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RESUMO DE DIREITO DAS COISAS ASPECTOS GERAIS DIRETO DAS COISAS · Direito das coisas pode ser definido como: “o complexo de normas reguladoras das relações jurídicas concernentes aos bens corpóreos suscetíveis de apropriação pelo homem. Tais coisas são do mundo físico, porque sobre elas é possível exercer o poder de domínio”. · Coisa é gênero e bem é espécie. · Coisa é tudo aquilo que pode ser objeto de relações jurídicas. · Bens são coisas que, por serem uteis e raras, são suscetíveis de apropriação e contêm valor econômico. · Incluem em seu âmbito apenas os direitos reais. · O DIREITO REAL consiste no poder jurídico, direto e imediato, do titular sobre a coisa, com exclusividade e contra todos (erga omnes). No polo passivo incluem-se os membros da coletividade, pois todos devem abster-se de qualquer atitude que possa turbar o direito do titular. No instante em que alguém viola esse dever, o sujeito passivo, que era indeterminado, torna-se determinado. · Os direitos reais tem como elementos essenciais: sujeito ativo (titular do direito), a coisa e a relação ou poder do sujeito sobre a coisa (domínio). · O DIREITO PESSOAL, consiste numa relação jurídica pela qual o sujeito ativo pode exigir do sujeito passivo determinada prestação. Constitui uma relação de pessoa a pessoa e tem, como elementos, o sujeito ativo, sujeito passivo e a prestação em beneficio do primeiro (obrigação). · Teorias referentes o direito real e o direito pessoal: a) Teoria clássica/ tradicional/ dualista: contraposição entre os conceitos de direito pessoal e direito real, que são apresentados como dois conceitos completamente distintos, explanados acima com seus elementos essências. · É a teoria adotada, pois a diversidade de princípios orientadores dificulta a orientação de um único sistema. b) Teoria unitária: não aceitam o aludido dualismo e procuram integrar ambos os grupos de normas num só sistema. Dividem-se em duas teorias opostas: a personalista e a realista. · A teoria unitária personalista, para essa corrente não existem diferenças substanciais entre os aludidos direitos, o direito das obrigações neste caso é colocado no centro de todo direito civil, abrangendo todas as relações jurídicas civis, inclusive o direito real. · A teoria unitária realista procura unificar os direitos reais e obrigacionais a partir do critério patrimônio, considerando que esses fazem parte de uma realidade mais ampla denominada direito patrimonial. Seria a absorção do direito obrigacional pelo real. · A doutrina menciona, a existência de algumas figuras híbridas ou intermédias, que se situam entre o direito pessoal e o direito real. É um misto de obrigações, seriam as: obrigações propter rem, ônus reais e obrigações com eficácia real. ASPECTOS CONSTITUCIONAIS · ART. 5º, XXII,XXIII,XXIV,XXV E XXVI. · A regra geral: assegura-se o direito de propriedade, que deverá atender a sua função social, nos termos exatos do art. 182 § 2º e 186 da CF/88. · Desapropriação x confisco x expropriação. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS REAIS · Princípio da aderência, especialização ou inerência: estabelece um vínculo direto e imediato entre o sujeito e a coisa, não dependendo da colaboração de nenhum sujeito passivo para existir. A aderência do direito real á coisa, é a constatação do fato de que o direito real incide sobre o bem. Art. 1.228 cc. · Princípio do absolutismo: os direitos reais se exercem erga omnes, ou seja, contra todos, que devem abster-se de molestar o titular. Surge, daí, o direito de sequela (perseguir a coisa e de reivindicá-la em poder de quem quer que esteja bem como o direito de preferência). · Princípio da publicidade ou da visibilidade: os direitos reais sobre imóveis só se adquirem com o registro, no Cartório de Registro de Imóveis, no respectivo titulo. Os sobre bem móveis, só depois da tradição. O registro e a tradição atuam como meios de publicidade da titularidade dos direitos reais. Sendo assim, para serem oponíveis erga omnes é necessário que todos possam conhecer os seus titulares. · Princípio da taxatividade: os direitos reais são criados pelo direito positivo, a lei os enumera de forma taxativa (limitada). O art. 1. 