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Centro Universitário da FEI NOÇÕES DE ANÁLISE DIMENSIONAL E SISTEMA INTERNACIONAL DE UNIDADES Física I versão: 01/08/2012 NOS TERMOS DA LEI, FICA TERMINANTEMENTE VEDADA A REPRODUÇÃO DESTE TEXTO, PARA COMERCIALIZAÇÃO, SEM AUTORIZAÇÃO EXPRESSA DOS AUTORES. 2 ANÁLISE DIMENSIONAL 1.1. Definições preliminares As leis da física são expressas em termos de grandezas fundamentais, que devem ser definidas de forma clara. Certas grandezas físicas, como força, velocidade, aceleração, etc., podem ser definidas em termos de grandezas mais fundamentais. Na verdade, qualquer grandeza física pode ser expressa em termos de 7 grandezas, quais sejam, comprimento, tempo, massa, intensidade luminosa, intensidade de corrente elétrica, quantidade de substância e temperatura. Estaremos ao longo destas aulas, discutindo como podem ser expressas todas as grandezas físicas em termos destas 7 grandezas básicas, concentrando-nos particularmente nas grandezas mecânicas, que podem ser expressas em termos das grandezas comprimento, massa e tempo. Estas grandezas são definidas de forma a se estabelecer um padrão, de modo que uma mesma grandeza, medida em diferentes locais, resulte no mesmo valor. Vejamos a seguir algumas definições preliminares importantes para o estudo da análise dimensional. a) Grandeza física É uma propriedade física que pode ser representada numericamente, pois qualquer fenômeno físico só tem interesse científico quando a ele podemos associar valores mensuráveis. b) Medida de uma grandeza física Medir uma grandeza é compará-la a outra de mesma espécie, chamada "unidade de medida" ou padrão. É verificar quantas unidades de medida estão contidas dentro da grandeza. c) Unidades de medida São padrões previamente estabelecidos de acordo com a conveniência. Existem diversos sistemas de unidades, pois em sua criação foram levados em conta as necessidades e fenômenos físicos observados na natureza, de tal maneira que a unidade escolhida possibilite trabalhar com números razoáveis, não excessivamente grandes nem pequenos. Existem também sistemas como o inglês, em que as medidas foram criadas de maneira a agradar ao Rei. Os sistemas de unidades mais conhecidos são: SI (Sistema Internacional – ver apêndice), MKS, CGS, MK*S (ou Técnico) e o Sistema Inglês. 3 d) Medição Denomina-se medição como sendo a verificação de quantas unidades de medida estão contidas na grandeza. Logo, U G M onde: M = medida G = grandeza U = unidade Portanto, podemos escrever: UMG Exemplo: Considere um intervalo de tempo t de 50 s. Medida M = 50 Grandeza G = t (medida de intervalo de tempo) Unidade U = s (segundo) Observação 1: A razão entre as medidas de duas grandezas de mesma unidade é igual à razão entre as suas medidas, isto é: Se G1 = m1 . U e G2 = m2 . U , então 2 1 2 1 m m G G Observação 2: A razão entre as medidas de mesma grandeza com unidades diferentes é igual ao inverso da razão entre as suas unidades: Se 1 1 U G m e 2 2 U G m então 1 2 2 1 U U m m Exemplo: O diâmetro externo de um tubo foi medido com dois instrumentos diferentes. Foram obtidos os seguintes dados: D1 = 50,8 mm e D2 = 2'' (polegadas). 1 2 2 1 U U m m isto é , mm polegadas 2 8,50 1 '' = 25,4 mm 4 e) Grandezas fundamentais São grandezas a partir das quais iremos escrever todas as outras grandezas. As grandezas fundamentais são: M (massa) (temperatura) N = quantidade de matéria L (comprimento) I (intensidade de corrente elétrica) T (tempo) Io (intensidade luminosa) No Sistema Internacional de unidades, por exemplo, essas grandezas são representadas pelas seguintes unidades: M kg (quilograma) K (kelvin) N mol L m (metro) I A (ampère) T s (segundo) Io cd (candela) A mecânica dos fluidos, por questão de simplificação para os fenômenos por ela