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ASSUNTOS E TEMAS REDAÇÃO 2016 Primeiro, lembre-se da nossa aula de ‘Planejamento da Redação’. A interpretação correta do tema é o primeiro passo para escrever um bom texto. Dê atenção total a cada uma das palavras que compõem o tema para que a apreensão dos sentidos da proposta seja completa – impedindo que ocorra fuga ao tema – esses sentidos específicos devem ser inter-relacionados Não confunda tema e assunto. O assunto pode ser uma referência genérica ou um fato específico; o tema é uma discussão direcionada, construída a partir do assunto escolhido. Só para lembrar! Selecione as palavras-chave da frase tema! Por exemplo: Frase tema: “Até que ponto a identidade cultural brasileira é afetada pela globalização?” 1. Até que ponto? – (Totalmente? Parcialmente? Não é afetada?/ Defina e defenda seu ponto de vista.) 2. O que é identidade cultural brasileira? - (O que faz do Brasil o Brasil? Qual a identidade? – Língua portuguesa/ culinária/ música, ritmos/ vestuário/ costumes/ esportes, etc.) Mapeamento, seleção do que é interessante, pelo menos três que considera mais importante. 3. Globalização – (Em que consiste esse processo? Aproximação entre as culturas. O que influencia a nossa cultura? País miscigenado. Muitas possibilidades... Reflita em até que ponto isso atinge a nossa identidade – Após essa interpretação, produza o roteiro e comece a redigir! Agora, veja alguns assuntos que estão dentre as atualidades de 2016: Atenção! - Esse é um levantamento de assuntos que estiveram em alta este ano. Não necessariamente que todos tenham força para emplacar como tema da redação. Analise o que você saberia discorrer sobre eles. - Justiça no Brasil. - Igualdade de gênero. - Vírus Zika. - Estado Islâmico. - Crise dos refugiados. - Situação política e econômica nos países da América do Sul. - Cidadania: Lei Maria da Penha completa 10 anos. - Rompimento da barragem em Mariana. - Violência: Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo. - Dívida Pública: municípios e estados brasileiros com os cofres vazios. - Cultura do estupro - Reforma política - Intolerância social - Depressão: o mal estar da sociedade contemporânea. Além desses, aposto nesses possíveis temas para a REDAÇÃO 2016: - O desafio da inclusão no Brasil. - As novas relações de trabalho. - O uso da tecnologia na educação. - O novo perfil da família brasileira. - Mobilidade urbana e suas implicações sociais. - A democratização do acesso à cultura no Brasil. - A cultura de assédio no Brasil. - A importância da literatura na formação infantil. - Os impactos da propaganda no Brasil contemporâneo. - A intolerância na escola em questão no Brasil. - Exposição exagerada no ambiente virtual. Assuntos com texto base – (Você poder ler essa edição selecionada em sites de notícias, ou buscar outras fontes de informação). Justiça no Brasil Em meio à crise política e casos de linchamento, o tema "justiça" pode ser cobrado. Ela sugere que o candidato escreva sobre investigações de corrupção como a operação Lava-Jato, mas também a deturpação da ideia de 'justiça' por pessoas que tentam punir supostos criminosos com as próprias mãos. Igualdade de Gênero Se o foco for a questão da mulher, o aluno pode abordar violência doméstica, a baixa representação feminina na política e a diferença salarial entre homens e mulheres. Outra possibilidade é a prova pedir uma dissertação sobre os direitos civis dos gays. Se for assim, é importante citar o direito conquistado à união civil e à licença-paternidade. Vírus Zika Em abril de 2015, o vírus zika foi identificado pela primeira vez no Brasil, quando seu material genético foi encontrado em oito pacientes do Rio Grande do Norte. No fim do mesmo ano, o número elevado de bebês nascidos com microcefalia (má formação rara na qual os bebês nascem com o crânio de tamanho menor do que o normal) fez com que o Ministério da Saúde confirmasse a relação entre o vírus e o surto de microcefalia que antigia o Nordeste do país. Em fevereiro de 2016, o aumento das infecções no país levou a Organização Mundial de Saúde (OMS) a declarar o surto como emergência mundial de saúde pública. Acredita-se que ele chegou ao Brasil trazido por religiosos da Polinésia que acompanharam a visita do Papa Francisco, em 2013, ou durante a Copa do Mundo, em 2014. No país, possivelmente causou o maior número de infecções desde que foi identificado. Os especialistas ainda não sabem o número exato de casos de zika no país, pois a única maneira de saber se alguém teve zika é pelos testes de biologia molecular (PCR), que detecta o vírus só até cinco dias depois do início dos sintomas. Estado Islâmico Os atentados em Paris de 13 de novembro de 2015, na Bélgica e no Iraque, em março de 2016, chamaram a atenção de todo o globo para as ações do grupo terrorista Estado Islâmico (EI), que tem assumido a autoria dos ataques. “O estudante deve compreender as táticas de recrutamento, o motivo dos ataques e de que modo são esquematizadas as ações. Além disso, precisa relacionar os atentados com os atuais desdobramentos políticos mundiais”, afirma o professor de história Rodolfo Neves, do Curso Poliedro. O grupo jihadista nasceu de uma dissidência do braço da Al Qaeda no Iraque na segunda metade dos anos 2000. O objetivo original do EI era expulsar os soldados americanos do país, matar xiitas, considerados apóstatas e traidores, e estabelecer um governo controlado por radicais sunitas. A guerra civil na Síria, iniciada em 2011 e ainda sem perspectiva de terminar, representou uma oportunidade para o EI crescer e se estruturar. Atuando nas regiões de maioria sunita do Iraque e da Síria, o grupo se apoderou de muitas cidades, campos de petróleo, armas e fortificações dos Exércitos da Síria e do Iraque. Em junho de 2014, depois de um avanço surpreendente e devastador no leste da Síria e norte do Iraque, o grupo proclamou um califado nas regiões que mantém sob seu controle. Mesmo sofrendo constantes ataques aéreos da coalizão militar liderada pelos EUA e sendo combatido por Egito, Jordânia, Iraque e Síria, além de forças curdas, o Estado Islâmico está longe de ser aniquilado. Seus métodos brutais – que incluem decapitações, crucificações, execuções sumárias – e sua forte campanha de comunicação o alçaram à condição de grupo terrorista mais conhecido e temido do mundo na atualidade. Especialistas estimam que o grupo tenha cerca de 30.000 soldados, sendo 20.000 estrangeiros (que não são sírios ou iraquianos) -- mais de 10.000 são provenientes de outras nações e 3.000 vêm de países ocidentais. Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mantém 3 500 escravos no Iraque e destruiu relíquias de valor inestimável para a humanidade, como as da cidade de Palmira, na Síria. Acredita-se também que o grupo disponha de 2 bilhões de dólares (6 bilhões de reais) em ativos (dinheiro, joias, armamentos, petróleo e outros bens). O tráfico de órgãos foi apontado como uma das fontes de recurso dos jihadistas. Rompimento da barragem em Mariana Em novembro de 2015, o rompimento de uma das barragens da mineradora Samarco, na cidade mineira de Mariana, resultou no vazamento de mais de 50 000 toneladas de lama que atingiram o distrito de Bento Rodrigues. Dezenove pessoas morreram e a tragédia causou incontáveis prejuízos ambientais. A investigação, iniciada no mês do acidente, durou três meses. De acordo com a Polícia Federal, a lama continha rejeitos, resíduo não tóxico resultante da mineração de ferro, e o colapso na estrutura aconteceu devido a umaliquefação (que se dá quando essa camada arenosa externa, em vez de expelir, retém a água).Também foram detectados falha e falta de dispositivos de monitoramento, equipamentos com defeito e deficiência do sistema de drenagem. Logo após o acidente, o governo de Minas Gerais embargou a licença da mineradora Samarco, impedindo que a mineradora retome suas atividades na região mineira. No início de abril deste ano, os rejeitos continuam vazando de barragem, segundo o Ministério Público mineiro. A Bacia do Rio Doce também foi atingida e a onda de lama chegou ao litoral do Espirito Santo – há suspeitas de que ela tenha chegado até a região sul da Bahia. O governo estima que a recuperação demore dez anos, a partir da aplicação do plano de recuperação, fechado com a Samarco no início de 2016. De acordo com os professores, o aluno precisa compreender o motivo do rompimento e as consequências do acidente para a fauna e flora brasileira, além de saber como se deu o impacto econômico da tragédia para a população da região. Crise dos refugiados Segundo a Organização Internacional para as Migrações (OIM), mais de 1 milhão de refugiados e imigrantes chegaram à Europa em 2015, dos quais pelo menos 972 000 atravessaram o Mar Mediterrâneo e 3 700 morreram na travessia, como o garoto sírio Aylan Kurdi, que foi encontrado morto na praia de Bodrum, na Turquia e se tornou um símbolo da crise. Algumas das principais razões das migrações se originaram na política interna da Síria, governada há 50 anos por um partido chamado Baath e, que, desde julho de 2000, é liderada por Bashar al-Assad. Após o ápice da Primavera Árabe, em março de 2011, a população síria foi para as ruas contra o governo de al-Assad, que chamou opositores de “terroristas”. Em 2012 a situação passou a ser considerada pela ONU (Organização das Nações Unidas) e a Cruz Vermelha como uma Guerra Civil. Em meio à batalha entre forças leais ao governo e oposicionistas e a ameaça de militares radicais do Estado Islâmico (EI), mais de 11 milhões de pessoas tiveram que deixar suas casas. Após a ramificação dos opositores, rebeldes e aliados da Al-Qaeda na Síria (chamados Frente Al-Nosra) enfrentam desde 2014 o Estado Islâmico (EI), grupo conhecido pela brutalidade. Além da Síria, há migrantes econômicos (que buscam emprego e melhoria de vida) e os refugiados (que fogem de áreas de conflito) de vários países africanos e do Oriente Médio. Mesmo assim, por causa das condições de extrema pobreza na Europa, os sírios estão retornando para a zona de guerra. Nos vestibulares, devem aparecer questões que abordam os direitos humanos dos refugiados. Há ainda a possiblidade de surgirem perguntas sobre o impacto econômico causado pelo enorme fluxo de estrangeiros nas cidades europeias. De acordo com os professores, também é necessário ficar atento ao crescimento da xenofobia da população, como a adoção de leis de limites no fluxo migratório. Situação política e econômica nos países da América do Sul A transformação nos modelos econômicos e políticos desenvolvidos nos países da América do Sul, em especial Argentina e Venezuela, é um tema que deve aparecer no Enem e principais vestibulares deste ano. De acordo com os professores, o estudante deve prestar ateção no modelo liberal que está sendo implantado na Argentina quais seus efeitos prováveis no Brasil, bem como a crise do chavismo no governo da Venezuela e como isso poderá afetar os países vizinhos. Em novembro de 2015, o conservador Maurício Macri foi eleito presidente da Argentina, dando fim à era Kirchner que comandou o país por doze anos (Néstor Kirchner foi presidente do país de 2003 e sua esposa, Cristina Kirchner foi eleita pela primeira vez em 2007). Foi a primeira vez em 100 anos que os eleitores argentinos escolheram um candidato que não pertence ao peronismo nem ao radicalismo socialdemocrata. Uma das propostas de Macri é adotar uma política econômica mais liberal, com maior abertura ao mercado e menos intervenções do Estado. Em março de 2016, o presidente americano Barack Obama fez uma visita de dois dias ao país, marcando uma reaproximação depois de anos de relacionamento frio entre Estados Unidos e Argentina. Os dois presidentes assinaram acordos acordos em matéria de segurança, comércio e investimento. Na Venezuela, o legado econômico de 14 anos de governo do presidente venezuelano Hugo Chávez, declarado morto em março de 2013, ainda