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Teoria da H
istória
Código Logístico
58434
Fundação Biblioteca Nacional
ISBN 978-85-387-6259-1
9 788538 762591
É este o percurso que esta obra busca seguir: um caminho 
por intermédio daqueles que buscaram – entre os séculos 
XVIII e XX – definir e conceituar a história. São apresentados 
historiadores, filósofos, sociólogos, filólogos e teóricos políticos 
que, cada um à sua maneira, se propuseram a contemplar esse 
conhecimento milenar, por meio do qual se tenta inventariar 
os homens no tempo e entender seu significado, seu sentido e 
seu lugar.
Em tempos de dispersão e fragmentação da informação, 
no qual as pessoas mal conseguem se manifestar, opinar e 
refletir, o leitor é convidado a se desvencilhar do imediatismo 
e da hiperconectividade para conhecer as formas pelas quais 
a história foi contemplada, direcionando o olhar sobre o seu 
objeto de estudo e tentando compreender como ocorreu a sua 
construção.
Esta obra busca apresentar diferentes matizes e olhares 
atentos sobre a história, para que o leitor também possa, por 
intermédio deles, inspirado por eles ou até mesmo para superá-
-los, construir a sua própria concepção de história.
Teoria da História
IESDE BRASIL S/A
2019
Andréa Carneiro Lobo
Eucléia Gonçalves Santos
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
L782t Lobo, Andréa Carneiro
Teoria da história / Andréa Carneiro Lobo, Eucléia Gonçalves 
Santos. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE Brasil, 2019.
142 p.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-387-6259-1
1. Historiografia. 2. História - Filosofia. I. Santos, Eucléia 
Gonçalves. II. Título.
19-55980
CDD: 907.2
CDU: 930.1
© 2019 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor 
dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: gameover2012/Silmairel/DenKuvaiev/iStockphoto
Andréa Carneiro Lobo
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), especialista em 
Imagens, Linguagens e Ensino de História e graduada em História (Licenciatura e Bacharelado), 
também pela UFPR. Possui experiência em ensino de História, Metodologia Científica e Filosofia 
para alunos de graduação em Direito e História, com ênfase em história do pensamento ocidental, 
atuando especialmente na análise do pensamento filosófico contemporâneo (Nietzsche, Benjamin, 
Foucault, Deleuze) e teoria da história. É autora de livros didáticos nas áreas de história, filosofia, 
política e arte.
Eucléia Gonçalves Santos
Doutora e mestre em História pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e graduada 
em História pelas Faculdades Integradas Católicas de Palmas (Facipal). Tem experiência de en-
sino de História para alunos de cursos de graduação, especificamente em História da Educação, 
Patrimônio Histórico e História Regional, História do Direito e História da Comunicação. Realiza 
pesquisas nas áreas de história das ciências, história do Brasil e história contemporânea, com ên-
fase em história intelectual. Atua principalmente nos seguintes temas de pesquisa: história da edu-
cação no Brasil, história intelectual, construção da nação, raça e identidade nacional, trajetórias e 
biografias intelectuais, interpretações do Brasil.
Sumário
Apresentação 7
1 O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 9
1.1 O conceito de história em Vico 9
1.2 Herder: a história como o espaço da formação do espírito do povo 14
2 Filosofias da história no século XIX 23
2.1 A razão na história em Hegel 23
2.2 O materialismo histórico em Marx e Engels 28
2.3 A necessária relação entre a história e a vida em Nietzsche 31
3 A construção da disciplina histórica no pensamento oitocentista 37
3.1 Ranke, a Alemanha e a construção do método histórico 37
3.2 Michelet e a história como narrativa da nação 43
3.3 Burckhardt e as possibilidades de uma História Cultural 45
4 A Escola dos Annales e a ideia de história-problema 53
4.1 O entreguerras e a desconstrução das “certezas” do século XIX 54
4.2 A Revista Annales e a proposta de uma História Econômica e Social 55
4.3 A história como problema: inovações metodológicas e epistemológicas 58
4.4 Marc Bloch: Apologia da história 64
5 A Escola de Frankfurt e a concepção de história como redenção 69
5.1 O Instituto de Pesquisa Social e a Alemanha entreguerras 69
5.2 Teoria crítica: conceito 73
5.3 A ideia de história como redenção em Walter Benjamin 77
6 A Nova Esquerda Inglesa e a concepção de uma história vista de baixo 85
6.1 O contexto da Guerra Fria e a emergência do revisionismo marxista 87
6.2 Nova Esquerda Inglesa: contexto, conceitos e expoentes 92
6.3 E. P. Thompson e a ideia de uma “história vista de baixo” 96
7 A História Cultural e a Nova História Cultural 103
7.1 A trajetória dos estudos em História Cultural 103
7.2 A História Cultural no bojo dos estudos da Escola dos Annales 107
7.3 A Nova História Cultural: Roger Chartier, Lynn Hunt e Jacques Revel 109
8 História e poder: abordagens contemporâneas 117
8.1 A história e o pensamento político 118
8.2 Os intelectuais e o poder 122
8.3 História intelectual e história do pensamento político: novas abordagens 126
Gabarito 135
Apresentação
A origem do termo teoria está vinculada à palavra grega theoreîn cujo significado seria: 
“olhar através de”. Em sua obra Ética a Nicômaco, o filósofo Aristóteles (384-322 a.C.) relacionava 
a teoria a uma bem-aventurança: a arte da contemplação, de olhar com atenção. O filósofo opunha 
o conhecimento teorético ao prático, afirmando que o primeiro era desinteressado e especulativo. 
Teorizar pode ser entendido, então, como o ato de olhar com atenção para “algo”, buscando, no 
plano racional e cognitivo, criar conceitos que expressem o que esse algo é.
É este o percurso que buscaremos seguir nesta obra: um caminho por intermédio daqueles 
que buscaram – entre os séculos XVIII e XX – definir e conceituar a história. Você será apresentado 
a historiadores, filósofos, sociólogos, filólogos e teóricos políticos que, cada um à sua maneira, se 
propuseram a contemplar esse conhecimento milenar, por meio do qual se tenta inventariar os 
homens no tempo e entender seu significado, seu sentido e seu lugar.
Em tempos de dispersão e fragmentação da informação, no qual mal conseguimos 
nos manifestar, opinar e refletir, convidamos você a se desvencilhar do imediatismo e da 
hiperconectividade para conhecer as formas pelas quais a história foi contemplada, direcionando o 
olhar sobre o seu objeto de estudo e tentando ver como ocorreu a sua construção.
Você perceberá que antes mesmo de a história se constituir como uma ciência, ela era uma 
forma de conceber a existência e a ação humana no tempo, ainda que dispersa em textos de literatos, 
estudiosos da arte, filósofos e eruditos. Notará, igualmente, que a história-conhecimento também 
tem uma trajetória repleta de diferentes definições. 
Este saber, que em seu processo de institucionalização (ainda no século XIX) ocupou-se em 
inventariar o Estado-nação, narrou o que acreditava ser “o” passado e sofreu mudanças no século 
XX. Visto sob o viés da cultura, o saber histórico buscou entender como os homens representam e 
significam o vivido, o imaginado e o criado. Esse mesmo saber, visto sob um viés social, se interessou 
pelas camadas populares, evidenciando um olhar de “baixo para cima” para tornar possível uma 
“história vista de baixo”. Houve, ainda, quem enfatizasse as relações/disputas de poder e as formas 
de opressão do presente para dar visibilidade e voz aos oprimidos do passado, com o objetivo de 
mudar os rumos de uma tradição de opressão e criar possibilidades de emancipação e redenção.
A história é um constructo linguístico, um discursoque manifesta o devir, fluxo intermitente 
dos acontecimentos relacionados ao percurso humano no tempo. Esse discurso não apresenta uma 
tonalidade única: ele se expressa por meio de diferentes olhares, com diferentes matizes, sem que 
nenhum deles possa ser considerado “o verdadeiro olhar” sobre a história. A escrita forjada por 
esse saber é também histórica, pois o conjunto de fenômenos que compõe cada época a influencia. 
O que buscamos aqui é apresentar a você alguns desses matizes e olhares atentos sobre a 
história, para que você também possa, por intermédio deles, inspirado por eles ou até mesmo para 
superá-los, construir a sua própria concepção de história.
Boa leitura!
1
O século XVIII e a história, 
entre o Iluminismo e o Romantismo
A partir de agora, iniciamos nosso percurso acerca do pensamento sobre a história na 
modernidade, partindo do século XVIII até o século XX.
Neste primeiro capítulo, abordamos a forma que a história, como conhecimento, tornou-se 
objeto de interesse e discussão entre teóricos e filósofos do século XVIII, passando a adquirir um 
contorno próprio e, aos poucos, diferenciando-se da filosofia e das ciências naturais.
Esse tipo de conhecimento – o qual até então encontrava-se disperso entre textos de 
epistemologia e teoria da ciência – atraiu o interesse de filósofos ligados a dois movimentos 
diferentes no século XVIII: o Romantismo e o Iluminismo. Os textos escritos por esses teóricos, 
sobre a história, se inserem em um contexto de tentativa de compreensão do homem, do 
conhecimento e do tempo, contexto esse permeado por uma noção de temporalidade linear e 
progressiva, a qual, segundo acreditavam os adeptos da ciência moderna, levaria ao progresso.
Inicialmente, vamos conhecer a compreensão a respeito da história oriunda do pensamento 
romântico, partindo de um filósofo cujo pensamento é tido, ao mesmo tempo, como expoente e 
crítico do Iluminismo, e precursor do Romantismo: o italiano Giambattista Vico (1668-1744).
Na sequência, abordamos como se desenvolveu uma filosofia da história permeada pela 
ideia de que a história local – relativa ao modo como cada povo se desenvolve no tempo – é a 
chave para ter acesso à alma do povo, em oposição a uma ideia iluminista de história, mediante a 
análise do pensamento de Johann Herder (1744-1803). O objetivo é conceber, na atualização do 
pensamento acerca da história no século XVIII, as raízes da concepção moderna de história.
