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Resumo: Nos sistemas de acesso sem fio um novo conceito é utilizado nos mais novos e modernos sistemas de comunicações. Trata-se de um conceito que utiliza múltiplas antenas receptoras e transmissoras, chamado MIMO (Multiple-input Multiple-output). Com essa nova técnica de acesso, pode-se melhorar a capacidade em termos de taxa de transmissão e confiabilidade do sistema. Nesse artigo serão evidenciados os princípios básicos do novo conceito MIMO, abordando suas diferenças em relação aos sistemas que usamos hoje e mostrando suas vantagens de forma clara e objetiva. Também serão abordados exemplos de utilização do MIMO, como a tecnologia LTE. Palavras Chave: MIMO, sistemas MIMO, Tecnologia MIMO, Propagação, Canal de Comunicação, Diversidade, LTE, Comunicações Móveis. I. INTRODUÇÃO As comunicações móveis estão em constante evolução, havendo uma grande rotatividade de novas ferramentas e tecnologias no mercado. Essa evolução promove um alto impacto na sociedade, que se torna dependente das novas tecnologias. Com a difusão das redes móveis, têm-se um aumento significativo da necessidade de dispositivos de comunicação sem fio de alto desempenho. Desta forma, surgem novas técnicas para suportar a crescente demanda, com o objetivo de prover acesso com altas taxas de download e upload aos usuários. [1] Para entender o contexto das comunicações móveis, faz-se necessário entender os primeiros sistemas criados para este fim. A primeira geração (1G) de telefonia móvel é caracterizada por sua transmissão analógica e com ênfase em serviços de voz. Na segunda geração (2G) ocorreu a mudança para transmissão digital, porém o foco continua em serviços de voz. Já a terceira geração (3G) apresenta um novo conceito de serviços com foco em dados e não somente em voz como nas gerações anteriores. Assim há uma rede com múltiplos serviços. A quarta geração (4G) foca em transmissão totalmente por pacotes, um sistema baseado completamente em IP e com ênfase em altas taxas de transmissão para suportar os novos serviços multimídia. [22] A Figura 1 mostra a evolução da telefonia móvel, além de mostrar as tecnologias presentes na rede para cada geração, desde (2G) a (4G), tais como: CDMA (Code Division Multiple Access), GSM (Global System for Mobile Communications), 1 Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Instituto Nacional de Telecomunicações, como parte dos requisitos para a obtenção do Certificado de Pós-Graduação em Engenharia de Redes e Sistemas de Telecomunicações. Orientador: Prof. Dr. Rausley A. A. de Souza (rausleyaas@gmail.com). Trabalho aprovado em Outubro de 2011. GPRS (General packet radio service), EDGE (Enhanced Data rates for GSM Evolution), EVDO (Evolution-Data Optimized), WCDMA (Wide-Band Code-Division Multiple Access) e HSPA (High Speed Packet Access). [1] Fig. 1. Evolução dos sistemas celulares. No Brasil os serviços de telecomunicações devem crescer 6% ao ano até 2012, de acordo com a IDC, empresa de consultoria especializada no mercado de telecomunicações. [2] A Figura 2 apresenta o crescimento da telefonia móvel e, consequentemente, a exigência de novas técnicas. [3] Fig. 2. Telefonia Móvel x Fixa. Com as constantes mudanças no mercado das telecomunicações existe grande necessidade de desenvolvimento de novas técnicas relacionadas aos sistemas celulares, visto que a cada evolução da rede aumenta significantemente a demanda por novos serviços, tais como: Internet, televisão de alta definição e serviços de multimídia. Assim, para uma rede com suporte a múltiplos serviços, há um aumento da necessidade de maior largura de banda e maior flexibilidade de transmissão. Altas taxas de transmissão requerem maior largura de banda que pode ser obtida através de redes cabeadas. No entanto, tais taxas parecem ser inatingíveis nas redes sem fio devido às limitações do espectro de radiofrequência, considerando também as condições adversas de propagação em redes sem fio, o que torna um imenso desafio que envolve uma série de dificuldades a serem