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UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ – CAMPUS DE QUEIMADOS Professor: Osias Peçanha – terceiro período de Direito – turma: A Aluno: Roquiran Miranda Lima – matrícula: 201401361641 REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS - HABEAS CORPUS I – INTRODUÇÃO E EXEMPLOS O habeas corpus é o Remédio Constitucional mais conhecido de nossa legislação, e não por coincidência é um dos recursos mais tradicionais da história do Direito Internacional. O Direito Romano já incluía este instrumento que vem sendo reformulado e sistematicamente aplicado aos mais variados ordenamentos jurídicos por toda a longa “estrada” do Direito, como base das civilizações que buscaram os valores da democracia e da composição pacífica dos conflitos. Sendo em nosso ordenamento o Remédio Constitucional que tem por finalidade evitar ou fazer cessar a violência e coação que possam vitimar o indivíduo. Para tanto existem tanto o Habeas Corpus Preventivo, que talvez seja mais conhecido como salvo-conduto, quanto o Habeas Corpus liberatório, que se destina a fazer cessar os excessos cometidos pelo Estado. Em ambas as espécies haverá a possibilidade de concessão de medida liminar, para se evitar possível constrangimento à liberdade de locomoção que possa ser irreparável. Reproduzo aqui a fala do jurista Júlio Fabbrini Mirabete que lembra a seguinte: “Embora desconhecida na legislação referente ao habeas corpus, foi introduzida neste remédio jurídico, pela jurisprudência, a figura da liminar, que visa atender casos em que a cassação da coação ilegal exige pronta intervenção do judiciário”. E no paragrafo seguinte o jurista conclui assim: “Como medida cautelar excepcional, a liminar em habeas corpus, exige requisitos: o periculum in mora ou perigo na demora, quando há probabilidade de dano irreparável e o fumus boni iuris ou fumaça do bom direito, quando os elementos da impetração indiquem existência de ilegalidade”. Cabe ainda um destaque quanto ao instrumento previsto no § 2º do Art. 654 do CPP, em que compete aos tribunais ou ao magistrado expedir de ofício ordem de habeas corpus, a seu crivo, sem a figura do impetrante prevista no Art. 647do CPP. A Magna Carta promulgada pelo Rei João Sem Terra da Inglaterra em junho de 1215, é uma referencia importante na adoção desta medida pelas sociedades que lutavam contra os abusos do Estado, e representa historicamente a necessidade de contenção do poder arbitrário, como regra os países civilizados adotam o habeas corpus por significar na prática uma limitação efetiva às várias formas de arbítrio. II – O HABEAS CORPUS NO ORDENAMENTO JURÍDICO DO BRASIL No ano de 1821, ainda no primeiro reinado, o Decreto Real nº114, autorizado através de um alvará de D. Pedro I, trazia vedações as prisões arbitrárias. Em 1824 a Constituição outorgada pelo mesmo Imperador trazia conceitos e salvaguardas que se assemelhavam a este importante instrumento sem, no entanto, cita-lo explicitamente. Com a publicação em 1830 do Código Criminal do Império, temos o primeiro diploma legal a registrar explicitamente esta medida, sendo o referido Código Criminal revisado em 1832, quando o habeas corpus foi mantido e aprimorado. O gradual progresso deste Remédio se nota na outorga da Lei nº 2033 de 1871, que estendia o benefício da medida também para os estrangeiros, porém, a consolidação constitucional desta medida somente se deu através da Constituição de 1891. Que além de incluir explicitamente a medida em seu texto, consagrou o instituto do habeas corpus, sob a inspiração de figuras como Ruy Barbosa e Pedro Lessa, estabelecendo o que ficou conhecido como a “Teoria Brasileira do Habeas Corpus”. A primeira alteração importante se verificou com a Revisão Constitucional de 1926, quando a “Teoria Brasileira do Habeas Corpus” foi reformulada, e a Constituição Promulgada de 1934 consagrou mais um Remédio Constitucional que foi o Mandado de Segurança, absorvendo este instrumento alguns dos dispositivos da antiga formulação do habeas corpus. A Constituição de 1946 e mesmo a revisão constitucional efetuada pela Ditadura Militar no ano de1967 preservaram de forma intocada o habeas corpus em seus