é um fardo difícil de ser revertido. Chávez iniciou sua gestão em fevereiro de 1999 e conduziu um lomgo processo de estatização, sucateamento da indústria e descontrole de gastos públicos. Ao longo de mais de uma década, a economia sobreviveu graças à receita proveniente do petróleo e ao setor de serviços. O consumo se manteve impulsionado, sobretudo, pelos programas assistencialistas - o que fez a inflação se manter acima de 20% durante todo o seu governo, segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). O presidente Nicolás Maduro, eleito em 2013, prometeu dar continuidade ao modelo chavista. O país enfrente uma grave recessão, impulsionada pela queda nos preços do petróleo, o produto mais exportado do país, que afetou o abastecimento de produtos da alimentação básica, como arroz, e desencadeou uma inflação de três dígitos. Em março de 2016, a oposição anunciou referendo e emenda para depor Maduro. O líder do Parlamento venezuelano, Henrique Capriles, defende saída de Maduro por abandono do dever e iniciou uma "cruzada pelo país" para antecipar saída do presidente venezuelano do poder. Cidadania: Lei Maria da Penha completa 10 anos A Lei Maria da Penha (Lei 11.340), sancionada em 7 de agosto de 2006, completa dez anos de vigência. Ela foi criada para combater a violência doméstica e familiar, garante punição com maior rigor dos agressores e cria mecanismos para prevenir a violência e proteger a mulher agredida. De acordo com a legislação, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial. Hoje essa lei é a principal ferramenta legislativa na questão da violência doméstica e familiar contra as mulheres no Brasil. Ela também é considerada pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma das três mais avançadas do mundo nessa questão. Com a Lei Maria da Penha, a violência contra a mulher torna-se visível e deixa de ser interpretada como um problema individual da mulher e passa a ser reconhecida como problema social e do Estado, que deve prever assistência, prevenção e punição para esses casos. “Em briga de marido e mulher não se mete a colher”. Esse ditado popular revela muito sobre como o país tratou a violência doméstica e contra a mulher. Isso porque durante séculos, esse tipo de agressão nem sempre foi considerada uma violência pela sociedade brasileira. Essa frase naturaliza um ato abusivo, como algo sem importância e de interesse particular, uma situação que não precisa de ajuda ou “não é problema meu”. A cada ano, mais de um milhão de mulheres são vítimas de violência doméstica no país, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Outros dados mostram a gravidade da questão: a cada cinco minutos uma mulher é agredida no Brasil e uma em cada cinco mulheres já sofreu algum tipo de violência de um homem (conhecido ou não) e o parceiro é responsável por 80% dos casos reportados. Os dados são de uma pesquisa de 2010 da Fundação Perseu Abramo. Apesar da gravidadedo problema, a previsão de uma lei específica no Brasil que trata da violência contra as mulheres, em especial nas relações domésticas familiares e afetivas, é algo recente e só ocorreu com a Lei Maria da Penha (Lei 11.340), sancionada em 7 de agosto de 2006, e que completa dez anos de vigência. Violência: Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo Resultados do Atlas da Violência 2016 mostram que o Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo. Uma em cada dez vítimas de violência letal reside no Brasil. Homens, jovens, negros e com baixa escolaridade são a maioria das vítimas. Na análise por cidades, a taxa de homicídios tem diminuído nas grandes cidades, como São Paulo e Rio de Janeiro, e aumentado no interior. Os estados que implementaram políticas de segurança mais efetivas tais como São Paulo, Pernambuco e Rio de Janeiro testemunharam queda das taxas de mortes violentas. No ano passado, o Instituto Datafolha revelou que 8 entre 10 pessoas que vivem em cidades brasileiras têm medo de morrer assassinadas. Mas o medo é desproporcional à realidade. Ainda assim, os números registrados da violência letal estão cada vez mais elevados. Resultados do Atlas da Violência 2016 mostram que o Brasil tem o maior número absoluto de homicídios no mundo. Uma em cada dez vítimas de violência letal reside no Brasil. O estudo foi desenvolvido pelo Instituto de Pesquisa Econômica aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que analisaram dados do número de vítimas de registros policiais e do Ministério da Saúde. As informações mais recentes são de 2014, ano em que o país bateu seu recorde histórico de homicídios - 59.627 registros– o que equivale a uma taxa de homicídios de 29,1 (a taxa é calculada por 100 mil habitantes). O índice é considerado epidêmico pela Organização das Nações Unidas (ONU). Só para ter uma ideia, há dez anos, em 1996, a taxa de homicídios nacional foi de 24,8 e em 2011 e atingiu a marca dos 27,1. Em relação à taxa de homicídios, o Brasil está em 15º no ranking mundial. Mas os dados do Atlas da Violência 2016 tornam o Brasil campeão mundial de assassinatos, em números absolutos. Segundo o relatório, “além de outras consequências, tal tragédia traz implicações na saúde, na dinâmica demográfica e, por conseguinte, no processo de desenvolvimento econômico e social”. Segundo dados do Banco Mundial, em 2013, houve 437 mil vítimas de homicídio em todo o planeta. Chama a atenção que 14 dos 20 países considerados mais perigosos do mundo (aqueles com as maiores taxas de homicídio) estão localizados na América Latina e no Caribe. As vítimas no Brasil: jovem, negro e pobre O gênero, cor e a educação podem determinar as chances de alguém morrer? Segundo a pesquisa, se fossemos escolher um símbolo para personificar a principal vítima de morte violenta no país, suas características seriam um homem, jovem, negro e com baixa escolaridade. Ele ainda teria 21 anos, a idade em que o risco de ser assassinado é maior. Isso porque os homens (92%) e jovens entre 15 