Buscar

Responsabilidade social e desenvolvimetno sustentavel final

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 93 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Brasília - DF.
Responsabilidade social e 
desenvolvimento sustentável
Autores
Mariana MOREIRA
Vilson Sergio de CARVALHO
Produção
Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e 
Editoração
Sumario
Organização do caderno de estudos e pesquisa ..................................................................................................... 4
Introdução ............................................................................................................................................................................. 6
Aula 1
Um olhar sobre a contemporaneidade: contextualizando a discussão ..................................................... 7
Aula 2
Para entender o Desenvolvimento Sustentável ...............................................................................................20
Aula 3
Responsabilidade Social: primeiras aproximações .........................................................................................32
Aula 4
Gestão da Responsabilidade Social: estratégias e possibilidades ............................................................43
Aula 5
Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável ..................................................................................65
Aula 6
Responsabilidade Social e Voluntariado ............................................................................................................84
Referências ..........................................................................................................................................................................93
4
Organização do caderno de 
estudos e pesquisa
Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, 
de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com 
questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais 
agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos 
com leituras e pesquisas complementares.
A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.
Provocação
Textos que buscam instigar o aluno a refl etir sobre determinado assunto antes 
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor 
conteudista.
Para refl etir
Questões inseridas no decorrer do estudo a fi m de que o aluno faça uma pausa 
e refl ita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. 
É importante que ele verifi que seus conhecimentos, suas experiências e seus 
sentimentos. As refl exões são o ponto de partida para a construção de suas 
conclusões.
Sugestão de estudo complementar
Sugestões de leituras adicionais, fi lmes e sites para aprofundamento do estudo, 
discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.
Praticando
Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de 
fortalecer o processo de aprendizagem do aluno.
5
Organização do caderno de estudos e pesquisa
Atenção
Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a 
síntese/conclusão do assunto abordado.
Saiba mais
Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões 
sobre o assunto abordado.
Sintetizando
Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o 
entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.
Para (não) fi nalizar
Texto integrador, ao fi nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem 
ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.
6
Introdução
Como o próprio nome diz, neste caderno, vamos nos dedicar ao estudo, reflexão e problematização 
sobre questões ligadas à ética, à Responsabilidade Social e ao Desenvolvimento Sustentável. 
O que é ética? Por que temos ouvido falar, de forma recorrente, neste termo? O que está 
sendo chamado de Responsabilidade Social? Em que sentido as discussões sobre ética e 
Responsabilidade Social afetam nossa vida pessoal e/ou profissional? Como podemos inserir os 
princípios do desenvolvimento Sustentável em nossos processos de gestão? Estas são algumas 
das principais reflexões que serão desenvolvidas neste caderno.
Objetivos
Este caderno de estudos contribuirá com o desenvolvimento das seguintes competências:
 » Desenvolver uma visão sistêmica, complexa e crítica sobre a contemporaneidade.
 » Ser capaz de identificar as atuais mudanças no mundo do trabalho.
 » Correlacionar as transformações contemporâneas aos desafios e possibilidades de sua 
área de formação / atuação profissional.
 » Ser capaz de compreender as dimensões e discussões relacionadas ao conceito de 
Desenvolvimento humano e de Desenvolvimento Sustentável.
 » Identificar e diferenciar o que são e como atuam os três setores.
 » Compreender a noção de Responsabilidade Social no atual mundo do trabalho.
 » Desenvolver visão estratégica, inserindo as práticas da Responsabilidade Social nos 
processos de gestão.
 » Desenvolver visão estratégica, inserindo a perspectiva da sustentabilidade nos processos 
de gestão.
 » Ser capaz de desenvolver iniciativas de educação ambiental nos negócios e organizações.
 » Ser capaz de gerir um programa de voluntariado.
7
Apresentação
Nesta aula começaremos a conhecer e delinear o contexto a partir do qual vamos discutir as 
questões principais de nosso caderno de estudos, quais sejam: a ética e a responsabilidade 
social. Vamos trazer alguns elementos, dados e fatos históricos que nos ajudem a compreender 
melhor o porquê de estarmos estudando estes assuntos. Assim, vamos analisar o momento sócio-
histórico-cultural que estamos vivendo, quais suas principais características e especificidades.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Desenvolver visão sistêmica, complexa e crítica sobre a contemporaneidade.
 » Ser capaz de identificar as atuais mudanças no mercado de trabalho.
 » Correlacionar as transformações contemporâneas aos desafios e possibilidades de sua 
área de formação/atuação profissional.
 » Ser capaz de compreender e analisar criticamente as noções de desenvolvimento.
 » Ser capaz de compreender as dimensões e discussões relacionadas aos conceitos de 
Desenvolvimento Humano.
1
AulA
Um OlhAR SObRE A 
cOntEmPORAnEIDADE: 
cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
8
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
Aproximações iniciais
Quando queremos conhecer uma pessoa, geralmente procuramos saber seu nome, o que ela 
faz, sua história. Buscamos, de forma simples, levantar algumas informações como a idade ou 
o ano em que ela nasceu, a cidade ou o país em que viveu, se estuda e/ou trabalha, o que faz, 
como vive, enfim, qual é o seu contexto...
Para ilustrar o que estamos falando, podemos procurar perceber, em nosso dia a dia, algumas 
situações em que faz toda a diferença falar, por exemplo, em uma pessoa que foi criança ou jovem 
nos anos 60 ou 70 e uma criança ou jovem “de hoje”. Quais eram as brincadeiras “daquele tempo” 
e como as crianças brincam atualmente? Quais eram as “bandeiras e sonhos” da juventude dos 
anos 60 ou 70 e quais são as “lutas e reivindicações” dos jovens de hoje?
Não é preciso ir muito além. Há pouco tempo, acompanhei uma conversa entre um jovem, com 
seus vinte e poucos anos, e sua mãe, que devia aproximar-se dos cinquenta. Ele, muito surpreso, 
acabara de “descobrir” que sua mãe, quando criança, não tinha televisão em casa. O jovem filho 
desta senhora perguntava-lhe, estupefato “– Mãe, mas como é que vocês faziam sem televisão?” Ao 
que ela, muito “naturalmente”, contava que os finais de tarde, àquela época, eram dedicados a 
reunir as famílias – geralmente compostas por muitos filhos – os vizinhose amigos da redondeza 
para ouvirem os programas de rádio e depois, brincar.
Você guarda seus discos de vinil ou nem sabe o que é isso? E aquele seu antigo walkman? Você 
vai à locadora de vídeos pegar um DVD? E o computador? E o celular? Você consegue se lembrar 
da primeira vez em que viu alguém falando em um telefone celular? Há menos de uma década, 
somente uma pequena minoria fazia uso do celular e do computador. Um amigo, hoje com pouco 
mais de quarenta anos, me contava, outro dia, que fez sua tese de doutorado em uma máquina 
de escrever. A cada correção, a cada revisão, a cada nova versão, era preciso digitar, ou melhor, 
DATILOGRAFAR, tudo de novo! Já pensou?
Bem, vamos confessar! Quantos de nós fizemos aqueles famosos cursos de datilografia repetindo 
infinitamente o “asdfg, çlkjh”? Quem fez, não se esquece das enfadonhas repetições nas duras 
teclas da velha máquina de escrever! E, hoje, estamos aqui: reunidos virtualmente em um curso 
a distância! Que maravilha, não é mesmo?
Acontece que, no dia a dia, não nos damos conta de muitas dessas mudanças e muito menos da 
velocidade com que elas têm acontecido. E mais: geralmente não percebemos ou não paramos 
para pensar que as coisas nem sempre foram da forma que são hoje, em nossas vidas. É como 
o espanto do jovem que não podia conceber a infância de sua mãe sem televisão. A TV está tão 
“incorporada” às nossas vidas que acabamos naturalizando as coisas, ou seja, acabamos achando 
que sempre foi assim! Que todos vivem e sempre viveram, naturalmente, da mesma forma que 
nós vivemos.
9
Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1
Toda essa historinha inicial serve para que comecemos a nos conhecer um pouco mais e marca, 
desde já, alguns “exercícios” importantes que deverão nos acompanhar em todo o nosso caderno 
de estudos e também – assim espero – em nossas práticas profi ssionais ao fi nal do curso.
Desnaturalizar e contextualizar. Distanciar-se do que nos parece por demais natural e, em uma posição 
de “estranhamento” frente à realidade, vamos buscar contextualizar nosso estudo e nossa prática, 
aproximando-nos com um olhar refl exivo e crítico a fi m de ampliar nossa visão de mundo e dos objetos 
com os quais vamos trabalhar.
De forma bastante refl exiva, levantamos também algumas situações que vêm mudando ao longo 
dos anos. Contextos diferentes que marcam diferenças nas pessoas.
Deste ponto, vamos dar mais um passo em direção ao tema de nossos estudos, aproximando-
nos, pouco a pouco, das questões relacionadas à ética e à responsabilidade social.
Quando estamos nos aproximando de um campo de 
conhecimento é também importante fazermos este exercício 
de desnaturalização e contextualização. Quando queremos 
conhecer algum assunto ou mesmo ampliar as informações 
que já temos sobre determinada disciplina, é importante 
buscarmos a história daquele campo de conhecimento ou 
de atuação profi ssional. Com isso, estamos salientando a 
importância de se contextualizar tudo que vamos estudar 
ou trabalhar...
