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OS CAMINHOS DAS MULHERES

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ISSN 2176-1396 
 
OS CAMINHOS DAS MULHERES: UM RECORTE HISTÓRICO PARA 
LEGITIMAR AS QUESTÕES DE GÊNERO 
 
Gisela de Moura Bluma Marques
1
 - UCDB 
Ana Carla de Amorim
 2
 - UCDB 
 
Grupo de Trabalho - Diversidade e Inclusão 
Agência Financiadora: não contou com financiamento 
 
Resumo 
 
O presente artigo é resultado da pesquisa sobre o “Professor (a) da Educação Infantil: 
influência, construção e representação de gênero”, em decorrência da participação no 
Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). O estudo objetiva contribuir 
com os estudos e pesquisas sobre gênero, sem, no entanto, esgotar esta temática, percorrendo 
a história da mulher para adentrar a identidade de gênero através das relações sociais, por 
meio da análise e descrição de comportamentos de diferentes culturas no decorrer da história, 
que influencia o desenvolvimento da sociedade devido as suas constantes transformações, e 
com isso, identificar qual é o lugar, o espaço que ocupa e qual o papel da mulher e do homem 
socialmente falando, percorrendo a Antiguidade, Modernidade até os dias atuais. Para isso, 
abordamos no decorrer do trabalho, argumentos que embasam a fundamentação teórica 
utilizando a pesquisa bibliográfica através de uma literatura diversificada de autores 
reconhecidos como: Neves (2008), Bonini (2006), Louro (1992, 2014), Muraro (1995) e Scott 
(1990), bem como documentos da legislação como a Constituição Federal brasileira 
(BRASIL,1988) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,1997), que contribuíram 
para a elaboração deste artigo. A partir do estudo bibliográfico, apresentamos por meio de 
uma contextualização história a trajetória da mulher, ao mesmo tempo em que relatamos a 
postura masculina, o comportamento da sociedade e o surgimento dos movimentos feministas 
em busca de um reconhecimento na luta por seus direitos na conquista pela igualdade entre os 
sexos e a definição conceitual de gênero. Dessa forma, ao refletir sobre as relações de poder e 
o espaço ocupado por homens e mulheres na sociedade, o artigo é destinado a professores, 
pais e a sociedade em geral, objetivando compreender os comportamentos e os reflexos dessa 
relação entre homem e mulher no decorrer da história. 
 
Palavras-chave: História. Homem. Mulher. Gênero. 
 
1 Mestre em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Docente da Universidade Católica Dom 
 Bosco. Professora Pesquisadora do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação Cientifica (PIBIC).E-mail: 
gisela@ciadasaguas.com. 
2 Graduanda em Pedagogia pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB).Voluntária do Programa 
Institucional de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC). E-mail: anninha_amorim@yahoo.com.br 
8211 
 
Introdução 
Toda pesquisa necessita inicialmente definir seu objeto de estudo, para em seguida 
constituir um processo de investigação, buscando-se responder um determinado problema. 
Dessa forma, esse artigo constitui uma parte dos nossos estudos a respeito de gênero, sendo 
que não há como desvincular a relação homem X mulher, desde o início dos tempos, para 
poder contextualizar de forma clara e concisa o entendimento a respeito do tema. 
Inicialmente, apresentamos um contexto histórico que tem como público alvo as 
mulheres, retratando a realidade de diferentes povos desde a Antiguidade até os dias atuais, 
buscando com isso identificar quem são essas mulheres, qual o lugar que elas ocupam e o que 
elas representam para a sociedade, e a partir desta compreensão, refletir as relações de poder 
existentes diante das identidades de gênero. 
A partir desta compreensão a respeito do papel da mulher na sociedade, abordamos 
algumas definições e conceitos de gênero que em continuidade ao tema proposto, contribuem 
para a análise história da representação da mulher e dos reflexos para a sociedade, os avanços, 
as necessidades de mudanças como também as dificuldades e as conquistas decorrentes dos 
movimentos feministas. 
Com isso, ressaltamos ao término do trabalho, as contribuições e a relevância do artigo 
que tem como intuito não a comprovação da superioridade do homem ou da mulher, mas sim, 
a possibilidade de refletir através dos comportamentos estabelecidos socialmente os espaços 
conquistados pelas mulheres ao longo dos tempos e o que isso representa diante das relações 
de poder e das identidades de gênero. 
As mulheres na trilha da história 
Historicamente falando, a mulher sempre teve um papel conservador, sendo a 
inocência, a pureza, e a castidade, comportamentos considerados adequados e destinados ao 
público feminino. Na Antiguidade, embora houvesse a responsabilidade compartilhada, em 
um cenário onde era possível observar a colaboração, a ajuda mútua, a coletividade e a 
harmonia em busca do sustento e do bem comum para todos os membros da comunidade, era 
incumbência da mulher os afazeres domésticos, uma tarefa considerada tão importante assim 
como a busca pelo alimento era para os homens. 
8212 
 
