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Habeas Corpus em Moçambique

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Hélder Henrique Mate
	
O não uso da Providência do Habeas Corpus: Caso dos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza (2014-2016)
Universidade São Tomas de Moçambique
Faculdade de Ética, Ciências Humanas e Jurídicas
Delegação de Gaza
Xai-Xai, Fevereiro 2018
	
	
Hélder Henrique Mate
O não uso da Providência do Habeas Corpus: Caso dos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza (2014-2016)
	Monografia a ser Apresentada na USTM, para efeitos de Obtenção do Grau de Licenciatura, Curso de Direito, sob orientação do dr. Tomas Pinto Langa
Universidade São Tomas de Moçambique
Faculdade de Ética, Ciências Humanas e Jurídicas
Delegação de Gaza
	Xai-Xai, Fevereiro 2018	
	
	
Declaração de Autenticidade
Eu, Hélder Henrique Mate, declaro que este Trabalho de Fim de Curso, é resultado de minha pesquisa pessoal e independente, o seu conteúdo é original e todas fontes consultadas estão devidamente mencionadas no texto e na bibliografia.
Declaro por minha honra que o trabalho que será apresentado é da minha autoria, é resultado da minha investigação. Esta e a primeira vez que submeto para obtenção do grau académico numa instituição de ensino superior. 
__________________________
Hélder Henrique Mate
__________________________
Dr. Tomas Pinto Langa
Dedicatória
Dedico este trabalho aos meus pais Henrique Alfredo e Violeta Júlio (em memoria), minha namorada Regiana Chiluvane, minha filha Violeta Hélder, que me encorajaram a lutar ao longo da vida apesar da vida e da ocupação profissional e social eles tiveram um contributo imensurável ao longo deste período.
Agradecimentos
O trabalho que será apresentado foi elaborado no âmbito do fim do curso de licenciatura em direito, na Universidade São Tomas de Moçambique. Os meus votos de gratidão vão para a Câmara Municipal de Cascais (Portugal), a ONG Um Pequeno Gesto Uma Grande Ajuda (Portugal), as Irmãs Dominicanas de Santa Catarina de Sena e os docentes da Universidade São Tomas de Moçambique, especialmente dr. Luís Alfredo Tonecas Vianeque, dr. Langa António Bilate, e dr. Tomas Pinto Langa, pelos aconselhamentos e apoio que me concederam ao longo do curso.
Igualmente vão os meus agradecimentos a todos os meus colegas do curso e da turma, especialmente Cristiano Massave, Armando Octávio, Alfredo Chambe, Arménio Uamusse, António Tamele, José Luís, Neima Segredo, Vanessa da Pureza, Margarida Coelho e Celeste Elvira, meus companheiros durante a formação.
Os meus agradecimentos estendem-se para minha esposa Regiana Chiluvane, pelo afecto e carinho.
Por fim agradeço imensamente aos diversos informantes nomeadamente a comunidade, na Cidade de Xai-Xai, os detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza, e junto a 2ª Esquadra, os residentes e líderes comunitários que de forma directa ou indirectamente deram seu contributo para feitura deste trabalho do fim do curso.
Resumo
Este trabalho, a matéria relativa a providência do habeas corpus, que se encontra previsto no art.º 66º CRM e nos artigos 312º e Segs. do CPP. Como mecanismo de tutela da liberdade individual interessa-nos aferir o preceituado no artigo 312º sobre a providência inominada do habeas corpus e bem como a providência extraordinária do habeas corpus, prevista e regulada pelo art.º 315º CPP, em virtude de prisão ilegal, prazos para prisão preventiva vencida, ordens de captura proferidas por entidades sem competência para tal. Esta figura constitui-se como um instrumento jurídico reconhecido a nível constitucional e que funciona como uma garantia dada pela própria CRM contra decisões que atentem contra o direito à liberdade: um direito fundamental extremamente importante no ordenamento jurídico moçambicano. A rapidez no seu processamento, o princípio da actualidade a ter em conta no momento da decisão e todo o condicionalismo que o envolve, provam-o. Como reforço das ideias de importância e urgência que revestem este instituto, surgem-nos “o facto de a petição ser dirigida ao Juiz do Tribunal da Província para o caso da providência inominada do Habeas corpus (art.º 312º CPP) e para próprio presidente do Tribunal Supremo quando tratar-se da providência extraordinária do Habeas Corpus (art.º 315º CPP). O facto de a petição poder ser formulada por qualquer cidadão no gozo dos seus direitos para além, como é óbvio, do próprio cidadão privado da liberdade. 
Palavras-chaves: Providência do Habeas corpus.
Abstract          
This paper deals with the habeas corpus provision, which is foreseen in Article 66 CRM and Articles 312 and next. Of the CPP. As a mechanism for safeguarding individual liberty we are interested in assessing the provisions of article 312 on the unnamed providence of habeas corpus and the extraordinary measure of habeas corpus, contemplated and regulated by article 315 of the CPP, by unlawful arrest, deadlines for detention pending expiry, orders of capture issued by entities without competence to do so. This figure is constituted as a legal instrument recognized at constitutional level and acts as a guarantee given by the CRM itself against decisions that violate the right to freedom: an extremely important fundamental right in our legal system. The speed of its processing, the principle of topicality to be considered at the time of the decision and all the constraints that surround it, prove it.  To reinforce the ideas of importance and urgency of this institute, we have "the fact that the petition is addressed to the Judge of the Court of the Province in the case of the innate action of Habeas corpus (art. º 312th CPP), Supreme Court when it is the extraordinary measure of Habeas Corpus (art. 315th CPP).  The fact that the petition can be formulated by any citizen in the enjoyment of his rights besides, of course, the citizen himself deprived of liberty. 
Key-Words: Providence of Habeas Corpus.
21
Índice
Declaração de Autenticidade	iii
Dedicatória	iv
Agradecimentos	v
Resumo	vi
Abstract	vii
Lista de abreviaturas/ acrónimos	xii
1.	Introdução	13
1.1.	Delimitação do tema	15
1.2.	Resultados esperados	15
2.	Problema	16
2.1.	Justificativa	16
2.2.	Objectivos	16
2.2.1.	Objectivo geral	17
2.2.2.	Objectivos específicos	17
2.3.	Hipóteses	17
3.	Metodologia	19
3.1.1.	Observação participante	19
3.1.2.	Instrumentos	20
3.1.3.	Entrevista	20
3.2.	População e amostra	21
Capítulo I	22
REVISÃO DE LITERATURA	22
1.1.	Conceitos básicos	22
Capítulo II	33
PROVIDÊNCIA DO HABEAS CORPUS	33
2.1.	Conceito e origem do habeas corpus	33
2.2.	Evolução Histórica do Habeas Corpus	33
2.3.	Modalidades de Habeas Corpus	38
2.3.1.	Habeas Corpus liberatório	39
2.3.2.	Habeas Corpus preventivo	39
Capítulo III	40
HABEAS CORPUS EM MOÇAMBIQUE DESDE A INDEPENDÊNCIA ATÉ A CONSTITUIÇÃO DE 1990	40
3.1.	Constituição da República de Moçambique de 2004	41
3.2.	Pressupostos e Fundamentos da petição do Habeas Corpus	44
3.3.	Quem pode requerer a providência do habeas corpus	45
3.4.	Quem pode conceder ao habeas corpus	45
3.5.	Deferimento ou indeferimento da petição do habeas corpus	45
3.6.	Análise crítica dos fundamentos do habeas corpus	46
Capítulo IV	48
DIREITO COMPRADO	48
Comparação do uso da providência do habeas corpus em três países	48
4.1.	O habeas corpus em Portugal	48
4.2.	O habeas corpus no Brasil	48
4.3.	Análise Critica da comparação (Moçambique, Portugal e Brasil)	50
Capítulo V	52
APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS	52
5.1.	Execução da providência do habeas corpus na cidade de Xai-Xai	53
5.2.	Análise critica das entrevistas sobre o habeas corpus	54
5.3.	Falta de informação sobre os direitos	55
5.4.	Impacto do desconhecimento da providência do	56
Conclusão	49
Sugestões	li
Bibliografia	lii
Apêndice e anexos	lvi
Anexos	lviii
Lista de abreviaturas/ acrónimos 
Al. – Alínea 
CADHP – Carta Africana do Direitos do Homem e dos Povos
CP – Código Penal
CPP – Código do Processo Penal
CRM - Constituição da República de Moçambique de 2004
DEC.-Lei – Decreto-Lei
Dr. – Doutor
DUDH– Declaração Universal dos Direitos Humanos
EPPG – Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza
IPAJ – Instituto de Patrocínio e Assistência Jurídica
LDH – Liga dos Direitos Humano
LOJ – Lei da Organização Judiciária 
MP - Ministério Público
Nº - Número
PIDCP - Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos
SEGS - Seguintes
TIR – Termo de Identidade e Residência 
TS – Tribunal Supremo 
UDP – Unidade de Detenção Preventiva
1. Introdução 
As relações sociais, ditaram o surgimento de novos factos e comportamentos, onde alguns colidiam com os interesses da outra parte, havendo assim, a necessidade de se prever que tipos de comportamentos devem ser adoptados, de modo a evitar colidir com as diretrizes. Na medida em que o número do povo, aumentava também o índice de factos que colidiam com a norma. E como consequência houve também a necessidade de limitar a liberdade de todo os indivíduos mal se comportam, porém, acontece que nalguns casos essa limitação da liberdade era arbitrária, ou não tinha fundamentos legais para a sua execução. Entre tanto, partindo desses factos o presente trabalho tem como tema “O não uso da Providência do Habeas Corpus: Caso dos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza (2014-2016)”.
O tema enquadra-se no direito público concretamente no direito Constitucional e Processual Penal, pois neste “ramo” que se encontram as relações que são estabelecidas entre o Estado e o Cidadão, sendo que o Estado que é o detentor do "ius puniendi", isto é, o poder de punir.
