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Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I Fisiologia vascular e reologia (hemodinâmica; mecanismos de controle do fluxo sangüíneo local; função endotelial) Anatomia do coração O coração tem um tamanho próximo ao punho cerrado; encontra-se posicionado no mediastino, ligeiramente deitado e rodado para a esquerda. Ele possui sua parte superior mais para trás, enquanto sua parte inferior está mais para frente, rodado lateralmente para a esquerda. Portanto, quando se olha de frente para o indivíduo, os átrios estão localizados mais para trás do que os ventrículos, os quais estão mais para frente. Se ele está mais virado para a esquerda, o que está mais na frente é a parede do ventrículo direito, e o septo interventicular está voltado para a esquerda. Toda a parede lateral esquerda e posterior constitui o ventrículo esquerdo. O átrio esquerdo está em contato com o esôfago. Uma das formas de se estudar a Anatomia do coração é fazendo um raio-X do esôfago por contraste: se fizer uma imagem de perfil de um indivíduo quando engole um contraste iodado, normalmente, como o iodo é rádio- opaco, ele não deixa passar o filme. Se por acaso, numa radiografia, existe uma falha de enchimento do esôfago, posso concluir que alguma câmara cardíaca está comprimindo a parede anterior do esôfago, que, normalmente, é o átrio esquerdo. Fatores determinantes da circulação As circulações sistêmica e pulmonar estão em série entre si. Se elas estão em série e é um sistema fechado, o fluxo global que passa na circulação sistêmica é o mesmo que passa na circulação pulmonar. Se esse fluxo é mesmo, a pressão deveria ser a mesma; entretanto, depende-se também da resistência ao fluxo. Essa é a íntima relação entre os três fatores: o fluxo através do sistema é diretamente proporcional ao gradiente de pressão, e inversamente proporcional à resistência do sistema. Ao se reorganizar a fórmula, pode-se perceber que pressão é igual à fluxo x resistência (∆P= Q x R). Para que haja um aumento de pressão, podemos aumentar o fluxo, a resistência, ou mesmo os dois. 1 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I Apesar de o fluxo pulmonar ser igual ao sistêmico, a pressão nessas circulações não são iguais; isso porque a pressão média na aorta, que é a principal artéria da circulação sistêmica, é por volta de 10mm Hg, enquanto que na circulação pulmonar é muito menor. A explicação é baseada na menor resistência vascular da circulação pulmonar, quando comparada à resistência da circulação sistêmica. O músculo que trabalha contra essa tensão, obviamente, trabalha muito mais quando ele está submetido a uma pressão muito alta, levando a sua hipertrofia; dessa forma, a musculatura do ventrículo esquerdo é muito mais desenvolvida do que a do ventrículo direito. Quando existe um tipo de doença pulmonar, que leva a aumento da resistência ao fluxo de sangue e hipertensão pulmonar, progressivamente, o ventrículo direito vai sendo sobrecarregado. A diminuição da capacidade de funcionamento dessa câmara caracteriza o cor pulmonale, que provoca uma hipertrofia, classificada como primária ou secundária. A primária possui causa idiopática, ou seja, não se sabe o motivo de sua ocorrência; é uma doença relativamente grave, de evolução complicada, que diminui o tempo de vida do indivíduo. Com a hipertrofia do coração direito, há uma diminuição da sua capacidade funcional e sua força de contração. Mecanismos de controle A musculatura cardíaca é uma musculatura especial, que possui muitos discos intercalares, e com grandes capacidades de comunicação, funcionando, assim, como um sincício. Os mecanismos que controlam a circulação, como os reflexos neurais, os paraneurais e os quimioreflexos, influenciam na pressão e no fluxo. Eles modificam os fatores hemodinâmicos que determinam a pressão. O parareflexo arterial constitui um receptor, uma via aferente, um centro integrador, uma via eferente e um órgão efetor, que é o próprio vaso sangüíneo. Se a pressão cai, os parareceptores