resolvidas. Dentre as dificuldades presentes nas comunicações sem fio há dois grandes desafios a serem solucionados: o desvanecimento e a interferência. Segundo Shannon [4], para aumentar a capacidade de um canal é necessário aumentar a largura de banda de transmissão ou então a relação sinal ruído. Sistema MIMO 1 Carlos Alberto Martins Júnior A partir da utilização do sistema MIMO pode-se aumentar a taxa de transmissão e a confiabilidade do sistema de comunicação, como será mostrado posteriormente. Sendo assim pode-se dizer que o sistema MIMO traz muitos benefícios. Nos últimos anos, existe um intenso estudo de técnicas de camada física que podem trazer melhorias em termos de taxa de transmissão e qualidade dos enlaces. Dentre estes estudos nasceu o sistema com múltiplas antenas de transmissão e recepção que é denominado MIMO (Multiple-input Multiple- output). Sendo assim, pode-se entender que sistemas com múltiplas antenas são apontados como uma das soluções para o aumento da capacidade dos sistemas sem fio. Este artigo apresenta uma visão geral sobre o sistema MIMO, além dos benefícios e desvantagens do mesmo. II. SISTEMA MIMO Os sistemas de comunicações sem fio tradicionais utilizam apenas uma antena tanto na transmissão quanto na recepção, conhecido como sistemas SISO (Single-input Single-output), permitindo a exploração dos domínios do tempo, da frequência e da codificação. Porém com o aumento de serviços multimídia é necessário aumentar a taxa de transmissão de dados e garantir maior confiabilidade aos sistemas. Assim, uma das dificuldades dos sistemas sem fio atuais para prover altas taxas é o aumento da largura de banda, que é uma questão complexa por diversos motivos, tais como a limitação do espectro de frequência e a necessidade de maior potência de transmissão. Esses pontos não são fáceis de solucionar devido a limitações de hardware dos dispositivos móveis e dos limites de potência e espectro definidos pelos órgãos regulatórios, como a ANATEL (Agência Nacional de Telecomunicações). A técnica de utilizar múltiplas antenas no sistema de enlace sem fio permite descrever os sistemas SIMO (Single-input Multiple-output), MISO (Multiple-input Single-output), e MIMO (Multiple-input Multiple-output). O sistema SISO mostrado na Figura 3(a) utiliza apenas uma antena na recepção/transmissão, o SIMO mostrado na Figura 3(b) utiliza uma antena na transmissão e múltiplas antenas na recepção, o sistema MISO mostrado na Figura 3(c) utiliza múltiplas antenas na transmissão e apenas uma antena na recepção e o sistema MIMO mostrado na Figura 3(d) utiliza múltiplas antenas na recepção/transmissão. O sistema MIMO permite diferentes ganhos, combate o desvanecimento e melhora a confiabilidade do sistema [6], além de permitir o aumento das taxas de transmissão sem precisar aumentar a potência de transmissão e a largura de banda. Fig. 3. Sistemas SISO, SIMO, MISO e MIMO. A. CAPACIDADE DO CANAL A tecnologia sem fio MIMO (Multiple-input Multiple- output) provê um aumento significativo na capacidade do sistema quando comparado ao SISO (Single-input Single- output), usando a mesma potência de transmissão e a mesma largura de banda. [6] Antes de explanar sobre a capacidade do sistema MIMO, é importante definir o que é um canal de comunicação. O canal de comunicação é o meio físico no qual a informação é transmitida, e este é de suma importância nos sistemas de comunicação. Tal importânciafaz com que os projetos dos sistemas de transmissão e recepção sejam desenvolvidos de acordo com o canal em questão. [4] A transmissão de sinais como os de telefonia fixa, telefonia móvel e sinais de televisão, é realizada através de diversas maneiras, tais como: via satélite, por cabo coaxial, por fibras ópticas, via rádio enlaces terrestres, entre outros. Cada um destes sistemas utiliza canais de comunicação distintos. Os sistemas de comunicação podem ser modelados de forma básica conforme a Figura 4. [4] Fig. 4 – Elementos básicos de um sistema de comunicação Como o canal é um componente chave de qualquer sistema de comunicação, é de extrema importância compreender como sua capacidade é determinada. A partir disto poderemos demonstrar o aumento significativo na capacidade do canal promovido pelo sistema MIMO. Todo tipo de canal pode ser descrito como um modelo matemático, desenvolvido por Shannon [4], conforme abaixo: N S BC 1log2 (1) Onde NS é a relação sinal ruído (SNR) e B é Banda e C corresponde à máxima taxa de transmissão sem erros suportada pelo canal. Para aumentar a capacidade do canal sem aumentar a banda, basta trabalhar a relação sinal ruído da forma desejada. 