Moçambique é um Estado de direito democrático conforme dispõe o art.º 3 CRM, e de acordo com nº 1 do art.º 253 também da CRM, todos os actos praticados pelos seus órgãos têm de estar em estrita observância com a lei. E em relação ao tema que se pretende abordar tem sua previsão legal na Constituição da República de Moçambique no seu artigo 66º da CRM, no capítulo das liberdades garantias e direitos individuais. 
A questão jurídica que se coloca é “Porque razão os detidos na UDP, junto à 2ª Esquadra da PRM e no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza não usam a Providência do Habeas Corpus”? que é uma garantia jurídica que assiste aos cidadãos, com a situação do prazo da prisão preventiva vencida, mandados de captura emitidos por órgãos incompetentes ou detenções ilegais.
A partir do Código do Processo Penal de 1929, Moçambique transportou a providência do Habeas Corpus para o ordenamento Jurídico-constitucional Moçambicano de 1990 e de 2004 no seu art.º 66. A legislação ensina como, onde e em que prazos, se deve decidir sobre ela. 
É neste contexto que o trabalho tem como objectivo geral: analisar o impacto do não uso da providência do habeas corpus pelos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza e na Unidade de Detenção Preventiva junto à 2ª Esquadra da PRM, pois, apesar da existência das normas, o grau de prática da no uso na Cidade de Xai-Xai, tende a manter-se estático. 
O habeas corpus para além de ser um simples requerimento, reúne requisitos suficientes que constituem seus fundamentos que é caracterizado por ser uma acção gratuita e flexível no seu processamento, e por outro lado não precisa de um tribunal específico para conhecer do pedido pelo facto de se ter alargado as competências para todos os tribunais, com a entrada em vigor da lei nº 24/2007, de 20 de Agosto (Lei da Organização Judiciária). 
O estudo trás uma discussão que poderá dar entendimento exaustivo e perceber a razão do seu não uso pela sociedade e em especial pelos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza.
O trabalho encontra-se organizado em cinco capítulos:
E começa com a introdução e o primeiro capítulo trás, a revisão da literatura, que por sua vez, demonstra os principais conceitos basilares do trabalho.
O segundo capítulo apresenta o debate histórico dos traços gerais do surgimento do habeas corpus e bem como a sua evolução ao longo do tempo.
O terceiro capítulo aborda a matéria atinente ao habeas Corpus em Moçambique desde a Independência até ao ordenamento jurídico Constitucional e Processual Penal
O quarto capítulo de análise e discussão de dados, apresentando os resultados do estudo de caso do não uso da providência do habeas corpus espelhando em concreto a situação do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza, instituições subsidiárias e pessoas envolvidas.
E por último o quinto capítulo visa fazer comparação entre diferentes ordenamentos jurídicos no que diz respeito a matéria em estudo, portanto é reservado para o direito comparado e a conclusão.
1.1. Delimitação do tema
De acordo com ECO (2002:82):
Um bom título já é um projecto”. Ele se constitui após a escolha do tema da pesquisa e é resultado de uma delimitação deste, pois se o tema é demasiado amplo, precisa ser mais recortado. O tema envolve a questão “o que pesquisar?”. O título além desta última, envolve já também as outras – “quando e onde? 
 Para LAKATOS & MARCONI (1989:101):
Discutindo sobre a apresentação da pesquisa, afirmam que “o título, acompanhado ou não por um subtítulo, difere do tema. Enquanto este último sofre um processo de delimitação e especificação, para torna-lo viável à realização da pesquisa, o título sintetiza o conteúdo da mesma.” Por isso, o título é o último item a ser definido. Porém, deve-se caminhar na construção do projecto com títulos provisórios que vão sendo ultrapassados, readequados, lapidados, até se chegar ao título definitivo.
Como forma de delimitar o trabalho, torna-se necessário delimitar nitidamente os limites temporais, espaciais, temáticos e legais por onde o trabalho será circunscrito. Neste diapasão a pesquisa foi realizada no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza, e na Unidade de Detenção Preventiva, junto à 2ª Esquadra da PRM, no período temporal compreendido entre 2014 até 2016. Porém este trabalho enquadra-se no Ramo do Direito Público, especificamente na cadeira de Direito Constitucional e Direito Processual Penal, e tem a fundamentação legal na CRM e no CPP.
1.2. Resultados esperados 
É óbvio que qualquer artigo cientificamente elaborado tem se a espectativa que o mesmo sirva como uma luz em relação determinado assunto, isto é, abrir o horizonte, ou seja iluminar o percurso com um objecto claro que é a mudança do comportamento, tanto na forma de ser e agir dos envolvidos. Desta forma espera-se que a partir do presente trabalho, o Estado Administração fomente campanhas de educação cívica, seja melhor os órgãos de justiça, tragam um novo ímpeto, naquilo que é a observação dos direitos fundamentais dos cidadãos sob privação da liberdade, não só em Xai-Xai, mas também em todo o país. 
2. Problema
A República de Moçambique é um Estado de Direito democrático, o que significa que todos os actos praticados pelos seus órgãos, devem estar em estreita observância com a lei. O nº 3 do art.º 2 da CRM de 2004, dá grande realce as liberdades, garantias e direitos individuais aos cidadãos, e também como a matéria relativa a providência do habeas corpus como é o caso do art.º 66 da CRM. 
Como consequência da inobservância de preceitos legais relativos ao habeas corpus, verifica-se a violação dos direitos fundamentais dos cidadãos principalmente o direito a liberdade nos termos do nº 1 do art.º 55, 56 e o princípio de presunção de inocência plasmado no nº 2 do art.º 59º todos da CRM, o que nos leva a seguinte questão de partida.
· Porque razão os detidos na UDP, junto à 2ª Esquadra da PRM e no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza não usam a Providência do Habeas Corpus?
2.1. Justificativa
A escolha deste tema para o presente trabalho, deve-se justamente pelo facto de ser pertinente para analisar o grau de conhecimento da providência do habeas corpus pelos detidos no concerne o uso das garantias constitucionais, deparando-se com situações de violação e incumprimento do preceituado na legislação moçambicana, sendo que se assiste muitas vezes cidadãos detidos e permanecer por tempos longos sem a situação prisional regularizada.
2.2. ObjectivosOs objectivos brotam da problemática. As questões colocadas à realidade aparecem aqui na forma de intenções a serem perseguidas pelo projecto. Não importa que aqui se repita o que já foi dito. O importante é que se diga, em poucas palavras, qual o centro e a periferia da pesquisa. O centro constitui o objectivo geral e a periferia, os objectivos específicos. Estes últimos não podem estar dissociados do primeiro, mas devem ser mais concretos, e indicar pequenas respostas que devem conduzir à resposta maior. 
Para BASTOS e KELLER (1996:57), o objectivo geral deve conter “o que pretende o pesquisador no desenvolvimento do assunto [...]” e os objectivos específicos são uma “abertura do objectivo geral em outros menores, que constituirão possíveis capítulos no decorrer da estruturação do trabalho”.
2.2.1. Objectivo geral
Analisar o impacto do não uso da providência do habeas corpus pelos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza e na Unidade de Detenção Preventiva junto da 2ª Esquadra da PRM.
2.2.2. Objectivos específicos
a) Identificar as fragilidades que a lei apresenta no que diz respeito ao uso da providência do habeas corpus;
b) Demonstrar a desvantagem de não aplicação da Providência do habeas corpus;
c) Explicar a razão do não uso do habeas corpus;
d) Propor possíveis soluções para estancar o desconhecimento do habeas corpus como um dos meios de restituição da liberdade individual.
2.3. Hipóteses
Segundo RUDIO (1978:77): 
Hipótese é uma suposição que se faz na tentativa de explicar o que se desconhece. Esta suposição tem por característica o facto de ser provisória, devendo, portanto, ser testada para a verificação de sua validade. Trata-se de antecipar um conhecimento na expectativa de que possa ser comprovado.
Para GIL, (1991:98):
Hipótese é uma suposição que pode ser colocada à prova para determinar sua validade.
Neste sentido, hipótese é uma suposta resposta ao problema a ser investigado. A origem das hipóteses poderia estar na observação assistemática dos factos, nos resultados de outras pesquisas, nas teorias existentes, ou na simples intuição 
O que se oferece apontar as seguintes hipóteses: 
H0: É possível que um dos factores que contribui para o não uso do habeas corpus seja o facto da legislação Moçambicana abrir espaço para aplicação de outros meios de restituição da liberdade individual.
H1:Eventualmente a falta do conhecimento das normas jurídicas.
H2: A possibilidade da falta de prática no uso da providência do habeas corpus, seja o vector da sua exclusão na aplicação dos meios de defesa da liberdade individual, principalmente para os detidos. 
3. Metodologia
Para atingir os objectivos acima referidos e testar as hipóteses far-se-á combinação de vários métodos e técnicas de colecta de dados a saber: método dedutivo que de acordo com CERVO e BERVIAN (2002:32), baseia-se na generalização de propriedades comuns a certos números de casos, até agora observados, a todas as ocorrências de factos similares que se verificam no futuro. Portanto a pesquisa será dedutiva, pois parte do geral para o particular e é combinado com o método quantitativo. A razão da aplicação destes métodos deve-se ao facto de serem mais adequados para a explicação deste fenómeno jurídico. Com esta abordagem será descrita e analisada a complexidade do desconhecimento da Providência do Habeas Corpus na Cidade de Xai-Xai., 
3.1. Técnicas e instrumentos de recolha de dados 
Segundo MORESI (2003:137):
Técnica de recolha de dados como "o conjunto de processos e instrumentos elaborados para garantir o registro das informações, o controle e a análise dos dados" salientando, desta forma, a ambiguidade e inconsistência na distinção entre técnicas e instrumentos. Ambiguidade está que, no nosso parecer advém das várias traduções e adaptações feitas dos conceitos Ingleses de methods, strategies, techniques, instruments, e até mesmo design.
