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Posse- Direito Civil 4

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AULA 02 – POSSE - CIVIL IV (Direitos Reais) – CCJ0015 - 2017.2
1. Evolução histórica, conceito e características: 
Em uma primeira abordagem, a posse pode ser encarada como um fato, enquanto a propriedade consiste num direito. Em 
outras palavras, a posse é uma situação de fato, enquanto a propriedade é uma situação de direito. Em geral ambas coincidem na 
mesma pessoa, mas nem sempre isso ocorre. 
Direitos reais no CC/02 Liv ro III da Parte Especial (Direito das Coisas) Título I - Da Posse 
Título II – Direitos reais em espécie 
O estudo da opção sistêmica do legislador é fundamental, pois revela a sua intenção. Podemos assim afirmar que se optou 
por isolar o estudo da posse, como um título preliminar àquele reservado aos direitos reais, por dois motivos: pr imeiro, a posse não é 
direito real; segundo, a posse informa o regime jurídico de todos os demais direitos reais. 
Por outro lado, a posse pode ser considerada a exteriorização da propriedade, seu aspecto visível e palpável no mundo 
fenomênico (falamos da posse direta). Voltemos ao exemplo dado: por ter me visto com o telefone celular, o observador supôs que eu 
seria o proprietário do mesmo. E isso se dá, repita-se, porque geralmente posse e propriedade encontram-se enfeixadas nas mãos da 
mesma pessoa, apesar da coincidência não ser necessária. 
A posse, em outras palavras, cria uma espécie presunção de propriedade. E é por esse motivo que se tutela com veemência 
aquela, por vezes em detrimento desta: como o que possui presume-se proprietário, em um primeiro momento é de se garantir tal 
situação fática, até mesmo por razões de segurança jurídica e pacificação social. 
Aqui desponta uma outra questão: enquanto a propriedade de certo modo teve seu âmbito de incidência reduzido ou 
conformado pela CF/88 (cf. arts. 5º, inc. XXIII1; 182, §§ 2º e 4º2; 1843 e 1864, dentre outros, todos da CF/88) cedendo para a chamada 
função social da propriedade (alguns autores falam em uma nova espécie de propriedade, a propriedade social), a posse saiu 
fortalecida, principalmente através da previsão constitucional expressa da usucapião (cf. arts. 1835 e 1916 da CF/88). 
Enunciado n° 492, V Jornada de Direito Civil: “A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para 
o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela”. 
A proteção alcança a posse correspondente ao direito de propriedade e a outros direitos reais como também a posse como 
figura autônoma e independentemente da existência de um título. 
Proprietário de imóvel → violentamente desapossado → ação reivindicatória para reavê-lo 
 → ação possessória (reintegração de posse) 
 → abstenção → direito à aquisição da própria coisa possuída (usucapião) 
Posse (situação fática - aparência de propriedade) → proteção para evitar a violência e assegurar a paz social, bem como porque a 
 situação de fato aparenta ser uma situação de direito. 
Jus possessioni (posse formal): derivado de uma posse autônoma (em um imóvel e nele se manter, mansa e pacificamente, por mais 
de 1 e dia), independentemente de qualquer título - direito fundado no fato da posse que é mantida contra terceiros que não possuam 
nenhum título nem melhor posse (inclusive o próprio proprietário - jus possessionis permanece até que o jus possidendi o extinga). 
Jus possidendi (posse causal, titulada): direito à posse conferido ao portador de título devidamente transcrito, bem como ao titular de 
outros direitos reais. 
Propriedade Posse 
Estado de direito Estado de aparência protegido pelo direito 
2. Conceito de posse: 
I. Pluralidade semântica do vocábulo posse: posse como propriedade (fulano possui uma casa); posse como instituto de direito público 
(os EUA têm a posse da base de Manta, no Equador); posse como exercício do direito de família (posse do estado de casados); p osse 
como instituto de direito administrativo; posse como elemento de tipo penal (posse sexual mediante fraude) etc. 
II. A posse no direito das coisas: 
A posse (tanto de coisa móvel como de coisa imóvel) é situação jurídica de fato apta a, atendidas certas exigências legais, t ransformar o possuidor em 
proprietário (situação de direito real) (NERY, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Código civil comentado: e legislação ext ravagante. 3.ed. São Paulo: 
Revista dos Tribunais, 2005. p. 608). 
