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Aquisição de Linguagem

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RESUMO
	O trabalho atual procura compreender o processo de aquisição de linguagem através da teoria de Piaget. Para explicar esse processo foram feitas pesquisas com base em autores que seguem o mesmo paradigma, além de uma entrevista com a mãe de uma criança, o Arthur, e a observação naturalista da interação linguística dele com sua família e objetos ao seu redor.
SUMÁRIO
RESUMO.........................................................................................................................01
SUMÁRIO.......................................................................................................................02
INTRODUÇÃO...............................................................................................................03
METODOLOGIA............................................................................................................04
RESULTADOS...............................................................................................................07
DISCUSSÃO...................................................................................................................09
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA..................................................................................12
CONCLUSÃO.................................................................................................................16
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS............................................................................17
	Este trabalho busca compreender a aquisição de linguagem através da ótica construtivista utilizando a teoria de Piaget.
De acordo com Sternberg (2008, p.294) “a linguagem é o uso de meios organizados de combinar palavras para se comunicar”. Isso quer dizer, que, a linguagem se manifesta não somente através da fala e da escrita, mas de outros modos que permitam a transmissão de palavras de um emissor para um receptor (ex.: libras e braille). Difere-se da comunicação de forma que esta não necessita de palavras para transmitir mensagens. Sternberg (2008, p.294) diz que a comunicação possui outros aspectos que se manifestam de formas não verbais: gestos, olhares e toques.
	Na teoria de Piaget “o desenvolvimento linguístico depende do desenvolvimento da inteligência, sendo considerada uma forma de representação desta última” (DIAS, 2010, p. 113). Além disso, o Egocentrismo está relacionado ao aprendizado de idiomas através de um discurso interno e a Linguagem Egocêntrica possui uma influência na aquisição de linguagem (Heo et al., 2011, p.733, tradução nossa).
	O objetivo deste trabalho é, através dos conceitos básicos de Piaget, compreender melhor o processo de aquisição de linguagem no desenvolvimento cognitivo da criança.
METODOLOGIA
	Para a fundamentação deste trabalho, foi feita uma pesquisa em literaturas que suportam o viés cognitivo de aquisição da linguagem, mais especificadamente, dentro da teoria da Epistemologia Genética de Piaget.
	Além disso, foi feita a observação naturalista do menino Arthur, de dois anos e oito meses (32 meses), no seu próprio lar, com a companhia de sua mãe [NOME DA MÃE]. Os comportamentos e o uso da linguagem observados foram detalhadamente anotados, porém a mãe do Arthur não se sentiu confortável com a filmagem de seu filho, logo, o relato se dará por escrito.
Antes da observação foi feita uma breve entrevista semiestruturada. Neste formato a entrevista é feita com algumas questões predefinidas, porém, mantendo uma liberdade que permite a inclusão de novas perguntas elaboradas no momento e no contexto avaliado.
O Arthur foi observado em duas situações distintas. Na primeira, o Arthur interagia com os programas de seu interesse sendo exibidos na televisão e, na segunda, interagia com o seu pai, que acabara de chegar do seu trabalho.
A seguir, pode-se ver o questionário e o relatório resultados da entrevista e da observação.
Questionário
1- A criança costuma prestar atenção em tudo ou em grande parte do que você fala?
R- Sim, praticamente tudo.
2- Você tem percebido que a evolução para os outros sons tem se dado rapidamente ou acontecendo de forma mais lenta?
R- Aos poucos, as palavras não saem ainda de forma clara, então de forma lenta.
3- Como você interage, estimula e exercita a fala do seu filho?
R- Quando ele fala errado, eu falo a palavra corretamente até ele conseguir falar, caso seja difícil, vou separando as sílabas, pois assim vejo que é mais fácil para ele.
4- A criança costuma repetir tudo o que você fala?
R- Não.
5- Quais foram os primeiros sons que ele fez? Com quantos meses aproximadamente?
R-  Bruuuuu. Som parecido com de carro ou de moto. Estava com aproximadamente cinco meses.
6- Você tem o habito de estimular a Fala dele?
R- Sim. Apontando para um objeto ou qualquer outra coisa e pedindo para ele dizer o que é.
7-Quais foram as primeiras sílabas formadas?
R- Agu. Com aproximadamente 4 meses.
8- Qual foi a primeira palavra? Quantos anos ele tinha?
R- Mamãe.  Estava com aproximadamente dez meses.
