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APOSTILA DE DIREITO DAS SUCESSÕES

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1 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 
 
 
Apostila de Direito 
das Sucessões 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
DIREITO DAS SUCESSÕES 
 
 
 
Conceito: 
 Direito das Sucessões é o ramo do Direito Civil cujas normas regulam a 
transferência do patrimônio do morto ao herdeiro, em virtude de lei ou de 
testamento. A palavra sucessão significa substituir uma pessoa por outra, que vai 
assumir suas obrigações e adquirir seus direitos. 
 
 O direito de herança é garantido constitucionalmente no art. 5º, XXX, bem 
como o direito de propriedade no art. 5º, XXII. Estes dois direitos estão intimamente 
ligados, pois se a propriedade de bens nos fosse negada, não teríamos o que 
deixar de herança a nossos sucessores. E se só houvesse propriedade sem 
herança, as pessoas deixaram de trabalhar quando estivessem ricas. Mas por 
saber que poderemos deixar uma herança a nossos entes queridos, as pessoas 
seguem trabalhando apesar de já materialmente satisfeitas, estimulando a 
capacidade produtiva do ser humano, em benefício da riqueza da família e da 
sociedade como um todo. A propriedade se perpetua através da herança. 
 
 A sucessão em direito pode ser inter vivos ou mortis causa. Da sucessão 
entre vivos cuida o Direito das Obrigações (ex: João compra uma casa a Maria e 
sucede Maria na propriedade daquele bem; vide também cessão de crédito na aula 
19 de Obrigações). A sucessão patrimonial em decorrência da morte será estudada 
neste semestre. Mas só a sucessão da pessoa física, pois a sucessão da pessoa 
jurídica interessa ao Direito Empresarial. Lembro que a sucessão é no patrimônio, 
ou seja, no ativo e no passivo, de modo que o herdeiro, dentro das forças da 
herança, deve pagar as dívidas do hereditando (943, 1.792). O herdeiro não 
representa o morto, não é seu procurador ou advogado, mas apenas o sucede nas 
relações patrimoniais. 
 
3 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 Esse patrimônio (ativo e passivo) chama-se de espólio: trata-se do conjunto 
de direitos e deveres do falecido; o espólio é uma massa patrimonial administrada 
pelo inventariante (1.991) sob condomínio dos herdeiros (pú do 1.791). 
 
 Como dito no conceito supra, a transmissão do patrimônio ao herdeiro se dá 
em virtude de lei ou de testamento (art 1.786); não existe herança decorrente de 
contrato (art. 426) salvo na hipótese da antecipação da herança do art. 2.018, 
comum na sucessão de empresa familiar, quando o pai idoso orienta e transfere em 
vida seus negócios aos filhos. 
 
São assim espécies de sucessão: 
 
 a) Testamentária: 
 Se houver testamento, a sucessão testamentária predomina sobre a 
sucessão legítima (1.788), dentro dos limites da lei (1.789 e 1.845). A liberdade de 
testar não é assim absoluta, pois metade é dos filhos, pais e cônjuge, só a outra 
metade é que pode ser deixada para quem o testador desejar (1.857 e § 1º). Quem 
não possui herdeiros necessários pode testar em favor de qualquer pessoa. Não 
importam quantos sejam os herdeiros necessários, um ou dez, a eles cabe metade 
da herança. Lembro que se o testador for casado pelo regime da comunhão de 
bens, metade de seus bens pertence ao cônjuge, mas não por herança e sim por 
direito próprio, face ao condomínio entre marido e mulher. Ou seja, a metade dos 
bens de alguém casado pelo regime da comunhão na verdade corresponde a 25% 
de seu patrimônio. 
 
 A sucessão testamentária pode ainda ser a título universal ou a título 
singular; nesta teremos a figura do legatário que recebe legado e não herança. A 
herança é o total ou uma fração indeterminada do patrimônio do extinto (ex: 1/3, 
20% da herança, etc). Já o legado é de coisa certa (ex: a casa da praia, o anel de 
 
4 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
brilhantes, etc). Quem sucede a titulo universal é herdeiro e responde também por 
eventuais dívidas do morto, dentro dos limites da herança (1.997); herdeiro adquire 
o ativo e responde pelo passivo. Quem sucede a titulo singular é legatário e não 
responde por eventuais dívidas, porém só recebe seu legado após verificada a 
solvência da herança (§ 1º do art 1.923); já o herdeiro pode logo assumir a posse 
dos bens do extinto (o art 1.784 não se refere a legatários, só a herdeiros). 
 
 b) legítima: 
 Prevalece a disposição da lei se alguém morre sem testamento, ou se o 
testamento for invalidado (1.829). O legislador presume que o falecido gostaria de 
proteger seu cônjuge e filhos, por isso eles são os primeiros da lista. Na nossa 
sociedade a sucessão legítima prevalece sobre a testamentária por três motivos: 
 1 ) a gente nunca acha que vai morrer; 
 2) fazer um testamento pode ser caro, complicado e inconveniente, veremos 
isso em breve; 
 3) se a gente morre sem testamento, a lei já beneficia nossos filhos, que são 
nossos entes mais queridos, então não há com o que se preocupar! 
 A sucessão pode ser das duas espécies se o testamento não abranger 
todos os bens do hereditando (1.788). A sucessão legítima sempre é a título 
universal, não havendo legado se não há testamento. Já a sucessão testamentária 
pode ser a título universal ou a singular. 
 
Obs: 
 Como dito acima, nossa sociedade não tem o hábito de testar, mas pelo 
novo CC de 2002 o cônjuge e os filhos estão em igualdade (1.829 e 1.845), e isso 
pode aumentar o número de testamentos. Uma coisa é você deixar seus bens para 
os seus filhos, como na lei velha. Outra coisa é deixar para seu cônjuge em 
condições de igualdade com os filhos, especialmente nos casamentos desgastados 
pelos anos. 
 
5 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 Lembrando o conceito de Direito das Sucessões: são as normas que tratam 
da transmissão do patrimônio do morto a seus sucessores, em virtude da lei ou do 
testamento; transmite-se o patrimônio, ou seja, eventuais dívidas também, mas o 
herdeiro só paga as dívidas até o limite dos bens recebidos (1.792). 
 
 Princípios do Direito das Sucessões: 
 
 1) respeito a vontade do hereditando (1.899); esse princípio é reflexo do art. 
112 do CC que destaca a importância da vontade nos negócios jurídicos (vide aula 
5 de Contratos). O juiz e o testamenteiro devem se valer de testemunhas ao 
interpretar o testamento para tentar descobrir qual seria a vontade do extinto. 
 
 2) atribuição da herança a parentes ou familiares do falecido: este princípio 
completa o anterior, de modo que se deve obedecer à vontade do extinto, mas 
respeitando-se o quinhão dos familiares, afinal a família é a base da sociedade 
(1.789, 1.845, § 1º do art. 1.857). 
 
 3) igualdade entre os quinhões da herança ou princípio da divisão 
necessária: o Direito Romano admitia a varonia e a primogenitura, de modo que os 
filhos homens e mais velhos herdavam mais do que os filhos mais jovens e as 
mulheres; atualmente existe igualdade entre os filhos (art 2.003 do CC e § 6º do art 
227 da CF). Porém, se alguém deseja beneficiar um filho mais do que o outro pode 
fazê-lo via testamento e suportar as conseqüências do ciúme entre irmãos (1.849 e 
2.006) 
 
 
 Fundamento do Direito das Sucessões: 
 O que justifica o direito de herança? É a continuidade da vida através do 
patrimônio do morto que passa para seus familiares, estimulando o trabalho de 
 
6 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
todos. Mesmo as pessoas ricas continuam trabalhando porque sabem que vão 
garantir o futuro de seus filhos e netos. 
 
 A doutrina socialista do séc. XX criticava a herança por não beneficiar os 
mais capazes e sim os mais sortudos, ou seja, os filhos dos ricos, fossem eles 
competentes ou não, que teriamdinheiro sem ter se esforçado para tanto. Seria 
injusto alguém enriquecer sem trabalhar, por isso os filhos dos ricos seriam 
acomodados, e não se preocupariam em estudar, apenas em esbanjar a vida. A 
conclusão do socialismo é a de que a herança seria um estímulo à preguiça, pelo 
que ela foi proibida na antiga União Soviética e os bens seguiram para o Estado... 
 
 Mas a história provou o equívoco desse regime, pois o Estado é burocrata, 
corrupto e péssimo administrador, sendo incapaz de gerar riqueza para distribuí-la; 
a transferência dos bens ao Governo só aumentou a corrupção e a ineficiência; 
além disso houve uma atrofia na economia, deixando as pessoas de trabalhar por 
saber que o fruto do seu suor não ficaria para seus filhos; era melhor desperdiçar o 
dinheiro ganho em vida, do que deixá-lo para os políticos. 
 
 Realmente, a manutenção da propriedade e da herança na vida privada é um 
estímulo ao trabalho, à produção de riqueza e ao desenvolvimento sócio-
econômico. Se o filho por acaso não merecer o patrimônio do pai, os políticos 
também não o merecem. No mundo moderno os países mais ricos, com melhores 
índices de desenvolvimento humano, são aqueles que defendem a propriedade e a 
herança. 
 
 Mas lembro que os pais não são obrigados a deixar bens para os filhos, ou 
seja, os pais idosos devem viajar, viver, gastar como quiserem, afinal não se pode 
dispor de herança de pessoa viva, já que os filhos sempre podem morrer antes dos 
pais (426 – pacta corvina). 
 
 
7 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 Porém, com o falecimento do ascendente o filho já pode negociar seu 
quinhão/fração da herança, doando ou vendendo a terceiros , mesmo antes da 
partilha (1.793; exige escritura pública pois a herança é tida como coisa imóvel, 80, 
II). Isto porque pelo princípio da saisine o herdeiro já é dono do patrimônio no 
momento da morte do hereditando (1.784). A partilha vem para individualizar os 
bens dos sucessores (2.023), mas a propriedade se transfere pela saisine sob 
condomínio forçado a todos os herdeiros. 
 
