Buscar

TEORIA da história - vico

Prévia do material em texto

Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia
Disciplina: Tópicos de Teoria da História
Docente: Humberto Fonseca
Discente: Iolanda Almeida Matos
As concepções da história de Vico, abordando seus principais aspectos, como história ideal eterna, corso e ricorso, providência divina.
 
 Sua linguagem barroca pode as vezes assustar o mais entusiasta leitor, sem sombras de dúvida, esse foi um dos motivos pelos quais seu nome e sua obra não foram tão difundidos pelo mundo, mas mesmo assim, quem se atreve a entender um pouco mais sobre esse italiano, mesmo que seja através de outros autores, não se arrependem. Vico, em pleno século XVIII, formulou os pensamentos elementares das ciências humanas que surgiriam apenas no século seguinte, fascinando diversos estudiosos que ao conhecerem sua obra não conseguem desvincula-la dos pensamentos mais refinados de intelectuais como Hegel, Marx, Nietzsche, Comte, Freud e Lévi-Strauss, que beberam abundantemente do cálice de Vico, sendo difícil para alguns iniciados não julgarem esses intelectuais como plagiadores já que muitos deles se quer mencionam Vico.
 Para entender a complexidade do pensamento de nosso autor, é interessante começarmos a partir do que ele classifica como “Princípios universais eternos”, ou seja, todas as sociedades por mais primitivas que fossem, possuíam uma religião, enterravam seus mortos e celebravam casamentos, e já que esses três quesitos são comuns a toda sociedade, nosso autor defende a ideia de que princípios universais eternos existem, e por existir é possível entender todas as histórias das nações.
 Essas sociedades primitivas só foram possíveis porque Deus, através da providência divina, teria ensinado aos primeiros homens a se organizarem em sociedade, ensinando-os a importância de firmarem casamentos monogâmicos, ensinando-os a escolherem os melhores terrenos para formarem as primeiras cidades, e assim por diante, segundo essa perspectiva, a atividade humana juntamente com a providência divina teria possibilitado a vida em sociedade.
 Por mais que a providência divina esteja sempre dando uma “mãozinha” à humanidade; foi o homem quem inventou a sociedade civil, e sabendo disso, Vico acredita ser possível entender o homem, suas ideias, explorando o território onde nascem as linguagens, os mitos e as instituições humanas. 
 E ao analisa-la, tendo em vista esses pressupostos, ele começa desvincular a história de sua linearidade, não recorrendo a circularidade, pura e simples, mas sim, entendendo-a como uma espécie de “eterno retorno”. Nem em linha, nem em círculo, mas no que ele denomina de “corso e ricorso”, a história se dividiria em três fases: (1) a história dos deuses, (2) a história dos heróis, (3) e a história dos homens, embora possa lembrar um certo evolucionismo, Vico não permite uma aristocracia entre essas idades, cada uma, em seu próprio tempo tem as suas especificidades e a sua importância, cada grilhão dessa história, tem o mesmo valor, e juntos formam um espiral.
 A linguagem dessas sociedades mudavam juntamente com essas idades, inicialmente o homem sentia as coisas ao seu redor com maior impacto, e essa sentimentalidade impossibilitava uma maior sofisticação intelectual, esse primeiros gigantes teriam pensado através de onomatopeias, ele ouviam um barulho de um raio que parecia falar a palavra Zeus, e então acreditavam que aquele raio representava Zeus, depois apareceram os pronomes, e os homens começam a dar parte de si para a natureza, surgindo assim as metáforas, como o pé da montanha, o braço do rio e assim por diante. E por último o verbo, que representava o ápice da linguagem, devido seu grau de abstração.
 Não pense com isso, que as idades que não dominavam as abstrações ou que não tivessem a sofisticação intelectual que temos hoje, fossem inferiores as demais, de maneira alguma, dentro do tempo e do espaço cada idade alcançara seu máximo, e toda vez que uma idade começava, ela herdava o máximo da anterior e começava a produzir o seu próprio mundo, sua nova linguagem, seus próprios costumes, que não seriam o que eram, se sua antecessora não tivesse sido o que foi.
