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HABEAS CORPUS

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UNIVERSIDADE TIRADENTES
DIERITO NOTURNO 
DIREITO CONSTITUCIONAL III
XXXXXXXXXXX
XXXXXXXXXXXXX
 HABEAS CORPUS
ARACAJU-SE 
2020.
XXXXXXXXXX
 HABEAS CORPUS
XXXXX apresentada como pré-requisito de avaliação da disciplina de Direito Constitucional III, ministrada pelo professor: XX, no 2º semestre de 2020.
ARACAJU-SE
2020.
 HABEAS CORPUS
A Constituição Federal, dentre outras garantias individuais, prevê a possibilidade de habeas corpus, no sentido de oferecer meios aos cidadãos para provocar a intervenção das autoridades competentes visando sanar ou corrigir ilegalidade ou abuso de poder.
O habeas corpus tem a função precípua de proteger a liberdade de locomoção, quando esta esteja ameaçada ou em vias de sofrer ameaça por ilegalidade ou abuso de poder.
I- ORIGEM:
No Brasil, foi somente no ano de 1832 que o habeas corpus ganhou previsão no Código de Processo Criminal. Contudo, a Constituição Imperial, ainda que não o tenha consagrado como garantia, dispôs em seu texto um artigo em sentido semelhante, no qual já se observava a semente do mesmo como um direito, e posteriormente como remédio constitucional: “ninguém poderá ser preso sem culpa formada, exceto nos casos declarados na lei; e nestes dentro de 24 horas contadas da entrada na prisão, sendo em cidades, vilas ou outras povoações próximas aos lufares da residência do juiz” [...] (art. 179, VIII). A prisão ilegal já era objeto de proteção jurídica, sendo estendida também aos estrangeiros em 1871 com Lei 2.033.
A partir de 1891 fora elevada ao texto constitucional estando presente em todas as demais desde então editadas. Em relação a documentos internacionais está prevista na Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), art. 8º; na Convenção Europeia (1950), art. 5º, IV; na Convenção Americana sobre Direitos Humanos, art. 7º, por exemplo, e em outros documentos internacionais que visam a proteção dos direitos humanos.
Teve ampliação do seu alcance no Brasil, não se restringindo apenas aos casos de prisão ilegal, mas a qualquer ato constritivo direta ou indiretamente à liberdade, ainda que se refira a decisões jurisdicionais não vinculadas à decretação da prisão. Um exemplo disso é sua utilização para o trancamento do inquérito policial ou ação penal em que não houver justa causa para sua instauração ou prosseguimento, bem como nos casos em que a finalidade é impedir o indiciamento injustificado.
II- “DOUTRINA BRASILEIRA DO HABEAS CORPUS”.
Corrente teórica encabeçada por Ruy Barbosa no final do século XIX e início do século XX que, em razão da carência de remédios constitucionais, buscou ampliar as hipóteses de cabimento do habeas corpus para salvaguardar outros direitos constitucionais além do direito de ir e vir.
Pela primeira vez tivemos a constitucionalização do habeas corpus: “art. 77, §22. Dar-se-á o habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer ou se achar em iminente perigo de sofrer violência ou coação por ilegalidade ou abuso de poder”.
Formou-se, dessa forma, a denominada “doutrina brasileira do habeas corpus”, que permitia a utilização desse recurso não somente para a tutela da liberdade de locomoção, mas para os demais direitos que tinham como pressuposto básico a locomoção.
III- NATUREZA JURÍDICA:
Possui natureza jurídica de ação constitucional, porque prevista na Constituição, embora tenha sido incluído no Código de Processo Penal no capítulo dos recursos. Salienta-se que não é recurso, mas, sim, ação autônoma. Possui procedimento sumário e gratuito, conforme art. 5º, LXXVII da CF/88: “são gratuitas as ações de habeas corpus e habeas data, e, na forma da lei, os atos necessários ao exercício da cidadania”. Pode ser utilizado como ação cautelar, declaratória ou constitutiva (CPP, art. 648, I a V) ou como ação rescisória constitutiva negativa (CPP, art. 648, VI e VII). Abrange tanto a esfera penal como a civil, desde que haja constrangimento ilegal efetivo ou potencial a liberdade de ir e vir.
 Cita-se como exemplos de sua utilização na esfera civil as questões referentes à prisão civil por débitos alimentares ou de depositários infiéis e a internação irregular em hospital psiquiátrico.
IV- ESPÉCIES DE HABEAS CORPUS.
Existem duas espécies de habeas corpus, ambos previstos constitucionalmente: o liberatório e o preventivo.
O habeas corpus liberatório ocorre quando já foi praticado o ato ilegal ou abuso de poder. Possui o objetivo de afastar a sujeição ilegal à liberdade de locomoção visando elidir do constrangimento ou coação àquela pessoa que se encontra presa por tais abusos. Quando prestado, expede-se um alvará de soltura e o preso é posto em liberdade.