3.1.1. Observação participante
Segundo EVERTSON e GREEN, (1996:161): 
Observação participante é um conjunto de utensílios de recolha de dados e um processo de tomadas de decisão. Estas investigadoras identificam quatro tipos principais de registo e de gravação dos dados na fase da observação. São eles: os sistemas categoriais, descritivos, narrativos e tecnológicos. 
Os sistemas categoriais são considerados fechados uma vez que as unidades de observação são sempre pré-definidas. E reflectem as atitudes filosóficas, teóricas, empiricamente deduzidas ou formadas a partir da experiência pessoal do investigador.
 EVERTSON e GREEN, (1986:169):
Num sistema fechado, o observador está limitado unicamente ao registo dos itens que surgem na lista das variáveis previamente definidos, enquanto num sistema aberto ele apreende aspectos mais alargados do contexto. Os sistemas descritivos “tendem a basear-se numa análise retrospectiva de acontecimentos já registados. (…) Além disso, os sistemas descritivos encontram-se intimamente ligados aos registos de tipo tecnológico.
Os sistemas narrativos, baseiam-se na elaboração de um registo escrito dos dados numa linguagem corrente do quotidiano.
 Este registo pode faz-se no momento da observação de um acontecimento ou de um desenrolar de um conjunto de acontecimentos que decorreram num período de tempo. O estudo a ser apresentado teve como base a colecta de dados através de participação directa da actividade de campo, no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza, na UDP, junto à 2ª Esquadra, Tribunal, IPAJ e no seio da sociedade como pesquisador. 
3.1.2. Instrumentos
Segundo MARCONI & LAKATOS (1999:100)
Enquanto instrumento de recolha de dados, o questionário oferece uma grande vantagem pelo facto de não exigir uma exaustiva preparação dos inquiridos e consequentemente ameniza os custos sob ponto de vista do tempo e maximiza os ganhos. O questionário também facilita a análise e interpretação dos dados na medida em que as respostas obtidas são logo a priori padronizadas.
 Assim, o pesquisador usará questionário misto composto por perguntas abertas e fechadas que será dirigido a reclusos e a sociedade na cidade de Xai-Xai.
3.1.3. Entrevista 
Segundo RICHARDSON (1989:103):
São priorizadas entrevistas semiestruturadas pois servirá de base para conhecer causas do não uso da providência do Habeas Corpus na cidade de Xai-Xai, razão pela qual será necessário mostrar o contacto entre o pesquisador e as diversas pessoas que estão a viver esta realidade no terreno. 
Este instrumento para além de permitir ao entrevistado de forma livre responder as questões colocadas, concede ao entrevistador a possibilidade de fazer mais perguntas diferentes das pré-concebidas que mostram pertinentes para a percepção do fenómeno.
As entrevistas foram dirigidas às pessoas supramencionadas, nomeadamente aos indivíduos detidos e com o prazo da prisão preventiva vencido, detidos por mandados emitidos por entidades incompetentes, aos Tribunais Judiciais.
3.2. População e amostra
 Segundo MARKONI e LAKATOS (2001:108), o universo ou população “é o conjunto de seres animados que apresentam pelo menos umas características em comum”. 
Ainda de acordo com MARKONI e LAKATOS (2001:108); conceiptuam que Amostra “Constitui uma porção ou parcela, convenientemente seleccionada do universo (população); é um conjunto de universo”.
 A pesquisa terá como grupo alvo, os internos do Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza, e os detidos na Unidade de Detenção Preventiva (UDP) junto a 2ª Esquadra, na Cidade de Xai-Xai. 
Capítulo I
REVISÃO DE LITERATURA
1.1. Conceitos básicos
a) Habeas Corpus- é uma expressão em latim que significa “que tenhas o corpo”[footnoteRef:1]. (a expressão completa é habeas corpus ad subjiciendum), é uma garantia constitucional em favor de quem sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, por parte de autoridade legítima. Tecnicamente, entende-se que este instituto é uma acção constitucional de carácter penal e de procedimento especial, isenta de custas. Não se trata de um recurso, apesar de se encontrarno mesmo capítulo destes no Código de Processo Penal[footnoteRef:2]. [1: http://www.direitodireto.com/o-que-e-e-para-que-serve-o-habeas-corpus/ 16/11/16] [2: http://www.significados.com.br/habeas-corpus/.16/11/16] 
b) Detido – Que ou quem se encontra aprisionado, segundo o Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008.
c) Plebe – é um termo que deriva do latim “plebs”, o conceito é utilizado para designar o extracto social que se encontra no escalão inferior da estrutura da sociedade, segundo FERREIRA (1986:1346.)
d) Flagrante delito - Segundo LIMA (2013) a expressão flagrante origina-se do latim “flagrare” (queimar), e “flagrans”, “flagrantis” (ardente, brilhante, resplandecente) que significa acalorado, evidente, notório, visível, manifesto.
De acordo com o art.º 288 CPP, flagrante delito é todo o facto punível que se está cometendo ou que se acabou de cometer. Reputando-se também flagrante delito o caso em que o infractor é, logo após a infracção, perseguido por qualquer pessoa, ou foi encontrado a seguir à prática da infracção com objectos ou sinais que mostrem claramente que a cometeu ou nela participou.
22
e) Prisão em flagrante delito – é aquela em que o infractor é, logo após a infracção, perseguido por qualquer pessoa, ou foi encontrado a seguir à prática da infracção com
objectos ou sinais que mostrem claramente que a cometeu ou nela participou, art.º 288 CPP[footnoteRef:3]. [3: Art.º 287 CPP, é aquela em que o acto corresponde a pena de prisão e todas as autoridades ou agentes de autoridade devem, e qualquer pessoa do povo pode prender os infractores. Por tanto segundo o § único, se o facto punível não corresponder pena de prisão, o infractor só poderá ser detido por qualquer autoridade ou agente da autoridade quando não for conhecido o seu nome e residência e não possa ser imediatamente determinado, ou quando se trata de arguidos em liberdade provisória ou condenados em liberdade condicional que tenham infringido as obrigações a que estejam sujeitos] 
f) Prisão ilegal – é aquela que é ordenada ou levada a efeito por um órgão incompetente, ser motivada por facto que a lei não permite e ou manter-se para além dos prazos fixados pela lei ou por decisão judicial, art.º 484º CP
g) Prisão Irregular – é aquela que é ordenada ou efectuada por um órgão competente sem que sejam observadas as formalidades exigidas por lei, art.º 485º CP
h) Prisão Preventiva - Segundo Fernando CAPEZ (2012:335) é a prisão processual de natureza cautelar, em que é decretada pelo juiz, em qualquer fase do inquérito policial ou do processo, antes do trânsito em julgado, sempre que preenchidos os requisitos legais e ocorrerem os motivos autorizadores
Capítulo II
PROVIDÊNCIA DO HABEAS CORPUS
2.1. Conceito e origem do habeas corpus
Habeas corpus, etimologicamente significando em latim "Que tenhas o teu corpo" (a expressão completa é habeas corpus ad subjiciendum) é uma garantia constitucional em favor de quem sofre violência ou ameaça de constrangimento ilegal na sua liberdade de locomoção, por parte de autoridade legítima.
 Sua origem remonta à Magna Carta libertatum, de 1215, imposta pelos nobres ao rei da Inglaterra com a exigência do controle legal da prisão de qualquer cidadão. Este controle era realizado sumariamente pelo juiz, que, ante os factos apresentados, decidia de forma sumária acerca da legalidade da prisão. O writ de habeas corpus, em sua génese, aproximava-se do próprio conceito do devido processo legal (due process of law). Sua utilização só foi restrita ao direito de locomoção dos indivíduos em 1679, através do Habeas Corpus Act.
É de salientar que estes foram alguns passos, para que a participação do cidadão nos processos que o dizem respeito passassem a observar a lei, e que nenhum indivíduo, ficasse privado da liberdade sem justa causa, nascendo deste modo o Estado de Direito democrático.
2.2. Evolução Histórica do Habeas Corpus
Embora alguns autores reconheçam traços do habeas corpus no direito romano clássico, sua melhor formulação só foi definida no direito inglês medieval, no qual o writ of habeas corpus consistia em diversas espécies de mandados proferidos pelas cortes inglesas quando se questionava alguma prisão.
HOLANDA, (2004:38): diz o seguinte no tocante ao aparecimento desse instituto, em Roma:
Nos casos de coacção ilegal à liberdade de ir e vir passou-se a usar o Interdito de Homine Libero Exhibendo. Por ele, após prévio exame da capacidade processual, o Pretor
determinava que o coactor exibisse o paciente em público e sem demora. Caso o coactor assim não fizesse era condenado ao pagamento de uma sanção pecuniária. Por este Interdito de homine libero exhibendo, o paciente, colocado em público, era visto, apreciado e, acima de tudo, ali, expurgava-se o segredo da prisão – ‘ Exhibere est in publicum producere et vivendi tangendique hominis facultatem praebere; prope autem exhibere este extra secretem habere.
Nesta audiência de apresentação, na qual estava presente o coactor e o paciente, o Pretor, ouvia as alegações deste para decidir, conhecer ou não do pedido. Concedida a ordem de liberdade, o paciente era, incontinente, posto em liberdade.
Vale ressaltar que, nessa época, a plebe não era tratada de forma igualitária, sendo certo que sempre se dava prioridade aos interesses da classe dominante, daí que tal instituto não pode ser erguido ao habeas corpus semelhante ao que se tem hoje.
Contudo, segundo MORAES, (2003:137): os fundamentos do instituto somente tornam-se claros com a assinatura da Magna Carta de 1215, assinada pelo Rei João Sem-Terra, após a revolta dos barões ingleses.