textos, porém, no ano de 1968 o Ato Institucional nº 5 imposto pelo mesmo Governo Militar suspendeu a garantia do habeas corpus para: crimes políticos, contra a segurança nacional, a ordem econômica e a economia popular. O que vigorou até o ano de 1969, quando a eficácia do habeas corpus foi restabelecida através de uma Emenda Constitucional. Finalmente a Constituição Federal de 1988, também conhecida como a Constituição Cidadã estabelece o habeas corpus como instrumento processual Constitucional, e isenta de qualquer custo a quem fizer uso deste instituto. III – CONCEITO E FINALIDADE Direito fundamental que visa à garantia da liberdade individual, o habeas corpus é conceituado como Remédio Constitucional e/ou Jurídico que assegura a liberdade de locomoção do indivíduo. A Constituição Federal de 1988 prevê em seu artigo 5º, LXVIII que: “conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso do poder”. Devendo-se mencionar que o habeas corpus é considerado como garantia ativa, uma vez que pode ser usado como ação para fazer valer o cumprimento de um dever fundamental, que é o direito de ir e vir ou permanecer. Nos termos do artigo 647 do CPP, o habeas corpus está inserido dentre as espécies de recursos, entretanto, embora esteja presente como uma espécie recursal, a sua natureza jurídica é tema controverso na doutrina brasileira. Cumpre mencionar que antes mesmo de ser considerado como um instrumento do processo penal, o Habeas corpus está contido na Constituição Federal de 1988, como Remédio Constitucional. Assim sendo, é considerado como uma ação penal constitucional, de rito especial, uma vez que possui características que o difere de todos os outros meios recursais legais. Segundo o observado nos provimentos do STF, o habeas corpus possui preferencia sobre qualquer outro instrumento, uma vez que: “é a via processual que tutela especificamente a liberdade de locomoção, bem jurídico mais fortemente protegido por uma ação constitucional”. IV – SUJEITOS DO HABEAS CORPUS (PESSOAS) Do processo participam os seguintes sujeitos: A – O Paciente – é aquele que sofre a coação, a ameaça ou a violência consumada, registrando-se ainda que o paciente possa ser: A.1 – Paciente Incapaz – neste caso ser-lhe-á nomeado curador que poderá ser inclusive, o próprio impetrante; A.2 – Vários Pacientes – Se houver mais de um paciente, as condições para concessão da medida, deverão ser atendidas por todos, sendo que um paciente pode impetrar habeas corpus pelos demais; A.3 – Paciente de nome desconhecido – mesmo que o nome do paciente seja desconhecido, no todo ou em parte, poderá o interessado impetrar o habeas corpus, indicando na petição, dados suficientes para invidualiza-lo; A.4 – Paciente em local desconhecido – não é necessário que se saiba onde se encontra o paciente que sofre o constrangimento ilegal, bastando que se indique qual é a autoridade coatora; A.5 – Paciente foragido – a circunstancia de encontrar o paciente foragido, não impede o conhecimento e julgamento do habeas corpus; B – O Impetrante – é a pessoa que maneja o pedido de habeas corpus e pode se confundir com o paciente, isto é, o próprio paciente pode manejar o pedido, independentemente, de ser advogado, por força do art. 654 do CPP e do art. 1º, § 1º do estatuto da OAB; C – O Coator – é a pessoa que exerce o constrangimento, a violência ou a coação sem fundamento legal. Assim sendo prevalece o entendimento de que o habeas corpus pode ser impetrado contra ato de particular, pois a Constituição não fala só em coação por abuso de poder, mas também por ilegalidade. Dessa forma, a doutrina distingue a autoridade coatora (somente no exercício da função pública) e coator (particular ou autoridade pública); D – O Detentor – é quem mantém o pacientesob o seu poder, ou o aprisiona. V – PROCESSO E CABIMENTO A base processual legal do habeas corpus está abrigada no Código Processual Penal iniciando-se no Art. 647 do CPP, e se estendendo até o Art. 667 do mesmo código. Registrando-se a exceção das hipóteses do cabimento nos casos de punição disciplinar. A Constituição Federal de 1988 estabeleceu dois requisitos necessários para a impetração do habeas corpus, quais sejam, a violência ou coação à liberdade de locomoção