e 29 anos (54%) são a maioria das vítimas. Em 2013, cerca de 29 jovens foram assassinados por dia no Brasil. E mais: a probabilidade de um jovem com escolaridade inferior a sete anos de estudo sofrer homicídio é 15,7 vezes maior do que aqueles que possuem ensino superior completo. Em relação à cor, 77% dos jovens que morrem assassinados no Brasil são negros. E no período analisado de dez anos (entre 2004 e 2014) da pesquisa, foi registrado crescimento de 18,2% na taxa de homicídio de negros e pardos, enquanto houve redução de 14,6% na taxa de pessoas brancas, amarelas e indígenas. Em 2014, para cada não negro que sofreu homicídio, 2,4 indivíduos negros foram mortos. Essas discrepâncias são alarmantes. O estudo avalia que uma possível explicação é que a taxa de homicídios diminuiu mais nos Estados onde há proporcionalmente menos negros, como na região Sudeste e no Sul. Ainda assim, se a comparação for feita por unidade federativa, a violência contra a população negra é maior em quase todos (à exceção de Roraima e Paraná), o que mostra que o grupo está mais exposto a situações de vulnerabilidade e que essa situação reflete o racismo estrutural do país. Dívida pública: Municípios e Estados brasileiros estão com os cofres vazios A grave crise econômica do Brasil afetou a arrecadação de impostos do governo e desestabiliza o equilíbrio financeiro das cidades, que têm forte dependência das verbas da União. Em 2016, 60% dos municípios vão fechar o ano com contas a pagar. Com contas em vermelho, as prefeituras cortam despesas e reduzem o funcionamento dos serviços essenciais oferecidos à população. Os estados sofrem com o aumento da dívida e dos gastos com pessoal. Estados entraram com recurso no STF (Supremo Tribunal Federal) para decidir o tipo de juros aplicados no pagamento da dívida. Os municípios devem cumprir a Lei de Responsabilidade Fiscal, que determina um limite e um percentual de gasto com o funcionalismo que não pode ser descumprido. O pacto federativo, entre outras coisas, define a forma como a receita tributária e as atribuições de União, estados e municípios estão distribuídas na Constituição. Vários projetos visando a descentralização desses recursos estão em tramitação no Congresso. Falta de remédios nos hospitais. Redução da merenda escolar. Ambulâncias sem gasolina. Carros de polícia sem manutenção. Lixeiros em greve. Aposentados sem receber. Suspensão de programas sociais. Esse cenário de colapso financeiro pode se tornar a realidade da maioria das cidades até o final do ano. Isso porque a crise econômica do Brasil afetou a arrecadação de impostos em todos os níveis do governo e deixou as contas públicas mais desequilibradas. Em 2015, o PIB do Brasil (a soma da riqueza de um país) recuou 3,8% - a maior queda em 25 anos. Com a economia em recessão, caiu o recolhimento de tributos vinculados ao setor industrial e ao comércio. Entre 2014 e 2015, a arrecadação caiu 4,5%. Com menos emprego e renda, as pessoas diminuem o consumo e, com isso, também há um recolhimento menor de impostos. Enquanto a economia não se recupera, a previsão do governo federal é terminar o ano de 2016 com um déficit (quando as despesas são maiores que as receitas) de R$ 170,5 bilhões. Esse seria o maior rombo fiscal na história do país, resultado da queda das receitas e do aumento contínuo das despesas. Será o terceiro ano seguido com as contas no vermelho. Em 2014, houve um déficit de R$ 32,5 bilhões e, em 2015, o rombo foi de R$ 111 bilhões. Diante da queda, o governo teria que cortar gastos e/ou elevar impostos para fechar as contas e evitar um endividamento descontrolado. Em 2015, ele já começou a aumentar tributos sobre carros, cosméticos, água, luz, bebidas, combustível, entre outros. De acordo com o Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), em 2016, o brasileiro trabalhará 153 dias ou cinco meses somente para pagar impostos e taxas aos cofres públicos. Esse comprometimento chega a 41% da renda. Um aumento de impostos poderia gerar ainda mais recessão. Sem dinheiro em caixa, essas prefeituras não possuem recursos para despesas como o pagamento de salários de funcionários e fornecedores, benefícios sociais, obras de infraestrutura, além de serviços públicos essenciais como saúde, educação do ensino fundamental e infantil, segurança e limpeza urbana. O orçamento apertado atinge diretamente o funcionalismo público e a qualidade dos serviços. Em 576 cidades do Brasil, os prefeitos não têm conseguido pagar em dia osalário dos servidores. Desse total, 11% estão com atraso superior a seis meses, segundo levantamento da CNM. Em 2015, por exemplo, sete em cada dez municípios de Minas Gerais tiveram alguma dificuldade para pagar o 13º de funcionários. Um dos primeiros sintomas da crise foram problemas na educação e na saúde. Cerca de 70% dos municípios da pesquisa da CNM estão com dificuldades na área, como o pagamento do piso do magistério, incapacidade de transporte para a zona rural e falta de merenda escolar. Na saúde, 55% sofrem com a falta de medicamentos e 33% relatam a falta de médicos em postos de saúde. Os municípios têm três fontes de receita: a arrecadação própria (de Imposto Territorial, Imposto sobre Serviços e outras taxas), uma parcela do Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICMS) arrecadado pelo estado a as transferências de verbas do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), composto pela arrecadação do Imposto de Renda (IR) e Imposto sobre Produto Industrializado (IPI). Cultura do estupro: Você sabe de que se trata? Estupro. A palavra é forte. O crime, bárbaro. Pior, a violência sexual é um medo pelo qual praticamente toda mulher já passou em algum momento da sua vida. E esse temor pode morar em situações corriqueiras, como ao entrar no ônibus de noite sozinha ou andar por uma rua mal iluminada e sem companhia. Agora, pense, será que esse medo deveria ser assim, algo quase naturalizado em nossa sociedade? Na última semana, dois