225 cc limita o número dos direitos reais. · Princípio da tipicidade: os direitos reais existem de acordo com os tipos legais. São definidos e enumerados determinados tipos pela norma, e só estes correspondem os direitos reais. · Princípio da perpetuidade: a propriedade é um direito perpétuo, pois não se perde pelo não uso, mas somente pelos meios e formas legais: desapropriação, usucapião, renúncia, abandono e etc.. Em realidade, essa característica não é absoluta, embora tenha mais estabilidade do que os direitos obrigacionais (que são eminentemente transitórios). · Princípio da exclusividade: não pode haver dois direitos reais, de igual conteúdo, sobre a mesma coisa. Assim, não é possível instalar-se direito real onde outro já exista. EX: usufruto, o usufrutuário tem direito aos frutos, enquanto o nu-proprietário conserva o direito á substancia da coisa (cada um exerce, sobre a coisa direitos distintos). · Princípio do desmembramento ou da elasticidade: os direitos reais são transitórios, apesar de possuir mais estabilidade do que os direitos obrigacionais. EX: morte do usufrutuário, o poder que existia em mão de seus titulares retorna ás mãos do proprietário. POSSE · O nosso direito protege a posse correspondente ao direito de propriedade e a posse como figura autônoma e independente da existência de um título. Ou seja, a posse de direito e a posse de fato. · “JUS POSSESSIONIS” X “JUS POSSIDENDI”: em ambos os casos é assegurado á proteção dessa situação contra atos de violência, para garantia da paz social. · Se alguém, instala-se em um imóvel e nele se mantém, mansa e pacificamente, por mais de ano e dia, cria uma situação possessória, que lhe proporciona direito e proteção, tal direito é chamado de jus possessionis ou posse formal, derivado de uma posse independentemente de título. É protegido contra terceiros e até mesmo o proprietário (até que por vias ordinárias, futuramente, perca o imóvel para este). · Já o direito a posse, conferido ao portador de título devidamente transcrito, bem como o titular de outros direitos reais, é denominado jus possidendi ou posse casual. Constitui-se em direito real, sem qualquer autonomia. · Posse distingue-se da propriedade. · "O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha" – art. 1.228 cc. · O estudo da posse é repleto de teorias que procuram explicar o seu conceito. Podem, ser reduzidas a dois grupos: teorias subjetivas (teoria subjetiva de Savigny) e teorias objetivas (teoria objetiva de Ihering). · TEORIA SUBJETIVA DE SAVIGNY: a posse se caracteriza pela conjugação de dois elementos: o corpus, elemento objetivo que consiste na detenção física da coisa, e o animus, elemento subjetivo, que se encontra na intenção de exercer sobre a coisa um poder no interesse próprio e defende-la contra a intervenção de outrem. · Não é propriamente a convicção de ser dono, mas a vontade de tê-la como sua, de exercer o direito de propriedade como se fosse o seu titular. · TEORIA OBJETIVA DE IHERING: não empresta a intenção. Para que a posse exista basta o elemento objetivo, portanto a posse é a exteriorização do domínio. Tem posse quem se comporta como dono, e nesse comportamento já está incluído o animus. · O Código Civil Brasileiro adota a teoria objetiva de Ihering, art. 1.196 cc: · “Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício, pleno ou não (da detenção física da propriedade), de algum dos poderes inerentes à propriedade”. · Para Ihering, cuja teoria o nosso direito positivo acolheu, posse é conduta de dono. · Sempre que haja exercício de poderes de fato, inerentes à propriedade, existe posse, a não ser que alguma norma como as previstas no art. 1198 e 1208 digam que o exercício configura detenção e não posse – detenção X posse. DETENÇÃO X POSSE · Nemtodo estado de fato é relativamente á coisa ou a sua utilização é juridicamente posse. Ás vezes o é. Outras vezes não passa de mera detenção, que muito se assemelha á posse, mas que dela difere na essência como nos