detectam a queda, e mandam sinais aferentes ao centro integrador, localizado no bulbo e ponte, no tronco cerebral, que 2 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I manda uma resposta eferente, via sistema nervoso autônomo (simpático e parassimpático), modificando os fatores que determinam a pressão, como o débito cardíaco. O coração aumenta a quantidade de sangue que está sendo bombeada através do volume sistólico (volume de sangue ejetado a cada batimento), e da freqüência cardíaca. Essa correção da queda de pressão funciona como uma alça de retroalimentação negativa. Paralelamente, a estimulação simpática aumenta a força de contração do miocárdio, a contração sistólica, a freqüência cardíaca, a inibição do tônus parassimpático, e realiza vasoconstrição arteriolar, diminuindo o raio das arteríolas, aumentando, dessa forma, a resistência. Esse mecanismo é muito potente na elevação da pressão arterial. Histologia dos vasos sangüíneos A estrutura dos vasos é composta de 3 camadas básicas. A mais interna é o endotélio, é um dos órgãos mais metabolicamente ativos, pela capacidade enorme de modificação de vários fatores vasculares locais. O endotélio libera e inibe substâncias que tem influência na inflamação regional, na agregação plaquetária, no estresse oxidativo, na coagulação sanguínea e no tônus vascular. Muitos desses fatores são regulados por substâncias liberadas pelo endotélio, e outras inibidas pelo endotélio. Há liberação de substâncias como o óxido nítrico, endotelina, angiotensina, bradiotensina e uma série de outras substâncias com ação local. O endotélio é um potente modulador das funções vasculares. A camada média é chamada de túnica média, que é basicamente músculo liso, fibras colágenas e elásticas. A adventícia tem a função de recobrir externamente os vasos. Nos diferentes segmentos, temos proporções diferentes de cada um dos tecidos. Nas grandes artérias, tem-se um grande desenvolvimento da túnica média, particularmente na forma de tecido elástico, sendo a 3 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I camada muscular apenas acessória. Portanto, a função das grandes artérias, na circulação, é a complacência, que é a característica do sistema tridimensional que relaciona a variação de volume sobre a variação de pressão, ou seja, significa a capacidade de aumentar de volume quando submetido a uma determinada pressão interna; ela é indispensável para que o sistema vascular funcione de maneira sadia. As grandes artérias funcionam como um coração secundário, pois estas acomodam o sangue em seu interior, e quando ele passa, elas voltam ao seu tamanho normal. A capacidade das grandes artérias de acomodar o sangue do volume sistólico, o volume ejetado e, depois, voltar para o volume inicial, é fundamental para manter o relaxamento do ventrículo. A complacência arterial é um mecanismo muito importante para a manutenção deste estado. As veias possuem uma complacência muito maior do que as artérias; isto significa que, quando submetida à uma menor pressão, ela aumenta mais de volume do que as artérias. A sua parede é menos desenvolvida, do ponto de vista da camada elástica, mas também possui uma camada muscular razoável. É muito fácil encher uma veia, uma vez que ela não tem muitas fibras elásticas, cedendo e acomodando o sangue dentro dela. A pressão no sistema arterial é de aproximadamente 100 mm de Hg; já no sistema venoso, é de aproximadamente 5 mm de Hg. Mesmo submetido a menor pressão, 80 a 85% de toda a volemia preenche o sistema venular (veias e vênulas), devido a sua maior complacência. A pressão ventricular é uma medida pulsátil que chega à 120 mm Hg, durante a contração, e à 0mm Hg, durante o relaxamento ventricular, devido à ação das grandes artérias. A pressão, dentro das artérias, não vai à zero, durante a diástole, por causa da resistência periférica, que não permite que ocorra o escoamento instantâneo de sangue. O mesmo não ocorre dentro do ventrículo, cuja pressão chega à zero. 4 Jones Vinicius Realce Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I