estudados, utiliza como grandezas fundamentais: F (força) L (comprimento) T (tempo) f) Grandezas derivadas São as grandezas escritas em função das grandezas fundamentais na forma de produtos de potência, na qual as bases são as grandezas fundamentais e os expoentes são chamados de dimensões, constituindo-se assim as equações dimensionais. g) Símbolos dimensionais É a maneira pela qual representamos a grandeza física dimensionalmente. Por convenção, uma grandeza derivada qualquer é indicada por uma letra representativa entre colchetes. [massa] = M [temperatura] = [comprimento] = L [corrente elétrica] = I [tempo] = T [intensidade luminosa] = Io [quantidade de matéria] = N 5 Exemplos Exemplo 1: Determinar a equação dimensional da velocidade. tsv , onde s = comprimento [Δs] = L t = tempo [Δt] = T 1][ LT T L v Exemplo 2: Determinar a equação dimensional da força. F = m.a, onde m = massa [m] = M a = aceleração tva 2 1 ][ LT T LT a 2][ MLTF Exemplo 3: Determinar a equação dimensional da grandeza A, definida pela expressão abaixo, sabendo-se que F = força, r = distância e = velocidade angular. r.F A [F] = MLT-2 [r] = L [] = T-1 12 1 2. ][ TML T LMLT A 6 EXERCÍCIOS 1) Determine as equações dimensionais para as grandezas abaixo relacionadas: 01. Área (S) 02. Volume (V) 03. Velocidade (v) 04. Aceleração (a) 05. Ângulo plano () 06. Velocidade angular () 07. Aceleração angular () 08. Força (peso, normal, atrito, etc.) (F) 09. Impulso e quantidade de movimento (I e p) 10. Massa específica ou densidade absoluta () 11. Peso específico () 12. Pressão (p) 13. Trabalho (W) 14. Potência (P) 15. Tensão superficial em um líquido (); s F onde s é comprimento e F é força 16. Viscosidade dinâmica (); vS sF . . onde v é velocidade, S é área, s é comprimento e F é força 17. Viscosidade cinemática (); onde ρ é densidade volumétrica de massa e é viscosidade dinâmica 18. Torque ou Momento de uma força (M); sFM . onde s é comprimento e F é força 19. Constante elástica da mola (k) 20. Constante de gravitação universal (G); 2 2).( m sF G onde m é massa, s é comprimento e F é força 21. Freqüência (f) 22. Quantidade de calor (Q) 23. Calor específico (c) 24. Capacidade térmica (C) 25. Densidade linear (); (massa/comprimento) 26. Energia (cinética, potencial, mecânica)(E) 27. Momento angular (H) ( svmH .. onde m é massa, v é velocidade e s é comprimento) 2) Para as grandezas acima relacionadas, pesquisar as unidades de cada uma delas nos seguintes sistemas de unidades: a) Internacional b) CGS 7 3) Determinar as equações dimensionais para as grandezas abaixo discriminadas, onde l = comprimento, F = força, = densidade linear, H = momento angular e = velocidade angular. a) F x b) x l y 2 1 2 c) 2 H z d) z yx u 1.2. Homogeneidade dimensional As equações que representam os fenômenos físicos são, em geral, polinômios de um ou mais termos. Uma equação deste tipo é dita homogênea quando cada um de seus monômios possuírem os mesmos símbolos dimensionais com os mesmos expoentes.Vamos, por exemplo, considerar uma equação física qualquer, constituída por grandezas mecânicas e representada pela expressão abaixo: HE D CB A . . Suponhamos que as fórmulas dimensionais dos termos sejam: 111][ TLMA 2221.. . TLMDCB D CB 333][ TLMHE A equação é dimensionalmente homogênea se: 1 = 2 = 3 e 1 = 2 = 3 e 1 = 2 = 3 "UMA EQUAÇÃO FÍSICA SERÁ DIMENSIONALMENTE HOMOGÊNEA SE TODAS AS PARCELAS DOS DOIS MEMBROS POSSUÍREM IGUAL DIMENSÃO EM RELAÇÃO À MESMA GRANDEZA FUNDAMENTAL". 8 PRINCÍPIO DA HOMOGENEIDADE "TODA EQUAÇÃO FÍSICA VERDADEIRA É DIMENSIONALMENTE HOMOGÊNEA." OBSERVAÇÃO.: uma equação pode ser dimensionalmente homogênea e não verdadeira. Logo, a homogeneidade dimensional é necessária mas não é suficiente para que a equação física seja verdadeira. Exemplo: Verificar se as expressões abaixo são dimensionalmente homogêneas: a) 3 4 2 . . D pS F , onde F = força; S = área; p = pressão; = trabalho; D = diâmetro [F] = MLT -2 [S] = L 2 [p] = ML -1 T -2 [] = ML2T -2 [D] = L 1 o . Membro: MLT -2 2 o . Membro: 13 33 26 23 3 422 2122 . .)