Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Arch. Zootec. 58 (Supl. 1): 609-612. 2009.Recibido: 13-11-07. Aceptado: 1-4-08. ÁCIDOS ORGÂNICOS NA ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES DESMAMADOS ORGANIC ACIDS IN THE FEED OF WEANED PIGS Chiquieri, J1., R.T.R.N. Soares1, M.S. Lyra1, V.L. Hurtado Nery2 e J.B. Fonseca1 1Universidade Estadual do Norte Fluminense. Av. Alberto Lamego, 2000. Campos dos Goytacazes. Rio de Janeiro. Brasil. chiquier@uenf.br 2Universidad de los Llanos. Colômbia AA 6200. NOTA BREVE PALAVRAS CHAVE ADICIONALES Desempenho. Pró-nutrientes. Vilosidades intes- tinais. ADDITIONAL KEYWORDS Performance. Pro-nutrients. Intestinal vilosity. RESUMO O objetivo deste trabalho foi estudar os efeitos da utilização de ácidos orgânicos e antibiótico sobre o desempenho e a altura das vilosidades intestinais de leitões. Os animais alimentados com as rações contendo antibiótico apresentaram melhor ganho de peso durante o período total de experimento. Os demais items de desempenho e altura das vilosidades intestinais avaliados não sofreram alterações estatísticas. SUMMARY The purpose of this work was to study the effects of organic acids and antibiotic on the performance and height of intestinal vilosity of pigs weaned. The animals fed ration containing antibiotic presented better daily mean weight during the total period of the experiment. The other per- formance data and intestinal vilosity height evaluated did not suffer any statistical change. INTRODUÇÃO Existe uma atenção muito grande quanto aos aspectos sanitários da suinocultura, não obstante também são focos de preocupação as recentes mudanças na legislação européia respeito ao banimento de aditivos antimicrobianos (promotores de crescimento) nas rações de animais, pela possibilidade do desenvolvimento de resistência bacteriana. Neste sentido, na contramão do banimento dos antimicrobianos, uma fatia expressiva de aditivos alternativos (probióticos, pre- bióticos, ácidos orgânicos, etc.) tem-se apresentado no mercado. Os ácidos orgâ- nicos têm sido uma das alternativas promissoras, em substituição aos antibióti- cos em rações para leitões. Os ácidos orgânicos não dissociados podem difundir-se passivamente através da parede celular das bactérias, dissociar-se, quando o pH interno é superior à constante de dissociação (pKa), e promover a dimi- nuição do pH interno. Os íons H+ reduzem o pH interno, e isto é incompatível com certas classes de bactérias que não toleram um gradiente significativo de pH em ambos os lados da membrana. Neste caso, coloca- se em uso um mecanismo de resistência que tem reação frente a esse tipo de estresse celular, onde os prótons são bombeados para fora da bactéria, por ação da bomba ATPase. Este fenômeno consome energia e esgota completamente a bactéria. Para que os ácidos orgânicos possam difundir-se para fora da célula bacteriana, é necessário que estejam em sua forma não dissociada. Dependendo do pH interno, acumulam-se internamente os ânions, modificam a pressão osmótica interna e são tóxicos para a bactéria, interrompendo a síntese de ácido Archivos de zootecnia vol. 58, p. 610. CHIQUIERI, SOARES, LYRA, HURTADO NERY E FONSECA nucléico, bloqueando as reações enzimá- ticas e alterando o transporte através da membrana (Gauthier, 2005). Tem se mostrado melhor efeito dos áci- dos orgânicos em leitões por estarem pro- pensos a distúrbios intestinais resultando em diarréias, principalmente por ação de E. coli (Gabert e Sauer, 1994; Roth e Kirchgess- ner, 1998). Outro problema dos leitões é a produção insuficiente de ácido clorídrico e enzimas digestivas, que se agrava pelo fornecimento da ração pré-inicial com alto teor de proteína (Eidelsburger, 1997). A utilização de dietas ácidas baseia-se nessa ineficiência dos leitões em manter o pH gástrico, aumentando a proteólise gástrica e melhorando a digestibilidade de proteínas e aminoácidos (Roth e Kirchgessner, 1998). Este estudo teve por objetivo avaliar a utilização de ácidos orgânicos como alter- nativa ao uso de antibióticos como promo- tores de crescimento, e seus efeitos desem- penho e altura de vilosidades intestinais de leitões desmamados aos 21 dias de idade. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Setor de Suinocultura do LZNA/CCTA/UENF, situa- do em Campos dos Goytacazes, RJ. Foram utilizados 60 leitões mestiços desmamados aos 21 dias de idade, com peso inicial de 5,65 ± 0,79 kg, distribuídos em delineamento de blocos casualizados com 5 tratamentos, 4 repetições e 3 animais por repetição. O experimento teve duração de 42 dias, divididos em dois períodos de 21 dias (21 aos 42 dias e dos 42 aos 63 dias de idade). Os animais foram alojados em baias de 1,8 m x 2,0 m, com piso de concreto, dotadas de comedouro semi-automático e bebedouro tipo chupeta, localizadas em galpão de alvenaria, coberto com telhas de cimento amianto. A temperatura foi verificada , com uso de termômetro de máxima e mínima, localizado em uma baia vazia, a meia altura dos animais. As temperaturas mínimas e máximas, duran- te o período experimental, foram 23,79oC + 1,60 a 32,89°C ±3,80, respectivamente. Os tratamentos foram: T1: T1 (sem aditi- vo); T2: T1+ antibiótico (neomicina a 56 ppm); T3: T1 + 0,2% AO;T4: T1 + 0,4% AO e T5: T1 + 0,6% AO. Foi utilizado um composto de ácidos orgânicos (AO), constituído de benzóico (300 g), fumárico (100 g), cítrico (100 g) e fosfórico (85 g). Os animais receberam duas dietas basais: pré-inicial (21 a 42 dias de idade) e inicial (42 a 63 dias de idade). As rações experimentais foram formuladas para atender às exigências nutricionais (Rostagno et al., 2005). Os áci- dos orgânicos e o antibiótico foram adicio- nados às rações em substituição ao inerte. O fornecimento das rações experimentais foi da seguinte forma: nos primeiros 21 dias, os animais receberam as rações experimentais. Nos 21 dias seguintes, passaram a receber a mesma ração basal com adição de 0,2% de ácidos orgânicos, mantendo os animais nas mesmas unidades experimentais e os tratamentos-controle (ração-referência e ração-referência + antibiótico). Foi avaliado consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar, em cada período e no período total. No final do expe- rimento, foi abatido um animal por repetição, para coleta dos segmentos de duodeno, jejuno e íleo, para avaliação da altura das vilosidades intestinais. As vilosidades do intestino fixadas em formol (AFIP , 1994), no Setor de Morfologia e Anatomia Patológica do LSA/CCTA/ UENF. Foram confeccionadas 15 lâminas por tratamento, e, em cada uma, foram reali- zadas medições (comprimento em linha reta, em unidades - µm) de cinco vilosidades bem orientadas do duodeno, jejuno e íleo, utili- zando-se o programa Analysis. Os dados de desempenho e altura das vilosidades intestinais obtidos no experi- mento foram submetidos à análise estatistica no pacote computacional SAEG (2000). Archivos de zootecnia vol. 58, p. 611. ÁCIDOS ORGÂNICOS NA ALIMENTAÇÃO DE LEITÕES DESMAMADOS RESULTADOS E DISCUSSÃO No período inicial (21 a 42 dias) e final (42 a 63 dias de idade), não foram observadas diferenças estatísticas (p>0,05) entre os tratamentos, para as variáveis de desempenho (tabela I). Estes resultados estão de acordo com aqueles obtidos por Araújo et al. (2001) e Lyra (2007), quando utilizaram acidificantes para leitões desmamados. Os resultados de consumo de ração diário podem estar associados ao fato de as rações terem sido formuladas para serem isocaló- ricas, o que proporcionou o mesmo consumo. Estes resultados diferem dos obtidos por Gabert e Sauer (1994), Roth e Kirchgessner (1998), Partanen e Mroz (1999), Boling et al. (2000), Maribo et al. (2000) e Kluge et al. (2006) que verificaram melhor consumo de ração, ganho de peso e conversão alimentar em leitões utilizando ácido orgânico na alimentação. No ganho diáriode peso no período total de experimento houve diferença estatística (p<0,05) entre tratamentos (tabela I). Os animais alimentados com ração contendo antibiótico apresentaram maior ganho de peso em relação aos animais que Tabela I. Desempenho dos leitões. (Piglets performance). T1 T2 T3 T4 T5 CV% Período Inicial1 (21-42 dias) Consumo de ração diário, kg 0,31 0,35 0,30 0,34 0,34 9,99 Ganho de peso diário, kg 0,20 0,25 0,19 0,24 0,23 14,10 Conversão alimentar, kg 1,65 1,43 1,58 1,42 1,48 9,24 Período final1 (42-63 dias) Consumo de ração diário, kg 0,90 1,06 0,97 0,99 0,99 8,45 Ganho de peso diário, kg 0,53 