É assim que pretendemos nos aproximar do estudo sobre 
ética e responsabilidade social. Podíamos ter começado 
definindo cada uma delas, apresentando conceitos e 
referenciais teóricos. Vamos chegar lá nas aulas que se seguirão, mas nosso ponto de partida será 
contextualizar o momento em que estamos vivendo para preparar este “terreno” de defi nições, 
conceitos e estratégias. Insistimos, então, na importância deste exercício de estranhamento frente 
ao que nos parecia natural, para distanciarmo-nos do que nos é familiar, aproximando-nos a 
seguir de forma refl exiva e crítica.
A Filosofi a nos ensina a importância do exercício de refl exão. Filosofi a é um termo que vem do 
grego Philos-sophia e que signifi ca amizade pela sabedoria. Philos é amigo e sophos quer dizer 
sábio. Já refl exão vem do latim refl ectere e quer dizer fazer retroceder, voltar atrás, revelar, pensar, 
espelhar. O trabalho fi losófi co implica uma refl exão radical, profunda e rigorosa do mundo, 
contextualizando-o necessariamente. Assim, da Filosofi a não surge uma aplicação imediata ou 
pragmática das coisas, mas é ela que possibilita a ampliação da nossa compreensão sobre tudo 
aquilo que vivemos.
Atenção
Contextualizar, segundo o Dicionário 
Houaiss da Língua Portuguesa, signifi ca:
1. prover de contexto;
2. incluir ou interpor num texto;
3. integrar (algo) num contexto;
4. criar um texto que contenha 
determinada palavra ou expressão 
(geralmente para dirimir dúvidas sobre 
a aceitabilidade da expressão);
5. contextuar.
10
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
contextualizando
A crise como ponto de partida
É muito comum, nos dias de hoje, ouvirmos falar 
que estamos vivendo um momento de crise: social, 
de valores, de identidade, na família, na educação... 
Entretanto, ao olharmos ao longo do tempo, de 
forma mais minuciosa, iremos perceber que a 
noção de crise faz parte da história da humanidade. 
Com isso, afi rmamos que todas as sociedades sempre viveram momentos de crise, uma vez que 
a ideia de transformação social é inerente, isto é, faz parte da própria história (Moreira, 2006).
Para entender nossa multifacetada crise cultural, precisamos adotar uma 
perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situação no contexto da evolução 
cultural humana. Temos que transferir nossa perspectiva do fi nal do século XX 
para um período de tempo que abrange milhares de anos; substituir a noção de 
estruturas sociais estáticas por uma percepção de padrões dinâmicos de mudança. 
Vista desse ângulo, a crise apresenta-se como um espaço de transformação. Os 
chineses, que sempre tiveram uma visão inteiramente dinâmica do mundo e uma 
percepção aguda da história, parecem estar bem cientes dessa profunda conexão 
entre crise e mudança. O termo que eles usam para ‘crise’, wei-ji, é composto dos 
caracteres: ‘perigo’ e ‘oportunidade’.
(CAPRA, 1982)
Podemos, então, pensar no que caracterizaria o atual momento de crise e o que o distinguiria de 
outros tempos. Alguns autores defendem a existência de uma especifi cidade da crise atual, propondo 
inclusive novos termos ou conceitos para defi ni-la. Ouvimos, então, falar em pós-modernidade 
e contemporaneidade, por exemplo (HALL, 2003; MORIN, 1996; SANTOS, 1997; LATOUR, 1994).
Nesta aula, não temos por objetivo aprofundar esta discussão, defi nindo e diferenciando 
abordagens conceituais diversas. No momento, o que nos interessa é pensar, em linhas gerais, 
o que vem acontecendo nas últimas cinco ou seis décadas e que nos permite falar em uma crise 
da contemporaneidade.
Contemporaneidade, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, diz respeito à “qualidade ou 
condição de ser contemporâneo, de existir ao mesmo tempo; coexistência”.
Mesmo correndo o risco de sermos reducionistas, vamos levantar a seguir alguns fatores principais 
que caracterizam o momento atual e que nos ajudarão a melhor contextualizar o estudo sobre 
a relação entre ética e responsabilidade social.
PROVOcAçãO
Você já ouviu falar em responsabilidade social? Onde 
e quando? Quem estava falando a respeito? E o que 
estava sendo falado? Para que, ou seja, com qual 
objetivo falava-se em responsabilidade social? Havia 
alguma relação entre responsabilidade social e ética 
neste caso?
11
Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1
Os avanços da ciência e da tecnologia aliados às mudanças no mundo econômico e nos modos 
de produção vêm impactando nossas formas de viver e de conviver. A ciência quando surgiu, 
entre os séculos XVII e XVIII, estava diretamente associada às ideias de progresso e bem-estar, 
ou seja, o desenvolvimento científico implicaria necessariamente, até poucas décadas atrás, 
desenvolvimento humano.
O que vemos, entretanto, é que as conquistas tecnológicase científicas trazem também um 
caráter, no mínimo, ambivalente – para não dizer paradoxal - pois além do esperado progresso, 
nos impuseram inúmeros desastres e ameaças ambientais a ponto de colocar a própria ideia de 
vida e o futuro da humanidade em jogo (KERN; MORIN, 1995). 
E mais, ao lado de importantes conquistas, vivemos nos últimos séculos os desafios advindos 
de nossa incapacidade de conviver e de garantir um desenvolvimento igualitário para todos os 
povos e nações. Estatísticas nos mostram que, desde a segunda guerra mundial, ultrapassamos 
o triste quantitativo de 20 milhões de mortos em mais de 150 guerras. 
Como aprender a viver juntos nesta ‘aldeia global’, se não somos capazes de viver 
nas comunidades naturais a que pertencemos: nação, região, cidade, aldeia, 
vizinhança? A questão central da democracia é saber se queremos, se podemos 
participar na vida em comunidade 
(DELORS, 2000).
Conflitos de diversas ordens compõem, então, o cenário atual que podem ser, didaticamente, 
assim elencados:
 » Os paradoxos associados aos progressos econômicos e científicos;
 » O desenvolvimento desigual, a má distribuição de riquezas e de conhecimentos;
 » A incerteza em relação ao futuro e o “desencantamento” do mundo;
 » O aumento do desemprego e da exclusão social;
 » As ameaças ambientais e os acidentes tecnológicos;
 » A necessidade de articular outros fatores ao desenvolvimento: não só o econômico, mas 
o social, o humano, o ecológico, entre outros; 
 » O local e o global: tornar-se cidadão do mundo sem perder as raízes de sua comunidade, 
de sua região;
 » O universal e o singular: beneficiar-se da mundialização cultural sem perder a 
particularidade de cada cultura, de cada indivíduo;
 » A tradição e a modernidade: os riscos e os desafios das tecnologias da informação e 
a necessidade de se adaptar ao novo, sem perder a própria autonomia. Ao lado disso, 
12
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
a importância de se aprender a fi ltrar e a selecionar a quantidade e a qualidade das 
informações que chegam até nós em número e velocidade cada vez maiores; 
 » As soluções a curto e a longo 
prazo: ênfase atual no instantâneo 
e no efêmero priorizando soluções 
rápidas e imediatas e os riscos 
que isso traz em termos de vida 
pessoal, relacional e profi ssional;
 » A competição e a igualdade de 
oportunidades: a ênfase em 
processos competitivos anularia 
qualquer possibilidade de se falar 
em igualdade de oportunidades. 
Daí a necessidade de se encontrar 
um equilíbrio possível entre 
competição, cooperação e 
solidariedade;
 » O espiritual e o material: a falta de 
valores morais que balizariam as 
decisões humanas.
O desenvolvimento humano como ferramenta para se 
conhecer o nosso contexto
Em 27 de novembro de 2007, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) 
divulgou que o Brasil passa a fazer parte, pela primeira vez, do grupo de países de Alto 
Desenvolvimento Humano, ultrapassando a barreira de 0,800 que é considerada a “linha de 
corte” entre o índice de variação – que vai de 0 a 1 – do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).
PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, é uma: 
rede global para ajudar pessoas a satisfazerem suas necessidades de 
desenvolvimento e a construírem uma vida melhor. Está presente em 166 países, 
trabalhando como um parceiro confi ável de governos, da sociedade civil e do 
setor privado no auxílio da busca de suas próprias soluções para desafi os de 
desenvolvimento globais e nacionais. 
(PNUD, 2007).
Sugestão de estudo
Sugerimos, neste ponto, duas leituras complementares 
que serão fundamentais à ampliação e consolidação 
deste panorama inicial apresentado. Uma primeira leitura 
recomendada é o livro Terra-pátria, de autoria de Edgar Morin 
e Anne Kern. Destacamos ainda o livro Educação. Um tesouro a 
descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional 
sobre Educação para o século XXI, organizado por Jacques 
DELORS. Ambos trazem importantes elementos para auxiliar 
a nossa compreensão desta virada de século e os impactos, 
desafi os e perspectivas colocadas. Salientamos apenas que o 
segundo tem um foco maior sobre o campo da educação – trata-
se enfi m do Relatório da UNESCO sobre o tema – mas pelas 
próprias características dessa área e suas múltiplas interfaces 
com os demais campos de atuação profi ssional, acreditamos 
tratar-se igualmente de uma publicação de grande interesse e 
relevância.
As referências são:
DELORS, Jacques (org.) Educação. Um tesouro a descobrir. 
Relatório paa a UNESCO da Comissão Internacional sobre 
Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: 
MEC: UNESCO, 2000.
KERN, Anne; MORIN, Edgar. Terra-pátria, Porto Alegre: Ed. 
Sulina, 1995.