( LL TML TML LTML TMLL MLT -2 L -1 Logo, esta equação não é dimensionalmente homogênea. b) R mv F 2 , onde: F = força; m = massa; v = velocidade e R = raio 1 o . Membro: [F] = MLT -2 2 o . Membro [m] = M [v] = LT -1 [R] = L 2 2221).( MLT L TML L LTM 9 1 o . Membro = 2 o . Membro MLT -2 = MLT -2 Logo, a equação é dimensionalmente homogênea. c) Sabendo-se que a equação abaixo é dimensionalmente homogênea, determinar as dimensões das grandezas A, B e D. Obs.: p = pressão; Q = quantidade de movimento e é adimensional. BQpA Q pD . .. [A] = [B] = [p.Q] 21][ TMLp [Q] = MLT -1 [] = adimensional = 1 [p.Q] = ML -1 T -2 MLT -1 = M 2 T -3 Logo, [A] = [B] = M 2 T -3 0001 ][ ][ TLM Q pD 000 1 21].[ TLM MLT TMLD 00012][ TLMTLD 1 2 0 ].[ 00012 TLMTLTLM 10 EXERCÍCIOS 1) Verificar a homogeneidade dimensional das seguintes equações abaixo, onde: v = velocidade, g = aceleração da gravidade, h = altura, Ec = energia cinética, m = massa, F = força, W = trabalho, p = pressão e = massa específica ou densidade absoluta. a) ghv 2 b) 2 2mv Ec c) W Fv h d) hgp e) 2 2mv W 2) Seja d = distância percorrida, g = aceleração da gravidade, t = tempo e k é um adimensional. Determinar as constantes A e B para a expressão abaixo, sabendo-se que ela é verdadeira. d = k.g A .t B 3) A equação do MHS (Movimento Harmônico Simples) é )tcos(Ay 0 , onde y é a ordenada (posição) e t é tempo. Determinar a equação dimensional das grandezas (A, , 0). 4) A equação abaixo fornece a velocidade média de escoamento v da água em um rio onde RH é o raio hidráulico, que é a relação entre a área da secção e o perímetro molhado, e k é adimensional. Determinar as equações dimensionais de A e B. H H R B A Rk v . 5) Na equação de Van der Waals para gases reais p = pressão, = volume específico, que é a razão entre o volume e a massa, e t = temperatura. Determinar as equações dimensionais das constantes a, b e k. tkb a p )( 2 11 6) Segundo a Teoria da Relatividade, um objeto que tem comprimento próprio Lo (Lo é medido em relação a um referencial que tem velocidade zero em relação ao objeto) possui um comprimento L = Lo / quando medido em relação a um observador que se move com uma velocidade v em relação ao objeto (este efeito é chamado de contração do espaço). Sabendo-se que 21 1 (fator de Lorentz), onde c v (parâmetro de velocidade ou fator de dobra), determine as equações dimensionais de c, e . 7) Em um sistema mola-massa que oscila verticalmente sujeito a um amortecimento (Movimento Harmônico Simples amortecido), a posição y da massa m em função do tempo t é dada por )(cos teAy t . Sabendo- se que m b 2 , determine as equações dimensionais de A, , b, e . 12 1.3. PREVISÃO DE EQUAÇÕES FÍSICAS a) Teorema de Bridgman: “TODA GRANDEZA DERIVADA QUE SATISFAZ A CONDIÇÃO DE SIGNIFICADO ABSOLUTO DO VALOR RELATIVO, PODE SER EXPRESSA PELO PRODUTO DE UMA CONSTANTE PURAMENTE NUMÉRICA, POR POTÊNCIAS CONVENIENTES DE GRANDEZAS FUNDAMENTAIS.” Exemplo: CBA.KG onde: A, B, C são grandezas fundamentais e K, , e são constantes numéricas, ou seja, sem unidades. Com base na homogeneidade dimensional e utilizando-se o Teorema de Bridgman, podemos fazer previsões de equações físicas através de dados obtidos em ensaios experimentais. Para se fazer a previsão de uma fórmula para um certo fenômeno é necessário conhecer quais grandezas estão envolvidas no fenômeno. Exemplo: A força de atração entre duas cargas elétricas depende das cargas Q1 e Q2 e da distância entre elas. F = f(Q1, Q2, d) Sabemos quais são as grandezas envolvidas, mas não sabemos qual é a relação