 O habeas corpus preventivo é aquele em que a ordem concedida visa assegurar que a ilegalidade ameaçada não chegue a ser consumada. Nesse caso, não há uma ameaça atual e concreta à liberdade de locomoção do paciente, mas sim uma situação de iminência de sofrer uma violência ou coação na sua liberdade ambulatória por ilegalidade ou abuso de poder. Assim, quando é concedido tal remédio, expede-se um salvo-conduto e, por através deste, o paciente recebedor do remédio fica impedido de ser privado de sua liberdade pelo fato que culminou a apreciação do writ pela autoridade prevista para tanto.
V- APONTE E EXPLIQUE AS CONDIÇÕES DA AÇÃO DE HABEAS CORPUS.
A primeira condição de ação é verificar a possibilidade jurídica do pedido. Isto é: é preciso mostrar que alguém está preso ou na iminência de ser. Além do mais, tem que ser líquido e certo – que não desperte nenhuma dúvida.
O habeas corpus preceder-se-á por petição inicial, diante dos requisitos do código de processo penal art. Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.
§ 1o A petição de habeas corpus conterá:
a) o nome da pessoa que sofre ou está ameaçada de sofrer violência ou coação e o de quem exercer a violência, coação ou ameaça;
b) a declaração da espécie de constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que funda o seu temor;
c) a assinatura do impetrante, ou de alguém a seu rogo, quando não souber ou não puder escrever, e a designação das respectivas residências.
Ao fazer a petição inicial jamais pode-se esquecer do que preceitua o artigo 654, § 1, b, do Código de Processo Penal, pois é justamente o fundamento da Petição – onde declarará a espécie do constrangimento ou, em caso de simples ameaça de coação, as razões em que você funda o seu temor. 
VI- É CORRETO DIZER QUE O HABEAS CORPUS SOMENTE PODE SER IMPETRADO POR MEIO DE ADVOGADO?
Não, pois “O Habeas Corpus pode ser impetrado por qualquer pessoa, inclusive pelo próprio beneficiário, tenha ou não capacidade postulatória." 
Como prescreve o artigo 5º, inciso XXXIV, da Constituição Federal, promulgada em 5 de outubro de 1988: "são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas: a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;". Pelo que se observa do texto, não está explicitamente demonstrado se podem, os cidadãos, peticionar só para si, ou também o podem para outros. A nós nos parece que podem tanto para si como para outros, pois se assim não fosse, o legislador, ter-lhe-ia acrescentado sem dúvida o vocábulo pessoal, assim como o fez na letra "b" do mesmo artigo e inciso. E também nos termos do artigo 654 "caput", do Código de Processo Penal.
VII- CABE HABEAS CORPUS QUANDO NÃO HOUVER JUSTA CAUSA PARA A INVESTIGAÇÃO CRIMINAL?
Em regra não, o trancamento do inquérito policial ou da ação penal constitui medida excepcional e somente pode ser procedido nos casos de atipicidade do fato, ausência de indícios e fundamentos da acusação, ou extinção da punibilidade.
"A justa causa é prevista de forma expressa no Código de Processo Penal e constitui condição da ação penal, consubstanciada no lastro probatório mínimo e firme, indicativo da autoria e da materialidade.
A profundidade cognitiva para o reconhecimento ou não da justa causa na persecução penaldeve se dar de forma superficial, mediante prova pré-constituída, isto é, existindo suspeita fundada do crime e de sua autoria, justifica-se a instauração do processo penal. Portanto, o trancamento da ação penal por habeas corpus é medida excepcional.
Neste contexto, exige-se para tanto que, reste demonstrada, de forma inequívoca, a ausência de indícios de autoria ou de materialidade, a violação dos requisitos legais exigidos para a denúncia, a atipicidade da conduta ou a ocorrência de causa extintiva da punibilidade. (...).
Não se admite, em regra, HABEAS CORPUS para 'trancar' inquérito policial. Isso porque o Judiciário não pode paralisar o exercício regular da atividade policial e tampouco subtrair do Ministério Público, titular da ação pública, a opinio delicti. Cumpre esclarecer que a jurisprudência dos Tribunais Superiores apenas admite o trancamento do inquérito policial ou de ação penal em hipóteses excepcionais, quando se constata, sem o revolvimento de matéria fático-probatória, a ausência de indícios de autoria e de prova de materialidade, a atipicidade da conduta e a extinção da punibilidade (...), (RHC 72.074/MG, Quinta Turma, DJe 19/10/2016), o que não corresponde ao caso em exame."
(Acórdão 1006225, 20170020055123HBC, Relatora: ANA MARIA AMARANTE, 1ª Turma Criminal, data de julgamento: 23/3/2017; publicado no DJe: 31/3/2017)
 
VIII- EM SEDE DE HABEAS CORPUS, ADMITE-SE DILAÇÃO PROBATÓRIA?
