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Fatos Jurídicos - Negócio Jurídico

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DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 11 
 
Aula 05 
 
Fatos Jurídicos - 2ª Parte 
Negócio Jurídico 
 
 
�Itens específicos do edital que serão abordados nesta aula →→→→ 
FATOS JURÍDICOS (2ª Parte). Negócio Jurídico. Disposições Gerais. 
Classificação. Interpretação. Elementos. Representação. Condição. Termo. 
Encargo. Defeitos do Negócio Jurídico. Validade, invalidade e nulidade do 
Negócio Jurídico. Simulação. Atos jurídicos lícitos e ilícitos. Prova. 
�Legislação a ser consultada →→→→ Código Civil: arts. 104 até 184 (Negócio 
Jurídico); art. 185 (Atos Jurídicos Lícitos); arts. 212 até 232 (Prova). 
Meus Amigos e Alunos 
Antes de começar, um aviso... Esta aula acabou ficando grande... Não 
tanto pela aula em si (parte teórica). Mas principalmente pela grande 
quantidade de exercícios que coloquei. Além disso, seguindo orientação da 
Coordenação do curso, após colocar os exercícios com o gabarito comentado 
logo a seguir, ao final, há uma cópia de todos estes exercícios, agora sem 
gabarito comentado, mas com o chamado “gabarito seco”. 
Como esta aula é continuação da anterior, devemos recordar que a 
expressão fato jurídico é bem ampla; ela refere-se a todo acontecimento 
natural ou humano que a lei atribui efeitos jurídicos. Já analisamos o fato 
jurídico natural (também chamado de fato jurídico em sentido estrito), sua 
classificação, a prescrição e a decadência, etc. Hoje vamos nos ater ao 
FATO JURÍDICO HUMANO, que é o acontecimento que depende da vontade 
humana (há quem diga que o termo “vontade humana” seria uma 
redundância, pois somente o homem teria vontade; no entanto a expressão 
tem sido aceita normalmente pela doutrina), abrangendo tanto os atos lícitos 
como os ilícitos. 
Apesar de grande, a aula de hoje é mais “light” do que a anterior, pois é 
menos teórica e mais dinâmica. Além disso, estaremos diante de muitos 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 22 
casos que vivenciamos em nosso dia a dia. Por causa disso, nunca é demais 
lembrar que este é um curso preparatório PARA CONCURSOS. Portanto, 
não devemos nos perder em fatos particulares que podem ocorrer em nossas 
vidas, mas que não trazem nenhuma repercussão para a nossa. O importante 
agora é conhecer cada um dos institutos dos quais falaremos e as suas 
peculiaridades, visando o concurso para o qual estamos nos preparando. 
Bem... primeiro vamos fornecer nosso índice, para facilitar o estudo e 
possibilitar ao aluno localizar melhor os temas abordados em aula, indo 
DIRETO AO PONTO. 
 
 Índice 
 
Ato Jurídico em Sentido Estrito ...................................................... 04 
NEGÓCIO JURÍDICO ....................................................................... 05 
Classificação dos Negócios Jurídicos .............................................. 06 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS ......................................................... 10 
 Elementos Essenciais Gerais ..................................................... 12 
 Capacidade do Agente .......................................................... 12 
 Objeto .................................................................................. 15 
 Consentimento ..................................................................... 16 
 Defeitos relativos ao Consentimento ................................ 17 
 Erro ou Ignorância ........................................................ 19 
 Dolo .............................................................................. 24 
 Coação .......................................................................... 27 
 Estado de Perigo ........................................................... 29 
 Lesão ............................................................................ 31 
 Fraude contra Credores ................................................. 33 
 Simulação ..................................................................... 38 
Elementos Essenciais Especiais ................................................. 42 
 Forma Prescrita ou Não Defesa em Lei .......................... 43 
Elementos Naturais ................................................................... 45 
Elementos Acidentais ................................................................ 45 
 Condição ........................................................................ 46 
 Termo ............................................................................ 50 
 Modo ou Encargo ........................................................... 53 
Invalidade do Negócio Jurídico ...................................................... 55 
 Ato Inexistente, Nulo e Ato Anulável ......................................... 55 
 Conversão do Negócio Nulo ....................................................... 61 
Prova do Negócio Jurídico .............................................................. 63 
RESUMO ESQUEMÁTICO DA AULA ................................................... 69 
Bibliografia Básica .......................................................................... 79 
EXERCÍCIOS COMENTADOS (CESPE/UnB)....................................... 79 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ 
PROFESSOR LAURO ESCOBAR 
 Prof. Lauro Escobar www.pontodosconcursos.com.br 33 
Como vimos, o fato jurídico humano (que depende da vontade) pode 
ser subdividido em ato jurídico (em sentido amplo) e ato ilícito. O ato jurídico 
lícito é o praticado em conformidade com a ordem jurídica. Sua consequência 
é a obtenção de um direito. Já a prática do ato ilícito gera o dever de reparar 
os danos. Vamos analisar as particularidades de cada item desta subdivisão: 
1. ATO LÍCITO (também chamado de ato jurídico em sentido amplo ou 
ato jurídico voluntário). Praticado em conformidade com a ordem jurídica. 
Subdivide-se em: 
a) Ato Jurídico em Sentido Estrito (stricto sensu), também chamado de 
ato jurídico meramente lícito ou ato não-negocial: há a participação humana 
(voluntária, consciente e lícita), no entanto os efeitos são os impostos 
pela lei e não pelas partes interessadas. Tem por objetivo a mera 
manifestação de vontade do agente, sem conteúdo negocial, que determina 
a produção de efeitos legalmente previstos. A vontade é importante para a 
realização do ato, mas não quanto à produção dos efeitos desde ato, pois 
eles decorrem da lei, não havendo regulamentação da autonomia privada. 
O ato surge como mero pressuposto de efeito jurídico preordenado pela lei 
sem função e natureza de autorregulamento. Ex.: o reconhecimento de um 
filho, a fixação de domicílio, o perdão, a confissão, etc. 
b) Negócio Jurídico: há a participação humana e os efeitos desta 
participação são ditados pela própria manifestação de vontade; os efeitos 
são os desejados pelas partes (ex.: contrato, testamento, etc.). Há, 
portanto, autonomia privada; autorregulação de interesses particulares, 
harmonizando vontades que aparentam ser antagônicas e que se 
subordinam às disposições comuns. Ex.: um contrato (de locação, de 
compra e venda, etc.), um testamento, a adoção, etc. 
2. ATO ILÍCITO (também chamado de fato jurídico involuntário). 
praticado em desacordo com a ordem jurídica. Quando a conduta (consciente 
e voluntária) do ser humano transgride um dever jurídico, acarretando 
consequências jurídicas alheias à vontade do agente (efeitos jurídicos 
involuntários, impostos pela lei), como a reparaçãodo dano (que veremos 
na próxima aula, oportunidade em que também analisaremos a 
responsabilidade civil). O ato ilícito, embora seja um fato jurídico (pois causa 
repercussão no direito) não é ato jurídico, pois a característica essencial do ato 
jurídico é que este tem de ser lícito. O ato ilícito, ao invés de direitos, cria 
deveres (indenização, reparação do dano). 
����Observação. Parte da doutrina ainda se refere ao “ato-fato jurídico”, que 
seria uma categoria intermediária entre o ato da natureza e o fato do 
homem. Ocorre nas situações em que a lei encara a ação humana como um 
fato, sem levar em consideração a vontade, a intenção ou a consciência do 
agente. Exemplo clássico: criança de 10 anos que compra um doce em uma 
padaria. 
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Vamos, então, analisar o ato jurídico em sentido estrito e o negócio 
jurídico, que são espécies do gênero ato jurídico lícito (ou ato jurídico em 
sentido amplo). 
 
ATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO 
 
Como vimos, no ato jurídico em sentido estrito há uma realização de 
vontade do agente, mas as suas consequências são as previstas em lei e 
não as que porventura queiram as partes. Por isso ele é pobre em conteúdo. 
Quem pratica um ato jurídico em sentido estrito obtém apenas o efeito já 
preestabelecido na lei e não os desejados pelas partes interessadas. 
O exemplo clássico é o reconhecimento de um filho. Digamos que 
uma pessoa (“A”) teve um relacionamento amoroso fora do casamento. Desse 
relacionamento nasceu um filho (“B”). “A” quer apenas reconhecer “B” como 
seu filho. Mas ao fazê-lo, independentemente da sua vontade (e também da 
vontade do filho), surgem diversos efeitos legais, obrigatórios, como o direito 
ao nome, poder familiar, obrigação de prestar alimentos, direitos sucessórios, 
etc. Assim, reconhecido um filho, os efeitos decorrentes do ato não dependem 
da vontade da pessoa que fez o reconhecimento, mas sim da lei. Por tal 
motivo, não se pode reconhecer um filho sob condições, a termo ou com 
encargos. 
Vamos supor que no exemplo dado, o pai reconhece o filho, mas faz 
algumas ressalvas: eu quero reconhecê-lo como meu filho, mas... eu sou 
casado... tenho outros filhos com minha esposa... não gostaria que esta 
pessoa reconhecida fosse meu herdeiro... (Pergunto: isso pode?) Mais... 
também não gostaria que esta pessoa tivesse o meu nome... afinal de contas é 
um filho havido fora do casamento... (Pergunto: isso pode?) E mais... além 
disso... não gostaria de ter que pagar a pensão alimentícia... Mas o resto eu 
aceito... (Pergunto novamente: isso pode? Aliás... o que seria este “resto”?). 
Resposta a todas as indagações: NÃO!!! Lógico que o pai não pode fazer isso. 
Uma vez reconhecido um filho, o pai não pode dizer que não deseja que ele 
seja seu herdeiro, ou que não tenha o seu nome, ou se escuse de pagar a 
pensão alimentícia. Como vimos, a situação “reconhecer um filho”, traz como 
consequências legais e obrigatórias todos aqueles efeitos acima citados. O 
pai pode desejar ou não aqueles efeitos. Tanto faz... Os efeitos ocorrerão 
independentemente da vontade do agente, pois eles são impostos pela lei. 
Outros exemplos: 01) Quando uma pessoa estabelece residência em 
determinado local, com ânimo de ficar terá como consequência legal a fixação 
de seu domicílio civil, embora não tenha se manifestado nesse sentido. 02) 
Quando uma pessoa notifica outra, obtém o efeito previsto na lei de constituir 
o devedor em mora. Ainda que o notificante não queira este efeito, ele ocorre 
independentemente de sua vontade. 
 Resumindo Ato jurídico em sentido estrito é o que gera consequências 
jurídicas previstas em lei, independentemente da vontade das partes 
interessadas, não havendo regulamentação da autonomia privada. A 
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doutrina acrescenta que estes atos são unilaterais, ou seja, basta uma única 
manifestação de vontade para que se tornem perfeitos. 
 É interessante acrescentar que a doutrina ainda dá uma “complicada” na 
classificação, subdividindo o ato jurídico em sentido estrito em duas 
espécies: 
a) Atos materiais (ou reais): simples atuação humana que lhe dá 
existência imediata; não se destinam ao conhecimento de determinada 
pessoa, não há um destinatário. Ex.: fixação e transferência de domicílio, 
ocupação, abandono de coisas, descoberta de tesouro, acessão, etc. 
b) Participações: atos de mera comunicação, sem conteúdo negocial; o 
agente pratica o ato para dar conhecimento a outrem (destinatário 
determinado) de que tem certo propósito ou que ocorreu determinado fato. 
Ex.: notificações, intimações, interpelações, oposições, etc. 
 
NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Negócio jurídico é uma espécie do gênero ato jurídico em sentido 
amplo. É o ato destinado à produção de efeitos jurídicos, desejados pelo 
agente e tutelados pela lei. O agente escolhe os efeitos jurídicos que pretende 
alcançar. Trata-se de toda manifestação de vontade com o propósito de 
atingir, dentro do campo da autonomia privada, os efeitos jurídicos 
pretendidos, ou seja, os sujeitos de direito podem autorregular seus 
interesses, nos limites estabelecidos pela lei. É necessário acrescentar que esta 
manifestação de vontade deve ser feita sem haja qualquer vício (que veremos 
mais adiante). 
O exemplo clássico de negócio jurídico é o contrato. Vamos tomar 
como exemplo o contrato de locação. Nele, uma das partes se compromete a 
fornecer a outra, durante certo lapso tempo, o uso e gozo de uma coisa 
infungível. Por outro lado a outra parte se obriga a remunerar este uso. Trata-
se do aluguel. Os efeitos deste negócio devem ser totalmente previstos e 
desejados pelas partes. Qual o valor da locação? Qual o prazo da locação? 
Qual o dia que deve ser efetuado o pagamento? Qual o local em que o 
pagamento vai ser efetuado? O locatário deve pagar o IPTU? E o condomínio 
do prédio? Quais as obrigações de cada parte durante o contrato? Todos estes 
itens (entre outros) são os efeitos do contrato. Todos eles podem ser 
“negociados” entre os contratantes (ao menos em tese). E, como regra, eles 
devem estar previstos e desejados pelas partes interessadas. A mesma 
situação pode ocorrer em todas as espécies de contratos. Por isso que o 
negócio jurídico é o principal instrumento que as pessoas têm para realizar 
seus interesses. 
 Lembrando O contrato é apenas uma das várias espécies de negócio 
jurídico. Aliás, o contrato é exemplo típico de um negócio jurídico bilateral. 
No entanto, o negócio jurídico também pode ser unilateral. Neste caso o 
exemplo clássico é o testamento. Quais os efeitos de um testamento? – 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ 
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Resposta: Tudo aquilo que o testador desejar (desde que não contrarie a lei, a 
moral e os bons costumes)! Embora no testamento se produza os mais 
diversos e variados efeitos, temos apenas a vontade do testador, daí ele ser 
unilateral (diferentemente de um contrato, em que se leva em consideração a 
vontade de ambos os contratantes). 
���� DISTINÇÃO ���� Negócio Jurídico X Ato Jurídico em Sentido Estrito 
Vamos reforçar a idéia: não devemos confundir negócio jurídico com o 
ato jurídico em sentido estrito. Ambos decorrem de uma manifestação de 
vontade. No entanto no ato jurídico em sentido estrito o efeito da manifestação 
da vontade está previsto na lei e não pode ser alterado. Este não é exercício 
de autonomia privada. Logo, o interesse objetivado não pode ser regulado pelo 
particulare a sua satisfação se concretiza no modo determinado pela lei. Já no 
negócio jurídico, o efeito da manifestação da vontade é o desejado pelas 
partes; o fim procurado pelas partes baseia-se na autonomia da vontade 
privada. O negócio leva em consideração o fim procurado pela parte (ou 
partes) e a esse fim a ordem jurídica adapta os efeitos. 
 Resumindo: no ato jurídico em sentido estrito a pessoa pratica uma 
conduta e os efeitos desta conduta são automáticos, independente da vontade 
de quem o pratica; já no negócio jurídico a pessoa pratica uma conduta e os 
efeitos da conduta são os desejados pelas partes. 
No contrato de adesão existe autonomia privada? Alguns autores 
afirmam que o contrato de adesão é mais fruto da “autoridade privada” do que 
a autonomia privada. Ainda que limitada, existe autonomia, mesmo que 
apenas para assinar ou não o contrato (autonomia mínima). 
 
CLASSIFICAÇÃO DOS NEGÓCIOS JURÍDICOS 
 
A classificação dos negócios jurídicos é muito grande. Levando-se em 
consideração o que tem caído nos concursos públicos e segundo a melhor 
doutrina sobre o tema (embora não haja uma uniformidade), classificamos os 
negócios jurídicos em: 
A) Quanto ao número de manifestações de vontade 
1. Unilaterais: quando a declaração de vontade emana de uma ou mais 
pessoas, mas sempre na mesma direção visando um único objetivo. Ou seja, o 
ato se aperfeiçoa com uma única manifestação de vontade (uma parte), 
havendo apenas um polo na relação jurídica. Por tal motivo é desnecessária a 
aceitação de terceiros para que o ato seja válido e produza efeitos. Ex.: 
testamento, renúncia, desistência, promessa de recompensa, confissão de 
dívida, instituição de uma fundação, etc. Podem ser subdivididos em: 
a) Receptícios (endereçada): quando a declaração é dirigida a 
determinada pessoa, com a finalidade de se levar ao seu conhecimento a 
intenção do declarante para que possa produzir os efeitos desejados. Ex.: a 
revogação de mandato (ou seja, de uma procuração). Se eu revogo uma 
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procuração, devo comunicar isso à pessoa a quem eu outorguei os 
poderes. Percebam que o ato é unilateral (pois a revogação só depende da 
minha vontade), mas eu devo comunicar a minha decisão à outra parte 
para gerar efeitos jurídicos (por isso o ato é chamado de receptício). 
Outros exemplos: a proposta de um contrato, a escolha nas obrigações 
alternativas. Alguns contratos possuem um duplo objeto alternativo: eu 
posso escolher uma coisa ou outra. Feita a escolha devo comunicar à 
outra parte para surtir efeitos. 
b) Não-receptícios (não endereçada): quando a declaração de vontade 
não é dirigida a uma pessoa determinada, sendo que o conhecimento do 
fato por parte da outra pessoa é irrelevante. Ex.: testamento. Quando eu 
faço o meu testamento, nada mais precisa ser feito; não preciso comunicar 
ninguém desse fato, nem mesmo os beneficiados. Outros exemplos: 
revogação de testamento e renúncia de herança. Basta que eu renuncie à 
herança de forma expressa; não é necessário que os demais interessados 
na herança sejam comunicados deste fato para que o ato seja válido e 
operante. 
Obs.: ficou claro que pessoa não se confunde com parte? Por esse motivo é 
que podemos ter mais de uma pessoa praticando um ato unilateral; no 
entanto todas elas devem figurar no mesmo polo, integrando a mesma parte 
na relação jurídica. 
2. Bilaterais: quando a declaração de vontade emana de duas 
manifestações de vontade, em sentido oposto, mas coincidentes sobre o 
objeto (consentimento mútuo ou acordo de vontades). Neste caso há dois 
polos na relação jurídica. Ex.: perdão (“A” pode perdoar “B”; mas este perdão 
somente surtirá efeitos se “B” aceitar o perdão); contratos como a compra e 
venda (comprador e vendedor), ou a locação (locador e locatário), etc. Podem 
ser subdivididos em: 
a) simples: quando somente uma das partes aufere vantagens, enquanto 
a outra arca com os ônus (ex.: doação). 
b) sinalagmáticos: quando há uma reciprocidade de direitos e obrigações 
para as partes (gera obrigações para ambas), estando elas em situação de 
igualdade (ex.: compra e venda, locação, etc.). 
Obs.: mais uma vez percebam que pode haver várias pessoas no polo ativo e 
outras várias no polo passivo e ainda assim teremos apenas duas partes. 
3. Plurilaterais: contratos que envolvem mais de duas partes, onde se 
conjugam vontades paralelas. Ex.: contrato de sociedade com mais de dois 
sócios, consórcios de bens móveis e imóveis, etc. 
B) Quanto às vantagens patrimoniais (vantagem x sacrifício) 
1. Gratuito: uma das partes suporta o sacrifício e a outra aufere 
vantagem; a pessoa assume determinada obrigação sem aguardar qualquer 
espécie de contraprestação. São atos de liberalidade. Ex.: doação simples. 
2. Oneroso: ambos os contratantes possuem ônus e vantagens 
recíprocas; há uma prestação e uma contraprestação. A pessoa somente 
DIREITO CIVIL: ANALISTA JUDICIÁRIO – TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO CEARÁ 
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assume a obrigação por esperar em contrapartida a outra obrigação. Ex.: 
locação (paga-se o aluguel e usa-se a coisa alheia), compra e venda (paga-se 
o preço para se obter a coisa), etc. Os contratos onerosos se dividem em: 
a) comutativos: as prestações de cada um dependem de um 
acontecimento certo e determinado (ex.: locação). 
b) aleatórios: há uma incerteza em relação às vantagens e sacrifícios das 
prestações; depende de um acontecimento incerto, havendo, portanto, 
uma álea ou risco. Ex.: o contrato de seguro, para a seguradora é 
aleatório, pois o pagamento ou não da indenização depende de um fato 
específico previsto no contrato: o sinistro. 
 Observações 
01) Alguns autores referem-se aos negócios bifrontes: são aqueles que 
a rigor são gratuitos, mas podem se tornar onerosos de acordo com a vontade 
das partes. Ex.: o contrato de mútuo (empréstimo de coisa fungível) em regra 
é gratuito, mas as partes podem combinar uma remuneração. Outros 
exemplos: depósito e mandato. A conversão só é possível se o contrato é 
definido na lei como gratuito, pois a vontade das partes não pode transformar 
o contrato oneroso em benéfico. Além disso, nem todos os contratos gratuitos 
podem ser convertidos (ex.: a doação ficaria totalmente desfigurada se isso 
ocorresse). 
02) A doutrina também se refere aos negócios neutros: quando não 
houver atribuição patrimonial específica no negócio jurídico, não podendo ser 
caracterizado nem como oneroso, nem como gratuito (ex.: instituição de bem 
de família voluntário por meio de escritura pública). 
03) Todo negócio oneroso é bilateral, pois a prestação de uma das partes 
envolve uma contraprestação. Mas nem todo negócio bilateral é oneroso. Ex.: 
doação pura e simples é negócio bilateral (possui duas vontades: doador e 
donatário), porém gratuito. 
C) Quanto ao tempo em que devam produzir efeitos 
1. Inter vivos: destinados a produzir efeitos durante a vida dos 
interessados. Ex.: locação, compra e venda, mandato, casamento, etc. 
2. Causa mortis: somente produz efeitos (criando o direito) após a 
morte do declarante; o evento morte é pressuposto de sua eficácia. Ex.: 
testamento, codicilo (que é uma disposição de última vontade de pequenas 
coisas, como um anel, roupas, livros), etc. 
 Observações 
01) O contrato de seguro de vida (ao contrário do que parece) é negócio 
jurídico inter vivos, sendo que o evento morte funciona apenas como um 
termo. 
02) Os negócios jurídicos causa mortis são sempre típicos e nominados 
(definidos em lei); ou seja as partes não podem realizar negócios atíticos ou 
inominados desta natureza. 
 
