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DIREITO DAS COISAS Elaborado por: Giovanna Calvano da Silva Fonte: Aulas dos professores Daniel Carnacchioni, Beatriz Cunha e Sandro Amaral. Direitos Reais e Código Civil ........................................................................................................................................ 1 Posse ............................................................................................................................................................................... 1 Caracterização da posse .......................................................................................................................................... 2 Aspecto ESTRUTURAL ........................................................................................................................................ 2 Detenção ................................................................................................................................................................. 3 Aspecto Funcional .................................................................................................................................................. 5 Desdobramento da Posse ou Posses Paralelas ............................................................................................... 5 Composse ............................................................................................................................................................... 6 Aquisição e Perda .................................................................................................................................................. 6 Exceção de Domínio .............................................................................................................................................. 7 Qualificação da posse ............................................................................................................................................... 7 De acordo com os vícios objetivos ...................................................................................................................... 7 De acordo com os vícios subjetivos .................................................................................................................. 10 Outras qualificações ............................................................................................................................................ 12 Direitos Reais e Código Civil ● Art. 1.225, CC - a propriedade; a superfície; as servidões; o usufruto; o uso; a habitação; o direito do promitente comprador do imóvel; o penhor; a hipoteca; a anticrese; a concessão de uso especial para fins de moradia; a concessão de direito real de uso; e a laje. ● Direitos das coisas (gênero) x direitos reais (espécie); Posse ● Posse é fenômeno FÁTICO - pressupõe exercício de poderes fáticos em relação a determinados objetos → Esse poder de fato se exterioriza no mundo real (exercício fático de poderes sobre a coisa); ● Poder físico sobre coisas a fim de satisfazer necessidades inerentes ao ser humano – direito natural acolhido pelo ordenamento jurídico: por ser um fenômeno fático, se distancia dos direitos reais (que estão condicionados à previsão legal); ○ Fato produzido por um comportamento humano = ato fato; ○ Nem sempre o poder sobre a coisa será posse = pode ser que se trate de detenção; ● Definição de posse depende da teoria adotada (objetiva e subjetiva); ● A compreensão da matéria depende da divisão em dois aspectos: ○ Identificar a posse e o possuidor por meio da concepção: ■ Estrutural - elementos que integram a posse (corpus e animus); ■ Funcional - função social da posse; ○ Qualificação da posse (não altera o fenômeno possessório, mas repercute nos efeitos da posse); Caracterização da posse Aspecto ESTRUTURAL ● Composto por corpus e animus - elementos explicados por duas teorias: Objetiva e Subjetiva; ○ Savigny (Subjetiva): dissocia corpus e animus; ○ Ihering (Objetiva): estuda o corpus de maneira associada ao animus; TEORIA SUBJETIVA