 Abertura da Sucessão 
 
 É com a morte de alguém que a sucessão se abre e as regras do direito 
sucessório serão aplicadas para a transmissão do patrimônio aos herdeiros. 
 
 Pressuposto para se abrir a sucessão: 
 
 1) a morte de alguém (1.785) e 
 2) a vocação hereditária feita pelo falecido se deixou testamento, ou feita 
pela lei na ausência de declaração de ultima vontade (1.788, 1.798). 
 
 Essa morte precisa ser comprovada pela Medicina Legal com a expedição 
da certidão de óbito. Excepcionalmente admite-se sucessão nas hipóteses de 
ausência, com muito mais formalidades, conforme visto em Civil I (arts. 22 a 39; 
vide ainda a morte presumida do art 7º). 
 
 A transmissão patrimonial é automática, ou seja, no instante após a morte 
os herdeiros já são proprietários dos bens do extinto (1.784). Este dispositivo é tão 
importante que é logo o primeiro artigo do código no livro das sucessões. Os 
franceses chamam essa regra de princípio da “saisine”, então mesmo que o 
herdeiro nem saiba ainda da morte do hereditando, ele já será, por uma ficção 
jurídica, juntamente com os demais herdeiros, condômino do patrimônio do falecido. 
 
8 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 O princípio da saisine é importante para que os bens do espólio não fiquem 
acéfalos e sejam considerados coisa abandonada (ver aula 12 de Direitos Reais), 
ou coisa sem dono (ver aula 11 de Direitos Reais), sujeita a ocupação por terceiros. 
 
 É verdade que para pagamento dos impostos, de eventuais dívidas e de 
partilha dos bens será necessária a abertura de inventário (ou arrolamento, 
veremos essa questão processual no final do curso), mas a propriedade em si, sob 
condomínio, se transfere “desde logo” aos herdeiros, sem formalidades e sem 
necessidade de praticarem qualquer ato (1.791). 
 
 Face à saisine, se o herdeiro morre instantes após o hereditando, ele chegou 
a herdar, de modo que os herdeiros do herdeiro pagarão dupla tributação, pois 
houve duas transmissões patrimoniais. Quando num acidente morrem pessoas da 
mesma família, a Medicina Legal tenta comprovar quem morreu primeiro, mas não 
sendo possível aplica-se a regra da comoriência do art. 8º. 
 
 A posse dos bens da herança deve ficar com o inventariante (1.991), mas 
até o inventário ser ajuizado, a posse deve ficar com o cônjuge (1.797). 
 
 De qualquer modo, eventual turbação ou esbulho aos bens do espólio pode 
ser combatida por qualquer herdeiro na condição de possuidor indireto (pú do 
1.791). 
 
 Aceitação e Renúncia da Herança 
 
 Pelo nosso conhecido princípio da saisine a transmissão do patrimônio do 
hereditando aos sucessores é automática (1.784), mas ninguém está obrigado a 
aceitar a herança. Então por uma questão de ética, orgulho, problemas pessoais 
 
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TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
com o extinto, ou para não ter que cumprir um encargo, o herdeiro pode renunciar à 
herança. 
 
 Antigamente quando o herdeiro respondia pelas dívidas do falecido além 
dos limites da herança, a renúncia era mais comum. Atualmente, com a limitação do 
art. 1.792 a renúncia se tornou rara, mas pode ocorrer. 
 
 Aceitação: é o ato pelo qual o sucessor manifesta sua vontade de receber a 
herança ou o legado. 
 
 Espécies: 
 
 expressa: feita por qualquer documento escrito; 
 tácita: esta espécie é a mais comum e o sucessor assume comportamentos 
típicos de herdeiro (1.805), por exemplo: pedir ao Juiz para abrir o inventário, 
nomear advogado para tratar dos documentos do morto, alienar seus direitos 
hereditários, pagar o imposto de transmissão, etc. Não significa aceitar a herança 
comparecer à missa de sétimo dia ou alimentar o cachorro do extinto (§ 1º do 
1.805); 
 
 
 c) presumida: nesta última espécie um terceiro interessado força o herdeiro 
a se manifestar se vai aceitar ou não (1.807), ex: um credor do herdeiro, ao tomar 
conhecimento da morte do pai dele, exige que o herdeiro se manifeste para que o 
credor, se for o caso, aceite a herança no lugar do herdeiro e possa satisfazer seu 
crédito (1.813); o silêncio do herdeiro implica em aceitação da herança. 
 
 Natureza jurídica da aceitação: 
 É negócio jurídico unilateral (depende da vontade do herdeiro) e puro (a 
aceitação é simples), ou seja, por uma questão de segurança jurídica não pode o 
 
10 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
herdeiro impor condições, afinal a herança é um todo universal, 1.808 e 91; ex: é 
vedado só aceitar a herança se não tiver que pagar os impostos sobre os bens. Em 
sendo a sucessão testamentária e uma mesma pessoa ser herdeira e legatária, 
pode aceitar a herança e renunciar ao legado, e vice-versa (§ 1º do 1.808). 
Ressalto que a aquisição dos bens não se dá com a aceitação, mas pela saisine, e 
uma vez aceita a herança, não cabe retratação (1.804). 
 
 Cessão dos direitos hereditários: 
Aberta a sucessão, mesmo antes de concluir o inventário, o herdeiro já pode 
ceder seu quinhão aos demais herdeiros sem importar em aceitação, mas tal 
transmissão deve ser gratuita (§ 2º do 1.805), pois se o herdeiro aliena seu quinhão 
a terceiros na verdade estará aceitando e depois transmitindo, sujeitando tal 
transação à dupla tributação imposta pela Fazenda Estadual (1.793). Essa 
aceitação + cessão chama-se de renúncia “in favorem”, ou renúncia translativa pois 
o herdeiro está especificamente beneficiando alguém. A renúncia simples é aquela 
do § 2º do 1.805. 
 
 A cessão dos direitoshereditários pode ser gratuita ou onerosa, de todo ou 
de parte do quinhão da herança. O que se transfere não é a qualidade de herdeiro, 
mas os direitos patrimoniais desse herdeiro. Não se pode ceder bem determinado, 
pois quem herda um quinhão não sabe exatamente o que integra essa fração do 
patrimônio do morto (§ 2º do 1.793). Só após a partilha é que se pode alienar coisa 
individualizada. Todavia, antes de ceder o quinhão onerosamente a terceiros, deve 
o herdeiro oferecer aos demais co-herdeiros (1.795) até para facilitar a extinção do 
condomínio (pú do 1.791, ex: João morre e deixa dois filhos, se um filho vender seu 
quinhão ao irmão não haverá sequer necessidade de partilha, simplifica tudo). 
 
 Aceitação pelos sucessores: 
 
11 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
Pode ocorrer do herdeiro morrer antes de aceitar a herança, então o herdeiro 
do herdeiro vai ter esse direito (1.809). Nada impede que o neto aceite a herança 
do pai mas renuncie à do avô (pú do 1.809). 
 
 Renúncia da herança: 
 A aceitação é mais simples, de modo que a renúncia exige mais 
formalidades, tratando-se de ato solene pelo qual o herdeiro abdica à herança. A 
renúncia exige forma escrita, e não é qualquer escrito como na aceitação, mas 
documento público perante o Tabelião ou o Juiz (1.806). A renúncia é rara, pois 
quando o sucessor não deseja a herança ele simplesmente cede seu quinhão aos 
demais herdeiros (§ 2º do 1.805). A renúncia também não pode estar sujeita a 
condições (1.808). O herdeiro casado não tem legitimidade para renunciar sem 
outorga do cônjuge (80, II e 1.647, I). O incapaz também não pode renunciar 
(104, I). O herdeiro insolvente que renuncia à herança para prejudicar seus 
credores comete fraude, mas se o herdeiro tem bens para pagar seus credores 
pode renunciar sem problemas (1.813). Não se pode renunciar a herança de 
pessoa viva, afinal nunca se sabe quem vai morrer primeiro. Como a aceitação, a 
renúncia é também irretratável. 
 
 Efeitos da renúncia: 
 
 1) efeito retroativo: a renúncia retroage ao dia da morte do hereditando, de 
modo que o renunciante é considerado como se nunca tivesse sido chamado à 
sucessão. 
 
 2) os filhos do renunciante não herdam em seu lugar: os filhos do 
renunciante não poderão aceitar a herança do avô no lugar do pai, passando os 
bens para seus tios e primos (1.811). Diferente da renúncia é se o pai tivesse 
morrido após o avô, então os netos, por representação, seriam chamados a 
suceder. Para os netos herdarem do avô, é melhor o pai morrer do que renunciar, 
 
12 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
pois o renunciante é tido pela lei como inexistente. A representação é um instituto 
de Direito Canônico que visa proteger a família, sendo razoável que os netos 
herdem do avô no lugar do pai pré-morto. 
 
 3) o renunciante pode representar o hereditando na sucessão de terceiros 
(ex: João renuncia a herança de seu pai, mas pode representar o pai na herança do 
avô, 1856). 
 
 Na sucessão legitima a parte do renunciante vai para seus irmãos, e não 
para seus filhos; se o renunciante não tiver irmãos, transfere-se a herança para 
seus filhos mas não por direito de representação e sim por direito próprio (1.810). 
 
 Na sucessão testamentária a parte do renunciante vai para o substituto 
previsto no testamento (1.947), mas testamento já é raro, mais raro ainda o testador 
nomear um substituto, então o comum é o quinhão do renunciante ir para os 
herdeiros conforme a sucessão legítima (1.829). 
 