1.1 O conceito de história em Vico
Giambattista Vico nasceu em Nápoles, filho de um modesto livreiro, fator que, desde 
muito cedo, lhe proporcionou o contato com as letras e os autores. Tendo aprendido letras e 
estudos clássicos com preceptores jesuítas, estudou os filósofos antigos (entre os quais, Platão e 
os epicuristas) e contemporâneos. Atuou como tutor de filhos de famílias nobres e graduou-se 
Doutor em Lei Canônica e Civil na Universidade de Nápoles, instituição na qual ocuparia a cadeira 
de Professor de Retórica até o fim da sua vida (JOANILHO, 2004).
Tendo frequentado tanto os círculos de estudos do pensamento epicurista antigo quanto 
os do pensamento cartesiano moderno, por volta de 1695 viveu a perseguição que essas ideias 
sofriam no contexto da inquisição católica – ainda muito forte e presente ao fim do século XVII 
na Itália –, e acabou se afastando do cartesianismo. Por outro lado, nesse mesmo período, Nápoles 
vivia uma espécie de pequeno renascimento cultural, o qual ficou conhecido como Risorgimento, 
caracterizado por um intenso debate literário-filosófico-científico (JOANILHO, 2004).
Teoria da História10
Ao assumir a cadeira de Retórica, em 1699, passou a sistematizar as suas primeiras obras, 
em sua maioria, escritas com base nos discursos que preparava para se dirigir aos alunos no início 
de cada ano escolar. No entanto, sua principal e definitiva obra é Ciência Nova, publicada pela 
primeira vez em 1725, e que depois de mais duas revisões, foi publicada em sua terceira versão no 
ano de sua morte, 1744 (JOANILHO, 2004).
Uma das principais ideias de Vico presente nessa obra e que o tornou precursor de um 
método histórico para uma história cultural – o qual seria posteriormente aperfeiçoado por 
historiadores como o francês Jules Michelet (1798-1874) e o suíço Jacob Burckhardt (1818-1897) 
– é a percepção que ele trouxe para a filosofia, de que os homens estão imersos na sua época e 
contexto social, disso dependendo suas aptidões, habilidades, instituições, engenhos e linguagem 
(JOANILHO, 2004).
Permeado pelos debates filosóficos e acadêmicos de sua própria época, em sua obra Ciência 
Nova mostra-se ciente das questões filosóficas de seu tempo – principalmente, do debate entre 
os partidários de uma “antiga ciência” e os defensores de uma “nova ciência” (estes, imbuídos 
dos preceitos trazidos pelo cartesianismo) – e se posiciona frente a tais debates, expressando-se 
favorável à valorização de determinados campos da pesquisa científica que, em sua opinião, estavam 
sendo oprimidos e sufocados pela expansão do pensamento cartesiano (JOANILHO, 2004).
No centro da “querela dos antigos e modernos”, situava-se mais próximo à defesa da 
superioridade dos modernos sobre os antigos. Para ele, estes eram “a juventude do mundo” 
(MATEUS, 2013), enquanto aqueles dispunham, além do conhecimento acumulado de tempos 
anteriores, ferramentas totalmente novas para se apropriar desse conhecimento (JOANILHO, 
2004).
Para os defensores de um saber dito “moderno”, entre eles o dramaturgo francês Bernard 
de Fontenelle (1657-1757), os antigos – sobretudo gregos e latinos – e seus saberes constituíram a 
infância do conhecimento. Mas, uma vez que ele muda conforme o tempo passa e é cumulativo, 
tende a adquirir uma feição cada vez mais aperfeiçoada, fato que se comprovava mediante a 
constatação das inovações técnicas e dos avanços científicos daquele contexto – Europa de fins do 
século XVIII (JOANILHO, 2004).
Essa percepção de um “tempo que passa”, encontrava-se, ela também, influenciada pela 
expansão de uma inovação técnica desses anos de transição do século XVII para o XVIII: a difusão 
do relógio mecânico com pêndulo e ponteiro para a visualização da passagem dos minutos. 
A impressão de uma maior precisão na contagem do tempo intensificou a percepção de que ele 
fluía intermitentemente, assim como as ações humanas (JOANILHO, 2004). À noção de 
conhecimento cumulativo se coadunava a noção de progresso, presente, por exemplo, nos 
postulados de uma “filosofia da História”, manifesta no pensamento de Francis Bacon (1561-1626).
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 11
A Figura 1 mostra um exemplo desse tipo de relógio.
Na querela entre antigos e modernos, podemos afirmar que Vico 
se aproxima mais dos que defendem a ciência moderna, mas entende o 
conhecimento da sua época como “melhor” não porque representaria a 
acumulação de conhecimentos anteriores ou porque a sua época seria melhor 
do que as demais: pelo contrário, para Vico, cada época tem seus próprios 
valores, especificidades e saberes. Contudo, ele entende o conhecimento de 
seu tempo como melhor por ser permeado por uma perspectiva mais racional 
se comparado a épocas anteriores (JOANILHO, 2004).
Ainda acerca da forma como concebia o conhecimento, vale destacar 
que Vico perseguia uma ideia de “conhecimento total”, ou, segundo Joanilho 
(2004, p. 73), aquilo que o filósofo Michel Foucault chamava de mathêsis1, um 
conhecimento sem interrupções, que passaria e abrangeria as várias ciências, 
vindo da matemática, passando pela filosofia, medicina, astronomia e assim 
seguiria seu fluxo, como se a ideia fosse o caminho a ser percorrido e os 
diferentes saberes, os vários percursos ao longo desse caminho (JOANILHO, 
2004). A chave que daria acesso a um desses saberes possibilitaria o acesso a 
todos os outros.
O ponto crucial a partir do qual esse conhecimento total poderia ser 
acessado, a “chave mestra”, era a linguagem. O núcleo de sua teoria sobre atotalidade do conhecimento era, portanto, a palavra, pois, por meio dela e do 
estudo sobre os nomes que as civilizações dão às coisas e às ideias (a filologia) 
é que se pode conhecer a história.
Para Vico, a verdade é o conhecimento das causas. E o homem só consegue conhecer 
verdadeiramente – ou seja, conhecer por meio das causas – aquilo que ele mesmo produziu e 
criou. Não é possível ao homem ter acesso ao conhecimento verdadeiro da física ou da natureza 
por intermédio de suas causas, pois não se tratam de criações humanas. Já a matemática, que é 
uma invenção humana, é possível de se constituir em objeto de conhecimento. Assim como a 
matemática, as artes, a literatura e a história eram possíveis de serem conhecidas, por se tratarem 
de criações humanas.
Dentre os saberes criados pelos homens, a história estaria em um grau mais elevado 
porque, para conhecê-la, necessitamos de um conhecimento a mais: a imaginação. Por meio dessa 
faculdade, aquele que se dedica à história poderia perscrutar o porquê das ações humanas, suas 
motivações e intenções. Ou seja: por meio da história, se poderia chegar às causas que fariam dos 
homens aquilo que eles são, uma possibilidade de conhecimento verdadeiro (por intermédio das 
causas) acerca da condição humana (JOANILHO, 2004).
1 O termo e sua interpretação nos são apresentados por Foucault na obra As Palavras e as Coisas. Para saber mais, 
consulte: FOUCAULT, Michel. As Palavras e as Coisas. São Paulo: Martins Fontes, 1981.
Ed
na
M
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Figura 1 – Relógio de pêndulo 
antigo, usado no interior de 
residências
A descoberta do relógio de 
pêndulo pelo físico holandês 
Christiaan Huygens (1629-1695) 
em 1656 permitiu uma maior 
precisão na contagem do tempo.
Teoria da História12
Embora o homem desconheça a causa do seu próprio ser – porque ele também não cria 
a si mesmo –, ele pode, por meio da história (valendo-se da razão, mas também da imaginação) 
conhecer as intenções de suas ações, aproximando-se, assim, da possiblidade de entender o sentido 
da sua existência.
Vico entende o conhecimento por meio da história como o conhecimento verum est factum 
(o verdadeiro é feito), ou seja, o verdadeiro é o feito, são as ações; essa seria a única maneira de se 
conhecer aquilo que somos (ou que nos tornamos). De outros saberes – como a física e a astronomia, 
que se voltam para objetos naturais e não criados pelo homem –, só podemos ter um tipo de 
conhecimento, que Vico denominou como certum. Em outras palavras, desses conhecimentos 
podemos ter apenas algumas certezas, mas não atingir a verdade sobre eles, porque desconhecemos 
suas causas (JOANILHO, 2004).
Mas voltemos à compreensão que Vico manifestava sobre o conhecimento histórico e porque 
ela foi tão original em sua época. Segundo ele, ao se buscar entender a condição humana por meio 
da história, seria possível constatar que essa existência fora caracterizada por três grandes eras: a 
Era dos Deuses, a Era dos Heróis e a Era dos Homens. Ele chegou a essa constatação com base em 
um estudo minucioso de obras literárias e filosóficas da Antiguidade, exercício que demandou um 
profundo conhecimento da linguagem e dos seus significados em diferentes épocas. De acordo 
com ele, por meio da linguagem (criação humana) pode-se inferir o que pensavam os homens em 
cada época, suas perspectivas acerca do mundo e suas ações.
Sua teoria sobre as “eras” era também a demonstração empírica de seu argumento, segundo 
o qual pode-se conhecer as causas sobre a existência humana por meio do estudo da linguagem e 
da história.
Joanilho (2004, p. 78) sintetiza cada uma dessas fases e suas características:
A primeira começa logo após o dilúvio, quando os homens se espalham 
pelo mundo e acabam perdendo sua humanidade. Vivendo como animais, 
se aterrorizam com os trovões e tempestades e atribuem esses fatos às 
manifestações das divindades. Buscam lugares altos e protegidos, estabelecendo-
-se e deixando de ser nômades. Não há leis e impera os mais fortes. Os mais fracos 
buscam auxílio e proteção com estes, tornam-se servos e inicia-se a segunda 
era, a dos heróis. Os servos, por sua vez, entram em conflito com os senhores, 
que se tornaram aristocratas e reivindicam leis e igualdade. Com a concessão 
de direitos, os plebeus se aproximam dos nobres e surgem as democracias ou 
repúblicas populares, iniciando-se a idade dos homens.