TEORIA OBJETIVA Autor Savigny Ihering Natureza da posse Fato Direito Efeitos Múltiplos Teoria da unicidade - posse faz presumir a propriedade Posse é Controle material e possibilidade de influência imediata + vontade de ser dono (animus domni – espécie de affectio tenendi) Comportamento de dono (visibilidade de domínio por meio dos exercícios de poderes) Affectio tenendi – exercício de comando faz presumir vontade in re ipsa (dar função social) Corpus Controle material da pessoa sobre a coisa. • Em primeiro momento, exigia-se o contato propriamente dito; • O contato evoluiu para a disponibilidade física - disposição imediata sobre a coisa Destinação econômica = agir como proprietário para finalidade econômica; Visibilidade da propriedade por seus elementos Animus Vontade de ter a coisa para si - todos os “ários” seriam detentores (comodatário, locatário, depositário) É o elemento mais importante O elemento anímico (querer ser dono) é irrelevante – o modo ou a forma como o poder de fato sobre a coisa se revela exteriormente é o que interessa para a posse; Fundament o Proteger o possuidor (proprietário ou não) contra atos de violência (interdição da violência) Defesa da propriedade Detenção O que diferencia da posse é a ausência o animus de possuidor A diferença entre detenção e posse é a distinção estabelecida pela norma Prós Autonomia entre posse e propriedade, que se verifica ainda que as duas estejam associadas a um mesmo titular (a pessoa que tem posse e propriedade As formas de tutela da posse e propriedade estão em âmbitos diversos Ampliação da dimensão econômica da posse; Desdobramento da posse; Posse por outrem; Dispensa a enumeração dos modos de aquisição e perda da posse. Contras Incompatível com o desdobramento da posse; Subjetivismo exagerado – vai de encontro à tendência de objetivização dos institutos; Hierarquiza posse e propriedade (é o ponto de divergência em relação à teoria sociológica, que defende a inexistência de hierarquia1) Posse não é autônoma em relação à 1 Art. 5º, XXII, 170, 183, 184, 191 da CF e 1228, §1º, CC; Estatuto da Cidade, 5 a 8. Pouco refinada na distinção entre detenção e posse; Diminuição do âmbito de aplicação da posse; Reduz a dimensão econômica da posse por diminuir o rol de possuidores (buscava desvincular totalmente a posse em relação à propriedade - autonomia) propriedade (encontra óbices na ideia de funcionalização da posse e usucapião) Como a teoria objetiva explicaria a tutela possessória mesmo diante do proprietário, no caso de desdobramento da posse (admitido pela própria teoria objetiva)? Como a teoria objetiva explica a proibição de exceção de domínio em ação possessória? No CC Institutos que demandam autonomia entre posse e propriedade2 Usucapião – modo de constituição de propriedade Conceito de posse na perspectiva estrutural (art. 1.196, CC) ● Posse é, portanto, situação jurídica autônoma: elementos da teoria objetiva + fundamento da teoria subjetiva + função social; ○ Direito real ou obrigacional? ■ Posse civil: ● Possuidor proprietário = direito real, proteção no âmbito do direito de propriedade; ● Posse decorrente de relação obrigacional (comodato, locação, depósito) = direito obrigacional; ■ Posse natural: nem real nem obrigacional - autônoma; ● #JURISPRUDÊNCIA: Dada a autonomia existente entre o direito de propriedade e o direito possessório, a existência de expressão econômica do direito possessório como objeto de partilha e a existência de parcela significativa de bens que se encontram em situação de irregularidade por motivo distinto da má-fé dos possuidores, é possível a partilha de direitos possessórios sobre bem edificado em loteamento irregular,quando ausente a má-fé, resolvendo, em caráter particular, a questão que decorre da dissolução do vínculo conjugal, e relegando a segundo momento a discussão acerca da regularidade e formalização da propriedade sobre o bem imóvel. (REsp 1739042/SP, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 08/09/2020, DJe 16/09/2020) Detenção • Importante distinguir a posse da detenção pois a detenção não produz efeitos jurídicos; • “Posse