A dilação probatória ocorre quando o juiz concede um aumento no prazo para que sejam produzidas as provas do processo. Sendo que é um direito líquido e certo que o habeas corpus visa a tutelar é a liberdade de locomoção. Em verdade, se é direito, é porque é líquido e certo, pois o que se quer dizer é que o fato alegado é irrefutável, indiscutível. Ora, sendo o habeas corpus um remédio jurídico que tem como escopo proteger um direito líquido e certo específico, que é a liberdade de locomoção, a prova demonstrativa deste direito é pré-constituída, já que tem de ser previamente produzida. 
Disse bem Paulo Rangel (Direito processual penal, 20ª edição, pág. 1042) que a natureza jurídica do habeas corpus não permite, assim, maior dilação probatória, já que ao paciente compete o ônus de provar a ilegalidade que alega em sua petição inicial.
IX- É CABÍVEL A CONCESSÃO DE LIMINAR EM HABEAS CORPUS?
Devido ao destacado papel constitucional do habeas corpus como remédio heroico de proteção ao direito à liberdade de locomoção. E devido à urgência e importância do instituto, o mesmo tem um procedimento simplificado, visando rápida solução da controvérsia fazendo cessar a coação ilegal à liberdade o mais rápido possível, mas mesmo tratando-se de procedimento simplificado e conciso, é possível a concessão de liminar, logo de plano mesmo sem expressa previsão legal.
“O trâmite do habeas corpus já é célere o suficiente para permitir o julgamento do mérito, independentemente da liminar. Entretanto, em alguns casos, a medida antecipatória realmente se torna indispensável. Ilustrando, ser preso preventivamente, quando as provas dos autos indicam ter o agente atuado em legítima defesa, contrariando o disposto pelo art. 3314 do CPP, requer liminar para liberar o detido ou para impedir a prisão do acusado.”
	
X- CABE RECURSO CONTRA SENTENÇA CONCESSIVA OU DENEGATÓRIA DE ORDEM DE HABEAS CORPUS?
 
Recurso ordinário constitucional (roc) 
O recurso ordinário é um recurso de índole constitucional, tendo em vista que está previsto expressamente na Constituição Federal. O ROC é na verdade, O NOME DO RECURSO EM SEDE DE HABEAS CORPUS. Assim, denegada a ordem de habeas corpus por um TRIBUNAL, o recurso cabível será o ROC. Já se a ordem de habeas corpus for concedida ou denegada por um Juiz, o recurso é o RESE para o TJ ou TRF, embora em caso de denegação a via mais rápida seja mesmo o HC. 
As hipóteses de cabimento do ROC, em matéria penal podem ser sistematizadas da seguinte forma: para o STF
 a) Quando houver decisão denegatória de Habeas Corpus decidido em única instância pelos Tribunais Superiores. (Art. 102, II, a, CRFB/88)
 b) Quando houver decisão que julgar crime político. (Art. 102, II, b, CRFB/88)
Contudo, atenção aos seguintes detalhes: 
1) Somente cabe ROC de decisões denegatórias de Habeas Corpus, ou seja, NÃO caberá ROC diretamente para o STF se a decisão for concessiva de Habeas Corpus; 
2) A decisão denegatória deve ser em único a instância, ou seja, deve ser uma hipótese de habeas corpus julgado em competência originária, portanto decidido por Tribunais Superiores (são considerados Tribunais Superiores o STJ, o TSE, o TST e o STM); 
3) Em relação ao ROC contra decisão que e julgar crime político, vale lembrar que os mesmos estão definidos na Lei nº 7.170/1983, que elenca os crimes contra a segurança nacional, a ordem política e social. Em relação a esta hipótese de ROC o que vale é que a decisão seja relacionada a um crime político, podendo ser decisão de juiz de primeiro grau (a competência é do juiz federal, conforme art. 109, IV, da CRFB/88), de Tribunal (o Tribunal competente é o Tribunal Regional Federal quando houver autoridade com foro privilegiado neste Tribunal) ou de Tribunal Superior (Tribunal Superior é o Superior Tribunal de justiça quando houver autoridade com foro privilegiado neste Tribunal). Em qualquer das decisões proferidas por estes órgãos do poder judiciário relacionadas ao crime político, o recurso cabível das decisões será o ROC diretamente para o STF. 
REFERENCIAS: 
LOPES JR., Aury. Direito Processual Penal, 11 ed. – São Paulo: Saraiva, 2014
JURISPRUDÊNCIA: Acórdão 1006225, 20170020055123HBC, Relatora: ANA MARIA AMARANTE, 1ª Turma Criminal, data de julgamento: 23/3/2017; publicado no De: 31/3/2017)
ROMANO, Rogério Tadeu- NÃO HÁ DILAÇÃO PROBATÓRIA NO HABEAS CORPUS: https://jus.com.br/artigos/75017/nao-ha-dilacao-probatoria-no-habeas-corpus
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