O segmento arteriolar tem um desenvolvimento muscular muito bem desenvolvido; seu papel é justamente variar a resistência ao fluxo, controlando-o. Durante um reflexo de manutenção da pressão arterial, particularmente quando é um reflexo estimulado intensamente, durante uma hipovolemia aguda por sangramento, o parareflexo corrige a pressão, atuando no débito cardíaco e na resistência vascular periférica. Mas uma das ações primordiais do parareflexo, nessas situações, é produzir estimulação adrenérgica venular, fazendo uma venoconstrição, que diminui a complacência venosa, comprimindo o sangue nas veias e, por causa da existência das válvulas, produzindo um retorno venoso maior, deslocando o sangue, então, para o sistema arterial, e colaborando com o restabelecimento da pressão arterial. O sistema venular tem essa capacidade de armazenamento do sangue. Mecanismos de controle do fluxo regional Existem, basicamente, 3 mecanismos, no nosso organismo, que controlam o fluxo sangüíneo nas diferentes regiões, nos diferentes leitos vasculares da circulação sistêmica, que estão em paralelo entre si. Se, em um determinado local, temos vasoconstrição, a resistência ao fluxo nessa região aumenta, e a tendência é que o fluxo diminua e seja desviado, então, para outra região, onde a resistência é menor; isso porque está em paralelo com outros leitos vasculares. Quando só se tem um lugar para passagem do sangue, como na válvula aórtica, mesmo com o aumento da resistência, o sangue terá que passar por aquele local. Não importa a resistência, mas o sangue terá que passar por ali. Para que isso aconteça, há a necessidade de um aumento na velocidade, pois, com o estreitamento, e com o mesmo volume de sangue, ele terá que passar mais rápido. Existe um outro conceito, relacionado ao sistema em paralelo: não há necessidade de aumento na velocidade do fluxo, pois o mesmo poderá ser desviado. Se um indivíduo apresentar estenose de uma das coronárias, o fluxo vai diminuir no vaso afetado, porque existem outras coronárias, em paralelo, que poderão receber o fluxo que está sendo desviado. 5 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I Mecanismos de controle do diâmetro do vaso • O mecanismo miogênico • O mecanismo neural • O tônus autonômico • O mecanismo metabólico • A importância e interação desses mecanismos Existem basicamente três mecanismos que modificam a principal variável da resistência ao fluxo, que é o diâmetro do vaso. O vaso sangüíneo que varia com maior intensidade o seu diâmetro é aquele que possui a sua camada muscular mais bem desenvolvida, isso acontece com as arteríolas, principalmente. O mecanismo miogênico O mecanismo básico do organismo vivo é a dinâmica. O mecanismo miogênico consiste na capacidade do músculo liso de estar organizado radialmente e reagir, quando sofrer uma reação interna. Então, quando há um aumento na pressão interna dos vasos, a tensão em suas paredes também tende a aumentar, fazendo com que as fibras musculares lisas expandam o volume do vaso. Isso faz com que ocorra a abertura de canais de sódio e de cálcio na membrana, promovendo uma reação contrátil no vaso. Essa reação depende de vários fatores, como o fato desse vaso se encontrar dentro de um organismo, ou estar em uma preparação in vitro. Dessa forma, mecanismo miogênico é a capacidade autônoma de responder, mecanicamente, à tendência do aumento da pressão interna, expandindo o diâmetro do vaso, e mantendo o fluxo constante. É muito comum existirem, no organismo, mecanismos redundantes, constituindo uma característica funcional. O mecanismo miogênico, por exemplo, mantém o retorno venoso até certo ponto, quando estamos de pé prolongadamente; este mecanismo venular é importante, devido à tendência que o sangue tem de se acumular nas veias e vênulas. A posição ortostática, fazendo com que estas esses vasos se dilatem, porém, este mecanismo miogênico não permite que elas se dilatem tanto, fazendo com que o volume venular se mantenha menor do que estaria, caso este mecanismo