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Universidade Paulista Estudos Disciplinares XII Desigualdades Social e Estratificação e a mobilidade Social Jose Mauricio de Lima RA 1546827 Polo Várzea Paulista-São Paulo 2017 A desigualdade social é um tema muito presente nos estudos das Ciências Sociais. As Ciências Sociais mostram haver diferenças sociais que variam conforme características que o senso comum considera apenas biológicas, como a idade, o sexo, a conformação física e a origem étnica das populações e dos indivíduos. Porém, também a religião, a cultura e a profissão estabelecem distinções entre indivíduos e grupos sociais e interferem em suas relações, como aponta Georg Simmel. Todas elas são, porém, diferenças sociais, originadas das relações entre indivíduos e grupos, e podem despertar o sentimento de pertencer a um grupo, a uma sociedade ou a uma cultura, originando a construção da identidade. A sociologia contemporânea, ou seja, produzida a partir da segunda metade do século XX, tem pesquisado as origens e as manifestações das desigualdades sociais. Por que esse assunto continua sendo estudado? A resposta está em nosso cotidiano. Basta dirigirmos um olhar mais atento às pessoas que nos cercam, observando como elas vivem e como se comportam socialmente. Como são diferentes os indivíduos e grupos sociais em seus hábitos, interesses, costumes, gostos, manifestações culturais! Há diversidade e desigualdade nos grandes centros urbanos e nas pequenas cidades-litorâneas ou rurais-, seja nos tipos de moradia em diferentes bairros, seja nos meios de transporte que a população utiliza rotineiramente. Também as instalações físicas das escolas e as condições de ensino são desiguais, tanto nas grandes cidades como no meio rural. Da mesma forma, os trabalhos realizados, sua remuneração e o acesso ao consumo são diferentes e produzem ou reforçam a desigualdade. Em todas as instâncias estão presentes gradações e contrastes. As desigualdades sociais, por sua vez, consistem em diferenças de acesso de indivíduos e grupos sociais aos bens materiais, a direitos e compensações que a vida em sociedade propícia, como o direito a serviços de saúde e a ganhos salariais por trabalho executado. Ou seja, as desigualdades sociais estabelecem uma hierarquia, determinam quem tem maior ou menor acesso a bens, serviços, direitos. Muitas vezes, as desigualdades se valem das características físicas e étnicas, justificando-as pela Biologia e omitindo seu caráter social, para reafirmar diferenças, como quando provocam discriminação social e preconceitos contra mulheres ou afrodescendentes, por exemplo. As desigualdades, portanto, estão além da questão da posse de bens e da dimensão meramente econômica e jurídica, uma vez que envolvem outras esferas da vida social. A pobreza é um dos problemas relacionados à desigualdade. O conceito de pobreza não é universal, ou seja, não é o mesmo em todas as partes do mundo. Trata-se de uma condição histórica pela qual segmentos da população mundial sofrem com a escassez de recursos materiais ou má distribuição. A noção de pobreza é, portanto, relativa ao grau de desigualdade socioeconômica em uma região ou em um país. Podemos dizer que a pobreza é característica da estrutura social e tem relação com o modo como cada grupo se organiza para produzir, distribuir e garantir o sustento de seus membros. A estrutura social também é objeto de estudo da Sociologia. Afirmar que a desigualdade faz parte da estrutura das sociedades não significa afirmar que ela é natural. Pelo contrário, a desigualdade é ´produzida e reproduzida pelos seres humanos em suas ações e na forma como criam historicamente diferentes valores e níveis de acesso a modo de vida, serviços sociais, recursos para lazer, etc. Um exemplo é a sociedade contemporânea em que vivemos, cuja estrutura é predominantemente capitalista. Nela, o que é produzido pelos que se organizam para obter a sobrevivência acaba sendo apropriado de forma desigual entre os que decidem e organizam a produção e aqueles que trabalham. Muitas desigualdades sociais nascem dessa divisão entre o trabalho executado e a riqueza produzida e distribuída. Conforme a humanidade desenvolve suas tecnologias e formas de organização, emergem novas dimensões da desigualdade. Entre elas, podemos citar aquela que passa pelo conhecimento e pelo acesso à informação- desde a capacidade de ler e escrever até o domínio das leis e dos meios tecnológicos propiciados pela informática. Talvez você já tenha ouvido falar em mobilidade social, que é a possibilidade de indivíduos e grupos mudarem de posição na sociedade. De modo geral, quando alguém ascende socialmente, passa a dispor de