 Herança Jacente e Vacante 
 
 Chama-se de jacente a herança quando não se conhecem os herdeiros que 
possam dela cuidar, assim o Juiz, para evitar a ruína desses bens, nomeia um 
curador para arrecadar e administrar os bens do falecido (1.819). Concluído o 
inventário sem o surgimento de herdeiros, a herança se torna vacante e os bens 
passam para o município (1.823 e 1.844). 
 
 A vacância é uma fase provisória que culmina ou com a entrega dos bens 
aos herdeiros que vierem a surgir, ou com a declaração da vacância e a 
transferência ao Poder Público. 
 
 
13 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 Inicialmente os bens são transferidos ao município sob propriedade 
resolúvel (vide aula 8 de Direitos Reais), mas após cinco essa propriedade se torna 
plena, e nenhum herdeiro poderá mais exigi-los (1.822). Esses cinco anos 
começam a correr da declaração de vacância da herança (1.820). Concluído o 
inventário, qualquer discussão futura será feita contra a Fazenda Municipal (1.158 
do CPC). 
 
 Indignidade e Deserdação 
 Estes institutos são diferentes, mas merecem ser estudados em conjunto 
pois têm o mesmo efeito. 
 
 A regra geral é a de que todos podem suceder (1.798, animais não podem 
herdar!), inclusive uma empresa pode suceder uma pessoa física (1.799, II). A 
exceção a essa regra são os casos de indignidade e deserdação. 
 
 Em suma, para suceder basta estar vivo, ter legitimidade e não ser 
indigno/deserdado. Os casos de falta de legitimidade são aqueles do art 1.801 e 
1.802. Os casos de indignidade e deserdação veremos agora. 
 
 Indignidade: é a privação do direito de suceder alguém por tê-lo ofendido 
ou a seus familiares (1.814). O indigno não tem afeto e nem solidariedade pelo 
extinto, pelo que sofre esta pena civil. 
 
 Esse artigo é exaustivo, não é exemplificativo, de modo que não há outros 
casos de indignidade fora esses. Observem que o homicídio do 1814, I, é só o 
doloso, o culposo não. O menor pode ser indigno, embora menor seja inimputável, 
por isso indigno é quem comete o fato, mesmo que não seja criminalmente culpado, 
até porque a responsabilidade civil é independente da penal (935, vide artigo no site 
sobre Responsabilidade Civil). No inciso III vemos um caso de indignidade após a 
 
14 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
morte do hereditando (ex: filho esconde o testamento que beneficiava um primo 
para herdar tudo sozinho). 
 
 Características e efeitos da indignidade (obs: de regra estes efeitos são ex 
tunc, ou seja, “desde então”, retroagindo ao momento da abertura da sucessão): 
 
 1 – não é automática, precisando de sentença transitada em julgado (1.815 
e pú). 
 
 2 – o indigno fica obrigado a devolver os frutos da herança que porventura 
tenha auferido (pú do 1.817), pois pelo princípio da saisine o herdeiro se tornou 
dono imediatamente após a morte do hereditando; com a sentença de indignidade, 
que pode levar alguns anos para ser proferida, o indigno terá que devolver os frutos 
(ex: as crias dos animais da fazenda herdada). 
 
 3 – os efeitos da indignidade são pessoais, só atinge o herdeiro, até porque, 
tratando-se de uma pena, não pode ultrapassar a pessoa do infrator; assim os filhos 
do indigno receberão a herança face ao direito de representação (1.816); porém o 
indigno não poderá fruir destes bens (pú do 1.816 e 1.689). Lembro que para os 
filhos do excluído é melhor a indignidade do que a renúncia (1.811). 
 
 4 – este quarto efeito não é “ex tunc”, mas “ex nunc (a partir de agora)”, não 
retroagindo: são válidas as alienações onerosas feitas pelo indigno antes da 
sentença a terceiro de boa-fé (1.817). Assim, no conflito entre a propriedade dos 
demais herdeiros e a boa-fé do terceiro adquirente, o legislador optou por esta, por 
uma questão de segurança jurídica. De qualquer modo os demais herdeiros 
exigirão do indigno o equivalente, mediante ação pessoal de perdas e danos. Não 
cabe aos demais herdeiros ação real sobrea coisa vendida, não havendo direito de 
seqüela sobre a coisa alienada ao terceiro de boa-fé. Mas se a alienação foi 
 
15 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
gratuita ( = doação) cabe direito de seqüela, afinal o terceiro não vai perder nada, 
vai apenas deixar de ganhar. 
 
 Reabilitação do indigno: trata-se do perdão do indigno, podendo ser feita 
expressamente pelo hereditando (1.818). A reabilitação pode ser tácita nos termos 
do pú. 
 
 Deserdação: o efeito é o mesmo da indignidade, punir quem ofendeu o 
extinto, pois o deserdado fica também excluído da sucessão. Vejamos as 
diferenças: 
 
 1 - a indignidade vem prevista em lei como a vontade presumida do extinto, 
atingindo qualquer herdeiro, já a deserdação é declarada em testamento, é a 
vontade real do falecido, e só atinge herdeiros necessários (1.961, 1.845). 
 
 2 - só vamos encontrar deserdação na sucessão testamentária (1.964), já a 
indignidade pode ocorrer tanto na sucessão testamentária como na legítima. 
 
 3 – os casos de deserdação, além do conhecido 1.814, estão no 1962 e 
1.963 
 
 Herdeiro aparente: é aquele que parece mas não é. É aquele que está na 
condição de herdeiro mas que, por um fato novo, deixa de sê-lo. Conceito: herdeiro 
aparente é o que, não sendo titular de direito sucessório, é tido como legítimo dono 
da herança por causa de erro invencível. Ex: alguém morre sem mulher e filhos, 
então seus bens vão para um irmão; porém depois aparece um filho desconhecido 
do extinto que prova sua condição mediante exame de DNA; terá o irmão do extinto 
que entregar os bens recebidos para este seu sobrinho. E se o herdeiro aparente 
vendeu os bens recebidos? A solução é a mesma do item 4 acima, conforme pú do 
1.827. 
 
16 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 Sucessão Legítima 
 
 Conforme dito na aula 1, são duas as espécies de sucessão: a legítima e a 
testamentária. Nosso legislador disciplinou em maior número de artigos a 
sucessão testamentária, porém a sucessão legítima é a mais frequente na 
sociedade, vamos conhecê-la primeiro: 
 
 Conceito: a sucessão é legítima quando, na falta de testamento, defere-se 
o patrimônio do morto a seus herdeiros necessários e facultativos, convocados 
conforme relação preferencial da lei. Se houver testamento mas não abranger todos 
os bens, a sucessão legítima também será aplicada (1.788). 
 
 Esta relação preferencial da lei tem o nome de vocação hereditária e 
beneficia os parentes próximos, por presumir o legislador que os familiares são as 
pessoas mais queridas do extinto (1.829). Na ordem natural das afeiçoes familiares 
o amor primeiro desce, em seguida sobe e depois se espalha. 
 
 Os primeiros a herdar são os filhos e o cônjuge; se não houver filhos e 
cônjuge chamam-se os pais do extinto; estes são os herdeiros necessários (1.845); 
finalmente convocam-se os herdeiros facultativos, que são os parentes colaterais 
irmãos, tios, sobrinhos e primos até o quarto grau (revisem Parentesco, 1.594, 
1.839). A companheira também herda, mas em situação inferior a da cônjuge, 
veremos isso na próxima aula, mas já tenham certeza que união estável é menos 
do que casamento. E concubinato é menos do que união estável (1.801, III e 
1.727). E namoro é menos do que concubinato. Concubina e namorada nada 
herdam. 
 
 Se o hereditando não tiver cônjuge/companheiro ou sequer um parente de 
quarto grau, seus bens vão para o Município (1.844) 
 
17 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 Classes da vocação hereditária: 
 
 a) descendentes: filhos, netos, bisnetos, etc., não tem limite, os mais 
próximos excluindo os mais remotos; 
 
 b) ascendentes: pais, avós, bisavós, sem limite, os mais próximos 
excluindo os mais remotos; 
 
 c) cônjuge: elevado pelo código de 2002 à condição de herdeiro 
necessário, sendo chamado a suceder junto com os filhos (1829, I, falaremos mais 
da sucessão do cônjuge na próxima aula, mas confiram no site uma notícia de 
fev/2008 com o titulo “diálogo sobre regime de bens”). 
 
 d) colaterais: só até o quarto grau, e os mais próximos (irmãos) excluem os 
mais remotos (primos, 1.840). 
 
 e) o Município: o poder público não é herdeiro, ele é chamado diante da 
ausência de parentes, a fim de que os bens do falecido não se deteriorem (1.844). 
 
 REGRAS DA SUCESSÃO LEGÍTIMA PARA A VOCAÇÃO HEREDITÁRIA: 
 
 a) só se convoca uma classe nova quando não há herdeiros na classe 
precedente, então, por exemplo, não se convocam os ascendentes se há 
descendentes (1.836 e 1.838). 
 
 b) na mesma classe os mais próximos excluem os mais remotos (1.833, 
então não se chama o neto se existe filho, não se chama o avô se existe pai, § 1º 
do 1.836), salvo o direito de representação que veremos abaixo. 
 