efeitos. · Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em cumprimento de ordens ou instruções suas. · Isso pode acontecer quando a LEI desqualifica a posse, para mera detenção (art. 1198, 1208, 1224) · Somente a posse gera efeitos jurídicos, conferindo direitos e pretensões possessórias em nome próprio: essa é a grande distinção entre posse e detenção. POSSE E QUASE POSSE · Os romanos consideravam a posse como aquela emanada do direito de propriedade, para eles, qualquer direito menor como a servidão ou usufruto era denominada quase posse, pois aplicadas aos direitos ou coisas incorpóreas. EX: servidão e usufruto. · Atualmente esses institutos são tratados como posse propriamente ditas. · A posse pode ser desdobrada em direta e indireta, permite o exercício da primeira por força de um direito obrigacional. COMPOSSE · É a situação pela qual duas ou mais pessoas exercem, ao mesmo tempo, poderes possessórios sobre a mesma coisa. A previsão legal está no art. 1199 do cc. · Podemos dividir em duas espécies: a) pro diviso: quando se estabelece uma divisão de fato para a utilização pacífica do direito de cada um. b) pro indiviso: se todos exercem, simultaneamente e sobre a totalidade da coisa, os poderes de fato (utilização ou exploração comum do bem). POSSE DOS DIREITOS PESSOAIS · Atualmente a posição que prevalece é que a ideia de posse é inaplicável aos direitos pessoais. · O direito das coisas compreende somente os bens materiais: propriedade e seus desdobramentos, ou seja, bens corpóreos, que são tangíveis. · No Brasil, por influência de Rui Barbosa os interditos possessórios chegaram a ser utilizados para defesa de direitos pessoais, incorpóreos, por um curto período de tempo, que terminou com a instituição do mandado de segurança, a partir de 1934. · Hoje para esse fim são utilizadas as tutelas provisórias, baseadas no poder geral de cautela do juiz (cpc 297) cautelar inominada. NATUREZA JURÍDICA DA POSSE · É profunda e antiga a divergência sobre a natureza jurídica da posse. · Posse é fato ou é direito? · Ihering- direito, sendo legalmente protegido. · Beviláqua: é fato protegido em atenção à propriedade, da qual ela é a manifestação exterior. · Savigny: tem natureza dupla (fato e direito). · Para a maioria dos civilistas ela tem essa natureza, pois considerada em si mesma, é um fato, mas, pelos efeitos que gera, entra na esfera do direito. · Para beviláqua, a posse não é direito real, nem pessoal, mas sim um direito especial. CLASSIFICAÇÃO DA POSSE · POSSE DIRETA X POSSE INDIRETA · Na classificação em apreço, não se propõe o problema da qualificação da posse, porque ambas são jurídicas e tem o mesmo valor. · A divisão da posse direta e indireta encontra-se definida no art.1.197 do cc. · “A posse direta de pessoa que tem a coisa em seu poder, temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta, de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse contra o indireto”. · O proprietário exerce a posse indireta, como consequência de seu domínio. · EX: o locatário, por exemplo, exerce a posse direta por concessão do locador. O locador exerce a posse indireta. Uma não anula a outra, ambas coexistem e são posses jurídicas, não autônomas, pois implicam o exercício do efetivo direito sobre a coisa. · A vantagem desta divisão é que tanto o possuidor direto, quanto o indireto podem invocar proteção possessória contra terceiro, mas só o terceiro pode adquirir a propriedade em virtude da usucapião. · O possuidor direto e o indireto devem permanecer inertes para que haja usucapião. · O possuidor direto jamais poderá adquirir o bem por esse meio, por ausência do ânimo de dono, a não ser que ocorra uma inversão no ânimo, passando a possuí-la como dono. · O desmembramento em posse direta e indireta pode ocorrer em várias espécies de contrato, como no de: a) Compra e venda com a reserva de domínio (art. 521 cc). b) Alienação fiduciária (1361 e lei n 9514/1997). c) No compromisso de compra e venda (art. 462 e seguintes e art.1417 e 1418). · Os bens públicos são recobertos pelo manto da impossibilidade de aquisição via ação de usucapião (não é penhorável). · POSSE JUSTA