13
Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1
Anualmente, o PNUD publica, para mais de cem países em todo o mundo, o Relatório de 
Desenvolvimento Humano (RDH) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Estas são duas 
importantes ferramentas que nos permitem mensurar, ou seja, medir e também acompanhar o 
desenvolvimento humano de todas as nações.
O conceito de desenvolvimento humano surgiu como 
uma espécie de contraponto frente ao PIB (Produto 
Interno Bruto) per capita. O PIB, como sabemos, é um 
indicador que centra no aspecto econômico toda a 
possibilidade de medir o desenvolvimento.
O IDH amplia esta concepção e, de maneira sintética, 
coloca-se como alternativa ao considerar os três 
aspectos citados a seguir, dando-lhes igual importância e mensurando-os a partir de uma escala 
que varia entre 0 e 1:
 » “PADRÃO DE VIDA DECENTE”: incluindo a análise da Renda Nacional Bruta (RNB) per 
capita e corrigindo o poder de compra da moeda de cada país pelo PPC (Paridade de 
Poder de Compra);
 » “SAÚDE”: aferindo a expectativa de vida da população ao nascer e
 » “CONHECIMENTO”: articulando principalmente as variáveis “anos médios de estudo” 
(que mede o número médio de anos de educação recebidos pelas pessoas que têm 25 
anos ou mais) e “anos esperados de escolaridade” (que mede o número de anos de 
escolaridade que uma criança na idade de entrar na escola na escola pode esperar receber).
Fonte: nota técnica de Apoio ao lançamento do Relatório de Desenvolvimento humano 2010 
- “A Verdadeira Riqueza das nações”
O IDH foi proposto por Mahbub ul Haq, economista paquistanês, e Amartya Sen. Você sabia que 
Amartya Sen, economista indiano, recebeu o Prêmio Nobel da Economia em 1988?
Provocação
Sugerimos um visita ao sítio do PNUD. O 
endereço é www.pnud.org.br . Lá você poderá 
aprofundar leituras sobre o conceito de 
desenvolvimento humano, além de conhecer 
outros interessantes links sobre o tema.
14
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
A divulgação do Relatório de Desenvolvimento Humano 
(RDH) 2007/2008 corrobora o Painel Intergovernamental 
de Mudanças Climáticas (IPCC), recém-divulgado, e 
traz como lema “Combater as Mudanças do Clima: 
Solidariedade Humana em um mundo dividido”. O 
RDH chama a atenção para a intrínseca relação entre 
mudanças climáticas e desenvolvimento, afi rmando 
que as grandes catástrofes ambientais podem reverter 
as conquistas e avanços nas áreas da saúde e da educação obtidos principalmente pelos países 
mais vulneráveis. Dizendo de outra forma, o RDH pontua, assim, o risco que estamos correndo 
de ampliar a distância e a divisão entre os países mais pobres e aqueles considerados mais ricos 
em todo o mundo, reforçando históricos índices de desigualdade de classe, renda, gênero.
O Relatório de Desenvolvimento Humano é um relatório independente 
encomendado pelo PNUD. Kevin Watkins é o coordenador e principal autor 
do Relatório 2007/2008, que inclui contribuições do Secretário-Geralda ONU, 
Ban Ki-moon; do Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva; do prefeito de 
Nova York, Michael R. Bloomberg; da ativista de mudança de clima do Ártico, 
Sheila Watt-Cloutier; da Presidente da Comissão Mundial de Desenvolvimento 
Sustentável e ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland; do 
Arcebispo Emérito da Cidade do Cabo, Desmond Tutu; da Diretora do Centro 
para Ciência e Meio-Ambiente, Sunita Narain. O relatório é traduzido em mais 
de 100 línguas e lançado em mais de 100 países todos os anos, desde 1990 
(PNUD, 2007)
Um dos caminhos apontados pelo Relatório indica a urgente necessidade de que os países mais 
desenvolvidos possam investir, sobretudo em infra-estrutura capaz de suportar as adaptações 
climáticas, fortalecendo os países pobres para que estes possam resistir aos efeitos das mudanças 
e desastres ambientais.
Sem contar com poupança, seguros ou acesso a empréstimos, os mais pobres 
cairão na chamada armadilha do desenvolvimento humano, sendo forçados a 
decidir entre mandar seus fi lhos à escola ou ao trabalho, ou racionar a comida a 
fi m de economizar”, diz o administrador do PNUD, Kemal Dervis, que lançou o 
relatório em Brasília. “Estas escolhas irão reforçar e perpetuar as desigualdades 
de renda, de gênero, entre outras, na América Latina e no Caribe”. Em Honduras, 
o furacão Mitch destruiu mais de um terço dos bens dos 25% mais pobres da 
população, comparados com apenas 7% dos bens dos 25% mais ricos, diz o 
relatório. Na Nicarágua, a proporção de crianças trabalhando em vez de irem à 
escola aumentou entre 7,5% e 15,6% nas famílias afetadas pelo mesmo furacão. 
O relatório também cita pesquisa com famílias no México, no período 1998-
2000, que mostrou um aumento no trabalho infantil como consequência das 
Provocação
Quer saber mais sobre Amartya Sem? Então 
faça uma visita ao site do roda vida e veja a 
entrevista do economista.
http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/32/
entrevistados/amartya_sen_2001.html
15
Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1
secas. Estes exemplos ilustram como muitas das armadilhas de desenvolvimento 
humano induzidas pelo clima, na América Latina e no Caribe, são consequências 
de desastres naturais.
(PNUD, Nota de Imprensa, em 27/11/2007)
O relatório indica também aos governantes dos países latino-americanos a importância de 
fortalecer as populações mais vulneráveis, através de programas sociais, como os de transferência 
de renda, para que os impactos dos choques climáticos possam ser minimizados quando atingirem 
estas parcelas da sociedade.
“As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação.” Com estas palavras, o Relatório de 
Desenvolvimento Humano (RDH) de 1990 deu início à convincente defesa de uma nova abordagem 
ao pensamento acerca do desenvolvimento. A ideia de que o objetivo do desenvolvimento deve 
ser o de criar um ambiente habilitador para que as pessoas desfrutem de vidas longas, saudáveis 
e criativas pode parecer, hoje em dia, evidente em si mesma. Mas nem sempre foi assim. Um 
objetivo nuclear do RDH nos últimos 20 anos tem sido o de realçar que o desenvolvimento tem 
a ver, em primeiro lugar e acima de tudo, com as pessoas.
(PNUD. Síntese do Relatório do Desenvolvimento Humano 2010 – Edição do 20o aniversário – A 
verdadeira riqueza das nações: vias para o Desenvolvimento Humano).
Já em 2010, o RDH traz como tema central “A verdadeira riqueza das nações: vias para o 
Desenvolvimento Humano”. O RDH 2010 marca uma edição comemorativa dos 20 anos de 
aniversário do primeiro RDH, apresentando mudanças metodológicas para a aferição do IDH. Com 
novos procedimentos, salienta-se a impossibilidade de se proceder a uma análise comparativa 
entre o índice brasileiro nos anos de 2010 e 2009. Observe:
As mudanças metodológicas empreendidas tiveram uma consequência muito 
importante: elas mudaram a escala, ou seja a régua, utilizada para medir os países 
na métrica do IDH. Isso não quer dizer que o IDH dos países caiu, mas sim que 
com a mudança de variáveis (3 das 4 variáveis utilizadas para a elaboração do 
IDH foram substituídas) a magnitude das variáveis utilizadas mudou, implicando 
um rebaixamento da escala utilizada pelo IDH.
Isso explica porque o IDH 2010 para o Brasil, de 0.699 não pode ser comparado 
ao IDH de 2009 de 0.813. Estritamente falando é um erro compará-los. Para 
isso as séries do ‘novo IDH’ foram recalculadas e encontram-se disponíveis na 
Tabela 2 do Relatório. O ‘novo IDH’ é calculado para 169 países. Cabe notar a 
nova classificação dos países baseadas em quartis nas categorias muito alto, alto, 
médio e baixo desenvolvimento humano. A classificação não obedece mais um 
parâmetro especificado como antes na escala do IDH, mas um número relativo de 
países. A exceção fica com o grupo de países de ‘alto desenvolvimento’, que conta 
com um país extra. Fonte: Nota Técnica de Apoio ao Lançamento do Relatório 
de Desenvolvimento Humano 2010 - “A Verdadeira Riqueza das Nações”
16
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
A esta altura, é provável que você esteja se perguntando 
o que eu tenho a ver com tudo isso? Por que tenho que 
estudar estas “coisas” já que escolhi um curso que, 
aparentemente, não tem nenhuma relação com os 
desastres ambientais, riqueza das nações e os índices 
de desenvolvimento humano?
Do relatório, apresentamos ainda uma inspiração para suas refl exões: “uma das mais duras lições ensinadas pelas 
mudanças climáticas é que o modelo econômico que determina o crescimento e os níveis de consumo nos países mais 
ricos é ecologicamente insustentável”. Os autores afi rmam, porém, que “com as mudanças corretas, não é tarde para 
cortar as emissões de gases estufa para atingir níveis sustentáveis, sem sacrifi car o crescimento econômico: o aumento da 
prosperidade e a segurança do clima não são objetivos confl itantes”.
Afi rmamos acima que o RDH 2007/2008 coloca o Brasil, pela primeira vez, entre o grupo dos 
setenta países de “Alto Desenvolvimento Humano”. O Relatório traz como dados uma elevação 
da expectativa de vida dos brasileiros de 70,8 para 71,7 anos. O país alcançou os 87,5% de taxa 
de matrícula e os US$ 8.325 de renda per capita.
tabela A: Evolução do IDh brasileiro de 2006 a 2007 (baseado nos dados de 2004 e 2005 respectivamente
Fonte: PnUD, RDh 2007/2008.