melhores condições de vida. Mas quais condições favorecem a ascensão social ou, ao contrário, levam alguém ou um grupo a ter uma posição menos privilegiada na sociedade? Sociedades capitalistas, como a brasileira, fundamentam-se nas diferenças entre as classes sociais. Em linhas gerais, as classes sociais são grandes grupos que se diferenciam pelo poder econômico e político que possuem e pelo lugar que ocupam na produção e no consumo. A mobilidade de indivíduos, grupos e classes sociais pode se dar, por exemplo, em razão da sua escolarização, participação política ou profissão. Porém, há outros fatores determinantes das desigualdades sociais, como as relações étnico-raciais e as de gênero. Quando essas condições se somam no dia a dia, podem potencializar a desigualdade, criando e recriando formas de exclusão social. Assim, na sociedade brasileira, uma mulher negra e pobre está muito mais sujeita à exclusão social do que um homem branco e rico, devido às relações étnico-raciais e de gênero historicamente desiguais no país. O estudo da História nos mostra que as relações desiguais vêm de longa data nas civilizações ocidentais. As sociedades grega e romana eram marcadas pelas desigualdades entre cidadãos e escravos, por exemplo. Na idade média, em que boa parte da população europeia vivia em sociedade de organização estamental, prevalecia a distinção entre senhores e servos. Os estamentos eram segmentos da estrutura social que se baseavam no ordenamento dos poderes senhoriais dos reis e da nobreza; ou seja, quem ordena (manda) é o “senhor” das terras, e os que obedecem são seus “súditos”, seus dependentes pessoais (os parentes e favoritos, os funcionários domésticos e aqueles ligados ao senhor por vínculos de fidelidade, os servos e vassalos). Na sociedade capitalista, por sua vez, o principal definidor da posição do indivíduo na estrutura social é a propriedade dos meios de produção- ou seja, se ele possui ou não terra, a fábrica, o banco, os equipamentos, os instrumentos de trabalho, etc. Essa é a interpretação do filósofo alemão Karl Marx assentada na noção de classes sociais como grandes agrupamentos de interesses sociais contrários um ao outro. Assim, a sociedade capitalista estaria dividida em duas classes sociais fundamentais: a daqueles que são os proprietários dos meios materiais (os burgueses, donos do capital ) e a dos que possuem apenas sua força de trabalho ( os trabalhadores ). Na sociedade capitalista, a maioria dos indivíduos vende sua força de trabalho, sujeitando-se ao capital- este pode ser produtivo (ligado às indústrias de transformação e extração, à agricultura ou à pecuária),financeiro (bancos, seguradoras, etc.) ou em serviços (comunicação, comércio, transporte, entre outros). Para Weber, as classes são posições no mercado, pois, segundo o autor “o fator que cria ‘classe’ é um interesse econômico claro “- por exemplo, comercializar algo para auferir renda ou exercer uma função burocrática na estrutura do Estado. Uma “situação de classe “é gerada quando um grupo de pessoas possui condições comuns com relação à possibilidade (ou não) de dispor de bens materiais (comprar, vender, doar, perder bens móveis, como aparelhos eletrônicos, e bens imóveis, como uma casa). Weber percebeu que as divisões de interesse econômico que criam classes nem sempre correspondem a sentimentos de identidade e posições compartilhadas ou prestígio equivalente na estrutura social. Assim, a diferenciação pelo status ocorre em uma dimensão subjetiva, separada da classe, e varia de forma independente. É um fenômeno da estratificação social. Tanto o tema das classes sociais quanto o da estratificação social são muito discutidos na literatura sociológica, por comportarem diferentes concepções de divisão da sociedade. As sociedades ocidentais e algumas não ocidentais são apresentadas divididas em estratos e/ou camadas, ou seja, indivíduos e grupos estão dispostos de modo hierárquico na estrutura social. A posição de um indivíduo num sistema de estratificação é uma questão controversa. Inúmeras classificações da realidade social, geralmente utilizadas na mídia, como as que separam as “classes sociais” A, B, C, D e E, usam critérios simplificados para categorizar populações em grupos, os quais nem sempre dizem respeito à experiência real que cada um tem na sociedade nem à sensação de identidade e pertencimento de classe. Os critérios mais complexos mesclam informações como rendimento, ocupação, escolaridade, moradia, hábitos de consumo, entre outros, para aproximar-se da realidade empírica. Uma das diferenças notáveis na concepção de classe social entre autores clássicos é que, para Weber, de algum modo, o fenômeno de