X POSSA INJUSTA. · Segundo o art. 1.200 do cc: “é justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária”.. · Posse justa é aquela isenta de vícios, que não repugna o direito, por ter sido adquirida de algum dos modos previstos na lei, ou a posse ter sido adquirida legitimamente sem vicio jurídico externo. · A posse injusta, portanto, é adquirida viciosamente, por violência, clandestinidade ou por abuso do precário, sendo que esses três vícios correspondem às figuras definidas no código penal (roubo, furto e apropriação indébita). · A violência pode ser física ou moral, toma o objeto de alguém com o uso da força, ou expulsa por meios violentos, o anterior possuidor de imóvel, roubo por exemplo. · É clandestina a posse ocupada ás escondidas, furto ou ocupação de um imóvel por exemplo. · É precária (precariedade) a posse quando o agente se nega a devolver a coisa, findo o contrato, apropriação indébita por exemplo. · A precariedade difere dos vícios de violência e clandestinidade quanto ao momento em que surgem. Enquanto os fatos que caracterizam essas ocorrem no momento de aquisição da posse a clandestinidade ocorre em momento posterior, dito de outro modo a posse se torna injusta ou viciada no momento em que se recusa a restituí-la, passando a condição de esbulhador. · TURBAÇÃO X ESBULHO Turbação (menos grave - diminuição) Esbulho (mais grave - perda) Ato que dificulta o exercício da posse, que embaraça o exercício da posse. Enquanto ainda seja apenas a ameaça, ou estejam em andamento os atos tendentes à tomada do bem. Ato que importa na impossibilidade do exercício da posse pelo possuidor. O possuidor fica injustamente privado da posse. Ocorre uma diminuição do direito Há a perda do direito, em si. Resulta de todo ato que embaraça o livre exercício da posse. Resulta de violência, clandestinidade ou precariedade. O esbulho resultante de precariedade é denominado esbulho pacifico. · Ainda que viciada a posse injusta não deixa de ser posse, portanto é injusta ao seu legítimo possuidor, mas suscetível a proteção em relação as demais pessoas estranhas ao fato. · Cessadas a violência e a clandestinidade, a posse passa a ser útil, surtindo todos os efeitos, nomeadamente para a usucapião e para a utilização dos interditos. Também ocorre o convalescimento dos vícios, daí surge a posse injusta. Conciliação dos arts. 1.203 e 1.208 cc. · POSSE DE BOA-FÉ X POSSE DE MÁ-FÉ. · Para caracterizar a posse de boa-fé, na concepção psicológica o interessado deve possuir a crença de que não lesa o direito alheio (que está em uma situação legitima). · Ou seja, se o possuidor ignora o vicio, ou o obstáculo que impede a caracterização da coisa, é a posse de boa-fé. ART. 1.201. · Sendo assim, não se pode considerar de boa-fé a posse de quem, por erro inescusável, ou ignorância grosseira, desconhece o vicio que mina sua posse. · Se o vicio é do conhecimento do possuidor, então a posse é de má – fé. · A boa-fé não é essencial para o uso das ações possessórias. Ela só ganha relevância em relação a posse nas ações de usucapião, disputa sobre frutos e benfeitorias da coisa possuída e na responsabilidade pela sua perda ou deterioração. · Há a presunção de boa-fé em favor de quem possui justo título, salvo prova em contrário, ou quando a lei não admite este tipo de presunção. · Esse dispositivo ampara o possuidor de boa - fé, pois transfere o ônus da prova à parte contrária, a quem cabe demonstrar que, a despeito do justo título, estava o possuidor ciente de não ser justa a posse. · A posse de boa-fétambém pode existir sem justo título. · De acordo com o entendimento da jurisprudência doutrina, entende-se que deve presumir a má-fé do possuidor desde a data da citação, quando possuidor toma ciência dos vícios de sua posse (circunstancias objetivas). · Os efeitos da sentença, portanto, retroagem ao momento da citação, determinando que o possuidor será qualificado como possuidor de má-fé, com todas as consequências dos art. 1216 a 1220. · Entretanto, a posse não impede que o interessado faça prova de que o possuidor já incorria na má-fé antes da citação. · POSSE NOVA X POSSE