Para refl etir
A partir das leituras realizadas, procure defi nir, 
com suas próprias palavras, o que você entendeu 
por Índice de Desenvolvimento Humano.
A seguir, refl ita: você percebe alguma relação 
entre sua opção de formação e atuação 
profi ssional e as leituras até aqui apresentadas? 
17
Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1
Os analistas do Relatório recomendam que se faça uma análise cautelosa situando as versões 
mais atuais e disponíveis de dados utilizados, mas ressaltam mesmo assim ser possível afirmar 
que o Brasil vem, desde 1975, desenvolvendo-se de forma gradual e a longo prazo.
De toda forma, o mais importante para nossa reflexão, neste momento, é pensar sobre as 
consequências e desdobramentos de nosso ingresso neste grupo de países de alto desenvolvimento 
humano. Quando comparamos, por exemplo, aos indicadores de nossos vizinhos latino-
americanos, ficamos abaixo de muitos países como Argentina, Chile, Cuba e México.
Além disso, ao visitarmos a Síntese dos Indicadores Sociais 2007- Uma Análise das Condições de 
Vida da População Brasileira vemos a reafirmação de alguns destes avanços identificados pelo 
PNUD, mas também alguns dados que nos chamam atenção, entre eles:
Em 2006, somente 9,9% das crianças até 3 anos de idade frequentavam creches.
Ao lado deste dado, é importante lembrar que, segundo recentes pesquisas, cada ano de educação 
infantil diminui em três pontos percentuais o nível de repetência deum brasileiro pobre. Uma 
criança de seis anos, nascida em São Paulo, pode frequentar uma escola durante sete horas por 
dia, pagando uma mensalidade de mil reais. Aos seis anos, ela estará alfabetizada. No entanto, a 
grande maioria das crianças chega ao ensino fundamental sem ter recebido nenhuma educação 
preparatória. O tempo de alfabetização é muito maior.
Há atualmente, no Brasil, 235 mil crianças e adolescente, entre 10 e 17 anos, que declaram 
trabalhar em vias públicas. De acordo com este dado, vale lembrar que a Declaração dos Direitos 
da Criança, promulgada pela ONU, em 1959, afirma que:
a criança não deve ser empregada antes da idade mínima adequada; ela não deve 
ter empregos ou ocupações que prejudiquem sua saúde, educação ou interfiram 
em seu desenvolvimento mental ou moral.
Ainda segundo o IBGE, cerca de 25,7% dos alunos do ensino fundamental estão defasados na 
correlação idade/série em 2006, ou seja, cerca de 8,3 milhões num universo de 32,5 milhões de 
estudantes. A famosa desigualdade entre as regiões brasileiras é aqui confirmada, pois a maior 
taxa de defasagem está no ensino fundamental e foi encontrada no Nordeste, 37,9% contra os 
15,5% do Sul.
O analfabetismo é ainda uma marca da desigualdade em nosso país, atingindo 14,4 milhões de 
pessoas com 15 anos ou mais. As maiores concentrações estão nas camadas mais pobres, nas 
áreas rurais, especialmente do Nordeste, entre os mais idosos, os de cor preta e parda. A taxa de 
pretos e pardos analfabetos é o dobro da taxa de brancos analfabetos.
18
AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO
Por quê? Os dados não falam por si. É preciso interpretá-los, situando-os sócio-historicamente, 
sob o risco de naturalizarmos os fenômenos. Por que no Brasil, para cada branco analfabeto, 
temos dois pretos ou pardos analfabetos?
O Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma:
Toda pessoa tem direito à educação (...) A educação terá por finalidade o pleno 
desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento do respeito aos 
direitos humanos e às liberdades fundamentais; favorecerá a compreensão, 
a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnicos ou 
religiosos... 
A pesquisa do IBGE afirma ainda que os brancos ganham em média 40% mais do que pretos ou 
pardos com mesma escolaridade. Como explicar o apartheid social que estamos vivendo?
Metade das famílias brasileiras vivem, em média, com uma renda mensal inferior a R$ 350,00.
O Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma: “Toda pessoa tem direito a 
um nível de vida adequado, que lhe assegure, assim como à sua família, a saúde e o bem-estar, 
e, de modo especial, a alimentação, o vestuário, a habitação, a assistência médica e os serviços 
sociais necessários...”
Para onde caminhamos? Até quando nossa sociedade poderá suportar estes alarmantes índices 
de desigualdade social? Ler e pesquisar sobre estes dados pode até parecer enfadonho ou mesmo 
abstrato demais para a nossa realidade. No entanto, os fatos aproximam-se cada vez mais de 
nosso cotidiano.
As reações podem ser as mais diversas – medo, fuga, indignação, revolta – de todo modo, para 
nós, profissionais em formação e futuramente gestores, está vedado o desconhecimento e a 
indiferença. É preciso posicionar-se e trazer a realidade social para nosso campo de trabalho, 
de forma ética e socialmente responsável.
Nesta primeira unidade, não nos propusemos a dar respostas, mas, sobretudo a exercitar perguntas, 
preparando o terreno de discussão sobre a responsabilidade social e a ética. Encerramos, assim, 
esta primeira etapa de nossos estudos: cheios de questões que esperamos ser boas sementes 
para os frutos das aulas que virão.
19
Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1
Sintetizando
Vimos até agora:
O objetivo desta unidade era iniciar algumas aproximações em direção à importância de se estudar a relação entre ética, 
responsabilidade social e desenvolvimento sustentável; 
Assim, começamos situando a importância de desenvolvermos uma prática refl exiva, desnaturalizando e contextualizando 
nossos campos de estudo e trabalho;
Buscamos ainda compreender que as noções de crise e de mudança fazem parte da própria história da humanidade e 
devem, assim, ser incorporadas à análise que fazemos da realidade;
A partir disso, buscamos levantar alguns dados e informações atuais que nos ajudam a compreender, de forma mais 
ampliada, o atual contexto em que estamos vivendo e, para isso, lançamos mão do IDH e do RDH 2007/2008 como 
referências de indicadores que balizam o desenvolvimento humano, além de contrapormos alguns indicadores sociais do 
IBGE à legislação universal.
Apresentamos, fi nalmente, a noção de Desenvolvimento Humano, apontando como esta perspectiva amplia o entendimento 
sobre o que é desenvolvimento, indo além do critério econômico.
20
Apresentação
A partir dos desafios e controvérsias que caracterizam a contemporaneidade, nesta aula, 
avançaremos em nossa discussão sobre o que é desenvolvimento, dando ênfase ao conceito de 
Desenvolvimento Sustentável.
Assim, examinar o conceito de desenvolvimento e, particularmente, alguns de seus modelos ora 
mais sintonizados, ora mais distantes da temática ambiental é o principal objetivo desta aula 
que denuncia a visão limitada e obtusa que o conceito de desenvolvimento encerrou durante 
décadas quando o mesmo era pensado apenas a partir de seu viés econômico sem considerar 
outras dimensões.
Associados à ideia de desenvolvimento, outros conceitos como crescimento e progresso são 
examinados em profundidade relacionados à atual realidade de crise ambiental e o projeto de 
sustentabilidade proposto pela Agenda 21. Seria a viabilidade desta proposta uma utopia? Seria 
possível conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade? O que seriam os modelos 
alternativos de desenvolvimento? Leia com atenção as páginas desta aula, reflita e tire suas 
próprias conclusões.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Analisar de forma aprofundada cada uma das seis principais dimensões da sustentabilidade, 
consciente de que não existe hierarquia entre as mesmas e que estas estão inter-
relacionadas.
 » Conhecer alguns dos principais autores, bem como práticas e estratégias relacionados 
a cada uma dessas dimensões.
 » Refletir sobre os desafios de uma sustentabilidade real e concreta a partir do compromisso 
da sociedade em âmbito planetário.
2
AulA
PARA EntEnDER O 
DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
21
PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
 » Entender que a construção da sociedade sustentável é uma necessidade que não pode 
esperar pelo outro, mas deve começar por nós mesmos.
Do que trataremos?
Nesta aula, iremos conversar sobre um dos maiores 
desafios que as nações do mundo têm debatido 
atualmente: a conquista da sustentabilidade. Para 
alguns, trata-se de um caminho viável a longo prazo. 
Para outros, uma utopia que muito dificilmente 
terá condições de um dia vir a se concretizar. A 
sustentabilidade, como veremos, é um conceito 
complexo que abarca várias dimensões, estratégias 
e processos com reflexos em diferentes áreas. É 
justamente em função de sua amplitude própria que 
a mesma não pode ser alcançada através de projetos 
mirabolantes e propostas gestadas nos gabinetes e escritórios dos grandes chefes de Estado. As 
pequenas vitórias alçadas nessa área têm mostrado que sem a participação da sociedade civil 
organizada, incluindo nessa esfera a atuação de ONGs, comunidades, empresas, instituições 
diversas, bem como as universidades e a imprensa, não será possível alcançá-la. Em outras palavras, 
é importante esclarecer desde já que a sustentabilidade é fruto de uma conquista coletiva, onde 
todosprecisam se ajudar se quisermos de fato torná-la uma realidade viável.
Embora os dicionários costumem definir 
sustentabilidade como a qualidade do que é 
sustentável, este é um conceito bem mais amplo 
do que esta simples definição pode levar a crer. 
