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Brasília - DF. Responsabilidade social e desenvolvimento sustentável Autores Mariana MOREIRA Vilson Sergio de CARVALHO Produção Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração Sumario Organização do caderno de estudos e pesquisa ..................................................................................................... 4 Introdução ............................................................................................................................................................................. 6 Aula 1 Um olhar sobre a contemporaneidade: contextualizando a discussão ..................................................... 7 Aula 2 Para entender o Desenvolvimento Sustentável ...............................................................................................20 Aula 3 Responsabilidade Social: primeiras aproximações .........................................................................................32 Aula 4 Gestão da Responsabilidade Social: estratégias e possibilidades ............................................................43 Aula 5 Educação Ambiental e Desenvolvimento Sustentável ..................................................................................65 Aula 6 Responsabilidade Social e Voluntariado ............................................................................................................84 Referências ..........................................................................................................................................................................93 4 Organização do caderno de estudos e pesquisa Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares. A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa. Provocação Textos que buscam instigar o aluno a refl etir sobre determinado assunto antes mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor conteudista. Para refl etir Questões inseridas no decorrer do estudo a fi m de que o aluno faça uma pausa e refl ita sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante que ele verifi que seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As refl exões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões. Sugestão de estudo complementar Sugestões de leituras adicionais, fi lmes e sites para aprofundamento do estudo, discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso. Praticando Sugestão de atividades, no decorrer das leituras, com o objetivo didático de fortalecer o processo de aprendizagem do aluno. 5 Organização do caderno de estudos e pesquisa Atenção Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a síntese/conclusão do assunto abordado. Saiba mais Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões sobre o assunto abordado. Sintetizando Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos. Para (não) fi nalizar Texto integrador, ao fi nal do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado. 6 Introdução Como o próprio nome diz, neste caderno, vamos nos dedicar ao estudo, reflexão e problematização sobre questões ligadas à ética, à Responsabilidade Social e ao Desenvolvimento Sustentável. O que é ética? Por que temos ouvido falar, de forma recorrente, neste termo? O que está sendo chamado de Responsabilidade Social? Em que sentido as discussões sobre ética e Responsabilidade Social afetam nossa vida pessoal e/ou profissional? Como podemos inserir os princípios do desenvolvimento Sustentável em nossos processos de gestão? Estas são algumas das principais reflexões que serão desenvolvidas neste caderno. Objetivos Este caderno de estudos contribuirá com o desenvolvimento das seguintes competências: » Desenvolver uma visão sistêmica, complexa e crítica sobre a contemporaneidade. » Ser capaz de identificar as atuais mudanças no mundo do trabalho. » Correlacionar as transformações contemporâneas aos desafios e possibilidades de sua área de formação / atuação profissional. » Ser capaz de compreender as dimensões e discussões relacionadas ao conceito de Desenvolvimento humano e de Desenvolvimento Sustentável. » Identificar e diferenciar o que são e como atuam os três setores. » Compreender a noção de Responsabilidade Social no atual mundo do trabalho. » Desenvolver visão estratégica, inserindo as práticas da Responsabilidade Social nos processos de gestão. » Desenvolver visão estratégica, inserindo a perspectiva da sustentabilidade nos processos de gestão. » Ser capaz de desenvolver iniciativas de educação ambiental nos negócios e organizações. » Ser capaz de gerir um programa de voluntariado. 7 Apresentação Nesta aula começaremos a conhecer e delinear o contexto a partir do qual vamos discutir as questões principais de nosso caderno de estudos, quais sejam: a ética e a responsabilidade social. Vamos trazer alguns elementos, dados e fatos históricos que nos ajudem a compreender melhor o porquê de estarmos estudando estes assuntos. Assim, vamos analisar o momento sócio- histórico-cultural que estamos vivendo, quais suas principais características e especificidades. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: » Desenvolver visão sistêmica, complexa e crítica sobre a contemporaneidade. » Ser capaz de identificar as atuais mudanças no mercado de trabalho. » Correlacionar as transformações contemporâneas aos desafios e possibilidades de sua área de formação/atuação profissional. » Ser capaz de compreender e analisar criticamente as noções de desenvolvimento. » Ser capaz de compreender as dimensões e discussões relacionadas aos conceitos de Desenvolvimento Humano. 1 AulA Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO 8 AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO Aproximações iniciais Quando queremos conhecer uma pessoa, geralmente procuramos saber seu nome, o que ela faz, sua história. Buscamos, de forma simples, levantar algumas informações como a idade ou o ano em que ela nasceu, a cidade ou o país em que viveu, se estuda e/ou trabalha, o que faz, como vive, enfim, qual é o seu contexto... Para ilustrar o que estamos falando, podemos procurar perceber, em nosso dia a dia, algumas situações em que faz toda a diferença falar, por exemplo, em uma pessoa que foi criança ou jovem nos anos 60 ou 70 e uma criança ou jovem “de hoje”. Quais eram as brincadeiras “daquele tempo” e como as crianças brincam atualmente? Quais eram as “bandeiras e sonhos” da juventude dos anos 60 ou 70 e quais são as “lutas e reivindicações” dos jovens de hoje? Não é preciso ir muito além. Há pouco tempo, acompanhei uma conversa entre um jovem, com seus vinte e poucos anos, e sua mãe, que devia aproximar-se dos cinquenta. Ele, muito surpreso, acabara de “descobrir” que sua mãe, quando criança, não tinha televisão em casa. O jovem filho desta senhora perguntava-lhe, estupefato “– Mãe, mas como é que vocês faziam sem televisão?” Ao que ela, muito “naturalmente”, contava que os finais de tarde, àquela época, eram dedicados a reunir as famílias – geralmente compostas por muitos filhos – os vizinhose amigos da redondeza para ouvirem os programas de rádio e depois, brincar. Você guarda seus discos de vinil ou nem sabe o que é isso? E aquele seu antigo walkman? Você vai à locadora de vídeos pegar um DVD? E o computador? E o celular? Você consegue se lembrar da primeira vez em que viu alguém falando em um telefone celular? Há menos de uma década, somente uma pequena minoria fazia uso do celular e do computador. Um amigo, hoje com pouco mais de quarenta anos, me contava, outro dia, que fez sua tese de doutorado em uma máquina de escrever. A cada correção, a cada revisão, a cada nova versão, era preciso digitar, ou melhor, DATILOGRAFAR, tudo de novo! Já pensou? Bem, vamos confessar! Quantos de nós fizemos aqueles famosos cursos de datilografia repetindo infinitamente o “asdfg, çlkjh”? Quem fez, não se esquece das enfadonhas repetições nas duras teclas da velha máquina de escrever! E, hoje, estamos aqui: reunidos virtualmente em um curso a distância! Que maravilha, não é mesmo? Acontece que, no dia a dia, não nos damos conta de muitas dessas mudanças e muito menos da velocidade com que elas têm acontecido. E mais: geralmente não percebemos ou não paramos para pensar que as coisas nem sempre foram da forma que são hoje, em nossas vidas. É como o espanto do jovem que não podia conceber a infância de sua mãe sem televisão. A TV está tão “incorporada” às nossas vidas que acabamos naturalizando as coisas, ou seja, acabamos achando que sempre foi assim! Que todos vivem e sempre viveram, naturalmente, da mesma forma que nós vivemos. 