1) CAPACIDADE DO SISTEMA SISO A capacidade de um canal depende diretamente da quantidade de antenas na recepção e na transmissão. Para isso um sistema dito SISO, mostrado na Figura 3(a), a capacidade máxima descrita com base nas deduções de Shannon [5,6], pode ser descrita por: 1log||1log 2 2 2 Bh N P BC TSISO (2) Onde N é a potência do ruído, B é a banda, TP é a potência transmitida, h é a função de transferência do canal e é a SNR na antena receptora. 2) CAPACIDADE DO SISTEMA SIMO Em um sistema SIMO, mostrado na Figura 3(b), temos múltiplas antenas na recepção, portanto, pode-se dizer que existe diversidade na recepção com RN antenas. A capacidade máxima desse sistema é dada por [5,6]: RN i i T SIMO h N P BC 1 2 2 ||1log (3) Onde ih é o ganho do canal da antena de transmissão para a antena de recepção i. Pode-se notar facilmente que em SIMOC basta aumentar o número de antenas na recepção para um aumento na capacidade do canal de comunicação. 3) CAPACIDADE DO SISTEMA MISO Em um sistema MISO, mostrado na Figura 3(c) temos múltiplas antenas na transmissão, apresentando, portanto, diversidade na transmissão com TN antenas. Sendo assim, a capacidade máxima desse sistema é dada por [5,6]: RN i i T T MISO h NN P BC 1 2 2 ||1log (4) Onde ih representa o ganho de canal de comunicação da antena de transmissão i para a antena de recepção. Através de (4) pode-se identificar com clareza que a razão de TT NP / é a potência total transmitida pelo sistema, que é igual ao caso de uma única antena. Verifica-se também que com o aumento do número de antenas transmissoras ocorre um aumento significativo na capacidade do canal de comunicação. 4) CAPACIDADE DO SISTEMA MIMO Considere um sistema MIMO com RN antenas de recepção e TN antenas de transmissão, mostrado com a Figura 3(d), para determinar a matriz de canal H e o vetor ruído n. No sistema MIMO, um transmissor envia múltiplos fluxos devido às múltiplas antenas de transmissão. Os fluxos de transmissão passam por uma matriz de canal, que consiste em n caminhos de acordo com o modelo do canal, conforme a Figura 5, entre o transmissor e o receptor. Com isso, o receptor recebe o sinal pelas múltiplas antenas de recepção e decodifica o sinal recebido. Fig. 5 - MIMO Modelo de canal Com o modelo de canal da Figura 5 pode-se definir o sinal recebido no domínio discreto como [7]: nHxy (5) Onde y e x são vetores de transmissão e recepção, respectivamente, H é a matriz de canal e n é o vetor ruído. Antes de determinar a capacidade do canal MIMO, deve-se considerar a matriz Q de covariância de vetor do sinal a transmitir, que é dada por: ][ HssEQ (6) Onde, []E representa a esperança matemática e H é a matriz transconjugada da matriz do canal H. Desta forma pode-se dizer que um sistema MIMO com TN antenas de transmissão e RN antenas de recepção tem sua capacidade dada por [6]: H T T NMIMO HQH NN P IBC R detlog2 (7) Onde RN I é a matriz identidade de dimensão RRxNN , H é a matriz do canal de dimensão RRxNN , H H é a matriz transconjugada do canal H e det (.) a função determinante. III. VANTAGENS DO SISTEMA MIMO Sabe-se que devido aos fenômenos físicos de difração, reflexão e espelhamento, o sinal transmitido propaga por diferentes trajetos, conforme ilustrado na Figura 6. Na recepção há um ganho obtido a partir da combinação da energia percebida nas antenas de recepção do sistema, utilizando uma técnica chamada ganho de arranjo (técnica na qual uma antena é composta por um grupo de elementos radiantes iguais, alimentados e dispostos de maneira