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Revista de Biologia e Ciências da Terra ISSN: 1519-5228 revbiocieter@yahoo.com.br Universidade Estadual da Paraíba Brasil do N. Rangel, Adriano Henrique; Leonel, Fernando de Paula; Alves Simplício, Aurino; de Mendonça Júnior, Antonio Francisco Utilização de ionóforos na produção de ruminantes Revista de Biologia e Ciências da Terra, vol. 8, núm. 1, primer semestre, 2008, pp. 264-273 Universidade Estadual da Paraíba Paraíba, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50080129 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto http://www.redalyc.org/revista.oa?id=500 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50080129 http://www.redalyc.org/comocitar.oa?id=50080129 http://www.redalyc.org/fasciculo.oa?id=500&numero=10504 http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=50080129 http://www.redalyc.org/revista.oa?id=500 http://www.redalyc.org 264 REVISTA DE BIOLOGIA E CIÊNCIAS DA TERRA ISSN 1519-5228 _____________________________________________________________________________________ Volume 8 – Número 1 – 1° Semestre 2008 _____________________________________________________________________________________ Utilização de ionóforos na produção de ruminantes Adriano Henrique do N. Rangel1, Fernando de Paula Leonel2, Aurino Alves Simplício3, Antonio Francisco de Mendonça Júnior 4 RESUMO Ionóforos são ácidos orgânicos capazes de modificar o “perfil” da fermentação ruminal e oriundos da fermentação de algumas espécies de Streptomyces. Têm-se definido como ionóforo substâncias capazes de interagir passivamente com íons, cátions (K+, Na+, Ca2+ e Mg2+), servindo, desta forma, como um veículo de transporte para estes através de membranas celulares. Os ionóforos agem de forma seletiva sobre bactérias sensíveis à coloração gram prejudicando o crescimento das gram- positivas e favorecendo o das gram-negativas. Atualmente são conhecidos alguns tipos de ionóforos, destacando-se como os mais populares a Monensina Sódica e a Lasalocida. Palavras-chave: lasolasida, monesina sódica e ruminantes Ionophores in ruminant production ABSTRACT Ionophores are organic acid capable of modifying the ruminal fermentation profile and the fermentation arising from some Streptomyces species. It has been defined as Ionophores, substances able to passively interact with ions and cations (K+, Na+, Ca2+ and Mg2+), acting in this way, as a transport vehicle for them through cellular membranes. The ionophore acts selectively on bacteria sensitive to gram coloration, and it decreases the growth of gram-positive ones while increases gram-negative ones growth. Currently, some types of ionophore are known, standing out as the most popular the Sodic Monensin and Lasalocida. Keywords: lasolacida, sodic monesin e ruminant. 265 1 INTRODUÇÃO A rápida expansão do crescimento da população humana tem levado a que a demanda por proteína de origem animal exceda a sua produção. Assim, a necessidade de melhorias nos sistemas de produção animal, com vistas a atender a crescente demanda é de fundamental importância. Contudo, deve-se considerar a complexidade do processo de formação de proteína pelos animais domésticos, assim como, a qualidade e o custo dessa proteína, visando garantir a segurança alimentar e não esquecendo o poder de compra do consumidor. Na busca do equilíbrio entre a procura e produção, caracterizado como a demanda e a oferta, várias metodologias têm sido desenvolvidas com foco no ambiente e bem- estar animal, no manejo alimentar-nutricional, na promoção da saúde, no manejo reprodutivo, no melhoramento genético, dentre outras, demonstrando que o principal objetivo que governa a produção animal ainda é a produtividade. Em geral, os ruminantes domésticos estão em uma posição mais favorável em relação aos outros animais de produção, pois são capazes de utilizar fibras em grande quantidade e convertê- las em produtos de elevado valor biológico e assimilável pelo homem. A melhoria da eficiência de conversão dos alimentos em produtos como carne, leite, lã, pêlo e pele envolve a competência e a interação de variáveis biológicas como o genótipo, os hormônios, o metabolismo, dentre outras, estando à nutrição dos animais intimamente ligada as respostas que são