De acordo com MARQUES, (1965:373): 
A Magna Charta, imposta pelos barões ingleses, em 15 de Junho de 1215, ao rei João Sem Terra, foi acto solene para assegurar a liberdade individual, bem como para impedir a medida cautelar de prisão sem o prévio controlo jurisdicional (retro n. 923). O modo prático de efectivar-se esse direito à liberdade – como lembra Costa Manso – foi estabelecido pela jurisprudência: expediam-se mandados (writs) de apresentação, para que o homem (corpus) e o caso fossem trazidos ao tribunal, deliberando este sumariamente sobre se a prisão devia ou não ser mantida. Dos diversos writs, o que mais se vulgarizou foi o writ of habeas corpus ad subjiciendum, pelo qual a Corte determinava ao detentor ou carcereiro que, declarando quando e por que fora preso o paciente, viesse apresentá-lo em juízo, para fazer, consentir com submissão e receber – ad faciendum, subjiciendum et recipiendum – tudo aquilo que a respeito fosse decidido.
TOURINHO FILHO, (1997:496): também segue a mesma corrente e diz: 
Os doutrinadores apontam suas origens na Magna Carta outorgada por João Sem Terra, em 15-6-1215, ante as constantes pressões dos nobres e do clero, que evocavam velhos costumes saxónicos. Dizia, a propósito, o art.48 daquele diploma: ‘Ninguém poderá ser detido, preso ou despojado de seus bens, costumes e liberdade, senão em virtude de julgamento de seus pares, de acordo com as leis do país.
Examinando-se tal artigo, chega-se à conclusão de que já havia uma noção, nessa época, de um mínimo de devido processo legal, bem como o respeito ao princípio da legalidade. A Carta Inglesa de 1215 foi uma grande inovação para a humanidade, já que, por meio dela, o respeito à liberdade física do indivíduo passou a ser uma realidade. Por meio dela, fez-se nascer e proliferar uma nova era, consistente na conquista da liberdade, muitas vezes achatada pelo abuso, pela tirania e pelo despotismo. 
TORNAGHI, (1989:382-3): afirmou o seguinte: 
O habeas corpus é, no Direito inglês do qual se origina uma ordem de apresentação pessoal de alguém, um mandado de condução. O juiz quer a presença física de alguma pessoa. Por isso expede uma ordem escrita (writ ) para que seja apresentado o corpo da pessoa (habeas corpus) , isto é, seja feita de corpo presente. Essa apresentação pode ter vários fins e, daí, os diversos tipos de hábeas corpus (ad deliberandum et recipiendum; ad faciendum; ad testificandum).Mas a expressão habeas corpus, sem mais nada, hábeas corpus por antonomásia, designa o habeas corpus ad subjiciendum, ordem ao carcereiro ou detentor de uma pessoa de apresentá-la, e de indicar o dia e a causa da prisão, a fim de que ela faça (ad faciendum), de que se submeta (ad subjiciendum) e receba (ad recepiendum) o que for julgado correto pelo juiz. Esse foi chamado, por William Blackstone, o mais celébre mandado (writ) do Direito inglês e baluarte permanente de nossas liberdades (the stable balwark ou our libertatis).
Apesar da Carta de 1215 ter repercutido positivamente na Inglaterra, com apoio de toda a sociedade inglesa, ela, inúmeras vezes, foi transgredida e violada pelo próprio João Sem Terra. Após a morte do rei, as medidas arbitrárias não cessaram, o que levou os barões, em 1258, à luta no sentido de aprovar as chamadas “Provisões de Oxford”, como a Magna Carta, que foram juradas pelo rei.
Com o passar dos tempos, o direito à liberdade individual garantido pela Magna Carta foi a cada momento tornando-se mais apagado e fugidio das aspirações inglesas, até que, no reinado de Carlos I, a campanha dos ingleses recomeçou. A velha ambição de liberdade incendiou novamente o ânimo daquele povo e as novas opressões ainda mais acentuaram a gravidade do momento histórico. 
Segundo MOSSIN, (2005:8):
Observa-se que no reinado de Eduardo III, por exemplo, era ordenado que ninguém fosse detido a mando do rei, ou de seu conselho, sem que houvesse acusação legal e procedente, o que não era cumprido no reinado de Carlos I, já que pessoas eram presas e acusadas de traição como subterfúgio para a não obediência daquele preceito. Logo, ali não se configurava uma mera detenção, mas uma prisão de carácter extraordinário. 
O autoritarismo de Carlos I gerou a irritação e o repúdio da sociedade inglesa, levando o Parlamento de 1628 a convocar uma Assembleia para a solução desse problema social. Nesse momento foi redigida a Petition of Rights (petição de direitos), a qual culminou com o restabelecimento do remédio do habeas corpus. 
Para MIRANDA, (1955:56):
A liberdade física, direito absoluto, tirado da natureza humana, já tinha, desde 1215, na Inglaterra, a consagração que lhe dera o Capítulo XXIX da Magna Carta. Essa lei foi desrespeitada, esquecida e postergada a cada passo. Sem garantias sérias, sem remédios irretorquíveis, estava exposta, ora às decisões cobardes de certos juízes, ora às interpretações tortuosas dos partidários da prerrogativa.
Verifica-se que, por volta de 1679, aquele importante direito natural do homem consistente em ir, vir e ficar, legítima conquista da sociedade inglesa daquela época e que inspirou as atuais legislações, já não ostentava seu reconhecimento pleno e sua aplicabilidade se mostrava consideravelmente acanhada, eis que, mesmo depois da Petição de Direito, as ordens de habeas corpus eram indeferidas a cada momento. Em alguns casos, apesar de ser deferido, o remédio não era obedecido. Era a vontade do dirigente que valia.
A arbitrariedade tinha de ter um fim, não podia continuar vigorando, visto que estava, inegavelmente, derrogando uma conquista altamente social e de vida para o povo inglês, porquanto a manutenção e a continuidade ao reconhecimento do natural direito de ir, vir e ficar, ou seja, da liberdade física do indivíduo, se tornava irreprochável.
 
Segundo MOSSIN, (2005:8): em outro trecho da sua obra, diz:
Como restou anotado por José Frederico Marques, inspirado nos ensinamentos de Pontes de Miranda, demonstrou, no entanto, a experiência, que não bastava a proclamação do princípio contido na Magna Carta, pois se tornava indispensável a regulamentação legislativa de seu processo. Veio então o que Blackstone denominou de Segunda Magna Carta, isto é, o Habeas Corpus Act de 1679, destinado a disciplinar, processualmente, através de actos legais, a protecção ao direito de liberdade. Os preceitos da Magna Carta se mostravam ineficaz devido o insuficiente sistema processual: “but is had been inefficacious for want of a stringent system of procedure.
O habeas corpus constantemente era desrespeitado para garantir os interesses de uma classe dominante ou do próprio rei. Seria necessária uma actividade do legislativo no sentido de o referido instrumento não ficar à mercê da vontade da elite dominante.
Era necessária uma implementação no sentido de se erguer esse remédio como uma garantia individual, dando-se-lhe maior destaque, de maneira a evitar que tal remédio ficasse tão achatado em determinados momentos.
Era impositivo que também houvesse uma lei processual que tratasse acerca do procedimento a ser seguido quando houvesse necessidade da propositura de tal remédio. 
MOSSIN, (2005:8): ao examinar o referido habeas corpus Act, diz o seguinte: 
Efectivamente, extracta-se daquela lei declarativa de direito, sob o título de “An act for better securing the liberthy of the subject, and for prevention of imprisonments beyond the sea”, que a sua composição era de carácter processual, bastando para tanto a singular verificação de seu conteúdo. 
Que toda pessoa presa, e não detida por um caso de traição ou felonia, especialmente indicada na ordem de prisão, deve: 
a) Receber do lord chanceler, ou, à requisição desse, de um dos magistrados presente em Londres, dentre os doze juízes do reino, ordem de habeas corpus, em virtude da qual deve ser a dita pessoa conduzida à presença do magistrado que expediu a ordem, ou perante um outro juiz obrigado a relaxar a prisão se a pessoa puder prestar caução, sob o ajuste de se apresentar aos tribunais ordinários; 
b) Que todas as pessoas presas por casos determinados de traição podem exigir que as submetam à acusação, ou lhes admitam prestarem caução, na primeira semana da vacância mais próxima, ou no primeiro dia da sessão seguinte dos juízes de correcção, salvo se a impossibilidade de produzir os testemunhos do rei, nesses lapsos, for assentada por um juramento. À pessoa presa, que em seguida não tenha sido submetida à acusação e julgada na vacância ou sessão judiciária, deve ser relevada a prisão, que se decretou contra ela pelo delito em questão; 
Se alguma ordem de prisão for apresentada a um dos doze juízes, ou ao lord chanceler, e ele se recusar a dar um writ de habeas corpus, incorrerá na multa de 500 libras esterlinas, em proveito da parte lesada. 
Nenhum habitante da Inglaterra, à excepção dos criminosos condenados, que solicitar deportação poderá ser transportado como prisioneiro para a Escócia, para a Islândia, para as ilhas de Jérsia ou outros lugares de além-mar compreendidos ou não nos territórios do domínio britânico. Todo contraventor incorre, em proveito da parte lesada, na multa de 500 libras esterlinas, aumentada do triplo das custas, na perda da capacidade de exercer qualquer cargo honorífico e nenhum emprego público assalariado, assim como em penas do “pro enumere”, sendo interdito perdoar-lhe. 
Examinando-se tal instituto, verifica-se que esta Lei garantia o direito de o cidadão ter uma audiência com o magistrado responsável ou, no caso, o “lord”, no sentido de se verificar se tal prisão era legal ou ilegal e a possibilidade de ser deferido o habeas corpus. A Lei deixava claro ainda que se não fosse concedido tal remédio por parte dos juízes, poderia ser aplicada uma multa. 
2.3. Modalidades de Habeas Corpus
Há dois tipos de Habeas Corpus que são: libatório e preventivo
2.3.1. Habeas Corpus liberatório
Habeas Corpus liberatório ou repressivo é a acção para fazer parar uma restrição ilegal ao direito de locomoção que já esteja ocorrendo. É utilizado normalmente quando se deseja libertar um preso. 