Diante disso, a mulher era reconhecida pelo instinto materno e contribuir para os 
costumes e a cultura de um povo na realização de atividades desde o cuidado com os animais 
ao bordado, por exemplo, comportamentos que fizeram com que a mulher tivesse inicialmente 
a igualdade de direitos com o homem. Entretanto, com o tempo, essa condição modificou-se 
tornando o homem superior a mulher, exigindo dela a pureza e a castidade antes do casamento 
e após a sua realização, uma total submissão e fidelidade ao marido. Dessa forma, ser uma 
moça donzela e preservar-se para o casamento era uma questão de honra, de nobreza. Por 
outro lado, violar essa regra significava para ela o desprezo e a morte. Assim, se antes a 
mulher exercia poder de igualdade com o homem, nessa fase o divórcio só era concedido se a 
intenção partisse do homem. 
Com isso, as mulheres casadas viviam em função do esposo, tendo a beleza como 
virtude, encantamento e poder. A este respeito, a mulher estava sempre arrumada e perfumada 
a espera do marido para assim garantir os novos herdeiros. Por outro lado, as mulheres viúvas 
choravam a ausência masculina e guardavam o luto através de preces e orações. 
Para retratar o percurso histórico das mulheres objetivamos iniciar nossa trilha pela 
Grécia antiga, onde a mulher era considerada como uma parte integrante de seu pai ou seu 
esposo, restrita aos afazeres domésticos e á docilidade com submissão ao esposo. 
A mulher, durante a sua infância depende de seu pai; durante a juventude, de seu 
marido; por morte do marido, de seus filhos; se não tem filhos, dos parentes 
próximos de seu marido; porque a mulher jamais deve governar-se à sua vontade. As 
leis greco-romanas dizem o mesmo. Enquanto moça está sujeita a seu pai; morto o 
pai, a seus irmãos e aos seus agnados; casada, a mulher está sob a tutela do marido; 
morto o marido, não volta para a sua própria família porque renunciou a esta para 
sempre, pelo casamento sagrado; a viúva continua submissa à tutela dos agnados de 
seu marido, isto é, à tutela de seus próprios filhos, se os tem, ou, na falta destes, à 
dos mais próximos parentes do marido. O marido tem sobre ela tanta autoridade que 
pode, antes de morrer, designar-lhe tutor, e até mesmo escolher-lhe novo marido 
(COULANGES, 1996, p.69). 
Por outro lado, os espartanos acreditavam que as mulheres deveriam ser preparadas 
para o esforço físico mais do que os homens, pois estes já possuíam uma aptidão física por 
natureza, e sendo esparta uma sociedade militarizada, formadoras de grande guerreiros, 
aceitavam que era justamente a mulher a responsável por dar origem a indivíduos aptos para 
compor o exército, nessesentido, as regras de Esparta era que não existia "mães", só existiam 
progenitoras, em que a única função era educá-los, além de carregá-los por nove meses em 
seu ventre. 
8213 
 