9 Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1 Toda essa historinha inicial serve para que comecemos a nos conhecer um pouco mais e marca, desde já, alguns “exercícios” importantes que deverão nos acompanhar em todo o nosso caderno de estudos e também – assim espero – em nossas práticas profi ssionais ao fi nal do curso. Desnaturalizar e contextualizar. Distanciar-se do que nos parece por demais natural e, em uma posição de “estranhamento” frente à realidade, vamos buscar contextualizar nosso estudo e nossa prática, aproximando-nos com um olhar refl exivo e crítico a fi m de ampliar nossa visão de mundo e dos objetos com os quais vamos trabalhar. De forma bastante refl exiva, levantamos também algumas situações que vêm mudando ao longo dos anos. Contextos diferentes que marcam diferenças nas pessoas. Deste ponto, vamos dar mais um passo em direção ao tema de nossos estudos, aproximando- nos, pouco a pouco, das questões relacionadas à ética e à responsabilidade social. Quando estamos nos aproximando de um campo de conhecimento é também importante fazermos este exercício de desnaturalização e contextualização. Quando queremos conhecer algum assunto ou mesmo ampliar as informações que já temos sobre determinada disciplina, é importante buscarmos a história daquele campo de conhecimento ou de atuação profi ssional. Com isso, estamos salientando a importância de se contextualizar tudo que vamos estudar ou trabalhar... É assim que pretendemos nos aproximar do estudo sobre ética e responsabilidade social. Podíamos ter começado definindo cada uma delas, apresentando conceitos e referenciais teóricos. Vamos chegar lá nas aulas que se seguirão, mas nosso ponto de partida será contextualizar o momento em que estamos vivendo para preparar este “terreno” de defi nições, conceitos e estratégias. Insistimos, então, na importância deste exercício de estranhamento frente ao que nos parecia natural, para distanciarmo-nos do que nos é familiar, aproximando-nos a seguir de forma refl exiva e crítica. A Filosofi a nos ensina a importância do exercício de refl exão. Filosofi a é um termo que vem do grego Philos-sophia e que signifi ca amizade pela sabedoria. Philos é amigo e sophos quer dizer sábio. Já refl exão vem do latim refl ectere e quer dizer fazer retroceder, voltar atrás, revelar, pensar, espelhar. O trabalho fi losófi co implica uma refl exão radical, profunda e rigorosa do mundo, contextualizando-o necessariamente. Assim, da Filosofi a não surge uma aplicação imediata ou pragmática das coisas, mas é ela que possibilita a ampliação da nossa compreensão sobre tudo aquilo que vivemos. Atenção Contextualizar, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, signifi ca: 1. prover de contexto; 2. incluir ou interpor num texto; 3. integrar (algo) num contexto; 4. criar um texto que contenha determinada palavra ou expressão (geralmente para dirimir dúvidas sobre a aceitabilidade da expressão); 5. contextuar. 10 AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO contextualizando A crise como ponto de partida É muito comum, nos dias de hoje, ouvirmos falar que estamos vivendo um momento de crise: social, de valores, de identidade, na família, na educação... Entretanto, ao olharmos ao longo do tempo, de forma mais minuciosa, iremos perceber que a noção de crise faz parte da história da humanidade. Com isso, afi rmamos que todas as sociedades sempre viveram momentos de crise, uma vez que a ideia de transformação social é inerente, isto é, faz parte da própria história (Moreira, 2006). Para entender nossa multifacetada crise cultural, precisamos adotar uma perspectiva extremamente ampla e ver a nossa situação no contexto da evolução cultural humana. Temos que transferir nossa perspectiva do fi nal do século XX para um período de tempo que abrange milhares de anos; substituir a noção de estruturas sociais estáticas por uma percepção de padrões dinâmicos de mudança. Vista desse ângulo, a crise apresenta-se como um espaço de transformação. Os chineses, que sempre tiveram uma visão inteiramente dinâmica do mundo e uma percepção aguda da história, parecem estar bem cientes dessa profunda conexão entre crise e mudança. O termo que eles usam para ‘crise’, wei-ji, é composto dos caracteres: ‘perigo’ e ‘oportunidade’. (CAPRA, 1982) Podemos, então, pensar no que caracterizaria o atual momento de crise e o que o distinguiria de outros tempos. Alguns autores defendem a existência de uma especifi cidade da crise atual, propondo inclusive novos termos ou conceitos para defi ni-la. Ouvimos, então, falar em pós-modernidade e contemporaneidade, por exemplo (HALL, 2003; MORIN, 1996; SANTOS, 1997; LATOUR, 1994). Nesta aula, não temos por objetivo aprofundar esta discussão, defi nindo e diferenciando abordagens conceituais diversas. No momento, o que nos interessa é pensar, em linhas gerais, o que vem acontecendo nas últimas cinco ou seis décadas e que nos permite falar em uma crise da contemporaneidade. Contemporaneidade, segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, diz respeito à “qualidade ou condição de ser contemporâneo, de existir ao mesmo tempo; coexistência”. Mesmo correndo o risco de sermos reducionistas, vamos levantar a seguir alguns fatores principais que caracterizam o momento atual e que nos ajudarão a melhor contextualizar o estudo sobre a relação entre ética e responsabilidade social. PROVOcAçãO Você já ouviu falar em responsabilidade social? Onde e quando? Quem estava falando a respeito? E o que estava sendo falado? Para que, ou seja, com qual objetivo falava-se em responsabilidade social? Havia alguma relação entre responsabilidade social e ética neste caso? 11 Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1 Os avanços da ciência e da tecnologia aliados às mudanças no mundo econômico e nos modos de produção vêm impactando nossas formas de viver e de conviver. A ciência quando surgiu, entre os séculos XVII e XVIII, estava diretamente associada às ideias de progresso e bem-estar, ou seja, o desenvolvimento científico implicaria necessariamente, até poucas décadas atrás, desenvolvimento humano. O que vemos, entretanto, é que as conquistas tecnológicase científicas trazem também um caráter, no mínimo, ambivalente – para não dizer paradoxal - pois além do esperado progresso, nos impuseram inúmeros desastres e ameaças ambientais a ponto de colocar a própria ideia de vida e o futuro da humanidade em jogo (KERN; MORIN, 1995). E mais, ao lado de importantes conquistas, vivemos nos últimos séculos os desafios advindos de nossa incapacidade de conviver e de garantir um desenvolvimento igualitário para todos os povos e nações. Estatísticas nos mostram que, desde a segunda guerra mundial, ultrapassamos o triste quantitativo de 20 milhões de mortos em mais de 150 guerras. Como aprender a viver juntos nesta ‘aldeia global’, se não somos capazes de viver nas comunidades naturais a que pertencemos: nação, região, cidade, aldeia, vizinhança? A questão central da democracia é saber se queremos, se podemos participar na vida em comunidade (DELORS, 2000). Conflitos de diversas ordens compõem, então, o cenário atual que podem ser, didaticamente, assim elencados: » Os paradoxos associados aos progressos econômicos e científicos; » O desenvolvimento desigual, a má distribuição de riquezas e de conhecimentos; » A incerteza em relação ao futuro e o “desencantamento” do mundo; » O aumento do desemprego e da exclusão social; » As ameaças ambientais e os acidentes tecnológicos; » A necessidade de articular outros fatores ao desenvolvimento: não só o econômico, mas o social, o humano, o ecológico, entre outros; » O local e o global: tornar-se cidadão do mundo sem perder as raízes de sua comunidade, de sua região; » O universal e o singular: beneficiar-se da mundialização cultural sem perder a particularidade de cada cultura, de cada indivíduo; » A tradição e a modernidade: os riscos e os desafios das tecnologias da informação e a necessidade de se adaptar ao novo, sem perder a própria autonomia. Ao lado disso, 12 AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO a importância de se aprender a fi ltrar e a selecionar a quantidade e a qualidade das informações que chegam até nós em número e velocidade cada vez maiores; » As soluções a curto e a longo prazo: ênfase atual no instantâneo e no efêmero priorizando soluções rápidas e imediatas e os riscos que isso traz em termos de vida pessoal, relacional e profi ssional; » A competição e a igualdade de oportunidades: a ênfase em processos competitivos anularia qualquer possibilidade de se falar em igualdade de oportunidades. Daí a necessidade de se encontrar um equilíbrio possível entre competição, cooperação e solidariedade; » O espiritual e o material: a falta de valores morais que balizariam as decisões humanas. O desenvolvimento humano como ferramenta para se conhecer o nosso contexto Em 27 de novembro de 2007, o PNUD (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) divulgou que o Brasil passa a fazer parte, pela primeira vez, do grupo de países de Alto Desenvolvimento Humano, ultrapassando a barreira de 0,800 que é considerada a “linha de corte” entre o índice de variação – que vai de 0 a 1 – do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). PNUD, Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, é uma: rede global para ajudar pessoas a satisfazerem suas necessidades de desenvolvimento e a construírem uma vida melhor. Está presente em 166 países, trabalhando como um parceiro confi ável de governos, da sociedade civil e do setor privado no auxílio da busca de suas próprias soluções para desafi os de desenvolvimento globais e nacionais. (PNUD, 2007). Sugestão de estudo Sugerimos, neste ponto, duas leituras complementares que serão fundamentais à ampliação e consolidação deste panorama inicial apresentado. Uma primeira leitura recomendada é o livro Terra-pátria, de autoria de Edgar Morin e Anne Kern. Destacamos ainda o livro Educação. Um tesouro a descobrir. Relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI, organizado por Jacques DELORS. Ambos trazem importantes elementos para auxiliar a nossa compreensão desta virada de século e os impactos, desafi os e perspectivas colocadas. Salientamos apenas que o segundo tem um foco maior sobre o campo da educação – trata- se enfi m do Relatório da UNESCO sobre o tema – mas pelas próprias características dessa área e suas múltiplas interfaces com os demais campos de atuação profi ssional, acreditamos tratar-se igualmente de uma publicação de grande interesse e relevância. As referências são: DELORS, Jacques (org.) Educação. Um tesouro a descobrir. Relatório paa a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. São Paulo: Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 2000. KERN, Anne; MORIN, Edgar. Terra-pátria, Porto Alegre: Ed. Sulina, 1995. 