VELHA. · Posse nova é a de menos de ano e dia. · Posse velha é a de ano e dia ou mais. · A diferença entre posse nova e posse velha se dá pelo cumprimento ou não do prazo estipulado para reivindicar o direito de posse, ocasionando resultado que diferenciarão os procedimentos a serem realizados em cada uma das situações. · Para a posse nova é disposta a aplicação de liminar própria das ações possessórias, para garantir imediatamente o direito de posse buscado pelo Autor. (rito especial das ações possessórias – mais célere e efetivo). · Nos casos de posse velha, cabe o pedido de tutela antecipada (rito ordinário, sem perder o caráter possessório). · Não podemos confundir posse nova e velha com a previsão de ação de força nova ou velha, pois as ações levam em conta a reação do turbado ou esbulhado para a propositura da ação e seus efeitos. · Neste caso a ação será de força nova quando a ação for proposta dentro de ano e dia, podendo pleitear a concessão de liminar, passando este prazo a ação será de força velha e seu procedimento será ordinário sem direito a liminar. · É possível que alguém que tenha posse velha ajuizar ação de força nova, ou de força velha e vice-versa. · Ação de força nova e velha- direito processual. · Posse nova e velha – direito material. · POSSE NATURAL X POSSE CIVIL (JURÍDICA). · Posse natural é a que se constitui pelo exercício dos poderes de fato sobre a coisa, a que se assenta na detenção material e efetiva da coisa. · Posse civil ou jurídica é a que assim se considera por força de lei sem a necessidade de atos físicos ou materiais. Ou seja, a posse civil é a que se transmite ou se adquire pelo titulo. · O artigo 1204 leciona que adquire- se a posse por qualquer dos modos de aquisição em geral, desde o momento em que se torna possível o exercício em nome próprio, de qualquer dos poderes inerentes a propriedade. · POSSE AD INTERDICTA X POSSE AD USUCAPIONEM. · Posse ad interdicta é a que pode ser defendida pelos interditos, isto é, pelas ações possessórias, quando molestada, mas não conduz à usucapião. O possuidor, como o locatário, por exemplo, vítima de ameaça ou de efetiva turbação ou esbulho, tem a faculdade de defendê-la ou de recuperá-la pela ação possessória adequada até mesmo contra o proprietário. · Para ser protegida pelos interditos basta que a posse seja justa. · As ações possessórias estão previstas nos procedimentos especiais do CPC no capítulo III - art. 554 e seguintes. Posse ad usucapionem é aquela capaz de gerar o direito de propriedade. Previsão legal nos artigos 1.242 e art. 1238. · EX: Ao fim de um período de dez anos, aliado a outros requisitos, como o ânimo de dono, o exercício contínuo e de forma mansa e pacífica, além do justo título e boa-fé, dá origem à usucapião ordinária (CC, art. 1.242). · Embora seja suficiente a ausência de vícios (posse justa) para que a posse se denomine ad interdicta, torna-se necessário, para que dê origem à usucapião (ad usucapionem), que, além dos elementos essenciais à posse, contenha outros. · POSSE PRO DIVISO X POSSE PRO INDIVISO. · Art. 1.199 CC. · Se os compossuidores têm posse somente de partes ideais da coisa, diz-se que a posse é pro indiviso. · Se cada um se localiza em partes determinadas do imóvel, estabelecendo uma divisão de fato, diz-se que exerce posse pro diviso. · Neste caso, cada compossuidor poderá mover ação possessória contra outro compossuidor que o moleste no exercício de seus direitos, nascidos daquela situação de fato. AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE · Aquisição da propriedade x posse. · A aquisição da propriedade deve ser demonstrada através da prova da origem ou do motivo que a engendrou. · Diferentemente da posse, que trata-se de mero estado de fato, que pode ser demonstrado como tal, não há razão para se lhe remontar à origem. · Acolhida a teoria de Ihering, pela qual a posse é o estado de fato correspondente ao exercício da propriedade, ou de seus desmembramentos, basta a lei prescrever que haverá posse sempre que essa situação se definir nas relações jurídicas. Art. 1.204 cc. · A aquisição concretiza-se, portanto, por