esperadas. Assim, nos últimos 30 anos, o uso de produtos classificados como promotores do crescimento têm sido feito com esta finalidade e, dentre esses, incluem os compostos anabólicos e antibióticos (BAGG, 1997). Dentro dessa ótica, pesquisadores, técnicos e produtores têm procurado manipular e melhorar a eficiência da fermentação ruminal significando, na prática, aumentar a produção de propionato, deprimir a metanogênesis, diminuir a proteólise e a deaminação das proteínas do alimento no rúmen. Estas mudanças levam, positivamente, a melhoria na eficiência produtiva dos ruminantes. Inicialmente, tentativas para se alcançar esta meta foram realizadas com a manipulação da dieta, mas, durante as últimas décadas certo número de aditivos alimentares tem sido descoberto, e quando usados na alimentação dos ruminantes podem satisfazer alguns ou a todos os objetivos acima descritos (BERGEN E BATES, 1984). Em geral, esses componentes não são suplementos de nutrientes essenciais para os ruminantes, no entanto, são usados com foco no aumento da eficiência da produção, através da melhoria do processo de fermentação no rúmen e redução da ocorrência de enfermidades, particularmente as de origem metabólicas. Neste contexto, até recentemente, antibióticos como: clorotetraciclina, oxitetraciclina, bacitracina, eritromicina e tilosina tinham o uso permitido, mas, nos dias atuais os ionóforos são os aditivos alimentares usados com mais freqüência em bovinos (HEDERSON et al., 1981). Uma categoria destes aditivos são os antibióticos carboxílicos poliésteres ou simplesmente ionóforos, que foram originalmente desenvolvidos como coccidiostáticos usados na alimentação de aves, e são produtos da fermentação de várias espécies de Streptomyces. A partir de meados de 1970, os ionóforos foram aprovados pelo “Food and Drug Administracion” (FDA), nos EUA, para serem usados na alimentação de ruminantes, sendo que a monensina sódica foi liberada em 1976 e a lasalocida em 1982, para uso em bovinos; a salinomicina, a narasina, dentre outros, ainda continuam sendo avaliados (SCHELLING, 1984; RUSSEL E STROBEL, 1989). Características moleculares dos ionóforos Os ionóforos são produtos da fermentação por espécies de Streptomyces e nos dias atuais são conhecidos vários tipos. Todos são ácidos orgânicos com uma pKa variando entre 6,4 a 6,6, pouco solúveis em soluções aquosas, cujo exterior da molécula é hidrófoba; entretanto, são solúveis em solventes orgânicos e são altamente lipofílicos, com peso molecular variando de 500 a 2000 Daltons. A monensina sódica tem a seguinte fórmula: C34H61O2Na com peso molecular de 692 Daltons; e a lasalocida: C34H53O2Na com um peso molecular de 612,8 Daltons. Estes têm uma estrutura convencional de poliésteres com composição química variada. 266 2 DESENVOLVIMENTO Mecanismo de ação Os ionóforos têm sido definidos como substâncias capazes de interagir passivamente com íons e cátions, servindo assim como veículo de transporte para estes íons, através da membrana celular (RUSSEL E STROBEL, 1989). Estes antibióticos formam complexos com cátions monovalentes e bivalentes, como K+, Na+, Ca2+ e Mg2+ que são biologicamente significantes, entretanto, possuem afinidade diferenciada por estes íons. A monensina sódica medeia primariamente o Na+, pois sua afinidade a este íon é dez vezes maior do que ao K+, e não tem afinidade por íons bivalentes. Por outro lado, a lasalocidatem uma maior afinidade para o K+ e uma menor atração pelo Ca2+ e Na+ (PRESSMAN, 1976). Estudos com este grupo de antibióticos mostram que são capazes de proteger e deslocar as cargas de íons, formando complexos com cátions. Desta forma facilitam seus movimentos através da membrana celular, uma vez que, a superfície da membrana, é composta por lipídeos e, uma grande quantidade de energia seria necessária para transpô-las, ou seja, funcionam como veículo de transporte através da membrana, sendo bastante seletivos para os íons específicos (BERGEN E BATES, 1984). Schelling (1984) descreve que a atividade específica das reações de troca iônica em nível celular catalisada pelos diferentes ionóforos atualmente usados, depende da afinidade do cátion pelo ionóforo, do pH, do relativo gradiente de concentração e do mecanismo específico pelo qual ocorre