Já as mulheres livres de Esparta, cidade agrícola e guerreira da região da península 
do Peloponeso, possuíam maior liberdade do que as mulheres de Atenas. Durante os 
séculos VI ao III a.C., tinham o dever de dar a luz a filhos vigorosos e a praticar 
ginástica junto aos homens, de cuidar da casa e exercer o comércio. Além disso, as 
mulheres pertencentes à aristocracia espartana possuíam o direito de herança e 
influenciavam fortemente seus maridos a respeito das decisões da pólis (BONINI, 
2006, p.299). 
No Egito no que se refere ao trabalho em ambientes externos, era uma exclusividade 
dos homens, exceto para as mulheres que tinham poder aquisitivo e podiam exercer atividades 
fora do lar sendo reconhecidas por isso. Nesse período, a figura da mulher estava sempre 
associada à maternidade, e enquanto o homem tinha uma participação ativa na sociedade, a 
mulher passiva, permissiva aceitava essa condição para ser reconhecida. 
As mulheres não possuíram nenhum título importante, sem contar alguns 
relacionados ao sacerdócio, e, fora alguns membros da família real e as soberanas 
reinantes, tiveram pouco poder político. Seu título mais comum era, 'senhora da 
casa', é um título de respeito que significa apenas algo mais que 'Sra' (BAINES; 
MALIK, 2008, p.205). 
Ao contrário das demais civilizações, em Roma a mulher era independente, 
frequentava ambientes culturais e não havia a obrigatoriedade da instituição familiar, 
aumentando o número de mulheres solteiras. 
Algumas mulheres romanas buscaram na diversão uma forma de igualdade aos 
homens. Junto com seus maridos nos anfiteatros, no meio dos espectadores, 
divertiam-se com as lutas dos gladiadores. Já as mulheres dos imperadores romanos 
e da nobreza senatorial, ao longo dos séculos I e II d.C., travaram grandes lutas nos 
bastidores do poder, as quais defendiam o trono para seus filhos, irmãos e amantes. 
Pois, de acordo com o sistema de valores predominantes na sociedade romana, estas 
mulheres da alta sociedade deveriam contentar-se com as satisfações alheias, o êxito 
dos homens e do Estado, enquanto cuidava da nova geração masculina (BONINI, 
2006, p.306). 
A partir da queda do Império Romano, perante a igreja homens e mulheres são iguais, 
porém, a submissão para ela e a ascensão para ele prevalecem, embora muitas vezes elas 
exerçam influência e liderança na sociedade. Contudo, mesmo com a participação da mulher 
nos ambientes públicos, ela continua a realizar tarefas domésticas e sendo preparadas para 
exercer o papel de mãe e esposa, obediente inicialmente ao pai e posteriormente ao marido. 
Passos (1992, p.65) destaca: “Ora, numa família bem constituída, é a dona-de-casa, a mãe, 
quem administra os bens domésticos”. 
Com o advento do Cristianismo, o luxo, a riqueza e os desejos carnais são práticas 
condenáveis e desprezíveis, sendo reconhecidos como virtudes o amor, o perdão e o celibato, 
8214 
 
