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FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR | Fisiologia II | Prof. Dr. José Antônio Dias Garcia | 02.08.2017 Yala Figueiredo | Medicina UNIFENAS XXXIV 1 INTRODUÇÃO O sistema cardiovascular possui funções coordenadoras e integradoras. Anatomicamente, é formado por coração e vasos – sanguíneos e linfáticos. Sabemos que o vaso que sai do coração e leva sangue para o corpo é chamado de artéria e o vaso que chega ao coração é chamado de veia; onde o lado arterial é reservatório de pressão e o venoso contém maior parte do volume sanguíneo (cerca de 64%). Os líquidos do sistema cardiovascular são o sangue e a linfa. O sangue sai do VE e vai para o AD, passando pelo corpo. Ou seja, é um liquido que vai de uma região de alta pressão para uma região de baixa pressão. Quem distribui o sangue pelo corpo são as artérias, enquanto as veias fazem o retorno venoso (diferente de refluxo, não presente em veias porque elas possuem valvas venosas). O coração, por sua vez, é o órgão que recebe e bombeia sangue. As primeiras artérias (ou seja, a primeira ramificação da artéria aorta) são classificadas histologicamente como artérias elásticas e, depois, como artérias musculares. A diferença entre elas é a camada média, que possui tecido elástico e tecido muscular, respectivamente. É importante que a primeira ramificação seja elástica porque é ela que recebe o sangue com maior força, sofrendo estiramento e condicionando o ventrículo a entrar em sístole e quando ele entra em diástole ele retrai, empurrando o sangue. Dessa forma, são também reservatórios de pressão porque durante a diástole a retração das artérias elásticas empurra o sangue para a circulação, gerando pressão arterial diastólica. Assim, há uma pressão do sangue na artéria durante a sístole e outra durante a diástole, uma resposta à retração do elástico. As artérias e arteríolas que possuem tecido muscular podem sofrer vasoconstrição e vasodilatação. Quando há ativação do sistema nervoso autônomo, ocorrerá a liberação de um hormônio específico que atuará dependendo de um receptor e então ditará o que acontecerá nesses vasos. Por exemplo, noradrenalina e adrenalina atuam no receptor adrenérgico α1, causando vasoconstrição, e no receptor adrenérgico no receptor adrenérgico α2, causando vasodilatação; artéria renal, artérias da face, sistema digestório, mucosas, pele, baço e glândulas salivares têm receptor α1. Assim, quando o SNsimpático é ativado, o fluxo sanguíneo nesses vasos diminui, causando vasoconstrição. O contrário acontece no MEE e o MEC, onde ocorre vasodilatação. Assim, numa ativação simpática, além de aumentar o débito cardíaco, também aumenta a sua distribuição pelas artérias, que também regulam o fluxo para os órgãos de acordo com sua necessidade metabólica como após o almoço: o fluxo sanguíneo do sistema digestório aumenta, causando vasodilatação das artérias e arteríolas dessa região. É importante entender que as artérias, além de distribuírem o sangue também são reservatórios de pressão porque, numa uma condição fisiopatológica como o hipertireoidismo, há aumento da força contrátil e frequência cardíaca e a pressão sistólica é maior; mas se o metabolismo do corpo está aumentado, as artérias e arteríolas sofrem vasodilatação. Quando o ventrículo entrar em diástole, as artérias elásticas retraem, diminuindo a resistência vascular. Assim, a pressão sistólica aumenta e pressão diastólica diminui. De que forma isso acontece? Sabe-se que durante a diástole o coração relaxa e que quando as artérias elásticas retraem, o sangue é empurrado para a circulação. Paralelamente, devido ao metabolismo elevado, as artérias que chegam aos órgãos estão dilatadas, fazendo com que haja uma diminuição na resistência periférica nesse momento, causando diminuição da pressão diastólica. As veias, por sua vez, são responsáveis pelo retorno de sangue ao coração e são reservatórios de sangue. As grandes veias e seios venosos, histologicamente e fisiologicamente, possuem na musculatura lisa da parede receptores adrenérgicos α1. Então, numa ativação simpática, ocorre vasoconstrição e aumenta o retorno venoso. Se chegar mais