casos de estupro recolocaram esse tipo de violência na pauta. O assunto voltou com força -- nas redes sociais e fora delas. Os crimes que ganharam as telas dos computadores e das TVs: uma adolescente de 16 anos foi violentada por um grupo (talvez mais de um grupo) de homens no Rio de Janeiro, e teve vídeos disponibilizados na internet da agressão. No Piauí, uma outra adolescente, de 17 anos, foi violentada por quatro menores e um homem de 18 anos. O que espanta, nos dois casos, é uma reação de "normalidade", de "naturalidade" com que os agressores trataram seus crimes. No caso da adolescente fluminense, o vídeo começou a circular nas redes sociais como se fosse um troféu -- com a circulação do vídeo, centenas de denúncias começaram a chegar no MP (Ministério Pùblico) antes mesmo de a menina ir à polícia. O delegado responsável pelo caso do Piauí conta que os menores disseram julgar "normal" o sexo do colega com a menina desacordada. O que caracteriza o estupro é ausência de consentimento. O crime de estupro está previsto no artigo 213 do Código Penal Brasileiro. A lei brasileira de 2009 considera estupro qualquer ato libidinoso contra a vontade da vítima ou contra alguém que, por qualquer motivo, não pode oferecer resistência. Ou seja, não importam as circunstâncias, se foi contra a vontade própria da pessoa ou ela está desacordada é crime. Antes, o ato só era caracterizado quando havia conjunção carnal com violência ou grave ameaça. Diante da perplexidade de todos, os movimentos feministas e pelos direitos humanos passaram a fazer campanhas contra a "cultura do estupro". Mas, afinal, o que é cultura do estupro? A expressão "cultura do estupro" surgiu nos anos 1970 e foi usada por feministas para indicar um ambiente cultural propício a esse tipo de crime por ter mecanismos culturais (normas, valores e práticas) em que as pessoas acabam naturalizando e aceitando algumas violências em relação à mulher. Segundo esse conceito, o princípio que norteia essa cultura é a desigualdade social existente entre homens e mulheres. As mulheres são vistas como indivíduos inferiores e, muitas vezes, como objeto de desejo e de propriedade do homem -- o que autoriza, banaliza ou alimenta diversos tipos de violência física e psicológica, entre as quais o estupro. "Ela provocou”, “ela estava de saia curta”, “ela não deveria sair sozinha”, “ela não deveria estar na rua naquela hora”, “ela não deveria ter bebido” ou “ela é uma mulher fácil” -- quando surge esse tipo de comentário que coloca em dúvida a denúncia da vítima, estamos diante de um traço da famigerada cultura do estupro. Nesse contexto, as mulheres acabam se sentindo responsáveis, culpadas pela violência que sofreram e ficam com vergonha de denunciar. Outra situação recorrente é quando surge a argumentação de que o homem não consegue controlar seus instintos diante de uma mulher por quem sente atração e, por isso, ele não teria culpa pela sua falta de controle. É como se o ato brutal, a agressão, a violação fosse mera questão sexual como se a responsabilidade não fosse do agressor já que ele "não consegue se controlar". Mas a maioria dos casos de violência é praticada por homens considerados pessoas "comuns" pela sociedade e, em muitas situações, os abusadores são parentes ou amigos próximos da vítima. O levantamento realizado pelo Ipea aponta que 24,1% dos agressores das crianças são os próprios pais ou padrastos, e 32,2% são amigos ou conhecidos da vítima. Dados de 2014 registraram a ocorrência de 47,6 mil episódios de violência sexual contra as mulheres. Isso significa que, a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada no país. Em 2015, as delegacias registraram 51.090 ocorrências. Mas o número de vítimas pode ser ainda maior. Segundo estimativas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 527 mil pessoas sofrem algum tipo de violência sexual por ano no Brasil. A projeção foi feita em 2013 e tem como base dados do Ministério da Saúde, que fez o levantamento de vítimas em hospitais e postos de saúde da rede pública. A incerteza do número de casos de estupro se deve ao fato de ele ser um dos crimes mais subnotificados no mundo todo. Nos Estados Unidos, por exemplo, 68% das ocorrências não são denunciadas pelas vítimas. No Brasil, o número é similar. Dados do Ministério da Justiça revelam que 64% das agressões sexuais não são notificadas na polícia para posterior investigação e punição. Entre os motivos de a vítima não denunciar a violência estão a vergonha moral do ato, o medo do julgamento social, o sentimento de culpa e o medo de ser julgada e maltratada por autoridades e por aqueles de quem deveria receber apoio e ajuda – em casa, na delegacia ou no hospital. Existem ainda casos em que a vítima é menor de idade e convive com o agressor dentro de casa ou que o agressor é o próprio companheiro. Reforma política: O que está em discussão? O processo de abertura do impeachment da presidente Dilma Rousseff que ocorreu em maio na Câmara dos Deputados e no Senado mostrou o perfil de parlamentares que muitos eleitores ainda não conheciam. Dos 511 deputados que participaram da votação histórica, apenas 34 tiveram votos suficientes para se elegerem sozinhos. Eles foram eleitos por causa do sistema de voto proporcional (explicação abaixo). O sistema dá margem para que um candidato seja eleito com relativamente poucos votos pessoais porque seu partido recebeu muitos votos. A votação do impeachment e os protestos de 2013 retomaram o debate da necessidade de uma reforma política, um conjunto de propostas de leis e regulamentações para mudar as regras do nosso sistema político. Ela tem vários objetivos, como acabar com distorções, definir o sistema eleitoral, facilitar a participação plena da população no direito de escolher seus representantes políticos, diminuir a corrupção e reduzir os gastos públicos. A ideia de uma reforma política não é nova. Desde que a Constituição foi promulgada, em 1988, já se discute o tema. Em 