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Psicologia da gravidez 4

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MALDONADO, M. T. P. Psicologia da gravidez: parto e puerpério. 8ª ed. Petrópolis, Vozes, 1985. 164 p. 
4. O parto como fenômeno psicossomático e o significado psicológico dos principais tipos de parto
	Um dos principais medos que percorrem o momento do parto é de não sentir os sinais do mesmo, que nem sempre são facilmente identificáveis. O tempo também é um fator que causa angustia nas mães, através das contrações frequentes que não resultaram em trabalho de parto, um longo período expulsivo ou mais rápido que o esperado.
	O momento do parto é ansiado por vários motivos, marca uma transição de algo que é inevitável e irreversível. O corpo da mulher que na gravidez se modifica lentamente, no parto a mudança é abrupta; assim também, a chegada do bebê traz grandes modificações na estrutura familiar. Além disso, por não saber ao certo quando o momento do parto vai chegar e como ele vai acontecer, ele é “vivido como um 'salto no escuro', um momento imprevisível e desconhecido sobre o qual a mãe não se tem controle” (MALDONADO, p. 48, 1985), e justamente por essa falta de controle da mãe é que traz a ela tanta angústia.
	Quando não há uma elaboração da mãe sobre esse momento, ele é vivido como um corte na relação simbiótica e ela sente como se tivesse perdido uma parte do seu próprio corpo, não reconhecendo o bebê como um ser de características próprias, trazendo dificuldades na relação maternal. Esse tipo de comportamento não é possível ser previsto e não acontece em todos as parturientes.
	Os fatores que definirão a qualidade do parto dependerão da história pessoal, o contexto em que vive essa gestante e em que ocorrerá o parto, observando de que forma ela entende os momentos do parto e a personalidade da mulher. A forma como a mulher simboliza o bebê e o parto também influirão no trabalho de parto. Assim como características pessoas interferem no parto, o tipo de parto realizado também afetaram a personalidade dessa mulher.
	
a. O parto preparado (“sem dor”)
	O parto preparado é conhecido também como parto sem dor e tem o objetivo da parturiente participar ativamente do parto sentindo uma quantidade suportável de dor sem a necessidade de analgesia. As vantagens psicológicas desse tipo de parto é poder vivenciar conscientemente do parto, reduzindo o período de depressão pós-parto, e possibilitando a mãe estabelecer uma relação maternal mais satisfatória.
	Para que esse parto ocorra sem grandes sofrimentos para mãe é necessário que haja uma preparação antes do parto, de modo que o parto sem analgesia venha facilitar a relação maternal e não o contrário. A preparação para o parto “sem dor” tem o objetivo de humanizar os nascimentos, que tem sido tão mecanizados.
b. O parto sob anestesia
	Esse parto envolve a presença de narcóticos durante o período de dilatação e em graus mais elevados durante o período de expulsão, provocando perca de consciência e amnésia acerca do processo. Estudos indicam que bebês de mães que receberam analgesia durante o parto só conseguiram mamar após o quarto dia de vida. Os efeitos dos medicamentos estão relacionados a “número de partos anteriores, duração ou dificuldade do trabalho de parto, nível de tensão da parturiente, etc.” (MALDONADO, p. 55, 1985).
	Estudos apontam que o uso de narcose durante o parto pode gerar estranheza da mãe diante do bebê já que durante o nascimento e o choro ela geralmente se encontra inconsciente, postergando o aparecimento do sentimento de maternagem.
c. O parto cesário
	Segundo a autora, as indicações do parto cesário é nos casos “desproporção fetopélvica; discinesias [...]; apresentação pélvica em primíparas; apresentação anômala [...]; placenta prévia; pré-eclâmpsia grave; distocias de partes moles [...]; formas graves de diabete; antecedentes de operações ginecológicas [...]; sofrimento fetal; prolapso; procúbitos e procedências do cordão umbilical; primíparas idosas [...]” (MALDONADO, p. 57, 1985)
	O Brasil é um país que apresenta altos índices de parto cesáreo, e apesar de poucos casos de mortalidade infantil, é importante se pensar nos riscos que a cirurgia trará para a mãe e para o bebê. Além disso, estudos consideram que o parto vaginal é essencial para a estimulação cutânea do bebê que trará benefícios para o desenvolvimento do mesmo. Do mesmo modo, os índices de mortalidade de bebês de parto cesário é maior do que os de parto vaginal.