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D) Quanto a seus efeitos 
1. Constitutivos: sua eficácia opera-se ex nunc (ou seja, o negócio se 
torna eficaz a partir de sua conclusão ou celebração). Ex.: contrato de compra 
e venda. 
2. Declarativos (ou declaratórios): sua eficácia é ex tunc (ou seja, se 
efetiva a partir do momento em que se operou o fato a que se vincula a 
declaração de vontade, retroagindo no tempo). Ex.: divisão de condomínio, 
partilha, reconhecimento de filho, etc. 
 Obs.: ainda na aula de hoje falarei mais sobre os efeitos ex tunc e ex nunc. 
Estas expressões em latim merecem uma atenção toda especial da nossa parte 
(não só no Direito Civil, mas no Direito como um todo). 
E) Quanto à subordinação 
1. Principais: são aqueles que têm existência própria e não dependem de 
qualquer outro. Ex.: compra e venda, locação, doação, etc. 
2. Acessórios: são aqueles que têm a sua existência subordinada à de 
um contrato principal. Exemplo clássico: fiança. A fiança só existe por causa de 
um contrato principal; ela não tem existência jurídica autônoma (lembrem-se 
da regra: “o acessório segue o principal”). Se eu sou o locador de um imóvel, 
quero que o locatário (inquilino) apresente um fiador, que ficará responsável 
pelo pagamento da dívida, caso o locatário não cumpra com a obrigação. Logo 
o contrato de locação é o principal e a fiança é o contrato acessório, que 
somente existe por causa do principal. Outro exemplo: cláusula penal (que é a 
multa que pode ser pactuado no contrato, caso este não seja cumprido). 
F) Quanto às formalidades 
1. Solenes (formais): a lei exige uma forma especial para se 
aperfeiçoarem; devem obedecer a uma solenidade específica, prevista em lei. 
A doutrina faz uma pequena distinção: 
a) atos ad solemnitatem: quando a forma é exigida como condição 
de validade do ato; a formalidade é a própria essência ou substância do ato. 
Ex.: escritura pública de compra e venda de imóvel acima de 30 vezes o maior 
salário mínimo vigente (art. 108, CC); testamento público ou cerrado que 
devem ser escritos ou provado, respectivamente, pelo tabelião, etc. 
b) atos probationem tantum: a lei não determina uma forma para 
ser celebrado o ato, mas determina o modo que o ato deve ser provado em 
juízo, se isso for necessário em um processo; a solenidade é tida apenas como 
prova do ato. Art. 227. Salvo os casos expressos, a prova exclusivamente 
testemunhal só se admite nos negócios jurídicos cujo valor não ultrapasse o 
décuplo do maior salário mínimo vigente no País ao tempo em que foram 
celebrados. Parágrafo único. Qualquer que seja o valor do negócio jurídico, a 
prova testemunhal é admissível como subsidiária ou complementar da prova 
por escrito. 
2. Não solenes (forma livre): a lei não exige formalidades para seu 
aperfeiçoamento, podendo ser celebrado por qualquer forma, inclusive verbal. 
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Ex.: locação, compra e venda de bens móveis, etc. Em regra os contratos têm 
forma livre, salvo exceções expressas na lei. 
G) Quanto às pessoas 
1. Impessoais: independe de quem sejam as partes e de eventual 
qualidade especial destas para a prática do ato. Ex.: contrato uma pessoa para 
pintar um muro (qualquer pessoa pode pintar um muro; não há uma 
habilidade especial para isso). 
2. Intuitu personae: o ato se realiza em função das qualidades especiais 
de uma pessoa. Ex.: desejo ser operado por cirurgião de minha confiança; 
desejo ser defendido no Tribunal do Júri pelo advogado “X”; quero que o 
famoso pintor “Z” pinte um quadro para mim, etc. 
H) Quanto à causa 
1. Causais: estão vinculados a uma causa. Ex.: o registro da escritura de 
um imóvel está sempre ligado à existência da escritura de compra e venda 
deste imóvel; se a compra e venda for defeituosa, o registro também o será. 
2. Abstratos: estão desvinculados de qualquer outro negócio. Ex.: 
compro uma casa pagando com um cheque; a emissão deste é desvinculada; 
se a compra e venda for considerada nula, o cheque continuará valendo, 
principalmente se estiver nas mãos de terceiros. 
 Obs.: Como dá para perceber, a mesma espécie de negócio jurídico pode 
se enquadrar em mais de uma categoria de classificação, sem que haja 
incompatibilidade nisso. 
 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS DO NEGÓCIO JURÍDICO 
 
Alguns elementos do negócio jurídico são chamados de essenciais 
porque constituem elementos de existência e validade. Se o negócio possui 
tais elementos ele será válido e produzirá efeitos. Se faltar alguns desses 
elementos o negócio será inválido e não produzirá efeitos. Já outros elementos 
são chamados de acidentais, pois são requisitos de eficácia do negócio. 
Para alguns autores como Pontes de Miranda, o negócio jurídico é 
dividido em três planos, o que gera um esquema gráfico como uma escada 
com três degraus, denominada, em sua homenagem, de escada ponteana. 
Vejamos. 
Primeiro degrau. Plano da existência. É onde se encontram os seus 
elementos mínimos. Sem eles, o negócio simplesmente não existe. São os 
substantivos (partes ou agentes, objeto, vontade e forma) sem qualquer 
adjetivo. Se faltar um desses elementos o negócio simplesmente não existe. 
Segundo degrau. Plano da validade. Neste plano os substantivos recebem 
os adjetivos. Não basta haver partes... elas devem ser capazes. Não basta 
haver objeto, ele deve ser lícito, possível, determinado ou determinável. Não 
basta haver vontade, esta deve ser manifestada de forma livre e consciente e 
sem que prejudique terceiros (isenta de vícios). Não basta haver forma... ela 
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deve ser prescrita ou não defesa em lei. Se surgir algum vício acerca da 
validade, o negócio jurídico será nulo (arts. 166 e 167, CC) ou anulável (art. 
171, CC). 
Terceiro degrau. Plano da eficácia. São as consequências do negócio 
jurídico, seus efeitos práticos no caso concreto. São elementos acidentais: 
condição, termo e encargo. 
Dúvida doutrinária: O atual Código Civil adotou a tricotomia: existência-
validade-eficácia? Resposta: Não! Nosso Código nada trata sobre o plano 
da existência. Observem que o art. 104, CC já começa a tratar do plano de 
validade. Além disso, como veremos, o Código apenas disciplinou regras sobre 
a nulidade relativa e a absoluta, não se referindo à inexistência do negócio. 
Portanto, segundo a doutrina dominante, o plano da existência ficou 
embutido implicitamente no plano da validade. 
ESCADA PONTEANA 
 
 3º Plano. Eficácia. 
Elementos Acidentais 
• Condição 
• Termo 
• Modo ou Encargo 
 – Podem ou não 
estar no negócio 
 2º Plano. Validade. 
 