A essência humana é uma só, mas se manifestou de maneira diversa em cada uma dessas 
fases, ou seja, a cada uma dessas “eras”, os homens apresentaram um tipo de natureza diferente, 
a saber: poética, criativa ou divina; heroica; e uma natureza humana, na terceira fase. Barros 
(2010, p. 39) assim descreve a esse respeito:
A cada uma dessas idades corresponde uma natureza humana diversa, ou seja, 
diferentes características humanas. A primeira natureza é “poética”, “criativa” 
ou “divina”, por que a imaginação, exercendo um papel predominante, cria uma 
visão religiosa do mundo que afeta todas as instituições sociais. Os homens 
vivem sob o domínio dos sacerdotes e de suas interpretações da vontade 
dos deuses. A segunda fase é “heroica”, por que reconhece e honra a Força, o 
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 13
Valor e o Heroísmo, fazendo destes princípios as bases dos estatutos sociais, 
econômicos, legais e políticos. É a era da fundação das cidades, das conquistas 
marítimas e das guerras heroicas, como a Guerra de Tróia. A terceira natureza 
é “humana”, por que os homens já possuem a capacidade de raciocinar sobre as 
coisas e compreender sua verdadeira natureza. Surgem então os legisladores tais 
como Moisés, Zoroastro e Hermes Trimegistro.
Vico deduziu essas três naturezas humanas a partir do modo como os seres humanos em 
cada época expressaram, por meio da linguagem, seu modo de pensar, de ser, de estar no mundo e 
de compreendê-lo também.
Na era dos deuses, a escrita era hieroglífica e perpassada principalmente pelo temor que 
os homens tinham em relação aos deuses. Por esse motivo, ela era essencialmente metafórica e 
poética, e se manifestava, inclusive, nos textos legais do período. Já na era dos heróis, a linguagem 
adquire um caráter narrativo, épico, demonstrando uma certa consciência dos homens em relação 
a si mesmos e ao universo, embora os tempos ainda fossem de violência e de horror. Os textos 
expressam essa violência, manifestando a crise das leis poéticas da era anterior – as leis passam a 
ser mais duras, pois são deturpadas para legitimar a dominação da aristocracia sobre os plebeus.
A partir das lutas desses últimos por maiores direitos e participação política, se desenvolvem 
governos mais participativos (as repúblicas) nos quais as leis, mais brandas e justas, manifestam, 
em uma linguagem permeada pela racionalidade e equilíbrio, um maior conhecimento do homem 
sobre si mesmo (JOANILHO, 2004).
O problema é que ao atingir certa estabilidade a partir dessa era, os homens tendem a se 
perder nos excessos, no luxo, na vaidade, na luxúria, colocando a perder tudo o que conquistaram, 
recaindo ciclicamente em um nova era de barbárie, da qual só conseguem sair à medida que 
aprendem com seus erros e sofrimentos. O pensamento do filósofo italiano manifesta, assim, uma 
compreensão de história não necessariamente cíclica, mas espiral. Lembremos que Vico desenvolve 
seu raciocínio em uma época na qual a ideia de progresso e de tempo linear ainda está em gestação, 
o que posiciona o seu pensamento entre uma ideia cíclica e uma ideia linear de temporalidade, uma 
espécie de meio-termo.
Mas, se a condição humana tem uma essência que é mais ou menos comum, e que se apresenta 
em diferentes naturezas e fases, para onde caminha a espiral da história humana? Segundo Joanilho 
(2004), para Vico, é em direção a Deus que caminham os homens. A história humana é a realização 
da vontade divina, para a qual os homens de fato se encaminham – ainda que não tenham total 
conhecimento disso. A história é o caminho do desconhecimentopara o conhecimento, do errado 
para o certo e do finito para o infinito, processo no qual, por meio dos acontecimentos, é despertada 
a consciência dos homens sobre seu sentido no tempo, conforme destaca Joanilho (2004, p. 84):
Para Vico, a história não é idealista. O intelecto não a apreende abstratamente, 
mas de modo imanente, ou seja, vivendo-a no tempo. A partir dessas formulações 
podemos compreender que o homem tomou para si o tempo. Ele é o soberano 
da sua própria história e a Providência é a fonte de inspiração, por isso aquela é 
processual. Uma longa cadeia de acontecimentos que despertam a consciência 
no ser de sua existência.
Teoria da História14
Em outras palavras, para Vico, a história não é algo que tenha fim, mas o fim manifesta-se em 
seu próprio processo: ela é a trajetória dos homens em busca de si mesmos, de seu autoconhecimento 
e aperfeiçoamento ao longo do tempo.
A seguir, vamos ver como o pensamento de outro filósofo, que viveu no século XVIII, 
também se debruçou sobre o sentido e a finalidade da história, contudo, de modo distinto ao 
de Vico.
1.2 Herder: a história como o espaço da 
formação do espírito do povo
Dentre aqueles que se dedicaram a pensar a história no século XVIII, o filósofo Johann 
Herder foi o que mais teve influência sobre o conceito de história que se consolidaria no século 
seguinte, influenciando também na construção moderna de noções como povo, cultura e Estado.
Ainda que originais sob vários aspectos, suas ideias sobre história e povo encontram-se 
situadas em um contexto intelectual mais amplo, surgido na Alemanha do século XVIII, e que 
se estendeu para as primeiras décadas do século XIX, conhecido como Romantismo. Por isso, 
antes mesmo de tentarmos compreender o pensamento de Herder acerca da história, é necessário 
“mergulharmos” no mundo obscuro, denso e forte da estética e do pensamento romântico.
1.2.1 O (primeiro) Romantismo alemão
Observe com atenção a obra de Caspar David Friedrich (1774-1840), pintor envolvido com 
o movimento romântico alemão.
Figura 2 – Nascer da Lua no Mar, de Caspar David Friedrich (1822).
W
ik
im
ed
ia
 C
om
m
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s
Fonte: FRIEDRICH, Caspar David. Nascer da Lua no Mar. Óleo sobre tela: 55 x 71 cm. Nationalgalerie, Berlim.
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 15
Note que os personagens representados estão de costas para nós, expectadores, e que se 
encontram absortos contemplando o nascer da lua no horizonte, enquanto embarcações deslizam 
em meio ao mar calmo, permeado por tonalidades escuras de azul, verde e cinza. Na cena 
representada, os elementos naturais (céu, pedras, mar, terra) ocupam um espaço muito maior que 
os seres humanos (em primeiro plano) e as coisas materiais por eles criadas (os barcos), mostrando 
a pequenez da condição humana diante da natureza.
Note também que a intenção de Friedrich não foi que o expectador do seu quadro 
vislumbrasse o nascer da Lua: o artista parece querer que a atenção se volte para a contemplação e 
a perplexidade dos personagens do seu quadro diante do nascer da Lua. É como se ele quisesse que 
nós víssemos o deslumbramento daquelas três pessoas diante da natureza. Elas estão em silêncio, 
parecem interiorizadas, ensimesmadas, pensativas, e esse estado de interiorização é provocado 
pela observação atenta, silenciosa e respeitosa da imensidão e do poder da natureza circundante.
Temos em uma única obra alguns dos elementos mais representativos do Romantismo: 
o apelo à interiorização e à imaginação; a evocação à atitude contemplativa; a valorização da 
natureza (especialmente do seu lado mais obscuro, noturno, silencioso, quase sombrio); o desprezo 
à técnica, à vida urbana e ao progresso, e a evocação ao lado espiritual, imaginativo, do ser humano 
em oposição à razão. Esses elementos se manifestaram entre os expoentes do Romantismo, 
sobretudo do chamado “Primeiro Romantismo”, surgido na Alemanha do final do século XVIII, 
tanto nas artes plásticas quanto na literatura, na filosofia e no pensamento acerca da história.
Sobre o “Primeiro Romantismo” alemão, podemos afirmar que surgiu no bojo do 
pensamento de filósofos como Johann Gottlieb Fichte (1762-1814) e Immanuel Kant (1724-1804), 
sobretudo nas brechas abertas pelo chamado “criticismo kantiano” e ao questionamento acerca dos 
limites da razão, em um ambiente intelectual ainda bastante influenciado pelo Iluminismo.
No interior do sistema filosófico kantiano, suas “três críticas” – como ficou conhecido o 
conjunto formado pelas obras Crítica da Razão Pura, de 1781; Crítica da Razão Prática, de 1788, e 
Crítica do Juízo (1791) – chamaram a atenção para as possibilidades e, sobretudo, para os limites 
da razão, apontando que suas faculdades fazem mais perguntas do que essa mesma razão é capaz 
de responder (SOUZA, 2017).
Sua teoria sobre o sujeito transcendental propôs que o sujeito (e não o objeto) é o centro em 
torno do qual gravita o conhecimento. Para o filósofo, esse mesmo conhecimento diz muito mais 
sobre aquele que conhece do que propriamente sobre o objeto. O sistema kantiano representou um 
abalo significativo na tradição filosófica – principalmente em um determinado ramo da filosofia 
conhecido como metafísica – ao indicar que a razão é incapaz de dar conta de questões essenciais 
da existência humana.
Ainda que Kant possa ser considerado um expoente do pensamento iluminista, 
principalmente em virtude de seu manifesto “Resposta à pergunta: que é o esclarecimento” (1783), 
suas ideias abriram caminho para algumas das principais críticas ao pensamento iluminista, 
conforme destaca Souza (2017, p. 2-3):
Teoria da História16
O sistema filosófico proposto por Kant através das três críticas provocou uma 
verdadeira mudança de perspectiva na filosofia. O sujeito transcendental passa 
a ser o centro das investigações filosóficas, não mais o objeto. Uma das grandes 
questões que atravessa a filosofia kantiana é uma questão epistemológica: O que 
é possível conhecer através da razão? A resposta a essa questão epistemológica se 
encontra na esfera ontológica: o homem é habitado por uma razão que não lhe 
fornece instrumentos suficientes para responder a todas as perguntas, ou seja, a 
capacidade de questionar é infinitamente superior à capacidade de responder. Ao 
problematizar os limites da razão, Kant acaba por evidenciar a insuficiência da 
razão para solucionar as questões metafísicas que permeiam a existência humana. 