9- Você notou alguma dificuldade na fala em algum momento?
R- Não.
10- Existe alguma outra forma em que ele interage demonstrando o uso de linguagem?
R- Ele interage com brinquedos e a televisão.
RESULTADOS
Nome: Arthur
Idade: 32 meses (2 anos e 8 meses)
	A observação foi iniciada às 18:00 horas do dia 10 de abril de 2017. Ao chegar na casa dele ele estava assistindo televisão, um programa chamado Cocoricó, enquanto comia pão e bebia leite. Minutos após o início da observação, Arthur pediu para trocar o programa para o desenho do Mickey e seu irmão, Pietro, complementou dizendo que Arthur gosta muito deste desenho. No momento em que houve a troca na programação Arthur se dirigiu para frente da televisão e, de pé, ele começa a interagir com a TV. No desenho o Mickey andava por uma calçada onde ele encontra um hidrante aberto, molhando toda a calçada. O Arthur, animado, chamava a atenção de todos no recinto (sua mãe e seu irmão) dizendo “Olha a água! Olha a água! ”.
	Logo após isso Arthur se dirigiu ao sofá, ainda comendo pão, e começou a conversar sobre a sua moto, que havia quebrado. Inicialmente não foi possível compreender o que ele estava falando, somente na terceira vez que o Arthur foi compreendido.
	Arthur continuou a assistir televisão. No desenho passavam dois astronautas que levam o Arthur a chamar a atenção de todos novamente, dizendo “dois! ”. Arthur desce do sofá e grita ao redor da sala “Bickey! Bickey! “, se referindo ao Mickey na televisão. Enquanto andava pela sala, Arthur pega um relógio de brinquedo e o joga no chão duas vezes. Ele corre para a varanda de um lado ao outro, pega a sua bicicleta, mas logo a larga, voltando para sala e sentando no sofá. Arthur sentou no braço do sofá, onde se inclinava dizendo “To caindo, to caindo! “.
	O pai de Arthur chega do seu trabalho, o que leva o Arthur a se esconder, enquanto o pai procura por ele. Ao encontra-lo, o pai diz “Achei! ”, o que leva o Arthur a gritos e risos, e o pai o pega no colo e enche-o de beijos antes de colocá-lo novamente no chão (O pai e a mãe informaram que essa interação entre os dois ocorre todos os dias quando o pai de Arthur chega do trabalho). Após a interação com o pai, Arthur voltou para frente da televisão onde ficou por aproximadamente dois minutos. Após isso, ficou a andar atrás de seu pai dizendo “Papai, papai. “. Arthur corria pela casa enquanto seu pai falava “Você vai cair, você vai cair. “ Enquanto o Arthur respondia “Não papai. ”.
	Perguntei a mãe se ele exibiu o mesmo comportamento que costuma exibir, onde a mesma afirmou que sim.
DISCUSSÃO
	A produção deste trabalhou se provou um desafio, porém seus objetivos foram alcançados. A partir do instrumento utilizado para coleta de dados, a observação, foi possível encontrar dados que corroboraram para a teoria escolhida para explicar a aquisição de linguagem, objetivo principal deste trabalho.A impossibilidade de filmar a observação exigiu uma atenção redobrada por parte da observadora, porém a mesma conseguiu obter resultados significativos enquanto respeitava o desejo da mãe da criança observada.
	Outros desafios como a vida pessoal dos integrantes (trabalho, família, outras responsabilidades em geral) também dificultaram parcialmente a produção deste trabalho, mas felizmente todos esses contratempos foram contornados.
	A realização dessa experiência contribuiu grandemente para a temática e a teoria escolhida para explica-la. O conhecimento dos conceitos chave e visualizá-los em prática no seu ambiente natural certamente adicionaram para o conhecimento do grupo.
	Em geral este trabalho se provou um desafio de várias formas, porém contribuiu grandemente para o conhecimento do grupo, tanto através da teoria utilizada quanto através da prática do mesmo, e provou-se uma experiência gratificante.
TERMO DE CONSENTIMENTO
Eu, __________________________________________________, de nacionalidade ______________________, inscrito(a) no CPF _______________________, mãe/pai e responsável por _____________________________________________, de ___ ano(s) e ___ mês(es), estou sendo convidada a, junto de meu (minha) filho (a), participar de um estudo denominado Aquisição de Linguagem segundo a Epistemologia Genética.