o deslocamento do íon. O mecanismo de ação dos ionóforos sobre as bactérias ruminais está relacionado com fatores de resistência presentes na estrutura da parede celular, e esta é responsável por regular o balanço químico entre o meio interno e externo da célula, sendo este equilíbrio mantido por um mecanismo chamado de bomba iônica. O ionóforo, ao se ligar ao cátion de maior afinidade, transporta-o através da membrana celular para dentro da bactéria. E esta, por meio do mecanismo da bomba iônica, na tentativa de manter sua osmolalidade, utiliza sua energia, de forma excessiva, até deprimir as suas reservas, o que afeta o crescimento das bactérias gram- positivas e favorece o das bactérias gram- negaitivas. A troca entre o cátion e o próton (H+), a qual é mediada pelo ionóforo é descrita por Bergen e Bates (1984), que descrevem que o ciclo de transporte se inicia quando a forma aniônica do ionóforo liga-se a superfície de contato da membrana, onde é estabilizado pela característica do ambiente polar da mesma. Como um ânion, o ionóforo é capaz de ligar- se a um íon, um metal catiônico; ambos com terminação de ácido carboxílico. Esta ligação inicia a formação de um ciclo complexo lipofílico cátion-ionóforo, que pode se difundir para o interior da célula. A monensina sódica e a lasalocida se encaixam nesta categoria e uma característica marcante deste modelo é que os ionóforos deverão estar numa forma aniônica antes de serem capazes de ligar-se ao cátion. Além do mais, a difusão através da membrana não poderá ocorrer, a menos que o ionóforo exista na forma protonada (H+) ou na forma cátion-aniônica do próprio ionóforo. Têm sido descrito que o principal mecanismo de ação dos ionóforos para melhorar a eficiência alimentar dos ruminantes está relacionado a mudanças na população microbiana do rúmen. As bactérias Gram negativas são mais resistentes aos ionóforos do que as Gram positivas, por apresentarem em sua constituição uma membrana externa de proteção e são produtoras de ácido propiônico, enquanto as Gram positivas são menos resistentes e produzem ácido acético, butírico e láctico, H2 e metano (HEDERSON et al., 1981; RUSSEL E STROBEL, 1989;). Este mecanismo foi proposto por Russell (1987), em relação à ação da monensina sódica sobre a bactéria Streptococcus bovis, Gram positiva, sensível à droga, que teve o seu crescimento inibido. Esta ação foi atribuída à característica morfológica da sua parede celular, pois não possui uma membrana externa, permitindo assim este tipo de troca iônica, provocado pelo ionóforo que aumenta o fluxo de cátions através de sua membrana e altera todo o equilíbrio energético celular. Efeito dos ionóforos no metabolismo da energia 267 Os ionóforos modificam a produção de ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen, por meio da diminuição da proporção molar de acetato:butirato, da produção de gás metano e do aumento na produção de propionato. Ionóforos reduzem a produção de metano no rúmen de forma indireta, por inibirem o crescimento de bactérias gram-positivas, que têm como produtos finais hidrogênio e formato, intermediários na formação do metano no ambiente ruminal. O propionato é indiscutivelmente reconhecido como a mais eficiente fonte energética para o ruminante. Esse AVG pode ser utilizado para gliconeogênese no fígado ou ser diretamente oxidado no ciclo de Krebs. E, como anteriormente descrito, o ionóforo aumenta a produção de propionato, disponibilizando mais energia metabolizável do alimento (BERGEN et al., 1984). Mais de 50,0% da lactose do leite advém do propionato, por meio da gliconeogênese. A glicose é um metabólito limitante para a produção de leite, aumentando a produção de propionato ruminal, disponibiliza-se maior quantidade de glicose para o animal em lactação, melhorando o balanço energético, com possibilidades de melhorias na produção de leite e na condição corporal (HAYES et al., 1996). No início da lactação, as vacas leiteiras de produção elevada mobilizam gordura corporal para suprir a demanda não atendida pela baixa ingestão de alimentos, comum nesse estágio. Como conseqüência, pode ocorrer um acúmulo de corpos cetônicos, devido à insuficiente disponibilidade de propionato para “girar” o cíclo de Krebs, levando, então, os animais a