2013, a presidente Dilma Rousseff (PT) propôs a realização de um plebiscito para instituir uma Assembleia Constituinte exclusivapara realizar uma reforma política que contaria com cinco pontos-chave: financiamento de campanhas, sistema eleitoral, suplência no Senado, coligações partidárias e voto secreto no Senado. Em 2015, o Congresso Nacional votou alguns itens da PLC 75/2015 que trata da reforma política, mas a maioria das medidas aprovadas pouco alterou a atual estrutura política do Brasil. Uma das decisões mais importantes veio do Supremo Tribunal Federal (STF). Em setembro de 2015 o STF julgou inconstitucional o financiamento e a doação de empresas a partidos e candidatos nas eleições. Serão permitidas somente doações de pessoas físicas (limitadas a 10% dos rendimentos no ano anterior) e recursos do fundo partidário. A decisão é válida a partir das eleições de 2016 e pretende evitar desequilíbrios no processo eleitoral, como a corrupção e a influência do poder econômico no resultado das eleições. A Operação Lava-Jato, por exemplo, descobriu que empreiteiras usaram doações a partidos como moeda de troca para contratos de obras públicas. Veja o que está em discussão na reforma política: Fim do voto proporcional No sistema de voto proporcional, as eleições de deputados federais, estaduais e vereadores dependem do cálculo do quociente eleitoral, a quantidade necessária de votos para a eleição de um deputado em seu Estado. O quociente é definido pela divisão do número de votos válidos pela quantidade de vagas que cabe a cada Estado. A partir desse cálculo, são estipuladas as vagas a que cada partido terá direito. Assim, o eleitor tem que ficar de olho em qual partido vai votar. O problema é que os votos acabam indo para deputados que o eleitor não escolheu. Candidatos com poucos votos podem ser eleitos, “puxados” por aqueles mais votados do mesmo partido, mas que não defendem os interesses do eleitor. Em 2014, Celso Russomanno (PRB), deputado federal mais votado em São Paulo, ajudou a eleger outros quatro candidatos. Na mesma eleição, o deputado federal Tiririca levou mais dois deputados do PR para o Congresso. Voto distrital Uma das alternativas ao sistema proporcional seria a adoção do voto distrital. Nesse modelo, os Estados seriam divididos em distritos de acordo com o número de vagas para deputados, garantindo uma quantidade semelhante de eleitores em cada um. Com isso, seria eleito no distrito só o candidato que obtivesse mais votos, independentemente da votação do partido. Os defensores dessa fórmula argumentam que a proposta aproxima o candidato de seu eleitorado e garante a representatividade de todas as partes do Estado. Quem é contra afirma que tende a fortalecer os chamados “caciques regionais” (políticos poderosos) e eliminar as minorias – que podem ficar sem representação se não atingirem a maioria em nenhum distrito. Limite do número de partidos O sistema eleitoral brasileiro é partidário, ou seja, os candidatos a se elegerem precisam estar filiados a partidos políticos. Em 2015, o Tribunal Superior Eleitoral reconheceu oficialmente três novos partidos políticos – o Partido Novo, a Rede Sustentabilidade e o Partido da Mulher Brasileira. Hoje o Brasil tem 35 partidos registrados oficialmente na Justiça Eleitoral. Quem defende o limite de siglas argumenta que o atual número dificulta a governabilidade, como o apoio de bancadas a propostas a serem votadas. Alguns partidos pequenos também são criticados por um problema: não possuem candidatos e cedem seu tempo no horário político na TV para siglas maiores e depois são recompensados com cargos ou ministérios. Para diminuir esse número de partidos, pode ser criada uma cláusula de barreira. Só entra no Poder Legislativo quem conseguir uma porcentagem mínima de votos nacionais, por exemplo, 5 a 8%. O problema é que partidos pequenos teriam dificuldade de atingir a porcentagem e crescer. Fundo Partidário para todos O Fundo Partidário destina mensalmente recursos públicos para assistência financeira aos partidos políticos registrados na Justiça Eleitoral. Todos os partidos têm direito a uma parte maior ou menor do Fundo Partidário e do tempo de propaganda no rádio e na TV. A proposta de restrição limita o direito a recursos do Fundo Partidário e do tempo de mídia para partidos que tenham concorrido com candidatos próprios (sem levar em conta a coligação) e que tenham elegido pelo menos um representante para a Câmara dos Deputados ou Senado. Fim da reeleição A reeleição para os cargos executivos foi adotada em 1997, no governo de Fernando Henrique, que se reelegeu presidente. No modelo atual, os governantes (presidente, governador e prefeito) se elegem para exercer um mandato de quatro anos, com direito à reeleição. A nova proposta parte do entendimento de que o detentor de cargo executivo leva vantagem sobre seus concorrentes, já que tem mais visibilidade. A alternância no poder permite diferentes pontos de vista para lidar com os problemas do país, mas pode dificultar projetos de governo que buscam resultados no longo prazo. A proposta de mudança geralmente está associada à ampliação dos mandatos para cinco anos. Fim do voto obrigatório No Brasil, o voto é obrigatório para todos os brasileiros com mais de 18 anos e menos de 70. O voto só é facultativo aos maiores de 16 e aos analfabetos. Mas muitas pessoas votam ser ter uma consciência política, apenas pela obrigação e não porque se identificam com as proposta do candidato. Atualmente, vários países, entre eles EUA, Alemanha e Inglaterra, adotam o voto facultativo, pelo qual o cidadão decide livremente comparecer ou não às urnas. O ponto negativo é que o processo democrático pode acabar nas mãos de poucos ou estimular a prática do “voto de cabresto”, a troca do voto por benefícios pessoais. Parlamentarismo Um sistema de governo é a forma como o poder político de um país é dividido e exercido. A democracia brasileira é dividida entre os poderes Legislativo (cria leis), Executivo (executa as leis) e Judiciário (verifica se as leis são cumpridas). O poder legislativo brasileiro é exercido pelo Congresso Nacional, que, por sua vez, é composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. O Presidente da República é eleito pelo povo e atua como a autoridade máxima do Poder Executivo. A adoção do parlamentarismo substituiria o atual presidencialismo de coalizão, modelo no qual o presidente precisa construir uma base aliada entre os congressistas para conseguir aprovar suas propostas. Este modelo estimula uma barganha por parte do Executivo, que oferece cargos da administração pública a partidos em troca de apoio às propostas do governo. O resultado é a crise de representatividade enfrentada por diversos presidentes. No parlamentarismo, a chefia do governo é exercida por um primeiro-ministro eleito pelos parlamentares. Desta forma, o Congresso ganharia mais poder na política nacional. A fragilidade do sistema é que bancadas menores teriam dificuldade de aprovar propostas. Unificação das eleições Hoje as eleições acontecem a cada dois anos, intercalando pleitos para prefeitos e vereadores em um ano, e para presidente, governadores, deputados e senadores dois anos depois. A proposta de eleições unificadas pretende realizar eleições no mesmo ano. Dessa forma, haveria redução nos custos das eleições. Intolerância: Coexistir com as diferenças é um desafio? Você gosta do partido A ou B? Cuidado. Provavelmente a resposta pode gerar algum tipo de discórdia. É cada vez mais comum no Brasil brigas por causa de partidos ou posições políticas. Militantes são hostilizados nas ruas, políticos são vaiados em locais públicos e amizades se desfazem na rede social. Umepisódio recente envolveu o cantor Chico Buarque, agredido em frente a um restaurante no Rio de Janeiro por um grupo de pessoas contrárias ao PT. A saída seria deixar de falar de política? Certamente não. A palavra política surge na Grécia Antiga como uma tradição que estimula o debate e a liberdade no pensar e no agir. Uma cultura democrática é uma cultura do diálogo. A democracia é um sistema de governo baseada no diálogo da sociedade civil. O problema é quando não existe o debate de ideias, mas o pensamento único que leva ao ódio e ações violentas. O radicalismo do debate político é apenas uma das faces da intolerância da sociedade brasileira. Basta espiar as notícias e perceber a violência contra o outro em diversas esferas: uma apresentadora de TV foi ofendida na internet por ser negra. Nas favelas do Rio de Janeiro, traficantes convertidos em evangélicos proíbem umbanda e candomblé em territórios que estão sob seus domínios. Em São Paulo, motoristas do aplicativo Uber foram agredidos por taxistas. A tolerância acontece quando existe uma convivência respeitosa entre as diferenças. Já a intolerância é um comportamento que se materializa pela violência física ou simbólica, motivada pelo ódio ao outro. Trata-se de uma violência que é usada no cotidiano contra pessoas e povos, baseada na dificuldade de entender e aceitar as diferenças. Ela pode ser étnica, política, de gênero, de classes, religiosa, sexual, cultural e social. O desafio do mundo contemporâneo é o de que todas essas identidades consigam conviver juntas e em paz. A lista de crimes e barbáries contra a humanidade baseada na intolerância é vasta. Basta recordar a inquisição da Idade Média, a escravidão, o holocausto judeu, este último, apenas um dos conflitos motivados pela intolerância religiosa e o racismo no século 20. No século 16, a palavra tolerância tinha uma carga negativa. Tolerar era sofrer ou suportar pacientemente um mal necessário. Por outro lado, a intolerância designava uma virtude, uma espécie de integridade moral ou firmeza para com os preceitos morais. A noção de tolerância que temos hoje tem raízes no Iluminismo. Em 1689, o filósofo inglês John Locke (1632-1704) escreveu a Carta sobre a Tolerância, que trouxe importantes argumentos na defesa da tolerância. Naquela época, eram comuns massacres recíprocos entre católicos e protestantes na Europa. Na Carta, Locke defende a preservação de certos direitos dos indivíduos e afirma que os homens não têm o direito de infligir tortura por motivo religioso. Locke rejeita a conversão da fé à força. Ele acredita que ninguém pode mudar sua fé pelo simples comando de outro. Para ele, as perseguições religiosas provocam ainda mais intolerância. Por outro lado, o respeito pela consciência alheia disseminaria a paz na sociedade. As reflexões dos filósofos iluministas influenciaram a criação de leis que reconhecem todos como iguais. Após a Segunda Guerra Mundial, por exemplo, a ONU assinou a Declaração Universal dos Direitos do Homem. O primeiro artigo da Declaração diz que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Os indivíduos têm direitos porque são seres humanos, e não por sua condição social. A Constituição brasileira também assegura que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza e garante aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. A importância da alteridade A palavra alteridade, originária do latim possui o prefixo alter (o outro) que significa compreender o lugar do outro e ter consciência que ele existe. A convivência com a alteridade é uma forma de pensar, escutar e dialogar com o outro. No entanto, o exercício da alteridade não é fácil. Começamos a olhar o outro como um estranho, mas não como um “outro”. A visão de alteridade é ser capaz de olhar o outro como um sujeito visível, próximo, e não como um inimigo. Sair de sua própria visão de mundo para entrar na existência da outra pessoa. Depressão: O mal-estar da sociedade contemporânea A vida é repleta de eventos doloridos e a tristeza faz parte da condição humana. Mas quando é que estar triste se transforma em doença? A depressão é um problema de saúde pública. Ela se distingue da tristeza pela duração de seus sinais e pelo contexto em que ocorre. Trata-se de uma experiência cotidiana associada a várias sensações de sofrimento psíquico e físico e que pode impedir que a pessoa realize suas atividades cotidianas e atrapalhar nos relacionamentos. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), pelo menos 350 milhões de pessoas sofrem desse mal no mundo. No Brasil, de acordo com um levantamento nacional da Universidade Federal de São Paulo, um terço da população brasileira apresenta sintomas de depressão. A depressão é considerada um transtorno mental comum e pode aparecer em três graus: leve, moderada ou grave. Os casos extremos levam o indivíduo a ficar incapacitado diante da vida até mesmo a desistir dela. Segundo a OMS, 15% dos depressivos comentem suicídio. Diagnosticar e traçar a linha que separa a normalidade da patologia é sempre uma dificuldade e no meio disso tudo existe a estigmatização da doença. Ela não tem uma causa ou características únicas e atinge as pessoas de modos diferentes. Em termos científicos, não existem testes laboratoriais que revelam quando a tristeza se torna um estado de depressão. O único jeito é observar a si mesmo. Para psicólogos e psiquiatras, a depressão pode surgir de diversas formas, principalmente como reação a uma situação estressante. Os fatores desencadeantes podem ser acontecimentos como traumas na infância, a morte de alguém, o fim de casamento, isolamento social ou violência. Não raro, porém, a depressão surge sem motivo. Os sintomas ajudam no diagnóstico do quadro e a intensidade na experiência dos fenômenos relacionados à depressão é um dos fatores mais mencionados por pessoas que a viveram. A perda de interesse pelo trabalho ou lazer, dificuldade de concentração, baixa autoestima, sonolência, choro por qualquer coisa, sentimento de culpa ou desamparo, ansiedade, falta de libido, ataques de pânico e pensamentos negativos frequentes são alguns dos comportamentos relacionados ao transtorno. O escritor norte-americano Andrew Solomon escreveu o livro "O Demônio do Meio-Dia" para investigar a depressão a partir de sua própria experiência. "O oposto da depressão não é a felicidade, mas a vitalidade”, escreve ele. “A depressão começa do insípido, nubla os dias com uma cor entediante, enfraquece ações cotidianas até que suas formas claras são obscurecidas pelo esforço que exigem, deixando-nos cansados, entediados e obcecados com nós mesmos — mas é possível superar isso. Não de uma forma feliz, talvez, mas pode-se superar. Ninguém jamais conseguiu definir o ponto de colapso que demarca a depressão severa, mas quando se chega lá, não há como confundi- la.” Felicidade e a sociedade contemporânea Além das dificuldades, contextos e histórias de vida de cada pessoa, existem fatores sociais difíceis de mapear que podem levar ao que se denomina depressão. O mundo contemporâneo está cada vez mais complexo. E o que todos desejam e buscam é a felicidade, o oposto da depressão. Nas capas de revista, nos filmes, nos livros de autoajuda. O sucesso profissional, um casamento, um corpo perfeito, a viagem a um lugar paradisíaco, a casa dos sonhos, o status, a riqueza. Experiências são “vendidas” como verdadeiros caminhos para a felicidade, algoque só dependeria de você. Mas esse tipo de discurso acaba sendo uma grande armadilha. Se ser feliz só depende de mim, e eu não sou, logo eu falhei. O fracasso gera uma nova frustração. Por exemplo, a cobrança de padrões de beleza impossíveis de se conquistar leva diversos adolescentes a um quadro de baixa estima, em alguns casos à depressão profunda. Naturalmente querer tudo é um absurdo. O escritor Michael Foley remete ao mito de Sísifo (que foi condenado a empurrar uma rocha por toda a eternidade) como representação da epidemia de depressão da sociedade atual. No livro "A Era da Loucura", ele escreve: “A depressão é muitas vezes o destino da personalidade moderna – ambiciosa – faminta por atenção e ressentida, sempre convencida de merecer mais, sempre perseguida pela possibilidade de estar perdendo algo melhor, sempre sofrendo pela falta de reconhecimento e sempre insatisfeita. É preciso reencontrar a coragem e a humildade de Sísifo, que não exige recompensa, mas sabe transformar qualquer atividade em sua própria recompensa. Sísifo é feliz com o absurdo e a insignificância de seu ato de empurrar constantemente uma rocha montanha acima.” O sociólogo Zygmunt Bauman fala sobre a ansiedade e a angústia que é viver em nossa atual condição sociocultural, marcada por infinitas possibilidades de escolhas e pela falta de solidez e durabilidade (as relações são cada vez mais descartáveis, gerando um vazio). Mas por que somos obrigados a ser felizes? A necessidade de busca da felicidade é recente na história ocidental. O filósofo grego Aristóteles dizia que a bílis negra (melaina kole) determina os grandes homens. A reflexão aristotélica é que a melancolia não seria uma doença, mas a própria natureza do filósofo e sua inquietação em relação ao ser. Ela seria uma maneira importante de transcender e gerar sabedoria. Na Idade Média, o pensamento medieval liga a tristeza a dois pensamentos: de um lado, ela seria um pecado, já que seria um sinal de que a pessoa abandonou ou perdeu Deus. Na obra "Inferno", de Dante Alighieri, o escritor escreve que os suicidas estão condenados a se transformarem em árvores e os melancólicos são “uma seita de fracos, importunos ante Deus e seus inimigos”. Já para os monges, ela seria uma virtude que levaria a uma reflexão sobre a consciência interior. São muitos os caminhos para entender as aflições da alma. O mundo moderno mudou o foco de Deus para o Homem. Goethe entende que a melancolia é uma doença do pensamento. Outros pensadores entendem que o viver bem precisa de um propósito. Schopenhauer chamou de Eudemonismo o que entendia como a arte de ser feliz, assinalando que desenvolver uma atividade, dedicar-se a algo ou simplesmente estudar são coisas necessárias à felicidade do ser humano.
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