O sistema filosófico kantiano anuncia, de certa forma, o fim do iluminismo. 
O movimento iluminista, que se inicia em França e se espalha pela Europa no 
século XVIII, tinha a razão como o motor do progresso humano, um progresso 
conquistado por uma via positivista e, de certa forma, mecanicista.
Admirador e continuador do trabalho iniciado por Kant, Fichte buscou no interior do 
sistema filosófico kantiano (sobretudo em suas “três críticas”) um elemento comum que permeasse 
o criticismo e que pudesse servir de base para uma “filosofia científica” kantiana. Esse elemento 
sólido, que perpassaria todo o sistema kantiano e se tornaria a base do pensamento fichteano, é 
aquilo que Fichte chamou de “Eu”, isto é, ato originário que fundamenta toda filosofia (SOUZA, 
2017).
Em suma, esses dois postulados – a certeza de que há limites para o que a razão consegue 
conhecer; o “Eu” é algo que não pode ser totalmente conhecido e compreendido, mas constitui a 
referência filosófica originária – acabaram se constituindo como os instrumentos por meio dos 
quais o movimento romântico – se contrapondo às pretensões iluministas assentadas sobre o 
domínio da razão – propôs novas bases para pensar o conhecimento filosófico, científico, as artes, 
a literatura e a história.
Em suas origens, portanto, o Primeiro Romantismo alemão emergiu, por um lado, como 
uma reação ao Iluminismo, mas, ao mesmo tempo, não teria sido possível sem ele. Foi também 
antecedido – e influenciado – por um outro movimento igualmente surgido na Alemanha: o Sturm 
und Drang(Tempestade e ímpeto)2.
Em busca de uma definição do Romantismo, nos valemos das palavras de Baumer (1977, p. 23):
Na verdade, o Movimento Romântico foi tanto uma revolução como uma contra- 
-revolução [sic]. De fato, pode considerar-se como o primeiro grande protesto 
contra o “mundo moderno”, isto é, a civilização científico-racional que começara 
a formar-se no século XVII, e que assumira grandes proporções no século XVIII.
Ainda sobre o Romantismo, assim se refere Baumer (1977, p. 26):
Que era, essencialmente, o Romantismo? É mais fácil dizer o que não era ou 
a que se opunham os românticos europeus. John Stuart Mill, que não era um 
2 Movimento literário nascido na Alemanha cujo nome foi inspirado na peça homônima do dramaturgo Friedrich Klinger 
(1752-1831), estreada em 1776. Uma das principais características do movimento era a crítica à influência da cultura 
francesa na cultura literária alemã. Seus expoentes eram escritores que se propunham a resgatar aspectos literários locais 
(ligados ao folclore nacional alemão), e da poesia homérica e bíblica, contra o Classicismo e aquilo que denominaram 
como preciosismo da métrica, e combater a influência francesa na cultura alemã. Acreditavam que a criação poética, mais 
do que uma criação racional, deveria ser originada do impulso irracional. Dentre seus principais expoentes, destacaram-se 
Johann von Goethe (1749-1832), amigo de Klinger, Friedrich Schiller (1759-1805) e Jacob Lenz (1751-1792).
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 17
romântico mas um observador atento e simpatizante, pôs o seu dedo infalível 
no que os românticos não gostavam. O romantismo, afirmou ele num ensaio 
sobre Armand Carrel (1837), representavam uma reacção “contra a estreiteza do 
século XVIII”. (...) Os românticos consideravam esse mundo demasiado estreito, 
por causa de sua devoção, segundo julgavam, ao pensamento geométrico e à 
aliada doutrina do neoclacissismo, ou ainda ao empirismo lockeano. O espírito 
geométrico, embora metafisicamente posto de parte, tentava sujeitar toda a vida 
à razão, e assim mecanizá-la e humilhá-la. O Neoclacissismo, desejando, do 
mesmo modo, procurar modelos ideais da natureza, impunha regras universais 
e rígidas à arte e aos artistas. O Empirismo melindrava pela razão oposta, porque 
era demasiado céptico e limitava terrivelmente o conhecimento humano ao 
mundo das aparências.
No campo estético, podemos afirmar que o Romantismo foi uma reação à tendência 
neoclássica (surgida por volta de 1750) e que buscava resgatar preceitos relacionados à arte 
da Antiguidade Clássica Greco-Romana. No campo das ideias, principalmente o Primeiro 
Romantismo, manifestou-se como um ataque ao ideal de homem e de conhecimento racional 
proposto pelo Iluminismo, evocando, no homem, sua condição espiritual, irracional, sobrenatural 
e sua busca pelo eterno no infinito, sendo que esse infinito pode ser perscrutado no próprio interior 
do homem.
Mergulhado em suas próprias profundezas, o homem do Romantismo busca, ainda, a 
reconciliação com a natureza circundante, e com sua própria natureza, por meio da atitude 
intuitiva, contemplativa e imaginativa. A revista alemã Athenäeum, lançada pelos irmãos August e 
Friedrich Schlegdel, pode ser considerada um dos epicentros a partir do qual as ideias românticas 
se expandiram, afetando outros literatos e filósofos, entre eles, o poeta Georg Philipp Friedrich 
von Hardenberg (chamado de Novalis); o poeta e filósofo Friedrich von Schiller e o dramaturgo 
Ludwig Tieck. Na filosofia, destacaram-se os nomes de Friedrich Daniel Ernst Schleiermacher e 
Friedrich Wilhelm Joseph von Schelling. Na música, os destaques foram Ludwig van Beethoven e 
Johannes Brahms.
Vejamos, agora, de que forma o pensamento do filósofo e escritor alemão Johann Herder, 
influenciado por preceitos do Primeiro Romantismo, manifesta um entendimento acerca da 
história permeado pela noção de história como processo por meio do qual se forma o espírito de 
um povo, isto é, um processo em que cada povo se forma e se torna único no tempo e no espaço.
1.2.2 A ideia de história em Herder
“Cada nação e também cada época [...] tem em si o centro de sua 
felicidade, tal como cada esfera tem o seu centro de gravidade”. 
(HERDER apud BAUMER, 1977, p. 52)
Johann Gottfried Herder (1744-1803) nasceu em Morag, atual Polônia, e faleceu em Weimar, 
na Alemanha. De família humilde, estudou filosofia, teologia e literatura em Königsberg, onde 
teve contato com o filósofo iluminista Immanuel Kant (1724-1804), do qual foi por um tempo 
discípulo, vindo a discordar, posteriormente, da ideia kantiana de história. Foi ordenado pastor 
protestante e mudou-se para Riga, onde atuou como pregador e professor. Foi nestes primeiros anos 
de magistério que publicou sua primeira obra importante: Fragmentos sobre uma nova literatura 
Teoria da História18
alemã, de 1767, com apenas 23 anos de idade. Nela, defende a originalidade da literatura alemã 
em sua procedência popular e rechaça a influência da literatura francesa.
Em 1769, após uma viagem até a França – onde teve contato com Jean-Jacques Rousseau 
(1712-1778) e com os enciclopedistas –, escreveu uma das principais obras inspiradoras do 
movimento Sturm und Drang, a saber, Fragmentos, suas Silvas Críticas, na qual exalta a arte nacional, 
o individualismo e o sentimento. Publicaria ainda outras obras relativas à origem da língua alemã 
em 1772, e, entre 1778 e 1779, As Vozes dos Povos em Cantos, na qual arrola ao lado de seus próprios 
poemas, textos de Homero, de Goethe, de livros da Bíblia e alguns poemas populares, denotando a 
influência do classicismo em seu pensamento e também a tentativa de evocar e valorizar a literatura 
e a língua como expressões de identidade dos povos.
As obras que nos interessam mais diretamente são dois ensaios nos quais escreve sobre a 
história: Também uma Filosofia da História para a Formação da Humanidade, de 1774, e Ideias 
para uma Filosofia da História, escrita entre 1784-1791, essa última inacabada. Abordamos, agora 
a ideia de história que se deslinda nesses dois livros de Herder e como se constituiu uma das bases 
teóricas do historicismo.
Segundo Baumer (1977), as teorizações de escritores românticos como Herder, encontram-
se inseridas em um projeto maior, relativo à forma como concebiam o indivíduo, a sociedade e 
as relações desta última com o Estado. Por isso, não é incomum encontrarmos poetas, filósofos 
e historiadores românticos envolvidos com textos que serviriam de inspiração para diferentes 
correntes políticas, desde o socialismo, passando pelo anarquismo e pelo nacionalismo, embora 
eles não tenham necessariamente pretendido isso.
Dentre as ideias manifestadas por esses autores, está o conceito de organismo social, segundo 
o qual, o Estado formaria (ou deveria formar) um conjunto orgânico e uma unidade moral 
relativamente à sociedade que representa. Essa ideia aparecia como uma possiblidade de reação 
ao eventual caos ocasionado pelos movimentos revolucionários instigados pelas ideias iluministas, 
que traziam consigo, segundo esses mesmos pensadores, a dissolução dos laços por meio dos quais 
os indivíduos tinham consciência de si, de sua origem e de seu lugar. Tal concepção ficou marcada, 
também, pela crítica desferida aos pensadores iluministas, que, em sua apologia à razão, pareciam 
ignorar os problemas sociais (BAUMER, 1977).
Os românticos alemães (especialmente Herder e Fichte), em suas formulações sobre ciência 
política, atacavam a forma “geométrica” pela qual os iluministas concebiam o Estado e propunham, 
em vez disso, uma ciência política assentada em uma “base biológica”. Segundo esses pensadores, os 
Estados, em seu processo de constituição, seguiriam um ritmo que se assemelharia à constituição 
de outros elementos da natureza (como as árvores) e a história seria o processo por meio do qual 
essa coisa orgânica (o Estado) se formaria, ao longo do tempo. Desse modo, os Estados seriam 
formações históricasda natureza (BAUMER, 1977).