tal a se obter uma combinação desejada de ganho / diagrama de radiação), que possibilita o aumento da SNR. Com a aplicação do ganho de arranjo as antenas percebem diferentes sinais provenientes de vários trajetos, possivelmente diferentes e independentes. Uma vez adequado o sinal em cada antena receptora, consequentemente ocorre o aumento da confiabilidade da transmissão. Fig. 6 – Múltiplos percursos em sistemas de comunicação sem fio No sistema proposto de acordo com a Figura 6 o ganho pode ser definido em função do número de antenas receptoras no sistema. Tem-se, em um sistema com uma antena de recepção, ou seja, Nr1 , a Equação (8): ynhxnxhy iiiii (8) Onde hhi representa o parâmetro do canal entre o receptor e transmissor, yyi corresponde ao sinal recebido, xxi corresponde ao sinal enviado, assumindo que os canais estejam corretamente correlacionados. A. Diversidade Nos sistemas de comunicações sem fio os sinais recebidos sofrem algumas alterações aleatórias. Essas alterações são conhecidas como desvanecimento. O objetivo das técnicas de diversidade é melhorar o sinal recebido, para aumentar a confiabilidade do sistema de comunicação. Tais técnicas combatem os efeitos do desvanecimento, sendo as mais conhecidas: diversidade espacial, diversidade temporal, diversidade de frequência e diversidade de polarização. 1) Diversidade Espacial A técnica de diversidade espacial normalmente é empregada para aumentar o ganho de confiabilidade do sistema. Um canal MIMO pode ser comparado a N canais SISO dispostos paralelamente, onde todos os canais SISO são usados para melhorar o sistema de recuperação da informação transmitida. Nesta técnica de diversidade espacial a informação é transmitida em realizações distintas do canal e é disposta de forma a minimizar a probabilidade de erro do sistema na recuperação da informação. [5] Na diversidade espacial as antenas receptoras são fisicamente separadas de forma que os sinais recebidos estejam descorrelacionados, conforme a Figura 7. Isso possibilita que o sinal enviado para as antenas receptoras tenha diferentes formas de desvanecimentos. O ganho resultanteda técnica será definido pelo produto entre o número de antenas transmissoras e receptoras, cujo desempenho ideal ocorre quando estão separadas por uma distância de aproximadamente 38% do comprimento de onda. [8] Fig. 7 – Diversidade Espacial 2) Diversidade Temporal Nesse tipo de diversidade, réplicas do sinal são enviadas em diferentes instantes de tempo, sendo que o intervalo de separação entre as réplicas do sinal deve ser superiores ao tempo de coerência do canal para que os sinais não estejam correlacionados, ou seja, provocando desvanecimentos independentes entre as palavras-código. Desta forma, caso ocorra um erro na recepção, existe outro sinal com diversidade temporal em outro instante de tempo para ser utilizado. [21] 3) Diversidade de Frequência A diversidade de frequência utiliza o mesmo princípio da diversidade temporal, ou seja, réplicas da informação são levadas por portadoras distintas e separadas em frequência por um valor superior à largura de faixa como mostra a Figura 8, para que o sinal não esteja correlacionado entre as réplicas obtidas na recepção. Essa técnica se torna interessante quando a banda de coerência do canal tem a largura equivalente à largura de banda do sinal transmitido. Analisando a Figura 8 visualiza-se que o sinal transmitido por duas ou mais frequências separadas por certa largura de banda f de tal forma que os dois sinais de diversidade recebidos não estão correlacionados. Desta maneira, o sistema de recepção poderá decidir qual sinal recebido é o menos degradado e com isso tem-se aumento na confiabilidade do sistema. [21] Fig. 8 – Diversidade de Frequencia 4) Diversidade de Polarização Nas comunicações sem fio as ondas eletromagnéticas podem ser polarizadas de forma horizontal, vertical ou circular, ou seja, adotando as polarizações na forma vertical e horizontal, os sinais transmitidos com os campos eletromagnéticos dessa forma produzem sinais não correlacionados