d. Aspectos psicológicos da “cesárea a pedido”
	O parto cesáreo a pedido é bem comum devido ao estilo de vida que levamos atualmente, sendo considerado o tipo de parto em que a mãe é mais passiva. As motivações que levam as mulheres a escolherem o parto cesário sempre como primeira opção podem estar motivadas por várias circunstâncias que podem estar relacionadas a medos durante a gravidez, tais como de não estar preparada para a hora do parto; medo de deformações corpóreas; e das dores do parto. O medo de não dar conta de seguir com o parto vaginal também percorrem a gestante. Essa escolha pelo parto cesáreo pode estar relacionado com o medo de ser mudada, mantendo-se preservada de uma experiência desconhecida.
e. O parto “Leboyer”
	Esse tipo de parto foi desenvolvido por Leboyer na Índia e é considerado uma filosofia de parto humanizado. Algumas condições físicas são necessárias para esse tipo de parto, tais como a “luz difusa, música suave e contato corporal imediato entre a mãe e o bebê” (MALDONADO, p. 62, 1985) e o cordão umbilical só deve ser cortado quando para de pulsar, e após o desse momento o bebê é colocado em água morna. O parto Leboyer incentiva massagem para o bebê, que seria importante para desenvolvimento sensorial, afetivo e motor.
	Autores consideram importantes também, para além da assistência ao bebê, a assistência humanizada deve se ampliar à mãe. Nesse tipo de parto, a postura acolhedora da equipe é fundamental.
f. O parto “vertical”
	Estudos mostram que tribos indígenas e sociedades primitivas praticavam o parto vertical que pode ser de joelho, sentada, em pé ou de cócoras. Esse parto é considerado vantajoso por ter uma interferência mínima do obstetra no trabalho de parto e na expulsão, servindo como observador já que as complicações que exigem total atenção do obstetra são minorias dos partos. 
	Essa posição permite contato imediato da mãe com seu bebê após o parto, e o momento da expulsão do bebê durante o parto se torna mais prazeroso. É importante que no momento do parto a mulher se sinta à vontade para escolher a posição que se sentir mais confortável e confiante, assim como escolher as pessoas que ela deseja que a acompanhe. Esse método preconiza a qualidade de assistência durante o parto, evitando todo procedimento considerado invasivo.
5. Aspectos psicológicos do puerpério e os primórdios do relacionamento pais-bebê
	O puerpério corresponde aos três primeiros meses após o parto, se caracterizando por comportamentos de ansiedade e sensibilidade da mulher, a depressão reativa também é bem comum. O primeiro dia é um período de recuperação pelo cansaço do parto. É comum a alternância de humor, tanto para a euforia quanto para a depressão, sendo está mais prevalente.
	Quando a mãe vê o bebê como parte de si mesma, o momento do nascimento pode ser difícil já que essa transição ainda não foi bem estabelecida. O período de mudança entre o bebê no útero e o bebê fora dele pode gerar dificuldades para a mãe, que pode não conseguir conciliar a imagem do bebê idealizado com o bebê real. Essa frustração das expectativas da mãe em relação à presença do bebê pode provocar o que conhecemos como depressão pós parto. Em casos de surtos psicóticos associados a esse período de maternidade eles podem não ser identificados como relacionados a essa fase, apesar de que em casos de surto existe uma história anterior de crise. 
	Winnicott chama de preocupação materna primária a capacidade da mãe de se ligar ao seu bebê e de se adaptar às suas necessidades (MALDONADO, 1985). Esse sentimento materno intenso pode não surgir no primeiro momento em que a mãe
vê seu bebê, o que posteriormente pode provocar culpa na mãe. 
	Em casos de separação do bebê e a mãe logo após o nascimento, o sistema de alojamento conjunto tem o objetivo de diminuir a distância entre eles numa fase tão importante e fortalecer o vínculo. Obviamente, a qualidade da experiência do alojamento conjunto vai depender da personalidade da mãe, assim também, como os sintomas depressivos após o parto dependerão dinâmica da mãe.
	Nos primeiros dias de nascimento, a mãe ainda não sabe identificar as necessidades do filho, por isso com o tempo ela fará distinção dos choros de acordo diferenciando-os como choro de dor, fome, desconforto, sono. Quando a mãe é cria muitas expectativas em relação ao filho, ela sente grande necessidade de cuidar e suprir as demandas do bebê, não se decepcionando pela falta de um gesto de gratidão por parte do filho. A forma com que essa mãe reagirá às características do bebê poderá modificar seu comportamento tornando-se mais afetiva, ansiosa, irritada, paciente se ela identificar assim também o bebê, mas quando ela tem alguma rede de apoio que a ajudará nesse momento de novidades, ela pode se sentir mais disposta a cuidar do bebê.