entre elas. b) Previsão de equações físicas: Seja uma grandeza qualquer A. Sabemos através de experiências que ela depende de outras grandezas B, D, E. Pelo Teorema de Bridgman, podemos escrever: EDKBA Para se determinar a equação física, é necessário descobrir os valores das constantes k, , e . Suponhamos que A, B, D e E são grandezas mecânicas. Logo, vamos escrever suas equações dimensionais usando como grandezas fundamentais M, L, T. zyx TLMA ][ 111][ zyx TLMB 222][ zyx TLMD 13 333][ zyx TLME [A] = K[B] [D] [E] Logo, ][][][ 333222111 zyxzyxzyxzyx TLMTLMTLMKTLM (M) x = x1 + x2 + x3 (L) y = y1 + y2 +y3 (T) z = z1 + z2 + z3 Portanto, chegamos a um sistema com três equações e três incógnitas (, e ), pois x1, x2, x3, y1, y2, y3, z1, z2, z3 são conhecidos. Para que a equação fique completa é necessário determinar o valor de K. Com , e conhecidos, basta fazer uma experiência e determinar os valores de A, B, D e E. Substituindo-se todos os valores na equação podemos calcular K. Exemplo: 1) A potência P de uma hélice de avião depende da densidade absoluta do ar (, da velocidade angular da hélice () e do raio da mesma (R). Determinar a equação que dá esta dependência. ),,( RfP [P] = ML 2 T -3 [] = ML-3 [] = T-1 [R] = L ][][][ RKP ][][][ 1332 LTMLTML (M) = 1 (L) 2 = -3 + 2 = -3 + = 5 (T) -3 = - = 3 14 2) A velocidade de uma onda que se propaga em uma corda depende da densidade linear da corda () e da força que traciona a corda (F). Uma experiência foi realizada em uma corda de comprimento l = 1 m e massa m = 10 g que estava sujeita a uma força F = 4 N, e encontrou-se v = 20 m/s. Determinar a expressão da velocidade. v = KF [v] = LT -1 [F] = MLT -2 [ ] = ML-1 [v] = K [F] [] LT -1 = K [MLT -2 ] [ML -1 ] (M) 0 = + (L) 1 = – 1 = 0,5 – = -0,5 (T) -1 = -2 = 0,5 5,05,0 KFv F Kv Determinação de K v = 20 m/s F = 4 N 2 3 10 1 10.10 l m kg/m 210 4 20 K K = 1 F v 15 3) A velocidade do som em um gás depende da constante dos gases R, da massa m, do mol M do gás e da temperatura absoluta (t). Sabe-se que a velocidade do som no ar à temperatura de 0 o C é de 332 m/s. Determinar a velocidade para t = 40 °C. v = f (R, m, M, t) v = K.RmMt [v] = LT -1 1122][ NTMLR [m] = M [M] = N [t] = LT -1 = K[ML 2 T -2 -1N -1][M][N][] (L) 1 = 2 = 0,5 (T) -1 = -2 = 0,5 (M) 0 = + = -0,5 0 = - + = 0,5 (N) 0 = - + = 0,5 v = KR 0,5 m -0,5 M 0,5 t 0,5 m tMR Kv Para t = 0 o C (273 K) e v = 332 m/s: m RM K 273. 332 m RM KK ' 332 = K’.16,523 K’ = 20,093 Para t = 40 °C (313 K) 313'Kv v = 355,5 m/s 16 EXERCÍCIOS 1) Numa experiência sobre estados estacionários em uma corda tracionada, sabe- se que a freqüência f é diretamente proporcional ao n° de ventres n e que é função do comprimento l da corda, da força F que traciona a corda e da densidade linear . Um aluno realizou esta experiência e encontrou os seguintes dados: f = 50 Hz, n = 2 ventres, l = 1 m, F = 25 N e = 10-2 kg/m. Determinar a expressão da freqüência para o estado estacionário. 2) Sabe-se que o período de vibração (T) de uma gota é função da massa específica do fluido, da tensão superficial e do raio R da gota. Determinar a expressão do período. 3) Uma partícula de massa m, movendo-se na direção horizontal com velocidade v0, fica sujeita à ação de uma força vertical, de intensidade constante F, a partir de um certo instante. Nestas condições a trajetória descrita é um arco de parábola. Seja o ângulo que sua velocidade faz com a horizontal num instante qualquer t. A tangente de é inversamente proporcional à massa e é função ainda de F, t, e v0. Determinar o ângulo no instante t = 4 s, sabendo- se que no instante t = 6 s temos que = 60°. 