um quadro de cetose, clínica ou subclínica. Através do aumento da produção de propionato ruminal os ionóforos disponibilizam mais ácido oxaloacético para o ciclo de Krebs na célula hepática, o que pode resultar em menor mobilização de ácido graxo ou funcionar como intermediário, girando o ciclo, não permitindo assim, o acúmulo de corpos cetônicos, com a vantagem de aumentar, também a disponibilidade de ATP. Efeito dos ionóforos no metabolismo da proteína Em função de afetar o desenvolvimento de algumas bactérias que promovem proteólise e deaminação em nível de rúmen, os ionóforos reduzem a degradação das proteínas nesse compartimento, permitindo a sua digestão pós- ruminal. Dessa forma, o uso de ionóforos também se torna interessante quando se trabalha com alimentos ricos em proteínas de “elevado valor biológico”, com adequado balanço dos aminoácidos lisina e metionina, que segundo Van Soest (1994), limitam o desempenho produtivo de vacas leiteiras. O aumento da disponibilidade de proteína de origem alimentar no intestino delgado implica em redução do custo energético com uréia no fígado (NRC, 2001). Tem sido demonstrado que os ionóforos afetam negativamente três espécies de bactérias produtoras de amônia. A utilização do nitrogênio não protéico (NNP) pelas bactérias do rúmen está na dependência da dieta em relação à degradabilidade das frações de proteínas e carboidratos (SNIFFEN et al., 1992). Nesse caso, o fluxo máximo de todo nitrogênio da dieta que chega ao intestino delgado é a soma do que foi incorporado à massa microbiana adicionada da fração que passa estruturado na proteína da dieta. Assim sendo, dietas balanceadas nas diferentes frações de carboidratos e proteína de baixo e alto perfil quanto à composição de aminoácidos associada com ionóforos, possibilitam a expressão fenotípica de vacas leiteiras de elevado potencial genético. Outro aspecto a ser considerado com a utilização de ionóforo é o aumento de aminoácidos glicogênicos na corrente sangüínea oriundos do intestino delgado (SCHELLING, 1984). Este benefício alivia a mobilização de tecidos corporais, principalmente para vacas no início da lactação, que tem alta demanda por glicose, uma vez que esta é a precursora da lactose do leite e, geralmente essas fêmeas encontram-se em balanço negativo de energia. Efeito dos ionóforos sobre o pH do rúmen Outro efeito benéfico que pode advir do uso de ionóforos é o controle do pH ruminal. Quando ruminantes são alimentados com forragem, o pH no rúmen permanece próximo da neutralidade, e isso é devido ao estímulo que a fibra exerce sobre o processo da ruminação, 268 levando por conseqüência, a produção de saliva, a qual age como uma substância tamponante do fluído ruminal.No entanto, quando são fornecidas dietas contendo grande quantidade de grãos, a elevada taxa de fermentação pode diminuir o pH no rúmen drasticamente, favorecendo o desenvolvimento de bactérias produtoras de ácido láctico, havendo assim um acúmulo de lactato no fluido ruminal. O lactato é um ácido forte dentre os AGVs, e geralmente, promove uma imediata queda do pH, contribuindo assim, para o surgimento de sintomas de acidose. Os ionóforos diminuem a produção de lactato por inibir o crescimento do Streptococcus bovis, bactéria que tem sido freqüentemente descrita como a principal causadora da acidose ruminal aguda (RUSSEL, 1987). Efeito dos ionóforos sobre a taxa de passagem O enchimento do rúmen e a taxa de passagem têm influência direta sobre o período de permanência dos alimentos no rúmen, afetando assim a fermentação microbiana e a utilização do nitrogênio, modificando conseqüentemente, os produtos originados da fermentação. Alguns estudos indicam que a monensina sódica diminui a taxa de passagem dos alimentos e contribui para o enchimento ruminal (SCHELLING, 1984). Russel e Strobel (1988), trabalhando in vitro descrevem que quando a monensina era adicionada a uma mistura microbiana, ocorria com freqüência uma diminuição da digestão da celulose. No entanto, estudos in vivo demonstram que, embora ocorra uma diminuição do consumo, a digestibilidade da fibra permanece inalterada (SCHELLING, 1984). Existem “especulações”, no sentido de que os ionóforos poderiam melhorar a digestibilidade da fibra. E, isso ocorreria, pela