 
18 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 Modos da sucessão legítima: 
 
 a) Direito Próprio: sucede-se por direito próprio quando se é herdeiro da 
classe chamada, então o filho herda do pai por direito próprio. 
 
 b) Direito de Representação: sucede-se por direito de representação 
quando se toma o lugar de herdeiro pré-morto (1.851) ou indigno da classe 
chamada (1.816); ex: o filho morre antes do pai, então o neto herda direto do avô, 
representando o pai pré-morto. O dir. de representação tem origem no Direito 
Canônico e se justifica para proteger a família, trazendo à herança o filho do 
herdeiro pré-morto ou indigno, equilibrando o patrimônio entre os descendentes 
(1.855). Não é justo que um neto não herde do avô apenas porque seu pai morreu 
primeiro (1.854). Lembro que o filho do herdeiro renunciante não pode representar o 
pai (1.811). 
 A representação é exclusiva da sucessão legítima (o art. 1.851 usa a 
expressão “a lei”), pois na sucessão testamentária se o herdeiro morre, o legado ou 
herança não vai para seus filhos, mas sim volta ao espólio para beneficiar os 
herdeiros legítimos. Só há representação na linha descendente em qualquer grau 
(1.852) ou na linha colateral até o terceiro grau (1.853, ex: João morre sem mulher, 
descendentes e ascendentes, então sua herança vai para seus irmãos; se um dos 
irmãos já tiver morrido, seus filhos, sobrinhos de João, herdarão por direito de 
representação, 1.840) 
 
 c) Direito de Transmissão: esse modo interessa à Fazenda Estadual para 
fins tributários, assim sucede-se por direito de transmissão quando se substitui o 
herdeiro pertencente à classe chamada, depois da abertura da sucessão e ainda 
antes da conclusão do inventário (1.796); ex: João morre e durante o inventário seu 
filho morre também, então os netos virão suceder o pai e o avô João, pagando dois 
impostos de transmissão (= bi-tributação), pois pelo princípio da saisine o 
patrimônio de João chegou a pertencer a seu filho antes de ir para os netos. 
 
19 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 Formas de partilha: 
 
 a) por cabeça: dá-se em partes iguais entre herdeiros da mesma classe, 
ex: João morre e seus três filhos vão herdar por direito próprio e por cabeça 33% do 
patrimônio de João, por serem seus parentes mais próximos. 
 
 b) por estirpe: herda-se por estirpe para os que sucedem em graus 
diversos por direito de representação, ex: João morre e tem um filho pré-morto que 
deixou dois netos, então seus dois filhos vivos vão herdar por direito próprio e por 
cabeça 33% do patrimônio de João, enquanto cada um de seus netos vai herdar 
por direito de representação e por estirpe16,5% desse patrimônio (1.835). Aqueles 
que descendem por estirpe estão representando alguém. 
 
 c) por linhas: a partilha por linhas só ocorre quando são chamados os 
ascendentes, ex: João morre sem descendentes e cônjuge, seus pais igualmente já 
morreram, mas a avó paterna está viva, e o avô e a avó materna também. Então 
caberá metade à avó paterna e metade aos outros dois avôs maternos (§§ 1º e 2º 
do 1.836). 
 
 Sucessão do Cônjuge 
 
 Na sucessão legítima, por opção do legislador de 2002, o cônjuge se tornou 
herdeiro necessário, sendo elevado à mesma condição dos filhos e dos pais do 
hereditando (1.845). Antigamente o cônjuge era mero herdeiro facultativo. Esta foi 
uma grande inovação do Código Civil e atinge os testamentos feitos antes de 2002, 
que terão que ser adaptados (1.787, 1.846). 
 
 Então se o hereditando é casado, seu cônjuge irá herdar junto com os filhos, 
a depender do regime matrimonial de bens (1.829, I); irá herdar com os 
 
20 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
ascendentes se não há filhos (1.829, II); ou irá herdar sozinho se o extinto não 
deixou descendentes nem ascendentes (1838). 
 
 Ressalto que o casal precisava estar vivendo junto na época do falecimento, 
senão o cônjuge sobrevivente pode nada herdar (1.830). 
 
 Esta opção do legislador em proteger mais o cônjuge tem por fundamento 
evitar situações ocorridas no passado, quando o cônjuge viúvo, já idoso, perdia o 
marido/esposa e ainda podia perder sua condição financeira, pois o patrimônio do 
extinto seguia apenas para os filhos. 
 
 Porém, antes de prosseguirmos, é preciso diferenciar meação de herança: 
quando alguém enviúva, a depender do regime de bens, uma parte do patrimônio 
do morto é do sobrevivente por direito próprio e não por herança; ex: no regime da 
comunhão parcial, que é o mais comum na sociedade (1.640), metade dos bens é 
do viúvo não por herança, mas por integrar o condomínio do casal (1.658, 1.660, I). 
Então, exclui-se a meação do sobrevivente e o resto é herança para os herdeiros 
necessários, inclusive o cônjuge! 
 
 Assim o cônjuge sobrevivente, a depender do regime de bens, vai receber 
igual a seus filhos, ou se tiver mais de três filhos pelo menos 25% da herança; se os 
filhos forem só do falecido, o cônjuge herda igual a eles, mesmo que sejam mais de 
três filhos (1.832). 
 
 Vejamos regime a regime: 
 
 a) separação obrigatória de bens (1.641): o viúvo não tem meação (1.687) 
e nem herança (1.829, I); só lhe cabe direito real de habitação (1.831, vide aula 7 
de Reais na Coisa Alheia). 
 
 
21 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 b) separação convencional: o sobrevivente não tem meação (1.687) mas 
tem herança (1.829, I; 
 Obs.: se seu cônjuge for rico, nunca se divorcie, espere enviuvar!) 
 
 c) comunhão parcial de bens: o viúvo tem meação (1.658), mas caso se 
divorcie não tem direito aos bens do cônjuge (1.659, I); todavia, com a viuvez, o 
sobrevivente alcança estes bens por serem bens particulares do cônjuge (1.829, I, 
in fine). Se o falecido não deixou bens particulares o cônjuge nada herda, fica 
apenas com sua meação. Se o falecido só deixou bens particulares, e nada integra 
o patrimônio comum do casal, só haverá herança e não meação. 
 
 d) participação final nos aquestos: regime complicado, que pelas 
contradições da nossa legislação e pela sobrecarga da Justiça, tem pouco uso 
prático; todavia suas regras assemelham-se às da comunhão parcial de bens. 
 
 e) comunhão universal: o viúvo tem meação de tudo (1.667), então não 
precisa herdar nada (1.829, I). 
 
 Cônjuge concorrendo com ascendentes do hereditando: concorrendo 
com o sogro e a sogra o viúvo terá direito a um terço da herança, independente do 
regime matrimonial de bens (1.829, II, 1.837, obs: cônjuge concorrendo com os 
avôs do marido herda metade). 
 
 Sucessão do Companheiro: Lembro que companheiro é aquele que vive 
em união estável, sem impedimento para se casar, então não confundam com o 
concubinato (1.727). 
 
 O CC trata dessa questão no art. 1.790, dispositivo que está deslocado no 
CC, pois deveria estar perto do 1.829, dentro da sucessão legítima. 
 
 
22 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 O companheiro não vai herdar como o cônjuge casado, apesar do art. 
1.725, face à redação expressa do art. 1.790. Companheiro não é herdeiro 
necessário, só o cônjuge. Por essa proteção maior, o casamento é uma instituição 
sempre forte na nossa sociedade. 
 
 Morto o companheiro, o sobrevivente tem a meação mais a herança apenas 
sobre os bens adquiridos onerosamente durante a união estável, não se 
beneficiando dos bens adquiridos gratuitamente (ex: doação ou herança do 
“sogro”). 
 
 Concorrendo com filhos, o companheiro herda conforme incisos I e II do 
1.790. 
 
 Concorrendo com ascendentes ou colaterais até o 4º grau, o sobrevivente 
recebe a meação dos bens adquiridos onerosamente durante a união estável, e 
mais um terço da outra metade, ficando os parentes com os dois terços dessa 
metade, e mais todos os bens adquiridos fora da união, e os bens gratuitos 
adquiridos dentro ou fora da união (1.790, III). 
 
 Se não houver nenhum parente, o companheiro não herda tudo, mas 
apenas os bens adquiridos onerosamente (vide caput do 1.790), indo para o 
Município o restante dos bens gratuitos e os onerosos de fora da união estável. 
Essa redação lamentável da lei exclui uma pessoa de laços afetivos com o extinto 
em beneficio do poder publico... 
 
 Consultem também as leis 8.971/94 e 9.278/96 que fazem referência à 
sucessão do companheiro. 
 Sucessão dos colaterais: os colaterais não são herdeiros necessários, e vão 
herdar quando não há descendentes, ascendentes e nem cônjuge. Se houver 
testamento, os colaterais podem ser totalmente excluídos (1.850). 
 
23 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 Os mais próximos excluem os mais remotos, e o parente colateral mais 
próximo é o irmão em 2º grau (revisem Parentesco em Direito de Família). Se o 
irmão for germano, ou seja, filho do mesmo pai e da mesma mãe do extinto, 
herdará o dobro do que eventual irmão unilateral (1.841). 
 
 Não havendo irmãos, herdam os parentes em terceiro grau, prevalecendo os 
sobrinhos sobre os tios, por serem aqueles em geral mais jovens, é a doutrina do 
“sangue novo”, presumindo-se que os sobrinhos vão viver mais tempo do que os 
tios do hereditando (1.843). 
 
 Finalmente, não havendo parentes em 2º ou 3º grau, são chamados os tios- 
avós, sobrinhos-netos e primos, parentes em 4º grau do extinto, herdando todos 
igualmente. 
 
 Sucessão do Município: Não havendo parente algum, a herança vai para o 
Município (1.844). Todavia o poder público não é herdeiro, ele é chamado diante da 
ausência de parentes, a fim de que os bens do falecido não se deteriorem; o 
princípio da saisine não se aplica ao Município, pois é preciso aguardar a sentença 
de vacância (1.820). 
 
 Sucessão Testamentária 
 
 Conceito de Direito das Sucessões: é o ramo do Direito Civil cujas 
normas regulam a transferência do patrimônio do morto ao herdeiro, em virtude de 
lei ou de testamento. Já estudamos a transmissão decorrente da lei, vamos agora 
conhecer a 2ª espécie, que é a sucessão testamentária: 
 
 Lembro que, embora a sucessão legitima predomine na sociedade, nosso 
legislador regulamentou em maior numero de artigos a sucessão testamentária.24 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 A sucessão testamentária é conduzida pelo testamento, sendo um principio 
de direito sucessório o respeito à vontade do extinto (vide aula 2). O testamento 
pode contemplar herdeiros, que sucedem a título universal, e legatários, que 
sucedem a título singular (vide aula 1). 
 