miogênico não existisse. Este mecanismo tem algumas participações na homeostase venular, mas está continuamente 6 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I submetido a outros dois mecanismos, muito mais potentes, que são: o mecanismo neural e o mecanismo metabólico. O mecanismo neural O mecanismo neural envolve, basicamente, as fibras do sistema simpático, e parassimpático, em alguns órgãos – a musculatura esquelética, aparentemente, não recebe inervação parassimpática, apenas simpática, portanto, inervação adrenérgica. As fibras simpáticas liberam, no órgão-alvo, noradrenalina, portanto, têm a capacidade de aumentar a liberação de cálcio intracelular e produzir vasoconstrição. A grande variedade da resistência vascular periférica é dada pela resistência das arteríolas musculares. Essas arteríolas possuem dois tipos de receptores na sua musculatura lisa que são: α1e β2. Os receptores β2, quando estimulados, produzem vasodilatação; porém, a noradrenalina tem uma afinidade muito maior pelo α1, do que pelo β2, então ela é tipicamente vasoconstritora. A adrenalina, liberada pela medula das supras- renais, possui um efeito máximo em β2; então, quando se tem uma estimulação simpática muito alta e contínua, parte do efeito adrenérgico pode produzir vasodilatação em alguns vasos. Na prática, o que comprova o tônus arteriolar, via mecanismo neural, é a migração da noradrenalina, que é o neurotransmissor da fibra pós-ganglionar do sistema simpático, portanto, com um efeito vasoconstritor. Alguns vasos relacionados ao sistema pélvico sofrem vasodilatação pela acetilcolina, liberada pelo sistema parassimpático, mas não têm efeito na resistência total periférica, portanto, não comprometendo a pressão arterial. O mecanismo que controla a resistência vascular periférica é o sistema simpático, que libera a noradrenalina, promovendo vasoconstrição. Esse mecanismo é muito importante para a compreensão do tônus autonômico do sistema nervoso autônomo. O tônus autonômico O tônus é um grau de atividade espontânea, mesmo na situação de repouso, ou seja, mesmo quando o reflexo não está ativado. Isso existe, por exemplo, através das fibras do nervo vago para o coração em repouso, ou através de fibras do sistema nervoso para os vasos, mesmo em situações de não estimulação. 7 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I A noradrenalina provoca aumento da freqüência cardíaca, já a acetilcolina provoca diminuição da freqüência cardíaca, sendo que as duas atuam simultaneamente. Existe um tônus vagal e um tônus simpático para o coração. A freqüência cardíaca em repouso depende da relação proporcional entre o tônus simpático e parassimpático. O coração possui auto-atividade e ritmicidade; isso significa que ele tem a capacidade de despolarizar espontaneamente. O potencial de membrana do nodo sinusal é instável, portanto ele não se mantém em valor fixo, se despolarizando continuamente, até que, de tempos em tempos, atinge um ápice, e deflagra o potencial de ação, gerando uma contração cardíaca. O valor de freqüência cardíaca fisiológica é de 60 batimentos por minuto. O coração bate a esse valor devido à interação entre a freqüência cardíaca intrínseca, o tônus vagal e o tônus adrenérgico. Um β-bloqueador, como o Propanolol, age bloqueando os receptores adrenérgicos, impedindo a ação da noradrenalina no nodo sinusal. Como o tônus adrenérgico é evitado, a freqüência cardíaca diminui de 60 para, aproximadamente, 50 batimentos por minuto. Com o uso de atropina, cuja função é o bloqueio dos receptores colinérgicos, o efeito da acetilcolina, liberada pelos nervos colinérgicos, acaba sendo bloqueado, assim como o tônus parassimpático (vagal), aumentando a freqüência cardíaca. A freqüência cardíaca intrínseca “gira” em torno de 100; pode-se perceber que quem produz o maior efeito predominante é o parassimpático. A existência de tônus autonômico permite que o sistema produza um efeito, não somente através de sua estimulação, mas através de sua inibição. O órgão que só recebe um tipo de inervação