degradada” – obstaculizada por alguma razão; • Como identificar, no caso concreto, a posse e a detenção? Teoria subjetiva Controle material SEM ânimo de dono Teoria objetiva Há detenção quando a lei define • O problema é que, no mundo fático, o comportamento daquele que é considerado detentor pode ser incompatível com a lei (ex.: caseiro que se comporta como dono) 2 V Jornada de Direito Civil - Enunciado 492: A posse constitui direito autônomo em relação à propriedade e deve expressar o aproveitamento dos bens para o alcance de interesses existenciais, econômicos e sociais merecedores de tutela. • Situações de detenção identificadas pelo CC: o Detenção dependente: detentor tem algum tipo de relação com o possuidor (atuação nos limites da autorização, da ordem); ▪ A) DESINTERESSADA: o detentor age em nome do possuidor, não extrai vantagem para si; • Detentor é mero executor material, não há desdobramento da posse; o Detenção e veículo deixado em mecânica – Info 610/STJ: não pode reter o bem por falta de pagamento. • Fâmulo da posse (art. 1.198, CC) - Ex.: caseiro; • Conversão em posse (transmudação) → o poder de fato não cessa, mas se transforma: o exercício dos poderes em nome alheio passa a ser exercido em nome próprio; o A detenção é presumida até que se prove o contrário – a prova da transmudação é ônus de quem arguir (1.198, p.u.); o Causas LÍCITAS – ex.: o detentor adquire o bem (compra, doação, permuta); o Causas ILÍCITAS - IV JDC - Enunciado 3013 (c/c 1.204); ▪ Mudança unilateral de comportamento por parte do detentor (a despeito da vontade do proprietário); ▪ Lapso temporal prolongado. ▪ B) INTERESSADA: o detentor extrai proveito para si, dentro dos limites fixados pelo proprietário; • Art. 1.208, 1ª parte, CC; • Permissão (expressa) ou tolerância (tácita); • A linha entre detentor e possuidor é extremamente tênue; • Cabível a transmudação nos mesmos moldes; • Permissão x Comodato verbal: a distinção é casuística, devendo ser analisado o grau de precariedade (permissão é revogável ad nutum e gera detenção; comodato é contrato, tem regras próprias de extinção e gera posse direta); o Detenção independente/autônoma: não há relação entre possuidor e detentor (inclusive, há conflito entre ambos); ▪ Poder de fato exercido de modo violento ou clandestino → poder de fato é ininterrupto; ▪ Art. 1.208, 2ª parte, CC; ▪ Ocupação CONTRA a vontade do possuidor - violência ou clandestinidade (enquanto houver violência ou clandestinidade); • Enquanto o esbulhado não tem ciência do esbulho – SÓ HÁ DETENÇÃO (1.224); ▪ Cessados os vícios = haverá posse, ainda que injusta (vide art. 1208); 3 É possível a conversão da detenção em posse, desde que rompida a subordinação, na hipótese de exercício em nome próprio dos atos possessórios. Situações de detenção Detenção dependente Relação entre possuidor e detentor Servo da posse Poder de fato exercido em nome alheio Permissão/Tolerância Poder de fato exercido em nome alheio Detenção autônoma Inexiste relação entre possuidor e detentor • Exceção – quando o esbulhado não tomar ciência por tempo razoável e motivo injustificado. O tempo de detenção é contado como posse com base na teoria sociológica; o Bens ilícitos: A questão não é a origem do bem, mas o bem em si é ilícito (animais silvestres, armas, drogas, etc); o Ocupação irregular de área pública; ▪ Incompatível com a posse natural/autônoma (mas a posse civil é possível - relação jurídica com a ADM Pública); ▪ Súmula 619/STJ: “A ocupação indevida de bem público é mera detenção de bem, (desdobramentos lógicos) inexistindo indenização por benfeitorias”. ▪ Defender que o particular faz jus à indenização por benfeitorias com base na vedação ao enriquecimento sem causa (886, CC); ▪ Venosa e MH Diniz: admitem a posse em relação a bens dominicais (desafetados); ▪ Tepedino: cabe posse em relação a qualquer bem público pois a CRFB veda a USUCAPIÃO, não a posse. Conclui-se, portanto, que a vedação se limita à posse ad usucapionem e não alcança a posse ad interdicta – ex. MP 2220/01; ▪ Proteção possessória x Bens Públicos: • 1ª corrente – incabível pois é