e ao se conservarem solteiras, a mulher era beneficiada ao evitar a opressão ao serviço 
doméstico e ao cumprimento às ordens do marido, tornando-se influente na sociedade. 
Na Idade Média, também ocorreram estas relações de dominação; as mulheres 
estavam submetidas à autoridade do pai ou do marido e tinham como destino certo o 
casamento, senão com um esposo escolhido pelo pai, num acordo de negócios, com 
Cristo, ao ser enviada para algum convento (era comum dizer que freiras tornavam-
se esposas de Cristo) (BONINI, 2006, p.324). 
É possível observar, portanto, que na Idade Média, a mulher tinha um papel 
fundamental com a presença feminina no âmbito cultural como na educação e religiosa 
realizada em templos e igrejas. Entretanto, ao retorno do esposo de longas viagens e da 
guerra, a mulher voltava ao seu lugar inicial: ao cuidado da casa, dos filhos e do marido. 
Dessa forma, não é surpresa o argumento de Gutiérrez (2011, p.19) no que se refere ao 
comportamento da mulher quando diz que: “No feminino é onde mora a essência do ser. Suas 
qualidades: o silêncio, a aceitação, a contemplação, o acolhimento. Seus requisitos: o não 
julgamento e o sacrifício amoroso”. 
No período que precede a Renascença e o capitalismo, há o surgimento do conceito da 
mulher ideal: ser uma moça donzela e guardar-se para o casamento era uma questão de honra, 
de nobreza. Assim, a castidade era uma virtude e caso não fosse conservada, poderia levar a 
morte. Por outro lado, violar essa regra significava para ela o desprezo e a morte, reduzindo 
assim o número de mulheres. 
A partir do capitalismo, ocorre a separação entre a vida pública e a vida privada e a 
essência da mulher é no espaço doméstico cuidando dos filhos. A industrialização é marcada 
pela inserção das mulheres no mercado de trabalho, onde lutam por melhores condições de 
salário e uma carga horária mais flexível, mesmo trabalhando fora, a mulher continua a 
exercer as atividades do lar. Participam de movimentos sindicais com reivindicações a 
respeito do direito ao voto e melhores condições de trabalho. Em decorrência dessas 
reivindicações, o dia 8 de março de 1908 é marcado pelo massacre de 150 mulheres que 
morreram queimadas porque batalhavam pela redução da jornada de trabalho e um salário 
digno, surgindo assim, o Dia Internacional da Mulher. 
8215 
 
A emancipação da mulher, característica da idade moderna e contemporânea, é um 
dos aspectos de maior releve do processo emancipatório mais geral posto em 
movimento pelo Iluminismo: ela atinge tanto a esfera social, na qual estimula a 
passagem da participação e da criatividade feminina do privado para o público, 
quanto a esfera pessoal, na qual reinvindica, pela mulher, a gestão da palavra e a 
relação com a própria corporiedade regidas pelo princípio de autonomia, e não 
condicionadas pela situação de dependência (FORTE, 1991, p.19). 
Assim, o amor não é mais a essência da mulher e a partir da Revolução Francesa há 
uma transformação no comportamento das mulheres que saem exclusivamente do âmbito 
doméstico e frequentam os espaços culturais, o aumento na participação no mercado de 
trabalho. 
A Idade Contemporânea tem seu início com a Revolução Francesa que surge a partir 
da insatisfação popular que almejava acabar com o poder exercido pela monarquia na luta 
pela Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Assim sendo, a Assembleia Constituinte concede os 
direitos aos cidadãos o que constitui num avanço para as camadas populares formados por 
pobres e comerciantes da época, incentivando a partir daí o surgimento de grupos sociais entre 
eles o feminismo. Um movimento social, político e filosófico, só de mulheres, marcado 
inicialmente na chamada “primeira onda”, quando seu objetivo era a conquista pela liberdade, 
uma vez que se vivia numa época que o marido considerava a esposa como sua propriedade, 
sendo o matrimônio uma imposição, além da reivindicação do direito ao voto, garantindo 
assim a sua participação na vida política. 
Em continuidade as suas reivindicações, surge no período entre o início da década de 
60 e fim da década 80 a “segunda onda”, quando as mulheres buscavam a igualdade de 
direitos entre homens e mulheres, deixando o espaço doméstico e conquistando a sua 
independência pessoal e financeira com sua inclusão no mercado de trabalho. 
No Brasil, durante o período militar e da redemocratização (décadas de 1970 e 
1980), muitas militantes do movimento feminista, oriundas das camadas médias e 
intelectualizadas, postulavam a transformação da sociedade como um todo. No 
entanto, após várias críticas, as feministas brasileiras incorporaramas reivindicações 
dos movimentos de bairros, de moradia e contra a carestia, compostos pelas classes 
populares e médias, cuja participação feminina era majoritária. Dessa forma, 
passaram a reivindicar o acesso à infra-estrutura urbana básica (água, luz, esgoto, 
asfalto, creches e escolas, etc.), maior participação política, igualdade social, de 
gênero e melhores condições de trabalho (BONINI, 2006, p.383). 
A “terceira onda” surgiu para apontar, questionar e complementar as imperfeições e as 
contradições do próprio movimento, como a ausência na participação da mulher negra, 
8216 
 