2.3.2. Habeas Corpus preventivo
Habeas Corpus preventivo é aquele utilizado para prevenir uma restrição ao direito de circulação. Pode ser utilizado por quem acredite que seu direito de locomoção está sob ameaça – nesse caso, o Habeas Corpus só deverá ser concedido se esse temor for justificado, isto é, se houver ameaça concreta de prisão ou outro tipo de restrição. É muito comum a utilização de Habeas Corpus preventivopara casos em que haverá julgamento de quem possui bons antecedentes e nunca cometeu outro crime (réu primário), pois, nessas situações, na hipótese de condenação, o réu não deverá ser preso, devendo-se assegurar-lhe o direito a recorrer em liberdade (costuma-se a fundamentar este direito na chamada “presunção de inocência”). O princípio da presunção da Inocência previsto no art.º 59º CRM 2004[footnoteRef:4]. [4: Nº 2 do art.º 59 CRM: Os arguidos gozam da presunção de inocência até decisão judicial definitiva.] 
Capítulo III
HABEAS CORPUS EM MOÇAMBIQUE DESDE A INDEPENDÊNCIA ATÉ A CONSTITUIÇÃO DE 1990
Segundo MOSSIN (2008:20):
Em Moçambique, embora, por um lado no título atinente aos direitos e deveres fundamentais dos cidadãos a Constituição de 1975 previsse a garantia pelo Estado a todos os cidadãos das liberdades individuais, que incluíam a inviolabilidade de domicílio e o segredo de correspondência, e por outro, consagrasse o direito a liberdade (art.º 33º e 35º da Constituição da República Popular de Moçambique), não previa o habeas corpus como mecanismo extraordinário de garantia da liberdade.
Será que isso significava que na vigência da Constituição de 1975 o cidadão não podia usar do mecanismo do habeas corpus contra abuso do poder que punha em causa a sua liberdade?
A resposta a esta questão é negativa, pois se a consagração do habeas corpus em sede constitucional confere maior segurança a este mecanismo de tutela da liberdade individual, não é pelo facto de não estar previsto na Constituição que se pode considerar que no ordenamento jurídico moçambicano na vigência da aludida constituição porque a mesma providência estava consignada em legislação processual penal ordinária, no caso em apreço no código de processo penal de 1929, ainda em vigor.
Com adopção da Constituição de 1990, a considerada a primeira constituição democrática, o legislador moçambicano inseriu no art.º 66 CRM a Providencia do Habeas Corpus[footnoteRef:5]: [5: Artigo 66 CRM 1990 (Habeas corpus), em caso de prisão ou detenção ilegal, o cidadão tem direito a recorrer à providência do habeas corpus. A providência de habeas corpus é interposta perante o tribunal, que sobre ela decide no prazo máximo de oito dias.] 
	
3.1. Constituição da República de Moçambique de 2004 
A constituição em vigor também consagra a providência do habeas corpus no art.º 66º. Este avanço do legislador constitucional no sentido da consagração do habeas corpus a partir de 1990, pode-se considerar que era inevitável, pois poderá ter constituído materialização das disposições contidas no artigo 1 da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos (CADHP) de 1981, ratificada pela então Assembleia Popular, hoje Assembleia da República, através da Resolução nº 9/88, de 25 de Agosto, que prescrevem no sentido de, para além dos Estados Membros da Organização da Unidade Africana, partes citada Carta reconhecerem os direitos, deveres e liberdades enunciados na Carta, comprometem-se a adoptar medidas legislativas ou outras para os aplicar.
Ao abrigo do art.º 6º da Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Povos estabelece-se, que:
Todo o indivíduo tem direito à liberdade e à segurança da sua pessoa. Ninguém pode ser privado da sua liberdade salvo por motivos e nas condições previamente determinados por lei; em particular ninguém pode ser preso ou detido arbitrariamente. 
O direito à liberdade conferido a todo indivíduo esta plasmado na CRM, de que resulta não poder ser privado da sua liberdade a não ser por motivos e nas condições previamente determinados por lei, bem como a impossibilidade legal de alguém ser preso ou detido arbitrariamente, pressupõe a existência de um mecanismo de tutela eficiente e eficaz do valor liberdade, mostrando-se adequado o habeas corpus visto que, sempre os meios ordinários se mostrarem inapropriados para a tutela de liberdade nos casos em que determinado cidadão tenha sido privado da mesma liberdade ilegalmente, o habeas corpus será remédio para fazer frente ao abuso do poder.
Por outro lado, há necessidade de aborda-se algumas acções que colocam o cidadão na posição de arguido, tais acções quando praticadas se tornam o inverso do que a lei estabelece relativamente a autorização da prisão preventiva fora do flagrante delito, como é o caso do art.º 291° CPP, que prevê que só é autorizada a prisão preventiva fora do flagrante delito quando se verificarem cumulativamente os seguintes requisitos:
a) Perpetração de crime doloso punível com pena de prisão superior a um ano;
b) Forte suspeita da prática do crime pelo arguido;
c) Inadmissibilidade da liberdade provisória[footnoteRef:6], ou insuficiência desta para a realização dos seus fins. [6: O Conselho Constitucional declarou inconstitucional a norma constante do § 2º do artigo 291º do CPP, por contrariar o princípio da proibição do excesso intrínseco ao Estado de Direito consagrado no artigo 3 da Constituição, nas suas dimensões essenciais de necessidade e adequação, e não por violação do princípio da liberdade, do direito à liberdade ou do princípio da presunção da inocência.] 
Só é também autorizada a prisão preventiva fora de flagrante delito, quando o arguido, em liberdade provisória, não cumpra as condições a que ela ficar subordinada
. 
Olhando para a explicação anterior, nos ocorreu a ideia de trazer à tona o que a lei dispõe quanto aos casos em que pode ser autorizada a prisão, ora veja-se:
Do preceitua no art.º 286.º do Código de Processo Penal a prisão preventiva só pode ser autorizada: 
a) Em flagrante delito, nos termos do art.º 287.º CPP; 
b) Por crime doloso a que coubesse pena de prisão superior a um ano, nos termos do n.º 1, do art.º 291.º CPP; 
c) Pelo não cumprimento das obrigações a que ficasse sujeita a liberdade provisória, nos termos do n.º 2 e § 4.º do art.º 291.º CPP
Neste sentido a lei também impõe limites sobre quem tem competência para ordenar tal detenção, dai que de acordo com o art.º 293º do CPP, fora dos casos de flagrante delito, a prisão preventiva só poderá ser levada a efeito mediante ordem por escrito do juiz, do Ministério Público, ou das demais autoridades de policia de investigação criminal[footnoteRef:7]. [7: “O Conselho Constitucional declarou inconstitucionais as normas constantes do corpo e § único, nºs 1º, 2º e 3º, do artigo 293º do CPP, conforme a redacção introduzida pela Lei nº 2/93, de 24 de Junho, na parte em que se referem a várias autoridades administrativas como autoridades de polícia de investigação criminal competentes para ordenar prisão preventiva fora dos casos de flagrante delito, por violação da regra da exclusividade da competência da autoridade judicial em matéria de decisão da prisão preventiva fora dos casos de flagrante delito, plasmada nos termos das disposições conjugadas dos artigos 64, nºs 2 e 4, e 212, nºs 1 e 2, da Constituição, e ainda por transgressão do princípio da separação de poderes consagrado no artigo 133 da Constituição. Igualmente, julga inconstitucional a norma constante do corpo e nº 1 do § único do 293º do CPP bem como da alínea f) do nº 1 do artigo 43 da Lei nº 22/2007, de 1 de Agosto, Lei Orgânica do Ministério Público, com a nova redacção introduzida pela Lei nº 14/2012, de 8 de Fevereiro, por também violarem a acima referida regra da exclusividade da competência da autoridade judicial em matéria de decisão da prisão preventiva fora dos casos de flagrante delito”.] 
 Mas apesar de a prisão fora de flagrante delito ser da exclusiva competência da autoridade Judicial, devido a dinâmica dos factos muitos crimes são praticados e outros surgem a cada dia, precisando neste sentido de uma rápida intervenção de alguma autoridade, facto que coloca a previsão do acórdão 04-CC-2013, de 17 de Setembro, que veio declarar a inconstitucionalidade em parte do corpo e do § único do art.º 293 CPP. Esta retirada de poderes só opera no papel, mas na prática não é o que acontece, de realçar que este facto resulta, pois da fiscalização sucessiva da norma, se tentando não ferir os preceitosconstitucionais, são prisões que eram levadas a cabo por estas entidades que criavam espaço para o uso pelos detidos da providência do habeas corpus.
Ainda, de acordo com o art.º 308º CPP do Código do Processo Penal em vigor na República de Moçambique, o prazo da prisão preventiva conta desde a captura até a notificação ao arguido da acusação ou do pedido de instrução contraditória pelo Ministério Público, sendo que os mesmos não podem exceder:
a). Vinte dias por crimes dolosos a que caiba pena correccional de prisão superior a um ano;
b). Quarenta dias, por crimes a caiba de prisão maior;
c). Noventa dias, por crimes cuja instrução preparatória seja da competência exclusiva da Polícia de Investigação Criminal ou a ela deferida;
Desde a notificação ao arguido da acusação ou do pedido de instrução contraditória pelo Ministério Público até ao despacho de pronúncia em primeira instância, os prazos de prisão preventiva não podem exceder:
a) Três meses, se à infracção couber pena a que corresponda processo de Polícia Correccional;
b) Quatro meses, se ao crime couber pena a que corresponda processo de querela;
 Exemplo de tais crimes é: Ofensas corporais voluntárias simples art.º 170 CP, violência, Homicídio involuntário art.º 169 CP, Envenenamento art.º 162 CP, Homicídio art.º 155 CP.
A detenção não opera ipso facto, por tanto devem ser observados, também os prazos em que os detidos devem ser presentes ao poder judicial, e de acordo com Prof. Cavaleiro de FERREIRA, (1986:1346): aponta o estudo da prisão preventiva em função de três aspectos do seu desenvolvimento, nomeadamente a captura, a prisão preventiva e a liberdade provisória. A captura constitui o acto de privação de liberdade através do qual a prisão (preventiva) se inicia. Assim, a captura com finalidade processual significa o mesmo que detenção, dado o seu carácter provisório e a sua finalidade específica.