mera detenção; • 2ª corrente – cabível em face de outro particular, mas não em face do Estado (Precedentes do STF anteriores à súmula 619/STJ, não tem nada posterior que confirme ou retifique); Aspecto Funcional ● Posse como meio de concretização de direitos fundamentais; ● A teoria a respeito da posse é conformada pela função social da posse – Função social como CONDIÇÃO DE LEGITIMIDADE; ● Atualmente, tendo em vista a funcionalização da posse, nenhuma das teorias é capaz de explicar o fenômeno possessório; ● Abuso do direito de propriedade (1.228, §2º): precisa demonstrar a intenção de prejudicar? ○ Literalidade da lei: sim – teoria dos atos emulativos; ○ Doutrina: NÃO, interpretação conforme, compatibilização com o art. 187, do CC – abuso do direito não exige intenção, sob pena de esvaziar a função social + enunciado 49, CJF; ● Relativização da teoria objetiva - adotam-se os elementos (corpus e animus), mas a necessidade de funcionalização da posse demanda o reconhecimento da autonomia entre posse e propriedade (Savigny); ○ Possibilidade de defesa da posse inclusive contra o proprietário - pressupõe autonomia; ○ Redução dos prazos para usucapião (em razão da função social) - autonomia da posse e valorização da posse funcionalizada em detrimento da propriedade antifuncional; ○ Desapropriação judicial - autonomia da posse e valorização da posse funcionalizada em detrimento da propriedade antifuncional; ○ Acessão invertida - autonomia da posse e valorização da posse funcionalizada em detrimento da propriedade antifuncional; ○ Proibição da exceção de domínio - autonomia entre os institutos; Desdobramento da Posse ou Posses Paralelas • Art. 1.197, CC; • Decorre da transferência temporária do poder de fato por força de vínculo jurídico4 - que pode ser de direito pessoal (contrato de locação, comodato) ou real (usufruto, propriedade superficiária); o TEMPORÁRIA porque há dever de restituir5; o É uma posse DERIVADA: o conteúdo da posse está delimitado pela relação jurídica; o A relação jurídica concede direito à posse, mas não confere a posse propriamente dita (pois posse é FÁTICA, depende da exteriorização de poderes). Só quem pode transferir posse é quem a tem de fato; o Teoria do fato jurídico = o desdobramento decorre de relação jurídica (diferente da posse natural, que é um ato-fato); • Quem é possuidor e proprietário é possuidor direto? NÃO, quem é proprietário&possuidor tem posse PLENA – só de fala em possuidor direto e indireto se houver desdobramento. • Posse direta ≠ Poder de fato: a posse direta é exercício do poder de fato, realmente, mas é um exercício temporário e decorrente de uma relação jurídica prévia. Contudo, pode ser que quem exerça o poder de fato não tenha posse direta (ex.: quem tem a posse plena, quem invade); • Em regra, o possuidor indireto é o proprietário (salvo nos casos de verticalização em graus da posse – ex.: sublocação – só o sublocatário será possuidor direto; o locatário e o locador serão indiretos); • O possuidor direto tem ação contra o indireto e vice versa (ausência de hierarquia entre posse e propriedade e impossibilidade de arguir exceção de domínio); • Desdobramento de posse e quitaçãode promessa de compra e venda: em não havendo cláusula de arrependimento, com a quitação cessa o desdobramento; • POSSE DIRETA NÃO TEM, prima facie, ANIMUS DOMNI – Savigny, inclusive, não reconhece a posse indireta como posse; • Rompimento com o pensamento de Ihering – posse, na teoria objetiva original, é visibilidade de domínio. Contudo, a posse indireta existe apenas no plano jurídico; Composse • Exercício de poderes de fato simultaneamente por diversas pessoas sobre um mesmo bem em estado de indivisão6 (art. 1.199, CC); • Não se confunde com a coisa indivisível nem com o fenômeno de posses paralelas (desdobramento da posse); Aquisição e Perda AQUISIÇÃO PERDA Momento em que se torna possível o exercício, em nome próprio, de poderes inerentes à propriedade (1.204, CC) A aquisição pode ser feita por terceiro, com ou sem autorização (necessária a ratificação - gestão de negócio, art. 873, CC) Quando cessa (contra a vontade ou voluntariamente) o exercício Soma de posses (acessio possessionis): 4 Excepcionalmente pode decorrer de relação jurídica putativa, quando houver boa-fé (Bezerra de Melo): Ex. locação de imóvel decorrente de venda a non domino. 