entre si. Os sinais transmitidos usando antenas com diversidade de polarização em ambos os extremos, transmissão e recepção ou em ambas as antenas, proveem ganho de confiabilidade ao sistema de comunicação, pois desta maneira o sistema de recepção poderá decidir entre os sinais recebidos optando pelo sinal menos degradado. [21] A Figura 9 mostra a disposição das antenas utilizando a diversidade de polarização. Fig. 9– Diversidade de Polarização B. Multiplexação Espacial A Multiplexação Espacial (ME) busca uma visão diferente das técnicas de diversidade citadas anteriormente, que visavam aumentar confiabilidade do sistema. A ME busca aumentar a taxa de transmissão do sistema. Como abordado anteriormente, existem vários canais de comunicação SISO paralelos formando um sistema MIMO, sendo assim, a ME reutiliza os recursos de forma a viabilizar a transmissão de elementos distintos no mesmo tempo e na mesma faixa de frequência. Basicamente, a multiplexação espacial pode ser dividida em duas classes diferentes: multiplexação multiusuário, onde os fluxos de dados transmitidos por diferentes antenas podem ser recebidos por diferentes usuários, conforme a Figura 10(a); e multiplexação usuário único, onde diferentes antenas transmitem para apenas um único usuário, conforme a Figura 10(b). Fig. 10 – (a) Multiusuário, (b) Único usuário. Na multiplexação espacial o sinal que será transmitido é dividido em feixes menores nos N canais SISO, formando sinais totalmente independentes entre si e desta maneira ocupando uma banda menor à que seria utilizada se o mesmo sinal tivesse que ser enviado em um único canal. As técnicas de multiplexação espacial nos permitem maiores taxas de transmissão com a mesma banda, pois utilizam múltiplas antenas presentes no sistema. Essas antenas proporcionam diferentes canais de propagação, que podem ser utilizados em paralelo conforme a Figura 11. [21] Fig. 11 – Multiplexação MIMO. Com a análise da estrutura da Figura 11 monta-se a matriz H que é comparada a um fluxo x, onde sHx . TNSSSS ...21 , (9) Rtt R NNN N HH HH H ... . . . ... 1 111 , (10) Sendo assim: TNxxxX ...21 (11) De acordo com a Figura 11, supondo um sistema MIMO na configuração 22x (duas antenas na transmissão e duas antenas na recepção) pode-se criar a matriz H (matriz do canal, onde é possível identificar os caminhos de propagação criados pelas múltiplas antenas do sistema). Dessa forma, é criado o fluxo de bits, que será multiplexado e demultiplexado em dois sub-ramos, ou seja, utiliza-se apenas a metade da taxa se comparada à de um sistema SISO, onde a informação é transmitida simultaneamente em cada antena de transmissão. Agora podemos afirmar que um sistema MIMO, se comparado a um sistema SISO, terá a informação transmitida em duas antenas, em dois símbolos diferentes, no mesmo instante no tempo. Sendo assim, é possível obter maior taxa de transmissão. IV. COMPARATIVO ENTRE GANHO DE DIVERSIDADE E GANHO DE CAPACIDADE O sistema MIMO é capaz de aumentar a confiabilidade com as técnicas de diversidade e a capacidade do sistema com os ganhos da multiplexação, tornando-se assim um sistema muito robusto e confiável, sem qualquer incremento na largura de banda e na potência de transmissão do sistema. Entretanto, ainda não é possível obter o máximo do ganho de capacidade e de confiabilidade simultaneamente, necessitando a escolha entre estas duas vantagens de acordo com o sistema projetado. Assim, existem muitos estudos a fim de conseguir combinar a capacidade e a confiabilidade de forma a obter o máximo ganho. De acordo com Zheng e Tse [9], pode-se tratar o compromisso entre a capacidade e a confiabilidade em um sistema MIMO. Para tratar o compromisso entre capacidade e confiabilidade, basta relacionar o ganho de diversidade dado por d(r) em função do ganho de capacidade designado por (r), em que ( )min(,...,0 , RT NNr ), onde TN é o número de antenas de transmissão e RN o número de antenas na recepção, sendo assim pode-se determinar a relação entre d(r) e r, dada por [9]: ))(()( rNrNrd RT (12) A Figura 12 ilustra esse