4) Sabe-se que o momento de inércia I de um cilindro depende de sua massa m e do raio R de sua base, quando calculado em relação ao seu eixo de simetria. Sabendo-se que o momento angular é H = I, que quando a massa vale m = 50 kg e o raio R = 0,05 m, temos I = 0,09 kg.m 2 , determinar: a) A equação dimensional do momento de inércia b) A expressão do momento de inércia do corpo 5) A energia cinética de rotação Kr de um corpo depende do momento de inércia I e da velocidade angular . Determine a expressão da energia cinética de rotação, sabendo-se que quando I = 0,1 kg.m 2 e = 10 rad/s, temos Kr = 5 joules. 17 Apêndice: O Sistema Internacional de Unidades (SI) Breve Histórico Uma grandeza física só tem sentido quando pode ser medida de alguma forma. Medir uma grandeza significa compará-la a um padrão. Por muito tempo, cada país teve seu próprio sistema de medidas, isto é, seu conjunto de padrões. Esses sistemas de medidas, entretanto, eram muitas vezes arbitrários e imprecisos, como por exemplo, aqueles baseados no corpo humano, como o palmo, o pé, a polegada, etc. Com a expansão do comércio entre os países, diversos problemas começaram a surgir, devido a essa subjetividade de alguns padrões, e devido à pouca familiaridade que as pessoas de uma dada região tinham com o sistema de medir das outras regiões. A necessidade de se converter uma medida em outra era tão importante quanto a necessidade de se converter uma moeda em outra. Em diversos países, inclusive no Brasil Imperial, o órgão responsável pela moeda também respondia pelo sistema de medidas. O Governo Francês, em 1789, procurou resolver esse problema de diferentes sistemas de unidades pedindo à Academia de Ciência da França que criasse um sistema de medidas baseado em uma "constante natural", ou seja, procurando evitar a arbitrariedade no sistema de medidas. Assim foi criado o Sistema Métrico Decimal, constituído inicialmente por três unidades básicas: o metro, que deu nome ao sistema, o litro e o quilograma. Neste sistema, a unidade de medir a grandeza comprimento, o metro, foi definida como sendo o comprimento do meridiano terrestre dividido por 40.000.000. Para materializar-se esta grandeza foi construída uma barra de platina de secção retangular, com 25,3mm de espessura e com 1m de comprimento. Esse padrão data de 1799 e não é mais usado como padrão de comprimento, servindo apenas como peça de museu. A unidade de medir a grandeza volume, no Sistema Métrico Decimal, foi chamada de litro e foi definida como sendo "o volume de um decímetro cúbico". O litro permanece ainda hoje como uma das unidades em uso no SI. Para medir a grandeza massa, foi definido o quilograma como sendo "a massa de um decímetro cúbico de água na temperatura de maior massa específica, ou seja, a 4,44ºC". Para materializá-lo foi construído um cilindro de platina iridiada, com diâmetro e altura iguais a 39 milímetros. Muitos países, inclusive o Brasil, adotaram por algum tempo o Sistema Métrico Decimal. Apesar das vantagens que possuía, não foi possível torná-lo universal. Além disso, o desenvolvimento científico e tecnológico passou a exigir medições cada vez mais precisas para as diversas grandezas, o que fez com que em 1960 ele fosse substituído pelo Sistema Internacional de Unidades (SI), cujas definições são mais complexas, sofisticadas e precisas. Ainda hoje, diversos sistemas de medidas encontram-se em uso, embora exista uma forte pressão para que se adote de maneira global o Sistema Internacional de Unidades (SI). O SI foi sancionado em 1960 pela Conferência Geral de Pesos e Medidas. O Brasil adotou oficialmente o Sistema Internacional de Unidades em 1962. A Resolução nº 12 de 1988 do Conselho Nacional de Metrologia,Normalização e Qualidade Industrial ratificou a adoção do SI no País e tornou seu uso obrigatório em todo o território nacional. 