O que se pretende com essa aula é tecer algumas 
considerações essenciais em torno do que seja 
sustentabilidade, esclarecendo melhor o que esta 
representa e enfatizando o que se convencionou 
chamar de desenvolvimento sustentável com especial 
destaque para as questões relativas à sustentabilidade 
na realidade de nosso país.
Essa não é uma tarefa fácil, uma vez que ao tentar esclarecer o que signifi ca, suas implicações e 
seus desdobramentos, faz-se necessário considerar, impreterivelmente, sua teia de vinculações 
com outros termos de igual complexidade como responsabilidade social, pobreza, meio ambiente, 
sociedade, desenvolvimento, globalização e outros, e, ainda, denunciar alguns discursos falaciosos 
em torno desta, utilizados por oportunistas que vêem na mesma não uma via de esperança para as 
soluções de graves problemas que o planeta vem enfrentando, mas sim, de maneira reducionista 
Provocação
Olá!
Seja bem-vindo a esta nova aula.
Você sabe o que é sustentabilidade? Pois nesta 
aula você terá oportunidade de conhecer melhor 
o que seja sustentabilidade, sua amplitude e 
importância. Esperamos que, ao fi nal de seu 
estudo e refl exão, você também esteja empenhado 
não apenas em se aprofundar no seu estudo, mas 
também em promovê-la.
Sugestão de estudo
AFONSO, Cintia Maria. Sustentabilidade - 
Caminho ou Utopia? São Paulo: Annablume, 2004.
Este texto, de caráter introdutório, pretende 
oferecer subsídios a discussões efetivas sobre a 
sustentabilidade, entendida como a manutenção 
quantitativa e qualitativa do estoque de recursos 
ambientais, usando-os sem danifi car suas fontes 
ou limitar a capacidade de suprimento futuro.
22
AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
e, por vezes, até perversa, como uma mera oportunidade de negócio e enriquecimento às custas 
da deterioração ambiental e aumento das desigualdades sociais. Surgem daí as perguntas-
chave que o título desta aula enfatiza: sustentabilidade do quê? Sustentabilidade por quê? E 
sustentabilidade para que? Perguntas estas que precisam ser respondidas se queremos de fato 
adotar uma postura sustentável em vez de assumir uma “maquiagem de sustentabilidade” que 
pouco contribui para enfrentar os problemas que a sustentabilidade real nos obriga a encarar.
Por trabalhar na área de Educação Ambiental já há algum tempo, o autor deste trabalho tem 
visto, e, de certa forma, comprovado o quanto a sustentabilidade está longe de ser uma conquista 
defi nitiva na humanidade. Ignorada durante séculos, ela hoje mais do que nunca se torna 
um imperativo se quisermos enfrentar os graves problemas pelos quais não apenas os seres 
humanos, mas todos os organismos vivos vêm hoje enfrentando em sua luta pela sobrevivência. 
Isto diz respeito tanto ao aquecimento global quanto à AIDS que se alastra a passos largos pelo 
mundo, tanto à dívida externa crescente dos países mais pobres quanto à redução sensível da 
biodiversidade, tanto ao aumento do desemprego em todo o mundo quanto ao insuportável 
grau de poluição que o planeta conseguiu alcançar, tanto ao esgotamento dos recursos naturais 
quanto ao desrespeito ao patrimônio cultural alheio.
Esta aula parte do princípio de que uma das formas 
de ajudar a promover a sustentabilidade é conhecer 
melhor o que esta seja, entendendo suas implicações 
e importância, uma vez que só nos interessamos 
e nos envolvemos, de fato, com alguma coisa 
quando aprendemos mais sobre ela. Este é, sem 
dúvida, o principal objetivo deste estudo: Auxiliar a 
compreensão e o entendimento do que seja sustentabilidade e a partir daí sensibilizar os que a 
ela tiverem acesso a serem, também, um de seus agentes promotores, fazendo a sua parte para 
que paulatinamente esta possa vir a ter chances de se concretizar. Como teremos oportunidade 
de estudar, toda ajuda é importante, toda contribuição é bem-vinda, todo auxílio é válido quando 
se trata de colocar em prática esse desafi o.
A sustentabilidade e suas dimensões
O objeto de estudo desta aula é a sustentabilidade, 
palavra que está na moda sendo utilizada de forma 
coloquial por muita gente. Jornalistas, empresários, 
políticos e profissionais de diversas áreas têm 
utilizado a mesma sem compreender de fato o 
que esta significa em termos de abrangência e 
Para refl etir
Como você se posiciona diante da questão da 
sustentabilidade? Tem uma posição a respeito? 
Você considera que nosso país tem condições de 
promovê-la ou esta é uma utopia?
Atenção
O conceito de sustentabilidade é complexo e pode 
ser desmembrado em seis dimensões: social, 
ecológica, espacial, cultural, político-institucional 
e econômica, existindo uma íntima relação entre 
as mesmas, de maneira que ao promover uma 
estamos ajudando na promoção da outra.
23
PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
importância, seja por desconhecimento, banalização ou má-fé de quem utiliza um discurso 
cuja tônica central é a sustentabilidade.
Segundo Leroy (1997), existem centenas de definições de sustentabilidade contribuindo 
sensivelmente para uma difi culdade operacional do conceito. Assim sendo, examinemos suas 
origens. O termo “sustentabilidade” é, na verdade, oriundo da Ecologia natural. A sustentabilidade 
é um conceito usado para denominar a “tendência dos ecossistemas à estabilidade, à homeostase, 
ao equilíbrio dinâmico, baseado na interdependência e complementaridade das formas vivas 
diversifi cadas” (HERCULANO, 1992: 13). Segundo Andrae (1994), esse conceito foi utilizado 
na literatura científi ca pela primeira vez no ano de 1713, por Carlowitz, que o empregou para 
caracterizar uma técnica de uso do solo que garantisse, durante um longo período, rendimentos 
para a produção fl orestal. A partir dessa herança ecológica, a sustentabilidade é entendida, ainda 
hoje, como a propriedade de um processo que, além de continuar existindo no tempo e no espaço, 
se revela capaz de manter um padrão de equilíbrio e qualidade através de uma autonomia de 
manutenção e pertencimento simbiótico a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis, 
tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza (www.sustentabilidade.org.br). 
Quando o conceito surgiu, algumas críticas 
foram dirigidas à idéia de uma sustentabilidade 
como “manutenção”. Assim sendo, lutar pela 
sustentabilidade social implicaria lutar para 
manter o quadro social atual onde os países ricos 
continuam cada vez mais ricos e os países pobres 
cada vez mais pobres. Surgiu daí a necessidade 
de não apenas explicitar melhor os diferentes 
sentidos do termo e as dimensões a ele atreladas, 
como também defi nir com clareza o que queremos 
sustentar, por que queremos e a serviço de quem 
estamos ao buscar a sustentabilidade. Comecemos 
pelo estudo de suas dimensões.
Saiba mais
Sobre a solidariedade:
Podemos entender a solidariedade como a capacidade de compartilhar dos sofrimentos de outras pessoas e 
buscar meios para ajudá-las. Existem diferentes instituições em todo o mundo criadas exclusivamente para 
esse fi m em grande número, em praticamente todas as cidades brasileiras. Além de arrecadar e distribuir, 
entre os carentes, alimentos, agasalhos, essas instituições normalmente concentram seus trabalhos com 
crianças, promovendo sua educação, e com idosos, amparando-os e promovendo sua socialização.
Saiba mais
Ecodesenvolvimento:
Segundo Sachs, o Eco desenvolvimento pode ser 
entendido como um estilo de desenvolvimento 
aplicável a projetos rurais e urbanos, orientado 
para a busca de autonomia e a satisfação prioritária 
das necessidades básicas das populações. Dentro 
dessa perspectiva,deveriam ser fi xados critérios de 
prudência ecológica e democracia de opções locais no 
plano das fi nalidades e instrumentalidade do processo 
de desenvolvimento em termos de implantação e 
execução.
24
AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
Inspirado na obra de Ignacy Sahcs (1993), um dos conhecidos estudiosos nessa área, propositor 
do conceito “Ecodesenvolvimento”, o documento Ciência & Tecnologia para o Desenvolvimento 
Sustentável, elaborado a pedido do Ministério do Meio Ambiente – MMA (2000), traz algumas 
respostas às questões anteriores ao considerar as seguintes dimensões de sustentabilidade:
 » Sustentabilidade social: pautada nos princípios da eqüidade na distribuição de renda 
e de bens, da igualdade de direitos à dignidade humana e da solidariedade dos laços 
sociais, a conquista dessa dimensão implica a garantia de que todas as pessoas tenham 
condições iguais de acesso a bens e serviços de boa qualidade necessários para uma 
vida digna (eqüidade social).
 » Sustentabilidade ecológica: está ancorada no princípio da solidariedade com o planeta 
e suas riquezas e com a biosfera que o envolve. Esta dimensão da sustentabilidade exige 
uma maior compreensão e, consequentemente, uma mudança de atitude em relação 
aos processos e dinâmicas do meio ambiente, a partir do entendimento de que o ser 
humano nada mais é do que apenas uma das partes deste ambiente e no uso controlado 
e sustentável dos recursos naturais, respeitando sua capacidade de renovação.