consegue reagir tanto estimulado, quanto inibido. Pode-se fazer a estimulação da freqüência cardíaca pelo simpático, aumentando a freqüência dos potenciais de ação, ou então inibindo os potenciais de ação, pelo parassimpático, produzindo taquicardia e bradicardia, respectivamente. Quando inibimos o tônus vagal, como durante o exercício, a freqüência cardíaca aumenta. Nos primeiros 4 a 5 segundos de exercício, a freqüência cardíaca pode aumentar bruscamente de 60 para 100 batimentos por minuto, devido à inibição do tônus parassimpático. Durante o exercício sustentado, a freqüência adrenérgica vai manter a freqüência cardíaca no seu nível máximo, mas, no início, existe uma taquicardia que 8 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I acontece em menos de um segundo, tudo isso pela inibição do tônus vagal, que diminui muito, aumentando a freqüência cardíaca. O tônus adrenérgico dos vasos sangüíneos também, acontece dessa forma. Com a estimulação do tronco simpático acontece a liberação de noradrenalina, faz-se mais vasoconstrição. A vasodilatação no mecanismo adrenérgico acontece pela inibição do tônus, por isso é importante conhecer a existência do tônus adrenérgico. O nervo está continuamente ativado. Se a pressão estiver muito alta, o parareflexo modifica essa pressão. Ela é modificada pelo reflexo hemodinâmico, pela diminuição do débito cardíaco, fazendo vasodilatação, inibindo o tônus adrenérgico arteriolar. O mecanismo metabólico As arteríolas são musculares, com a camada muscular muito bem desenvolvida, e são as principais responsáveis pelo controle de fluxo de sangue para a rede capilar. Essas arteríolas sofrem influência do mecanismo neural e do mecanismo metabólico. O mecanismo metabólico relaciona o grau de atividade metabólica das células daquela região com o grau de constrição da arteríola que irriga e controla o fluxo daquela região. Portanto, quando o tecido aumenta sua atividade metabólica, ele produz um conjunto de modificações daquele meio intersticial, portanto, englobando também as arteríolas, que produzem uma vasodilatação, fazendo com que o fluxo sangüíneo aumente e que a demanda metabólica seja atendida. Inversamente, o processo é o mesmo: quando a atividade metabólica diminui, o meio químico ao redor se modifica, de forma que se tem menos efeito vasodilatador na musculatura das arteríolas que controlam o fluxo daquela região. Portanto, o fluxo diminui e existe sempre uma “flutuação” ao redor de um valor ótimo de fluxo, produzido pela alteração bioquímica regional, conseqüente da atividade metabólica das células. É um mecanismo de auto-regulação do fluxo em função da atividade metabólica. A importância e interação desses mecanismos A função que o mecanismo metabólico atende é a de sobrevivência das células. É um mecanismo envolvido na subsistência das células. Cada célula está intimamente relacionada ao mecanismo de sobrevivência no meio, de subsistência. É o mecanismo de homeostasia. O fluxo é modificado na mesma proporção da atividade metabólica, ao 9 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I passo que o mecanismo neural serve muito mais para o controle global da pressão arterial. A atividade simpática está diretamente relacionada ao controle da pressão arterial. O fluxo sangüíneo naquela região está sendo determinado não pela função metabólica estar maior ou menor, mas para manter a pressão arterial em níveis normais, o que é importante para todas as células. Pode-se perceber que existe uma interação contínua e indispensável entre todos esses mecanismos, de maneira que o fluxo sangüíneo seja determinado pelo grau de atividade metabólica, desde que a pressão sanguínea esteja em níveis adequados. Existe uma interação contínua entre os mecanismos neurais e metabólicos que determinam pressões adequadas e fluxos proporcionais a atividade metabólica daquele tecido. Quando aumenta a atividade metabólica, os mediadores químicos fazem vasodilatação, aumentando o fluxo regional. Quando a taxa metabólica diminui, temos menos mediadores