5 Exceção: se houver aquisição do bem durante enquanto o possuidor direto estiver na posse = tradição FICTA, encerra o desdobramento; 6 impossibilidade de determinar a fração material de cada compossuidor ● Posse decorrente da sucessão causa mortis ou de atos inter vivos; ● Requisito - Homogeneidade das posses: posses com as mesmas características; ● Soma de posses = gênero, sendo duas as espécies (arts. 1.206 e 1.207, CC): ○ Sucessio Possessionis: sucessão a título universal (HERDEIRO): A soma de posse é efeito automático da saisine (1.784, CC) - se torna possuidor e proprietário com a abertura da sucessão; ■ Estatuto da Cidade, art. 9º, §3º - Para os efeitos deste artigo, o herdeiro legítimo continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, desde que já resida no imóvel por ocasião da abertura da sucessão. ○ Acessio Possessionis: ■ Sucessão a título singular (LEGATÁRIO): aquisição da propriedade com a abertura da sucessão, mas não da posse: a soma com a posse do antecessor é facultativa. ■ Atos inter vivos: cessão de posse, por exemplo. ● Manutenção das características anteriores: 1.203 c/c 1.206, CC - Cuidam do caráter da posse segundo a presença ou não dos vícios objetivos da violência, clandestinidade ou precariedade. ○ JDC, Enunciado 494:A faculdade conferida ao sucessor singular de somar ou não o tempo da posse de seu antecessor não significa que, ao optar por nova contagem, estará livre do vício objetivo que maculava a posse anterior - A soma da posse (ou a opção por não somar) não altera sua natureza; ● Impossibilidade de soma de posses em usucapião ESPECIAL (em razão do requisito da pessoalidade); Exceção de Domínio ● Art. 1.210, §2º, CC; ● Decorre da autonomia da posse em relação à propriedade - não se discute propriedade em ações possessórias; ● IMPORTANTE (súmula “recente”): Súmula 637-STJ: O ente público detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na ação possessória entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for o caso, o domínio. Qualificação da posse • Para que seja possível qualificar uma posse, é condição essencial que se trate de posse; • A qualificação influencia apenas nos efeitos da posse; De acordo com os vícios objetivos • Exame de conduta – o exercício do poder de fato lesa o direito de alguém? Posse justa (NÃO) ou injusta (SIM); • Influencia apenas no aspecto do exercício da tutela possessória em face de outrem; • O que torna a posse justa ou injusta é a forma de aquisição material da posse - art. 1.200, CC: o A) VIOLÊNCIA ( contra pessoa – violência contra a coisa é diferente); ▪ Violência contra a coisa não configura posse injusta; ▪ Vício objetivo originário (presente desde o início); ▪ Não há que se falar em posse violenta (pois durante a violência, trata-se de detenção), mas apenas em posse injusta → Violenta é a maneira de aquisição; o B) CLANDESTINIDADE - atos ardilosos, sorrateiros, sem que o possuidor tenha conhecimento; ▪ Vício objetivo originário (presente desde o início); ▪ Não há que se falar em posse clandestina (pois durante a clandestinidade, trata-se de detenção), mas apenas em posse injusta → Clandestina é a maneira de aquisição; ▪ Cessa quando a ocupação se torna pública e ostensiva ( mas há quem defenda que a clandestinidade só cessa quando o proprietário toma conhecimento); o C) PRECARIEDADE - pressupõe relação jurídica prévia (desdobramento da posse); ▪ Exercício temporário de poder de fato (posse direta) → justa expectativa de restituição do poder de fato (posse indireta); ▪ A precariedade corre quando não há restituição do bem após o término da relação jurídica → Vício superveniente, nascimento da lesão, inversão do caráter da posse; ▪ Antes da clandestinidade, havia posse justa, fundada em relação jurídica; ▪ NÃO é cabível a autodefesa da posse quando o vício for de precariedade (1210, §2º); • O Rol do 1.200 é taxativo? o 1ª Corrente: Não. Rol do art. 1.200 é exemplificativo. Posse injusta é a que resulta da violação ao direito de propriedade ou a outros direitos menores (ex.: quebrar janelas, arrombar porta). Ao dizer que “é justa a posse...” não limita a amplitude da interpretação: as situações de violência, precariedade e clandestinidade são exemplos (incontestáveis) de situações injustas; o 2ª Corrente (CHAVES, ROSENVALD – minoritária): Sim. Rol é taxativo. Justa é a posse que obedece à função social da propriedade (art. 5.