 » Sustentabilidade econômica: essa dimensão de sustentabilidade engloba fatores 
como geração de trabalho, a possibilidade da distribuição de renda, a promoção do 
desenvolvimento das potencialidades locais e a diversificação de setores e atividades 
econômicas favorecedoras de um desenvolvimento econômico sensível às questões 
socioambientais. Isso implica não só a necessidade de manter fluxos regulares de 
investimentos, mas também uma gestão eficiente dos recursos produtivos, respeitando o 
meio ambiente. Sua conquista deverá sempre ser avaliada a partir da sustentabilidade 
social propiciada pela organização da vida material.
SOBRE IGNACY SACHS
Ignacy Sachs foi pioneiro ao pensar as diferentes dimensões da sustentabilidade em seu 
conceito de ecodesenvolvimento. 
Nascido na Polônia e naturalizado francês, Ignacy Sachs é considerado um dos sociólogos 
mais respeitados deste final de século. Assessor especial da ONU, durante a Rio-92, Sachs atua 
hoje como professor da École des Hautes Études Sociales de Paris, sendo difícil não associar a 
proposta ecodesenvolvimentista ao seu principal divulgador e impulsionador.
Das seis dimensões utilizadas no Documento do MMA, cinco delas foram propostas por Sachs, sendo incluída apenas a 
dimensão político-institucional.
 » Sustentabilidade espacial: deve ser norteada pelo alcance de uma eqüanimidade nas 
relações inter-regionais e na distribuição populacional entre o rural/urbano e o urbano. 
A conquista desta dimensão implica um uso adequado e planejado do território onde 
todas as pessoas tenham condições de viver de forma digna, tendo acesso à infra-estrutura 
básica de moradia e de habitação (saneamento, água, coleta de lixo) sem agressões ao 
meio ambiente. Para Sachs (1993), esta dimensão implica a busca de uma configuração 
rural-urbana equilibrada e uma melhor solução para os assentamentos humanos.
25
PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
 » Sustentabilidade político-institucional: a 
conquista desta dimensão implica a sensibilização 
e a mobilização das pessoas, de modo a ampliar 
sua cidadania através do favorecimento do acesso 
e entendimento das informações pertinentes a 
uma localidade, o que permitiria uma maior 
compreensão dos problemas e oportunidades, 
superar as práticas e políticas de exclusão e buscar 
o consenso nas decisões coletivas. De modo 
particular, esta dimensão da sustentabilidade é 
um pré-requisito para a continuidade e sucesso 
de qualquer projeto de ação de base social e/ou 
comunitária.
 » Sustentabilidade cultural: tal dimensão da 
sustentabilidade é baseada no respeito à afi rmação 
do local, do regional e do nacional, no contexto da 
padronização imposta pela globalização. Sua promoção consiste em preservar e divulgar 
a história, tradições e valores regionais, acompanhando suas transformações. Para se 
buscar essa dimensão, precisamos valorizar culturas tradicionais, divulgar a história da 
cidade, garantir a todos a oportunidade de acesso à informação e ao conhecimento e 
investir na construção, reforma ou restauração de equipamentos culturais. Sachs (1993) 
acrescenta que esta dimensão dedica-se a promover o respeito às diferentes culturas e 
às suas contribuições para a construção de modelos de desenvolvimento apropriados 
às especifi cidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local.
Um exame, mesmo despretensioso dessas diferentes 
dimensões da sustentabilidade propostas pelo MMA, 
serve ao entendimento do quanto este é um conceito 
denso, aberto às mais diferentes inter-relações envolvendo 
diferentes níveis de planos de ação e estratégias visando 
sua aplicabilidade. Vale frisar que todas as dimensões da 
sustentabilidade citadas atuam de forma inter-relacional 
de tal modo que a promoção de uma delas auxilia a 
conquista da outra, assim como os obstáculos ao alcance 
de uma afeta o sucesso da outra.
Barbieri (2000) é um dos autores que concorda com a ideia 
de que essas diferentes dimensões estão em constante 
interação, não se prestando, portanto, a qualquer tipo de 
Sugestão de estudo
Em obra recente, o Professor Vilson Carvalho 
analisa a importância da cultura local como 
elemento fundamental para a valorização 
da memória local e, conseqüentemente, da 
identidade daqueles que vivem no mesmo, 
bem como para a mobilização de forças em 
prol de um causa comum. A valorização 
de elementos culturais representa mais do 
que a mera preservação do passado, mas 
a possibilidade de construir um futuro 
valorizando o que as gerações passadas 
fi zeram e evitando cometer com elas os 
mesmos erros.
Confi ra em:
CARVALHO, V. Educação Ambiental Urbana. 
RJ: WAK, 2008.
Sugestão de estudo
BATISTA, Eliezer; CAVALCANTI, Roberto 
Brandão; FUJIHARA, Marco Antonio.
Caminhos da sustentabilidade no Brasil. 
São Paulo: Terra das Artes, 2005.
O livro reúne a visão de três autores, entre 
eles, o diretor de sustentabilidade da 
Pricewaterhouse Coopers, Marco Antônio 
Fujihara, sobre os desafi os, causas e 
oportunidades nesse campo, bem como 
exemplos práticos que o setor empresarial, 
assim como as ONGs, tem para mostrar 
a respeito da aplicação de conceitos de 
sustentabilidade no dia a dia.
26
AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
tratamento isolado. Não se pode estudá-las em separado, de forma fragmentada, e depois justapô-
las para formar um quadro de referência e, assim, estabelecer os objetivos de desenvolvimento e 
os meios para alcançá-los. Para este autor, dadas as múltiplas interações entre essas dimensões, 
as decisões sobre estes objetivos e meios acabam sendo feitas com base em conhecimentos 
incompletos sobre o meio físico, o biológico e o social, daí a grande difi culdade de considerá-las 
simultaneamente. O princípio da precaução pode ser útil na escolha desses meios. Esse princípio 
encontra-se na Declaração do Rio de Janeiro de 1992, a saber:
Para proteger o meio ambiente, os Estados devem aplicar do modo mais amplo os 
princípios da prevenção conforme suas capacidades. Diante da ameaça de dano 
grave ou irreversível, a falta de uma considerável certeza científi ca não deverá 
ser usada como motivo para adiar a adoção de medidas para evitar a degradação 
ambiental em decorrência dos seus custos. 
(Princípio no 15)
Daí a importância de que tais dimensões, consideradas conjuntamente, possamfavorecer 
estratégias mais amplas de atuação a partir de uma ótica “glocal”, como diria Lizt Vieira (1998), 
considerando questões tanto de cunho local e de cunho global.
Analisando os principais problemas e desafi os vivenciados na contextura urbana, o documento 
Cidades Sustentáveis, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o consórcio 
Parceria 21 – constituído pelas seguintes organizações civis: Instituto Brasileiro de Administração 
Municipal (IBAM), Instituto Social de Estudos da Religião (ISER) e Rede de Desenvolvimento 
Humano (REDEH) – destaca a diferença entre dois tipos de sustentabilidade: a sustentabilidade 
ampliada e a sustentabilidade progressiva. A sustentabilidade ampliada aborda a sinergia entre as 
dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento, do que decorre a necessidade de 
se enfrentar conjuntamente a pobreza e a degradação ambiental; e, a sustentabilidade progressiva, 
por sua vez, aborda a sustentabilidade como um processo pragmático de desenvolvimento 
sustentável, englobando a produção, a conservação e a inclusão. 
Vale destacar aqui que o alcance da sustentabilidade 
global passa por ambos os tipos e que sua conquista 
está diretamente relacionada ao grau de consciência 
dos habitantes do planeta da importância de sua 
participação ativa e solidária, onde somente de forma 
democrática e coletiva torna-se mais viável fazer a nossa 
parte, estimulando outros a participar (sensibilizando-
os), e, ainda, cobrar das autoridades democraticamente 
eleitas que façam o mesmo.
Atenção
A defi nição mais aceita para desenvolvimento 
sustentável é o desenvolvimento capaz de 
suprir as necessidades da geração atual, 
sem comprometer a capacidade de atender 
as necessidades das futuras gerações. É o 
desenvolvimento que não esgota os recursos 
para o futuro.
27
PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
O desenvolvimento sustentável
A grosso modo, podemos definir desenvolvimento como o processo de promoção da melhoria 
qualitativa das condições de vida da população de um país, de uma região ou de um local específico. 
Combinando o conceito de sustentabilidade à noção de desenvolvimento, a Comissão Mundial sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) mostrou ao mundo a importância de uma correção 
dos modelos e estratégias de desenvolvimento até então empregadas no contexto internacional, 
de forma a garantir um melhor padrão de vida que se “sustentasse” ao longo dos séculos. Embora 
alguns autores achassem que os termos “desenvolvimento” e “sustentabilidade” eram contraditórios, 
a apropriação dos mesmos trabalha com a idéia de que “equilibrado” não significa necessariamente 
“estacionado” ou “parado”, mas sim a expressão de um constante movimento de equilíbrio, ou 
melhor, sucessivas ações para se manter em equilíbrio; o que anularia a possibilidade de referências 
a uma situação de “equilíbrio”, como uma situação de “imobilidade”.
Sobre o conceito de desenvolvimento
A palavra desenvolver significa literalmente “desenrolar”. Existe uma série de definições para os mesmos 
de acordo com a linha teórica a se pautar. Alguns defendem a idéia de que o desenvolvimento possa ser 
provocado, outros que um determinado organismo, localidade ou instituição já possua uma capacidade 
natural para se desenvolver sem a necessidade de interferências externas.
Apesar do termo desenvolvimento possuir muitos e diferentes significados, durante décadas, predominou a 
idéia de desenvolvimento igual a crescimento ou avanço econômico.