qualquer dos modos de aquisição em geral a título gratuito ou oneroso, inter vivos ou causa mortis. · Adquire-se a posse por modo originário quando não há relação de causalidade entre a posse atual e anterior, a exemplo, pela usucapião. · Por outro lado, diz-se que a posse é derivada quando há anuência do anterior possuidor, como na tradição precedida de negócio jurídico. Existe uma transmissão de propriedade de um sujeito para o outro, a exemplo, compra e venda ou sucessão. · A posse pode ser adquirida pela própria pessoa que a pretende, desde que capaz. Caso não possua a capacidade, pode adquirir o bem se estiver representada ou assistida por seu representante. · Admite-se que terceiro sem mandato adquira a posse em nome de outrem, dependendo da ratificação (art. 1205, inc. Ii), tratando-se da figura do gestor de negócios (art. 861). · A posse do imóvel faz presumir até prova em contrário, a das coisas que nele estiverem. Os bens acessórios, seguem os principais. PERDA DA POSSE · O Código Civil de 2002 proclama: “Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196”. · Exemplificativamente, perde-se a posse das coisas: a) Pelo abandono, que se dá quando o possuidor renuncia à posse, manifestando, voluntariamente, a intenção de largar o que lhe pertence, como quando atira à rua um objeto seu. b) Pela tradição (traditio), quando envolve a intenção definitiva de transferi-la a outrem, como acontece na venda do objeto. c) Pela perda propriamente dita da coisa, se o bem desaparece, torna-se impossível exercer o poder físico em que se concretiza. d) Pela destruição da coisa, uma vez que, perecendo o objeto, extingue-se o direito. e) Pela colocação da coisa fora do comércio, porque se tornou inaproveitável ou inalienável. f) Pela posse de outrem, ainda que a nova posse se tenha firmado contra a vontade do primitivo possuidor, se este não foi mantido ou reintegrado em tempo oportuno. OBS: O desapossamento violento por ato de terceiro dá origem a detenção, viciada pela violência exercida. Com o convalescimento do vício, surge posse injusta, que se firmará pelo decurso do prazo de ano e dia. CPC art.558 · Em relação a coisa móvel ou semovente prevalecerá a regra geral, aplicável aos imóveis , de que o proprietário injustamente privado da coisa que lhe pertence pode reivindicá-la de quem a detenha conforme lição do art. 1.228. · Quanto a perda de posse para o ausente (diferente da lição do art. 22 do CC) o ausente neste sentido é aquele do art. 1224, naturalmente, essa perda é provisória, pois, nada impede de recorrer às ações possessórias. · Só se considera perdida a posse para quem não presenciou o esbulho, quando, tendo notícia dele, se abstém de retornar a coisa, ou, tentando recuperá-la, é violentamente repelido. DOS EFEITOS DA POSSE DA TUTELA DA POSSE · São os EFEITOS da posse que lhe imprimem cunho jurídico e a distinguem da mera detenção. · Cinco efeitos da posse mais evidentes: Cinco são as mais evidentes: 1- PROTEÇÃO POSSESSÓRIA 2- PERCEPÇÃO DE FRUTOS 3- RESPONSABILIDADE PELA PERDA OU DETERIORAÇÃO DA COISA 4- INDENIZAÇÃO PELAS BENFEITORIAS E DIREITO DE RETENÇÃO 5- USUCAPIÃO. PROTEÇÃO POSSESSÓRIA · A proteção conferida ao possuidor é o principal efeito da posse. Ela pode dar-se de dois modos: 1. Pelalegítima defesa ou pelo desforço imediato em que o possuidor pode manter ou restabelecer a situação de fato pelos seus próprios recursos – AUTOTUTELA. 2. E pelas ações possessórias, criadas especificamente para a defesa da posse – HETEROTUTELA. · Quando o possuidor se acha presente e é turbado no exercício de sua posse, pode reagir, fazendo uso da defesa direta, agindo então, em legítima defesa. A situação se assemelha à excludente de ilicitude prevista no CP. Art. 1.210 cc. · Se, entretanto, a hipótese for de esbulho, tendo ocorrido a perda da posse, poderá se fazer uso do desforço mediato. Art. 1210 §1º do CC. · Os atos de defesa e de desforço não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse. A reação deve limitar-se ao indispensável à retomada da posse. · Os meios empregados devem ser proporcionais à agressão. O excesso de defesa pode