e a ilegalidade ou abuso do poder. E o nosso CPP detalha a utilização processual e o cabimento, como veremos a seguir: O Art. 648 em suas sete alíneas prevê as condições em que a coação será considerada ilegal, com clareza e objetividade singulares. O Art. 649 deixa bem claro os limites de atuação do juiz e /ou do tribunal, assim como o imediatismo de seu cumprimento. O Art. 650 oferece ao operador do Direito em seus itens e parágrafos uma bula de competências. O Art. 651 estabelece que: “A concessão do habeas corpus não obstará, nem porá termo ao processo, desde que não esteja em conflito com os fundamentos daquela”. O Art. 652 estabelece que: “Se o habeas corpus for concedido em virtude de nulidade do processo, este será renovado”. O Art. 653 e seu paragrafo determinam que as custas do processo de soltura do paciente serão de responsabilidade do sujeito responsável pela coação, em se verificando má-fé ou evidente abuso do poder, com citação ao Ministério público. O Art.654 em seus parágrafos e itens prevê quem e em quais situações poderá ser o impetrante do habeas corpus, além do ofício previsto no 2º paragrafo deste artigo. O Art. 655 descreve uma séria advertência a qualquer ação ou omissão que possa retardar ou dificultar a plena e imediata utilização deste instrumento por parte dos interessados ou necessitados. O Art. 656 reforça o imediatismo e a presteza necessários aos agentes no cumprimento de uma decisão resultante da impetração do habeas corpus. O Art. 657 determina as condições e exceções no tocante á apresentação do paciente, sempre sob o crivo do magistrado ou órgão competente. O Art. 658 define mais um dever de ofício do detentor. O Art. 569 determina que o magistrado ou órgão competente julgue a tempestividade do Habeas Corpus. O Art. 660 determina um prazo de 24 horas, após as diligencias e a oitiva do paciente, para que o juiz decida em função dos seis parágrafos desse artigo. A partir do Art. 661 até o Art. 667, o CPP discorre sobre competências e ritos processuais que são elaborados sempre com o objetivo de dar celeridade e provimento tempestivo as decisões proferidas pelos magistrados ou colegiados competentes. VI - LEGITIMADOS E COMPETENCIA Em regra, competirá conhecer o pedido de habeas corpus a autoridade judiciária imediatamente superior à que pratica ou está em vias de praticar o ato ilegal. Juiz de Direito: Compete aos Juízes de Direito estaduais sempre que a coação for exercida por particulares ou pelas autoridades estaduais. Tribunais de Justiça ou de Alçada: os tribunais de alçada serão competentes originariamente, sempre que a autoridade coatora for Juiz de Direito estadual ou secretário de estado. Juiz Federal: Compete ao Juiz Federal, quando o crime atribuído ao paciente tiver sido praticado pela Polícia Federal. Caso seja o próprio Juiz Federal a autoridade coatora, competirá ao Tribunal Regional Federal a que ele estiver subordinado. Superior Tribunal de Justiça: Competirá ao Superior Tribunal de Justiça, quando o coator ou paciente for Governador de Estado ou do Distrito Federal; órgão monocrático dos Tribunais Estaduais ou dos Tribunais Regionais Federais, membros dos Tribunais de Contas dos Estados ou do Distrito Federal; dos Tribunais Regionais Eleitorais; dos tribunais Regionais do Trabalho; dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e do Ministério Público da União que oficiem perante Tribunais ou quando o coator for Ministro de Estado. Supremo Tribunal Federal: Será competente quando for o Presidente da República, o Vice-Presidente, os Membros do Congresso Nacional, os seus próprios Ministros, o Procurador-Geral da República, os Ministros de Estado, os Membros dos Tribunais Superiores, os dos Tribunais de Contas da União e os Chefes de Missões Diplomáticas. REFERENCIAS: CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal – Ed. São Paulo; NUCCI, Guilherme. Leis penais e Processuais Comentadas – Ed. São Paulo; LAZARO, Cintia. Artigo Jurídico- Direitonet; SANTIAGO, Emerson. Direito info-escola. VADE MECUM, Estácio. ___________________________________________________________________________ Roquiran Miranda Lima – matrícula: 201401361641
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