compromisso entre o ganho de diversidade e o ganho de capacidade considerando a situação onde todos os canais estão descorrelacionados. Analisando a equação 12 constata-se que para a ausência de ganho de capacidade do sistema, o MIMO mostra um ganho de diversidade máximo de RT NN , tratando apenas do ganho de capacidade este é dado pelo valor )min( RT NN . [9] A equação 12 mostra também a dualidade entre os dois ganhos. Para serviços de alta confiabilidade, como por exemplo, transações bancárias, a ordem de diversidade será considerada como prioridade em comparação ao ganho de multiplexação. Entretanto, em sistemas que não necessitam de tanta confiabilidade, como as WLANs domésticas, desconsidera-se a ordem de diversidade, priorizando uma maior multiplexação e aumentando a capacidade do sistema MIMO, como mostra a Figura 12. [9] Fig. 12 – Compromisso entre Diversidade e ganho de Capacidade V. APLICAÇÕES O sistema MIMO será cada vez mais usado em diversos setores das telecomunicações. A grande maioria dos sistemas que utilizam o MIMO ainda está em desenvolvimento e, em alguns casos como o LTE, já estãosendo implantados. Dentre todas as tecnologias que utilizam MIMO as principais são: Wi-Fi - 802.11n (Wireless Fidelity), WiMAX - 802.16e (Worldwide Interoperability for Microwave Access), e LTE (Long Term Evolution). Com o uso do MIMO, o Wi-Fi - 802.11n será capaz de alcançar altas taxas de transmissão (por volta de 100 Mbps). Além disso, oferecerá maior alcance (por volta de 400 metros em ambientes fechados). Outra vantagem é que o MIMO mantém a compatibilidade com aparelhos de padrões anteriores. [13] Com o uso do MIMO na configuração 2x2 (duas antenas na transmissão e duas antenas na recepção) combinada com a diversidade espacial, o WiMAX - 802.16e, pode obter uma maior eficiência na transmissão do sinal. [13] O LTE (Long Term Evolution) é um padrão de redes de comunicações móveis que está em fase de teste nas operadoras no Brasil e já foi inserido nas redes de telecomunicações em alguns países. [12] A. MIMO-LTE O LTE foi priorizado pelas operadoras por manter a compatibilidade com o GSM (Global System for Mobile Communications) e com o HSDPA (High Speed Downlink Packet Access). Por isso, tem-se a expectativa de que será muito utilizado, como mostra a Figura 13. Por isto o LTE será o foco deste artigo como aplicação do sistema MIMO. [11,13] Fig. 13 – Relação de aceitação dos Sistemas. [13] Com o LTE-MIMO tem-se alguns ganhos no sistema, tais como: menor latência (diferença de tempo entre o início de um evento e o momento em que seus efeitos tornam-se perceptíveis), maior taxa de transmissão e maior eficiência espectral (razão entre a taxa transmitida e a largura da banda ocupada) [13]. O LTE é um projeto ambicioso do 3GPP (3rd Generation Partnership Project) e é baseado fundamentalmente no protocolo TCP/IP. Por isso, oferece uma redução da latência [12]. A Figura 14 mostra como é muito menor a latência no sistema LTE comparado a outras tecnologias celulares. [13] Fig. 14 – Latência de diferentes tecnologias. [13] O LTE promete altas taxas de downlink e uplink, conforme mostra a Tabela 1[13]: Tabela 1 - Categorias de equipamentos LTE A Tabela 1 mostra o ganho que o sistema MIMO proporciona ao LTE. Verifica-se que utilizando LTE-MIMO 2x2 (duas antenas na transmissão e duas antenas na recepção) tem-se 70 Mbps, já utilizando o LTE-MIMO 4x4 (quatro antenas na transmissão e quatro antenas na recepção) tem-se 326 Mbps, ou seja, 4,65 vezes maior que a taxa da configuração 2x2. Para que o LTE consiga alcançar elevadas taxa de downlink e uplink, como mostra a Tabela 1, é imprescindível empregar a tecnologia MIMO, ou seja, fazer o uso de múltiplas antenas. Para suprir o crescimento do consumo de múltiplos serviços é extremamente importante ter ótima eficiência espectral. As Figuras 15 e 16 mostram uma comparação entre a eficiência espectral de diferentes tecnologias sem fio. [13] Fig. 15 – Comparação da eficiência espectral de Downlink. [13] Fig. 16 – Comparação da eficiência espectral de Uplink. [13] A Figura 