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História dos povos indígenas e afro descendentes Aula 07

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Aula 7 - Mestiçagem como saída? 
Introdução 
Na última aula vimos que o cientificismo deu o tom das discussões sobre raça e formação social no 
Brasil durante os últimos anos do século XIX e os primeiros anos do século XX. 
No entanto, é importante ressaltar que, neste período, alguns intelectuais apresentaram 
interpretações distintas sobre a presença negra e a herança africana no pais. Entre eles, Manoel 
Bomfim merece destaque. 
Objetivos 
Avaliar parte da trajetória do Modernismo Brasileiro e como ele reelaborou a mestiçagem do Brasil; 
Reconhecer parte dos debates travados entre intelectuais culturalistas e estruturalistas, no que diz 
respeito à mestiçagem do Brasil; 
Refletir sobre a construção e a desconstrução do mito da Democracia Racial Brasileira. 
Um pouco sobre Manoel Bomfim 
Médico e educador, em 1905, Bomfim publicou um estudo no qual desvinculava o atraso do Brasil 
(e do restante da América Latina) à ideia de inferioridade racial. 
Embora fizesse uso de termos médicos e científicos, o autor propôs uma leitura sociológica da 
pretensa inferioridade do Brasil em relação aos países desenvolvidos da Europa. Era a primeira vez 
que a "incivilidade" brasileira não passava por questões relacionadas à diversidade racial que 
compunha o país. 
De tal forma, Bomfim não só defendia a miscigenação brasileira, como desacreditava na 
inferioridade das raças e assegurava que o Brasil só conseguiria mudar os rumos de sua história 
caso fizesse uma revolução baseada na universalização da educação. 
 
Apesar de ser um homem respeitado no quadro intelectual brasileiro (tendo ocupado cargos 
importantes no Rio de Janeiro), sobretudo no que diz respeito à educação nacional, as ideias de 
Bomfim se depararam com um forte critico: Silvio Romero. 
Ainda em 1905, Silvio Romero publicou um livro com o mesmo titulo do estudo de Manoel Bomfim, 
no qual refutava todos os argumentos apresentados pelo médico. 
A notoriedade e a forte influência de Silvio Romero acabaram encerrando um debate no mínimo 
interessante sobre as interpretações da história brasileira, deixando a perspectiva de Manoel 
Bomfim esquecida por muitos anos (AGUIAR, 2000). Seus argumentos e sua perspectiva só foram 
retomados por outros cientistas sociais décadas depois. 
Ainda nos anos de 1920 e 1930, despontou no cenário intelectual brasileiro um médico baiano que 
se dedicou, entre outros assuntos, a estudar a questão racial ou cultural do Brasil. 
Arthur Ramos de Pereira Araújo nasceu em Alagoas no ano de 1903, estudou medicina na Bahia e, 
com 23 anos, se fez médico ao defender a tese intitulada Primitivo e Loucura — obra que recebeu 
elogios de importantes especialistas no assunto, como Sigmund Freud e Levi-Brhul. 
Desde cedo Arthur Ramos estreitou suas relações com a intelectualidade internacional e, durante a 
década de 1920, lecionou em diferentes universidades estadunidenses. 
Defensor ferrenho da Antropologia Participativa e utilizando inúmeros recursos metodológicos da 
psicologia e psiquiatria, Ramos atuou em diferentes áreas das ciências humanas, consagrando-se 
como um grande estudioso da cultura brasileira. 
 