0,62 0,56 0,56 0,57 8,43 Conversão alimentar, kg 1,71 1,73 1,74 1,79 1,74 7,23 Período total (21-63 dias) Consumo de ração diário, kg 0,61 0,71 0,63 0,67 0,67 7,48 Ganho de peso diário2, kg 0,34a 0,43b 0,37ab 0,40ab 0,40ab 8,91 Conversão alimentar, kg 1,67 1,64 1,70 1,67 1,67 6,02 1Não houve diferença (p>0,05) pelo teste F. 2Na mesma linha medias com letras diferentes diferem (p<0,05) significativamente pelo teste de Tukey. Tabela II. Altura das vilosidades do duodeno, jejuno e íleo de leitões suplementados com ácidos orgânicos e antibiótico. (Vilosity heights at duodenum, jejunum and ileum of weanling pigs supplemented with organic acids and antibiotics). T1 T2 T3 T4 T5 CV% Segmentos do intestino1 Duodeno, µm 256,25 232,25 323,25 294,75 257,00 15,63 Jejuno, µm 280,00 267,25 285,50 302,00 273,00 16,12 Íleo, µm 256,50 288,25 318,75 251,00 286,00 16,91 1Não houve diferença (p>0,05) pelo teste F. Archivos de zootecnia vol. 58, p. 612. CHIQUIERI, SOARES, LYRA, HURTADO NERY E FONSECA receberam a ração-referência sem adição de pró-nutrientes. Não houve diferença esta- tística (p>0,05) entre os tratamentos onde os animais receberam ração contendo áci- dos orgânicos e aqueles que receberam ração contendo antibiótico e ração-referência. A altura das vilosidades (tabela II) do duodeno, jejuno e íleo dos animais não diferiu estatisticamente (p>0,05). Estes resultados podem estar associados principalmente ao fato de os leitões terem sido criados num ambiente de baixo desafio sanitário. A utilização de níveis de ácidos orgânicos superiores aos testados poderiam apontar para resultados mais significati- vos, de acordo com Freitas et al. (2006) que utilizaram maiores níveis de ácidos orgânicos nas rações e obtiveram resultados satisfatórios para características de desempenho como ganho de peso diário e conversão alimentar. CONCLUSÕES A utilização de antibiótico melhorou o ganho de peso no período total (21 a 63 dias de idade) de leitões desmamados. Os outros dados de desempenho e altura das vilosi- dades intestinais não sofreram influência da utilização de pró-nutrientes na ração de leitões desmamados. BIBLIOGRAFIA AFIP. 1994. Laboratory methods in histotechnology. American Registry of Pathology. Washington, D.C. Araújo, M.J., L.P.G. Silva, T.D.D. Martins, D.Q. Lima, I.T.D. Jácome, A.C. Neto e E.R. Costa. 2001. Efeitos da utilização de promotor de crescimento acid-pak4-way sobre o desempenho de leitões desmamados. Acta Scient., 23: 1011-1014. Boling, S.D., D.M. Webel, I. Mavromichalis, C.M. Parsons and D.H. Baker. 2000. The effects of citric acid on phytate-phosphorus utilization in young chicks and pigs. J. Anim. Sci., 78: 682-689. Freitas, L.S., D.C. Lopes, A.F. Freitas, J.C. Carneiro, A. Corassa, S.M. Pena e L.F. Costa. 2006. Avaliação de ácidos orgânicos em dietas para leitões de 21 a 49 dias de idade. Rev. Bras. Zootecn., 35 (supl.): 1711-1719. Gabert, V.M. and W.C. Sauer. 1994. The effects of supplementing diets for weanling pigs with organic acids. A review. J. Anim. Feed Sci., 3: 73-87. Gauthier, R. 2005. Modo de ação dos acidificantes e interesse que geram na fase de crescimento e terminação. Pork World, 28: 52-58. Kluge, H., J. Broz and K. Eder. 2006. Effect of benzoic acid on growth performance, nutrient digestibility, nitrogen balance, gastrointestinal microflora and parameters of microbial meta- bolism in piglets. J. Anim. Physiol. Anim. Nutr., 90: 316-324. Lyra, M.S. 2007. Utilização de ácidos orgânicos na alimentação de leitões desmamados. Monografia. Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. 27 p. Maribo, H., B.B. Jensen and M.S. Hedemann. 2000. Different doses of organic acids to piglets. Danish Bacon and Meat Council, nº 469. Partanen, K.H. and Z. Mroz. 1999. Organic acids for performance enhancement in pig diets. Nutr. Res. Rev., 12: 1-30. Rostagno, H.S. 2005. Composição de alimentos e exigências nutricionais de aves e suínos (Tabelas brasileiras), 1ª impressão, Ed. Imp. Univ. da UFV. Viçosa, MG. Roth, F.X. and M. Kirchgessner. 1998. Organic acids as feed additives for young pigs: Nutritional and gastrointestinal effects. J. Anim. Feed Sci., 7: 25-33. UFV. 2000. Sistema de Analises Estatísticas e Genéticas-SAEG. UFV. Viçosa, MG.
Compartilhar