A posse é o exercício de fato, em nome próprio, de um dos poderes inerentes ao domínio. 
 
1 Art. 5º, XXIII: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: ... XXIII - 
a propriedade atenderá a sua função social” . 
2 Art. 182. “A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. (...) § 2º A 
propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. (...) § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da 
lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana 
progressivo no tempo; III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da 
indenização e os juros legais” . 
3 Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis 
no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. § 2º O decreto que declarar o imóvel como de interesse social, para fins de reforma agrária, 
autoriza a União a propor a ação de desapropriação. § 3º Cabe à lei complementar estabelecer procedimento contraditório especial, de rito sumário, para o processo judicial de desapropriação. § 4º O orçamento fixará anualmente o volume total de títulos da dívida agrária, 
assim como o montante de recursos para atender ao programa de reforma agrária no exercício. § 5º São isentas de impostos federais, estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de reforma agrária. 
4 Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais 
disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. 
5 Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até 250 metros quadrados, por 5 anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outroimóvel urbano ou rural. § 
1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil. § 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez. § 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por 
usucapião. 
6 Art. 191. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área de terra, em zona rural, não superior a 50 hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua 
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade. Parágrafo único. Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião. 
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III. Objeto da posse: A posse pode incidir tanto sobre bens corpóreos quanto sobre bens incorpóreos (quase-posse). A chamada posse 
de direitos é admitida, desde que tais direitos possam ser apropriáveis e exteriorizáveis (direitos reais). Ex: direitos do autor, 
propriedade intelectual, passe atlético, direito real de uso sobre linha telefônica. 
IV. Sujeitos da posse: São as pessoas, sejam elas naturais ou jurídicas, de direito público ou de direito privado. 
V. Teoria sobre a natureza da posse: A natureza da posse gerou muito dissenso doutrinário. Basicamente, duas principais teorias e seus 
autores disputaram a hegemonia da matéria: a teoria subjetiva, de Savigny, e a teoria objetiva, de Ihering. 
(A) A Teoria de Savigny: Savigny expôs suas ideias no Tratado da Posse, de 1803. Segundo o autor, a posse resultaria da conjunção de 
dois elementos: o corpus seria o elemento material, traduzindo-se no poder físico da pessoa sobre a coisa. O animus, por seu turno, 
representaria o elemento intelectual, a vontade de ter essa coisa como sua. Ambos os elementos são necessários para a configuração 
da posse. 
 O corpus, sendo o poder de fato sobre a coisa, supõe a apreensão, sendo fundamental a relação exterior da pessoa com a 
coisa. No que diz respeito ao animus, configura-se como a vontade de ter a coisa como própria. É justamente pelo destaque conferido 
por Savigny ao elemento intencional que sua teoria é qualificada de subjetiva. E esse é justamente o calcanhar de Aquiles de sua 
teoria: é extremamente difícil precisar um estado íntimo concretamente. 
 Ao exigir o elemento subjetivo (animus domini) como requisito fundamental para a caracterização da posse, a doutrina 
subjetiva considera simples detentores o locatário, o comodatário, o depositário, o mandatário e outros que possuiriam apenas o poder 
físico sobre a coisa. Não é admitido o desdobramento da relação possessória, pois não se admite a posse por outrem. 
Não é propriamente a convicção de ser dono, mas a vontade de tê-la como sua (animus domini), de exercer o direito de 
propriedade como se fosse o seu titular. 
animus + corpus = posse 
animus - corpus = mera detenção 
(B) Teoria objetiva da posse: A teoria de Ihering foi desenvolvida em obras como “O Fundamento dos Interditos Possessórios” e “O 
Papel da Vontade na Posse”. Posteriormente o autor empreendeu um esforço simplificador de suas teorias. 