 A poesia, a fantasia da primeira idade, vai se perdendo ao longo do caminho, por conta da reflexão que o homem vai acumulando ao longo da jornada, ele começa a entender a si mesmo, as coisas que criou e o mundo que vive; o ápice dessa reflexão marca o momento de transição, e reinicia a próxima volta na espiral. Esse “último” homem entrou num grau de intelectualidade tão grande, que reconhecendo e entendendo tudo o que ele criou, inflam-se de tamanha soberba e egoísmo, que passam a negar a providência divina, e preocupar-se apenas com a sua individualidade, renunciando a sociedade de tal maneira que voltará a barbárie, mas não a barbárie primitiva, e sim um segundo tipo; mais bárbara que a selvagem.
 Depois dessa breve síntese do que seria a providência divina, o corso e recorso, e a história ideal eterna, poderíamos tentar entender como os grandes pensadores adotaram essas ideias nas mais diversas ciências sociais que surgiriam no século XIX. Pretendemos dessa maneira, não apenas demostrar sobre quais circunstancias ressuscitaram Vico, mas também entender a partir da lógica desses autores a complexidade e sofisticação do pensamento viquiano.
 Antes de Hegel, Durkheim e Webber tentar criar uma ciência voltada exclusivamente a sociedade e a cultura, Vico no século XVIII, antecedera esse projeto com seu princípio do verum ipsum factum, isso é, a primeira separação das ciências humanas das naturais. Segundo esse italiano, o homem só poderia conhecer plenamente aquilo que ele havia criado; essa ideia se tivesse tomado maiores proporções na época em que Vico vivera, seria um verdadeiro “banho de água fria” pra Descartes e seu método. Afinal, o que Vico estava dizendo, era que embora, o homem tentasse de todas as maneiras conhecer e dominar a natureza e o cosmo, isso jamais aconteceria com plenitude, o único conhecimento pleno que a humanidade poderia ter, seria apenas com as coisas que o próprio homem inventou.
 Nasce assim, no século XVIII e não no XIX, o primeiro esboço de um protótipo das ciências sociais. Ao analisarmos mais profundamente a obra de Vico, notaremos que suas ideias foram adotadas, reformuladas e complementadas, por muitos outros pensadores posteriores. É o que percebemos por exemplo, com a ideia que Marx tem de uma superestrutura dependente da infraestrutura. Vico acreditava que a cultura de um dado povo não fosse da maneira que fosse, apenas por condições ambientais, mas sim, pela interação da consciência com o seu meio social e natural, contudo diferente de Marx, Vico não acreditava que a ideologia daquele povo fosse apenas o reflexo de seu modo de produção.
 Vico novamente antecipa dois grandes pensadores, Hegel e Comte, quando Vico introduz a “corso e recorso”, é possível perceber as semelhanças com a ideia de “transcendência por supressão” de Hegel, ambos acreditam que as diversas sociedades ao passarem pelo contínuo processo de início, meio e fim, fazendo mais uma volta na espiral e consequentemente retornando ao início, a cultura dessas sociedades não chegaria ao fim, pelo contrário seria acumulativa. Ou seja, as leis naturais que tange a vida útil de uma sociedade não é aplicada na cultura, o que quero dizer, é que por mais que o império romano tenha entrado em declínio, a sua cultura mesmo que modificada permanece até os dias de hoje. 
 Já as semelhanças com o pensamento de Comte, se dão pelas concepções de idade que ambos defendem, enquanto Vico introduz a ideia das idades dos deuses, dos heróis e dos homens; Comte adota e a ressignifica chamando-a de teológica, metafísica e positiva; o grande contraste entre os dois, são os juízos de valores que Comte imputa a suas idades, para ele o processo é evolutivo, do simples ao complexo. Ele não entende, que uma dada sociedade deve ser analisada dentro de seu próprio tempo e espaço, se isso acontecesse não haveria lugar para uma hierarquiadentro das idades, tal como ele prega.
 Embora, a escola dos Annales tenha recebido os créditos de serem os primeiros a fazerem dos mitos, fontes históricas, Vico, quando trabalhava com a idade dos deuses e a filologia, já havia analisado essa possibilidade, seria estudando os mitos dos tempos antigos que entenderíamos os homens daquele período. Afinal, embora um mito conte a grosso modo uma história fantástica, um bom historiador, munido pela filologia conseguirá perceber que esse conto trás consigo pensamentos, ideias, achismos, percepções de mundo dos seus autores, daquela sociedade, daquele povo. 
 Esse apanhado geral das principais ideias de Vico, nos possibilitou nessa curta análise entender a importância que esse homem teve não apenas à historiografia, mas também às diversas ciências que surgiram no século XIX. Espero com isso, ter compreendido e conseguido repassar numa linguagem mais simplória, a complexidade de apenas algumas ideias desse italiano.

Continue navegando