º, XXIII, CRFB), com base na teoria sociológica da posse; • Características dos vícios: o A) São RELATIVOS - o possuidor só é considerado injusto em relação ao ex-possuidor de quem se adquiriu a posse; ▪ A posse é injusta em relação à vítima e justa em relação a qualquer outra pessoa: Não há posse injusta com caráter erga omnes ▪ Por essa razão, o possuidor injusto não pode se defender por meio dos interditos em relação ao ex-possuidor. Contudo em relação a qualquer outra pessoa, é possível o manejo da tutela possessória; ▪ Transmissão da posse injusta a terceiro permite manejo de interditos pelo possuidor esbulhado? – se o terceiro recebeu de má-fé, SIM. Se o terceiro recebeu de BOA-FÉ, não, restando apenas a tutela no âmbito petitório (se houver título - reivindicatória) ou ação indenizatória em relação ao esbulhador; • I JDC - Enunciado 80: É inadmissível o direcionamento de demanda possessória ou ressarcitória contra terceiro possuidor de boa-fé, por ser parte passiva ilegítima diante do disposto no art. 1.212 do novo Código Civil. Contra o terceiro de boa-fé, cabe tão-somente a propositura de demanda de natureza real. • Se a transmissão for feita após a citação - coisa litigiosa, a boa-fé do terceiro não impede a evicção; o B) TEMPORARIEDADE - os vícios são temporários, em algum momento a posse deixa de ser injusta; ▪ O caráter da posse não é alterado de maneira unilateral (1.203, CC). ▪ SUPRESSIO e SURRECTIO; ▪ JDC, Enunciado 237: É cabível a modificação do título da posse - interversio possessionis - na hipótese em que o até então possuidor direto (quem esbulhou e está na posse) demonstrar ato exterior e inequívoco de oposição ao antigo possuidor indireto, tendo por efeito a caracterização do animus domini. Interversão da posse • Alteração do caráter da posse (boa-fé ↔ má-fé; justa ↔ injusta); o Interversão/inversão não se confunde com a transmudação: Transmudação é a situação de não ser possuidor (detentor, por exemplo) e depois se tornar. o Conversão da posse justa em injusta deve ser analisada sob o viés objetivo: não restituição ao término do vínculo – a lesão nasce do comportamento;• Pode se dar por: o Relação jurídica entre o ex-possuidor e o esbulhador (compra do imóvel esbulhado); o Função social + omissão da vítima (abuso de direito por não exercer o direito de reaver a posse); • INTERVERSÃO DA POSSE PRECÁRIA (divergência doutrinária): o 1ª Corrente (RIZARDO, VENOSA, RODRIGUES): Não. 1) Posse precária é desprovida de animus domini e não convalesce. 2) Art. 1.208 do CC só previu em caso de violência e clandestinidade. o 2ª Corrente (ROSENVALD, MARCO AURÉLIO BEZERRA DE MELO, CJF - majoritária): Sim, quando houver interversão da posse. ▪ Art. 1203 fala em “salvo prova em contrário” c/c Enunciado 237, JDC – ou seja, se houver prova de mudança do caráter da posse, é possível; • O ônus da prova da inversão (em injusta) é de quem alega (Princípio da manutenção do caráter da posse); ▪ Interpretação sistemática do 1198, § único.: se admite-se a alteração da situação de detentor para possuidor – e a detenção é uma situação de posse degradada -, não há lógica em inadmitir a interversão em posse precária; ▪ Interpretação do 1244 c/c 202, VI: o proprietário teve ciência e nada fez; ▪ Teoria sociológica – inexistência de hierarquia entre posse e propriedade; ▪ Requisitos: • Oposição clara e inequívoca do possuidor direto + Inércia do possuidor indireto; ou • Transcurso do tempo prolongado (REsp 154733); Tutela da Posse • Ações possessórias (1.210): medidas típicas; o Reintegração de posse: ▪ Reintegração da posse = PEDIDO; Esbulho = CAUSA DE PEDIR (é o que deve ser provado); ▪ Esbulho total ou parcial; ▪ Esbulho de bem abandonado? Não há que se falar em esbulho quando o bem for abandonado; necessária a comprovação da atualidade da posse ao tempo do esbulho; ▪ É possível o manejo de ação possessória sem prévio exercício da posse? SIM, nos casos de tradição ficta, com a inserção de cláusula de constituto possessório; ▪ Ameaça de esbulho permite a autotutela da posse? não, a defesa deve ser judicial (manejo de interdito proibitório); o Manutenção de posse: ▪ Turbação (incômodo e dificuldade no exercício da posse); ▪ Manutenção = PEDIDO; Turbação = CAUSA DE PEDIR; o Interdito proibitório - ameaça; • Natureza dúplice – dado que o objetivo é a proteção da melhor posse, o juiz poderá conceder a posse tanto em favor do autor quanto do réu. o O problema é que o CC/02 não estabelece critérios para identificar a melhor posse, ao contrário do anterior – 507, p.u., CC/16 (posse documental ou, caso ninguém tivesse título, ficaria com o mais antigo); o Pela ótica da CF e pela lacuna do CC/02: Enunciado 239, CJF: Função social, sendo os critérios do CC/16 aplicáveis subsidiariamente no caso de “empate”; ▪ Função social (Dignidade, direito fundamental de moradia, exercício da cidadania) + consolidação do direito em razão do tempo (surrectio) = posse JUSTA ▪ “Interversão inversa” em decorrência da função social7: surgimento do vínculo em razão da sentença. • O procedimento da ação possessória: o Posse NOVA = rito especial: ajuizamento da ação em até um ano e dia após o esbulho/a turbação; o Posse VELHA = rito comum: ajuizamento da ação após um ano e dia após o esbulho/a turbação; • Instrução da PI: prova da posse do autor; prova de esbulho/turbação e da data da ocorrência; prova da manutenção ou da perda (561, CPC); o (Posse Nova) A ordem liminar de reintegração/manutenção pode ser determinada de ofício e deve ser concedida inaudita altera parte. Insuficiência de prova = Audiência de justificação; o (Posse velha) Ordem de reintegração/manutenção demanda prova dos requisitos de praxe da antecipação de tutela (probabilidade do direito e perigo da demora) – Enunciado 238, CJF; • Autotutela da posse: (1.210, §1º) exige imediatismo e moderação (proporcionalidade); o “Contanto que o faça logo” = conceito jurídico indeterminado; ▪ 1ª corrente: Imediata no plano JURÍDICO – assim que o esbulhado tiver notícia. Tem base no 1.224; ▪ 2ª Corrente: Imediata no plano FÁTICO – assim que o esbulho foi PRATICADO; • Enunciado 495 - entendida restritivamente, apenas como a reação imediata (após isso, só pela via judiciária) + Bezerra de Melo. o Cabível ainda que a posse seja injusta (em face de terceiro) e nos casos de detenção dependente – permissão/tolerância e fâmulo da posse (Enunciado 493) o Fundamentos: art. 1.208, 1.210 §1º e Enunciado 495, CJF; o Desforço necessário = retomada da posse esbulhada; o Legítima defesa = manutenção na posse turbada; • Juízo petitório (jus possidendi): o O juízo é petitório ou possessório em razão da natureza da demanda, não por opção do autor; o A posse é entregue a quem prova domínio – gira em torno da discussão e prova do direito real DO AUTOR x Caráter injusto do poder DO RÉU sobre o objeto; o Enunciado 79, JDC e art. 557, CPC – fim da exceção de domínio em juízo possessório; o Reivindicação de posse e imissão na posse – na primeira, o autor pretende ver reconhecida a propriedade. Na segunda, o objetivo é o reconhecimento do direito de posse; o Por ser uma decorrência do direito real (reivindicar), a legitimidade ad causam é AMPLA (Enunciado 80, JDC); ▪ A possessória, por outro lado, não pode ser ajuizada em face do terceiro de boa-fé, por ex.; ▪ A análise probatória do juízo petitório é mais simples: prova de propriedade e injustiça da posse. De acordo com os vícios subjetivos • Posse de BOA ou MÁ-FÉ; • Reflete nos demais efeitos; 7 Interversão é quem tinha a posse direta e passa a ter animus domni: a inversa é a pessoa que tinha animus domni passar a ter posse direta; • Critério subjetivo (Concepção PSICOLÓGICA): é de boa-fé o possuidor