A utilização do conceito em si não foi uma idéia original, já que o próprio Relatório do Clube 
de Roma muito antes, também, já havia utilizado literalmente o termo sustentável, ao defender 
a importância do desenvolvimento de um sistema mundial sustentável capaz de satisfazer as 
necessidades materiais básicas de todos os habitantes do planeta (MEADOWS, 1972: 98). No 
entanto, apesar deste e de outros estudos já terem considerado não só a questão das limitações 
externas da capacidade de resistência dos recursos do planeta, mas também as necessidades 
internas das necessidades humanas; o Relatório Brundtland, como também é conhecido, 
merece destaque pelo mérito de apresentar ao mundo – a partir de um exaustivo trabalho 
conjunto e interdisciplinar de pesquisa – uma proposta nova e atualizada de desenvolvimento 
social e econômico que procurava “atender as necessidades do presente sem comprometer a 
possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, G., 
1991: 46). Essa é, sem dúvida alguma, a definição mais conhecida do desenvolvimento sustentável 
ou sustentado, onde são sublinhadas as interconexões existentes entre economia, tecnologia, 
política e sociedade; e chamando à atenção da comunidade internacional para a importância “da 
adoção de uma nova postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações 
como entre os membros contemporâneos da sociedade atual” (BRÜSEKE, 1995: 33). 
28
AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
A idéia de sustentabilidade já deveria induzir 
a uma nova ótica de desenvolvimento. O 
panamenho Rodrigo Tarté adverte que 
a sustentabilidade, per si, já encerraria 
“dimensões econômicas e sociais orientadas 
a satisfazer as necessidades e aspirações 
humanas essenciais” (TARTÉ, 1995: 49). Se a 
sustentabilidade em sua conceituação original 
signifi cava, essencialmente, “a possibilidade de 
se obterem condições iguais, ou superiores de vida, para um grupo de pessoas e seus sucessores 
em um dado ecossistema” (CAVALCANTI, 1995: 165), quando, aliada à noção de desenvolvimento, 
esta passou a se referir à idéia de um limite (superior) para o progresso, onde se faz necessária a 
adoção de políticas e estratégias para garantir que o homem não ultrapasse o mesmo, mantendo 
assim o suporte da vida que o sustém. Se defi nindo por oposição ao que é insustentável, ou 
melhor, a algo cuja fragilidade é notória, a sustentabilidade parece querer reforçar esse suporte, 
pretendendo a sustentação do mesmo, alicerçando-o em bases sólidas e garantindo sua existência 
para as gerações do porvir.
A proposta do Desenvolvimento Sustentável é, sem dúvida, a mais conhecida entre as diferentes 
propostas de desenvolvimento alternativo sendo, inclusive, a mais divulgada na imprensa e até 
mesmo na academia, tornando-se uma espécie de “denominador comum no discurso político 
internacional, na área diplomática e nas atividades educacionais e legislativas” (ALMEIDA JR., 
1993: 43). Entidades internacionais, como a UNESCO e o Banco Mundial, “adotaram-na para 
marcar uma nova fi losofi a do desenvolvimento que combina efi ciência econômica, justiça social 
e prudência ecológica” (BRÜSEKE, 1995: 34-35). 
Conselho de Desenvolvimento Sustentável (CDS) - ONu
A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CSD) da ONU foi criada na Assembléia Geral da ONU em 1992, visando 
assegurar continuidade à Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio - 92). 
Para tanto, é responsável por acompanhar o processo de implementação da Agenda 21 e a Declaração do Rio sobre 
Meio Ambiente e Desenvolvimento. Além disso, busca prover um melhor direcionamento para que se acompanhe o 
Plano de Aplicação de Joanesburgo nos níveis local, regional e internacional. 
A Comissão encontra-se, anualmente, em Nova Iorque e de dois em dois anos discute um tema específi co. As sessões 
são abertas, o que possibilita a participação tanto dos atores governamentais quanto dos não governamentais. Nos 
anos de 2005/2006, os focos são energia para desenvolvimento sustentável, desenvolvimento industrial, poluição do 
ar/atmosfera e mudanças de clima. 
Confi ra outros detalhes no site: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=2016.
Supondo uma transformação progressiva da economia e da sociedade, oumelhor, pretendendo 
uma “nova ordem internacional” (HERCULANO, 1992:11), a proposta do Desenvolvimento 
Saiba mais
A Comissão que gerou o Relatório Brundtland foi formada 
por 21 membros, oriundos de diferentes países, em 
diferentes estágios de desenvolvimento. Gro-Brundtland 
patrocinou reuniões iferentes partes do mundo, inclusive 
em SP, para discutir problemas ambientais gerais e 
específi cos, bem como as soluções encontradas para estes 
desde a Conferência de Estocolmo (1972). 
29
PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
Sustentável é endossada como aquela que implica um processo onde a exploração de recursos, 
a direção dos investimentos, as mudanças institucionais e a orientação do desenvolvimento 
tecnológico se harmonizariam para reforçar os potenciais presente e futuro e garantir a satisfação 
das necessidades e aspirações futuras da humanidade (BRUNDTLAND, 1991), compreendendo 
um duplo comprometimento com os seres humanos e a ambiência dos mesmos (Mendes, 1995). 
Entretanto, sua aplicabilidade e conseqüente possibilidade de sucesso não são tarefas fáceis, uma 
vez que requerem, segundo a Comissão Brundtland, uma complexa sustentação de diferentes 
sistemas interligados e dependentes:
Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo 
decisório; um sistema econômico capaz de gerar excedentes e know-how técnico 
em bases confiáveis e constantes; um sistema social que possa resolver as tensões 
causadas por um desenvolvimento não-equilibrado; um sistema de produção 
que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento; um 
sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções e um sistema 
administrativo flexível capaz de autocorrigir-se. 
(BRUNDTLAND, G., 1991: 70)
Desenvolvimento sustentável: fim ou meio?
Quando se pensa em desenvolvimento sustentável, existem duas visões cuja diferença longe 
de ser insignificante diz respeito à forma como entendemos o que este seja e qual a sua real 
importância. 
Uma primeira visão entende o desenvolvimento sustentável como um fim em si mesmo e 
uma segunda vê o desenvolvimento sustentável como um meio para se alcançar uma série 
de conquistas como a eqüidade social e o equilíbrio ecológico, por exemplo. Nessa última 
concepção, como assinala Gómez (1998), o desenvolvimento sustentável deverá criar condições 
para atingir uma sociedade mais igualitária ou menos injusta. Na primeira visão, por sua vez, 
o desenvolvimento sustentável já seria em si um fim desejado, ou seja, ele só será de fato 
alcançado se houver uma melhor distribuição de renda, preservação dos recursos naturais.
E você como se posiciona? Seria o desenvolvimento sustentável um meio ou um fim? 
Para saber mais, leia o artigo de Gómez, W. – “Desenvolvimento Sustentável, Agricultura e 
Capitalismo” (pp. 95-116) no livro de:
BECKER, D. Desenvolvimento Sustentável: necessidade e/ou possibilidade. Santa Cruz do 
Sul: EDUNISC, 1999.
Tal dificuldade se refere ao montante substancial de recursos a serem despendidos para a 
sustentação do equilíbrio entre esses sistemas e os subsistemas a eles relacionados, o que, na 
maioria dos casos, especialmente para os países em desenvolvimento, se constitui numa barreira 
30
AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl
considerável. Além do custo fi nanceiro, existe uma série de outros fatores que, com certeza, 
também interfere nesse processo, como a falta de conscientização política, devido aos elevados 
índices de analfabetismo em muitos países; as graves desigualdades sociais e, ainda, as relações 
desfavoráveis do comércio internacional, tendo em vista o fato de que os países detentores dos 
produtos manufaturados e tecnologia avançada (valor mais alto de mercado) terem sempre maior 
poder de barganha do que os demais países que negociam com matérias-primas. O impasse para 
aplicabilidade do Desenvolvimento Sustentável, através de projetos exeqüíveis, está justamente 
na resolução dessas difi culdades, que não devem ser encaradas como restrições irremovíveis, 
mas como desafi os a serem superados.
Segundo o Conselho Internacional de Iniciativas 
Ambientais Locais – International Council for 
Local Environmental Initiatives (ICLEI, 1996), o 
desenvolvimento sustentável deve ser encarado como 
um programa de ação para reformar a economia global 
e regional, cujo desafi o é criar, testar e disseminar 
meios para mudar o processo de desenvolvimento 
econômico de modo que ele não destrua os 
ecossistemas e os sistemas comunitários, tais como, cidades, vilas, bairros e famílias. No âmbito 
local, o desenvolvimento sustentável requer que o desenvolvimento econômico local apóie a 
vida e o poder da comunidade, usando os talentos e os recursos locais. Isso está em sintonia com 
o desafi o de distribuir os benefícios eqüitativamente e mantê-los no longo prazo para todos os 
grupos sociais, o que só pode ser alcançado prevenindo os desperdícios ecológicos e a degradação 
dos ecossistemas pelas atividades produtivas. 