vasodilatadores, portanto ocorre vasoconstrição das arteríolas, fazendo com que o fluxo fique proporcional a atividade metabólica. Por exemplo: o músculo, no início de uma atividade física, libera mediadores que fazem vasodilatação. As condições bioquímicas que determinam a vasodilatação, mediante o aumento da taxa metabólica, podem ser: baixa da pressão parcial de oxigênio, que é uma hipoxemia regional, fazendo com que o músculo tenha menos capacidade de se contrair, diminuindo o fluxo arteriolar; aumento a pressão parcial de CO2; as células liberam K+, adenosina, um importante vasodilatador, principalmente do miocárdio, aumento da concentração dos íons H+. Esses mecanismos produzem vasodilatação, quando estão aumentados. A ação da cininase II A cininase II, localizada na superfície das células endoteliais pulmonares, é responsável pela degradação das cininas a peptídeos inativos. Mais conhecida como enzima conversora da angiotensina (ECA), é responsável pela síntese da angiotensina II, o produto final da cascata renina-angiotensina. A renina é uma enzima liberada pelo rim que produz a transformação de angiotensinogênio em angiotensina I. Dentro de alguns segundos após a transformação da angiotensina I, dois outros aminoácidos são dela removidos para formar o peptídeo de 8 aminoácidos angiotensina II. Essa conversão ocorre quase totalmente nos pequenos vasos dos pulmões, catalisada pela enzima conversora (ECA) presente no endotélio dos vasos 10 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I pulmonares. A angiotensina II era o mais potente vasoconstritor que existia, até a descoberta da endotelina, também liberada pelo endotélio. A cininase II também cliva a bradicinina, um importante vasodilatador, inativando-a. Portanto, a ação da cininase II é duplamente importante no processo de vasoconstrição, uma vez que ela não só gera um potente vasoconstritor (angiotensina II), como também inativa um importante vasodilatador (bradicinina). Os inibidores da enzima conversora da angiotensina (IECA), utilizados no tratamento clínico da hipertensão arterial sistêmica, da insuficiência cardíaca congestiva e da nefropatia diabética, possuem dois distintos mecanismos de ação: simultaneamente bloqueiam a síntese da angiotensina II e inibem a degradação das cininas. Os IECA, portanto, produzem vasodilatação através da inibição da transformação de angiotensina I em angiotensina II, e da inibição da degradação da bradicinina. O papel da vênulas As vênulas são mecanismos de drenagem capilares. O papel fundamental da circulação das vênulas é o armazenamento de sangue, de forma que, durante um sangramento, a venoconstrição é extremamente importante na mobilização de sangue para a circulação arterial e no restabelecimento da pressão arterial. O mecanismo venular é dependente do funcionamento adequado das válvulas; elas são extremamente importantes, pois impedem o refluxo periférico do sangue. Toda vez que acontecer o aumento da constrição, ou uma diminuição da complacência venular, promove-se maior retorno venoso. Isso pode acontecer com estimulação adrenérgica e também durante a contração muscular. Um indivíduo correndo ou caminhando, por exemplo, produz uma compressão rítmica das veias profundas da musculatura dos membros inferiores, correspondendo a uma diminuição da complacência da veia. Isso equivale a dizer que a pressão venosa é 11 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I aumentada e desloca o sangue daquela posição, em direção ao coração, devido à organização das válvulas das veias. Durante o exercício, o coração só é capaz de bombear sangue para os músculos que estão fazendo exercício porque estes mesmos músculos bombeiam o sangue de volta, para que ele seja capaz de oxigená-lo e distribuí-lo para a circulação. O bombeamento venoso funciona como um coração periférico, o mesmo sangue que vai tem que voltar, e isso é produzido pela compressão venosa dos membros inferiores. Um indivíduo que tem uma perda do tônus venular, que perde a função das veias, tende a produzir