Declaro que recebi os esclarecimentos necessários sobre os possíveis desconfortos e riscos decorrentes do estudo, levando-se em conta que é uma pesquisa, e os resultados positivos ou negativos somente serão obtidos após a sua realização
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou qualquer outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido em sigilo.
Também fui informado(a) de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar meu consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e de, por desejar sair da pesquisa, não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo.
 É assegurada a assistência durante toda pesquisa, bem como me é garantido o livre acesso a todas as informações e esclarecimentos adicionais sobre o estudo e suas conseqüências, enfim, tudo o que eu queira saber antes, durante e depois da minha participação.
 	Enfim, tendo sido orientado quanto ao teor de todo o aqui mencionado e compreendido a natureza e o objetivo do já referido estudo, manifesto meu livre consentimento em participar, estando totalmente ciente de que não há nenhum valor econômico, a receber ou a pagar, por minha participação.
São Gonçalo, __ de ______ de 2017.
______________________________________________________
Nome e assinatura do sujeito da pesquisa
_______________________________________________________
Nome e assinatura do(s) pesquisador(es) responsável(responsáveis)
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Conceitos básicos em Piaget utilizados para o entendimento do trabalho
Esquemas
A teoria de Piaget define esquemas como “estruturas cognitivas ou mentais com as quais os indivíduos adaptam-se e organizam os seus ambientes” (Heo et al., 2011, p.734, tradução nossa). Um exemplo comum para melhor compreender sua definição é imaginar a mente como um arquivo de dados e os esquemas correspondem a fichas nesse arquivo. Cada ficha possui informações que representam algo na nossa realidade, ajudando a compreender tal objeto.
Assimilação
Segundo Boeree (2006 apud Heo et al., 2011, p.734, tradução nossa) “a assimilação é o processo cognitivo no qual uma pessoa integra novas informações percepcionais ou conceitos em esquemas existentes”. O autor ainda sugere que a assimilação influencia o crescimento do esquema, porém o mesmo não é modificado.
Acomodação
De acordo com Heo et al. (2011, p.734), a acomodação é o processo pelo qual um esquema já existente é modificado ou um novo é criado. Tal processo ocorre quando uma nova informação é adquirida, porém a criança é incapaz de assimilar o seu conteúdo a um esquema existente.
Exemplo:
	Uma criança que possui um cão de estimação pode se surpreender ao ver um cavalo pela primeira vez e considerá-lo um cachorro bem grande, devido a similaridade entre os dois animais (são peludos, são quadrúpedes, possuem cauda). Neste caso, ocorreu uma assimilação, onde o esquema para Cão foi ampliado, incluindo uma nova informação. Porém, cavalos não são cães. Para diferenciar os dois animais será necessário que ocorra uma acomodação.
	Em algum momento a criança verá um cavalo e o chamará de cachorro e logo em seguida será corrigida por algum adulto, que lhe informa “Não, esse é um cavalo, não um cachorro”. A criança percebendo que o animal não é um cão, mas um animal diferente acomodará essa informação num novo esquema com suas próprias características. A partir de então, a criança possui um esquema para cão e outro para cavalo. Ocorrendo a acomodação, estímulos não assimilados previamente podem se assimilar aos seus respectivos esquemas (por exemplo, cavalos possuem cascos enquanto os cães possuem almofadas em suas patas chamadas coxins).
	Os processos de assimilação e acomodação são responsáveis pelo alcance do equilíbrio cognitivo. Gomes e Ghedin [201?] explicam:
Entende-se então, que todo ser humano nasce com a capacidade de adaptar-se ao meio e de assimilar e acomodar os objetos externos em sua estrutura cognitiva na busca de um equilíbrio o que permite seu desenvolvimento a partir da evolução de sua inteligência. Desse modo, a criança ao se deparar com uma nova situação, procura inseri-la a conhecimentos anteriores (assimilação), mas muitas vezes nessa assimilação, é necessário certas modificações (acomodação) para uma verdadeira compreensão da situação encontrada.
	Piaget (2011 apud Gomes & Ghedin, 201?) afirma que através da linguagem a criança é capaz de sair do campo perceptivo e invocar situações fora do tempo e espaço presente. O autor explica, também, que na criança pequena, os símbolos (significantes individuais, diferenciados e motivados, do qual a criança tem necessidade) surgem ao mesmo tempo da linguagem, na forma de jogo simbólico e imaginação. Além disso, ressalta que a origem do pensamento é dada através da função simbólica e que o pensamento precede a linguagem, porém esta o transforma, auxiliando na missão de atingir um equilíbrio por meio de uma esquematização mais desenvolvida.