sangue ao coração, ele também ejeta mais sangue – lei do coração – aumentando o débito cardíaco num exercício físico, por exemplo. FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR | Fisiologia II | Prof. Dr. José Antônio Dias Garcia | 02.08.2017 Yala Figueiredo | Medicina UNIFENAS XXXIV 2 Já os capilares permitem troca entre o liquido intersticial e plasma sanguíneo. Capilares não são inervados e não possuem vasoconstrição nem vasodilatação porque não possuem musculo liso, mas sim permeabilidade capilar, causando aumento ou diminuição de poros. Por isso, numa resposta alérgica, diz-se que a histamina aumenta a permeabilidade capilar. Porém, deve-se tomar cuidado ao pensar em esfíncteres pré – capilares pois estes apresentam musculo liso, podendo aqui existir vasoconstrição e vasodilatação e consequentemente diminuição e aumento do fluxo sanguíneo na rede capilar, respectivamente, ocorrendo filtração e reabsorção capilar. Inicialmente na atividade física, as artérias e arteríolas que irrigam o musculo recebem ativação simpática, ocorrendo vasodilatação. Porém, esse fluxo sanguíneo é intermitente porque o SNsimpático não age mais na circulação muscular, mas sim num controle local da circulação. De que forma isso acontece? Devemos nos ater ao fato de que quando a adenosina fica sozinha sem o fosfato, ela também é vasodilatadora. Então, quando aumenta o fluxo sanguíneo na rede capilar, a produção de ATP também aumenta, chegando mais nutrientes e sobrando pouca adenosina livre. O O2 também aumenta e o CO2 e o H+ diminuem, aumentando o pH naquela região. Em resposta ao aumento do fluxo sanguíneo ocorre uma vasoconstrição dos esfíncteres capilares para não haver edema, causando diminuição do fluxo sanguíneo, diminuindo O2, pH e ATP e, finalmente, liberando adenosina, fazendo com que haja uma vasodilatação. Ou seja, o fluxo sanguíneo deve ser intermitente porque se aumenta muito o fluxo sanguíneo nos capilares, a pressão hidrostática capilar aumenta, causando edema. Há então uma auto regulação do fluxo sanguíneo local. Ainda, quando há contração do músculo, o tecido adjacente pressiona as veias, aumentando o retorno venoso. Lembrando que se houver diminuição do retorno venoso há congestionamento do retorno capilar, causando edema de MMII. O sistema linfático é responsável pelo retorno do excesso do liquido intersticial que, quando entra no vaso linfático, recebe o nome de linfa, misturando-se no sangue na subclávia e na jugular interna. Isso é importante porque quando o liquido intersticial volta à corrente sanguínea ocorre o retorno das proteínas que são filtradas nos capilares – lavagem proteica - evitando edema. Assim, as proteínas são absorvidas pelo sistema capilar linfático, e não capilar sanguíneo. Ele também é importante na absorção do sistema digestório, auxiliando na reabsorção dos quilomicrons, lipoproteínas que possuem mais proteínas que lipídeos. Vimos que o líquido que forma o meio interno do corpo é o liquido extracelular. O plasma e o liquido intersticial circulam e mantem um ambiente favorável para a vida celular. A importância do sistema cardiovascular, portanto, é manter o liquido extracelular circulando, levando nutrientes à célula, removendo escorias celulares, transportando gases respiratórios etc. Um paciente com obstrução de um ramo da artéria coronariana, por exemplo, tem diminuição da circulação daquela região, ocorrendo degeneração hidrópica e necrose, causando infarto – substituição dos cardiomiócitos por fibroblastos, que são péssimos condutores elétricos, não havendo, portanto, condução de impulso elétrico. Isso é observado no ECG.Ao nível de sinalização celular, uma célula epitelial produzirá um hormônio que irá para a corrente sanguínea e atuará num órgão alvo distante que possui receptores para ele – sinalização endócrina. O hormônio é liberado para o liquido extracelular, que forma o meio interno (por isso se chama endócrino). Existe também a sinalização neuroendócrina, que se difere da endócrina apenas pela célula que produz o hormônio. Assim, quem distribui o sinalizador é o sistema circulatório. O sistema cardiovascular também distribui calor. A produção de calor ocorre na célula