que ignora o vício objetivo; o Concepção moderna (Concepção ética): ignorar o vício + boa-fé objetiva; • Erro de direito justifica a posse de boa-fé? (Ex.: não saber que invadir é proibido) o SIM – aplicação analógica do inciso III do art. 139, CC; o NÃO – art. 3º da LINDB; • Interversão: o É possível que um possuidor de boa-fé se torne de má-fé: geralmente, por meio da citação válida ou interpelação judicial; o Os desdobramentos da boa-fé (direito à indenização por benfeitorias, frutos etc) permanecem até o momento que a posse passa a ser de má-fé8; o Com o trânsito em julgado, se a sentença for: ▪ Desfavorável ao possuidor – todo aquele tempo de trâmite judicial (a partir da DISTRIBUIÇÃO) não será contado para fins de usucapião; ▪ Favorável ao possuidor – todo aquele tempo de trâmite judicial será contado para fins de usucapião; • Justo título - acarreta a presunção relativa de boa-fé; o Título justo (o que realmente tem aptidão de transmitir domínio) x Justo título (documento que é apto a induzir a crença9 de que a aquisição foi justa – Enunciado 303, CJF): • Efeitos da posse: BOA-FÉ MÁ-FÉ Percepção de Frutos Tem direito aos percebidos e às despesas de produção e custeio em relação aos pendentes e aos percebidos por antecipação10 Tem direito às despesas de produção e custeio Deve devolver os pendentes e antecipadamente colhidos, abatido o custo de despesas Responde pelos colhidos, percebidos e pelos que deixou de perceber (percipiendos) por culpa Responsabilizaçã o por danos Só responde por aquilo que deu causa (subjetiva - dolo ou culpa) Responde de forma objetiva; A única defesa é provar que o dano teria acontecido ainda se o bem estivesse com o reivindicante Direito à indenização por benfeitorias Úteis e necessárias; Tem direito de levantar as voluptuárias (se não causar prejuízo à coisa) ou ser indenizado – mas não permitem a retenção Enunciado 81 (CJF): O direito de retenção previsto no art. 1.219 do CC, decorrente da realização de benfeitorias necessárias e úteis, também se aplica às acessões (construções e plantações) nas mesmas circunstâncias. A indenização depende de PEDIDO EXPRESSO (Info680/STJ, 2020) Valor ATUAL da benfeitoria Necessárias SOMENTE O reivindicante pode optar: valor atual ou valor de custo (obrigação alternativa) Direito de Retenção SIM NÃO 8 Ex.: Todas as benfeitorias úteis realizadas durante a posse de boa-fé seguem o regime da boa-fé, ou seja, permitem o direito de retenção e devem ser indenizadas; 9 Crença observada na perspectiva da pessoa que recebeu o título (análise subjetiva) 10 Ex.: Um possuidor injusto de boa-fé recebe um ano de aluguel adiantado, mas é citado em junho – do dia da citação em diante, o valor dado a título de adiantamento pertence ao reivindicante. • Compensação de Benfeitorias x Danos: ( caso raro de compensação legal) art. 1.221, CC - As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem. Outras qualificações • Ad interdicta e ad usucapionem: o Ad interdicta - pode ser protegida por interditos possessórios, mas não permite a aquisição por usucapião; posse decorrente de relação jurídica prévia; o Ad usucapionem - além de permitir a tutela pela via possessória, é passível de ser usucapida; • Posse civil x natural: o Civil - decorre de relação jurídica (obrigacional ou real); implica desdobramento ou transmissão de posse; ▪ O que eventualmente se discute não é a posse, mas a relação jurídica da qual a posse é derivada; ▪ A posse sempre será acompanhada de uma questão prejudicial; ▪ O título que fundamenta a posse apenas transmite o direito à posse, não a posse propriamente dita: é necessário o exercício de poderes no mundo dos fatos - o título apenas legitima o início dos atos possessórios; o Natural ou Autônoma - aquisição originária, nenhuma relação entre o possuidor anterior e atual; • Constituto possessório: mudança do título que fundamenta a situação fática, mas esta permanece inalterada; o Transferência da posse no mundo jurídico e manutenção da situação fática (que pode ser por meio de detenção ou desdobramento posse);
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