13 Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1 Anualmente, o PNUD publica, para mais de cem países em todo o mundo, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Estas são duas importantes ferramentas que nos permitem mensurar, ou seja, medir e também acompanhar o desenvolvimento humano de todas as nações. O conceito de desenvolvimento humano surgiu como uma espécie de contraponto frente ao PIB (Produto Interno Bruto) per capita. O PIB, como sabemos, é um indicador que centra no aspecto econômico toda a possibilidade de medir o desenvolvimento. O IDH amplia esta concepção e, de maneira sintética, coloca-se como alternativa ao considerar os três aspectos citados a seguir, dando-lhes igual importância e mensurando-os a partir de uma escala que varia entre 0 e 1: » “PADRÃO DE VIDA DECENTE”: incluindo a análise da Renda Nacional Bruta (RNB) per capita e corrigindo o poder de compra da moeda de cada país pelo PPC (Paridade de Poder de Compra); » “SAÚDE”: aferindo a expectativa de vida da população ao nascer e » “CONHECIMENTO”: articulando principalmente as variáveis “anos médios de estudo” (que mede o número médio de anos de educação recebidos pelas pessoas que têm 25 anos ou mais) e “anos esperados de escolaridade” (que mede o número de anos de escolaridade que uma criança na idade de entrar na escola na escola pode esperar receber). Fonte: nota técnica de Apoio ao lançamento do Relatório de Desenvolvimento humano 2010 - “A Verdadeira Riqueza das nações” O IDH foi proposto por Mahbub ul Haq, economista paquistanês, e Amartya Sen. Você sabia que Amartya Sen, economista indiano, recebeu o Prêmio Nobel da Economia em 1988? Provocação Sugerimos um visita ao sítio do PNUD. O endereço é www.pnud.org.br . Lá você poderá aprofundar leituras sobre o conceito de desenvolvimento humano, além de conhecer outros interessantes links sobre o tema. 14 AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO A divulgação do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) 2007/2008 corrobora o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), recém-divulgado, e traz como lema “Combater as Mudanças do Clima: Solidariedade Humana em um mundo dividido”. O RDH chama a atenção para a intrínseca relação entre mudanças climáticas e desenvolvimento, afi rmando que as grandes catástrofes ambientais podem reverter as conquistas e avanços nas áreas da saúde e da educação obtidos principalmente pelos países mais vulneráveis. Dizendo de outra forma, o RDH pontua, assim, o risco que estamos correndo de ampliar a distância e a divisão entre os países mais pobres e aqueles considerados mais ricos em todo o mundo, reforçando históricos índices de desigualdade de classe, renda, gênero. O Relatório de Desenvolvimento Humano é um relatório independente encomendado pelo PNUD. Kevin Watkins é o coordenador e principal autor do Relatório 2007/2008, que inclui contribuições do Secretário-Geralda ONU, Ban Ki-moon; do Presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva; do prefeito de Nova York, Michael R. Bloomberg; da ativista de mudança de clima do Ártico, Sheila Watt-Cloutier; da Presidente da Comissão Mundial de Desenvolvimento Sustentável e ex-primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland; do Arcebispo Emérito da Cidade do Cabo, Desmond Tutu; da Diretora do Centro para Ciência e Meio-Ambiente, Sunita Narain. O relatório é traduzido em mais de 100 línguas e lançado em mais de 100 países todos os anos, desde 1990 (PNUD, 2007) Um dos caminhos apontados pelo Relatório indica a urgente necessidade de que os países mais desenvolvidos possam investir, sobretudo em infra-estrutura capaz de suportar as adaptações climáticas, fortalecendo os países pobres para que estes possam resistir aos efeitos das mudanças e desastres ambientais. Sem contar com poupança, seguros ou acesso a empréstimos, os mais pobres cairão na chamada armadilha do desenvolvimento humano, sendo forçados a decidir entre mandar seus fi lhos à escola ou ao trabalho, ou racionar a comida a fi m de economizar”, diz o administrador do PNUD, Kemal Dervis, que lançou o relatório em Brasília. “Estas escolhas irão reforçar e perpetuar as desigualdades de renda, de gênero, entre outras, na América Latina e no Caribe”. Em Honduras, o furacão Mitch destruiu mais de um terço dos bens dos 25% mais pobres da população, comparados com apenas 7% dos bens dos 25% mais ricos, diz o relatório. Na Nicarágua, a proporção de crianças trabalhando em vez de irem à escola aumentou entre 7,5% e 15,6% nas famílias afetadas pelo mesmo furacão. O relatório também cita pesquisa com famílias no México, no período 1998- 2000, que mostrou um aumento no trabalho infantil como consequência das Provocação Quer saber mais sobre Amartya Sem? Então faça uma visita ao site do roda vida e veja a entrevista do economista. http://www.rodaviva.fapesp.br/materia/32/ entrevistados/amartya_sen_2001.html 15 Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1 secas. Estes exemplos ilustram como muitas das armadilhas de desenvolvimento humano induzidas pelo clima, na América Latina e no Caribe, são consequências de desastres naturais. (PNUD, Nota de Imprensa, em 27/11/2007) O relatório indica também aos governantes dos países latino-americanos a importância de fortalecer as populações mais vulneráveis, através de programas sociais, como os de transferência de renda, para que os impactos dos choques climáticos possam ser minimizados quando atingirem estas parcelas da sociedade. “As pessoas são a verdadeira riqueza de uma nação.” Com estas palavras, o Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) de 1990 deu início à convincente defesa de uma nova abordagem ao pensamento acerca do desenvolvimento. A ideia de que o objetivo do desenvolvimento deve ser o de criar um ambiente habilitador para que as pessoas desfrutem de vidas longas, saudáveis e criativas pode parecer, hoje em dia, evidente em si mesma. Mas nem sempre foi assim. Um objetivo nuclear do RDH nos últimos 20 anos tem sido o de realçar que o desenvolvimento tem a ver, em primeiro lugar e acima de tudo, com as pessoas. (PNUD. Síntese do Relatório do Desenvolvimento Humano 2010 – Edição do 20o aniversário – A verdadeira riqueza das nações: vias para o Desenvolvimento Humano). Já em 2010, o RDH traz como tema central “A verdadeira riqueza das nações: vias para o Desenvolvimento Humano”. O RDH 2010 marca uma edição comemorativa dos 20 anos de aniversário do primeiro RDH, apresentando mudanças metodológicas para a aferição do IDH. Com novos procedimentos, salienta-se a impossibilidade de se proceder a uma análise comparativa entre o índice brasileiro nos anos de 2010 e 2009. Observe: As mudanças metodológicas empreendidas tiveram uma consequência muito importante: elas mudaram a escala, ou seja a régua, utilizada para medir os países na métrica do IDH. Isso não quer dizer que o IDH dos países caiu, mas sim que com a mudança de variáveis (3 das 4 variáveis utilizadas para a elaboração do IDH foram substituídas) a magnitude das variáveis utilizadas mudou, implicando um rebaixamento da escala utilizada pelo IDH. Isso explica porque o IDH 2010 para o Brasil, de 0.699 não pode ser comparado ao IDH de 2009 de 0.813. Estritamente falando é um erro compará-los. Para isso as séries do ‘novo IDH’ foram recalculadas e encontram-se disponíveis na Tabela 2 do Relatório. O ‘novo IDH’ é calculado para 169 países. Cabe notar a nova classificação dos países baseadas em quartis nas categorias muito alto, alto, médio e baixo desenvolvimento humano. A classificação não obedece mais um parâmetro especificado como antes na escala do IDH, mas um número relativo de países. A exceção fica com o grupo de países de ‘alto desenvolvimento’, que conta com um país extra. Fonte: Nota Técnica de Apoio ao Lançamento do Relatório de Desenvolvimento Humano 2010 - “A Verdadeira Riqueza das Nações” 16 AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO A esta altura, é provável que você esteja se perguntando o que eu tenho a ver com tudo isso? Por que tenho que estudar estas “coisas” já que escolhi um curso que, aparentemente, não tem nenhuma relação com os desastres ambientais, riqueza das nações e os índices de desenvolvimento humano? Do relatório, apresentamos ainda uma inspiração para suas refl exões: “uma das mais duras lições ensinadas pelas mudanças climáticas é que o modelo econômico que determina o crescimento e os níveis de consumo nos países mais ricos é ecologicamente insustentável”. Os autores afi rmam, porém, que “com as mudanças corretas, não é tarde para cortar as emissões de gases estufa para atingir níveis sustentáveis, sem sacrifi car o crescimento econômico: o aumento da prosperidade e a segurança do clima não são objetivos confl itantes”. Afi rmamos acima que o RDH 2007/2008 coloca o Brasil, pela primeira vez, entre o grupo dos setenta países de “Alto Desenvolvimento Humano”. O Relatório traz como dados uma elevação da expectativa de vida dos brasileiros de 70,8 para 71,7 anos. O país alcançou os 87,5% de taxa de matrícula e os US$ 8.325 de renda per capita. tabela A: Evolução do IDh brasileiro de 2006 a 2007 (baseado nos dados de 2004 e 2005 respectivamente Fonte: PnUD, RDh 2007/2008. Para refl etir A partir das leituras realizadas, procure defi nir, com suas próprias palavras, o que você entendeu por Índice de Desenvolvimento Humano. A seguir, refl ita: você percebe alguma relação entre sua opção de formação e atuação profi ssional e as leituras até aqui apresentadas? 