	Papalia, Olds & Feldman (2006, p. 284) afirmam que a função simbólica é desenvolvida no final do estágio sensório-motor, mas se desenvolve mais na fase pré-operacional, “acompanhados pelo crescente entendimento de identidades, espaço, causalidade, categorização e número. ”. Os autores definem função simbólica como “a capacidade de usar símbolos ou representações mentais – palavras, números ou imagens a que uma pessoa atribui um significado. ”. Por exemplo, no relatório descrito neste trabalho, o Arthur foi capaz de pedir para assistir o desenho do Mickey sem necessitar de uma experiência sensorial do personagem presente no recinto. Ele já tem uma representação mental do Mickey e não precisa de nenhuma indicação sensorial para despertar a vontade de assistir o desenho.
	Como foi citado na introdução deste trabalho, o desenvolvimento linguístico está diretamente relacionado ao desenvolvimento da inteligência e, para Piaget, a linguagem é uma representação da inteligência. Explicado por Ferracioli (1999), o processo de equilibração
[...] considerado por Piaget como fundamental, é o que completa e evidencia o caráter não-apriorístico do desenvolvimento das estruturas mentais do indivíduo. A evolução ocorre sempre na direção de um equilíbrio, mas sem um plano preestabelecido [...] isto é, como o equilíbrio depende da ação do sujeito ativo sobre os distúrbios externos e, ao mesmo tempo, da ação desses sobre aquele.
Ou seja, é através de um relacionamento construtivo entre o sujeito e o objeto que o desenvolvimento cognitivo ocorre. É através de diversos desequilíbrios e sua subsequente busca por equilíbrios que ocorre não só aconstrução da inteligência, mas também da linguagem, que vem a ser desenvolvida através da interação com o meio e a eterna busca por um equilíbrio cognitivo.
CONCLUSÃO
	Como pode ser observado durante a fundamentação deste trabalho, a aquisição da linguagem é um processo construtivo, onde o indivíduo e o ambiente interagem.
	Pudemos observar como o Arthur, participante deste estudo, aos dois anos e oito meses relacionava com o ambiente dele e demonstrou-se capaz de evocar representações daquilo que desejava sem a necessidade de estímulos sensoriais indicando a ele o que pode vir a ser ou não do seu interesse, indicando o uso da função simbólica no seu desenvolvimento.
	Identificamos que através da teoria de Piaget, mesmo não possuindo um foco na aquisição de linguagem, é possível descrever como o fenômeno acontece através da sua relação com a inteligência e o pensamento.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
DIAS, F. O desenvolvimento cognitivo no processo de aquisição de linguagem. Letrônica, Rio Grande do Sul, v. 3, n. 2, dez. 2010. Disponível em: < http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/letronica/article/viewFile/7093/5931>. Acesso em: 11 abr. 2017.
FERRACIOLI, L. Aprendizagem, desenvolvimento e conhecimento na obra de Jean Piaget: uma análise do processo de ensino-aprendizagem em Ciências. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos, v. 80, n. 194, jan/abr. 1999. Disponível em: <http://rbep.inep.gov.br/index.php/rbep/article/view/1001/975>. Acesso em: 15 abr. 2017.
GOMES, R.C.S.; GHEDIN, E. O desenvolvimento cognitivo na visão de Jean Piaget e suas implicações a educação científica. [201?]. Disponível em: < http://www.nutes.ufrj.br/abrapec/viiienpec/resumos/R1092-2.pdf>. Acesso em: 14 abr. 2017.
HEO, J. et al. Piaget’s Egocentrism and Language Learning: Language Egocentrism (LE) and Language Differentiation (LD). Journal of Language Teaching and Research, v. 2, n. 4, jul. 2011. Disponível em: < http://www.academypublication.com/issues/past/jltr/vol02/04/01.pdf>. Acesso em: 11 abr. 2017.
PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W.; FELDMAN, R. D. Desenvolvimento Físico e Cognitivo na Segunda Infância. In: ______. Desenvolvimento Humano. 8. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006. Cap. 7, p. 284
STERNBERG, R.J. Linguagem: Natureza e Aquisição. In: ______. Psicologia Cognitiva. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2008. Cap. 9, p. 294.

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