acendendo assim a discussão sobre a discriminação entre as etnias e a partir desse movimento 
comprovar a diferença entre homens e mulheres como resultado de uma construção social. 
Em 1975, com o objetivo de diminuir as diferenças entre homens e mulheres e 
muitas das discriminações sofridas por estas no mundo, a Organização das Nações 
Unidas (ONU) lançou o Decênio das Nações Unidas para as Mulheres com ações 
afirmativas em relação à saúde, educação e trabalho, entre 1975 a 1985, tornando as 
reivindicações das mulheres mais visíveis (BONINI, 2006, p.383). 
No Brasil com a Constituição de 1988, o artigo 5º afirma que: “I – homens e mulheres 
são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta constituição” (BRASIL, 1988), no artigo 
7º declara: “XXX – proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de 
admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil” (BRASIL, 1988). 
A partir da influência de muitas mulheres na sociedade e com a emancipação 
feminina, a mulher volta a ter acesso ao mercado de trabalho e continua na luta pelas 
diferenças, pois não querem mais ser o objeto de desejo de homens, que passam a contribuir 
na divisão das tarefas do lar e o cuidado dos filhos, embora os afazeres domésticos ainda 
sejam vinculados à figura da mulher na sua delicadeza e no seu instinto materno. 
A partir da década de 1980, o Movimento Feminista passou a repensar seus 
pressupostos teóricos e se reorganizou na forma de vários grupos e organizações. 
Novos objetivos e lutas foram sendo incorporados, entre eles o abandono da 'guerra 
dos sexos' (homens X mulheres), para repensar as questões relativas às mulheres a 
partir de estudos sobre gênero. Nesta perspectiva, foram considerados os papéis 
construídos tanto para os homens quanto para as mulheres em uma determinada 
sociedade, privilegia-se o aspecto relacional entre ambos (BONINI, 2006, p.383). 
Antes da emancipação da mulher, ela vive em função do homem: em atender as suas 
necessidades. Após a emancipação, ela descobre que tem direitos, ao se conhecer e ser 
reconhecida enquanto mulher, descobre que tem vontades e desejos e que é igual ao homem, 
passando a ser mais exigente. 
Desvelando sobre o conceito de gênero 
Primeiramente, antes de definir “gênero”, é necessário, refletir o que é ser homem ou 
mulher, na sociedade em que vivemos, e por que homens e mulheres vivem ainda em 
condições de desigualdade. Sabe-se que, pelo conceito biológico, as crianças nascem fêmeas 
ou machos, na espécie humana, e são criadas, educadas e moldadas, segundo os conceitos que 
cada sociedade considera próprios para meninos e meninas. Nas diferenças biológicas do sexo 
8217 
 