	As alterações causadas pela gravidez não afetam somente a mãe, o pai pode se sentir motivado a participar do cuidado com o filho ou pode também se sentir excluído da relação, se envolvendo no trabalho ou em outras atividades que não envolvam o filho. Quando ocorre da mulher haver outros filhos, a chegada do outro bebê pode provocar ciúmes e raiva nos outros filhos.
a. O significado psicológico da amamentação e da alimentação artificial
	O desenvolvimento da tecnologia e dos níveis educacionais da população fizeram com que houvesse um aumento dos alimentos industrializados para bebês. Nos casos de mulheres de países pobres que se encontram subnutridas, o leite materno, mesmo que contenha fatores de nutrição e proteção, não tem qualidades suficientes para nutrir esses bebês, sendo assim a alimentação industrializada precisa ser administrada.
	Apesar de os investimentos para melhorar a qualidade desses leites, o leite em pó não é capaz de substituir o leite materno. A substituição do leite materno não traz benefícios do ponto de vista nutritivo e nem psicológico, já que sua substituição faz com que a amamentação seja cada vez menos necessária, fazendo com que e criança se torne pouco imune a doenças infecciosas.
	Estudos afirmam que o fato de colocar a criança para a amamentar antes mesmo de se cortar o cordão umbilical pode provocar contrações uterinas reduzindo a perda de sangue e eliminando a placenta mais facilmente, estimulando a produção de leite. Fatores emocionais tais como a calma, e confiança também influenciam na lactação. Um ambiente favorável tem grande importância para que a produção de leite seja satisfatória, sendo não apenas o ambiente familiar da puérpera como também a equipe de saúde, que deve oferecer incentivo e informações sobre a importância da amamentação. 
	Atualmente, entende-se que a amamentação não é um comportamento instintivo assim como se acreditava antigamente, mas sabe-se da importância da amamentação precoce para a continuidade do aleitamento materno. A amamentação é um meio de fortalecer os vínculos entre a mãe e o bebê depois da separação brusca entre os dois, e é através do contato pele a pele, dos olhares e carícias que essa relação vai se intensificando. Justamente por esse aprofundamento da relação mãe-bebê através do aleitamento, que suscitará as fantasias e expectativas sobre o bebê que muitas das mães se sentem ansiosas com essa prática devido a essa relação que se estabelece. As dificuldades da mãe são sentidas por ela como dificuldades do bebê, tanto em pegar o peito, de mamar rápido, de dormir enquanto mama, o que fará com que ela introduza a mamadeira precocemente. A resistência da mulher em amamentar seu bebê tem relação estreita com suas questões psíquicas. A partir disso, a alimentação artificial pode ser oferecida com culpa. 
b. A relevância do contato precoce para o desenvolvimento do bebê
	Quando o bebê está dentro da barriga da mãe, ele é constantemente estimulado pela placenta da mãe e não precisava se preocupar com o suprimento de suas necessidades básicas, ele ouvia os sons do corpo da mãe, se alimentava pelo cordão umbilical, recebia iluminação constante, porém, ao nascer, quem vai cumprir esse papel da placenta será a mãe. O bebê sentirá desconforto quando sentir fome, frio ou outros estímulos desagradáveis, é através da pele e de suas sensações que ele conhecerá o mundo. Esse conhecimento do mundo pelo tato é de extrema importância para o desenvolvimento do bebê, principalmente relacionados aos aspectos afetivos.
	Estudos afirmam que pode existir período sensível da mãe após o parto, e esse período seria importante para a formação do vínculo entre mãe e filho e inclusive, para o desenvolvimento linguístico da criança e sensorial. Outras teorias consideram que não haja somente um período específico para a formação de vínculo, mas isso dependerá também da história de vida da mãe e seu contexto social. O que não se pode negar é relevância da relação mãe e filho nos primeiros tempos de vida. 
	Em casos de bebês internados em encubadoras, sabe-se que tocar, acariciar e conversar com o bebê acelera seu desenvolvimento e é uma forma de estimulação precoce. Além disso, o fato de vivenciar essa separação brusca, principalmente em casos de prematuridade pode abalar emocionalmente os pais, e através desse contato com o bebê ainda na encubadora, essas relações podem ser fortalecidas.
c. Os recursos perceptuais do recém-nascido
	Estudos iniciais sobre percepção afirmavam existir percepções rudimentares em recém-nascidos, e depois disso, já se tinha conhecimento de que eles conseguiam enxergar apenas vultos, assim, para que um bebê responda a algum estímulo, é necessário que ele seja suficientemente forte. A evolução da visão é rápida, por isso, a partir do segundo mês, ele tem preferências por determinados estímulos. É possível falar atualmente da percepção auditiva de bebês, que são capazes de reconhecer o cheiro da mãe. Assim, é importante promover estimulação do bebê através de todas as vias sensoriais, que além de promover o desenvolvimento do bebê reforça a relação da mãe com seu bebê.

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