É importante considerar que o modo como esses estudiosos compreendiam o Estado está 
associado ao conceito de povo ou nação, frisando-se, também, que a própria ideia de povo como 
elemento constitutivo do Estado é uma ideia romântica, mais especificamente do romantismo 
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 19
alemão. Ao termo volk (povo), Herder acrescentou a palavra geist (espírito, alma), originando-se 
dessa junção volksgeist (alma do povo).
Essa ideia de povo ou nação como base constitutiva do Estado – formando com ele um 
único organismo social – não invalidava a forte defesa do individualismo, característica constante 
do pensamento desses teóricos românticos. A nação não anulava o indivíduo, mas era ela também 
concebida como um grande indivíduo, algo único em relação às demais nações. Existiria, portanto, 
uma “individualidade”, uma unicidade das nações, a qual se expressaria, segundo Herder, na alma 
de cada povo, por meio da sua linguagem, literatura e religião (BAUMER, 1977).
Essa “alma” e seus aspectos constitutivos se formariam ao longo do tempo, sendo a história o 
estudo capaz de inventariar os povos no tempo. Tal ideia se desenvolveu em Herder, quando ainda 
na juventude empreendeu a viagem de Riga, na Letônia, até a França. A experiência resultou na obra 
Fragmentos da Literatura Alemã (1767) e trouxe a certeza de que cada lugar carrega as peculiaridades 
de sua gente, e que, assim como a natureza, cada volk expressa a diversidade da existência humana.
Notemos que, segundo Baumer, para Herder a origem do Estado não é um contrato – como 
defendia, por exemplo, o filósofo político inglês John Locke (1632-1704) –, e sim, o povo, um 
organismo vivo, dinâmico, que nasce, cresce e se desenvolve no tempo. Sendo um organismo 
vivo, cada povo tinha direito a ser o que era, isto é, não ser dominado e nem controlado por 
nenhum outro povo. Por isso, Herder defendia uma espécie de “direitos culturais” (o termo cultura 
ainda não era empregado nessa época) de todos os povos, especificamente o povo alemão3.
O jeito único de cada povo, sua “alma” ou “espírito”, se desenvolveria no tempo, desde o 
passado até o presente, e o estudo que permitiria acompanhar e inventariar esse desenvolvimento 
seria a história. Vemos que a noção romântica de história destoa e, até mesmo, se opõe ao 
pensamento iluminista acerca da história. Isso pode ser percebido, sobretudo no texto de Kant, 
Ideia de uma História Universal de um Ponto de Vista Cosmopolita, de 1784.
No texto em questão, Kant trata de um desenvolvimento histórico universal e cosmopolita 
da razão no sentido do seu progresso, projetando esse desenvolvimento de um estágio menos 
desenvolvido, quase selvagem no passado, para um aprimoramento ascendente a se realizar no 
futuro. Enquanto iluministas, como Kant, concebem no futuro a direção para a qual caminham os 
homens; românticos, como Herder, se voltam para o passado, concebendo em tempos pretéritos 
a origem daquilo que faz com que cada povo seja único. A Herder interessa menos o caráter 
cosmopolita e universal da razão e mais o aspecto único e diferenciado de cada volk, manifestado 
em seu volksgeist.
Essa quase devoção dos românticos – em especial, de Herder – ao passado se justificava 
também em virtude de uma crítica aos filósofos iluministas, os quais, segundo Herder e Jules Michelet 
(historiador francês que vamos conhecer no Capítulo 3), haviam submetido a história à filosofia, o 
passado ao futuro e, em nome da razão, realizado uma fenda abrupta entre presente e passado.
3 É importante lembrar, no entanto, que a Alemanha não formava, naquele contexto (fim do século XVIII), um Estado 
unificado, mas vários Estados independentes, vários territórios limítrofes habitados por pessoas que tinham, em sua 
maioria, uma mesma origem étnica e eram falantes de uma mesma língua. Dentre esses Estados, o maior, mais forte 
militarmente, era o Estado prussiano.
Teoria da História20
A empatia romântica da história está contida, de facto na concepção orgânica 
da sociedade. [...] Os românticos, vivendo numa época de rápidas mudanças, 
viram a loucura de cortar completamente com o passado, de acreditar mais na 
razão nua do que na história. Aprenderam a venerar os seus antepassados mais 
do que a lamentá-los, a ver, na noção histórica, uma sociedade com a qual se 
podiam identificar mesmo enquanto crescia. (BAUMER, 1977, p. 51)
Em virtude de seus posicionamentos no que tange ao passado e à história, Herder é 
considerado por teóricos como Baumer (1977) um dos precursores e até mesmo fundadores do 
historicismo, tendência a partir da qual o pensamento europeu passou a conceber a dinâmica das 
sociedades como algo que tem uma origem em um passado e se realiza ao longo do tempo, e 
que pode ser compreendida à luz do estudo dos vestígios deixados no espaço por essas mesmas 
sociedades.
Herder, por exemplo, buscava entender a trajetória do povo alemão, seu “fazer-se” no tempo, 
estudando reminiscências populares da literatura alemã. Entedia a história como uma espécie 
de luta entre forças espirituais para fazerem frente e resistirem diante de forças consideradas 
materiais, algo que o idealismo do filósofo alemão Georg Hegel (conforme veremos no Capítulo 2) 
desenvolveu plenamente.
Para compreender verdadeiramente uma outra época ou até mesmo um outro país em uma 
outra época, é necessário, afirmava Herder, mergulhar profundamente nele e “senti-lo dentro de 
nós” (HERDER apud BAUMER, 1977, p. 52). O filósofo e literato alemão, assim como demais 
teóricos românticos, via em todas as épocas passadas algo de bom e buscava reabilitá-las diante 
do presente, mas não se mostrava muito otimista em relação ao seu próprio tempo. Sua predileção 
pelo passado, em especial pela Idade Média, contrastava com o desprezo que nutria por sua própria 
época, permeada pela obsessão iluminista da razão e do progresso.
Finalmente, resta destacar que à noção de progresso iluminista como guia da trajetória 
da razão que ilumina o homem no tempo, Herder opôs a noção de humanität, presente em seu 
segundo e inacabado ensaio Ideias para uma Filosofia da História, escrito entre 1784 e 1791.
Por Humanität Herder entendia uma espécie de princípio de direção que conduzia cada 
povo através do tempo, uma meta, invisível e espiritual, à qual os povos, cada um à sua maneira, 
caminham. A função de uma filosofia da história seria, ao reconhecer esse princípio, educar a 
humanidade em direção a sua essência, que é permeada pela razão, mas também pela liberdade.
Humanität era um valor ou um princípio de direção, que cada cultura abordava 
do seu próprio modo especial, e talvez nunca perfeitamente realizável por 
qualquer cultura da Terra. Herder pensava ainda em termos de uma meta, e de 
progresso em direção a essa meta. (BAUMER, 1977, p. 55)
Assim compreende o ser, aquilo que cada povo é, como devir, um processo orientado por 
um sentido, que não é o progresso e sim o encontro com a própria essência humana, manifestada 
O século XVIII e a história, entre o Iluminismo e o Romantismo 21
de maneira diferente e colorida em cada povo. O devir é o desenvolvimento pleno daquilo que, 
de alguma forma, já existe em potencial em cada um de nós e, de maneira mais completa, no 
meio social em que nos encontramos inseridos. Aquilo que cada povo carrega dentro de si e que 
constitui, ao mesmo tempo, seu princípio originário e sua meta.
Pensemos agora: de que forma as ideias de Herder ressoam em nossos dias atuais? Em nossa 
própria época e sociedade? Estamos, de fato, a caminhar para a nossa essência, e é ela algo realizável?
Considerações finais
Neste primeiro capítulo, iniciamos nossa viagem na história do pensamento a respeito da 
história na Modernidade. A primeira parada foi na Itália dos séculos XVII e XVIII e na Alemanha 
do final do século XVIII. Nesses dois períodos e locais distintos, pudemos entrar em contato 
com dois teóricos que pensaram a história – a partirda linguagem e da literatura, e também da 
filosofia –, contribuindo, cada um a seu modo, para a renovação do pensamento sobre a história. 
Confrontamos o posicionamento romântico com a visão iluminista da história e pudemos perceber, 
nos postulados de pensadores românticos (notadamente em Herder), os preceitos que constituíram 
a base do moderno historicismo.
Ampliando seus conhecimentos
• BERLIN, Isaiah. As raízes do Romantismo. Trad. de Isa Mara Lando. São Paulo: Três Estrelas, 
2015.
O livro do filósofo alemão Isaiah Berlin (1909-1997) é fruto de seis conferências feitas 
por ele em 1965 na National Gallery of Art, de Washington, Estados Unidos. Apresentado 
pelo autor como uma “Introdução” ao movimento que, segundo ele, constituiu a maior 
mudança já provocada na consciência do Ocidente, o livro aborda alguns dos principais 
expoentes do pensamento e da arte romântica, tais como Herder, Fichte, Schelling, Blake 
e Byron, destacando a herança política, estética e intelectual do movimento, bem como 
sua contribuição ao desenvolvimento de valores hoje considerados fundamentais às 
democracias, como tolerância, liberdade e pluralismo de ideias.
• KIERKEGAARD na tela. Isaiah Berlin e o Romantismo alemão: em busca de uma definição. 
Vídeo 1. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=16b3z3R9yRA. Acesso em: 5 
fev. 2019.
No vídeo em questão, o professor de filosofia Jean Vargas comenta sobre o livro de Isaiah 
Berlin, As Raízes do Romantismo. O vídeo auxilia a entender o conteúdo do livro do 
filósofo alemão sobre o Romantismo.
Teoria da História22
Atividades
1. Escreva sobre o conceito de história em Vico e como esse conceito dialoga e se posiciona 
frente à querela entre os defensores da “Ciência Antiga” e os defensores da “Ciência Moderna” 
no final do século XVII.