acarretar em indenização aos danos causados e até mesmo a configuração do crime do art. 345 do CP (exercício arbitrário das próprias razões). · Havendo dúvida, é aconselhável o ajuizamento da ação possessória pertinente. AÇÕES POSSESSÓRIAS EM SENTIDO ESTRITO LEGITIMIDADE ATIVA · Exige-se a condição de possuidor para a propositura dos interditos (560 do CC).O detentor não tem essa faculdade. Se somente tem direito e não a posse correspondente, terá de valer-se da via petitória e não da possessória, salvo na precisão do art. 1207 do CC. · O nascituro, em que pese o entendimento de pontes de Miranda, não é titular de direitos subjetivos, não sendo portanto, ainda que por ficção possuidor. · Possuidores diretos e indiretos têm ação possessória contra terceiros, e também um contra o outro. A jurisprudência já vinha admitindo que cada possuidor, o direto e o indireto, recorresse aos interditos possessórios contra o outro, para defender a sua posse, quando se encontrasse por ele ameaçado. · Havendo posse em níveis (locador, locatário, subloca). Em que há possuidor direto e mais de um indireto, é preciso verificar quais das posses foi ofendida na ação movida entre eles. · Entretanto, contra terceiros, há legitimação concorrente dos possuidores de diferentes níveis, podendo instaurar-se litisconsórcio não obrigatório. LEGITIMIDADE PASSIVA · A legitimidade passiva nas ações possessórias é do autor da ameaça, turbação ou esbulho (CPC, ART. 561, II E 567). Da mesma forma o terceiro que recebeu a coisa esbulhada, de má-fé, pode figurar como sujeito passivo na ação (art. 1.212). · Contra terceiro de boa-fé não cabe reintegração de posse, neste caso cabe ação petitória contra o terceiro de boa-fé. · Se a turbação ou esbulho forem causados por pessoa privada de discernimento ou menor incapaz o legitimado será seu responsável. · A ação pode ser proposta tanto contra o autor do ato molestador, quanto quem ordenou sua prática. Também é possível propor contra ambos. · O representante legal também pode responder, dependendo do caso, principalmente se agiu por conta própria, fora e além dos limites do seu mandato. · O herdeiro obedece a regra do art. 1207 do CC e do art. 1212 do CC. Se herdeiro a título universal responde, pois continua de direito da posse do seu antecessor. Já o sucessor a título singular somente estará legitimado para responder a ação de reintegração de posse se recebeu a coisa esbulhada sabendo que o era. · Legitimada passivamente para a ação é a pessoa jurídica de direito privado autora do ato molestador, não o seu gerente, administrador ou diretor, se estes não agiram em nome próprio. · Também podem ser legitimados pessoas jurídicas de direito público, desde que ouvidos previamente seus representantes legais nos termos do art. 562, § único do CPC. · É perfeitamente cabível ação possessória contra o Poder Público quando este comete atentado à posse dos particulares, agindo como se fossem particulares para realizar obra pública. · O entendimento é que o particular deve reagir prontamente, nestes casos, pois não poderá pretender interditar a obra se já estiver construída ou em construção, nada lhe restando mais do que pleitear a respectiva indenização. · É comum, em diversos casos, que o turbado ou esbulhado, proponha ação contra simples prepostos ( pessoas que agem em nome de uma empresa ou organização), que praticam referidos atos contra terceiros, por desconhecimento da situação de fato. · Para correção do endereçamento errôneo da demanda deve ser feita nomeação à autoria da seguinte forma: · Se o demandado é simples detentor (CC art. 1198) deve nomear a autoria com fulcro no art. 339 do CPC. · Se é possuidor direto apenas (art. 1197 CC), denuncia a lide ao possuidor indireto (CPC art. 125, II). CONVERSÃO DE AÇÃO POSSESSÓRIA EM AÇÃO DE INDENIZAÇÃO · Permite-se que o possuidor possa demandar a proteção possessória e, cumulativamente, pleitear a condenação do réu nas perdas e danos (CPC/2015, art. 555, I). · Se, no entanto, ocorreu o perecimento ou a deterioração considerável da coisa, só resta ao possuidor o caminho da indenização. · O pedido indenizatório