15 mostra a eficiência espectral de Downlink. Pode-se verificar que o ganho de eficiência para o LTE comparando as configurações (2x2 e 4x4) é de 1,6. A Figura 16 mostra a eficiência espectral de Uplink, que é 1,53 vezes maior comparando as configurações (2x2 e 4x4). B. MIMO-OFDM Contudo, para entender porque a tecnologia LTE possui esses ganhos apresentados, é importante entender o conceito OFDM (Orthogonal Frequency Division Multiplexing) e MIMO-OFDM. O OFDM é uma técnica de modulação que utiliza a multiplexação por divisão de tempo FDM (Frequency Division Multiplexing), onde múltiplos sinais são enviados em canais de frequência diferentes. [20] Nos sistemas FDM as portadoras estão suficientemente separadas para poderem ser recebidas utilizando filtros convencionais e, por isso, permite-se transmitir vários sinais ao mesmo tempo, dentro do mesmo espaço físico, onde cada sinal possui uma banda espectral adequada e bem determinada. [17] OFDM é uma técnica de modulação onde múltiplas portadoras são ajustadas para transmitir numa forma paralela, resultando em altas taxas de transmissão, ou seja, a ideia consiste em dividir os bits em diversos streams (fluxos de dados de uma origem para um único receptor que é encaminhado por um canal) de taxa menor que serão transmitidos por subcanais paralelos. [20] Nesse tipo de modulação podem-se transmitir altas taxas de bits especialmente em ambientes de multi-percursos. A técnica de modulação OFDM é do tipo multiportadora e divide as sequências de dados em feixes paralelos de símbolos. Com isso cada feixe de símbolos modula uma subportadora. [14,18] Temos o sinal de acordo com a Figura 17, adotando um pulso gerado na modulação QAM (Quadrature Amplitude Modulation) da forma )( fTSa , onde )( sin xSa x x , com cruzamentos de zeros em pontos múltiplos de 1/T sendo T a duração de um símbolo QAM, mostrado na linda em azul da Figura 17 [14,19]: Fig. 17 – Espectro de um sinal QAM, com frequência 1/T. Adotando um sistema OFDM, temos os sinais entre subportadoras ortogonais conforme ilustra a Figura 18[14]: Fig. 18 – Subportadoras de um sinal OFDM. [14] Na Figura 19 pode-se verificar a diferença entre as multiplexações FDM e OFDM, que é o espaçamento entre as portadoras. No OFDM é menor, devido ao fato das portadoras serem ortogonais entre si. [18] Fig. 19 – Técnica de modulação FDM e OFDM. [18] A técnica de modulação baseada no conceito de multiplexação OFDM pode transformar o canal MIMO em um conjunto de subcanais tendo assim a combinação da modulação OFDM e MIMO chamado MIMO-OFDM que se torna uma poderosa e muito atrativa técnica de acesso, sendo a grande promessa dos sistemas de comunicação sem fio em estudo. As Figuras 20 e 21 apresentam um diagrama de blocos simplificado de um sistema de transmissão e recepção do MIMO-OFDM. [14,15] Fig. 20 – Sistema simplificado de transmissão MIMO-OFDM. [14] Na Figura 20 a primeira etapa de codificação de canal é aquela na qual os feixes de dados da fonte passam por um codificador FEC (Forward Error Correction). Posteriormente, os bits de dados codificados são modulados digitalmente sendo mapeados em uma constelação e depois irão para o codificador MIMO, que irá definir qual antena corresponde ao feixe de dados. [14,15] Fig. 21 – Sistema simplificado de recepção MIMO-OFDM. [14] Na Figura 21 as antenas recebem os símbolos, que passam pela primeira etapa que é a sincronização nos domínios da frequência e do tempo. Posteriormente, os símbolos OFDM serão demultiplexados pela transformada direta de Fourier. Em [15], é mostrada a estimativa de canais usando antenas em conjunto com o OFDM. Em [14], percebe-se de forma completa as diferentes abordagens da estimativa dos canais MIMO-OFDM com várias simulações. Em suma, o sistema MIMO está sendo usado nas tecnologias mais recentes devido aos ganhos de desempenho proporcionados, mostrados neste artigo. VI. LIMITAÇÕES DO SISTEMA MIMO Anteriormente foram mostradas as vantagens do sistema MIMO, como ganho de capacidade e confiabilidade. Entretanto, para alcançar os ganhos de capacidade ou