No que diz respeito à questão do negro no Brasil, Arthur Ramos não só trouxe importantes 
contribuições, como também chamou atenção para a desigualdade socioeconômica vivida por este 
setor da população brasileira. 
Segundo Luitgarde Barros, ao repudiar qualquer tipo de explicação biologizante dos 
comportamentos sociais, Arthur Ramos fez uma análise critica da obra de Nina Rodrigues, ao 
mesmo tempo em que foi seu principal divulgador. 
Em 1934, um ano após Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, Ramos publicou O Negro no 
Brasil (1940). Nele, o autor demonstrou a grande importância do negro na formação da sociedade 
brasileira, dando especial relevo à mestiçagem e ao sincretismo religioso. 
Gilberto Freyre 
Ainda na década de 1930, contemporâneo de Arthur Ramos, despontou no cenário intelectual 
brasileiro o pernambucano Gilberto Freyre, com uma abordagem diferenciada sobre a história do 
Brasil, sobretudo no que diz respeito às relações raciais. 
Falar sobre Gilberto Freyre e Casa Grande e Senzala é uma tarefa no mínimo polêmica. Sua obra 
teve um impacto tremendo nas ciências sociais brasileiras e durante muitos anos foi tomada como 
a interpretação mais completa sobre as relações raciais no país. 
Por isso, seguindo a estrutura que permeia esse estudo, é fundamental compreender ao menos 
dois lados de Gilberto Freyre: 
 