2. Aponte e explique a diferença central entre a forma como o Iluminismo concebia a história 
e a sociedade e a forma como o pensamento romântico concebia esses temas.
3. Explique a concepção de Humanität de Herder e destaque em que sentido ela destoa e difere 
da noção de progresso do pensamento iluminista.
Referências
BARROS, Ivan Kowaleski Figueira de. A concepção de História em Giambattista Vico. 101 f. Dissertação 
(Mestrado em História) – Programa de História Social, Departamento de História, Universidade de São 
Paulo, São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-13102010-
145444/pt-br.php. Acesso em: 2 fev. 2019.
BAUMER, Franklin. O mundo romântico. In: BAUMER, Franklin. O pensamento europeu moderno. Os séculos 
XIX e XX. Lisboa: Edições 70, 1977. p. 23-57. v. 2.
JOANILHO, André Luiz. Vico: o tempo e a História. Mediações: revista de Ciências Sociais, Londrina, v. 9, 
n. 2, p. 67-84, 2004. Disponível em: http://www.uel.br/revistas/uel/index.php/mediacoes/article/view/9025. 
Acesso em: 31 jan. 2019.
MATEUS, Samuel. A querela dos Antigos e dos Modernos: um mapeamento de alguns topoi. Cultura [on-line], 
Lisboa, v. 29, p. 179-200, nov. 2013. Disponível em: https://journals.openedition.org/cultura/1124. Acesso em: 
21 fev. 2019.
SOUZA, Cláudia Franco. A filosofia do primeiro romantismo alemão: a questão do fragmento. Revista 
Simbiótica, Vitória, v. 4, n. 2, p. 1-10, jul./dez. 2017. Disponível em: http://periodicos.ufes.br/simbiotica/
article/view/19606/13142. Acesso em: 21 fev. 2019.
2
Filosofias da história no século XIX
Neste capítulo, vamos conhecer as principais filosofias do século XIX que influenciaram 
a construção do conhecimento sobre o passado. Considerando que o conhecimento histórico 
almejava, naquele século, tornar-se uma disciplina acadêmica, trata-se de um importante momento 
de influências e questionamentos sobre o que é a história, como se constitui o conhecimento 
histórico e qual a função da história para a sociedade.
Vamos ver como o filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) instaurou 
a razão na história e constituiu o conceito de história como devir. Depois, vamos analisar as 
contribuições de Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895) – as quais provocaram 
uma reviravolta no conceito de história como trajetória material do homem no mundo –, e como 
Friedrich Nietzsche (1844-1900) clamou por uma história a-histórica, de libertação do homem 
e de intensificação da vida.
Você já se perguntou qual é a importância da filosofia para a história? Já parou para pensar 
que as diferenças entre essas duas áreas nem sempre foram perceptíveis e, principalmente, já se 
questionou como se constitui um campo de conhecimento sobre o passado e as ações humanas 
no tempo? Será que o homem elabora suas ações primeiro mentalmente (nas ideias, na reflexão) 
e depois as realiza na prática? Ou é o mundo material e a vida prática que organizam nossos 
pensamentos, ideias e reflexões? Você já refletiu sobre a importância da memória e das lembranças 
para a nossa vida e para a vida da sociedade? Estas são as principais questões que buscamos analisar 
e debater ao longo deste capítulo, pois foram esses questionamentos que os filósofos do século XIX 
lançaram para o passado, isto é, a possibilidade das ações humanas no tempo se tornarem um 
objeto de estudo específico.
2.1 A razão na história em Hegel
Hegel foi um dos nomes mais influentes do pensamento ocidental do século XIX. Herdeiro 
de alguns aspectos do romantismo europeu, o filósofo superou diversos sistemas de pensamentos 
presentes no seu tempo. Suas teorias e ideias influenciaram toda uma geração. Havia, de um lado, 
os que defendiam a perspectiva hegeliana e, de outro, os que a atacavam. Mas o certo é que o 
desenvolvimento da filosofia, sobretudo na Alemanha do século XIX, não ficou indiferente às 
ideias do filósofo.
Interferindo em diversos campos do saber, particularmente em aspectos filosóficos, 
artísticos e religiosos, o conhecimento histórico também foi uma das preocupações hegelianas. 
O entendimento da vida – objeto de estudo da filosofia ocidental – passaria impreterivelmente, 
segundo Hegel, pela compreensão e pelo esclarecimento daquilo que coordenaria os acontecimentos 
históricos. Nesse sentido, Hegel buscava “uma mão” que guiaria o desenvolvimento dos fatos ao 
longo dos tempos.
Teoria da História24
Para o filósofo, a história “é o desenvolvimento do Espírito no Tempo, assim como a Natureza 
é o desenvolvimento da Ideia no Espaço” e “o propósito do Espírito é conhecer a si mesmo” 
(HARTMAN, 2001, p. 21). Para entendermos Hegel, é necessária a compreensão de três conceitos 
básicos da sua filosofia: ideia, natureza e espírito. Vamos abordar, a partir de agora, cada um deles.
Hegel não irá propor a existência de uma natureza dominante, mas de uma unidade cósmica 
do mundo, composta pela ideia (vontade de Deus) e pela natureza (manifestação da vontade de 
Deus no espaço). Essa unidade, contudo, é contraditória e manifesta-se de maneira dialética: 
o perfeito e o imperfeito; o racional e o irracional. A síntese dessas contradições se desenvolve no 
espírito. O espírito é o resultado da dialética, isto é, aquilo que, ao ser desafiado, permanece.
Toda a perspectiva filosófica hegeliana se situa na tentativa de demonstrar que o sentido 
da existência humana é o desenvolvimento do espírito, ou seja, da capacidade de identificarmos 
a contradição do mundo, de desafiarmos essa contradição e de testar as ideias. O espírito que se 
conscientiza da unidade contraditória que forma o mundo toma consciência de si mesmo e de 
sua própria natureza. Essa consciência se manifesta no tempo, assim como a ideia se manifesta 
no espaço e no espírito humano por meio do anseio de liberdade. O espírito humano busca a 
autoconsciência de si mesmo e de sua potencialidade; já a matéria, seu oposto, tem a sua substância 
fora de si. O espírito, assim, gira em torno de si mesmo.
Nesse sentido, o processo histórico seria o campo no qual esse processo se efetiva: a 
conscientização do espírito rumo a sua liberdade. É importante observar que, para Hegel, todo 
esse processo se realizano mundo das ideias. Trata-se do pensamento buscando a contradição e 
identificando a si mesmo, tomando forma e consciência no espírito.
Segundo a perspectiva hegeliana, a consciência se efetivaria no mundo das ideias, tomaria 
consciência de si e depois atuaria no mundo real. O processo ininterrupto de contradição e síntese 
guiaria os fatos históricos, sendo, com efeito, a “mão” que conduziria os acontecimentos ao longo 
dos tempos. Essa “mão” é a razão, a qual governa o mundo. A função da filosofia estaria, segundo 
Hegel (1997, p. 37), em “conceber o que é, porque o que é a razão”.
A razão, como tomada de consciência do espírito, guiaria as ações humanas que se 
desenvolveriam em uma temporalidade, em uma cronologia (de antes, de depois, de subsequente 
e de consequente). Para Hegel, esse elemento é fundante da realidade no pensamento. De acordo 
com Hartman (2001, p. 16), “as leis da lógica, como as da mente divina, são a Razão”. Assim, a 
conclusão que Hegel chegou é a de que “tudo que é real é racional e tudo que é racional é real” 
(HARTMAN, 2001, p. 16).
Para Hegel, tudo o que existe, só existe porque conseguimos pensar sobre sua existência. 
O pensar vem antes do existir. Assim, não há nada incognoscível para o pensamento: uma vez 
pensado, passa a existir. Deus existe na medida em que pensamos e construímos esta existência no 
nosso pensamento. Deus, portanto, é uma ideia que existe na medida em que pensamos e 
racionalizamos sobre ela. Em resumo, “o pensamento divino progride segundo suas próprias leis, 
que são as leis do mundo” (HARTMAN, 2001, p. 17), uma vez que são pensadas pelos homens.
 incognoscível: 
que não se pode 
conhecer pela razão 
e inteligência.
Filosofias da história no século XIX 25
Essas considerações são imprescindíveis para entendermos o que é história para Hegel e, 
principalmente, qual é a sua função naquele universo teórico. Importante observar que o filósofo 
afirma a possibilidade da progressão do pensamento divino, ou seja, há movimento e mudança, 
tendo em vista que o homem está na natureza e no tempo. Esse processo de mudança e de 
racionalização seria a base do processo histórico. As transformações das ideias no tempo sempre 
ocorrem no sentido de tomar cada vez mais consciência de si. Assim, Hegel inaugura a ideia de 
história como um movimento rumo à evolução, introduzindo uma noção de progresso.
O homem, situado em seu contexto imediato, observa e analisa os caminhos percorridos 
pela ideia até o momento presente. A história seria, como exemplificou Hartman (2001, p. 17), 
“a autodeterminação da ideia em progresso, o autodesenvolvimento do Espírito em Progresso”. 
O momento presente seria, portanto, a realização máxima (porém não absoluta) da consciência.
O homem, a natureza e a cronologia tornam a ideia compreensível e determinada a uma dada 
existência. A materialização da ideia, por sua vez, se processa em um determinado contexto social. 
Hartman (2001, p. 18) enfatiza que, “ao pensar cada vez mais sobre o mundo e, nesse processo, 
desenvolvendo cada vez mais sua consciência ele [o espírito do Homem] faz a Ideia, ou seja, o 
Próprio divino pensador, cada vez mais consciente de Si Mesmo”.
Como esse processo se efetiva ao longo das gerações, ou seja, no tempo – no antes, no 
agora e no devir –, e como os homens estão organizados em estados, agrupamentos e em nações, 
o processo que torna o homem consciente de si mesmo é o processo histórico. É na história que 
esse processo se realiza.