vão sendo estruturadas desigualdades sociais que atribuem papéis estereotipados para o 
masculino e o feminino. 
O papel do homem foi sempre mais valorizado do que o papel da mulher, seria um 
modelo de vida em que os homens trabalham fora e são os provedores e as mulheres só fazem 
o trabalho doméstico, invisível e desvalorizado. Ao homem coube a produção: o que gera 
riqueza; e à mulher, a reprodução: da vida, da futura força de trabalho. Com a entrada em 
massa da mulher no mercado de trabalho, conquistando espaço no mundo da produção, esse 
modelo de vida passou a existir somente em algumas sociedades. 
Com base em definições essencialistas do que é ser homem e/ou mulher, edificou-se 
um sistema de discriminação e exclusão entre os sexos, além de vários estereótipos 
sobre homens e mulheres: agressivos, racionais, fortes, viris, para eles; dóceis, 
relacionais, subordinadas, afetivas e frágeis para elas. O feminino e o masculino são 
apresentados como categorias opostas, excludentes e hierarquizadas, nas quais a 
mulher, os valores e os significados femininos ocupam lugar inferior. E a dicotomia 
daí decorrente cristaliza concepções do que devem ser as atribuições femininas e 
masculinas e dificulta a percepção de outras maneiras de estabelecer as relações 
sociais (NEVES, 2008, p.47). 
No final da década de 60, ocorre a “segunda onda”, que se tratava de uma 
manifestação exaltando a insatisfação coletiva da classe de mulheres, jovens, negros, 
intelectuais de diversos países como a França, Estados Unidos e Alemanha, permitindo a elas 
mostrar-se social e politicamente como “seres humanos”. Surgiram os estudos da mulher, a 
partir das mobilizações de militantes feministas, inúmeras destas mulheres foram as que 
iniciaram os trabalhos de reflexão e produção acadêmica e, que levaram para o interior das 
universidades e escolas as questões de seus estudos. 
Na década de 1950, na maioria dos países ocidentais, as mulheres já haviam 
conseguido o direito ao voto. No final da década de 1960, elas passaram a denunciar 
as injustiças a que estavam sujeitas, buscando maiores direitos civis e políticos. 
Surgiu um novo Movimento Feminista, primeiramente nos EUA, com a fundação, 
em 1966, da Organização Nacional da Mulher (NOW, em inglês) e na Europa 
Ocidental (Inglaterra e França). No Brasil, o movimento feminista só adquiriu força 
a partir da década de 70 (BONINI, 2006, p.383). 
Durante a “segunda onda”, o movimento feminista inicia importantes estudos e 
aprofundamentos na questão das mulheres, sexo/gênero, a antropóloga norte-americana Gayle 
Rubin publica um artigo em 1975, que se torna uma referência para futuros estudos, porém, 
foi a partir da década de 80, que Joan Scott historiadora estadunidense, influenciada por 
Foucault e Derrida, organiza uma maneira de se pensar gênero como um elemento 
8218 
 
constitutivo de relações sociais fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, sendo 
assim uma construção social e histórica dos sexos. 
Ademais, o gênero é igualmente utilizado para designar as relações sociais entre os 
sexos. O seu uso rejeita explicitamente as justificativas biológicas, como aquelas que 
encontram um denominador comum para várias formas de subordinação no fato de 
que as mulheres têm filhos e que os homens têm uma força muscular superior. O 
gênero se torna, aliás, uma maneira de indicar as 'construções sociais' – a criação 
inteiramente social das ideias sobre os papéis próprios aos homens e às mulheres 
(SCOTT, 1990, p.7). 
Após alguns anos de lutas das mulheres, foi sendo elaborado o conceito de gênero, 
provocando algumas turbulências, em relação a este conceito, pois se pretendia incorporá-la 
aos trabalhos e pesquisas das feministas. Durante esse ensaio, surgiu a palavra inglesa 
gender
1
, porém, a mesma estaria relacionada à diferença sexual, à sexualidade e, na língua 
espanhola e francesa, o dicionário não apresenta a mesma acepção. O emprego, portanto, 
dessa palavra, estaria ligado às feministas americanas e inglesas e não conseguiria ser 
traduzido em outros idiomas. 
Pensando em instituir um novo sentido à palavra, buscou-se as primeiras afirmações 
de gênero; que não significava o mesmo que sexo, pois enquanto sexo estaria relacionado à 
identidade biológica de um indivíduo, gênero estaria ligado à construção social como 
masculino e feminino. 
No Brasil, o termo “gênero” passou a circular no final dos anos 80 entrevários 
estudiosos feministas, entre elas(es) temos como referência Guacira Lopes Louro, 
historiadora, doutora em educação e fundadora do Grupo de Estudos de Educação e Relações 
de Gênero (GEERGE) e desde 1990, participa desse grupo de pesquisa. 
Gênero, bem como a classe, não é uma categoria pronta e estática. Ainda que sejam 
de naturezas diferentes e tenham especificidade própria, ambas as categorias 
partilham das características de serem dinâmicas, de serem construídas e passiveis 
de transformação. Gênero e classe não são também elementos impostos 
unilateralmente pela sociedade, mas com referência a ambos supõe-se que os 
sujeitos sejam ativos e ao mesmo tempo determinados, recebendo e respondendo às 
determinações e contradições sociais. Daí advém a importância de se entender o 
fazer-se homem ou mulher como um processo e não como um dado resolvido no 
nascimento. O masculino e o feminino são construídos através de prática sociais 
masculinizantes ou feminizantes, em consonância com as concepções de cada 
sociedade. Integra essa concepção a ideia de que homens e mulheres constroem-se 
num processo de relação (LOURO, 1992, p.57). 
 