A posse é a exteriorização da propriedade e, por isso, para caracterizar a posse basta o exercício em nome próprio do poder 
de fato sobre a coisa. É dizer, para que exista a posse, é necessário somente o corpus. Silvio Venosa afirma que, ainda na teoria 
objetiva, há o animus, mas, neste caso, o elemento volitivo consiste na utilização da coisa tal qual faria o proprietário (animus tenendi). 
corpus (tem posse quem se comporta como dono, independente de querê-lo – animus domini) 
corpus + obstáculo legal = mera detenção (posse degradada) 
VI. Teorias da posse e o Código Civil: O CC/02, repetindo o que já fora feito pelo CC/16 (art. 485), ao definir o possuidor consagra a 
teoria objetiva da posse, como revela a leitura do art. 1.1967: 
Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não, de alguns dos poderes inerentes à propriedade. 
VII. Distinção entre propriedade, posse e detenção: 
(A) Posse: exercício do poder de fato em nome próprio, exteriorizando a propriedade e fazendo uso econômico da coisa ( animus 
tenendi - intenção de usar a coisa tal qual o proprietário). 
(B) Detenção89 (posse natural possessio naturalis): exercício do poder de fato sobre a coisa em nome alheio. O fâmulo da posse ou 
detentor é servo da posse, pois mantém uma relação de dependência com o verdadeiro possuidor, obedecendo às suas ordens e 
orientações. A detenção é também chamada de posse degradada pela lei. O art. 1.198, CC, define o detentor aquele que, achando-se 
em relação de dependência para com o outro, conserva- se a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. 
Para facilitar a caraterização da simples detenção, é interessante utilizarmos os critérios do Código Civil Português, Art. 1.253: 
São havidos como detentores ou possuidores precários: a) os que exercem o poder de facto sem intenção de agir como beneficiár ios 
do direito; b) os que simplesmente se aproveitam da tolerância do titular do direito; c) os representantes ou mandatários do possuidor e, 
de um modo geral, todos os que possuem. 
3. Classificação da posse e suas características: 
I. Quanto ao desdobramento da relação possessória, a posse classifica-se em posse direta e posse indireta. 
Art. 1.197, CC/2002. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, 
de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o possuidor indireto. 
(A) Posse direta (imediata): exercício direto e imediato do poder sobre a coisa (corpus), decorrente de contrato. O possuidor dir eto pode 
defender sua posse contra o possuidor indireto. 
(B) Posse indireta (mediata): apenas o animus (entendido esse como a vontade de utilizar a coisa como faria o proprietário). O 
possuidor indireto pode defender sua posse perante terceiros. 
 A distinção entre posse direta e indireta surge do desdobramento da posse plena, podendo haver desdobramentos 
sucessivos. Quem tem a possibilidade de utilizar economicamente a coisa, o exercício de fato de algum dos direitos inerentes à 
propriedade, é possuidor dela, ainda que não a tenha sob sua dominação direta. 
 
7 Enunciado n° 236, III Jornada de Direito Civil: “considera-se possuidor, para todos os efeitos legais, também a coletividade desprovida de personalidade jurídica”. 
8 Aquele que adquire a posse de modo contrário ao direito também é considerado detentor. 
9 Enunciado n° 301, Jornada de Direito Civil, STJ: “É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome 
próprio dos atos possessórios”. 
 
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O proprietário pode exercer sobre a coisa todos os poderes que informam seu direito. Nesse caso, se confundem nele a 
posse direta e indireta. Pode acontecer, contudo, que por negócio jurídico transfira a outrem o direito de usar a coisa, dando-a em 
usufruto, comodato, penhor, superfície, compra e venda com reserva de domínio, alienação fiduciária, compromisso de compra e venda 
etc. Nesses casos, a posse se dissocia: o titular do direito real fica com a posse indireta (ou mediata), enquanto que o terceiro fica com 
a posse direta (ou imediata). 
 Nesta classificação, não se discute a qualificação da posse, pois ambas (direta e indireta) são jurídicas e têm o mesmo valor 
(jus possidendi, ou posses causais). O problema da qualificação se põe na distinção entre posse justa e injusta. 
 A relação possessória, no caso, desdobra-se. O proprietário exerce a posse indireta, em função do seu domínio; o titular do 
direito real ou pessoal (por exemplo, o locatário) exerce a posse direta. Uma não anula a outra. Ambas coexistem no tempoe no 
espaço e são posses jurídicas. 