através de reações químicas e o local de maior produção ocorre no tronco. O sangue sai do tronco através de uma artéria (que, juntamente com uma veia e um nervo, forma um plexo) e vai para os membros, retornando por uma veia. Ele sai do tronco mais quente e quando volta está mais frio porque o calor é transferido, economizando energia no corpo porque não há produção de calor na extremidade no mecanismo de contra-corrente. FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR | Fisiologia II | Prof. Dr. José Antônio Dias Garcia | 02.08.2017 Yala Figueiredo | Medicina UNIFENAS XXXIV 3 E por que ficamos com sono quando está frio? Devido à vasoconstrição que as veias sofrem. O retorno venoso é feito pelas veias profundas para que ocorra menos perda de calor. Em dias quentes, as veias superficiais dilatam para perder mais calor e não aquecer muito o corpo. Se uma doença aumenta o metabolismo corporal em 100%, a produção de CO2 aumenta. O corpo busca o equilíbrio, portanto, as veias periféricas ficam mais dilatadas. É por isso que durante uma hipertermia ficamos mais vermelhos porque o sangue fica mais superficial, tentando perder mais calor. O coração transmite força hidráulica. O sistema cardiovascular também produz hormônio, AMP e NO, que são fatores relaxantes derivados do endotélio. Já o hormônio que é um fator constritor derivado do endotélio é a endotelina. ANATOMIA FUNCIONAL CARDIOVASCULAR O coração é um órgão muscular formado por musculo estriado cardíaco, que possui contração involuntária. É formado por dois sincícios musculares chamados de átrios e ventrículos. Na região atrioventricular existe muito tecido fibroso, que é um péssimo condutor de corrente elétrica. Nos ventrículos, existe predomínio concêntrico de fibras cardíacas, mas existem outros tipos também como obliquas e longitudinais. Já as células estriadas cardíacas, ou seja, cardiomiócitos, são células cilíndricas. As células musculares estriadas cardíacas podem ser classificadas em três tipos: a) Células marca-passo: células estriadas cardíacas pobres em miofibrilas que geram impulsos elétricos. b) Células condutoras: células estriadas cardíacas pobres em miofibrilas que conduzem impulsos elétricos. c) Células de trabalho: células estriadas cardíacas ricas em miofibrilas que contraem e relaxam o coração. As miofibrilas são formadas por sequências de sarcômeros, unidade funcional do musculo estriado, que são formados pelas proteínas contráteis actina e miosina e também quitina, tropomiosina e troponina. Células estriadas cardíacas pobres em miofibrilas geram no coração o sistema gerador e condutor elétrico do coração, ou seja, não conseguem contrair nem relaxar. As células musculares estriadas esqueléticas (miócitos) que também são longitudinais formam o musculo. Mas em sua extremidade existem os tendões porque durante a contração há o encurtamento das células musculares. Por isso, os miócitos do MEE não tem comunicação entre uma célula e outra e não se separam porque estão presas aos tendões nas suas extremidades na origem e inserção dos músculos dos ossos. Quando ocorrem contração e relaxamento do coração, os As proteínas integrinas 1 ficam na membrana plasmática do cardiomiócito e vão da extremidade do meio extracelular ao meio intracelular, comunicando assim um cardiomiócito ao outro. Filamentos de actina ficam presos nessas integrinas. Quando o filamento de miosina traciona o filamento de actina, há um encurtamento dos cardiomiócitos (redes celulares interligadas), diminuindo o espaço dentro da câmara cardíaca, fazendo com o que o sangue seja ejetado. Acredita-se que o principal estímulo que leva a hipertrofia cardíaca é o estiramento das integrinas. Substancias circulantes também levam à hipertrofia cardíaca, como a insulina em excesso, então elas também podem atuar em receptores ativando os genes da hipertrofia ou atuando em receptores do estiramento da célula muscular, estirando as integrinas que, aí sim, ativam os fatores da hipertrofia cardíaca. Então, as substãncias circulantes ligam-se nos receptores ativam os mensageiros intracelulares, ativando o gene da hipertrofia cardíaca ou ativam as células musculares para contrair, aumentam o estiramento