17 Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1 Os analistas do Relatório recomendam que se faça uma análise cautelosa situando as versões mais atuais e disponíveis de dados utilizados, mas ressaltam mesmo assim ser possível afirmar que o Brasil vem, desde 1975, desenvolvendo-se de forma gradual e a longo prazo. De toda forma, o mais importante para nossa reflexão, neste momento, é pensar sobre as consequências e desdobramentos de nosso ingresso neste grupo de países de alto desenvolvimento humano. Quando comparamos, por exemplo, aos indicadores de nossos vizinhos latino- americanos, ficamos abaixo de muitos países como Argentina, Chile, Cuba e México. Além disso, ao visitarmos a Síntese dos Indicadores Sociais 2007- Uma Análise das Condições de Vida da População Brasileira vemos a reafirmação de alguns destes avanços identificados pelo PNUD, mas também alguns dados que nos chamam atenção, entre eles: Em 2006, somente 9,9% das crianças até 3 anos de idade frequentavam creches. Ao lado deste dado, é importante lembrar que, segundo recentes pesquisas, cada ano de educação infantil diminui em três pontos percentuais o nível de repetência deum brasileiro pobre. Uma criança de seis anos, nascida em São Paulo, pode frequentar uma escola durante sete horas por dia, pagando uma mensalidade de mil reais. Aos seis anos, ela estará alfabetizada. No entanto, a grande maioria das crianças chega ao ensino fundamental sem ter recebido nenhuma educação preparatória. O tempo de alfabetização é muito maior. Há atualmente, no Brasil, 235 mil crianças e adolescente, entre 10 e 17 anos, que declaram trabalhar em vias públicas. De acordo com este dado, vale lembrar que a Declaração dos Direitos da Criança, promulgada pela ONU, em 1959, afirma que: a criança não deve ser empregada antes da idade mínima adequada; ela não deve ter empregos ou ocupações que prejudiquem sua saúde, educação ou interfiram em seu desenvolvimento mental ou moral. Ainda segundo o IBGE, cerca de 25,7% dos alunos do ensino fundamental estão defasados na correlação idade/série em 2006, ou seja, cerca de 8,3 milhões num universo de 32,5 milhões de estudantes. A famosa desigualdade entre as regiões brasileiras é aqui confirmada, pois a maior taxa de defasagem está no ensino fundamental e foi encontrada no Nordeste, 37,9% contra os 15,5% do Sul. O analfabetismo é ainda uma marca da desigualdade em nosso país, atingindo 14,4 milhões de pessoas com 15 anos ou mais. As maiores concentrações estão nas camadas mais pobres, nas áreas rurais, especialmente do Nordeste, entre os mais idosos, os de cor preta e parda. A taxa de pretos e pardos analfabetos é o dobro da taxa de brancos analfabetos. 18 AulA 1 • Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO Por quê? Os dados não falam por si. É preciso interpretá-los, situando-os sócio-historicamente, sob o risco de naturalizarmos os fenômenos. Por que no Brasil, para cada branco analfabeto, temos dois pretos ou pardos analfabetos? O Artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma: Toda pessoa tem direito à educação (...) A educação terá por finalidade o pleno desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos e às liberdades fundamentais; favorecerá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnicos ou religiosos... A pesquisa do IBGE afirma ainda que os brancos ganham em média 40% mais do que pretos ou pardos com mesma escolaridade. Como explicar o apartheid social que estamos vivendo? Metade das famílias brasileiras vivem, em média, com uma renda mensal inferior a R$ 350,00. O Artigo 25 da Declaração Universal dos Direitos Humanos afirma: “Toda pessoa tem direito a um nível de vida adequado, que lhe assegure, assim como à sua família, a saúde e o bem-estar, e, de modo especial, a alimentação, o vestuário, a habitação, a assistência médica e os serviços sociais necessários...” Para onde caminhamos? Até quando nossa sociedade poderá suportar estes alarmantes índices de desigualdade social? Ler e pesquisar sobre estes dados pode até parecer enfadonho ou mesmo abstrato demais para a nossa realidade. No entanto, os fatos aproximam-se cada vez mais de nosso cotidiano. As reações podem ser as mais diversas – medo, fuga, indignação, revolta – de todo modo, para nós, profissionais em formação e futuramente gestores, está vedado o desconhecimento e a indiferença. É preciso posicionar-se e trazer a realidade social para nosso campo de trabalho, de forma ética e socialmente responsável. Nesta primeira unidade, não nos propusemos a dar respostas, mas, sobretudo a exercitar perguntas, preparando o terreno de discussão sobre a responsabilidade social e a ética. Encerramos, assim, esta primeira etapa de nossos estudos: cheios de questões que esperamos ser boas sementes para os frutos das aulas que virão. 19 Um OlhAR SObRE A cOntEmPORAnEIDADE: cOntExtUAlIzAnDO A DIScUSSãO • AulA 1 Sintetizando Vimos até agora: O objetivo desta unidade era iniciar algumas aproximações em direção à importância de se estudar a relação entre ética, responsabilidade social e desenvolvimento sustentável; Assim, começamos situando a importância de desenvolvermos uma prática refl exiva, desnaturalizando e contextualizando nossos campos de estudo e trabalho; Buscamos ainda compreender que as noções de crise e de mudança fazem parte da própria história da humanidade e devem, assim, ser incorporadas à análise que fazemos da realidade; A partir disso, buscamos levantar alguns dados e informações atuais que nos ajudam a compreender, de forma mais ampliada, o atual contexto em que estamos vivendo e, para isso, lançamos mão do IDH e do RDH 2007/2008 como referências de indicadores que balizam o desenvolvimento humano, além de contrapormos alguns indicadores sociais do IBGE à legislação universal. Apresentamos, fi nalmente, a noção de Desenvolvimento Humano, apontando como esta perspectiva amplia o entendimento sobre o que é desenvolvimento, indo além do critério econômico. 20 Apresentação A partir dos desafios e controvérsias que caracterizam a contemporaneidade, nesta aula, avançaremos em nossa discussão sobre o que é desenvolvimento, dando ênfase ao conceito de Desenvolvimento Sustentável. Assim, examinar o conceito de desenvolvimento e, particularmente, alguns de seus modelos ora mais sintonizados, ora mais distantes da temática ambiental é o principal objetivo desta aula que denuncia a visão limitada e obtusa que o conceito de desenvolvimento encerrou durante décadas quando o mesmo era pensado apenas a partir de seu viés econômico sem considerar outras dimensões. Associados à ideia de desenvolvimento, outros conceitos como crescimento e progresso são examinados em profundidade relacionados à atual realidade de crise ambiental e o projeto de sustentabilidade proposto pela Agenda 21. Seria a viabilidade desta proposta uma utopia? Seria possível conciliar desenvolvimento econômico e sustentabilidade? O que seriam os modelos alternativos de desenvolvimento? Leia com atenção as páginas desta aula, reflita e tire suas próprias conclusões. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: » Analisar de forma aprofundada cada uma das seis principais dimensões da sustentabilidade, consciente de que não existe hierarquia entre as mesmas e que estas estão inter- relacionadas. » Conhecer alguns dos principais autores, bem como práticas e estratégias relacionados a cada uma dessas dimensões. » Refletir sobre os desafios de uma sustentabilidade real e concreta a partir do compromisso da sociedade em âmbito planetário. 2 AulA PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl 21 PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2 » Entender que a construção da sociedade sustentável é uma necessidade que não pode esperar pelo outro, mas deve começar por nós mesmos. Do que trataremos? Nesta aula, iremos conversar sobre um dos maiores desafios que as nações do mundo têm debatido atualmente: a conquista da sustentabilidade. Para alguns, trata-se de um caminho viável a longo prazo. Para outros, uma utopia que muito dificilmente terá condições de um dia vir a se concretizar. A sustentabilidade, como veremos, é um conceito complexo que abarca várias dimensões, estratégias e processos com reflexos em diferentes áreas. É justamente em função de sua amplitude própria que a mesma não pode ser alcançada através de projetos mirabolantes e propostas gestadas nos gabinetes e escritórios dos grandes chefes de Estado. As pequenas vitórias alçadas nessa área têm mostrado que sem a participação da sociedade civil organizada, incluindo nessa esfera a atuação de ONGs, comunidades, empresas, instituições diversas, bem como as universidades e a imprensa, não será possível alcançá-la. Em outras palavras, é importante esclarecer desde já que a sustentabilidade é fruto de uma conquista coletiva, onde todosprecisam se ajudar se quisermos de fato torná-la uma realidade viável. Embora os dicionários costumem definir sustentabilidade como a qualidade do que é sustentável, este é um conceito bem mais amplo do que esta simples definição pode levar a crer. O que se pretende com essa aula é tecer algumas considerações essenciais em torno do que seja