Ambos (possuidor direto e indireto) podem invocar proteção possessória contra terceiro. Por outro lado, cada possuidor direto 
e indireto pode se socorrer dos interditos possessórios contra o outro, para defender a sua posse, quando se encontre por ele 
ameaçado. 
 Os desdobramentos da posse podem ser sucessivos. Feito o primeiro desdobramento da posse, poderá o possuidor direto 
efetivar novo desdobramento, tornando-se possuidor indireto. Havendo desdobramentos sucessivos, terá a posse direta apenas aquele 
que tiver a coisa consigo; o último integrante da cadeia de desdobramentos sucessivos. Os demais terão posse indireta. 
Um exemplo seria a do proprietário, que constitui usufruto sobre a coisa, transferindo a posse dir eta e permanecendo com a 
indireta; em seguida, o usufrutuário aluga a coisa, transferindo a posse direta e permanecendo com a indireta; posteriormente , o 
locatário subloca a coisa, transferindo a posse direta ao sublocatário e ficando com a indireta. 
II. Quanto aos vícios, a posse pode ser justa ou injusta. 
Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária. 
(A) Posse justa: posse desprovida dos vícios específicos do art. 1.200, CC (não confundir esse conceito de vícios com o conce ito da 
teoria geral do direito civil). A posse justa é mansa, pacífica, pública e adquirida sem violência. 
(B) Posse injusta: posse maculada por pelo menos um dos vícios da posse (violência, clandestinidade ou precariedade). 
Instituto penal semelhante Posse Aquisição 
Roubo Violenta Atrav és do emprego de v iolência contra a pessoa 
(contra a v ontade do possuidor originário, 
proprietário, possuidor ou fâmulo da posse). 
Furto Clandestina Às escondidas (destreza, as escondidas, ocultada 
com ardil). 
Apropriação indébita Precária Decorrente da v iolação de uma obrigação de restituir 
(abuso de confiança). 
 A posse injusta não deve ser considerada posse jurídica, não produzindo efeitos contra o legítimo possuidor (para quem esta 
situação jurídica não passa de detenção), muito embora o possuidor injusto possa fazer manejo dos interditos possessórios contra atos 
de terceiros. 
Injusta, no entanto, não deve ser tida como posse jurídica. Pois a posse jurídica é a posse que está em harmonia com o direit o. Injusta é a situação de fato 
que se assemelha à posse, mas trata-se de detenção. É a antítese do direito (PUGLIESE, Roberto J. Direito das coisas. São Paulo: LEUD, 2005. p. 58) 
(C) Continuidade do caráter da posse (art. 1.203, CC): a posse que se inicia justa permanece justa; a posse que se inicia injusta, 
permanece injusta ao longo do tempo, a menos que se opere a interversão do caráter da posse. 
(D) Inversão do título da posse: Violência e clandestinidade são vícios relativos, enquanto que a precariedade é vício absoluto. Isso 
implica que a interversão do caráter da posse pode ocorrer quando a posse for violenta ou clandestina. Nestes casos, cessada a 
violência ou a clandestinidade a posse deixa de ser injusta e passa a ser justa. A jurisprudência anterior ao CC/02 fixou mais uma 
exigência: que fossem passados ano e dia após a cessação do vício para que ficasse caracterizada a interversão do caráter da posse. 
Com a eliminação da classificação de posse nova e posse velha pelo CC/02, prevalece o entendimento de que essa exigência temporal 
não mais subsiste. 
Quanto ao convalescimento da posse precária, a doutrina moderna, superando o entendimento do que antes era majoritário, 
aceita. Todavia, ainda não foram definidos critérios objetivos para determinar o momento da interversão (Nelson Rosenvald, por 
exemplo, fala em mudança do ânimo da posse10; Flávio Tartuce admite o convalescimento da precariedade em casos, por exemplo, de 
novação)11. 