E nos termos do art.º 311 CPP:
Os presos sem culpa formada serão apresentados ao Juiz da causa ou do lugar da prisão, dentro do prazo de quarenta e oito horas após a detenção. Quando a captura não tenha sido ordenada pelo juiz, pode o agente do Ministério Público, reconhecendo absolutamente necessária maior dilação autorizar que a apresentação se faça no prazo de cinco dias. 
Ao abrigo do art.º 7 da lei nº 3/97, de 13 de Março, atinente ao tráfico e consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, o prazo para apresentação do detido ao poder judicial de 10 dias.
3.2. Pressupostos e Fundamentos da petição do Habeas Corpus
 O habeas corpus, tal como o requerimento para a apresentação judicial, é um mecanismo de tutela da liberdade individual, em termos de se fazer uso do mesmo para pôr termo a prisão ilegal. 
O art.º 312º CPP, trata do requerimento da providência Inominada do habeas corpus por outro lado, quando são se aplica a primeira providência, seguir-se-á o disposto no art.º 315º também do CPP faz alusão em relação ao requerimento da providência extraordinária do habeas corpus. Em cada caso concreto, há três ordens de razões, designadamente: 
· À circunstância de que o conhecimento dos motivos da detenção tida como ilegal não ser da competência dos tribunais de província;
· Ter a detenção sido ordenada por autoridade cuja competência territorial exceda a área do Tribunal de Província; ou
· Ter a prisão sido efectuada e mantida por ordem de autoridade judicial de que pode recorrer.
3.3. Quem pode requerer a providência do habeas corpus
A petição do habeas corpus será formulada pelo preso, ou por seu cônjuge, ascendente ou descendente capaz, por meio de requerimento assinado por advogado e dirigido ao Juiz do Judicial da Província onde se encontra o detido, ou ao presidente do Tribunal Supremo, de acordo com o estabelecido no § único do art.º 312 e 316 ambos do CPP.
3.4. Quem pode conceder ao habeas corpus
 O habeas corpus será concedido pelos juízes dos tribunais das províncias que detenham tal competência nos termos do art.º 312º e Segs do CPP, ou pelo Tribunal Supremo por força do disposto no art.º 315º conjugado com 318º e seguintes do CPP.
A providência Extraordinária de “habeas Corpus” é subsidiaria à providência inominada do “habeas Corpus”, ou seja, apenas aplica-se nos casos em que esta ultima não é aplicada.
Com a entrada em vigor da Lei da Organização Judiciária, Lei nº 24/2007, de 20 de Agosto, todos tribunais judiciais passaram a poder conhecer da providência extraordinária de “habeas Corpus”, nos termos do disposto na al. g) do art.º 50º; al. d), do art.º 63º; al. d) do art.º 74º e al. c), do nº 1 do art.º 86º, da referida lei, alargando-se, desta forma, a competência que anteriormente era exclusiva do Tribunal Supremo.
3.5. Deferimento ou indeferimento da petição do habeas corpus
Ao abrigo do art.º 318º do CPP; com a petição ou requerimento do habeas corpus dá-se lugar ao processo respectivo. O referido processo, que em princípio consistira do requerimento e da resposta da entidade responsável pela prisão, a houver, será apresentado na primeira sessão ordinária da secção Criminal do Tribunal Supremo, tendo o juiz-presidente a faculdade de convocar uma sessão extraordinária da citada sessão quando considere urgência do assunto.
A constituição da secção para efeitos de apreciar e deliberar sobre o pedido de habeas corpus é regulada pelo parágrafo único do artigo 318º CPP, que o faz em termos tais que atendem à necessidade de no mais curto espaço de tempo possível, a secção poder reunir quórum bastante para deliberar mesmo em férias judicias, sendo que a secção funciona com assistência do Ministério Público.
Nos termos das als. a); a d) do art.º 319º CPP, a deliberação sobre o pedido tomada por maioria, pode sê-lo em quatro sentidos possíveis, designadamente:
a) Indeferir o pedido por falta de fundamento bastante;
b) Mandar colocar imediatamente o preso à ordem do Tribunal Supremo na cadeia por esta indicada e nomear um magistrado judicial para proceder a inquérito, no prazo que for fixado, sobre as condições de legitimidade da prisão;
c) Mandar apresentar o preso, no mais breve prazo, ao tribunal competente para julgar; ou
d) Declarar ilegal a prisão e ordenar a imediata libertação do recluso.
De acordo com o § Único do art.º 319º CPP; é de extrema importância referir que para efeitos de fundamentação de qualquer uma das decisões acima referidas, se o tribunal a considerar necessária ordenará a junção da resposta da autoridade responsável pela prisão, mandando o presidente do Tribunal notifica-la para tanto no prazo de que lhe fixar, sob pena de desobediência. No entanto, tal ordem não prejudica que o Tribunal decida igualmente pela apresentação imediata do preso à sua ordem na cadeia por si indicada
	
3.6. Análise crítica dos fundamentos do habeas corpus
A administração da justiça é um processo bastante complexo, envolvendo uma serie de acções que de algum modo tendem a limitar a liberdade individual do cidadão, neste diapasão chamamos os fundamentos acima porque tem alguma conexão com o tema em estudo. Decorre da lei que existem mecanismos que podem ser acionados quando se trata de prisões envolvendo a prisão ilegal, irregular e quando mesmo envolver a questão relativa ao vencimento dos prazos da prisão preventiva.
As leis preveem e expõem de forma bastante clara quais são esses mecanismos nesta ordem de ideias trazemos à tona a providência do habeas corpus, que deveria ser um dos meios proporcionais aos actos ilegais acima descritos.
O delito pode resultar de uma acção ou omissão de um facto que na lei é tipificado como crime, sendo assim havendo necessidade de impor sansão ao autor do tal dano, neste sentido ocorrem situações de exagero na aplicação da norma o que acaba se configurando na aplicação da prisão irregular, ilegal ou mesmo quando aquele se encontre detido não sejam observados em tempo oportuno os prazos da prisão preventiva.
Decorre ainda do código do processo penal que em flagrante delito qualquer pessoa, autoridade ou agente de autoridade pode deter o individuo praticante do facto delituoso.Observando para os objectivos deste trabalho e para os subtítulos acima, é possível entender que a lei dispõe de mais um meio para o pedido de restituição da liberdade individual que se encontra restringida sem fundamentos concretos, mas o que acontece é que nem os próprios detentos que se encontram em situações precárias de detenção sabem em que dispositivo legal esta plasmado o habeas corpus, e muito menos quem pode interpor em sua defesa.
Com os fundamentos do habeas corpus reunidos porque uma prisão foi ordenada sem observância das formalidades legais surge uma oportunidade para a sua impetração, mas praticamente não se utiliza a lei quando se trata do habeas corpus.
A lei estabelece a providência do habeas corpus, mas, esta não encontra enquadramento de acordo com a realidade moçambicana, sendo que a exclusão deste meio opera por falta de bagagem científica sobre ela, e acreditamos que põe em causa a sua permanência na legislação moçambicana, pois a sua inaplicabilidade cria condições para que isso aconteça, a não ser que haja revisão
Capítulo IV
DIREITO COMPRADO
Comparação do uso da providência do habeas corpus em três países
Segundo DUARTE (2006:3), Direito comparado é a comparação de ordens jurídicas diversas, isto é, implica a justaposição dos resultados desse estudo e o regime de semelhanças e das diferenças.
 Para completar o estudo torna-se necessário realizar uma dada verificação quanto ao direito comparado, de modo a perceber como é que os outros países estabelecem as normas jurídicas relativas a providência do habeas corpus, onde aborda-se situação de Moçambique, Portugal e Brasil.
4.1. O habeas corpus em Portugal
O chamado habeas corpus significa "tenha zelo pelo seu corpo". Está consagrado na Constituição da República Portuguesa de 1976, revista em 2005, no artigo 31º, tendo, por base, a inocência do réu.
Nos termos do art.º 220º do Código de Processo Penal de Portugal (na versão de 2003). O habeas corpus pode ser pedido por: estarem ultrapassados os prazos de entrega ao poder judicial ou da detenção; a detenção manter-se fora dos locais legalmente permitidos; a detenção ter sido efectuada ou ordenada por entidade incompetente; e a detenção ser motivada por facto pelo qual a lei a não permite deter.
4.2. O habeas corpus no Brasil
A preocupação com a ilegalidade e abuso de prisões arbitrárias chegou ao Brasil com dom João VI no decreto de 23 de maio do ano 1821, mas a primeira legislação brasileira a conter o instituto do Habeas Corpus foi o Código de Processo Criminal do Império do Brasil, de 1832 (artigo 340), que assim previa: "Todo cidadão que entender que ele, ou outro, sofre uma prisão ou constrangimento ilegal em sua liberdade, tem direito de pedir uma ordem de habeas corpus a seu favor". 
A referida garantia foi incluída em texto constitucional na Constituição Brasileira de 1891, que estabelecia, no Artigo 72 §22: "dar-se-á habeas corpus sempre que o indivíduo sofrer violência, ou coacção, por ilegalidade ou abuso de poder". Desse modo, a formulação ampla do texto constitucional e a ausência de outras garantias que tutelassem os demais direitos e liberdades contra ilegalidade ou abuso de poder levaram à interpretação errónea de que o habeas corpus poderia ser utilizado para reparar lesão a qualquer liberdade ou direito.
Assim, surgiram três posicionamentos acerca da interpretação da lei: o primeiro sustentava que a garantia deveria ser aplicada em todos os casos em que um direito estivesse ameaçado; em sentido oposto, o segundo afirmava que o habeas corpus, por sua natureza e origem histórica, era remédio destinado exclusivamente à protecção da liberdade de locomoção; e, por fim, o terceiro posicionamento, adoptado na época pelo Supremo Tribunal Federal, propugnava incluir, na protecção do habeas corpus, não só os casos de restrição da liberdade de locomoção, como também as situações em que a ofensa a essa liberdade fosse meio de ofender outro direito. Esse último posicionamento passou a ser conhecido como "doutrina brasileira do habeas corpus".
