e rearranjos observados nas síndromes) ou específicas, para determinados tipos de tumores. Leucemias e linfomas - tais alterações consistem, principalmente, de translocações recíprocas Entretanto, algumas trissomias também predispõem ao câncer: Síndrome de Down - risco está aumentado 30 vezes em relação ao risco para a população geral. Provável que na maioria dos linfomas e leucemias, uma alteração cromossômica específica na neoplasia humana seja responsável e/ou necessária para o desenvolvimento de transformação maligna. Essa alteração primária pode ser seguida por mudanças cromossômicas secundárias, que têm importante papel na evolução das doenças. Elas podem ativar os oncogenes não envolvidos no primeiro evento cromossômico e resultar em uma cascata de ativações oncogênicas transitórias ou permanentes, sendo responsáveis pela progressão do tumor e metástases. Neoplasias e vírus Vírus de DNA e retrovírus podem causar câncer nos animais, mas carcinogenese humana devida a vírus é especifica e relativamente restrita: EBV – herpes-vírus que infecta células B e causa mononucleose infecciosa, associado ao linfoma de Burkitt e carcinoma nasofaringeal HBV – associado ao carcinoma hepatocelular primário, o mais frequente tumor de fígado e uma das neoplasias letais mais prevalentes mundialmente. Fatores de risco e proteção Principais fatores de risco para o desenvolvimento de câncer: vírus, radiações e substâncias químicas Pessoas em geral estão expostas a tais substâncias, mas somente uma parte delas chega a desenvolver neoplasias, devido a variabilidade genética que existe entre indivíduos nas enzimas de reparo do DNA, no controle da vigilância imunológica e na capacidade metabólica de transformar determinadas substâncias
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