 Conceito de testamento: 
 Negócio jurídico solene pelo qual alguém, nos termos da lei, dispõe de seus 
bens, no todo ou em parte, para depois de sua morte (1.857). 
 
 Digo negócio jurídico pois se trata de uma declaração de vontade que 
produz efeito jurídico; digo solene pois testamento não pode ser verbal, mas sim 
escrito, conforme espécies e formalidades previstas em lei. 
 
 A liberdade de testar é grande, mas a lei impõe um limite em respeito à 
família e aos herdeiros necessários (§ 1º do 1.857 e 1.846). 
 
 Via de regra as disposições testamentárias são patrimoniais, versam sobre 
os bens do extinto, mas o testamento pode conter cláusulas extra-patrimoniais, 
como por exemplo o reconhecimento de um filho (§ 2º do 1.857, 1.609, III), a 
nomeação de um tutor para um filho menor (1.634, IV) ou determinações sobre seu 
funeral. 
 
 Características: 
 
 O testamento é revogável, pois o seu autor pode se arrepender, demorar 
a morrer, e querer mudar alguma disposição, então a liberdade de revogar é a 
mesma de testar (1.858). Inclusive não se admite renúncia ao direito de revogar o 
testamento, até porque o testamento só produz efeito após a morte do seu autor. 
 É imprescritível: um adolescente de 16 anos já pode testar (pú do 1.860), 
então mesmo que ele só venha a morrer aos noventa anos, se não for revogado 
 
25 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
seu testamento continua válido embora redigido há 74 anos! E por que a 
capacidade de testar foi reduzida dos 18 para os 16 anos? Porque o testamento só 
produz efeitos após a morte, então se o testamento prejudicar o adolescente, ele já 
morreu mesmo. 
 Testamento é ato pessoal: só o hereditando pode testar, de modo 
individual e exclusivo, não se admitindo testamento por procuração (1.858). Um 
advogado/contador pode ajudar a redigir, mas o testador tem que estar presente. 
Também não se admite testamento feito por duas pessoas, inclusive para facilitar a 
mudança ou a revogação do ato (1.863). 
 Testamento é ato unilateral quanto às partes porque se forma apenas pela 
vontade do testador, independentemente da aceitação do herdeiro. Diz-se também 
unilateral quanto aos efeitos, semelhante a uma doação, pois não existe 
contraprestação, não existe vantagem para o testador, até porque ele já morreu 
quando o testamento passa a produzir efeitos. Todavia, semelhante às doações, 
admite-se encargo nos testamentos (vide aula 13 de Contratos), mas o encargo não 
pode ser grande a ponto de criar uma obrigação excessiva para o herdeiro ou 
legatário, podendo o Juiz reduzir o encargo exagerado. 
 
 Capacidade para testar: como todo negócio jurídico, o testamento deve 
atender ao art. 104 do CC. 
 
 Então quem pode testar? Qualquer pessoa física desde que lúcida e maior 
de 16 anos (1.860 e pú). Pessoa jurídica não pode testar porque não está sujeita a 
morte, e sua extinção ou falência interessa ao Direito Empresarial. Se o testador 
enlouquecer após redigir o ato, o testamento é válido (1.861). Testamento feito por 
incapaz é nulo, e a nulidade é para sempre (166, I e 169; depois revisem 
anulabilidade que é menos grave do que a nulidade). Porém alguns autores acham 
que a nulidade pode prescrever, ou seja, mesmo o ato nulo pode produzir efeitos, 
por isso existe um prazo de cinco anos do art. 1.859, c/c o art. 1.126 do CPC. 
 
 
26 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
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 Quem pode adquirir por testamento? Quem pode ser instituído herdeiro e 
designado legatário? De regra todas as pessoas, físicas ou jurídicas (1.799, II e III). 
 Animais não podem ser herdeiros ou legatários, mas podem ser encargos 
(ex: deixo minha herança para João com o ônus de cuidar do meu cachorro; leiam 
Quincas Borba de Machado de Assis). Pessoas não concebidas até a morte do 
testador não podem também adquirir por testamento (1.798), salvo as hipóteses de 
fideicomisso que veremos em breve (1.799, I e 1.925). Também não podem ser 
nomeadas herdeiras e legatárias aquelas pessoas sem legitimidade do art. 1.801. A 
legitimidade é um freio da capacidade, então tais pessoas do 1.801 não são 
incapazes, apenas lhes faltam autorização para herdar por razões morais e éticas. 
O deserdado é também excluído da sucessão, veremos deserdação em breve. 
 
 Formas de testamento 
 
 São várias as formas e espécies de testamento previstas em lei, cada uma 
com suas vantagens e desvantagens, pelo que a orientação do advogado ou do 
tabelião é essencial para, caso a caso, verificar qual a melhor opção para seu 
cliente. 
 
 Os testamentos têm formalidades exigidas pelo legislador por uma questão 
de segurança a fim de garantir a autenticidade do ato, a espontaneidade da 
manifestação e a sanidade do declarante, preservando a vontade do extinto. 
 
 Não se podem misturar as espécies, ou seja, é preciso escolher uma delas 
e atender às exigências da lei, vejamos: 
 
 1 – testamento ordinário: este pode ser usado pelas pessoas capazes em 
qualquer condição, e se divide em público, cerrado e particular (1.862); 
 
 
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 2 – testamento especial: somente permitido a determinadas pessoas em 
situações peculiares, e se divide em marítimo, militar e aeronáutico (1.886); 
 
 3 – codicilo; 
 
 Começando por este último, o codicilo é um testamentozinho, é uma carta, é 
um pequeno registro deixado pelo extinto, com poucas formalidades e tratando de 
bens de pequeno valor (1.881) da nomeação de testamenteiro (é a pessoa que vai 
cumprir o testamento, 1976 e 1.883), do reconhecimento de um filho, da 
deserdação de outro filho, do perdão do indigno (1.818, sublinhem “ato autêntico”), 
ou finalmente da encomenda de missas (1.998). As expressões “pouca monta” e 
“pouco valor” referidas no art 1.881 são relativas e dependem, é claro, do tamanho 
da herança, a ser examinado pelo juiz, em geral cerca de 10% do patrimônio do 
extinto. Um testamento pode revogar um codicilo, mas o contrário não. 
 
 Testamento ordinário 
 
 1 – público: feito por qualquer tabelião do cartório de notas do país e 
anotado em livro próprio (1.864). Esta espécie é mais segura contra destruição, 
extravio ou modificação pois consta do livro público do cartório. Outra vantagem é 
porque tal espécie é redigida pelo tabelião, ou seja, profissional habilitado, com fé 
pública e experiência, que dificilmente vai errar e causar nulidade ao testamento. 
Por ter que ser lido em voz alta, esta espécie é recomendada para os analfabetos, 
surdos e cegos (1.867). Desvantagens: é pago, tem um custo já que o cartório 
cobra para redigir o testamento; é aberto, ou seja, todos podem ficar sabendo seu 
conteúdo, provocando ciúmes e frustrações de quem não foi contemplado, estando 
o testador ainda vivo. 
 
 2 – cerrado: conhecido como secreto ou místico. Ao contrário do público, 
não é ditado pelo testador para o tabelião digitar, mas sim entregue já escrito ao 
 
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tabelião para aprová-lo. Essa aprovação é aquela do art. 1.869, ou seja, é um termo 
onde o tabelião confirma se tratar aquele documento da vontade autêntica do 
hereditando. Sua maior vantagem é o sigilo, afinal só o testadorconhece seu teor. 
Sua desvantagem é a possibilidade de extravio, pois o documento é entregue ao 
testador que não mais estará vivo para dizer onde ele se encontra quando o 
testamento precisar ser aberto (1.874). Analfabetos e cegos não pode usar esta 
espécie, mas os surdos e mudos sim, desde que saibam ler (1.872). 
 
 3 – particular: é a mais rápida, simples e fácil espécie de testamento, 
dispensando até o tabelião. É aberto (1.876). O testador precisa ter algum 
conhecimento jurídico para não cometer ilegalidades que venham a anular o ato. 
Não se esqueçam de datar o testamento. Outra desvantagem é que ele pode ser 
extraviado ou falsificado, já que não tem a intervenção do cartorário. Mais uma 
desvantagem: as testemunhas precisam sobreviver ao testador para confirmar a 
autenticidade do documento perante o juiz (1.878). 
 
 3.1 – testamento particular excepcional: admitido em situações 
emergenciais de risco iminente de perder a vida, não havendo testemunhas 
disponíveis, como num desastre, naufrágio, sequestro, preso numa caverna, dentro 
de um avião caindo, etc. (1.879). Tem que ser manuscrito. A doutrina o critica pois é 
fácil de ser fraudado. Cabe ao juiz aceitá-lo ou não. 
 
 Testamento especial 
 
 Os testamentos especiais são mais simples e fáceis de fazer do que os 
testamentos ordinários, com menos solenidades. Porém eles não são de livre 
escolha do cidadão, só podendo o testador optar por eles se estiver numa situação 
especial. Outra característica é a de que os testamentos especiais prescrevem, 
ou seja, têm prazo de eficácia e precisam ser confirmados. Já o testamento 
 
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ordinário pode ser celebrado por alguém com 16 anos, e mesmo que só venha a 
morrer aos 90 anos, o documento ainda estará válido após 74 anos. 
 Vejamos as espécies de testamento especial: 
 
 1 – marítimo: para aqueles que estão com medo de morrer em alto-mar. 
Curioso é que temos a vida toda para testar, vamos nos preocupar com isso logo 
quando entramos num navio? Inclusive porque as viagens marítimas não são mais 
tão longas, e mesmo a bordo temos telefone e internet (1.892). Bom, caso 
necessário o comandante vai corresponder ao tabelião do cartório de notas (1.888). 
Esse testamento precisa ser confirmado quando terminar a viagem, sob pena de 
caducidade (1.891). 
 