 
 
 
1º Plano. Existência. 
 
 
 
 
 Elementos Essenciais do Negócio Jurídico 
• Partes ou agentes: capazes 
• Objeto: lícito, possível, determinado ou determinável 
• Forma: prescrita ou não defesa em lei 
• Vontade: livre e consciente (sem vícios) 
Vamos agora apresentar um gráfico geral e panorâmico dos elementos 
constitutivos do negócio jurídico. A seguir vamos analisar cada um destes 
elementos de forma pormenorizada. 
ELEMENTOS CONSTITUTIVOS 
 I. Elementos Essenciais: são os dizem respeito à existência e 
validade do negócio jurídico, dando-lhe a estrutura e a substância. 
A) Gerais (comuns a todos os negócios): 
1. Partes ou agentes: capazes. 
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2. Objeto: lícito, possível, determinado ou determinável. 
3. Vontade (consentimento): livre e consciente, sem prejudicar 
terceiros (sem vícios). 
B) Especiais (aplicáveis somente a alguns negócios) 
1. Forma: prescrita ou não defesa em lei. 
II. Elementos Naturais: são os efeitos ou as consequências 
decorrentes do próprio negócio jurídico. 
 III. Elementos Acidentais: são elementos facultativos; podem ou não 
ser estipulados e dizem respeito, não à existência ou validade propriamente 
dita do negócio jurídico, mas sim a sua eficácia. 
1. Condição. 
2. Termo. 
3. Modo ou Encargo. 
 