Filho de importante família da aristocracia rural pernambucana, o escritor concluiu seus estudos na 
Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos. Lá entrou em 
contato com novas perspectivas analíticas das ciências sociais, principalmente com os estudos da 
Antropologia Cultural de Franz Boas, que defendia a ideia da igualdade racial. 
À forma menos determinista de compreender os processos sociais, Freyre adicionou as histórias 
que ouvira quando menino e uma dose cavalar de fontes documentais pouco exploradas até então. 
O resultado disso foi uma análise da sociedade e da história brasileira feita pelo e para o Brasil. 
Dito de outra forma, Freyre introduziu uma ideia de civilização genuinamente nacional, na qual as 
ascendências indígena e africana compartilhavam com a europeia o protagonismo na trajetória 
brasileira. 
Publicado em 1933, Casa Grande e Senzala não só rompeu com o discurso racialista reinante nas 
ciências sociais brasileiras, como também apontou um novo olhar sobre o país. 
Uma das premissas básicas de Freyre dizia que a formação brasileira era um processo resultante do 
equilíbrio de antagonismos, fossem eles econômicos, sociais, políticos e até mesmo geográficos 
(FREYRE, 1933, p.116). 
Todavia, Freyre frisou que o maior e mais profundo antagonismo do Brasil era o existente entre 
escravos e senhores. Vê-se logo, que a escolha do título Casa Grande e Senzala não foi aleatória. 
É possível afirmar também que a grande inovação de Gilberto Freyre residiu, justamente, no exame 
equilibrado dos dois extremos da sociedade brasileira. Era a primeira vez que um estudo analisava 
as contribuições dos escravos negros e, consequentemente, das heranças africanas no Brasil - na 
mesma chave utilizada para falar de brancos e indígenas. 
Junto com essa nova abordagem, a forma por meio da qual Freyre construiu sua análise também o 
distanciava dos cientistas sociais da época. Escrito de forma ensaística, com uma narrativa que 
muitas vezes se confunde com romances do século XIX, Casa Grande e Senzala é um verdadeiro 
inventário da vida íntima brasileira. 
Segundo o autor, o Brasil nascera da tecnologia indígena empregada na produção da mandioca, do 
leite das amas negras que alimentaram os meninos das famílias patriarcais, das experiências sexuais 
desses mesmos meninos com as mulatas do país. 
A intimidade brasileira estava impregnada pela mestiçagem e isso não fazia o Brasil menos 
civilizado do que os países europeus. Na realidade, a mestiçagem era a brasilidade. 
Longe de esgotar as possibilidades de interpretação da polêmica obra clássica de Gilberto Freyre - o 
que seria uma tarefa hercúlea -, é importante pontuar o impacto que Casa Grande e Senzala trouxe 
para o cenário intelectual brasileiro. 
Se por um lado Nina Rodrigues foi o primeiro intelectual a fazer um estudo sistêmico da presença 
africana no Brasil, Freyre foi o primeiro que apresentou essa herança africana de forma positiva e 
em profundo diálogo com as demais esferas formativas do país. 
Ainda que a análise de Freyre guarde um tanto de ineditismo e inovação para o período em que foi 
publicada, por todas as razões levantadas a pouco, é preciso salientar que, mesmo recuperando de 
forma positiva a herança africana e o elemento negro, Gilberto Freyre determina muito bem oslocais sociais e políticos dos atores da história brasileira. Uma vez mais, é forçoso lembrar que a 
escolha pelo titulo não foi aleatória: aos senhores, cabia a casa grande; aos escravos, a senzala. A 
harmonia residia, justamente, nesta dicotomia. 
Ao privilegiar a noção de harmonia, a narrativa freyriana acabou suavizando a violência inerente 
das relações de gênero e sociais características da história brasileira que pautaram a vida de 
grande parte das mulheres negras e/ou escravas. 
Na realidade, as críticas ao modelo de análise freyriana são inúmeras. É possível reler toda a obra 
do autor e rediscutir os pontos por ele levantados. Todavia, o cerne da crítica reside, justamente, na 
noção de que o Brasil seria composto por um equilíbrio de antagonismos que pende para a 
harmonia. Como bem apontado por Renato Ortiz, a ideologia do sincretismo de Freyre, bem como a 
ideia do Brasil como um "cadinho das três raças", retira todas as contradições e toda a violência que 
marcaram a trajetória social brasileira desde os tempos coloniais (ORTIZ, 1989, p.94-95). 
A construção de uma interpretação na qual a sociedade brasileira não apresenta muitos conflitos, e 
que as relações dos diferentes sujeitos históricos estava pautada em uma harmonia fundante das 
relações sociais, permitiu a leitura de que o Brasil estava desprovido de racismo. A maior prova 
disso seria a mestiçagem: característica maior da sociedade brasileira. 
Intencionalmente ou não, o exame de Freyre ofereceu os dados necessários para a construção da 
ideologia da Democracia Racial. 
Democracia Racial 
Esta ideologia serviu muito bem aos interesses políticos do governo getulista (marcado pelo 
nacionalismo e pelo populismo), que, embora difundisse a ideia do Brasil como um país desprovido 
de discriminação racial, deixava muito claro que cada raça tinha um lugar determinado a ocupar na 
sociedade brasileira. Só assim, a harmonia defendida por Freyre continuaria "reinando". 
O modelo de análise de Gilberto Freyre foi bem recebido em grande parte do círculo intelectual 
brasileiro e internacional. Muitos cientistas sociais estrangeiros, sobretudo estadunidenses, 
passaram a usar o Brasil como padrão positivo de relações raciais, e realizaram estudos de caso a 
fim de comprovar a existência do que seria um "paraíso racial". 
Projeto UNESCO 
Os horrores da Segunda Guerra também chamaram a atenção para a problemática do racismo em 
escala mundial. Na década de 1950, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e 
a Cultura (UNESCO) patrocinou um conjunto de pesquisas sobre as relações raciais no Brasil. 
Conforme sugerido antes, a origem deste projeto estava associada à agenda antirracista formulada 
pela UNESCO no final dos anos 1940, sob o impacto do Holocausto. 
A aparente harmonia racial no Brasil fazia do país uma espécie de "laboratório vivo". De tal modo, 
os objetivos do Projeto UNESCO era determinar os fatores econômicos, sociais, políticos, culturais e 
psicológicos que favoreciam ou não a existência de relações harmoniosas entre raças e grupos 
étnicos. 
Para tanto, jovens cientistas sociais brasileiros e estrangeiros se incumbiram de analisar a 
significativa mobilidade e integração do negro na sociedade brasileira (GUIMARÃES, 2004). 
Antônio Sérgio Guimarães pontuou duas grandes contribuições deste Projeto para os estudos das 
questões raciais no Brasil: 
 