grandes entumecimentos das veias, grande alargamento das veias dos membros inferiores, o que acaba por prejudicar o retorno venoso. Claudicação intermitente é o nome de uma doença que nada mais é do que uma aterosclerose de artérias do membro inferior. Um indivíduo com aterosclerose tem o desenvolvimento de placas ateromatóideas, gordura que se organiza e causa uma inflamação que pode se calcificar e diminuir a luz do vaso. Pode acontecer no cérebro, na coronária, no rim, na artéria mesentérica, ou na artéria femoral, na artéria poplítea. Quando o indivíduo caminhar, a atividade metabólica da musculatura irá aumentar e o mecanismo metabólico produz vasodilatação, só que há demanda, porém a passagem está estreitada. Ocorrerá um desequilíbrio entre a demanda e a oferta de sangue (oxigênio). Este é o mecanismo que desencadeia um processo chamado de isquemia. O processo de isquemia O que é isquemia cerebral, mesentérica, do miocárdio? É um mecanismo de sofrimento celular, causado pelo desequilíbrio entre a oferta e a demanda de oxigênio, comumente pela obstrução do vaso que irriga aquela região. Então o indivíduo caminha, sua perna começa a queimar, começa a mancar e pára. O seu metabolismo diminui, a isquemia também diminui, é restabelecida a pressão no vaso, e o indivíduo volta a andar. Caso a pessoa evite caminhar, cada vez mais as distâncias, por ele percorridas, diminuirão. Deve ser feito um processo de reabilitação, para que se consiga andar distâncias cada vez maiores, e, em algumas pessoas, é necessária intervenção cirúrgica. A acidose também pode causar uma isquemia, porém esta é relativa. 12 Sistema Cardiovascular Fisiologia vascular e reologia I Débito cardíaco x retorno venoso Se o sistema é fechado, o débito cardíaco, a quantidade de sangue ejetado pelo coração, deve ser igual ao retorno venoso, que é a quantidade de sangue que chega ao coração por minuto. Só somos capazes de mater o débito cardíaco se, proporcionalmente, tivermos retorno venoso. O grande mecanismo que permite o retorno venoso é a compressão intermitente das veias dos membros inferiores. O sangue das veias não volta porque existem as válvulas; é uma organização extremamente inteligente que favorece a perfusão muscular e o retorno venoso. O outro mecanismo que favorece o retorno venoso é o próprio processo de respiração, de ventilação. Durante a inspiração, pela contração da musculatura inspiratória, faz-se um “vácuo” dentro da cavidade torácica; simultaneamente, o retorno venoso é favorecido. Então, durante o exercício, como há o aumento não só do volume corrente, que é a profundidade da inspiração, quanto da freqüência respiratória, acontece um favorecimento da “bomba” respiratória, o que acaba favorecendo ao retorno venoso. Teoricamente, caso tivéssemos uma dificuldade no retorno venoso, deveríamos ter também uma dificuldade de perfusão do sangue, podendo produzir isquemia. Porém, o que acontece, é que, normalmente, com a compressão da musculatura esquelética, você é capaz de vencer a resistência das veias e produzir o retorno venoso. Mas, pode-se produzir, com essa dificuldade, um cansaço, com dores nas pernas, que é diferente de uma situação onde se produziu uma trombose (uma coagulação intravascular intravenosa), que bloqueia o local, produzindo assim, inflamação e isquemia, seguidas de gangrena, que é a necrose do tecido. Em 1967, mediu-se uma estimulação simpática no músculo em atividade, que, mesmo assim, se vasodilata; o porquê ainda não foi descoberto. Apesar da ligação da noradrenalina, provavelmente os mecanismos intracelulares que aumentam durante o exercício inibem a responsividade daquela musculatura lisa ao neurotransmissor, que é a simpatólise funcional, queda do efeito simpático durante o exercício, de forma que o mecanismo metabólico vence, produzindo vasodilatação nesses músculos, mas vasoconstrição no resto do organismo. A conseqüência é a redistribuição do débito cardíaco, uma perfusão preferencial da musculatura em atividade. 13
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