 Resumo
Vimos até agora:
O desenvolvimento sustentável propõe a conciliação entre desenvolvimento socioeconômico, 
gerando riquezas, conforto, emprego etc., aliado conjuntamente ao conservacionismo e que esta 
proposta leva em consideração o uso racional dos recursos naturais, pois afi nal de contas não 
seremos a ultima geração da Terra, então se faz necessário a preservação para as futuras gerações; 
O desenvolvimento sustentável possui seis aspectos prioritários que devem ser entendidos como 
metas: 1) a satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, 
lazer); 2) A solidariedade para com as gerações futuras (preservação da realidade ambiente para as 
mesmas); 3) A participação da população envolvida (conscientização da necessidade de conservar 
o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); 4) A preservação dos recursos naturais 
(água, oxigênio); 5) A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e 
Para refl etir
Relacionado à pergunta da página anterior, 
como você vê a colocação do ICLEI? Deveria o 
desenvolvimento sustentável ser encarado como 
um programa de ação? Quais seriam as vantagens 
dessa concepção?
31
PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2
respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações 
oprimidas como, por exemplo, os índios); 6) A efetivação dos programas educativos (viabilização 
de sua criação e continuidade);
Por fim, vimos que para aplicação, pelo menos parcial, de uma política de desenvolvimento 
sustentável, é preciso que diferentes setores se comprometam com sua aplicabilidade no cotidiano.
32
Apresentação 
Nesta aula, vamos nos aprofundar um pouco mais, buscando reunir e discutir alguns conceitos 
e definições sobre ética e responsabilidade social, sempre de forma contextualizada. 
Iremos, em um primeiro momento, conhecer a definição de primeiro, segundo e terceiro setores 
para a seguir compreender como surgiu a noção de responsabilidade social. Conheceremos, 
ainda, algumas das principais visões que se têm atualmente sobre o tema, para finalmente 
articulá-lo à reflexão ética.
Objetivos
Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de:
 » Identificar e diferenciar o que são e como atuam os três setores.
 » Compreender a noção de Responsabilidade Social no atual mundo do trabalho.
 » Identificar, de forma crítica, práticas de Responsabilidade Social.
3
AulA
RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: 
PRImEIRAS APROxImAçõES
33
RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES • AulA 3
Aproximações iniciais
Em nossas primeiras aulas, começamos a nos aproximar 
das questões que são objeto de nosso caderno de 
estudos; a responsabilidade social, o desenvolvimento 
sustentável e a ética. Iniciamosnossa aula buscando 
incentivar o desenvolvimento de uma prática refl exiva e, 
para isso, insistimos na importância de se desnaturalizar modos de se pensar e viver a realidade, 
contextualizando nossos campos de estudo e trabalho.
Discutimos também sobre a noção de crise, articulando-a à própria ideia de transformação 
social como algo inerente à história da humanidade. Embora aceitemos esse ponto de partida, 
percebemos que as mudanças contemporâneas podem ser defi nidas a partir de um conjunto 
de fatores, entre os quais está a própria velocidade que caracteriza as atuais transformações.
Neste contexto, e de diferentes maneiras, grande parte das análises que encontramos da atualidade 
incluem uma preocupação – ou ao menos um questionamento – sobre as problemáticas e ações 
sociais. 
Como vimos anteriormente, o progresso científi co e o avanço tecnológico não foram capazes de 
assegurar o bem-estar e o desenvolvimento social, como esperado. Paralelamente, mudanças 
políticas, sociais e econômicas contribuíram para que tivéssemos que rever antigas ilusões e 
ideologias, frente a um crescente cenário de desigualdade e exclusão social.
O debate em torno da responsabilidade social e da ética insere-se neste panorama, ao lado das 
noções de cidadania e de terceiro setor.
Fazendo um “recorte” no tempo e aproximando-nos um pouco mais da realidade brasileira, 
percebemos que o Brasil vive uma história muito recente em termos de democratização e de 
formação cidadã.
Até vinte anos atrás, não somente o Brasil, mas os 
países latino-americanos eram governados pelo 
regime ditatorial, onde a sociedade estava totalmente 
controlada pelo Estado e o cidadão não tinha voz, ou 
seja, não possuía o direito legítimo de reivindicar e se 
mobilizar para assegurar seus direitos.
O início do processo de democratização brasileira – que tem como ponto alto a Constituição de 
88 – dá-se de forma articulada à própria organização da sociedade civil. A década de 80 é marcada 
pela redução de postos de trabalho, pelas mudanças nas relações e no mundo do trabalho. 
Provocação
Relembre algumas das principais características 
da contemporaneidade, retomando a aula 1.
Saiba mais
A constituição de 88 é conhecida como 
“Constituição Cidadã” e destaca, pela primeira 
vez, a importância da ordem social. Neste 
sentido, podemos ressaltar os seguintes artigos:
34
AulA 3 • RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES
Paralelamente, iremos perceber uma progressiva redução do papel executivo do Estado e uma 
paulatina ampliação do papel e poder da iniciativa privada.
Do Título I - Dos Princípios Fundamentais, o Artigo 3º: 
Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:  
I  -  construir uma sociedade livre, justa e solidária;
II  -  garantir o desenvolvimento nacional; 
III  -  erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais 
e regionais;
IV  -  promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Do Título VIII   - Da Ordem Social, as Disposições Gerais do Capítulo I, os 
seguintes artigos:
Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo 
o bem-estar e a justiça sociais;
Arts. 205 a 214 – Educação;
Arts. 215 e 216 - Cultura;
Art. 217 – Desporto;
Art. 225 - Meio Ambiente;
Arts. 226 a 230 - Família, Criança, Adolescente e Idoso.
Não nos cabe aqui esmiuçar as transformações ocorridas nas últimas décadas, mas sim destacar e 
buscar compreender como o papel e as relações entre o Estado, a iniciativa privada e a sociedade 
civil organizada vêm se modificando e como estas esferas têm se colocado frente às problemáticas 
e alternativas de desenvolvimento social.
Simone Coelho, doutora em Ciência Política pela USP, ajuda-nos a melhor compreender o que 
estamos expondo e afirma que:
Nesse sentido, a literatura contemporânea tem se esforçado em repensar o 
papel do Estado e sua participação no desenvolvimento social. É evidente a crise 
mundial de uma concepção de Estado – mais conhecida como welfare state – na 
qual se configuram governos centralizados e burocratizados, com política social 
expressiva e serviços padronizados que têm por meta suprir as necessidades 
sociais da população.
(COELHO, 2000)
35
RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES • AulA 3
Entenda melhor:
A tradicional concepção de welfare state tem como foco a centralização do poder do Estado como o grande “provedor” de 
todos os serviços necessários à população. Segundo esta visão, um Estado forte deveria ser capaz de distribuir riquezas 
e minimizar desigualdades sociais, garantindo emprego e renda, além dos demais direitos a todos os cidadãos. Para isso, 
prioriza-se a intervenção do Estado na esfera pública. 
Com a crise deste modelo – pela própria impossibilidade de sua sustentação aliada à crescente complexidade dos problemas 
sociais – começam a surgir ações da iniciativa privada e da própria sociedade civil de modo a construir alternativas para as 
questões sociais. Ou seja, a garantia de direitos deixa de estar a cargo somente do Estado. Empresas, cidadãos e grupos da 
sociedade passam a atuar, de maneira complementar, conquistando importância e papel fundamental neste contexto.
Os três setores e suas finalidades
Assim, chegamos a um primeiro e fundamental marco conceitual: alguns teóricos defendem um 
modelo de organização da sociedade que poderia ser dividida em três grandes setores, quais sejam:
O primeiro setor, onde se situa o Estado como instância de regulação e de universalização de 
políticas públicas Þ recursos públicos para fins públicos.
O segundo setor, caracterizado pela iniciativa privada como geradora de riquezas Þ recursos 
privados para fins privados.
O terceiro setor, caracterizado pela sociedade civil organizada Þ recursos privados para fins 
públicos.
“Os três setores”: quadro sintético
SETOR CARACTERIZAÇÃO RECuRSOS FINS
1º Setor Estado Públicos Públicos
2º Setor Empresas Privados Privados
3º Setor Sociedade civil Organizada Privados e Públicos Públicos
(Fonte: baseado em Rubem césar Fernandes, 1994.)
 O terceiro setor e sua composição
Salientamos que o surgimento do terceiro setor não deve ser entendido em oposição ao Estado 
ou à iniciativa privada, mas de forma contextualizada, como organização da sociedade civil, de 
fins não econômicos, que surge dos movimentos sociais e populares e que vem complementar 
e fortalecer estratégias desenvolvidas pelo poder público e pelas empresas.
36
AulA 3 • RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES
A célebre defi nição do terceiro setor como algo público, porém privado ou algo privado, mas de 
interesse público aponta ao mesmo tempo para a perspectiva de que se trata de uma iniciativa 
da sociedade civil voltada ao bem público. Não são ações estatais do governo e não são ações 
privadas de empresas. O terceiro setor reúne um conjunto de iniciativas e possibilidades de 
participação de toda a sociedade em ações coletivas de transformação social e, com isso, inclui 
e oportuniza a participação de todos os cidadãos e cidadãs na construção de uma “sociedade 
livre, justa e solidária”.
O terceiro setor é assim composto por todas as organizações sem fi ns lucrativos – ou não 
econômicos como prevê o Novo Código Civil - que trabalham pela transformação social, 
buscando benefi ciar grupos ou coletividades. Estão aí incluídas as chamadas organizações não 
governamentais (ONG’s), as associações comunitárias, os movimentos sociais, as entidades 
fi lantrópicas, as fundações e os institutos empresariais.
Para fi xar:
ONG ou Organização Não Governamental é qualquer organização da sociedade civil, não estatal, sem fi ns lucrativos ou, 
segundo o Novo Código Civil, de fi ns não econômicos; a denominação passou a ser usada nos anos

Continue navegando