18 Unidades SI mais utilizadas Grandeza Nome Símbolo Definição comprimento metro m Metro é o comprimento do trajeto percorrido pela luz no vácuo, durante um intervalo de tempo de 1/299.792.458 de segundo (Unidade de Base ratificada pela 17ª CGPM - 1983) área metro quadrado m² Área de um quadrado cujo lado tem 1 metro de comprimento volume metro cúbico m³ Volume de um cubo cuja aresta tem 1 metro de comprimento ângulo plano radiano rad Ângulo central que subtende um arco de círculo de comprimento igual ao do respectivo raio tempo segundo s Duração de 9 192 631 770 períodos da radiação correspondente à transição entre os dois níveis hiperfinos do estado fundamental do átomo de césio 133 (Unidade de Base ratificada pela 13ª CGPM - 1967) freqüência hertz Hz Freqüência de um fenômeno periódico cujo período é de 1 segundo velocidade metro por segundo m/s Velocidade de um móvel que, em movimento uniforme percorre a distância de 1 metro em 1 segundo aceleração metro por segundo por segundo m/s² Aceleração de um móvel em movimento retilíneo uniformemente variado, cuja velocidade varia de 1 metro por segundo em 1 segundo massa quilograma kg Massa do protótipo internacional do quilograma (Unidade de Base ratificada pela 3ª CGPM -1901) massa específica quilograma por metro cúbico kg/m³ Massa específica de um corpo homogêneo, em que um volume igual a 1 metro cúbico contém massa igual a 1 quilograma vazão metro cúbico por segundo m³/s Vazão de um fluído que, em regime permanente através de uma superfície determinada, escoa o volume de 1 metro cúbico do fluído em 1 segundo quantidade de matéria mol mol Quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quantos são os átomos contidos em 0,012 quilograma de carbono 12. (Unidade de Base ratificada pela 14ª CGPM -1971.) Quando se utiliza o mol, as entidades elementares devem ser especificadas, podendo ser átomos, moléculas, íons, elétrons ou outras partículas, bem como agrupamentos especificados de tais partículas força newton N Força que comunica à massa de 1 quilograma a aceleração de 1 metro por segundo, por segundo trabalho, energia, quantidade de calor joule J Trabalho realizado por uma força constante de 1 newton que desloca seu ponto de aplicação de 1 metro na sua direção potência, watt W Potência desenvolvida quando se realiza, de maneira 19 quantidade de energia contínua e uniforme, o trabalho de 1 joule em 1 segundo corrente elétrica ampère A Corrente elétrica invariável que mantida em dois condutores retilíneos, paralelos, de comprimento infinito e de área de seção transversal desprezível e situados no vácuo a 1 metro de distância um do outro, produz entre esses condutores uma força igual a 2 x 10 -7 newton, por metro de comprimento desses condutores. (Unidade de Base ratificada pela 9ª CGPM - 1948.) O ampère é também unidade de força magnetomotriz; nesse caso, se houver possibilidade de confusão, poderá ser chamado de ampère-espira, porém sem alterar o símbolo A carga de energia (quantidade de eletricidade) coulomb C Carga elétrica que atravessa em 1 segundo, uma seção transversal de um condutor percorrido por uma corrente invariável de 1 ampère tensão elétrica, diferença de potencial volt V Tensão elétrica entre os terminais de um elemento passivo de circuito, que dissipa a potência de 1 watt quando percorrido por uma corrente invariável de 1 ampère resistência elétrica ohms Resistência elétrica de um elemento passivo de circuito que é percorrido por uma corrente invariável de 1 ampère, quando uma tensão elétrica constante de 1 volt é aplicada aos seus terminais. O ohm é também unidade de impedância e de reatância em elementos de circuito percorridos por corrente alternada condutância siemens S Condutância de um elemento passivo de circuito cuja resistência elétrica é de 1 ohm. (O siemens é também unidade de admitância e de susceptância em elementos de circuito percorridos por