Parte dos estudos patrocinados pelo Projeto UNESCO comprovou a inexistência da Democracia 
Racial no Brasil. No entanto, os trabalhos feitos na década de 1970 realizaram importante critica a 
tais estudos, ao mostrar que os fatores econômicos que protagonizavam as análises não eram 
suficientes para responder as razões que levariam à discriminação racial no Brasil. 
Dito de outra forma, os estudos que se iniciaram na década de 1970 afirmavam que a raça (como 
construção social) era, sim, um fator de distinção na sociedade brasileira; o pertencimento a 
determinada classe não dava conta de explicar o racismo no Brasil. 
Florestan Fernandes 
Inúmeros trabalhos ligados ao Projeto UNESCO apontaram que o Mito da Democracia Racial era 
infundado. Um dos estudos mais importantes neste período foi feito por Florestan Fernandes. 
Em A integração do Negro na sociedade de Classes (1964), Florestan analisou os meios pelos quais 
parte da população negra da cidade de São Paulo integrou-se à sociedade capitalista. 
Ao trabalhar com inúmeros estudos de caso, o sociólogo mostrou que a maior parte dos homens e 
mulheres egressos do cativeiro teve uma modesta inserção na sociedade capitalista graças à cor da 
sua pele e à evidente preferência dos patrões por funcionários brancos. 
Oracy Nogueira 
No campo da antropologia culturalista, destacou-se o trabalho pioneiro e inovador de Oracy 
Nogueira grande seguidor dos ensinamentos de Pierson. 
Em certa medida é possível afirmar que Nogueira ampliou os estudos de seu professor, ao 
questionar as conclusões de Pierson sobre a inexistência do racismo tatu senso, no Brasil. Se o 
professor norte-americano negou a discriminação racial em detrimento da discriminação 
socioeconômica, é possível afirmar que Oracy Nogueira demonstrou que os dois sistemas 
discriminatórios conviviam no Brasil. 
Grosso modo, as conclusões de Oracy Nogueira apontavam que negros e mestiços compunham a 
grande maioria da população que exercia atividades subalternas, enquanto os brancos ocupavam 
lugar de destaque. 
De acordo com o próprio autor: 
"cor branca facilita a ascensão social, porém, não a garante, por si mesma; de outro lado, a cor 
escura implica antes numa preterição social que numa exclusão incondicional de seu portador " 
(NOGUEIRA, 1998). 
Observa-se, então, que, segundo as pesquisas de Oracy Nogueira, a cor da pele tinha forte 
influência no desempenho socioeconômico dos indivíduos. 
Ao se desvencilhar da comparação com o modelo de relações raciais dos Estados Unidos, Oracy 
conseguiu desenvolver dois conceitos-chave das relações raciais no Brasil: o preconceito racial de 
marca e o preconceito racial de origem. 
Ainda que os dois trabalhos apontados tenham seguido métodos analíticos distintos, ambos foram 
eficazes em apontar que a harmonia das três raças brasileiras era uma farsa. 
Embora o negro tenha sido o principal objeto de análise dos trabalhos citados (é necessário frisar 
que Florestan Fernandes fez importantes trabalhos sobre povos indígenas do Brasil, como os 
Tupinambás), a desconstrução do mito da democracia racial, ou do "cadinho das três raças", 
permitiu que novas questões fossem colocadas na agenda de debates da sociedade brasileira. 
Os movimentos sociais incorporaram parte do debate acadêmico e passaram a fazer novas 
exigências para o estado de um país que, sabidamente, estava longe de ser um paraíso racial. 
 
Resumo do conteúdo 
 Os movimentos vanguardistas do Modernismo no Brasil foram fundamentais na construção 
de uma identidade brasileira que passa a ver a mestiçagem a partir de uma chave positiva; 
 O contexto histórico que permitiu a formação do Mito da Democracia Racial; 
 As críticas feitas ao Mito da Democracia Racial. 
 
Próximos passos 
 Identificação de como o conhecimento da fauna, da flora e até mesmo as táticas de guerra 
indígena, foi crucial para a fixação do colonizador; 
 Avaliação da política e da legislação indigenista brasileira, analisando a atuação de órgãos 
como o Serviço de Proteção aos Índios (SNI) e a Fundação Nacional do Índio (FUNAI). 
 
 
 
 
	Aula 7 - Mestiçagem como saída?
	Introdução
	Objetivos
	Resumo do conteúdo
	Próximos passos

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