2.1.1 O Estado hegeliano e sua importância para a história
Uma das mais significativas alterações que o pensamento de Hegel proporcionou sobre o 
entendimento da história foi situar o processo histórico em uma realidade social (a nação, o Estado) 
e demonstrá-lo como um processo dinâmico (as gerações, a cronologia, o tempo). Além disso, 
o filósofo atribuiu ao devir histórico a formação de uma consciência de si mesmo e de seu entorno. 
Em linhas gerais, é no processo histórico que se observa o que é eterno, e é no ato de observar as 
mudanças que identificamos o que permanece. Nesse ponto, torna-se importante apresentar mais 
uma importante ideia hegeliana para o entendimento da história: a importância do Estado.
De acordo com o filósofo, o espírito se desenvolve, isto é, toma consciência de si, no tempo. 
Ele passa por diversos estágios até chegar a sua forma mais acabada, o Estado. Por que o Estado? 
Porque, segundo Hegel, o espírito humano é universal, ou seja, o espírito livre de um deve 
significar o espírito livre de todos. É por meio do Estado que a ação é realizada de acordo com 
uma vontade comum, racionalmente válida porque é universal, dotada de objetivos universais. 
O espírito do mundo, incorporado no povo, é o espírito do povo (o Estado). Ele existe em cada 
indivíduo. Como os indivíduos vivem em sociedades, o espírito do mundo passa a ser o princípio 
do povo, o espírito nacional, que é racional e universalmente válido. Esse espírito nacional deve 
estar acima de todo e qualquer interesse individual dos homens. Para que se assegure a sua 
universalidade, ele deve ser organizado sob a forma de leis, que nada mais representam do que 
a objetividade do espírito.
Teoria da História26
Por Estado ou nação Hegel entende, portanto, uma cultura ou civilização, uma organização 
de liberdade. Vale notar que, segundo essa perspectiva, o Estado, racionalizado e objetivo, se torna 
uma condição para o exercício da liberdade. Mas, o que Hegel entendia por liberdade? Vamos nos 
ater melhor a este conceito.
A liberdade, para o filósofo, é a capacidade de o espírito conhecer-se a si mesmo e de estar 
contido em si. O maior esforço que o espírito faz é o de conhecer-se a si mesmo e conhecer a 
sua própria natureza: “o avanço do mundo é o avanço da consciência de liberdade”, afirma Hegel 
(2001, p. 65). Entretanto, essa liberdade não se desenvolve de maneira aleatória, ela ocorre de modo 
organizado; por isso, só é possível nos Estados organizados.
Ora, se a história é o desenvolvimento da consciência de si mesmo realizada pelo espírito no 
tempo, se o ápice dessa racionalização é a liberdade, e ainda, se a liberdade só é possível no Estado, 
então não existe história “a menos que haja Estados organizados” (HARTMAN, 2001, p. 27). 
Os Estados organizados seriam aqueles nos quais prevaleceria a elaboração de leis, portanto um 
“estado constitucional”. Essas leis, elaboradas por competentes funcionários do Estado, deveriam 
garantir a organização da coletividade e o meio em que as questões particulares seriam resolvidas. 
A garantia da liberdade passaria, assim, pelo cumprimento das leis.
Outra característica do Estado hegeliano é a soberania. Para o filósofo, o chefe de Estado 
deve estabelecer relações com outros países e zelar pelo território. O que vemos surgir a partir das 
ideias hegelianas é o conceito de Estado nacional moderno europeu.
Um Estado entra na história por ter atingido a consciência de si objetivamente, mas pode 
sair da história se conquistado por outro povo. Nos casos de guerra ou de conquista, o primeiro 
Estado (conquistado) perde sua independência e soberania, já o segundo (que conquista) entra 
para a história. Neste tipo de situação está presente a ideia de devir em Hegel.
Hegel também fundou, dentro da concepção de Estado, a sua concepção de homem: o herói. 
Entre o homem de moralidade relativa ou social (o cidadão) e o homem de moral absoluta 
(o indivíduo) estaria o herói histórico “em quem o exclusivamente individual se funde com 
o universalmente social” (HARTMAN, 2001, p. 36). Desse modo, se o Estado que entra para a 
história é aquele que incorpora o ideal máximo do momento, o herói é o homem que incorpora o 
Estado em si e tem como objetivo a satisfação dos seus ideais, que são os ideais do Estado.
Em contraposição à imagem do herói hegeliano, aparece a figura da vítima, cujo indivíduo 
não tem a percepção nem a energia do herói, e sua moral é a da situação privada. Enquanto o herói 
é o sujeito da história,a vítima é o objeto e sofre um “apagamento”.
Identificando o herói como o indivíduo histórico, convém salientar que, para Hegel, não é 
ele quem faz a história, ele a executa. Para o filósofo, “a força que move a História é a dinâmica das 
Ideias” (HARTMAN, 2001, p. 18). Cabe ao historiador conhecer a dialética da ideia para empregá-
-la à história e seu estudo.
2.1.2 Hegel e a escrita da história
Após a compreensão dos conceitos hegelianos, é importante apresentar a análise realizada 
pelo filósofo sobre como a história foi escrita na Alemanha do século XIX. Além de realizar essa 
Filosofias da história no século XIX 27
análise, Hegel propõe uma maneira de escrevê-la. Primeiramente, o filósofo afirmou, na sua obra 
A Razão na História (1837), que na época empregavam-se três métodos: história original, história 
reflexiva e história filosófica.
Brevemente, a história original pode ser apontada como a que foi escrita por Heródoto de 
Halicarnasso1, ou seja, um gênero de historiadores que descrevem ações e imagens das quais são 
contemporâneos, transferindo aquilo que se observava externamente para as construções mentais. 
História e historiador seriam, nesse tipo de relato, do mesmo domínio, produtos do mesmo 
tempo. Por viverem o espírito dos acontecimentos, os historiadores dessa vertente não estavam 
preocupados em transcendê-los.
A história reflexiva seria aquela que transcende o presente, se não no tempo, pelo menos 
no espírito. Para Hegel, ela se subdivide em quatro outros tipos: universal, pragmática, crítica e 
fragmentária. Destas subdivisões, nos importa mais a história fragmentária, em virtude de ser o 
tipo que mais se aproxima daquela que se mostra como ideal para o filósofo.
A história reflexiva de tipo fragmentária, adota, segundo Hegel, pontos de vista específicos 
sobre as áreas do conhecimento (história da arte, religião, por exemplo), relacionando-as com 
enfoques universais. Com base na percepção de que a ideia é o guia dos povos e do mundo, e que 
o espírito é o que sempre orientou e orienta as transformações, a perspectiva histórica proposta 
por Hegel consiste nas possibilidades que emergem da relação entre o específico e o conjunto das 
transformações ocorridas na história de um povo.
Trata-se da síntese entre o universal e o particular, efetivada no Estado e na liberdade do 
espírito que se tornou autoconsciente de si no tempo. Conforme ressalta Hartman (2001, p. 17), 
“como o Espírito é livre, por sua natureza interior, a História é o progresso da liberdade”.
Entretanto, foi na perspectiva da história filosófica que o filósofo apresentou a sua grande 
contribuição para a escrita da história. Para Hegel (2001, p. 51), o método da história filosófica 
consiste em uma “contemplação ponderada da História”.
Ao longo do tempo, os homens agiram manifestando objetivamente a subjetividade do 
espírito. As ações humanas, mesmo quando movidas por paixões ou quando buscam satisfazer 
interesses individuais nos seus instintos e vontades mais primitivos, apresentam um elemento de 
ponderação. Essa ponderação é a manifestação do espírito, que se torna observável na história e 
à qual Hegel chamou de razão. Portanto, ao se analisar a história, o estudo deve ser conduzido na 
tentativa de identificar e entender a manifestação da razão.
Segundo Hegel, uma das limitações da história seria a de subordinar os fatos à realidade, 
o que limitaria a capacidade de observação e compreensão dos fatos. Ao buscar entendê-los, 
contudo, a ação do filósofo superaria esse risco. Nesse sentido, Hegel (2001) propõe como melhor 
método para o entendimento da história aquele que não subordina os fatos históricos a um enfoque 
1 Heródoto de Halicarnasso (484-425 a. C) é considerado um dos autores mais importantes da Grécia Antiga e um dos 
primeiros a registrar narrativas com o intuito de preservá-las para a posteridade. Em virtude de seus registros e por sua 
consideração dada à história como um problema filosófico, Heródoto é considerado um dos primeiros historiadores que 
se tem conhecimento. Em sua obra encontram-se registros cuidadosos sobre a geografia dos lugares, e narrativas sobre 
guerras e conflitos vivenciados pelos gregos. Para saber mais, ver: PRADA, Maurício (org.). Os historiadores: clássicos da 
História v.1 – de Heródoto a Humboldt. São Paulo: Ed. PUC-SP; Vozes, 2013. v. 1.
Teoria da História28
apriorístico dado pelo presente, mas, ao contrário, faça da história (que é a história da razão) uma 
lei do mundo. Em linhas gerais, a lei do mundo dá sentido e impulso aos fatos, à razão.
Assim, a filosofia nos mostra que a razão é, ao mesmo tempo, parte, conteúdo e forma 
infinita, cuja ideia se manifesta no real por meio de uma imagem. Esse processo é o que faz com 
que a razão exista subjetivamente e objetivamente no espírito humano, por intermédio da ideia e 
da ação.
Hegel (2001) propõe que o desejo pela compreensão racional da história deva ser uma 
característica no estudo das ciências, mas reconhece a dificuldade contida nesse exercício. Para 
ele, os historiadores têm sérias limitações, porque estariam sempre buscando interpretar os fatos 
à luz do presente e não à luz da razão. Superar as limitações das próprias ideias e buscar a razão 
que move o mundo é a tarefa da história por excelência. Hegel percebeu que essa ação precisava 
ser separada da filosofia porque era um exercício particular do conhecimento. Ele apresentou os 
primeiros passos para a construção da história como um campo autônomo do saber e indicou como 
caminho para se produzir o conhecimento histórico a objetividade em oposição à subjetividade, a 
razão em oposição à alienação.