corrente alternada) capacitância farad F Capacitância de um elemento passivo de circuito entre cujos terminais a tensão elétrica varia uniformemente à razão de 1 volt por segundo, quando percorrido por uma corrente invariável de 1 ampère temperatura termodinâmica kelvin K Fração 1/273,16 da temperatura termodinâmica do ponto tríplice da água. (Unidade de Base ratificada pela 13ª CGPM -1967). Kelvin e grau Celsius são ainda unidades de intervalo de temperaturas. t (ºC) =T(K) - 273,15 temperatura Celsius grau Celsius ºC Intervalo de temperatura unitário igual a 1 kelvin, numa escala de temperaturas em que o ponto 0 coincide com 273,15 kelvins. (Unidade de Base ratificada pela 13ª CGPM - 1967). Kelvin e grau Celsius são ainda unidades de intervalo de temperaturas intensidade luminosa candela cd Intensidade luminosa, numa direção dada, de uma fonte que emite uma radiação monocromática de freqüência 540 x 10 12 hertz e cuja intensidade energética naquela direção é 1/683 watt por 20 esterradiano (Unidade de Base ratificada pela 16ª CGPM - 1979) fluxo luminoso lúmen lm Fluxo luminoso emitido por uma fonte puntiforme e invariável de 1 candela, de mesmo valor em todas as direções, no interior de um ângulo sólido de 1 esterradiano iluminamento lux lx Iluminamento de uma superfície plana de um metro quadrado de área, sobre a qual incide perpendicularmente um fluxo luminoso de 1 lúmen, uniformemente O "Quadro Geral de Unidades", aprovado pela Resolução do CONMETRO nº 12/88 inclui outras unidades aceitas para uso simultâneo com as unidades SI, sem restrição de prazo. GRANDEZA Nome Símbolo Definição Valor em unidade do SI comprimento unidade astronômica UA Distância média da terra ao sol. (Valor adotado pela União Astronômica Internacional.) 149.600 x 10 6 m parsec pc Comprimento do raio de um círculo no qual o ângulo central de 1 segundo subtende uma corda igual a 1 unidade astronômica. (A União Astronômica Internacional adota como exato o valor 1pc=206.265 UA) 300.857 x 10 16 m (aproximadamente) volume litro l ou L Volume igual a 1 decímetro cúbico. (Adotado pela 16ª CGPM - 1979). O símbolo L será empregado sempre que as máquinas de impressão não apresentem distinção entre o algarismo 1 e a letra minúscula "l". 0,001m³ ângulo plano grau º Ângulo plano igual à fração 1/360 do ângulo central de um círculo completo. /180 rad 21 minuto ' Ângulo plano igual à fração 1/60 de 1 grau. /10.800 rad segundo " Ângulo plano igual à fração 1/60 de 1 minuto /648.000 rad tempo minuto min Intervalo de tempo igual a 60 segundos 60s hora h Intervalo de tempo igual a 60 minutos 3.600s dia d Intervalo de tempo igual a 24 horas 86.400s intervalo de freqüências oitava não tem Intervalo de duas freqüências cuja relação é igual a 2. (O número de oitavas de um intervalo de freqüências é igual ao logaritmo de base 2 da relação entre as freqüências extremasdo intervalo) n/t massa unidade (unificada de massa atômica) u Massa igual à fração 1/12 da massa de um átomo de carbono 12 1,660 57 x 10 -27 kg tonelada t Massa - igual a 1.000 quilogramas 1.000kg velocidade angular rotação por minuto rpm Velocidade angular de um móvel que, em movimento de rotação uniforme a partir de uma posição inicial, retorna à mesma posição após 1 minuto /30 rad/s energia elétron-volt eV Energia adquirida por um elétron ao atravessar, no vácuo, uma diferença de potencial igual a 1 volt 1,602 19 x 10 -19 J (aproximadamente) nível de potência decibel dB Divisão de uma escala logarítmica cujos valores são 10 vezes o logaritmo decimal da relação entre o valor de potência considerado, e um valor de potência especificado, tomado como referência e expresso na mesma unidade n/t 22 dbn 0 10log10 decremento logarítmico neper n/t Divisão de uma escala logarítmica cujos valores são os logarítmos