influência negativa sobre o consumo de alimentos, já que este reduz a ingestão, e por conseqüência afeta a taxa de passagem do material sólido do rúmen para os outros compartimentos gástricos. Desse modo, a partícula fibrosa permanece um maior tempo no ambiente ruminal, prolongando-se assim o tempo de fermentação (SCHELLING, 1984). Outra contribuição indireta do ionóforo sobre a digestibilidade da fibra, é que esse, diminui a concentração de lactato no rúmen, limitando assim, a queda do pH nesse ambiente, propiciando desse modo, melhores condições para o desenvolvimento de bactérias celulolíticas (RUSSEL e STROBEL, 1989). Efeito dos ionóforos nas desordens digestivas Os ionóforos podem ter significante efeito positivo sobre desordens que envolvem o sistema digestivo, tal como acidose ruminal e timpanismo (BAGG, 1997). As principais bactérias produtoras de lactato o Lactobacillus spp. e o Streptococcus bovis, crescem rapidamente quando dietas ricas em amido são fornecidas aos ruminantes, no entanto, tais bactérias são sensíveis aos ionóforos (NOCEK, 1997). Neste sentido, os ionóforos reduzem a produção de ácido láctico no rúmen, diminuindo, portanto, a possibilidade de se estabelecer um quadro de acidose. Em vacas leiteiras, os ionóforos podem ter impacto sobre a ocorrência de acidose em função de mudança na dinâmica alimentar. Vacas confinadas, quando suplementados com monensina sódica, consumem menor quantidade de alimento em cada refeição, passando a necessitar de um maior número de refeições ao longo do dia (BAGG, 1997). Ressalte-se que essa conduta pode repercutir no custo. No entanto, as vacas suplementadas com monensina sódica terminam por ingerir alimentos com mais freqüência e isso propicia a manutenção do pH ruminal dento de uma amplitude menor, o que é positivo para a fauna e flora do rúmen. Alguns ionóforos têm sido aprovados para uso quanto a sua efetividade na redução da incidência e severidade de timpanismo em vacas. Lowe et al., (1991), demonstraram a redução na severidade do timpanismo em vacas lactantes utilizando monensia1 sódica aplicada através de cápsula de liberação controlada (CRC). Quando vacas foram suplementadas com monensina sódica ocorreu uma redução de, aproximadamente 31,0% na produção de metano (SCHELLING, 1984). Isso se deve a mudança na relação acetato:propionato e também, a inibição das bactérias ruminais que produzem hidrogênio, resultando no decréscimo do metabolismo de formato, CO2 e H2 para 269 metano (NAGARAJA et al., 1997). Ainda, tem sido descrito que a monensina pode inibir bactérias produtoras de mucopolissacarídeos no rúmen (BERGEN, 1984), reduzindo desta forma, a viscosidade do fluido ruminal e dificultando o surgimento do timpanismo espumoso, o qual é geralmente fatal. 1. Rumensin® - marca comercial do ionóforo, monensia sódica. Outros efeitos de ionóforos para vaca Ionóforos podem contribuir para a prevenção de pneumonia intersticial atípica (PIA), em vacas em pastejo sob pastagem composta por forrageiras viçosas (BAGG, 1997). A PIA ou edema e enfisema pulmonar agudo dos bovinos é uma enfermidade que acomete principalmente bovinos adultos caracterizando-se por dificuldade respiratória aguda observada, em geral, em animais que saem de uma pastagem de má qualidade para uma de excelente qualidade. A patogenia da doença provavelmente está relacionada com a conversão no rúmen, do L- triptofano, aminoácido que naturalmente é encontrado nas forrageiras viçosas, em ácido indole-acético que é metabolizado em 3- metilindol pelo Lactobacillus sp e é responsável pelos sinais clínicos. Nenhum bovino que recebeu suplementação de ionóforos em pastagens ricas de L-triptofano apresentou sinais de PIA (HAMMOND et al., 1978; HONEYFIELD et al., 1985; NOCERINI et al., 1985), levando aos autores concluírem que o uso de ionóforos quando os animais se encontram em pastagens de excelente qualidade ou propensas a formação do 3-methilindol favorece a prevenção desta enfermidade. Stephenson et al., (1997), descrevem que vacas leiteiras que recebem CRC melhoram a função quimiostática dos neutrófilos, condição esta importante, particularmente no período peri-parto. Também ressaltam o aumento na concentração sérica de ceruloplasmina em animais suplementados com monensina sódica. Esta