I. ELEMENTOS ESSENCIAIS GERAIS 
 
Como vimos, os elementos essenciais do negócio jurídico estão 
previstos na lei (art. 104, CC). São eles: agente capaz (elemento 
subjetivo), objeto lícito, possível, determinado ou determinável 
(elemento objetivo) e forma prescrita ou não defesa em lei. 
Apesar de não estar previsto expressamente no art. 104, CC, a doutrina 
ainda acrescenta o consentimento (vontade livre e consciente que 
corresponda efetivamente ao que almeja o agente). Isso porque caso não haja 
o consentimento, o negócio estará viciado, tornando passível de anulação. A 
capacidade, o objeto e a vontade são chamados de elementos gerais, porque 
são elementos comuns a todos os negócios jurídicos. Já a forma é elemento 
especial, pois diz respeito apenas alguns negócios. Nem todos os negócios 
jurídicos exigem uma forma especial. 
A) CAPACIDADE DO AGENTE 
Se todo negócio jurídico pressupõe uma declaração de vontade, a 
capacidade do agente é indispensável, pois é a aptidão para intervir nos 
negócios jurídicos. Trata-se da capacidade de fato ou de exercício (pessoa 
dotada de consciência e vontade reconhecida pela lei como apta a exercer 
todos os atos da vida civil), já analisada anteriormente. Os arts. 3° e 4° do 
Código Civil apresentam o rol dos incapazes (absoluta ou relativamente). Já 
analisamos quem são essas pessoas. Se alguém ficou com dúvida, retorne a 
aula sobre pessoas naturais. É imprescindível o conhecimento dessa matéria 
para a compreensão do que falaremos a seguir. 
No caso de eventual incapacidade, esta deverá ser suprida pelos meios 
legais. Enquanto os absolutamente incapazes são representados em seus 
interesses por seus pais, tutores e curadores, os relativamente incapazes 
(embora já possam participar pessoalmente dos negócios jurídicos) devem ser 
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assistidos pelas pessoas a quem a lei determinar. O ato praticado pelo 
absolutamente incapaz sem representação é nulo. Já o ato realizado pelo 
relativamente incapaz sem assistência é anulável. Ainda hoje veremos a 
distinção entre o ato nulo e o anulável. Lembrando que o vício da incapacidade 
é um instrumento que age a favor do incapaz, para protegê-lo. 
���� Incapacidade ���� 
• Absolutamente incapazes (art. 3°, CC) devem ser representados →→→→ 
falta de representação →→→→ Negócio Jurídico Nulo (art. 166, I, CC). 
• Relativamente incapazes (art. 4°, CC) devem ser assistidos →→→→ falta 
de assistência →→→→ Negócio Jurídico Anulável (art. 171, I, CC). 
É interessante acrescentar que o art. 105, CC determina que a 
incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela 
outra em benefício próprio, nem aproveita aos outros interessados. Isto 
porque a intenção da lei é proteger o incapaz contra a maior experiência e 
má-fé de terceiros que desejam tirar proveito desta situação. Assim não pode 
uma pessoa capaz realizar um negócio com um incapaz e ele próprio (o capaz) 
requerer a invalidade do negócio com fundamento de que a outra parte era 
incapaz. A incapacidade é uma exceção (forma de defesa) pessoal. Por isso 
somente pode ser alegada pelo próprio incapaz ou seu representante legal. 
Mas, como quase tudo, aqui também há uma exceção. Se a obrigação for 
indivisível (ex.: entregar um cavalo), mesmo que as demais partes forem 
capazes, não será possível separar o interesse dos contratantes. Neste caso, a 
incapacidade de um deles poderá tornar anulável o ato praticado, mesmo que 
o vício tenha sido alegado por uma pessoa capaz. Portanto, nesta hipótese, o 
vício se estenderá para toda a obrigação, sendo o negócio anulado. 
Resumindo 
 Pessoa sabia da incapacidade relativa da outra parte →→→→ o vício não 
pode ser alegado em benefício próprio. 
 Pessoa não sabia da incapacidade relativa →→→→ o vício pode ser alegado: 
• Regra: a anulação não aproveita aos demais cointeressados. 
• Exceção: aproveita aos demais se a obrigação for indivisível. 
Há outro ponto interessante que iremos aprofundar mais a frente. Se o 
menor entre 16 e 18 anos praticar um ato sem assistência, escondendo 
dolosamente a sua condição de relativamente incapaz, não poderá alegar 
este vício para anular o negócio e escapar da obrigação contraída (art. 180, 
CC). 
����Atenção ���� Não confundir incapacidade com falta de legitimação, que é 
a incapacidade para a prática de um determinado ato. Ex.: uma pessoa maior 
e capaz não está legitimada a vender um bem, ainda que seja de sua 
propriedade exclusiva, a um descendente seu, enquanto não obtiver o 
consentimento de seu cônjuge e dos demais descendentes (art. 496, CC). 
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 Recordando A pessoa jurídica deve ser representada por uma 
pessoa física (ou natural) ativa e/ou passivamente, exteriorizando sua 
vontade, nos atos judiciais ou extrajudiciais. Ou seja, é necessário que haja 
uma pessoa natural para assumir os compromissos e assinar os contratos da 
pessoa jurídica, exprimindo sua vontade e executando os seus objetivos. Em 
regra essa pessoa é a indicada no estatuto ou no contrato social da pessoa 
jurídica. Na sua omissão, a representação será exercida por seus diretores. 
Trata-se, assim, de uma representação imprópria. 
Representação 
Os artigos de 115 a 120 CC tratam da representação. Esta é uma 
relação jurídica pela qual certa pessoa se obriga diretamente perante terceiro, 
através de ato praticado em seu nome por um representante. O art. 115, CC 
delimita as situações possíveis para a sua realização: conferido por lei ou pelo 
próprio interessado (mandato). Assim, são espécies de representantes: 
a) Legais: a própria norma jurídica confere poderes para uma pessoa 
administrar bens alheios; servem aos interesses do incapaz. Ex.: pais, tutores 
e curadores, em relação aos bens dos filhos, tutelados e curatelados. 
b) Judiciais: são as pessoas nomeadas pelo Juiz para exercer certo 
cargo em um determinado processo. Ex.: administrador judicial de uma 
falência, inventariante, etc. 
c) Convencionais: são aqueles que têm um mandato, expresso ou 
tácito, verbal ou escrito do representado. Ex.: procuração outorgada 
(fornecida) a um advogado para patrocinar um processo judicial. Somente 
nesta espécie de representação é possível o substabelecimento. 
Substabelecer significa transferir a outra pessoa os poderes que o 
mandatário recebeu do mandante. Ex.: “A” (representado ou mandante) 
outorgou poderes para “B” (representante ou mandatário) defender seus 
interesses em um processo trabalhista conta a empresa “X”. Como no dia 
designado para a audiência “B” não irá comparecer, pode substabelecer 
(transferir) os poderes que recebeu para “D”, que é outro Advogado. 
O representante deve provar às pessoas com quem tratar (em nome do 
representado) a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de não 
o fazendo, responder pelos atos que excederem à representação. Prevê o art. 
116, CC que a manifestação de vontade pelo representante, ao efetivar um 
negócio em nomedo representado, nos limites dos poderes que lhe foram 
conferidos, produz efeitos jurídicos em relação ao representado. Ou seja, o 
representante pratica o ato; mas é o representado que irá adquirir os direitos 
ou assumir as obrigações decorrentes da representação. 
O art. 117, CC autoriza o chamado “contrato consigo mesmo” (ou 
autocontrato), isto é, uma só pessoa está revestida das duas qualidades 
jurídicas diferentes, de forma simultânea: ora por si, ora representando um 
terceiro. Mas isso somente é possível se houver permissão da lei ou do 
representado, sob pena de anulação. O exemplo clássico ocorre no 
cumprimento do chamado mandato em causa própria, onde o mandatário é 
também o beneficiário. Ex.: A confere mandato para B para vender seu 
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apartamento, com autorização para que B venda o imóvel para ele mesmo = 
B. Neste caso, quando for feita a escritura, B intervirá, ora representando A 
(como mandatário), ora em seu próprio nome (comprando o imóvel). Notem, 
que mesmo nesta hipótese, B manifesta sua vontade sob dois ângulos 
diferentes (como vendedor, representando A e como comprador, em nome 
próprio). Observem que são duas vontades jurídicas diferentes. 
Já o art. 119, CC prevê que se o representante concluir um negócio e 
houver um conflito de interesses com o representado, sendo que tal fato era 
ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou, o negócio também 
será anulável. 
B) OBJETO LÍCITO, POSSÍVEL, DETERMINADO OU DETERMINÁVEL 
O direito somente atribui efeitos à vontade humana quando se procura 
alcançar objetivos lícitos. Assim, além da capacidade das partes, para que 
um negócio jurídico se repute válido e perfeito, deverá versar sobre um objeto 
lícito, ou seja, não atenta contra a lei, a moral e os bons costumes. Ex.: na 
locação de um imóvel para fins residenciais, este é o objeto do contrato. 
Assim, eu não posso desvirtuar o que foi pactuado e explorar naquele imóvel 
(que era para fins residenciais) uma atividade ilícita, como por exemplo, a 
exploração da prostituição. Desta forma, se o objeto do contrato foi ilícito, 
nulo será o negócio jurídico. Outro exemplo: compra e venda de objeto 
roubado. Também neste caso haverá a nulidade absoluta do ato. 
Além disso, o objeto deve ser possível, realizável. Se o negócio implicar 
prestações impossíveis, também será considerado nulo. Esta impossibilidade 
pode ser jurídica (proibida pelo ordenamento jurídico: venda de herança de 
pessoa viva – art. 426, CC) ou física (desrespeito às leis naturais ou físicas: ir 
à lua e voltar em duas horas, etc.). Segundo a doutrina para tornar nulo o 
negócio a impossibilidade deve ser absoluta, ou seja, impraticável por quem 
quer que seja (atinge a todos sem distinção). Se a impossibilidade for apenas 
relativa, isto é, puder ser realizada por alguém (mesmo que não seja o 
devedor), não haverá obstáculo para o negócio, que continua válido. 
Finalmente deve ser o mesmo determinado ou, ao menos, 
determinável, ou seja, possível de determinação no futuro. Em outras 
palavras: o objeto deve ser previamente conhecido e individualizado ou devem 
existir critérios que permitam sua futura individualização. Assim, admite-se a 
venda de coisa incerta (mas não indeterminada). No entanto ela deve ser 
indicada ao menos pelo gênero e pela quantidade, ainda que não seja 
mencionada a qualidade, pois esta pode ser determinada posteriormente pela 
escolha. 
Impossibilidade inicial do objeto 
Um aspecto interessante do atual Código Civil é o seu art. 106: “A 
impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, 
ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinada”. Ou 
seja, quando da celebração do contrato havia um vício relativo em relação ao 
objeto, mas, durante a execução do contrato, este defeito deixou de existir. 
Assim, nosso Código, consagrando o princípio da máxima utilidade afirma que 
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tal vício estará superado. Lembrando que o defeito deve ser relativo, pois se 
for absoluto o negócio será considerado nulo. 
����ATENÇÃO ���� Objeto ilícito, impossível, ou indeterminado →→→→ Negócio 
Jurídico Nulo (art. 166, II CC). 
C) CONSENTIMENTO (Vontade). Da Interpretação do Negócio Jurídico. 
A manifestação de vontade exerce papel imprescindível no negócio 
jurídico, sendo um elemento básico. Portanto, é necessário que esta vontade 
seja espontânea, livre de qualquer vício. 
Inicialmente perguntamos: o que interessa mais ao Direito: a 
intenção ou a ação? Resposta: para o Direito o mais importante é a ação, ou 
seja, a vontade declarada, pois a intenção, isoladamente, não tem valor 
algum. Somente após a manifestação de vontade declarada (por escrito, 
palavras, gestos ou sinais) é que a intenção será levada em consideração. 
Portanto, a declaração de vontade é constituída de dois elementos: a) 
interno: real intenção do agente; b) externo: vontade declarada. 