confiabilidade dos sistemas, foram consideradas situações ideais. Nos sistemas reais dificilmente conseguiremos alcançar todos os ganhos mostrados no artigo e, desta forma, o sistema deverá ser ajustado de acordo com as dificuldades encontradas no projeto. A multiplexação espacial, como uma solução convenienteem termos de ganho de capacidade, considerando a somatória dos canais diversos independentes, também foi considerada em uma situação ideal, porém em uma solução real apresenta algumas dificuldades. Para este caso é extremamente necessário que as antenas estejam completamente descorrelacionadas, situação em que na prática é de difícil exercício, pois hoje em dia os dispositivos celulares são compactos, o que torna esta prática complicada devido à falta de espaço físico. Apesar do desenvolvimento de novas tecnologias de acesso para aumentar o desempenho do sistema e a capacidade da transferência de dados, um obstáculo para os dispositivos móveis é a capacidade da bateria, visto que um sistema mais robusto e com mais de uma antena precisa de mais energia elétrica para trabalhar corretamente. VII. CONCLUSÕES Desde a década passada os estudos sobre as técnicas de acesso têm acontecido de forma intensa devido à crescente demanda por serviços multimídia, mobilidade e serviços multiusuários. Devido à mobilidade exigida pelos usuários, atualmente as redes sem fio são atrativas, entretanto, as altas taxas de transmissão de dados ainda estão disponíveis principalmente nas redes cabeadas. A demanda por altas taxas de dados requer maiores larguras de banda, que não são obtidas devido às limitações do espectro de frequência, junto às condições adversas de propagação sem fio. Sendo assim, as redes de alta transmissão de dados sem fio geram um imenso desafio que envolve uma série de problemas a serem resolvidos. O sistema MIMO apresenta as técnicas de multiplexação espacial conforme citado no artigo com o objetivo de maximizar a taxa de transmissão de dados através dos vários canais SISO que formam o canal MIMO, como mostram Zheng e Tse. [9] Utilizando o sistema MIMO pode-se obter ganho de capacidade, ganho de confiabilidade ou uma combinação de ambos conforme mostram as Figuras 12, 14, 15 e 16 e a Tabela. Os sistemas MIMO são utilizados para solucionar grandes problemas de transmissão sem fio devido às vantagens mostradas nesse artigo. Com a combinação da técnica de modulação OFDM e o MIMO, chamada de MIMO-OFDM, pode-se verificar os ganhos dos novos sistemas de transmissão, como o LTE. O presente artigo mostrou como é disposta a configuração das múltiplas antenas do sistema MIMO, suas principais vantagens e desvantagens do sistema, apresentando também onde está sendo usado o MIMO atualmente como foi mostrado para a tecnologia LTE. REFERÊNCIAS [1] Teleco, Inteligencia em Telecomunicações, Seção Telefonia Celular. (Agosto, 2011). Disponível: http://www.teleco.com.br/tecnocel.asp [2] UOL, Folha.com Mercado de Telecom deve crescer 6% ao ano até 2012, diz consultoria, VINICIUS AGUIARI, (Agosto, 2001). Disponível: http://www1.folha.uol.com.br/folha/informatica/ult124u418886.shtml [3] Teleco, Inteligência em Telecomunicações, Seção Telecomunicações, (Agosto, 2001). Disponível: http://www.teleco.com.br/estatis.asp [4] C. E. Shannon, "A Mathematical Theory of Communication," The Bell System. Technical Journal, vol. 27, pp. 379-423 e 623-656, 1948. [5] G. J. Foschini, and M. J. 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Carlos Alberto Martins Júnior, (carlos.inatel@gmail.com) nasceu em Alfenas, MG, em 25 de Março de 1986. Atualmente está cursando a Pós- graduação em Engenharia de Redes e Sistemas de Telecomunicações no Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL. Possui o título: Engenheiro Elétrico com ênfase em Telecomunicações no Instituto Nacional de Telecomunicações – INATEL (dez 2009). De 2009 a 2011 trabalhou na empresa Vivo, nos setores: O&M de comutação, Engenharia de Transmissão, e Desempenho Core CS. Atualmente trabalha na empresa Oi, como Trainne Expert, no setor de Desempenho de Rede.