sustentabilidade, esclarecendo melhor o que esta representa e enfatizando o que se convencionou chamar de desenvolvimento sustentável com especial destaque para as questões relativas à sustentabilidade na realidade de nosso país. Essa não é uma tarefa fácil, uma vez que ao tentar esclarecer o que signifi ca, suas implicações e seus desdobramentos, faz-se necessário considerar, impreterivelmente, sua teia de vinculações com outros termos de igual complexidade como responsabilidade social, pobreza, meio ambiente, sociedade, desenvolvimento, globalização e outros, e, ainda, denunciar alguns discursos falaciosos em torno desta, utilizados por oportunistas que vêem na mesma não uma via de esperança para as soluções de graves problemas que o planeta vem enfrentando, mas sim, de maneira reducionista Provocação Olá! Seja bem-vindo a esta nova aula. Você sabe o que é sustentabilidade? Pois nesta aula você terá oportunidade de conhecer melhor o que seja sustentabilidade, sua amplitude e importância. Esperamos que, ao fi nal de seu estudo e refl exão, você também esteja empenhado não apenas em se aprofundar no seu estudo, mas também em promovê-la. Sugestão de estudo AFONSO, Cintia Maria. Sustentabilidade - Caminho ou Utopia? São Paulo: Annablume, 2004. Este texto, de caráter introdutório, pretende oferecer subsídios a discussões efetivas sobre a sustentabilidade, entendida como a manutenção quantitativa e qualitativa do estoque de recursos ambientais, usando-os sem danifi car suas fontes ou limitar a capacidade de suprimento futuro. 22 AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl e, por vezes, até perversa, como uma mera oportunidade de negócio e enriquecimento às custas da deterioração ambiental e aumento das desigualdades sociais. Surgem daí as perguntas- chave que o título desta aula enfatiza: sustentabilidade do quê? Sustentabilidade por quê? E sustentabilidade para que? Perguntas estas que precisam ser respondidas se queremos de fato adotar uma postura sustentável em vez de assumir uma “maquiagem de sustentabilidade” que pouco contribui para enfrentar os problemas que a sustentabilidade real nos obriga a encarar. Por trabalhar na área de Educação Ambiental já há algum tempo, o autor deste trabalho tem visto, e, de certa forma, comprovado o quanto a sustentabilidade está longe de ser uma conquista defi nitiva na humanidade. Ignorada durante séculos, ela hoje mais do que nunca se torna um imperativo se quisermos enfrentar os graves problemas pelos quais não apenas os seres humanos, mas todos os organismos vivos vêm hoje enfrentando em sua luta pela sobrevivência. Isto diz respeito tanto ao aquecimento global quanto à AIDS que se alastra a passos largos pelo mundo, tanto à dívida externa crescente dos países mais pobres quanto à redução sensível da biodiversidade, tanto ao aumento do desemprego em todo o mundo quanto ao insuportável grau de poluição que o planeta conseguiu alcançar, tanto ao esgotamento dos recursos naturais quanto ao desrespeito ao patrimônio cultural alheio. Esta aula parte do princípio de que uma das formas de ajudar a promover a sustentabilidade é conhecer melhor o que esta seja, entendendo suas implicações e importância, uma vez que só nos interessamos e nos envolvemos, de fato, com alguma coisa quando aprendemos mais sobre ela. Este é, sem dúvida, o principal objetivo deste estudo: Auxiliar a compreensão e o entendimento do que seja sustentabilidade e a partir daí sensibilizar os que a ela tiverem acesso a serem, também, um de seus agentes promotores, fazendo a sua parte para que paulatinamente esta possa vir a ter chances de se concretizar. Como teremos oportunidade de estudar, toda ajuda é importante, toda contribuição é bem-vinda, todo auxílio é válido quando se trata de colocar em prática esse desafi o. A sustentabilidade e suas dimensões O objeto de estudo desta aula é a sustentabilidade, palavra que está na moda sendo utilizada de forma coloquial por muita gente. Jornalistas, empresários, políticos e profissionais de diversas áreas têm utilizado a mesma sem compreender de fato o que esta significa em termos de abrangência e Para refl etir Como você se posiciona diante da questão da sustentabilidade? Tem uma posição a respeito? Você considera que nosso país tem condições de promovê-la ou esta é uma utopia? Atenção O conceito de sustentabilidade é complexo e pode ser desmembrado em seis dimensões: social, ecológica, espacial, cultural, político-institucional e econômica, existindo uma íntima relação entre as mesmas, de maneira que ao promover uma estamos ajudando na promoção da outra. 23 PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2 importância, seja por desconhecimento, banalização ou má-fé de quem utiliza um discurso cuja tônica central é a sustentabilidade. Segundo Leroy (1997), existem centenas de definições de sustentabilidade contribuindo sensivelmente para uma difi culdade operacional do conceito. Assim sendo, examinemos suas origens. O termo “sustentabilidade” é, na verdade, oriundo da Ecologia natural. A sustentabilidade é um conceito usado para denominar a “tendência dos ecossistemas à estabilidade, à homeostase, ao equilíbrio dinâmico, baseado na interdependência e complementaridade das formas vivas diversifi cadas” (HERCULANO, 1992: 13). Segundo Andrae (1994), esse conceito foi utilizado na literatura científi ca pela primeira vez no ano de 1713, por Carlowitz, que o empregou para caracterizar uma técnica de uso do solo que garantisse, durante um longo período, rendimentos para a produção fl orestal. A partir dessa herança ecológica, a sustentabilidade é entendida, ainda hoje, como a propriedade de um processo que, além de continuar existindo no tempo e no espaço, se revela capaz de manter um padrão de equilíbrio e qualidade através de uma autonomia de manutenção e pertencimento simbiótico a uma rede de coadjuvantes também sustentáveis, tendo em vista a harmonia das relações sociedade-natureza (www.sustentabilidade.org.br). Quando o conceito surgiu, algumas críticas foram dirigidas à idéia de uma sustentabilidade como “manutenção”. Assim sendo, lutar pela sustentabilidade social implicaria lutar para manter o quadro social atual onde os países ricos continuam cada vez mais ricos e os países pobres cada vez mais pobres. Surgiu daí a necessidade de não apenas explicitar melhor os diferentes sentidos do termo e as dimensões a ele atreladas, como também defi nir com clareza o que queremos sustentar, por que queremos e a serviço de quem estamos ao buscar a sustentabilidade. Comecemos pelo estudo de suas dimensões. Saiba mais Sobre a solidariedade: Podemos entender a solidariedade como a capacidade de compartilhar dos sofrimentos de outras pessoas e buscar meios para ajudá-las. Existem diferentes instituições em todo o mundo criadas exclusivamente para esse fi m em grande número, em praticamente todas as cidades brasileiras. Além de arrecadar e distribuir, entre os carentes, alimentos, agasalhos, essas instituições normalmente concentram seus trabalhos com crianças, promovendo sua educação, e com idosos, amparando-os e promovendo sua socialização. Saiba mais Ecodesenvolvimento: Segundo Sachs, o Eco desenvolvimento pode ser entendido como um estilo de desenvolvimento aplicável a projetos rurais e urbanos, orientado para a busca de autonomia e a satisfação prioritária das necessidades básicas das populações. Dentro dessa perspectiva,deveriam ser fi xados critérios de prudência ecológica e democracia de opções locais no plano das fi nalidades e instrumentalidade do processo de desenvolvimento em termos de implantação e execução. 24 AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl Inspirado na obra de Ignacy Sahcs (1993), um dos conhecidos estudiosos nessa área, propositor do conceito “Ecodesenvolvimento”, o documento Ciência & Tecnologia para o Desenvolvimento Sustentável, elaborado a pedido do Ministério do Meio Ambiente – MMA (2000), traz algumas respostas às questões anteriores ao considerar as seguintes dimensões de sustentabilidade: » Sustentabilidade social: pautada nos princípios da eqüidade na distribuição de renda e de bens, da igualdade de direitos à dignidade humana e da solidariedade dos laços sociais, a conquista dessa dimensão implica a garantia de que todas as pessoas tenham condições iguais de acesso a bens e serviços de boa qualidade necessários para uma vida digna (eqüidade social). » Sustentabilidade ecológica: está ancorada no princípio da solidariedade com o planeta e suas riquezas e com a biosfera que o envolve. Esta dimensão da sustentabilidade exige uma maior compreensão e, consequentemente, uma mudança de atitude em relação aos processos e dinâmicas do meio ambiente, a partir do entendimento de que o ser humano nada mais é do que apenas uma das partes deste ambiente e no uso controlado e sustentável dos recursos naturais, respeitando sua capacidade de renovação. » Sustentabilidade econômica: essa dimensão de sustentabilidade engloba fatores como geração de trabalho, a possibilidade da distribuição de renda, a promoção do desenvolvimento das potencialidades locais e a diversificação de setores e atividades econômicas favorecedoras de um desenvolvimento econômico sensível às questões socioambientais. Isso implica não só a necessidade de manter fluxos regulares de investimentos, mas também uma gestão eficiente dos recursos produtivos, respeitando o meio ambiente. Sua conquista deverá sempre ser avaliada a partir da sustentabilidade social propiciada pela organização da vida material. SOBRE IGNACY SACHS Ignacy Sachs foi pioneiro ao pensar as diferentes dimensões da sustentabilidade em seu conceito de ecodesenvolvimento. Nascido na Polônia e naturalizado francês, Ignacy Sachs é considerado um dos sociólogos mais respeitados deste final de século. Assessor especial da ONU, durante a Rio-92, Sachs atua hoje como professor da École des Hautes Études Sociales de Paris, sendo difícil não associar a proposta ecodesenvolvimentista ao seu principal divulgador e impulsionador. Das seis dimensões utilizadas no Documento do MMA, cinco delas foram propostas por Sachs, sendo incluída apenas a dimensão político-institucional. » Sustentabilidade espacial: deve ser norteada pelo alcance de uma eqüanimidade nas relações inter-regionais e na distribuição populacional entre o rural/urbano e o urbano. A conquista desta dimensão implica um uso adequado e planejado do território onde todas as pessoas tenham condições de viver de forma digna, tendo acesso à infra-estrutura básica de moradia e de habitação (saneamento, água, coleta de lixo) sem agressões ao meio ambiente. Para Sachs (1993), esta dimensão implica a busca de uma configuração rural-urbana equilibrada e uma melhor solução para os assentamentos humanos. 