III. Quanto à subjetividade, a posse pode ser de boa-fé ou de má-fé. 
 No âmbito do direito das coisas, a posse de boa-fé, aliada a outros relevantes elementos, segundo a lição de Caio Mário da 
Silva Pereira, cria o domínio; confere ao possuidor, não-proprietário, os frutos provenientes da coisa possuída; exime-o de indenizar a 
perda ou deterioração do bem em sua posse; regulamenta a hipótese de quem, com material próprio, edifica ou planta em terreno 
alheio; e, ainda, outorga direito de ressarcimento ao possuidor pelos melhoramentos realizados. 
 
10 Enunciado 237, da III Jornada de Direito Civ il: Art. 1.203: É cabível a modificação do título da posse interversio possessionis na hipótese em que o até então possuidor 
direto demonstrar ato ex terior e inequív oco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini. 
11 Enunciado n° 301, STJ (IV Jornada de Direito Civil): É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de ex ercício em 
nome próprio dos atos possessórios. 
 
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A análise da boa-fé em sede de posse leva em consideração não a sua caracterização objetiva, como um princípio, ou uma 
regra de conduta, mas principalmente em seu sentido subjetivo. 
O CC conceitua posse de boa-fé em seu art. 1.201: é de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo que 
impede a aquisição da coisa. Decorre da consciência de ter adquirido a coisa por meios legítimos. O seu conceito, portanto, funda-se 
em dados psicológicos, em critério subjetivo. 
É de suma importância, para caracterizar a posse de boa-fé, a crença do possuidor de se encontrar em uma situação legítima. 
Se ignora a existência de vício na aquisição da posse, ela é de boa-fé; se o vício é de seu conhecimento, a posse é de má-fé. Contudo, 
não se pode considerar de boa-fé a posse de quem, por erro inescusável ou ignorância grosseira, desconhece o vício que macula a sua 
posse. Assim, para que se caracteriza a boa-fé, o possuidor não pode ter incorrido em erro inescusável, pelo contrário, deve ter agido 
com a diligência normal exigida pela situação. 
Para verificar se a posse é justa ou injusta, entretanto, o critério é objetivo: perquire-se acerca da existência ou não de algum 
dos vícios apontados (violência, clandestinidade ou precariedade). 
Se o possuidor tem consciência do vício que impede a aquisição da coisa e, não obstante, a adquire, torna-se possuidor de 
má-fé. O erro, de que resulta a boa-fé, deve ser invencível, sendo evidente que erro oriundo de culpa não tem escusa. 
 Deste modo, a culpa, a negligência ou a falta de diligência são enfocadas como excludentes da boa-fé. A jurisprudência tem 
enfatizado a necessidade de a ignorância derivar de um erro escusável. 
 A boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias. Basta que a posse seja justa. A boa-fé é relevante, em tema de 
posse, para a usucapião, a disputa dos frutos e benfeitorias da coisa possuída ou para a definição da responsabilidade pela sua perda 
ou deterioração. 
O CC estabelece presunção de boa-fé em favor de quem tem justo título, salvo prova em contrário, ou quando a lei 
expressamente não admite esta presunção (art. 1.201, parágrafo único). 
A posse de boa-fé pode se transfigurar em posse de má-fé. Nos termos do art. 1.202 do CC, a posse de boa-fé só perde este 
caráter no caso e desde o momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor não ignora que possui indevidamente. 
 Sobre o momento da transmudação da natureza da posse, a jurisprudência tem considerado que a citação para a ação é uma 
das circunstâncias que transformam a posse de boa-fé, pois recebendo a cópia da inicial o possuidor toma conhecimento dos vícios de 
sua posse. 
Por igual modo, quando o possuidor é turbado na sua posse e propõe ação, pode vir a tomar conhecimento do melhor direito 
do réu na contestação deste, passando a se caracterizar como possuidor de má-fé. 
Nada impede, entretanto,que o interessado prove outro fato que demonstre que a parte contrária, mesmo antes da citação, já 
sabia que possuía indevidamente. 
Em síntese: 
Posse de boa-fé: é aquela cujo possuidor está convicto de que o exercício de sua posse encontra fundamento na ordem jurídica. A boa-
fé, aqui, é tomada em seu aspecto subjetivo. 
Via de regra, a posse de boa-fé decorre de justo título. Por este motivo, a posse fundada em justo título1213 gera presunção relativa (juris 
tantum) de boa-fé. 