1 A palavra apresenta um sentido relacionado à diferença sexual, à sexualidade. 
8219 
 
 
Em nível oficial, no Brasil, a partir de 1997, as relações de gênero ganharam impulso 
com a proposta de implantação dos PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 
1997), que objetivavam oferecer diretrizes mais claras às políticas para a Educação no âmbito 
do ensino fundamental. Nos PCNs (BRASIL, 1997), as Relações de Gênero aparecem como 
orientação sexual dentro da Área de Convívio Social e Ética no Ensino Fundamental. Assim, 
as relações de gênero ficam reconhecidas oficialmente, no âmbito da educação escolar, como 
sugestão de tratamento curricular de forma transversal. Conforme os Parâmetros Curriculares 
Nacionais 
A discussão sobre relações de gênero tem como objetivo combater relações 
autoritárias, questionar a rigidez dos padrões de conduta estabelecidos para homens 
e mulheres e apontar para sua transformação. A flexibilidade dos padrões em 
permitir a expressão de potencialidades existentes em cada ser humano que são 
dificultadas pelos estereótipos de gênero. Como exemplo comum pode-se lembrar a 
repressão das expressões de sensibilidade, intuição e meiguice nos meninos ou de 
objetividade e agressividade nas meninas. As diferenças não devem ficar 
aprisionadas em padrões preestabelecidos, mas podem e devem ser vividas a partir 
da singularidade de cada um, apontando para a equidade entre os sexos (BRASIL, 
1997, p.144). 
Ainda complementando com os temas transversais: 
A construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo tratamento 
diferenciado para meninos e meninas, inclusive nas expressões diretamente ligadas à 
sexualidade, e pelos padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino. 
Esses padrões são oriundos das representações sociais e culturais construídas a partir 
das diferenças biológicas dos sexos, e transmitidas através da educação, o que 
atualmente recebe a denominação de 'relações de gênero' (BRASIL, 1997, p.296). 
É importante observar como diante de situações adversas do cotidiano compartilhamos 
momentos alegres, difíceis e confidências, entretanto, assuntos relacionados à sexualidade é 
motivo de conflitos e algo tão íntimo que chega a ser constrangedor. 
Assim, os Parâmetros Curriculares Nacionais sobre Orientação Sexual afirmam que: 
Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo inerente, que se manifesta desde 
o momento do nascimento até a morte, de formas diferentes a cada etapa do 
desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída ao longo da vida, 
encontra-se necessariamente marcada pela história, cultura, ciência, assim como 
pelos afetos e sentimentos, expressando-se então com singularidade em cada sujeito 
(BRASIL, 1997, p.81). 
Com efeito, embora atualmente o estudo a respeito das diferenças entre homens e 
mulheres e as relações de gênero tenha avançado, a sexualidade é um termo que mesmo com 
8220 
 