25 PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2 » Sustentabilidade político-institucional: a conquista desta dimensão implica a sensibilização e a mobilização das pessoas, de modo a ampliar sua cidadania através do favorecimento do acesso e entendimento das informações pertinentes a uma localidade, o que permitiria uma maior compreensão dos problemas e oportunidades, superar as práticas e políticas de exclusão e buscar o consenso nas decisões coletivas. De modo particular, esta dimensão da sustentabilidade é um pré-requisito para a continuidade e sucesso de qualquer projeto de ação de base social e/ou comunitária. » Sustentabilidade cultural: tal dimensão da sustentabilidade é baseada no respeito à afi rmação do local, do regional e do nacional, no contexto da padronização imposta pela globalização. Sua promoção consiste em preservar e divulgar a história, tradições e valores regionais, acompanhando suas transformações. Para se buscar essa dimensão, precisamos valorizar culturas tradicionais, divulgar a história da cidade, garantir a todos a oportunidade de acesso à informação e ao conhecimento e investir na construção, reforma ou restauração de equipamentos culturais. Sachs (1993) acrescenta que esta dimensão dedica-se a promover o respeito às diferentes culturas e às suas contribuições para a construção de modelos de desenvolvimento apropriados às especifi cidades de cada ecossistema, de cada cultura e de cada local. Um exame, mesmo despretensioso dessas diferentes dimensões da sustentabilidade propostas pelo MMA, serve ao entendimento do quanto este é um conceito denso, aberto às mais diferentes inter-relações envolvendo diferentes níveis de planos de ação e estratégias visando sua aplicabilidade. Vale frisar que todas as dimensões da sustentabilidade citadas atuam de forma inter-relacional de tal modo que a promoção de uma delas auxilia a conquista da outra, assim como os obstáculos ao alcance de uma afeta o sucesso da outra. Barbieri (2000) é um dos autores que concorda com a ideia de que essas diferentes dimensões estão em constante interação, não se prestando, portanto, a qualquer tipo de Sugestão de estudo Em obra recente, o Professor Vilson Carvalho analisa a importância da cultura local como elemento fundamental para a valorização da memória local e, conseqüentemente, da identidade daqueles que vivem no mesmo, bem como para a mobilização de forças em prol de um causa comum. A valorização de elementos culturais representa mais do que a mera preservação do passado, mas a possibilidade de construir um futuro valorizando o que as gerações passadas fi zeram e evitando cometer com elas os mesmos erros. Confi ra em: CARVALHO, V. Educação Ambiental Urbana. RJ: WAK, 2008. Sugestão de estudo BATISTA, Eliezer; CAVALCANTI, Roberto Brandão; FUJIHARA, Marco Antonio. Caminhos da sustentabilidade no Brasil. São Paulo: Terra das Artes, 2005. O livro reúne a visão de três autores, entre eles, o diretor de sustentabilidade da Pricewaterhouse Coopers, Marco Antônio Fujihara, sobre os desafi os, causas e oportunidades nesse campo, bem como exemplos práticos que o setor empresarial, assim como as ONGs, tem para mostrar a respeito da aplicação de conceitos de sustentabilidade no dia a dia. 26 AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl tratamento isolado. Não se pode estudá-las em separado, de forma fragmentada, e depois justapô- las para formar um quadro de referência e, assim, estabelecer os objetivos de desenvolvimento e os meios para alcançá-los. Para este autor, dadas as múltiplas interações entre essas dimensões, as decisões sobre estes objetivos e meios acabam sendo feitas com base em conhecimentos incompletos sobre o meio físico, o biológico e o social, daí a grande difi culdade de considerá-las simultaneamente. O princípio da precaução pode ser útil na escolha desses meios. Esse princípio encontra-se na Declaração do Rio de Janeiro de 1992, a saber: Para proteger o meio ambiente, os Estados devem aplicar do modo mais amplo os princípios da prevenção conforme suas capacidades. Diante da ameaça de dano grave ou irreversível, a falta de uma considerável certeza científi ca não deverá ser usada como motivo para adiar a adoção de medidas para evitar a degradação ambiental em decorrência dos seus custos. (Princípio no 15) Daí a importância de que tais dimensões, consideradas conjuntamente, possamfavorecer estratégias mais amplas de atuação a partir de uma ótica “glocal”, como diria Lizt Vieira (1998), considerando questões tanto de cunho local e de cunho global. Analisando os principais problemas e desafi os vivenciados na contextura urbana, o documento Cidades Sustentáveis, elaborado pelo Ministério do Meio Ambiente, em parceria com o consórcio Parceria 21 – constituído pelas seguintes organizações civis: Instituto Brasileiro de Administração Municipal (IBAM), Instituto Social de Estudos da Religião (ISER) e Rede de Desenvolvimento Humano (REDEH) – destaca a diferença entre dois tipos de sustentabilidade: a sustentabilidade ampliada e a sustentabilidade progressiva. A sustentabilidade ampliada aborda a sinergia entre as dimensões ambiental, social e econômica do desenvolvimento, do que decorre a necessidade de se enfrentar conjuntamente a pobreza e a degradação ambiental; e, a sustentabilidade progressiva, por sua vez, aborda a sustentabilidade como um processo pragmático de desenvolvimento sustentável, englobando a produção, a conservação e a inclusão. Vale destacar aqui que o alcance da sustentabilidade global passa por ambos os tipos e que sua conquista está diretamente relacionada ao grau de consciência dos habitantes do planeta da importância de sua participação ativa e solidária, onde somente de forma democrática e coletiva torna-se mais viável fazer a nossa parte, estimulando outros a participar (sensibilizando- os), e, ainda, cobrar das autoridades democraticamente eleitas que façam o mesmo. Atenção A defi nição mais aceita para desenvolvimento sustentável é o desenvolvimento capaz de suprir as necessidades da geração atual, sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. É o desenvolvimento que não esgota os recursos para o futuro. 27 PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2 O desenvolvimento sustentável A grosso modo, podemos definir desenvolvimento como o processo de promoção da melhoria qualitativa das condições de vida da população de um país, de uma região ou de um local específico. Combinando o conceito de sustentabilidade à noção de desenvolvimento, a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD) mostrou ao mundo a importância de uma correção dos modelos e estratégias de desenvolvimento até então empregadas no contexto internacional, de forma a garantir um melhor padrão de vida que se “sustentasse” ao longo dos séculos. Embora alguns autores achassem que os termos “desenvolvimento” e “sustentabilidade” eram contraditórios, a apropriação dos mesmos trabalha com a idéia de que “equilibrado” não significa necessariamente “estacionado” ou “parado”, mas sim a expressão de um constante movimento de equilíbrio, ou melhor, sucessivas ações para se manter em equilíbrio; o que anularia a possibilidade de referências a uma situação de “equilíbrio”, como uma situação de “imobilidade”. Sobre o conceito de desenvolvimento A palavra desenvolver significa literalmente “desenrolar”. Existe uma série de definições para os mesmos de acordo com a linha teórica a se pautar. Alguns defendem a idéia de que o desenvolvimento possa ser provocado, outros que um determinado organismo, localidade ou instituição já possua uma capacidade natural para se desenvolver sem a necessidade de interferências externas. Apesar do termo desenvolvimento possuir muitos e diferentes significados, durante décadas, predominou a idéia de desenvolvimento igual a crescimento ou avanço econômico. A utilização do conceito em si não foi uma idéia original, já que o próprio Relatório do Clube de Roma muito antes, também, já havia utilizado literalmente o termo sustentável, ao defender a importância do desenvolvimento de um sistema mundial sustentável capaz de satisfazer as necessidades materiais básicas de todos os habitantes do planeta (MEADOWS, 1972: 98). No entanto, apesar deste e de outros estudos já terem considerado não só a questão das limitações externas da capacidade de resistência dos recursos do planeta, mas também as necessidades internas das necessidades humanas; o Relatório Brundtland, como também é conhecido, merece destaque pelo mérito de apresentar ao mundo – a partir de um exaustivo trabalho conjunto e interdisciplinar de pesquisa – uma proposta nova e atualizada de desenvolvimento social e econômico que procurava “atender as necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem suas próprias necessidades” (BRUNDTLAND, G., 1991: 46). Essa é, sem dúvida alguma, a definição mais conhecida do desenvolvimento sustentável ou sustentado, onde são sublinhadas as interconexões existentes entre economia, tecnologia, política e sociedade; e chamando à atenção da comunidade internacional para a importância “da adoção de uma nova postura ética, caracterizada pela responsabilidade tanto entre as gerações como entre os membros contemporâneos da sociedade atual” (BRÜSEKE, 1995: 33). 