resposta sugere uma possível influência, positiva, da monensina sódica no metabolismo do cobre. A suplementação com monensina tem sido ligada à redução no número de pulpas da mosca do chifre presentes nas fezes e na sobrevivência das lavas neste estádio de desenvolvimento (SCHELLING, 1984). Os ionóforos, também são usados na prevenção da eimeriose bovina, particularmente em crias jovens e novilhas. Respostas no desempenho animal Gado de corte: Em dietas que contém elevados níveis de carboidratos facilmente fermentáveis os ionóforos geralmente levam a diminuição da ingestão de alimentos, sem afetar o ganho de peso, melhorando assim a conversão alimentar (BERGEN e BATES, 1984). Quando os ruminantes são alimentados com dietas contendo elevadas quantidades de volumosos com ligações do tipo β, por conseqüência ricos em carboidratos, os ionóforos não diminuem a ingestão de alimentos, porém melhoram o ganho de peso, também, melhorando a conversão alimentar. Contribuindo assim para um melhor desempenho dos animais sob três formas: a) aumentam a eficiência do metabolismo energético no rúmen; b) melhoram o metabolismo do nitrogênio no rúmen; e c) previne desordens metabólicas, como a acidose láctica crônica, a cetose e o timpanismo (NAGARAJA et al., 1997). Chalupa (1977 apud CHALUPA, 1980) avaliou alguns experimentos a respeito do efeito da monensina sódica sobre o desempenho de bovinos de corte, confinado e sob pastejo. Em confinamento, os animais que receberam de 5,5 a 33,0 mg de monensina/kg de alimento, consumiram menos alimentos, mas mantiveram o ganho de peso. Enquanto, os que foram mantidos a pasto ou que receberam forragem verde picada, o ganho de peso aumentou em cerca de 20,0%, sendo a eficiência alimentar melhorada, independente do regime de manejo. Aparentemente, o aumento da energia disponível, diminuiu o consumo, devido uma regulação do balanço energético corporal, sendo esta energia usada para um ganho adicional. Diminuições da ingestão de alimentos são geralmentemaiores durante as quatro primeiras semanas após o início do fornecimento de ionóforos. Salles e Lucci (1998) descrevem o efeito da monensina sódica sobre o desempenho, as características e a composição da carcaça de bezerros holandeses com 80 dias de idade. 270 Foram encontrados, efeitos significativos para ganho de peso, ingestão de MS, ganho em perímetro torácico e altura de cernelha, sendo os melhores resultados obtidos com o nível de 0,8 mg de monensina por kg de peso vivo. A avaliação econômica também apresentou resultados satisfatórios, o que valida à utilização do produto quanto a este aspecto. A influência da monensina sódica nas características de carcaça também foi analisada em bovinos de corte (GOODRICH et al., 1984). Foram usados cerca de 11.000 animais, sendo verificado um efeito positivo (0,61%) sobre a área de olho de lombo. Com exceção da monensina, os outros ionóforos ainda não foram amplamente avaliados. Todavia, Brow e Davidovich (1979); e Davis (1978 apud CHALUPA, 1980) compararam o desempenho de novilhos de corte confinados, recebendo monensina sódica ou lasalocida sódica e não encontrando diferença significativa entre o efeito dos dois ionóforos. RESTLE et al. (1997), também avaliaram o efeito da lasalocida sódica adicionada ao cloreto de sódio sobre o desempenho de fêmeas de corte, com idade de 10 meses, mantidas em pastagem de gramíneas anuais, durante a estação fria. Não influenciou o ganho de peso individual, mas permitiu um aumento de 7,0% na carga animal, indicando que houve um menor consumo de MS e, também houve um aumento no ganho de peso por área (kg/ha) e melhora na eficiência alimentar. Gado de leite: Ionóforos geralmente diminuem a ingestão de matéria seca e aumentam a produção de propionato, levando a diminuição na porcentagem de gordura do leite. Fato que levou a uma resistência inicial na aceitação do uso de tais aditivos para vacas de leite. Entretanto, rebanhos leiteiros podem ser direta ou indiretamente beneficiados por alterações na fermentação ruminal associado à suplementação com produtos (Mc GUFFEY, 2001). A redução na produção de metano e de ácido láctico com diminuição nas desordens metabólicas, como acidose e timpanismo, promove uma diminuição na ocorrência de problemas de