neperiano da relação entre dois valores de tensões elétricas, ou entre dois valores de correntes elétricas. N = loge V1/V2 Np ou N = loge I1/I2 Np n/t Múltiplos e Submúltiplos mais usuais das Unidades SI Nome do Prefixo Símbolo do Prefixo Fator pelo qual a unidade é multiplicada peta P 10 15 = 1 000 000 000 000 000 tera T 10 12 = 1 000 000 000 000 giga G 10 9 = 1 000 000 000 mega M 10 6 = 1 000 000 quilo k 10 3 = 1 000 deci d 10 -1 = 0,1 centi c 10 -2 = 0,01 mili m 10 -3 = 0,001 micro µ 10 -6 = 0,000 001 nano n 10 -9 = 0,000 000 001 pico p 10 -12 = 0,000 000 000 001 femto f 10 -15 = 0,000 000 000 000 001 Grafia dos nomes e símbolos das Unidades SI Para se escrever as unidades do SI, devem ser obedecidas certas regras: a) As unidades do Sistema Internacional de Unidades (SI) podem ser escritas por seus nomes ou representadas por meio de símbolos. Exemplos: 10 metros ou 10 m 30 segundos ou 30 s 23 b) Os nomes das unidades SI são escritos em letra minúscula, exceto quando esta se encontra no início de uma frase. Exemplos: quilograma; newton; c) A Resolução CONMETRO 12/88 estabelece regras específicas para a formação do plural dos nomes das unidades SI, que muitas vezes não coincidem com as regras da língua portuguesa. O plural correto dos nomes de algumas unidades são os seguintes: d) Nas unidades SI o acento tônico recai sobre a unidade e não sobre o prefixo: Exemplos centigrama, hectolitro, micrometro e megametro Exceções quilômetro, hectômetro, centímetro, decâmetro, decímetro e milímetro e) Quando a unidade provém do nome de algum cientista, o símbolo é obtido tomando-se a primeira letra do nome, e grafando-se a mesma em letra maiúscula. Exemplos: Volt V Ampère A a) Ao escrever medidas de tempo, observe os símbolos corretos para hora, minuto e segundo. Exemplo: Certo Errado 9h 25min 6s 9:25h e 9h 25' 6" Alguns cuidados precisam ser tomados para evitar alguns erros muito comuns quando se escrevem unidades: a) Símbolo não é abreviatura: O símbolo é um sinal convencional e invariável utilizado para facilitar e universalizar a escrita e a leitura das unidades SI. Por isso mesmo não é seguido de ponto. Exemplos: Certo Errado s s. m m. ; mt. ; mtr. ; mt kg kg. ; kgr. 24 b) Símbolo não tem plural: Lembre-se sempre que o símbolo das unidades SI é invariável e, portanto, não pode ser seguido de "s" para indicar o plural. Exemplos: Certo Errado 5 m 5 ms 3 kg 3 kgs c) Não misturar nome com símbolo: Ao escrever uma unidade composta, não misture nome com símbolo. Exemplos: Certo Errado quilômetro por hora quilômetro/h km/h km/hora metro por segundo metro/s m/s m/segundo a) Cuidado com a grandeza “grama”. O grama pertence ao gênero masculino. Por isso, ao escrever (e pronunciar) essa unidade, seus múltiplos e submúltiplos, faça a concordância corretamente. Exemplos: Certo Errado dois quilogramas duas quilogramas duzentos e cinqüenta gramas duzentas e cinqüenta gramas quinhentos miligramas quinhentas miligramas oitocentos e um gramas oitocentas e uma gramas e) Cuidado com o prefixo quilo: O Prefixo “quilo” (símbolo k minúsculo) indica que a unidade está multiplicada por mil. Portanto não pode ser utilizado sozinho. Deve ser dada atenção para a grafia correta do mesmo. Exemplos: Certo Errado quilograma; kg quilo; k quilômetro kilômetro quilograma kilograma quilolitro kilolitro 25 Referências complementares e sugestões de leituras 2. Site do NIST no endereço http://www.nist.gov/public_affairs/pubs.htm 3. Site do Bureau International des Poids et Mésures (BIPM) que pode ser acessado no endereço http://www.bipm.fr/enus/welcome.html 4. A biblioteca do Centro Universitário da FEI dispõe das normas da ABNT para consulta. 8. O apêndice sobre o SI é um texto adaptado do IPEM, que pode ser acessado no endereço: http://www.ipem.sp.gov.br/