28 AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl A idéia de sustentabilidade já deveria induzir a uma nova ótica de desenvolvimento. O panamenho Rodrigo Tarté adverte que a sustentabilidade, per si, já encerraria “dimensões econômicas e sociais orientadas a satisfazer as necessidades e aspirações humanas essenciais” (TARTÉ, 1995: 49). Se a sustentabilidade em sua conceituação original signifi cava, essencialmente, “a possibilidade de se obterem condições iguais, ou superiores de vida, para um grupo de pessoas e seus sucessores em um dado ecossistema” (CAVALCANTI, 1995: 165), quando, aliada à noção de desenvolvimento, esta passou a se referir à idéia de um limite (superior) para o progresso, onde se faz necessária a adoção de políticas e estratégias para garantir que o homem não ultrapasse o mesmo, mantendo assim o suporte da vida que o sustém. Se defi nindo por oposição ao que é insustentável, ou melhor, a algo cuja fragilidade é notória, a sustentabilidade parece querer reforçar esse suporte, pretendendo a sustentação do mesmo, alicerçando-o em bases sólidas e garantindo sua existência para as gerações do porvir. A proposta do Desenvolvimento Sustentável é, sem dúvida, a mais conhecida entre as diferentes propostas de desenvolvimento alternativo sendo, inclusive, a mais divulgada na imprensa e até mesmo na academia, tornando-se uma espécie de “denominador comum no discurso político internacional, na área diplomática e nas atividades educacionais e legislativas” (ALMEIDA JR., 1993: 43). Entidades internacionais, como a UNESCO e o Banco Mundial, “adotaram-na para marcar uma nova fi losofi a do desenvolvimento que combina efi ciência econômica, justiça social e prudência ecológica” (BRÜSEKE, 1995: 34-35). Conselho de Desenvolvimento Sustentável (CDS) - ONu A Comissão de Desenvolvimento Sustentável (CSD) da ONU foi criada na Assembléia Geral da ONU em 1992, visando assegurar continuidade à Conferência das Nações Unidas para Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio - 92). Para tanto, é responsável por acompanhar o processo de implementação da Agenda 21 e a Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento. Além disso, busca prover um melhor direcionamento para que se acompanhe o Plano de Aplicação de Joanesburgo nos níveis local, regional e internacional. A Comissão encontra-se, anualmente, em Nova Iorque e de dois em dois anos discute um tema específi co. As sessões são abertas, o que possibilita a participação tanto dos atores governamentais quanto dos não governamentais. Nos anos de 2005/2006, os focos são energia para desenvolvimento sustentável, desenvolvimento industrial, poluição do ar/atmosfera e mudanças de clima. Confi ra outros detalhes no site: http://www.vitaecivilis.org.br/default.asp?site_Acao=mostraPagina&paginaId=2016. Supondo uma transformação progressiva da economia e da sociedade, oumelhor, pretendendo uma “nova ordem internacional” (HERCULANO, 1992:11), a proposta do Desenvolvimento Saiba mais A Comissão que gerou o Relatório Brundtland foi formada por 21 membros, oriundos de diferentes países, em diferentes estágios de desenvolvimento. Gro-Brundtland patrocinou reuniões iferentes partes do mundo, inclusive em SP, para discutir problemas ambientais gerais e específi cos, bem como as soluções encontradas para estes desde a Conferência de Estocolmo (1972). 29 PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2 Sustentável é endossada como aquela que implica um processo onde a exploração de recursos, a direção dos investimentos, as mudanças institucionais e a orientação do desenvolvimento tecnológico se harmonizariam para reforçar os potenciais presente e futuro e garantir a satisfação das necessidades e aspirações futuras da humanidade (BRUNDTLAND, 1991), compreendendo um duplo comprometimento com os seres humanos e a ambiência dos mesmos (Mendes, 1995). Entretanto, sua aplicabilidade e conseqüente possibilidade de sucesso não são tarefas fáceis, uma vez que requerem, segundo a Comissão Brundtland, uma complexa sustentação de diferentes sistemas interligados e dependentes: Um sistema político que assegure a efetiva participação dos cidadãos no processo decisório; um sistema econômico capaz de gerar excedentes e know-how técnico em bases confiáveis e constantes; um sistema social que possa resolver as tensões causadas por um desenvolvimento não-equilibrado; um sistema de produção que respeite a obrigação de preservar a base ecológica do desenvolvimento; um sistema tecnológico que busque constantemente novas soluções e um sistema administrativo flexível capaz de autocorrigir-se. (BRUNDTLAND, G., 1991: 70) Desenvolvimento sustentável: fim ou meio? Quando se pensa em desenvolvimento sustentável, existem duas visões cuja diferença longe de ser insignificante diz respeito à forma como entendemos o que este seja e qual a sua real importância. Uma primeira visão entende o desenvolvimento sustentável como um fim em si mesmo e uma segunda vê o desenvolvimento sustentável como um meio para se alcançar uma série de conquistas como a eqüidade social e o equilíbrio ecológico, por exemplo. Nessa última concepção, como assinala Gómez (1998), o desenvolvimento sustentável deverá criar condições para atingir uma sociedade mais igualitária ou menos injusta. Na primeira visão, por sua vez, o desenvolvimento sustentável já seria em si um fim desejado, ou seja, ele só será de fato alcançado se houver uma melhor distribuição de renda, preservação dos recursos naturais. E você como se posiciona? Seria o desenvolvimento sustentável um meio ou um fim? Para saber mais, leia o artigo de Gómez, W. – “Desenvolvimento Sustentável, Agricultura e Capitalismo” (pp. 95-116) no livro de: BECKER, D. Desenvolvimento Sustentável: necessidade e/ou possibilidade. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 1999. Tal dificuldade se refere ao montante substancial de recursos a serem despendidos para a sustentação do equilíbrio entre esses sistemas e os subsistemas a eles relacionados, o que, na maioria dos casos, especialmente para os países em desenvolvimento, se constitui numa barreira 30 AulA 2 • PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl considerável. Além do custo fi nanceiro, existe uma série de outros fatores que, com certeza, também interfere nesse processo, como a falta de conscientização política, devido aos elevados índices de analfabetismo em muitos países; as graves desigualdades sociais e, ainda, as relações desfavoráveis do comércio internacional, tendo em vista o fato de que os países detentores dos produtos manufaturados e tecnologia avançada (valor mais alto de mercado) terem sempre maior poder de barganha do que os demais países que negociam com matérias-primas. O impasse para aplicabilidade do Desenvolvimento Sustentável, através de projetos exeqüíveis, está justamente na resolução dessas difi culdades, que não devem ser encaradas como restrições irremovíveis, mas como desafi os a serem superados. Segundo o Conselho Internacional de Iniciativas Ambientais Locais – International Council for Local Environmental Initiatives (ICLEI, 1996), o desenvolvimento sustentável deve ser encarado como um programa de ação para reformar a economia global e regional, cujo desafi o é criar, testar e disseminar meios para mudar o processo de desenvolvimento econômico de modo que ele não destrua os ecossistemas e os sistemas comunitários, tais como, cidades, vilas, bairros e famílias. No âmbito local, o desenvolvimento sustentável requer que o desenvolvimento econômico local apóie a vida e o poder da comunidade, usando os talentos e os recursos locais. Isso está em sintonia com o desafi o de distribuir os benefícios eqüitativamente e mantê-los no longo prazo para todos os grupos sociais, o que só pode ser alcançado prevenindo os desperdícios ecológicos e a degradação dos ecossistemas pelas atividades produtivas. Resumo Vimos até agora: O desenvolvimento sustentável propõe a conciliação entre desenvolvimento socioeconômico, gerando riquezas, conforto, emprego etc., aliado conjuntamente ao conservacionismo e que esta proposta leva em consideração o uso racional dos recursos naturais, pois afi nal de contas não seremos a ultima geração da Terra, então se faz necessário a preservação para as futuras gerações; O desenvolvimento sustentável possui seis aspectos prioritários que devem ser entendidos como metas: 1) a satisfação das necessidades básicas da população (educação, alimentação, saúde, lazer); 2) A solidariedade para com as gerações futuras (preservação da realidade ambiente para as mesmas); 3) A participação da população envolvida (conscientização da necessidade de conservar o ambiente e fazer cada um a parte que lhe cabe para tal); 4) A preservação dos recursos naturais (água, oxigênio); 5) A elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança social e Para refl etir Relacionado à pergunta da página anterior, como você vê a colocação do ICLEI? Deveria o desenvolvimento sustentável ser encarado como um programa de ação? Quais seriam as vantagens dessa concepção? 