das integrinas e as integrinas com esse estiramento ativam a hipertrofia cardiaca? Para o Zé, as duas explicações são possíveis. FISIOLOGIA CARDIOVASCULAR | Fisiologia II | Prof. Dr. José Antônio Dias Garcia | 02.08.2017 Yala Figueiredo | Medicina UNIFENAS XXXIV 4 cardiomiócitos não se separam por possuírem os discos intercalados formados por três estruturas – desmossomos (proteínas integrinas1), zona de oclusão e junções comunicantes do tipo GAP (sinapses elétricas, onde não há presença de neurotransmissor e a informação é passada de uma célula para outra através de trocas iônicas através de um conduto proteico que permite a difusão de elétrons). Entre todas as células do coração, existem junções GAP, ou seja, se uma célula despolarizar, passará a informação para a célula a diante, por consequência. Se a célula for rica em miofibrila e despolarizar, abrirá os canais de cálcio voltagem dependente e os íons de cálcio entrarão na célula e ativarão a contração muscular. Se ela for pobre em miofibrila, ela apenas será importante para a geração e condução do impulso elétrico. É importante lembrar que o NO é o principal agente anti-hipertrófico cardíaco por ser vasodilatador, fazendo com que o coração exerça menos força, reduzindo estiramentos ao diminuir a liberação de cálcio do reticulo sarcoplasmático e inibir a entrada de cálcio na célula cardíaca, fazendo com que a contração cardíaca diminua. O segundo mais importante é hormônio peptídeo natriurético AMP, que elimina mais sódio na urina, levando mais agua na urina, diminuindo volemia e diminuindo estiramento cardíaco. Células estriadas cardíacas pobres em miofibrilas estão agrupadas em nodos e feixes, formando o sistema gerador e condutor elétrico do coração. O impulso elétrico é originado no nodo sinoatrial que se localiza no átrio direito na região posterior próximo da veia cava. Ali, há um agrupamento de células pobres em miofibrilas que são células marcapasso, ou seja, responsáveis por gerar impulsos elétricos, marcando o impulso cardíaco do coração. Entre elas, existem junções comunicantes do tipo GAP que conduzem o impulso elétrico tanto para células pobres em miofibrilas, quanto para células ricas em miofibrilas, indo para toda a parede do átrio direito. No meio do nodo sinoatrial, existem células marcapasso que retém pouco corante e por isso ficam elas ficam pálidas. No ECG, existem ondas P, Q, R, S, T. P vem de células pálidas. Existe uma via interatrial que leva impulso elétrico para o átrio esquerdo. Ela não passa para os ventrículos devido à existência de tecido fibroso. Na região atrioventricular, existe o nodo atrioventricular e saindo do nodo sinusal, existem três vias formadas por células condutoras chamada de vias intermodais que chegarão ao nodo atrioventricular com velocidades maioresou menores de um lado ou do outro de acordo com o numero de junções comunicantes do tipo GAP. Quanto mais junções entre uma célula e outra, maior a velocidade dos elétrons e vice-versa. No átrio esquerdo, por consequência, a velocidade do impulso é maior porque a distancia é maior e os dois átrios tem que contrair quase que ao mesmo tempo e isso acontece, os átrios despolarizam e gastam tempo para repolarizar cerca de 0,07 a 0,09 segundos. Quando chega ao nodo atrioventricular, do lado direito, tem uma passagem que fica no meio do tecido fibroso, chamada de feixe atrioventricular ou feixe de Hiss. As três vias intermodais anterior, lateral/média e posterior chamadas também de epônimos. O impulso elétrico passa pelo nodo atrioventricular, passa pelo tecido fibroso pelo feixe de Hiss e divide em dois ramos: ramo direito e ramo esquerdo até chegar ao átrio, envolta à massa muscular. Então, o impulso elétrico atingirá o ventrículo na base ou no ápice? No ápice porque aquela massa muscular é rica em células de trabalho. Ou seja, a contração vai do ápice para a base porque quando chegar os dois ramos, eles se distribuirão para a região ventricular no subendocárdio pelas células de Purkinje até chegar à base do coração de novo. Existe, então, o sistema sincício funcional atrial e o sistema sincício funcional ventricular.
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