Em 1926, através da reforma constitucional, o habeas corpus teve seu âmbito de protecção reduzido, ficando vedada a sua protecção a direitos que não a liberdade de locomoção. Além disso, todas as demais Constituições brasileiras, sem excepção, incorporaram a garantia do habeas corpus, sendo suspensa somente pelo Acto Institucional nº 5, de 1968. Actualmente, está previsto no artigo 5°, inciso LXVIII, da Constituição Brasileira de 1988: "conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coacção em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder".
O habeas corpus pode ser liberatório, quando tem por âmbito fazer cessar constrangimento ilegal, ou preventivo, quando tem por fim proteger o indivíduo contra constrangimento ilegal que esteja na iminência de sofrer. 
 Ao abrigo do art.º 648º do Código do Processo Penal Brasileiro, a ilegalidade da coacção ocorrerá em qualquer dos casos seguintes:
· Quando não houver "justa causa";
· Quando alguém estiver preso por "mais tempo" do que determina a lei;
· Quando quem ordenar a coacção não tiver "competência" para fazê-lo;
· Quando houver "cessado o motivo" que autorizou a coacção;
· Quando não for alguém admitido a prestar "fiança", nos casos em que a lei a autoriza;
· Quando o processo for manifestamente "nulo";
· Quando "extinta" a punibilidade	
O habeas corpus é um tipo de acção diferenciada de todas as outras, não só pelo motivo de estar garantida na Constituição Federal, mas também porque é garantia de direito à liberdade, que é direito fundamental, e por tal motivo é acção que pode ser impetrada por qualquer pessoa, não sendo necessária a presença de advogado ou pessoa qualificada, nem tão pouco de folha específica para se interpor tal procedimento, podendo ser, inclusive, escrito à mão.
4.3. Análise Critica da comparação (Moçambique, Portugal e Brasil)
 No ordenamento jurídico moçambicano encontram-se dois instrumentos reguladores da providência do habeas corpus tais como: a CRM 2004 e o Código do Processo Penal.
Passamos a analisar claramente a ineficácia do art.º 66 CRM e do Código do Processo Penal pelo facto, deste transportar consigo a preceitos legais que estão previstos no código do processo penal de 1929 criado e aprovado em Portugal, e que foi extensivo a província Ultramarina de Moçambique.
Desde o ano de 1990 através da Assembleia da República, o Estado tem adoptado e ractificado pactos internacionais, com vista a garantir a observância dos direitos e garantias fundamentais do Cidadão no país. Processo que deu espaço para a adopção da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948 e dos dois pactos adicionais, nomeadamente Pacto Internacional Sobre os Direitos Civis e Políticos e o Pacto Internacional Sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais ambos de 1966, e por meio do art.º 18 CRM passaram a fazer parte do ordenamento Jurídico Moçambicano.
Dai que a própria CRM no seu art.º 66, abriu espaço para que a providência do habeas corpus, entrasse como meio de tutela da liberdade individual, encontrando assim seu escopo no código do Processo Penal Moçambicano para a sua tramitação.
O Código do Processo Penal Moçambicano prevê a interposição desta providência em tribunais de província e o tribunal Supremo, contudo este dispositivo legal encontra uma lacuna, em não prever e deixar claro qual será a penalização do magistrado judicial que tendo recebido a providência do habeas corpus não decida sobre o mesmo dentro do prazo estabelecido legalmente[footnoteRef:8]. [8: Art.º 314 CPP, no seu corpo estabelece que “A resposta à notificação referida no art.º 313, será dada no prazo de vinte e quatro horas, se a detenção tiver lugar na sede da província, e no máximo três dias, em caso diferente”] 
Para o caso de restituição de liberdade aos detidos irregulares ou ilegalmente, o art.º 66 CRM e o art.º 312 e seguintes do Código do Processo Penal pouco ajudam, porque não conhecem a providência do habeascorpus e não dá-se primazia a sua aplicação, dai que para além da providência do habeas corpus ter sido legalmente introduzida no ordenamento jurídico moçambicano a partir de 1990, figura apenas como um instituto emblemático, pois não atinge o propósito para o qual foi concebido no Constituição e no Código do Processo penal. 
Capítulo V
APRESENTAÇÃO, ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS
Aqui, pretende-se com a presente pesquisa trazer uma discussão e reflexão, dos casos de interposição da providência do habeas corpus, a razão do não uso desta pelos detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza e na Unidade de Detenção Preventiva junto à 2ª Esquadra da Policia da República Moçambique. Isto passa necessariamente por recordar que a providência do habeas corpus encontra-se plasmada no art.º 66 CRM 2004 e no art.º 312 e seguintes do CPP, decorrendo destes preceitos legais que todo aquele que se encontra na situação de liberdade de circulação restringida, e desde que reúna os requisitos previsto na lei, poderá impetrar por si ou interposta pessoa no tribunal da jurisdição onde se encontra detido.
Historicamente, o Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza, data da era colonial, onde eram encaminhados todos aqueles que infringissem as boas normas da convivência social, para que fossem reeducados e reinseridos na sociedade. Até hoje aquele estabelecimento é usado com o mesmo propósito, daí que os detidos que se encontram nela foram alvos da nossa pesquisa. 
Analisado o questionário dirigido aos detidos na EPPG e na UDP junto a 2ª Esquadra em Outubro de 2016, encontramos apenas duas situações de detidos em condições de prisão que violavam a lei, o que possibilitou com que se fizesse um elo de ligação entre os detidos e a providência do habeas corpus, que é o epicentro do nosso estudo. Porém dos 40 detidos que tiveram acesso ao questionário sobre o habeas corpus, cerca de 35 afirmaram que desconhecem a existência da Providencia de Habeas Corpus, não sabem nada sobre a sua função, muito menos a sua importância.
Questionados se alguma vez tiveram alguma sessão de educação cívica onde de forma rápida teriam chamado a luz o habeas corpus, a resposta foi negativa, porque a maioria dos técnicos jurídicos e advogados que se fazem presentes naqueles estabelecimentos prisionais, não falam do habeas corpus, excluindo-se deste modo mais um meio que vela pela defesa da liberdade individual em caso de lesão ou de ameaça de lesão do direito a liberdade.
Durante o estudo aferimos um nº 3 casos de detidos na fase da prisão preventiva, esperavam ser esclarecidos da sua situação prisional, de salientar que muitas vezes este processo é moroso, e em alguns casos chegando-se a ultrapassar os prazos da prisão preventiva, previstas no art.º 308º CPP.
Fonte: relatório da LDH /Xai-Xai
Através do questionário dirigido aos detidos na EPPG e na UDP, junto à 2ª Esquadra da PRM, foi possível detectar que há uma clara violação dos direitos humanos, isto porque a higiene não é das melhores, o que faz com que os estabelecimentos prisionais produzam um cheiro desagradável, suscetível de transmitir doenças para os detentos, entrando-se em choque com os direitos e liberdades fundamenteis que constam na DUDH, CADHP, os mesmos que se encontra assegurados pela CRM 2004. 
Segundo informações da UDP junto à 2ª Esquadra da PRM e no EPPG, até o início do ano 2016 tinham 2 detidos que ainda não sabiam da sua situação prisional, porque ainda não tinham sido apresentados ao poder judicial, e ainda não tinham sido notificados para o primeiro interrogatório. Abrindo-se assim um espaço para a interposição da providência do habeas corpus, de acordo o art.º 66 CRM conjugado com art.º 312 e 315 ambos do CPP, ainda não nos foi relatada nenhuma detenção ordenada por uma entidade incompetente e muito menos detenções que operavam fora das celas. Com isto percebemos que se respeita em parte o acórdão nº 04 /CC/2013, de 17 de Setembro, que veio impor restrições, aos actos de detenção fora de flagrante delito levados a cabo pelo Ministério Público ou demais autoridades d polícia de investigação criminal, conforme previsão do corpo e § único do art.º 293 CPP. 
5.1. Execução da providência do habeas corpus na cidade de Xai-Xai
Os direitos a liberdade, a justiça e de acesso aos tribunais, defendem que um cidadão tenha direito a assistência jurídica, nascendo destes direitos a obrigação, de um detido por exemplo ser assistido por um advogado ou técnico jurídico, este último que pode ser encontrado no IPAJ, um órgão criado pelo Estado através da lei nº 6/94, de 13 de Setembro, para assistir em juízo os cidadãos economicamente carenciados.
Questionário semelhante foi usado para a recolha de dados no IPAJ, onde encontramos uma realidade muito semelhante a dos detidos na EPPG e na UDP junto à 2ª Esquadra da PRM em Xai-Xai, porque o Delegado Provincial do IPAJ em Gaza Dr. Tomás Pinto Langa, em jeito de resposta a entrevista por nós efectuada naquele instituição no dia 01 de Novembro de
 2016, afirma que nunca interpuseram a providência do habeas corpus em tribunal com fundamento na falta de experiência no seu uso e também devido a morosidade processual.
Os tribunais judiciais da Cidade e da Província de Gaza por seu turno, respondendo a entrevista garantem que de 2014 a 2016 não receberam petições de habeas corpus, apresentados por advogados, técnicos jurídicos do IPAJ, e nem dos próprios detentos, facto que confirma que poucas pessoas conhecem e sabem qual é a real importância do habeas corpus. 
O IPAJ representado por Dr. Tomás Pinto Langa e o Tribunal pelo Magistrado Judicial Dr. Isaías Duvane, não recomendam a interposição do habeas corpus por tratar-se de uma providência que ainda precisa de um estudo aprofundado no ordenamento jurídico moçambicano para a sua aplicação efectiva, porque do que ocorre desde a sua inserção no ordenamento jurídico moçambicano não pode ajudar na restituição da liberdade individual dos detidos em Xai-Xai.