31 PARA EntEnDER O DESEnVOlVImEntO SUStEntáVEl • AulA 2 respeito a outras culturas (erradicação da miséria, do preconceito e do massacre de populações oprimidas como, por exemplo, os índios); 6) A efetivação dos programas educativos (viabilização de sua criação e continuidade); Por fim, vimos que para aplicação, pelo menos parcial, de uma política de desenvolvimento sustentável, é preciso que diferentes setores se comprometam com sua aplicabilidade no cotidiano. 32 Apresentação Nesta aula, vamos nos aprofundar um pouco mais, buscando reunir e discutir alguns conceitos e definições sobre ética e responsabilidade social, sempre de forma contextualizada. Iremos, em um primeiro momento, conhecer a definição de primeiro, segundo e terceiro setores para a seguir compreender como surgiu a noção de responsabilidade social. Conheceremos, ainda, algumas das principais visões que se têm atualmente sobre o tema, para finalmente articulá-lo à reflexão ética. Objetivos Esperamos que, após o estudo do conteúdo desta aula, você seja capaz de: » Identificar e diferenciar o que são e como atuam os três setores. » Compreender a noção de Responsabilidade Social no atual mundo do trabalho. » Identificar, de forma crítica, práticas de Responsabilidade Social. 3 AulA RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES 33 RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES • AulA 3 Aproximações iniciais Em nossas primeiras aulas, começamos a nos aproximar das questões que são objeto de nosso caderno de estudos; a responsabilidade social, o desenvolvimento sustentável e a ética. Iniciamosnossa aula buscando incentivar o desenvolvimento de uma prática refl exiva e, para isso, insistimos na importância de se desnaturalizar modos de se pensar e viver a realidade, contextualizando nossos campos de estudo e trabalho. Discutimos também sobre a noção de crise, articulando-a à própria ideia de transformação social como algo inerente à história da humanidade. Embora aceitemos esse ponto de partida, percebemos que as mudanças contemporâneas podem ser defi nidas a partir de um conjunto de fatores, entre os quais está a própria velocidade que caracteriza as atuais transformações. Neste contexto, e de diferentes maneiras, grande parte das análises que encontramos da atualidade incluem uma preocupação – ou ao menos um questionamento – sobre as problemáticas e ações sociais. Como vimos anteriormente, o progresso científi co e o avanço tecnológico não foram capazes de assegurar o bem-estar e o desenvolvimento social, como esperado. Paralelamente, mudanças políticas, sociais e econômicas contribuíram para que tivéssemos que rever antigas ilusões e ideologias, frente a um crescente cenário de desigualdade e exclusão social. O debate em torno da responsabilidade social e da ética insere-se neste panorama, ao lado das noções de cidadania e de terceiro setor. Fazendo um “recorte” no tempo e aproximando-nos um pouco mais da realidade brasileira, percebemos que o Brasil vive uma história muito recente em termos de democratização e de formação cidadã. Até vinte anos atrás, não somente o Brasil, mas os países latino-americanos eram governados pelo regime ditatorial, onde a sociedade estava totalmente controlada pelo Estado e o cidadão não tinha voz, ou seja, não possuía o direito legítimo de reivindicar e se mobilizar para assegurar seus direitos. O início do processo de democratização brasileira – que tem como ponto alto a Constituição de 88 – dá-se de forma articulada à própria organização da sociedade civil. A década de 80 é marcada pela redução de postos de trabalho, pelas mudanças nas relações e no mundo do trabalho. Provocação Relembre algumas das principais características da contemporaneidade, retomando a aula 1. Saiba mais A constituição de 88 é conhecida como “Constituição Cidadã” e destaca, pela primeira vez, a importância da ordem social. Neste sentido, podemos ressaltar os seguintes artigos: 34 AulA 3 • RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES Paralelamente, iremos perceber uma progressiva redução do papel executivo do Estado e uma paulatina ampliação do papel e poder da iniciativa privada. Do Título I - Dos Princípios Fundamentais, o Artigo 3º: Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Do Título VIII - Da Ordem Social, as Disposições Gerais do Capítulo I, os seguintes artigos: Art. 193. A ordem social tem como base o primado do trabalho, e como objetivo o bem-estar e a justiça sociais; Arts. 205 a 214 – Educação; Arts. 215 e 216 - Cultura; Art. 217 – Desporto; Art. 225 - Meio Ambiente; Arts. 226 a 230 - Família, Criança, Adolescente e Idoso. Não nos cabe aqui esmiuçar as transformações ocorridas nas últimas décadas, mas sim destacar e buscar compreender como o papel e as relações entre o Estado, a iniciativa privada e a sociedade civil organizada vêm se modificando e como estas esferas têm se colocado frente às problemáticas e alternativas de desenvolvimento social. Simone Coelho, doutora em Ciência Política pela USP, ajuda-nos a melhor compreender o que estamos expondo e afirma que: Nesse sentido, a literatura contemporânea tem se esforçado em repensar o papel do Estado e sua participação no desenvolvimento social. É evidente a crise mundial de uma concepção de Estado – mais conhecida como welfare state – na qual se configuram governos centralizados e burocratizados, com política social expressiva e serviços padronizados que têm por meta suprir as necessidades sociais da população. (COELHO, 2000) 35 RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES • AulA 3 Entenda melhor: A tradicional concepção de welfare state tem como foco a centralização do poder do Estado como o grande “provedor” de todos os serviços necessários à população. Segundo esta visão, um Estado forte deveria ser capaz de distribuir riquezas e minimizar desigualdades sociais, garantindo emprego e renda, além dos demais direitos a todos os cidadãos. Para isso, prioriza-se a intervenção do Estado na esfera pública. Com a crise deste modelo – pela própria impossibilidade de sua sustentação aliada à crescente complexidade dos problemas sociais – começam a surgir ações da iniciativa privada e da própria sociedade civil de modo a construir alternativas para as questões sociais. Ou seja, a garantia de direitos deixa de estar a cargo somente do Estado. Empresas, cidadãos e grupos da sociedade passam a atuar, de maneira complementar, conquistando importância e papel fundamental neste contexto. Os três setores e suas finalidades Assim, chegamos a um primeiro e fundamental marco conceitual: alguns teóricos defendem um modelo de organização da sociedade que poderia ser dividida em três grandes setores, quais sejam: O primeiro setor, onde se situa o Estado como instância de regulação e de universalização de políticas públicas Þ recursos públicos para fins públicos. O segundo setor, caracterizado pela iniciativa privada como geradora de riquezas Þ recursos privados para fins privados. O terceiro setor, caracterizado pela sociedade civil organizada Þ recursos privados para fins públicos. “Os três setores”: quadro sintético SETOR CARACTERIZAÇÃO RECuRSOS FINS 1º Setor Estado Públicos Públicos 2º Setor Empresas Privados Privados 3º Setor Sociedade civil Organizada Privados e Públicos Públicos (Fonte: baseado em Rubem césar Fernandes, 1994.) O terceiro setor e sua composição Salientamos que o surgimento do terceiro setor não deve ser entendido em oposição ao Estado ou à iniciativa privada, mas de forma contextualizada, como organização da sociedade civil, de fins não econômicos, que surge dos movimentos sociais e populares e que vem complementar e fortalecer estratégias desenvolvidas pelo poder público e pelas empresas. 36 AulA 3 • RESPOnSAbIlIDADE SOcIAl: PRImEIRAS APROxImAçõES A célebre defi nição do terceiro setor como algo público, porém privado ou algo privado, mas de interesse público aponta ao mesmo tempo para a perspectiva de que se trata de uma iniciativa da sociedade civil voltada ao bem público. Não são ações estatais do governo e não são ações privadas de empresas. O terceiro setor reúne um conjunto de iniciativas e possibilidades de participação de toda a sociedade em ações coletivas de transformação social e, com isso, inclui e oportuniza a participação de todos os cidadãos e cidadãs na construção de uma “sociedade livre, justa e solidária”. O terceiro setor é assim composto por todas as organizações sem fi ns lucrativos – ou não econômicos como prevê o Novo Código Civil - que trabalham pela transformação social, buscando benefi ciar grupos ou coletividades. Estão aí incluídas as chamadas organizações não governamentais (ONG’s), as associações comunitárias, os movimentos sociais, as entidades fi lantrópicas, as fundações e os institutos empresariais. Para fi xar: ONG ou Organização Não Governamental é qualquer organização da sociedade civil, não estatal, sem fi ns lucrativos ou, segundo o Novo Código Civil, de fi ns não econômicos; a denominação passou a ser usada nos anos
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