Justo título: diz-se justo o título hábil, em tese, para transferir a propriedade (PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de 
direito civil: direitos reais. 18.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2004. p. 31). Justo título seria todo ato formalmen te adequado a 
transferir o domínio ou o direito real de que trata, mas que deixa de produzir tal efeito (e aqui a enumeração é meramente 
exemplificativa) em virtude de não ser o transmitente senhor da coisa ou do direito, ou de faltar -lhe o poder de alienar (Lenine 
Nequete). 
IV. Posse originária e posse derivada: A posse é tida como originária quando não há vínculo entre o sucessor e o antecessor da posse, 
de modo que a causa da posse não é negocial. A posse é derivada quando há um ato de transferência (da posse, e não 
necessariamente da propriedade) entre o antecessor e o sucessor. Na posse derivada haverá sempre tradição. 
V. Posse ad interdicta (posse que pode ser protegida através dos interditos possessórios) e Ad usucapionem (posse que pode ser 
pressuposto de usucapião). 
4. Natureza da posse: controvérsias 
Os autores divergem quanto à definição da natureza jurídica da posse: Clóvis Beviláqua: a posse é um estado de fato. Caio 
Mário da Silva Pereira: a posse é um direito real. Luiz Guilherme Loureiro: a posse é um direito pessoal (princípio da tipicidade) 
5. Composse: 
A posse é uma forma de exercer a propriedade, e ambas se presumem exclusivas. A posse exclusiva é aquela de um único 
possuidor, pessoa física ou jurídica, que possui sobre a coisa posse direta ou indireta. A posse exclusiva se contrapõe à composse, 
quando vários possuidores têm, sobre a coisa, posse direta ou posse indireta. 
 
12 Enunciado n° 302, STJ (IV Jornada de Direito Civ il): Pode ser considerado justo título para a posse de boa-fé o ato jurídico capaz de transmitir a posse ad 
usucapionem, observ ado o disposto no art. 113 do Código Civ il. 
13 Enunciado n° 303, STJ (IV Jornada de Direito Civil): Considera-se justo título para presunção relativa da boa-fé do possuidor o justo motivo que lhe autoriza a aquisição 
deriv ada da posse, esteja ou não materializado em instrumento público ou particular. Compreensão na perspectiv a da função soc ial da posse. 
Posse de má-fé: o possuidor tem conhecimento do vício que macula a posse. Assim como na posse injusta, a posse de má-fé não pode ser considerada posse jurídica e 
não goza de proteção contra o legítimo possuidor, para quem o possuidor de má-fé não passa de fâmulo da posse. 
 
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E a composse é, assim, a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, simultaneamente, poderes possessórios sobre 
a coisa. Nos termos do art. 1.199 do CC: 
Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá cada uma exercer sobre ela atos possessórios, 
contanto que não excluam os dos outros compossuidores. 
Configurada a composse, a situação que se apresenta é, na realidade, a de que cada compossuidor possui apenas a sua 
parte in abstracto, e não a dos outros. Contudo, cada possuidor pode exercer seu direito sobre a coisa como um todo, valendo-se das 
ações possessórias, desde que não excluía a posse dos outros compossuidores. Inclusive pode valer-se do interdito possessório ou da 
legítima defesa para impedir que outro compossuidor exerça uma posse exclusiva sobre qualquer fração da comunhão. 
É o exemplo de dois ou mais locatários de um mesmo bem, com responsabilidade solidária (art. 2º, Lei nº 8.245/91), e de dois 
ou mais comodatários de um mesmo bem, com responsabilidade solidária (art. 585, CC). 
A composse é estado excepcional da posse, pois foge à regra da exclusividade da posse. Composse é a posse 
compartilhada: mais de uma pessoa exerce poder de fato sobre a mesma coisa. 
A composse pode ser: 
I. Pro diviso (composse de direito): há delimitação de posse de cada possuidor (condomínio); 
II. Pro indiviso (composse de direito e fato): não há delimitação (herança). 
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS: 
GAGLIANO, Pablo Stolze. Manual de Direito Civil, volume único / Pablo Stolze Gagliano e Rodolfo Pamplona Filho. São Paulo: Sa raiva, 
2017.

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