O ideal é que a pessoa declare exatamente aquilo o que desejava. Deve 
haver uma perfeita harmonia entre o que ela queria e o que ela fez. Mas nem 
sempre um contrato traduz a exata vontade das partes. Por isso, algumas 
vezes ele deve ser interpretado, para se chegar a real intenção das partes. 
INTERPRETAR o negócio jurídico é delimitar o alcance da declaração de 
vontade. No entanto as cláusulas contratuais não devem ser interpretadas de 
forma isolada, mas sim no contexto do contrato, em conjunto com as 
demais cláusulas. 
O consentimento pode ser expresso ou tácito. Será expresso quando for 
declarado por escrito ou verbalmente, mas de maneira explícita. Será 
considerado tácito se resultar de um comportamento do agente que 
demonstre, implicitamente, sua anuência, sua concordância com a situação, 
desde que o negócio, por sua natureza ou por disposição legal, não exija forma 
expressa. 
O silêncio pode importar em anuência, se as circunstâncias e os usos o 
autorizarem e não for necessária a declaração de vontade expressa (art. 111, 
CC). Ou seja, o silêncio somente terá valor jurídico, como um fato gerador de 
um negócio, se a lei assim o permitir. Caso contrário o silêncio não tem força 
de declaração de vontade. Portanto, no Direito, não é totalmente aceito o 
brocardo: “quem cala consente”. Em alguns casos (raros) ele se aplica, como 
na hipótese da doação pura, onde o silêncio do beneficiário é considerado 
como aceitação, concluindo o contrato. Na prática é o Juiz, diante de um caso 
concreto, que deverá verificar se o silêncio representou ou não a vontade. No 
dizer de Machado de Assis: “O silêncio... é um tumulto”. 
Outro princípio básico relativo às declarações de vontade é de que se 
atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da 
linguagem (art. 112, CC). Ou seja, os negócios, de uma forma geral, podem 
conter alguma cláusula duvidosa ou algum ponto controvertido, sendo 
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necessária uma interpretação. Pelo Código esta interpretação deve procurar se 
situar mais na vontade real dos contratantes, procurando as consequências e 
os efeitos desejados por eles, indagando sua real intenção, do que no sentido 
literal do negócio (que seria o exame gramatical de forma “fria” de um texto 
do contrato). Trata-se da chamada teoria da confiança, que mantém íntima 
relação com o princípio da boa-fé objetiva. 
Além disso, os negócios jurídicos devem ser interpretadosconforme a 
boa-fé e os usos do lugar de sua celebração (art. 113, CC). Trata-se de 
referência à boa-fé objetiva que representa um dever de conduta das partes, 
de acordo com a lealdade, honestidade, confiança, etc. (a expressão “boa-fé” 
deriva do latim bona fide, que significa boa confiança, ou seja, é a convicção 
de alguém que acredita estar agindo de acordo com a lei, na prática ou na 
omissão de determinado ato). A boa-fé se presume. De forma contrária, a má-
fé precisa ser provada. 
O art. 114, CC estabelece uma ressalva. Os negócios jurídicos 
benéficos (também chamados de gratuitos, pois envolvem uma liberalidade, 
onde uma das partes se obriga e a outra aufere vantagens, como na doação 
pura e simples) e a renúncia (ato unilateral em que a parte abre mão de um 
direito, faculdade ou vantagem) interpretam-se estritamente. Ou seja, 
segundo a lei tais atos se limitam apenas ao que foi estabelecido pelas partes, 
sem incluir outras questões. Isto é, nem o Juiz poderá dar a estes negócios 
uma interpretação mais ampla, devendo ficar restrito ao que foi estipulado 
pelas partes. Um exemplo clássico disso é a fiança nos contratos de locação: 
sua natureza é gratuita, portanto é considerado um negócio jurídico benéfico; 
por tal motivo, se houver alguma dúvida quanto a sua abrangência, esta deve 
ser resolvida fazendo-se uma interpretação restritiva, ou seja, em favor 
daquele que prestou a fiança (no caso o fiador), não se ampliando as 
obrigações do mesmo (confiram o art. 819, CC). 
Finalmente, acrescente-se, que há outros dispositivos estabelecendo 
regras sobre a interpretação da vontade. O art. 423, CC, por exemplo, prevê 
que quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou 
contraditórias, acolhe-se a interpretação mais favorável ao aderente. Merece 
destaque especial também o art. 47 do Código de Defesa do Consumidor 
(CDC) que dispõe que “as cláusulas contratuais serão interpretadas de maneira 
mais favorável ao consumidor”. Outros: a intenção das partes pode ser 
apurada pelo modo como vinham executando o contrato até então; na dúvida 
deve-se interpretar o contrato de forma menos onerosa para o devedor; as 
cláusulas contratuais devem ser entendidas como um todo e não interpretadas 
de forma isolada, etc. 
DEFEITOS 
Defeitos do negócio jurídico são os vícios relativos à formação da 
vontade ou à sua declaração, tornando-o passível de anulação. Pode ser grave 
(quando vicia o ato de forma definitiva) ou leve (quando o ato pode ser 
remediado pelo interessado). 
Podemos dizer que um ato é válido (quanto ao consentimento) “quando 
eu faço exatamente aquilo que eu queria fazer, desejando seus efeitos, sem 
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que esta conduta prejudique terceiros”. Ou seja, às vezes eu posso ter feito 
algo que não era o que eu queria fazer (e quantas vezes isso ocorre 
conosco...); quero comprar algo e me engano... ou sou enganado. Outras 
vezes quero fazer algo e faço aquilo que eu queria fazer. Mas o que eu fiz afeta 
direitos de terceiros, prejudicando essas pessoas, que não foram partes do 
negócio principal, mas que foram lesados com a minha conduta. É importante 
notar que em qualquer uma destas duas situações (fiz algo que não queria ou 
fiz algo que eu queria, mas prejudiquei interesses de terceiros) surgem os 
chamados defeitos relativos à vontade. 
Assim, se existe uma vontade, porém sem a correspondência com aquela 
que o agente quer exteriorizar, o negócio jurídico será viciado ou deturpado, 
tornando-se anulável (art. 171, II, CC), se no prazo decadencial de 04 
anos for movida ação de anulação (art. 178, II, CC). São os chamados vícios 
de consentimento (erro, dolo, coação, estado de perigo e lesão). Nestes 
casos há uma desavença entre a vontade real e a vontade declarada, sendo 
que o prejudicado é um dos contratantes. 
Existem outras hipóteses em que se tem uma vontade funcionando 
normalmente, havendo a correspondência entre a vontade interna e a 
manifestação, mas, no entanto, ela se desvia da lei ou da boa-fé. O que foi 
colocado no contrato infringe a lei e prejudica terceiros. Também são passíveis 
de anulabilidade no prazo decadencial de 04 (quatro) anos. São os 
chamados vícios sociais (fraude contra credores). A simulação também é 
considerada por parte da doutrina como um vício social, uma vez que objetiva 
iludir terceiros. Porém o atual Código resolveu discipliná-la em outro capítulo, 
referente à invalidade do negócio jurídico (e não no capítulo referente aos 
defeitos do negócio). 
Vamos, mais uma vez, apresentar um gráfico para melhor classificar os 
defeitos relativos à vontade. Depois vamos analisá-los um a um. E vamos ver 
qual a consequência deste ato viciado. Dependendo do vício o ato pode ser 
nulo, anulável ou até mesmo válido. Mais adiante, ainda na aula de hoje, 
veremos as diferenças entre o ato nulo e o anulável, as hipóteses que 
caracterizam uma e outra situação, bem como os efeitos decorrentes destas 
situações. Esses tópicos têm vital importância para efeito de concursos. 
DEFEITOS 
1) Ausência de Vontade →→→→ Negócio inexistente (ou nulo para outra 
corrente doutrinária). 
2) Vícios de Consentimento →→→→ A vontade não é expressada de 
maneira absolutamente livre; a vontade declarada não representa a 
real intenção do agente. Prejudicam a própria pessoa que 
exteriorizou a vontade →→→→ Erro ou Ignorância, Dolo, Coação, Lesão e 
Estado de Perigo. 
3) Vícios Sociais →→→→ há uma correspondência entre a vontade 
interna do agente e a sua manifestação, no entanto, a vontade 
manifestada não tem a intenção pura e de boa-fé que enuncia; o 
negócio é realizado em desconformidade com a lei, pois a intenção é 
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de prejudicar terceiros que não participaram da relação negocial →→→→ 
Fraude contra Credores. Quanto à Simulação, devemos tomar 
cuidado. Embora muitos doutrinadores ainda afirmem ser um vício 
social, o atual Código Civil a coloca em outro capítulo (da invalidade 
do negócio jurídico: art. 167, CC), conforme veremos adiante. 
 Observação: em regra, o defeito deve ser alegado no prazo decadencial 
de quatro anos; se o prazo não for respeitado, o defeito não poderá ser mais 
alegado, sendo o ato convalidado por decurso de prazo. 
ERRO OU IGNORÂNCIA (arts. 138 a 144, CC) 
Este é o primeiro defeito relativo ao consentimento. O aluno que 
conseguir entender o seu alcance não sentirá dificuldade de entender todos os 
demais defeitos. Por isso muita atenção! 
Primeiramente: erro e ignorância são sinônimos? Não!! O Código Civil 
equipara o erro à ignorância quanto aos efeitos; ou seja, o Código não 
distingue um instituto do outro, mas afirma que as suas consequências são 
idênticas no campo do Direito. Assim, embora o Código não faça, a doutrina 
estabelece distinções entre eles (esta diferença já caiu em concursos). 
Erro é a falsa noção que se tem sobre um elemento que influencia a 
formação de vontade do declarante. Pode recair sobre as qualidades de uma 
coisa ou sobre uma pessoa. Ocorre quando o agente pratica o ato baseando-se 
em falso juízo ou engano. Pensei que era uma coisa... mas na realidade é 
outra. Já ignorância é o completo desconhecimento do declarante acerca 
do objeto ou da pessoa. Assim, às vezes usamos a expressão “erro”, mas 
queremos nos referir não só ao erro propriamente dito, como também à 
ignorância. 
Na verdade o erro é um registro falso da realidade. Observem que no 
erro a pessoa se engana sozinha. Ninguém a induz a erro. Mas não é 
qualquer erro (ou ignorância) que torna o negócio anulável. Ele há de ser a 
causadeterminante ou principal. Vejamos inicialmente um resumo sobre o 
tema. A seguir aprofundaremos o assunto. O erro (ou a ignorância) pode ser: 
 Essencial ou Substancial → razão determinante para a realização do 
negócio → se a verdade fosse conhecida o negócio não seria realizado → 
Ato Anulável. 
 Acidental ou Secundário → se a verdade fosse conhecida o negócio 
seria realizado, porém de forma menos onerosa → Ato válido. 
A) ERRO ESSENCIAL OU SUBSTANCIAL. Refere-se à natureza do próprio 
ato; recai sobre circunstâncias e aspectos principais, relevantes do negócio 
de forma que se eu soubesse do defeito jamais teria praticado o ato. O art. 
138, CC estabelece que o erro, para dar ensejo à anulação do negócio jurídico, 
há de ser substancial, ou seja, essencial. 
Divisão doutrinária. Parte da doutrina entende que além da 
essencialidade do erro, deve haver a sua cognoscibilidade (qualidade do que 
é cognoscível; que pode ser conhecido ou percebido pela outra parte), baseado 
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na chamada teoria da confiança, que tem tem por base a verificação da 
discrepância entre a vontade real do agente e a sua equivocada manifestação. 
Por isso, torna-se fundamental apreciar se o engano de um negociante poderia 
ter sido percebido pelo outro. A outra corrente doutrinária entende que na 
realidade o erro essencial deve ser escusável e real. Escusável porque ele é 
aceitável, desculpável dentro do que se espera de um homem médio, que atue 
com grau normal de diligência; tem por fundamento uma razão plausível, ou 
seja, qualquer pessoa com atenção ou diligência normal seria capaz de 
cometê-lo em face das circunstâncias. Ex.: é aceitável uma pessoa leiga 
confundir o diamante com zircônio. Mas não se admite esta confusão para um 