Acreditamos que a morosidade processual levantada pelo IPAJ como um dos fundamentos para não uso do Habeas corpus, surge do facto de ela nunca ter sido interposta em tribunais o que de certa forma pode contribuir para que os magistrados precisem de muito tempo para decidirem por se tratar de um meio que nunca foi usado em Xai-Xai, apesar de existir na lei já a bastante tempo, por outro lado a falta de informação sobre quem pode decidir, e em que prazos apesar de estar explicito na lei que o prazo para deferir ou indeferir a petição de habeas corpus é de oito (8) dias nº 2 do art.º 66 CRM 2004[footnoteRef:9]. [9: Nº 2 do art.º 66 CRM 2004; Em caso de prisão ou detenção ilegal, o cidadão tem direito a recorrer à providência do habeas corpus.
A providência de habeas corpus é interposta perante o tribunal, que sobre ela decide no prazo máximo de oito dias.] 
5.2. Análise critica das entrevistas sobre o habeas corpus 
Com entrevistas ficou claro que o habeas corpus consta apenas da constituição e do Código do Processo Penal e não é usado facto que faz com que aquela providência seja apenas emblemática, e olhando para o fundo das próprias entrevistas elas deixam transparecer a realidade do dia-a-dia no que tange a aplicação da lei.
A lei prevê a providência do habeas corpus, mas não é usada o que acaba nos remetendo a situação de inaplicabilidade da norma. Aqui torna-se imperioso colocar a seguinte questão o que falta para que o habeas corpus sai do papel para a sua implementação?
Quanto a recomendação do habeas corpus ficou claro que não pode ser possível porque todos os técnicos jurídicos do IPAJ não tem matéria suficiente para a sua implementação, por sua vez o tribunal também não recomenda facto que nos submete ao fenómeno deste nunca ter recebido uma petição do habeas corpus. Neste sentido os detidos infelizmente também não têm como conhecer e também na prisão não se fala do habeas corpus. Entre tanto nós não concordamos com esta posição porque para além serem efetuadas detenções arbitrárias, estas entidadesdeviam promover o uso do habeas corpus pelos detidos, através da realização de encontros de auscultação dos motivos da detenção, a entidade que efectuou a captura de cada um e ou pela revisão dos mandados detenção.
5.3. Falta de informação sobre os direitos 
Segundo Nazir Mboa, detido na EPPG, a 02 de Novembro de 2016 ele diz que “Sei que tenho direitos. Perguntei várias vezes quais eram os meus direitos, mas nunca me disseram.” 
As autoridades responsáveis (Policia de Investigação Criminal) pela captura, detenção ou prisão de uma pessoa devem, respectivamente no momento da captura e no início da detenção ou da prisão, ou pouco depois, prestar-lhe informação e explicação sobre os seus direitos e sobre o modo de os exercer. 
Qualquer pessoa acusada de uma infracção penal terá direito a ser prontamente informada numa língua que ela compreenda, de modo detalhado, acerca da natureza e dos motivos da acusação apresentada contra ela, art.º 14º Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos.
Félix Chiluvane: detido na UDP, Junto a 2ª Esquadra da PRM, Agosto de 2016:
Não sei porque estou detido. Estou desesperado e pago por crime que não cometi, mas sei também que sou um ser humano com direitos. Tudo o que quero é ser tratado humanamente e com dignidade, ser informado da minha situação. O meu único problema é que, estou aqui há bastante tempo. 
Todo o indivíduo preso ou detido sob acusação de uma infracção penal, deverá ser julgado num prazo razoável ou libertado. Art.º 9º do Pacto Internacional sobre os Direitos Civis e Políticos, o que o Estado Moçambicano esta longe de alcançar apesar de empreender esforços, pois inúmeras situações de detenções arbitrarias são relatados anualmente, o que poderia ser evitado se as entidades responsáveis pela legalidade dos processos desde a acusação/detenção observassem estritamente a lei. 
5.4. Impacto do desconhecimento da providência do habeas corpus
Este fenómeno faz com que a providência de habeas corpus, torne-se apenas uma ilusão de ótica relativamente aos detidos e bem como para a sociedade, porque não só consta como também não é posta em prática como instrumento flexível e de rápida decisão para restituir a liberdade do detido injustamente. Nesta ordem de ideias nota se um sentimento de desapego, em relação a providência do habeas corpus, facto confirmado pela Delegação do IPAJ em Xai-Xai e pelos Tribunais da Cidade e da Provincia de Gaza. Porque o não conhecimento e o não uso da providencia do habeas corpus pelos técnicos jurídicos que também são os garantes de legalidade e promoção dos meios de defesa da liberdade individual tem efeitos nefastos na vida dos que se encontram na situação prisional e faz com que os detidos fiquem dependentes de apenas dois meios flexíveis para a restituição da liberdade caso da TIR e da Caução.
37
Conclusão
Do estudo feito concluímos que a providência do habeas corpus ainda é um caso por se estudar de modo a dar o seu sentido real, pelo facto de ser um dos meios relativos a restituição da liberdade individual. Providência que é uma realidade no seio do ordenamento jurídico moçambicano, não só, mas também em outros Países como Portugal e Brasil, pois esses Países usam do mesmo sistema Jurídico (Romano-germânico), porém dá lugar ao uso de meios mais adequados para a salvaguarda do bem maior que é a liberdade, quando está se encontra limitada ou em ameaça de limitação por actos que constituem-se como ilegais e de abuso de poder. 
Ora em relação ao estudo efectuado, ficou claro que o que motiva os detidos a não usarem da providência do habeas corpus é que eles não conhecem, assim como os técnicos jurídicos que os assistem que também não conhecem e nem usam aquela providência. Porém foi possível encontrar dois casos em que se podia interpor a providência do habeas corpus, caso que podia vir a ser o primeiro a apresentar a petição de habeas corpus, porque de acordo com as informações obtidas nos dois tribunais em Xai-Xai, nunca receberam nenhum pedido de habeas corpus dentro do nosso espaço temporal de estudo assim como fora dele. 
A providência do habeas corpus, que esta constitucionalmente consagrada no art.º 66 CRM, e que encontra suporte no Código do Processo Penal art.º 312 e seguintes, visa tutelar o direito a liberdade quando este é violado ou se encontre na eminência de o ser. E do facto de os detidos não terem nenhum conhecimento sobre o habeas corpus, acabam sofrendo as consequências, porque passam mais tempo detidos e limitados de exercer um e outro direito, o que não seria possível se estes conhecessem e usassem do habeas corpus. 
A falta de aprofundamento da matéria sobre o habeas corpus nas universidades constitui um dos motivos para que lei preveja, mas não seja aplicado, contudo ainda há muito que se fazer para melhor enquadrar e usar da providência do habeas corpus em Moçambique.
Os detidos, têm a seu favor mais um meio defesa da sua liberdade, pois por sua natureza a petição de habeas corpus é célere quando interposta em tribunal e por outro lado os advogados e técnicos jurídicos para além de socorrem-se do termo de identidade e residência e/ou da caução para pedirem a restituição da liberdade do detido sem a observância da lei.
Mas há que lamentar o seu desuso que é acompanhado por uma desinformação e falta de divulgação, sendo este um dos maiores problemas que afectam a legislação moçambicana. E a lei sempre espera resultados positivos de um determinado caso, porém o habeas corpus no ordenamento jurídico moçambicano se tornou ineficaz carecendo de revisão para se adequar a realidade do dia-a-dia dos detidos injustamente. 
Em relação a comparação da providência do habeas corpus quanto a sua aplicabilidade em três países nomeadamente Moçambique, Portugal e Brasil, percebe-se que nestes últimos dois Estados, o habeas corpus entra em acção na maioria dos casos de vencimento dos prazos da prisão preventiva, prisões ilegais, fundamentos que se encontram previstos no ordenamento jurídico moçambicano, para a impetração do habeas corpus em Tribunal.
Sugestões 
Sendo que a providência do habeas corpus, é um dos meios de tutela da liberdade individual, carece de uma prática constante para que seja dominado pelos detidos irregular, ilegalmente ou que se encontram na situação de prisão preventiva vencida:
· O IPAJ, IAJ, MPº, e todos aqueles que detém algum conhecimento sobre as normas jurídicas que devem executar campanhas de educação cívica para os detidos no Estabelecimento Penitenciário Provincial de Gaza e na Unidade de Detenção Preventiva, junto à 2ª Esquadra da PRM, para que façam uso sempre da providência do habeas corpus. 
· As instituições de justiça devem levar a cabo um processo de capacitação sobre o habeas corpus, e as suas formas de manuseamento a todos que fazem parte deste circulo, como é caso por exemplo de técnicos jurídicos, e bem como as campanhas de educação cívica para a sociedade em geral.
· Devem levar a efeito a revisão dos artigos atinentes a providência do habeas corpus como forma de adequa-los a realidade dos acontecimentos em Moçambique.
· Com a revisão em curso do Código do Processo Penal, sugerimos a revisão dos prazos da prisão preventiva, por se mostrarem curtos para a instrução dos processos que carecem de uma investigação profunda.
· Sugere-se ainda, a revisão regular dos processos dos detidos preventivamente e bem como a observância dos fundamentos justificativos para a detenção de qualquer indivíduo, através do código de execução das penas.
· A inserção no sistema nacional ensino, um capítulo relativo aos direitos e garantias fundamentais do cidadão, plasmados na Constituição da República de Moçambique.
Bibliografia
Legislação:
· CONSTITUICAO DA REPUBLICA DE MOCAMBIQUE (C Vigente.), publicado no Boletim da Republica n°51, I Serie de 22 de Dezembro de 2004;
· CONSTITUICÃO DA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE (Segunda C.), publicado no Boletim da Republica n°44, I Serie de 2 de Novembro de 1990;
· CONSTITUICÃO DA REPÚBLICA POPULAR DE MOÇAMBIQUE (primeira C.), publicado

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