 2 – aeronáutico: essa espécie não se justifica, pois em vôos normais não há 
necessidade, podendo o testador aguardar algumas horas até o desembarque 
(1.889); e se o avião estiver em perigo, aplica-se o testamento particular 
excepcional acima. Talvez o legislador esteja pensando nas viagens espaciais, 
quando ficaremos anos viajando entre as estrelas... Ou então para alguém que 
passe mal dentro do avião e ache que vai morrer antes do pouso... Bom, reflitam! 
 
 3 – militar: feito por militares, médicos, engenheiros, padres, repórteres, 
reféns e prisioneiros em época de guerra, em combate ou em cidades cercadas 
(1.893). Tal ato caduca caso não confirmado três meses após o testador deixar a 
zona de guerra, ou cessarem os combates (1.895). 
 
 3.1 - o testamento militar admite a espécie nuncupativa, ou seja “in extremis” 
quando o militar ferido, agonizante, confia sua vontade oralmente a duas 
testemunhas... Depois as testemunhas terão que escrever o que ouviram do 
moribundo e entregar o documento ao comandante do batalhão. Tal espécie é 
muito fácil de ser fraudada, pelo menos é raríssima (1.896). 
 
 
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 Disposições Testamentárias 
 
 Vamos começar a tratar do conteúdo interno do testamento. Estas 
disposições são as cláusulas do testamento onde o falecido dá destino a seus 
bens, instituindo herdeiros e legatários. Nosso legislador do Código Civil tenta 
ajudar o juiz e os herdeiros a interpretar, explicar e aplicar as cláusulas do 
testamento. 
 
 Regras gerais: 
 
 O que não estiver no testamento não tem validade, assim não adianta 
o nome do herdeiro constar de uma escritura pública, de uma procuração, de uma 
declaração perante um juiz, etc., se não estiver no testamento. 
 A designação de legatário sempre é expressa, mas o herdeiro pode ser 
tácito (1.906, 1.966, 1.788) 
 O testamento pode ter cláusulas extra-patrimoniais como já dito na 
aula 7 (ex: art. 14 e pú). 
 Respeito à vontade do falecido (arts. 112 e 1.899); nos arts. 1.902 e 
1.903 o legislador presume em regras detalhistas qual seria a vontade do extinto. 
 Na dúvida os sucessores herdam por igual (1.904). 
 
 
 Espécies de disposições: 
 
 simples: é a cláusula pura, sem imposição de qualquer condição ou 
restrição, possuindo eficácia imediata face ao princípio da saisine (ex: deixo 10% de 
meus bens para meu amigo João, 1.897). A legítima do herdeiro necessário deve 
sempre ser simples. 
 Condicional: depende de evento futuro e incerto (ex: deixo minha 
biblioteca para minha sobrinha se ela se formar em Direito; trata-se do direito 
 
31 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
eventual a um legado condicionado a acontecimento futuro e incerto; se a sobrinha 
morrer antes de se formar não terá herdado nada). 
 a termo ou prazo: uma disposição a termo, com prazo, só vale para 
legatários (1.924), pois para herdeiros é nula (1.898; ex: não se pode nomear 
alguém seu herdeiro por dez anos, pois uma vez herdeiro, sempre herdeiro, mas 
um legado pode ser por prazo certo); enquanto a condição ou o termo não chegam, 
os bens ficam com os herdeiros legítimos; o único caso de prazo para o herdeiro é 
nofideicomisso, que veremos em breve; lembro que se um herdeiro for nomeado a 
prazo, fora dos casos de fideicomisso, esse prazo não será considerado e a 
herança será tida como simples. 
 Modal: é a cláusula que tem encargo ou ônus, ou seja, possui uma 
pequena contraprestação a ser cumprida pelo sucessor (ex: Quincas Borba); o 
encargo é imposto nas liberalidades como nas doações e testamentos. O 
descumprimento do encargo pode levar o herdeiro legítimo a pedir a anulação da 
herança a fim de beneficiá-lo. Condições e encargos ilícitos e imorais são nulos. 
Veja mais encargo na aula 13 de Contratos (1.938). A legítima do herdeiro 
necessário não se sujeita a condição ou encargo. 
 Motivada: o testador indica as razões pelas quais está beneficiando 
aquela pessoa (1.897, in fine). Tal motivação é dispensada pela lei, o testador 
indica se quiser, porém eventual motivação equivocada pode anular a cláusula 
testamentária (art. 140). 
 
 Cláusula de inalienabilidade (CI): 
 
 O saudoso Orlando Gomes chama com razão essa cláusula de “anacrônica, 
violenta, polêmica e antipática”. Trata-se de uma cláusula restritiva que implica 
também em impenhorabilidade e incomunicabilidade, ou seja, se o testador deixar 
seus bens com essa cláusula, tais bens não poderão ser vendidos ou doados pelo 
herdeiro (inalienáveis), não poderão ser tomados pelo credor do herdeiro 
 
32 
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2016 
(impenhoráveis), e nem se transmitirão ao cônjuge do herdeiro (incomunicabilidade, 
1.911). 
 
 Conceito: é um meio de gravar o próprio bem em relação a terceiro 
beneficiário, que não poderá dispor dele, gratuita ou onerosamente, recebendo-o 
apenas para usá-lo e fruí-lo. 
 
 A CI não pode ser imposta aos bens do testador, pois não podemos gravar 
os nossos próprios bens, mas apenas os bens que transferimos a terceiros por 
doação ou herança. A CI não é obrigatória, mas uma vez presente no testamento a 
propriedade sobre os bens herdados ou legados fica limitada. A CI durano máximo 
uma geração, então não atinge os filhos do herdeiro. O herdeiro ou legatário poderá 
usar, alugar e emprestar estes bens, mas não poderá vendê-los, ou seja, tais bens 
ficarão fora do comércio. 
 
 Sub-rogação: excepcionalmente o juiz pode autorizar a venda, mas o 
produto da alienação continuará gravado (§ 2º do 1.848 e pú do 1.911). Assim 
trocada a coisa, o novo bem fica sub-rogado na inalienabilidade imposta pelo 
extinto. O art. 1.109 do CPC dá muito poder ao juiz, mas é preciso usar essa força 
com razoabilidade. 
 
 Pode a CI incidir sobre os bens da legítima (1.846), mas exige justa causa 
(1.848), cabendo os herdeiros questionar judicialmente a “justiça” dessa causa, 
afinal o falecido pode estar apenas atrapalhando a vida de filhos que não pôde 
excluir da herança. A causa deve ser clara e objetiva (ex: filho perdulário, 
toxicômano), não se admitindo: “deixo uma casa para meu filho com a CI pois não 
gosto da esposa dele...” 
 
 A CI precisa estar inscrita no Cartório de Imóveis para ter eficácia plena e 
ser de conhecimento público. Se os bens herdados forem móveis (ex: uma jóia), a 
 
33 
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2016 
CI é inoperante, pois os bens móveis, salvo os veículos, não se sujeitam a um 
registro organizado como os bens imóveis. 
 
 Fundamento: por que se justifica a CI? 
 
 1 – para respeitar a vontade do falecido, que é um dos princípios do Direito 
das Sucessões. 
 
 2 - para se criar um ônus real sobre o bem herdado, protegendo herdeiros 
inexperientes e pródigos contra credores espertos ou um casamento ruim (1.848). 
 
 
 Críticas: por que se condena a CI? 
 
 1 – porque prejudica o credor do herdeiro. O credor do falecido não se 
prejudica, afinal ninguém pode gravar seus próprios bens com a CI. Já o credor do 
herdeiro fica frustrado, pois o herdeiro não tinha bens para pagar sua dívida, e 
agora não pagará com os bens que recebeu do pai face à impenhorabilidade, 
causando insegurança jurídica. 
 
 2 – premia um herdeiro incompetente, desorganizado, tolo, incapaz de cuidar 
de seus próprios negócios. 
 
 3 – limita a circulação de riquezas, viola a lei fundamental da economia 
política, por retirar um bem do comércio. 
 
 4 – prejudica o genro ou nora do hereditando, qualquer que seja o regime de 
bens do herdeiro, face à incomunicabilidade decorrente da inalienabilidade. 
 
 Espécies de inalienabilidade: 
 
34 
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 1) absoluta (em nenhuma hipótese o testador admite a venda) ou relativa (o 
extinto admite vender em alguns casos, a certas pessoas ou em certas condições 
previstas pelo mesmo, ex: pode vender a João, mas não pode a José; pode vender 
por motivo de saúde, etc.); 
 
 2) total (estende-se a todos os bens do testador) ou parcial (apenas sobre 
parte dos bens do hereditando); 
 
 3) temporária (ex: durante dez anos, até o herdeiro fazer 50 anos, etc.) ou 
vitalícia(prazo máximo de uma geração). 
 
Obs. 
 O bem gravado com a CI não se sujeita a usucapião por terceiros para 
evitar fraudes; 
 A CI não impede a penhora do bem gravado por dívidas de tributos do 
próprio bem, assim pague o IPTU senão o governo toma! 
 
 Legado 
 
 Já sabemos que são duas as espécies de sucessão: a testamentária 
(quando o falecido diz quem são seus herdeiros) e a legítima (quando na falta de 
testamento, a lei prescreve quem são os herdeiros). 
 
 Na sucessão legítima só há herdeiros, mas na sucessão testamentária, 
além de herdeiros, poderemos encontrar legatários. Já falamos disso na aula 1, 
mas lembro que o legatário difere do herdeiro pois este herda uma fração a título 
universal (ex: 10% da herança, 1/3 da herança), enquanto o legatário sucede a 
título singular, recebendo coisa certa (ex: uma jóia, uma casa, uma cifra em 
 
35 
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dinheiro, um rebanho, um cavalo de raça, uma coleção de selos, uma loja 
comercial, ações, etc.). 
 