joalheiro, que tem conhecimento técnico para fazer a distinção (para ele seria 
um erro inescusável e, portanto, sem possibilidade de anular o ato). Real 
porque deve acarretar um prejuízo efetivo para o interessado. 
O Código Civil especificou as modalidades de erro substancial 
(hipóteses de anulação do negócio jurídico) no art. 139, CC. Vejamos: 
1. Erro sobre a natureza do negócio jurídico (error in ipso negotio) 
→→→→ o erro recai sobre a modalidade de contrato que foi celebrado. Pensei 
fazer um determinado contrato... mas fiz outro. Ex.: empresto um 
determinado bem para uma pessoa, mas ela entende que houve uma doação. 
Observem que não houve um acordo de vontades: uma das partes pensa que 
está realizando um contrato (empréstimo) e o consentimento do outro se 
dirige a outro contrato (doação). Outros exemplos: quero vender uma coisa, 
mas acabo doando; quero alugar um apartamento (o aluguel é oneroso), mas 
acabo fazendo um comodato (que é um empréstimo gratuito), etc. Esta 
situação é muito difícil de ocorrer na prática. No entanto pode muito bem cair 
em concursos... como já caiu. 
2. Erro sobre o objeto principal da declaração (error in ipso corpore) 
→→→→ a manifestação de vontade recai sobre objeto diferente do que se tinha 
em mente. Ex.: comprei um lote em um condomínio que pensava ser muito 
valorizado, no entanto trata-se de outro condomínio, que tem o mesmo nome, 
mas está situado em local diverso, muito distante de onde eu queria. Notem, 
mais uma vez, que ninguém me enganou. Eu errei sozinho (quando alguém 
me engana trata-se de outro defeito, o dolo, que veremos adiante). O erro, 
neste caso, atingiu a substância do ato; portanto o ato é anulável. No entanto, 
o art. 144, CC dispõe que o erro não prejudica a validade do negócio jurídico 
quando a pessoa, a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer 
para executá-la na conformidade da vontade real do manifestante. 
Aproveitando o exemplo acima: comprei o lote no condomínio errado (erro 
substancial); no entanto o vendedor, entendendo a situação, acaba entregando 
o lote no condomínio onde eu queria inicialmente. Ora, o negócio acabou sendo 
executado conforme minha vontade inicial. Assim, não havendo qualquer 
prejuízo, não se anula o negócio. 
3. Erro sobre as qualidades essenciais do objeto principal (error in 
substantia ou in qualitate) →→→→ a pessoa adquire o objeto que imaginava; porém 
engana-se quanto as suas qualidades; o motivo determinante do contrato é a 
qualidade essencial de um objeto que depois se constata que não existe. 
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Ex.: compro um relógio pensando que ele é de ouro, mas o mesmo é apenas 
“folheado”; compro uma blusa pensando que e de lã animal, mas na verdade é 
sintética (e a pessoa é alérgica e este tipo de tecido); compro um cavalo de 
carga pensando ele era um legítimo “puro-sangue” de corridas, etc. Observem 
que nestes exemplos eu também errei sozinho. 
4. Erro quanto à identidade ou à qualidade da pessoa a quem se 
refere a declaração de vontade (error in persona) →→→→ incide sobre a 
identidade (física ou moral) ou características da pessoa. Geralmente recaem 
nos contratos personalíssimos (intuitu personae). O negócio pode ser anulado, 
desde que a consideração pessoal seja condição essencial para a 
realização do negócio. Exemplo clássico: estou sendo processado por homicídio 
e contratei um Advogado certo de que ele é um famoso criminalista, excelente 
orador e especializado em fazer júri. No entanto constato que ele é um 
Advogado trabalhista. Notem que no caso de um contrato em que a prestação 
pode ser cumprida por qualquer pessoa (ex.: pintar um muro), mesmo que o 
contratante tenha se enganado na designação da pessoa, tal fato não será 
suficiente para a anulação do negócio. O erro quanto à pessoa também pode 
ser relativo ao: 
a) Casamento (pode ser anulado por “vício essencial sobre pessoa”): 
• erro quanto identidade do outro cônjuge, sobre a sua honra, boa fama, 
etc. (ex.: casar-se com pessoa e descobrir depois se tratar de criminoso 
procurado, viciado em tóxicos, etc.). 
• ignorância de defeito físico irremediável ou moléstia grave, 
transmissível. 
b) Testamento 
• deixo uma joia para X, que salvou minha vida. Descubro, 
posteriormente, que foi Z e não X quem salvou minha vida. Se eu 
soubesse que foi Z quem me salvou, eu não teria doado aquela joia a X. 
Eu queria doar a joia a quem realmente salvou minha vida, ou seja, Z. 
Neste exemplo o defeito é chamado de “erro quanto ao fim colimado ou 
por falsa causa”. O art. 140, CC determina que o falso motivo (ou 
falsa causa) somente vicia a declaração de vontade, quando for 
expressamente declarado como razão determinante da realização do 
negócio. Ou seja, o motivo somente tem relevância jurídica se for 
instituído expressamente no contrato, como razão para celebração 
deste. Outro exemplo: um homem já idoso recebe a notícia de que teve 
um filho quando era mais moço, mas na ocasião a mãe não lhe 
informou do fato. O idoso, tentando ajudar esta pessoa lhe doa uma 
casa, mas estabelece o motivo: somente assim está procedendo porque 
esta pessoa seria seu filho. Desta forma, caso comprovado 
posteriormente que a pessoa não era seu filho, a doação pode ser 
anulada, pois havia um falso motivo que foi expresso como razão 
determinante do negócio, viciando, assim, a vontade. 
 Lembrando “Ninguém pode se escusar de cumprir a lei alegando que 
não a conhece”. Trata-se do Princípio da Obrigatoriedade (art. 3°, LINDB), 
que visa garantir a estabilidade e a eficácia do sistema jurídico, que ficaria 
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comprometido se fosse admitida em todae qualquer hipótese a alegação de 
ignorância de lei em vigor. 
Reforçando: somente o erro substancial, essencial, escusável, real, 
anula o negócio jurídico. O erro deve ser de tal forma que, caso a verdade 
fosse conhecida, o ato não seria realizado, importando efetivo prejuízo ao 
interessado. Mas o contratante que se achou em erro e promove a invalidade 
do contrato pode ser condenado a ressarcir eventuais prejuízos que causar à 
outra parte por não ter procedido com a diligência necessária ao prestar o seu 
consentimento. Somente a parte interessada (a que errou) pode arguir a 
anulação do ato. 
B) ERRO ACIDENTAL  é aquele concernente às qualidades secundárias 
ou acessórias da pessoa ou do objeto. Ocorrendo esta espécie de erro, o 
negócio jurídico não será anulado. O ato continua válido, produzindo 
efeitos, porque o defeito não incide sobre a declaração de vontade. Ele decorre 
do não-emprego da diligência ordinária que deve ter um “homem médio”. 
Mesmo sabendo do defeito, a pessoa teria realizado aquele negócio. Ex.: 
comprar um carro de ano de fabricação muito diferente é um erro essencial; 
porém comprar um carro de número de série diferente é apenas um erro 
acidental. Da mesma forma, comprar um carro usado com uma cor um pouco 
diferente (preto ou azul escuro) também é acidental, não anulando o negócio. 
Outros exemplos: compro uma casa pensando que tem quatro janelas, mas só 
tem três; doei um relógio a uma pessoa pensando que ela é solteira, mas é 
casada, etc. 
O chamado erro de cálculo (que é a inexatidão material) também não é 
causa de anulação do negócio, mas de simples retificação da declaração de 
vontade, nos termos do art. 143, CC. Pode incidir sobre o peso, a medida, a 
quantidade, o valor do bem, etc. É uma espécie de erro acidental, não 
incidindo sobre a declaração de vontade e não viciando o consentimento. Ex.: 
comprei 12 camisas, sendo que o valor de cada uma delas é de R$ 45,00; logo 
deveria pagar R$ 540,00, mas acabei pagando somente R$ 450,00. É evidente 
que houve um erro na elaboração aritmética dos dados do negócio, pois as 
partes sabiam do valor do negócio, errando apenas no momento da realização 
do cálculo final. 
 Erro de Fato X Erro de Direito 
O erro de fato é aquele que recai sobre uma circunstância de fato. Pode 
ser essencial ou acidental. Crê-se numa realidade que não é verdadeira. Tudo 
o que falamos acima se refere a ele. Já o erro de direito diz respeito à 
existência de norma jurídica. Consiste na ignorância da lei, no falso 
conhecimento e também na sua interpretação errônea. Como regra ele não 
admite escusa; não admite desculpas. Não pode ser alegado. No entanto 
admite-se, excepcionalmente o erro de direito (e, por consequência, o 
negócio jurídico pode ser anulado), se o ato não implicar em recusa à aplicação 
da lei e for o motivo único ou principal do negócio jurídico (art. 139, III, CC). 
Isto é, não pode o ato recair sobre a norma cogente (ou seja, impositiva, de 
ordem pública), mas tão-somente sobre normas dispositivas (ou seja, 
sujeitas ao livre acordo das partes). Além disso, deve ser grave a ponto de 
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afetar e viciar a manifestação de vontade do agente. Geralmente o erro recai 
sobre uma situação de fato (como vimos, um contrato propriamente dito, ou o 
objeto deste contrato, ou uma pessoa, etc.). Este é o erro de fato sobre uma 
situação concreta. Já o erro de direito é aquele que diz respeito à existência 
(ou não) de uma norma jurídica. A pessoa supõe que uma lei não existe ou 
que ela não esteja mais em vigor. Ex.: firmar um contrato de locação com 
base em uma lei, pensando que ela ainda está vigorando, no entanto já foi 
revogada; pessoa contrata a importação de determinada mercadoria ignorando 
que existe uma lei proibindo tal importação. Como a ignorância foi a causa 
determinante do ato, pode ser alegada para anular o contrato, sem com isso 
se pretender que a lei seja descumprida. Há outro exemplo muito citado pela 
doutrina e que gera polêmica, inclusive no Direito Penal: um argentino vem 
para o Brasil trazendo frascos de lança-perfume para revender; na Argentina 
este produto não é proibido e a pessoa não sabia que era proibido no Brasil; se 
soubesse, não teria trazido. 
 Erro X Vício Redibitório 
Essa é uma distinção muito importante, pois já vi cair em diversos 
concursos. E pode confundir o candidato. O vício redibitório é o defeito oculto 
na coisa, que a torne imprópria para o uso a que se destina ou lhe diminua o 
valor. No vício redibitório não há qualquer erro no momento da celebração do 
negócio; o que há é um defeito no objeto (e não na vontade do adquirente), 
que não foi notado, já que era oculto. Já no erro há um engano por parte do 
adquirente; é um vício de ordem subjetiva, pois foi a vontade que foi viciada 
pela falsa percepção da realidade, não havendo vício no objeto. 
O Código Civil prevê outras duas espécies de erro. Vejamos. 
– Erro acidental in qualitate (art. 142, CC): “O erro de indicação da 
pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o 
negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a 
coisa ou pessoa cogitada”. Como diz respeito às qualidades secundárias ou 
acessórias da pessoa (ex: se é casada ou solteira) ou do objeto (ex: comprei o 
lote 321, mas recebi o 213 por erro de digitação), não induz a anulação do 
negócio. 
– Erro na transmissão de vontade por meios interpostos (art. 141, 
CC): o negócio é anulável quando na transmissão da vontade do declarante 
verifica-se falha que a faz chegar ao seu destinatário com conteúdo diverso 
daquele emitido; é o erro por defeito de intermediação que altera a vontade 
declarada, como se tratasse de uma declaração direta. Ex.: uma pessoa utiliza 
rádio ou televisão para transmitir uma declaração de vontade, mas o veículo 
utilizado, devido a interrupção ou deturpação sonora, faz com que a divulgação 
saia com incorreções, acarretando uma desconformidade entre a vontade 
interna e a sua declaração ou manifestação. Somente anula o negócio se a 
alteração for substancial (art. 138, CC), ou seja, prejudicar o real sentido da 
declaração expedida. Caso contrário, será insignificante e o negócio será 
válido. 
 