2.2 O materialismo histórico em Marx e Engels
Quando Hegel morreu, em 1831, Karl Marx tinha apenas 13 anos de idade e Friedrich 
Engels tinha 11. Era impossível para os jovens Marx e Engels imaginar a importância e a influência 
que o pensamento daquele filósofo exerceria nas suas vidas. Entretanto, o sistema de pensamento 
hegeliano e suas perspectivas de ideia, natureza, liberdade e razão influenciaram definitivamente 
o pensamento europeu do século XIX e permaneceram por um longo período provocando 
e construindo admiradores e críticos. Dentre esses, situamos os dois intelectuais que vamos 
analisar agora.
Marx e Engels são dois dos nomes mais importantes para o pensamento ocidental do 
século XIX, pois influenciaram definitivamente a escrita e a compreensão da história. Marx 
nasceu em uma família de classe média, na cidade de Trévis, atual Alemanha, enquanto 
Engels, nascido na cidade de Barmen, também nesse país, era filho de um rico industrial que 
trabalhava no ramo têxtil.
Marx se dedicou à carreira universitária, formando-se em Filosofia, ao passo que o jovem 
Engels foi convocado para trabalhar nas indústrias do pai. Mesmo atuando ativamente no ramo 
industrial, Engels era um autodidata e estudava economia, política, filosofia, línguas e história. 
A experiência que Engels vivenciou, ao participar da vida da classe operária na indústria paterna, 
lhe despertou no espírito uma profunda percepção da sociedade do seu tempo, particularmente no 
que se refere à formação da classe operária inglesa.
Engels passou a publicar panfletos que denunciavam a miséria dos trabalhadores e as 
profundas desigualdades sociais presentes naquele contexto. A relação entre ele e a classe operária 
foi intensa, fazendo-o participar de reuniões, encontros e movimentos de resistência à situação 
apriorístico: 
de apriorismo, 
convicção intelectual 
a respeito da 
existência de 
conhecimentos de 
natureza a priori.
Filosofias da história no século XIX 29
a que os operários estavam subjugados. Um dos resultados desta relação foi a escrita de uma das 
obras mais emblemáticas sobre a situação da classe operária na Inglaterra do século XIX2.
Marx tomou caminhos diferentes. Ele foi um intelectual e estudante dedicado, e, ainda 
jovem, teve acesso, na Universidade de Hulboldt (Berlim), a um grupo conhecido como os “Jovens 
hegelianos”.Esse grupo, composto de estudantes e professores, dedicava-se à análise crítica da 
obra de Hegel, fato que não representava a negação do pensamento hegeliano, mas sua ampliação, 
revisão, ponderação e ataques às principais ideias e doutrinas do filósofo. Marx fez parte desse 
grupo, tornando-se fortemente influenciado pela perspectiva hegeliana de mundo. Todavia, à 
medida que formulava as suas próprias análises, foi se afastando do grupo.
A formação de um pensamento autônomo e a construção das principais ideias de Marx 
emergiram durante o encontro com Friedrich Engels, no ano de 1844. Marx o conhecia por meio 
da leitura de um texto que fora publicado em um jornal da época. A escrita original de Engels teria 
impressionado o jovem Marx, que, por toda a sua vida, teria declarado a importância que aquele 
artigo exercera na formação das suas ideias.
O que Engels proporcionou ao pensamento de Marx foi a apresentação da real situação da 
classe operária na Inglaterra do século XIX. Marx era, até o momento do encontro com Engels, 
um jovem idealista. Ele estava centrado nas ideias e teorias dos livros, procurando, por meio da 
teoria, alterar a prática. Engels propiciou a Marx a percepção de que antes da formação das ideias 
há um mundo material, no qual as ideias se formam. Essa perspectiva vai se fortalecer e lapidar 
nos trabalhos conjuntos dos autores, constituindo um dos conceitos mais importantes do século 
XIX: o materialismo histórico, noção que influenciou definitivamente a percepção sobre o mundo.
2.2.1 A concepção materialista da história
A concepção que Marx e Engels deram para a história decorreu de um longo processo de 
percepção e análise do mundo e das teorias presentes no século XIX. Contudo, algo é fundamental: 
é preciso compreender o movimento de ideias e o contexto social que os filósofos presenciavam.
A primeira base para a concepção materialista da história originou-se da filosofia hegeliana. 
A teoria foi desenvolvida com base na releitura de Hegel e na crítica àquele pensamento, bem 
como na apresentação de uma nova proposta. Conforme vimos, a concepção de história em Hegel 
se referia ao desenvolvimento da ideia e da tomada de consciência do espírito; a seu turno, Marx 
e Engels propuseram que a história deveria ter como ponto de partida a análise dos indivíduos 
reais, das suas ações, práticas e condições materiais, ou seja, das suas reais condições de existência 
(MARX, 1998).
Em linhas gerais, para Marx e Engels a história dos homens é a história material dos homens, 
isto é, sobreviver no mundo, satisfazer necessidades básicas (comer, morar, vestir) e enfrentar as 
intempéries. Os homens precisam transformar a matéria prima disponível no espaço natural em 
2 Trata-se da obra A Situação da Classe Trabalhadora na Inglaterra, publicada por Engels em 1845.
Teoria da História30
materiais úteis à sobrevivência. Ao realizar essa transformação, eles estabelecem relações com o 
mundo material (tudo o que está no seu entorno) e entre si (uns com os outros).
O esforço dispensado para transformar a natureza gera produtos, benfeitorias, técnicas, 
saberes e conhecimentos. Para Marx e Engels, é na ação material, no processo palpável de 
transformação das matérias primas que os homens criam, estabelecem e desenvolvem outras ações 
(como ideias, saberes e técnicas). Nesse sentido, os filósofos estabelecem que a história dos homens 
é, necessariamente, a história de como os homens se relacionaram com os bens materiais e se 
relacionaram entre si ao longo dos tempos.
Com base nessa premissa, Marx e Engels elaboraram dois conceitos fundamentais do seu 
pensamento: o de forças de produção e o de relação de produção. Segundo Raymond Aron, forças 
de produção é a capacidade dos homens de transformar a natureza, as quais contêm em si relações 
de produção, “isto é, um certo modo de organização da cooperação dos homens” (ARON, 2005, 
p. 212). Nas forças de produção estão contidas as relações de produção e estes dois elementos, 
organizados de distintas maneiras, nas diversas sociedades, no transcorrer dos tempos, organizam 
e definem ideias, sentimentos, desejos, leis e intuições sociais3.
Nesse sentido, o princípio, a base e o fundamento da história é o homem, alertaram Marx e 
Engels. Um homem real, que age sobre o mundo material (mundo natural), transformando-o de 
acordo com suas capacidades físicas e mentais. Um homem que persegue suas metas, estabelece 
objetivos e adquire conhecimentos para otimizar as suas ações. No desenvolvimento da atividade 
humana, estaria também o desenvolvimento da história (ARON, 2005).
Uma vez satisfeitas as primeiras necessidades, os homens fazem nascer outras: “a ação e o 
instrumento já adquirido para essa satisfação levam a novas necessidades, e essa produção de novas 
necessidades é o primeiro fato histórico” (MARX; ENGELS, 2007, p. 33). O que Marx e Engels 
querem enfatizar é que a história nasce a partir do momento em que superamos nossas condições 
animais de existência. O fato histórico marca o início da humanização do homem. A família, por 
exemplo, seria uma produção mais elaborada do homem, já superando suas condições animais.
Na história, se revelariam as reais condições de existência humanas. O que os homens são 
não viria de uma ideia anterior, mas se constituiria no processo histórico por meio das relações 
estabelecidas na produção material da sociedade. Aquilo que os indivíduos são depende das suas 
condições materiais de existência e do lugar que eles ocupam no processo produtivo da sociedade. 
Essa constatação relaciona-se com outros conceitos desenvolvidos por Marx e Engels, como 
burguesia, proletariado e luta de classes4.
3 Marx chamou esses elementos de superestrutura, em contraponto a infraestrutura. A infraestrutura, segundo Marx, é 
a base da sociedade, ou seja, o conjunto das relações de produção e as forças produtivas. A infraestrutura é uma espécie 
de produtos gerados a partir das bases materiais (as relações de produção e as forças produtivas). Eles não têm forma 
material. São “as ideologias políticas, concepções religiosas, códigos morais e estéticos, sistemas legais, de ensino, de 
comunicação, o conhecimento filosófico e científico, representações coletivas de sentimentos, ilusões, modos de pensar, 
concepções de vida” (QUINTANEIRO, 2002, p. 37)
4 Marx e Engels denominaram proletário o individuo que, sem possuir meios de produção (matéria-prima e instrumentos 
de trabalho), vendia sua força de trabalho para o burguês, proprietário desses meios. Da relação entre o proletariado e a 
burguesia, nasceria a luta de classes, pois os interesses entre um e outro são sempre antagônicos.
Filosofias da história no século XIX 31
Na primeira obra que escreveram juntos, O Manifesto do Partido Comunista (1848), logo no 
primeiro capitulo os autores afirmam que:
Até hoje, a História de todas as sociedades é a História das lutas de classes. Homem 
livre e escravo, patrício e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação 
e aprendiz; em resumo, opressores e oprimidos, estiveram em constante 
antagonismo entre si, travando uma luta ininterrupta, ora aberta, ora oculta — 
uma guerra que terminou sempre ou com uma transformação revolucionária 
de toda a sociedade ou com a destruição das classes em luta. (MARX; ENGELS, 
1996, p. 66, grifos nossos)
Vale notar que, nesse primeiro escrito, antes de desenvolverem as bases definitivas do seu 
pensamento, a afirmação feita por eles é a de que a história da humanidade é a história da relação 
dos homens entre si. O papel ocupado pelo homem na história é essencialmente construído com 
base nas condições reais da sua existência. Trata-se, assim, da definição do lugar social do homem 
e não mais da sua condição natural de existência.
À luz desta perspectiva, o indivíduo se constituiria nas relações contraditórias e conflituosas 
estabelecidas entre ele e o mundo material, pois, é nessa dinâmica ininterrupta e ativa que os 
homens produzem e reproduzem a si mesmos e ao mundo

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