 Conceito: disposição testamentária a título singular pela qual o extinto deixa 
um ou mais objetos individualizados a qualquer pessoa, inclusive um herdeiro. Se o 
herdeiro também receber legado, será chamado de prelegatário (obs: o legado do 
herdeiro é o prelegado). O herdeiro pode aceitar a herança e renunciar ao legado, 
e vice-versa (§ 1º do 1.808). 
 
 O legado é personalíssimo, então se o legatário morre antes do testador, 
não haverá direito de representação em benefício dos filhos do legatário, até 
porque vimos na aula 5 que a representação é exclusiva da sucessão legítima, e só 
pode existir legado na sucessão testamentária. 
 
 Morrendo o legatário antes do testador, o legado será transferido aos 
herdeiros legítimos conforme 1.788. Admite-se todavia o substituto do legatário 
(1.947), mas se testar é raro, mais raro ainda prever-se um substituto para o 
legatário faltoso. 
 
 Aquisição do legado: a posse da herança transmite-se imediatamente com 
a morte face ao princípio da saisine (1.784), já o legado é de coisa determinada que 
precisa ser pedida pelo legatário aos herdeiros, exercendo seu “direito de pedir” (§ 
1º do 1.923). Empossando-se indevidamente do bem, o legatário comete o crime do 
exercício arbitrário das próprias razões, previsto no art. 345 do CP. 
 
 Na prática é na partilha, ao final do processo de inventário, que o legatário 
recebe seu bem arcando com eventuais despesas (ex: impostos, frete, 1.936). 
Recebido o legado (ex: uma fazenda), seus frutos (ex: crias dos animais) serão do 
legatário desde a morte do testador, pois a propriedade retroage, mas a posse não 
(1.923 e § 2º). 
 
36 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 
 Repetindo o conceito da aula passada: disposição testamentária a título 
singular pela qual o extinto deixa um ou mais objetos individualizados a qualquer 
pessoa (ex: uma jóia, uma casa, uma cifra em dinheiro, um rebanho, um cavalo de 
raça, uma coleção de selos, uma loja comercial, ações, etc.). 
 
 O legado assemelha-se a uma doação, só que o legatário recebe o bem do 
herdeiro e não do “doador” já morto. O legado será dos herdeiros legítimos caso o 
legatário não aceite o bem (ex: uma fazenda hipotecada, cheia de dívidas 
trabalhistas, com servidão predial, etc., 1.937). 
 
 Como o legatário sucede a título singular, não responde pelas dívidas do 
extinto, dívidas que cabem aos herdeiros por sucederem a título universal (no 
universo dos bens = patrimônio = ativo + passivo), mas o legatário só recebe o bem 
se a herança for solvível, afinal onde só há dívidas não há herança e nem legado. 
Só com o inventário, apurando-se o ativo e deduzindo-se o passivo do extinto, é 
que se podem verificar as forças da herança. 
 
 O testador pode indicar quem será o herdeiro incumbido de cumprir o 
legado, chamado desonerado. Se o testador não indicar o onerado, caberá a 
qualquer herdeiro pagar o legado na proporção do que herdar (1.934). 
 
 Espécies de legado: 
 
 a) legado de coisa própria: é o mais comum, afinal ninguém pode dispor de 
mais direitos do que tem (1.912). Se a coisa legada foi vendida pelo testador antes 
de morrer, essa disposição perde o objeto (1.916). 
 b) legado de coisa alheia: exceção à regra anterior, pois o testador pode 
deixar uma coisa genérica que ele não tem para o legatário, mas a coisa tem que 
ser incerta (243, ex: o falecido deixa um cavalo de raça para João, mas o falecido 
 
37 
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nunca teve cavalo, então o herdeiro-onerado deve comprar esse cavalo para dar ao 
legatário, 1.915,1.929). 
 
 c) sublegado com encargo: o testador determina ao legatário que dê uma 
coisa dele para ganhar outra (ex: o testador deixa uma casa para João se João der 
um carro a José; se João não der o carro não ganha a casa, 1.913; o testador 
impõe um encargo ao legatário; a casa é o legado e o carro é o sublegado; João é 
o legatário e José o sublegatário). 
 
 d) legado alternativo: o falecido deixa para o legatário uma coisa ou outra, 
cabendo a escolha ao herdeiro-onerado (252 e 1.932). 
 
 e) legado de coisa de certo lugar: 
 ex: deixo para fulano meus quadros da casa de Gravatá, 1.917; o legado dos 
quadros não implica no legado da casa, mas se o legado for de uma casa presume-
se que são com os móveis, afinal a regra é o acessório seguir o principal; pergunta: 
se o falecido deixa para fulano uma fazenda, e após testar adquire uma fazenda 
vizinha a esta, o legado será das duas fazendas contíguas? Não, face ao 1.922. 
 
 f) legado de direito real limitado (revisem Civil 5): ao invés da propriedade de 
um bem, o falecido deixa uma superfície, habitação ou usufruto desse bem para o 
legatário, e a propriedade-nua para outrem (1.921). 
 
 g) legado de créditos e débitos: o falecido pode deixar certa quantia em 
dinheiro para o legatário (1.925), ou então perdoar uma dívida do legatário (1.918). 
 
 h) legado compensatório: o falecido deve mil a João e lhe deixa uma jóia, 
pode se tratar de compensação da dívida se for expresso (1.919); se o credor não 
quiser a compensação, basta renunciar ao legado compensatório e cobrar a dívida 
do espólio. 
 
38 
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 i) legado de alimentos: o testador determina ao onerado que alimente 
alguém, cabendo ao juiz fixar o valor (1.920, obs: esse é o melhor conceito legal de 
alimentos, afinal “a gente não quer só comida!”); esse alimento pode ser em 
hospedagem ao invés de dinheiro (1.701). 
 
 j) legado de cota condominial: 
 ex: João e José tem um barco, e João deixa esse barco para Maria, então 
se trata apenas de metade do barco, e Maria será condômina do barco com José 
(1.914). 
 
 Caducidade dos legados: a caducidade difere da nulidade do legado. A 
caducidade é a perda da eficácia, é a decadência do legado. O legado foi celebrado 
validamente, porém pode deixar de existir. 
 
 Já a nulidade seria, por exemplo, o legado de substância entorpecente, o 
testamento celebrado por um incapaz, (166, I e II), o legado a pessoa sem 
legitimidade (1.802 e 1.801), etc. 
 
 São cinco os casos de caducidade previstos no art. 1.939 : 
 
 I – ex: o falecido deixa madeira/mármore para o legatário, porém antes de 
morrer faz móveis/estátuas desse material. Se deixar uma barra de ouro, mas 
depois viraram jóias, vale o legado? Se deixou um terreno nu, mas depois lá 
construiu um edifício, vale o legado? Reflitam! 
 
 II – já vimos isso acima no legado de coisa própria acima; o falecido revoga 
tacitamente a cláusula testamentária se vender a coisa legada. 
 III – ex: um jóia legada caiu no mar, ocorre o perecimento já que o resgate é 
impossível; se houver culpa de alguém para a perda cabe responsabilidade civil; 
 
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2016 
não há perecimento de coisa genérica no legado de coisa alheia (246); revisem 
evicção na aula 8 de Contratos. 
 
 IV – são os casos de indignidade. 
 
 V – é a premoriência que não enseja direito de representação como dito 
acima (1.788). 
 
 Direito de Acrescer e Disposições Conjuntas 
 
 Ocorre quando numa mesma cláusula o testador deixa bens para várias 
pessoas (= disposição conjunta), e uma delas não quer ou não pode receber a 
herança ou legado (ex: renúncia, premoriência, indignidade), hipótese em que a 
cota dos demais poderá aumentar com essa cota vaga (= direito de acrescer, 
1.941). 
 
 Mas em algumas disposições conjuntas pode não haver direito de acrescer 
entre os co-herdeiros, mas sim o quinhão do faltoso beneficiar os herdeiros 
legítimos. Lembro que não há direito de representação na sucessão testamentária. 
 
 Pergunta-se: faltando alguém numa disposição conjunta a cota vai para o co-
herdeiro/co-legatário ( = direito de acrescer), ou vai para os herdeiros legítimos? 
Resposta: é preciso interpretar o testamento para responder. 
 
 a) Presume-se que se o falecido, na mesma cláusula, nomear vários 
herdeiros para uma parte da herança, ou deixar a vários legatários o mesmo bem, 
sem quinhão determinado, sem determinar a porção de cada um, ele pretendia 
instituir direito de acrescer para os demais se um deles viesse a faltar (ex: Ana 
deixa uma fazenda para João, Jose e Maria, então se Maria renunciar ao legado, ou 
morrer antes de Ana, as cotas de João e José irão aumentar, 1.942, 1.943). 
 
40 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 b) Porém, no mesmo exemplo, se Ana deixa a fazenda para João, José e 
Maria, com quinhão determinado, caracterizando a parte de cada um, deixando 
expresso que é 1/3 para cada um, a morte de Maria implica na transmissão desses 
1/3 para os herdeiros legítimos, sem direito de acrescer para João e José (1.944). 
 
Conceito: 
 Direito de acrescer é uma substituição presumida na lei em virtude da qual o 
co-herdeiro ou co-legatário recolhe a porção atribuída ao faltoso em disposição 
conjunta. 
 