deve ser feito na inicial cumulativamente com o pedido de proteção possessória. AÇÕES POSSESSÓRIAS NA TÉCNICA DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL - A FUNGIBILIDADE DOS INTERDITOS · O princípio da fungibilidade das ações possessórias está regulamentado no art. 554 do CPC. · Desse modo, se a ação cabível for a de manutenção de posse e o autor ingressar com ação de reintegração, ou vice-versa, o juiz conhecerá do pedido da mesma forma e determinará a expedição do mandado adequado aos requisitos provados. A parte expõe o fato e o juiz aplica o direito. · Impõe-se o apontado princípio somente às três ações possessórias em sentido estrito. Sendo uma exceção à regra que proíbe o julgamento extra petita (CPC/2015, art. 492), deve ter aplicação estrita. · O referido princípio autoriza a conversão do interdito proibitório em interdito de manutenção ou reintegração de posse se, depois de ajuizado, vier a ocorrer a turbação ou esbulho que se temia. Entretanto, ajuizada a ação de manutenção de posse, não há mais lugar para ser intentado o interdito proibitório, por falta de interesse de agir. CUMULAÇÃO DE PEDIDOS · O diploma processual permite a cumulação de pedidos, na inicial da ação possessória, cumule o pedido possessório com o de condenação por perdas e danos, cominação de pena em caso de nova turbação ou esbulho e desfazimento de construção ou plantação feita em detrimento de sua posse. · Dispõe, com efeito, o art. 555 do CPC. · A cumulação é facultativa e pode ocorrer sem prejuízo do rito especial das ações em comento. Neste caso o juiz não pode decretar de ofício estes pedidos, pois não se pode tê-los como implícitos (seria um julgamento ultra petita) CARÁTER DÚPLICE DAS AÇÕES POSSESSÓRIAS · Art. 556 CPC. · A ação possessória somente é dúplice se o réu também demandar na contestação proteção possessória. · Em alguns casos, especificamente, as ações possessórias possuem natureza dúplice, não sendo necessário o pedido de reconvenção. · Caso o réu se julgue ofendido na sua posse, este pode formular, na própria contestação os pedidos que tiver contra o autor (podem ser cumulados). · O legislador tornou dúplice a ação possessória, permitindo que o juiz, independentemente de reconvenção do réu, confira-lhe a proteção possessória, se a requerer na contestação e provar ser o legítimo possuidor. INTERDIDO PROIBITÓRIO · Há uma gradação nos atos perturbadores da posse, dando origem a três procedimentos possessórios distintos, embora com idêntica tramitação: ameaça, turbação e esbulho. · O interdito proibitório tem caráter preventivo, pois visa a impedir que se concretize uma ameaça à posse. Para cada etapa, destarte, prevê-se uma ação específica. · Assim, se o possuidor está apenas sofrendo uma ameaça, mas se sente na iminência de uma turbação ou esbulho, poderá evitar, por meio da referida ação, que venham a consumar-se. · Não é qualquer receio que constitui ameaça suscetível de ser tutelada por meio da ação de interdito proibitório. Faz-se mister que o ato, objetivamente considerado,demonstre aptidão para provocar receio numa pessoa normal. · ART. 567 CPC. · A ação de interdito proibitório pressupõe, portanto, os seguintes requisitos: a) posse atual do autor (direta ou indireta) b) ameaça de turbação ou esbulho por parte do réu (certeza) c) justo receio de ser concretizada a ameaça (provocado por fatos concretos e objetivos). · O interdito proibitório assemelha-se à ação cominatória, pois prevê, como forma de evitar a concretização da ameaça, a cominação ao réu de pena pecuniária, caso transgrida o preceito. · Assim, se a ameaça vier a se concretizar no curso do processo, o interdito proibitório será transformado em ação de manutenção ou de reintegração de posse, concedendo-se a medida liminar apropriada e prosseguindo-se no rito ordinário. · Ao determinar a aplicação ao interdito proibitório do disposto na Seção II, concernente às ações de manutenção e de reintegração de posse, o estatuto processual de 2015 (art. 568) permitiu, também, que se concedesse liminar em interdito proibitório.
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