saúde, aumentando assim, a consumo de matéria seca e produção de leite, como também melhoria na eficiência reprodutiva. As vantagens do uso em bovino leiteiro estão relacionado ao aumento da produção de leite, maior eficiência alimentar, e menores desordens metabólicas, como cetose clínica e subclínica, timpanismo e acidose (BORGES, 2006). O ácido propiônico, composto utilizado na gliconeogênese é o precursor da lactose, sendo esta, a maior reguladora da osmolaridade do leite sintetizado pela glândula mamaria, influenciando assim, a quantidade de leite secretada. Como o propionato abastece o ciclo do ácido tricarboxílico com produtos intermediários, especialmente o oxaloacetato, não permitindo o acúmulo de acetato, previne a ocorrência de acetose (ROGERS E DAVIES, 1982; SAUER et al., 1989). Outro benefício propiciado pelo uso de ionóforos é o aumento do escape de proteína verdadeira oriunda da dieta, da degradação ruminal. Nenhum ionóforo é aprovado para uso em vacas em lactação nos EUA, Canadá e União Européia. Entretanto, é de uso comum em países como Austrália, Brasil e México. Também, na Austrália e Nova Zelândia é liberado para animais em pastejo em pastagens ricas em leguminosas objetivando minimizar a ocorrência timpanismo. Aparentemente, não há problemas com relação a resíduo no leite (DONOHO, 1984). No entanto, publicações científicas relacionando os efeitos dos ionóforos sobre a produção e a qualidade do leite são em número limitadas (WEISS et al., 1992; LEAN et al., 1994; Mc GUFFEY,2001). Aumento na produção de leite de até 3,6 Kg/animal/dia com o uso de 150 mg a 450 mg/dia de monensina sódica foi descrito por Oney et al. (1994) e acima de 1,0 Kg/animal/dia com 360 mg/dia de lasalocida sódica por Murphy et al. (1993). A composição do leite e a ingestão de matéria seca não foram afetadas, mas a concentração de corpos cetônicos foi reduzida pela suplementação com monensina sódica. Toxidez de ionóforos Em estudos conduzidos com a monesina sódica têm sido encontradas as doses letais (DLs) para cães, camundongos, frangos e ratos. Para animais domésticos a DL50 de monensina sódica é descrita como de 2,0 a 3,0 mg por kg de peso vivo (PV) para eqüino; 16,8 mg/kg PV 271 para suíno; 26,4 mg/kg PV para caprino e 11,9 mg/kg PV para ovino. Potter et al., 1984 ressaltam que o fornecimento de suplemento contendo monensina, na razão de 440 ppm, para bovinos deverá ser da seguinte forma: o consumo inicial deve ser de 0,45 kg contendo 100 mg de monensina durante cinco dias e dai por diante não mais do que 200 mg correspondendo a 440 ppm. A ingestão de 1,2 kg do suplemento com 440 ppm de monensina sódica durante quatro dias resultou em anorexia. Os mesmos autores não encontraram efeitos negativos sobre os aspectos reprodutivos. 3 CONCLUSÕES Os ionóforos carreiam cátions para o interior de células bacterianas de forma seletiva, favorecendo o crescimento das gram-negativas que são produtoras de proprionato em detrimento das gram-positivas, produtoras de acetato, butirato, lactato, formato e hidrogênio – precursores de metano e de algumas proteolíticas e deaminadoras de aminoácidos, favorecendo o padrão fermentativo e a produção de energia a partir da dieta. Podem promover a prevenção de desordens metabólicas como: acidose, cetose e timpanismo e, também de pneumonia intersticial atípica. Os melhores resultados em bovino de corte foram obtidos quando usado junto a dietas ricas em concentrados devido principalmente a melhoria da conversão alimentar, contribuindo, positivamente para a melhoria da relação custo- benefício. Em bovinos de leite, o início da lactação é o estágio em que o uso de ionóforos apresenta benefícios mais evidentes, visto que é a fase da lactação em que o balanço energético negativo e a mobilização de reservas corpóreas ocorrem com mais freqüência. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BAGG, R. Mode of action of ionophores in lactating dairy cattle. Usefulness of ionophores in lactating dairy cattle. Proceedings of a Symposium. Held at the Ontario Veterinary College, June, 1997. BERGEN, W.G. and BATES, D.B. Ionophores: Their effect on production, efficiency and mode of action. J. Anim. Sci., v.58, p.1465-1483, 1984. BORGES, L. 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