 Substituição: a lei admite a hipótese do testador ter um suplente para o 
herdeiro/legatário faltoso, o que também exclui o direito de acrescer, mas se testar 
já é raro, mais raro ainda testar prevendo substituto pros sucessores. A substituição 
vem do Direito Romano, quando a falta de herdeiro era considerada uma vergonha, 
mas no direito moderno esse instituto é raro. Lembro que respeitando a legítima dos 
herdeiros necessários, a liberdade de testar é ampla. Não havendo herdeiros 
necessários, todo o patrimônio do hereditando pode ser deixado para quem ele 
quiser, afastando os familiares mais distantes (1.850). Realmente, é melhor 
beneficiar seus amigos do que um primo que você nem conhece. Por isso a lei 
admite substituto para esses amigos, a fim de realmente excluir os parentes 
distantes (1.947). Pode haver um só substituto para vários herdeiros ou legatários 
(1.948). O substituto sucede o testador, e não o substituído, de modo que só há 
uma transmissão e uma tributação. 
 
 Fideicomisso: é uma espécie de substituição onde o substituto não herda 
no lugar do substituído, mas após o substituído, beneficiando pessoas não 
concebidas ao tempo da morte do testador (ex: deixo minha casa de praia para o 
primeiro filho de minha sobrinha Ana, só que Ana é uma criança, então se um dia 
ela tiver um filho, esse concepturo será o beneficiado, 1.952; enquanto o 
concepturo não vem, designo meu amigo João para cuidar da casa). 
 
41 
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2016 
 Vamos assim identificar as pessoas no fideicomisso: 
 
 a) fideicomitente: é o morto/testador/hereditando; 
 b) fiduciário: é o amigo João; 
 c) fideicomissário: é o concepturo, é o filho de Ana; 
 d) fideicometido: é a coisa, a casa na praia (1.951). 
 
 Conceito: instituto pelo qual o herdeiro ou legatário (fiduciário) tem a 
obrigação de, a certo tempo, transmitir a herança ou legado a terceira pessoa 
(fideicomissário). No fideicomisso há dois beneficiários: o fiduciário por um tempo, e 
depois o fideicomissário. O fiduciário tem a propriedade da casa, mas resolúvel 
(1.953), ou seja, sua propriedade se extingue se Ana tiver um filho. 
 O fideicomisso parece mas é diferente da disposição em favor de prole 
eventual do 1.799, I. Isto porque o fiduciário difere do curador do art. 1.800, pois 
este só administra,enquanto o fiduciário pode se tornar proprietário pleno se o 
fideicomissário não nascer. 
 
 Se o fideicomissário renunciar à herança, a propriedade do fiduciário se torna 
plena (1.955). Se é o fiduciário que renunciar à herança, aplica-se até o advento do 
fideicomissário o art. 1.800. 
 
 Se o fiduciário vender o bem a terceiros, o negócio estará desfeito se o 
concepturo nascer, por isso nunca comprem uma casa sem verificar o registro no 
Cartório de Imóveis (1.359 e pú do 1.953). 
 
 O fideicomisso é um recurso legal para satisfazer o testador que quer 
beneficiar pessoa inexistente ao tempo da abertura da sucessão. Confia o testador 
que o fiduciário vai cuidar da coisa e transferi-la oportunamente ao concepturo. De 
qualquer modo, para não complicar mais ainda, não se admite o fideicomisso além 
do segundo grau, ou seja é vedado um fideicomisso para o fideicomissário (1.959, 
 
42 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
no exemplo acima seria ilegal um fideicomisso para beneficiar alguém depois do 
filho de Ana). 
 
 Em quanto tempo o concepturo tem que nascer? A princípio não há tempo, 
enquanto Ana tiver saúde pode gerar, porém, para não tornar muito longa e instável 
a propriedade resolúvel nas mãos do fiduciário, parte da doutrina entende aplicável 
os dois anos do § 4º do art. 1.800. Todavia, tal prazo é muito curto e frustra a 
intenção do fideicomisso de beneficiar pessoa inexistente ao tempo da abertura da 
sucessão, por isso outra parte da doutrina não aplica tal dispositivo, inclusive 
porque está muito deslocado do capítulo do fideicomisso. Reflitam! 
 
 Elementos do fideicomisso: 
 a) dupla vocação: o testador beneficia duas pessoas com o mesmo bem, 
porém em momentos distintos; 
 b) ordem sucessiva: só se chama um beneficiário quando termina o prazo do 
outro; o fideicomissário é herdeiro do fideicomitente, porém recebe o bem do 
fiduciário; 
 c) ônus de conservar para restituir: o instituto se baseia na fé/confiança do 
fideicomitente no fiduciário que entregará oportunamente a coisa em bom estado ao 
fideicomissário. 
 
 Usufruto: o fideicomisso beneficia pessoas não concebidas, por isso ele vira 
usufruto se o concepturo nascer antes da morte do testador (ex: no exemplo acima 
o testador demora a morrer, quando vem a falecer Ana já é adulta e tem filho), 
então a fim de que o fiduciário também tenha vantagem, a lei cria um usufruto em 
favor do fiduciário, com a propriedade-nua em favor do fideicomissário, 
beneficiando a ambos (pú do 1.952). 
 
 Redução das disposições testamentárias 
 
 
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 A legítima é obrigatória, por essa razão o testador não pode deixar de 
contemplar os seus herdeiros necessários (art. 1.846, vide 2º princípio na aula 2). 
 
 Os herdeiros necessários são os descendentes, os ascendentes e o cônjuge 
(1.845), e só podem ser afastados da herança nos casos já vistos de deserdação 
(1.961, revisem deserdação na aula 4). 
 
 Então, havendo herdeiros necessários e havendo testamento, é preciso 
ajustar o testamento para calcular o valor da metade da herança. Essa metade é a 
legítima, e a outra metade é a parte disponível para quem o hereditando quiser, 
inclusive qualquer herdeiro necessário (1.849, 1.847; a colação serve para conferir 
o valor das doações feitas em vida do testador ao herdeiro a fim de igualar os 
quinhões, 2.002). 
 
 Se o testador por descuido, má-administração ou má-fé prejudicar seus 
herdeiros necessários não respeitando a legítima, caberá a redução do testamento; 
o testamento não é anulado, é apenas enxugado. O testador pode prever onde 
deverá ser feita a redução (§ 2º do 1.967); caso contrário a lei determina a redução 
primeiro nas heranças e depois nos legados (§ 1º do 1.967). O herdeiro sofre a 
redução antes do legatário pois herda a título universal, cabendo ao herdeiro só o 
que sobrar do espólio depois de satisfeitos os credores do extinto, a legítima dos 
herdeiros necessários e os legados. 
 
 Esses cálculos são feitos pela Justiça através de um perito contador, mas só 
após a morte do hereditando face ao pacta corvina do art. 426. Havendo acordo 
entre os herdeiros, essa redução se faz dentro do inventário, porém surgindo litígio 
a ação de redução correrá em processo próprio, visando reconhecer a parte 
excessiva para reintegrá-la à legítima. 
 
 
44 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
 Doação inoficiosa: se mesmo reduzindo o testamento a legítima continuar 
desrespeitada, anulam-se as doações inoficiosas, pois o testador em vida não pode 
doar mais da metade dos seus bens (art. 549). Se o fizer, as doações mais recentes 
devem ser anuladas. Ressalto que o testador pode vender todos os seus bens, 
mas não pode doar, afinal a venda é uma troca de coisa por dinheiro, já a doação 
implica em perda. O valor dos bens deve ser considerado ao tempo do contrato, e 
não ao tempo da morte, de modo que se o doador empobrece posteriormente, 
válida terá sido a doação. 
 
 A doação e o testamento são assim ineficazes na parte excedente, só que na 
doação se apura o excesso no momento do contrato, enquanto no testamento 
quando morre o hereditando. 
 
 Como se vê, não dá para burlar o direito à legítima dos herdeiros 
necessários. O testador pode até determinar os bens que devem constituir a 
legítima, mas sem reduzi-la. 
 Revogação do testamento 
 
 É característica do testamento a sua revogabilidade como vimos na aula 7, 
face ao princípio da autonomia da vontade e da liberdade do Direito Civil, onde o 
particular pode dispor de seus bens com grande autonomia (1.858). O testamento 
novo revoga o anterior. Não se revoga testamento por escritura pública, codicilo, 
declaração perante o juiz, etc. Só um testamento revoga outro, da mesma espécie 
ou não (1.969). 
 
 Espécies de revogação: 
 a) expressa: o testamento novo expressamente revoga o anterior; 
 b) tácita: o testamento novo tem disposições incompatíveis com o velho, 
prevalecendo o mais recente, e onde não houver incompatibilidade subsiste 
também o velho (pú do 1.970). Se o segundo testamento for anulado, o primeiro 
 
45 
TEIXEIRA DE FREITAS-BA 
2016 
subsiste (1.971, in fine). A alienação da coisa legada implica em revogação tácita e 
parcial do testamento (1.916). 
 
Obs. 
 Só não se revoga testamento na parte que reconhecer um filho (1.610). 
 Numa lei, num contrato, um artigo/cláusula inconsistente não anula a lei toda 
ou o pacto todo; igualmente num testamento uma cláusula nula não invalida o 
testamento todo. 
 A abertura do testamento ordinário cerrado implica em revogação (1.972), 
mesmo que feita por terceira pessoa, afinal é um risco que se assume ao optar por 
essa espécie de testamento, que deve permanecer secreto enquanto o testador for 
vivo. 
 
 Rompimento do testamento 
 
 O rompimento é uma revogação presumida pela lei, e independe da 
manifestação do testador. Ocorre quando o testador tem um filho ou adota alguém 
após testar (1.973). Ocorre também se o testador desconhecia a existência de um 
filho (1.974). Presume a lei que o surgimento de um filho novo faria o testador 
mudar radicalmente o testamento, por isso ele fica automaticamente revogado. 
 
 Testamenteiro 
 
 Não confundam testamenteiro com inventariante; este é nomeado pelo Juiz 
para administrar o espólio em toda sucessão, seja legítima ou testamentária (art. 
990, CPC). Já o testamenteiro é pessoa física nomeada pelo falecido apenas na 
sucessão testamentária, em testamento ou codicilo, para fazer cumprir o 
testamento (1.976). O testamenteiro é um fiscal fiel do testamento,

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