o tempo ainda causa desconforto. Por isso, a compreensão do conceito de gênero e as suas 
especificidades não está limitada a orientação sexual, a classificação sobre o que é próprio 
para menino ou menina, homem ou mulher, mas a individualidade de cada ser humano na sua 
totalidade, os fatores biológicos, sociais, as influências do meio e a sua história de vida, ou 
seja, entender o conceito de gênero é muito mais do que a relação entre masculino e feminino. 
Dessa forma, Spagnol (2008, p. 36) declara: “A palavra gênero surge nas ciências 
sociais com o objetivo de questionar a existência de uma hierarquia inata entre homens e 
mulheres, que mulheres são passivas, emocionais e frágeis; que homens são ativos, racionais e 
fortes”. 
A perspectiva de gênero tem sido ampliada, na última década, com ênfase nas 
dimensões da vida social, na educação e na saúde. E dentro deste contexto é importante que o 
sistema educativo entenda a questão de gênero como ponto de partida, considerando as 
necessidades, expectativas e interesses de homens e de mulheres, e se faça realmente na 
prática a igualdade de desejos e oportunidades para ambos os sexos. 
É necessário, então, aprofundarmos um pouco nessa questão. Nos discursos atuais, 
o apelo à diferença esta se tornando quase um lugar comum (o que nos leva a sermos 
cautelosos/as, desconfiando de seu uso irrestrito). Certamente o caráter político que 
a questão teve (e tem) no âmbito dos Estudos Feministas e dos Estudos Culturais 
não pode ser o mesmo com que ela é admitida e repetida pelos setores mais 
tradicionais, pela mídia ou até pela nova direita (LOURO, 2014, p.48). 
Gênero não se refere só à mulher, ele trata das relações entre homens e mulheres na 
sociedade, relações construídas ao longo da história, que mudam continuamente e que se 
manifestam de formas diferentes, dependendo de cada lugar e de cada época. 
Algumas considerações 
No decorrer da história, em decorrência da cultura e dos costumes, percebemos 
constantes transformações no perfil das mulheres em sociedades distintas, o que ocorre até os 
dias de hoje, ainda que com mudanças gradativas. Entretanto, mesmo que com o passar do 
tempo a mulher tenha conquistado seu espaço seja no mercado de trabalho, na vida política e 
cultural, ela sempre esteve associada às tarefas domésticas e aos cuidados maternos. 
Por outro lado, modificações no comportamento das mulheres fizeram com que a luta 
pela igualdade de direitos e a participação na vida pública deixassem de lado o valor supremo 
da pureza, da docilidade e da submissão, assumindo assim a sua independência. 
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Ao nos depararmos com a história, desde a dependência feminina até a sua 
emancipação, uma disparidade de comparações entre o homem e a mulher e a limitação nas 
diferenças entre o masculino e o feminino. Entretanto, ao mencionarmos as relações de 
gênero, devemos considerar não os fatores biológicos, mas sim os fatores sociais, 
relacionados aos comportamentos, posturas ou posicionamentos, sejam estes públicos ou 
privados. 
Assim, ressaltamos a relevância deste artigo, não em comprovar a superioridade do 
homem ou da mulher, nem em determinar o que é próprio para este ou para aquele sexo, mas 
sim em refletir como os comportamentos de homens e mulheres influenciam no avanço da 
sociedade. 
Deste modo, embora o artigo relate a trajetória das mulheres, não podemos isentar a 
participação do homem na história da mulher ou inibir a presença da mulher na vida do 
homem, pois as narrativas se encontram no sentido de complementar e não divergir, mesmoem virtude das diferenças físicas ou de habilidades, ocorrências que não excluem as 
características essenciais do ser humano, passível de erros e acertos, de sonhos e desejos, 
desafios e conquistas, ao mesmo tempo, homem e mulher possuem sentimentos, emoções, 
valores e virtudes, independente da função que exerçam dentro ou fora do lar. 
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