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DOLO (arts. 145 a 150, CC) 
Dolo é o artifício malicioso empregado por uma das partes ou por 
terceiro, com o propósito de enganar a outra parte do negócio, causando-lhe 
prejuízo e beneficiando o autor do dolo ou o terceiro. Para a sua caracterização 
exige-se a vontade de enganar alguém (a doutrina chama isso de animus 
decipiendi). 
O dolo inicialmente pode ser classificado em: 
• Dolus Bonus (dolo bom): é um comportamento tolerado nos negócios 
em geral. Consiste em reticências, realce e exageros nas boas qualidades da 
mercadoria ou dissimulações de defeitos. É o artifício que não tem a finalidade 
de prejudicar ninguém... as pessoas não se sentem enganadas. Por tal motivo 
ele não é anulável, desde que não venha a enganar o consumidor, mediante 
propaganda abusiva. Aliás, o Código de Defesa do Consumidor proíbe a 
propaganda enganosa, apta a induzir o consumidor em erro. 
• Dolus Malus (dolo mau): consiste em manobras astuciosas (atos, 
palavras ou até o próprio silêncio) para enganar alguém e lhe causar prejuízo. 
Vicia o consentimento e por isso é anulável (na hipótese de ser essencial) ou 
obriga a satisfação de perdas e danos (na hipótese de ser acidental, como 
veremos adiante). O dolo mau pressupõe: a) prejuízo para o autor do ato; b) 
benefício para o autor do dolo outerceiro; c) pode ser praticado pelo silêncio. 
 Observação. Não há critérios absolutos para se distinguir na prática o 
dolus bonus do dolus malus. É o Juiz quem vai decidir, analisando as 
peculiaridades de cada caso concreto. Exemplo disso é a “mensagem 
subliminar” (atua inconscientemente em face do consumidor, induzindo-o a 
determinado comportamento) que pode se caracterizar em comportamento 
doloso e prática comercial abusiva. 
O dolus malus se divide em: 
• Dolo Principal, essencial ou substancial (dolus causam): art. 145, 
CC  é aquele que dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não se teria 
concluído, acarretando, então, a anulabilidade do negócio jurídico. Se não 
houvesse o induzimento, a pessoa não faria o negócio. Para que seja possível a 
anulação é necessário que: a) haja a intenção de induzir a outra parte a 
praticar um negócio lesivo; b) os artifícios maliciosos sejam graves, por indicar 
fatos falsos, suprimir ou alterar os verdadeiros ou por silenciar algum fato que 
se devesse relatar ao outro contratante; c) seja a causa determinante na 
declaração de vontade; d) haja uma relação de causa e efeito entre a indução 
do erro e a prática do negócio; e) se o dolo foi proveniente de terceiro, que 
seja do conhecimento do outro contratante. 
• Dolo Acidental (dolus incidens) art. 146, CC  leva a vítima a realizar 
o negócio jurídico, porém em condições mais onerosas (ou menos vantajosas), 
não afetando sua declaração de vontade (embora venha a provocar desvios). 
Não se constitui vício de consentimento porque não influi diretamente na 
realização do negócio. O negócio teria sido praticado de qualquer forma, 
independentemente das manobras astuciosas, embora de outra maneira, em 
condições menos onerosas à vítima. O dolo acidental leva a distorções 
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comportamentais que podem alterar o resultado final do negócio, no entanto 
não anula o negócio, apenas obriga a satisfação de perdas e danos ou 
a uma redução da prestação pactuada. 
 Dolo Essencial → dá causa ao negócio jurídico, sem o qual ele não teria 
sido concluído → Ato Anulável. 
 Dolo Acidental → realiza o negócio jurídico em condições mais onerosas 
→ não afeta a declaração de vontade → Ato válido, mas enseja 
indenização por perdas e danos. 
O dolo ainda pode ser classificado em: 
• Positivo (ou comissivo): resulta de uma ação dolosa; são os artifícios 
positivos. Ex.: falsas afirmações sobre as qualidades de uma coisa: pode 
comprar este “cachorrinho” que eu garanto... ele vai ficar bem pequeno... ele 
é da espécie “toy”... passados alguns meses aquele “cachorrinho” se tornou 
um “cachorrão”. 
• Negativo (ou omissivo): é a manobra astuciosa que constitui uma 
omissão intencional, induzindo o outro contratante a realizar o negócio. Trata-
se da ocultação de uma circunstância relevante e que a parte contratante 
deveria saber. E, sabedora, não teria efetivado o negócio. Ex.: seguro de vida 
em que se omite uma doença grave e o segurado vem a falecer dias depois – 
neste caso houve uma evidente intenção de lesar a seguradora, beneficiando 
os sucessores; venda de um cavalo de raça já doente e que vem a morrer logo 
depois da realização do negócio, etc. Nestas hipóteses o silêncio funciona como 
um mecanismo de atuação dolosa (quebra da boa-fé objetiva). Acarretará a 
anulação do negócio se o dolo for principal (motivo determinante), pois é 
necessária a relação de causalidade entre a omissão intencional e a declaração 
de vontade (art. 147, CC). Se for acidental enseja apenas perdas e danos. 
���� Observações Importantes ���� 
01) Dolo de Terceiro (art. 148, CC). Em algumas situações o dolo pode 
ser proveniente de uma terceira pessoa, estranha ao negócio. Em geral não 
afeta o contrato, uma vez que o terceiro não é parte do negócio. Somente 
enseja a sua anulação se a parte a quem aproveite dele tivesse ou devesse ter 
conhecimento. Ex.: “C” instiga “A” a comprar o relógio de “B” assegurando que 
ele é de ouro; porém o relógio é apenas dourado e “C” sabe disso, estando em 
conluio com “B”. Neste caso o terceiro (“C”) e o contratante (“B”) são tidos 
como autores do dolo. O negócio é anulável. No entanto se “B” (contratante 
favorecido) não tinha conhecimento da conduta dolosa por parte do terceiro, 
não se anula o negócio, mas “A” pode reclamar as perdas e danos de “C” (o 
terceiro causador da situação). Resumindo: 
 Beneficiado pelo dolo de terceiro sabia ou deveria saber →→→→ negócio 
anulável. 
 Beneficiado pelo dolo não sabia e nem tinha como saber →→→→ negócio válido, 
porém o terceiro responde pelas perdas e danos da parte que foi 
ludibriada. 
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02) Dolo dos Representantes (art. 149, CC). Aqui a lei prevê duas 
situações com soluções diferentes. No caso da representação obrigatória ou 
legal (pais, tutores ou curadores), o representado fica obrigado a responder 
civilmente somente até a importância do proveito que teve. Isto porque o seu 
representante foi “imposto” pela lei (ou de forma judicial), sem que ele 
pudesse se rebelar contra isso. Seria injusto responsabilizar o representado 
por tudo. Por ser incapaz, ele não pode escolher o seu representante e nem 
vigiar os seus atos, não tendo ciência se ele está agindo de forma maliciosa. 
No entanto, no caso de representação convencional ou voluntária (que é 
o caso do mandato) o representado responderá solidariamente com o 
representante por tudo, inclusive perdas e danos. Isto porque aquele que 
escolhe um representante e lhe confere uma procuração, cria um risco para o 
mundo exterior; o procurador irá agir usando o nome do representado. Por tal 
motivo deve, inicialmente, escolher bem a pessoa que irá representá-lo. Além 
disso, deve vigiar os atos da pessoa que escolheu para ser seu representante. 
Escolhendo mal (culpa in eligendo) ou não fiscalizando (culpa in vigilando) o 
seu representante, o representado responde solidariamente pela reparação 
total do dano (e não apenas limitado à responsabilidade do proveito que teve, 
como no caso da representação legal). Resumindo: 
 Dolo do representante legal (pais, tutores e curadores) →→→→ 
responsabilidade do representado limitada até a importância do proveito 
que teve com o dolo. 
 Dolo do representante convencional (mandatário) →→→→ responsabilidade 
solidária entre o representante e o representado, inclusive nas perdas e 
danos. 
03) Dolo recíproco (ou bilateral). Ocorre quando ambas as partes agem 
com dolo (comissivo ou omissivo), desejando obter vantagem em prejuízo da 
outra. Configura-se a chamada torpeza bilateral. Nesta hipótese ocorre a 
neutralização do delito, pois há uma compensação entre os dois ilícitos. Isto 
é, não haverá a anulação do ato, pois ninguém pode se valer da própria 
torpeza. O ato é considerado válido para ambos (art. 150, CC). 
 Dolo x Erro. O erro deriva de um equívoco da própria vítima, sem que a 
outra parte tenha concorrido para isso. Já o dolo é intencionalmente 
provocado na vítima pelo autor do dolo. Em outras palavras: no erro eu errei 
sozinho; no dolo alguém me enganou, isto é, eu errei, mas fui induzido a 
cometer este erro pela conduta (má-fé) da outra parte. Resumindo: o erro é 
espontâneo; o dolo é provocado intencionalmente. 
O dolo do direito civil (artifício para enganar alguém) não deve ser 
confundido com o dolo do direito penal. Este é a intenção de praticar um ato 
que se sabe contrário a lei. O sujeito quis ou assumiu o risco de produzir o 
resultado. Está previsto no art. 18 do Código Penal. Também não se confunde 
com o dolo do direito processual.

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