estratificação social traduz, de modo simplificado, a presença de classes sociais na sociedade ocidental em diferentes tempos históricos: na sociedade antiga (escravos e senhores), na medieval (servos e senhores) e na moderna (trabalhadores e capitalistas). Marx, por sua vez, via o surgimento das classes sociais como um fenômeno histórico próprio da sociedade capitalista moderna, que comporta uma estrutura de classes: as relações fundamentais entre os burgueses (capitalistas) e o proletariado (trabalhadores). Assim, a estratificação social seria um artifício para explicar a sociedade dividida, e não se confunde com o fenômeno das classes sociais. No Brasil, neste início do século XXI, tem gerado debate entre os cientistas sociais se estaria havendo a emergência de uma “nova classe social”. Na época, um expressivo segmento da população obteve uma mobilidade social ascendente pela facilidade de acesso a bens de consumo e a novos hábitos sociais, marcando posição por seu poder aquisitivo. A indagação que se coloca é: será essa realmente uma “nova” classe social ou apenas um estrato social que se destaca no consumo de bens e serviços, sem que tenha havido alteração na estrutura de classes e nas desigualdades da sociedade Brasileira? Por ser considerada injusta e desumanizadora, a desigualdade tem sido criticada e combatida em diversas instâncias da sociedade. Ela se apresenta nas situações do cotidiano, como nas relações de classe, em que os trabalhadores estão subordinados ao capital; ou nas relações de gênero, como a histórica opressão sofrida pelas mulheres, em tempos e sociedades diversas. Há desigualdade também nas relações entre as diferentes etnias, como na exploração dos europeus do século XIX sobre os latinos-americanos, asiáticos e africanos; ou ainda, na dominação dos Estados Unidos sobre os países da América Latina no século XX. As múltiplas expressões das desigualdades sociais revelam o fenômeno da dominação social. Em sua origem sociológica, esse fenômeno foi tratado por Max Weber como a probabilidade de encontrar submissão a uma determinada ordem por diversos motivos: conveniência, mera inclinação pessoal ou costume. Mas, nas relações sociais, em geral, a dominação apoia-se em bases jurídicas que lhe dão “legitimidade”. Nesse aspecto, o fato de o Estado organizar o poder político institucionalizado contribui para um complexo ordenamento de deveres e direitos na sociedade. Em sua teoria da dominação, Weber reconhece três tipos puros de dominação social: a legal (presente na obediência às leis e às ações da burocracia, ou seja, da administração pública), a tradicional (presente na relação entre senhor e súditos) e a carismática (proveniente da devoção afetiva a um líder/herói, em razão de virtudes pessoais). A dominação é fenômeno de comando de um grupo sobre outro e supõe que os dois lados estejam condicionados a essa situação, pondera o sociólogo brasileiro Demo (1941). Nessa lógica, há os dominantes e os dominados, o que não significa que estes não se rebelem. No dia a dia podemos perceber quanto a sociedade brasileira ainda reproduz formas de discriminação a indivíduos de grupos sociais distintos. Assim como as mulheres, os afrodescendentes são historicamente discriminados no mercado de trabalho e em outras instituições. Os meios de comunicação e o sistema educacional muitas vezes reforçam essas formas de discriminação social, reproduzindo a desigualdade. Nos anúncios publicitários, por exemplo, pardos e negros, geralmente, aparecem em pequeno número, embora constituam a maioria da população brasileira. O acesso ao ensino, por sua vez, garante participação diferenciada para os grupos sociais, reproduzindo tendências elitistas. As classes dominantes, intelectual, política e economicamente, procuram garantir aos membros de suas famílias ocupações de posições privilegiadas. É comum investirem para que seus filhos estudem em instituições em que convivem apenas outros jovens da mesma classe, o que contribui para a perpetuação da riqueza e dos privilégios sociais. Segundo o pensamento sociológico tradicional, elite refere-se a uma fração da classe dominante que detém o poder, impõe seus padrões culturais, econômicos e/ou políticos à população e dela se mantém distante. Ao empregar o termo pela vez, em 1902, no livro Os sistemas socialistas, o sociólogo italiano Vilfredo Pareto instituiu a conhecida teoria das elites. Ele distinguiu a elite ampla- o conjunto de indivíduos que chegou a um escalão elevado da hierarquia profissional- de uma elite governante- um grupo mais restrito de indivíduos da elite ampla que exerce funções de direção política. Permanece em parte da cultura brasileira e na de outros países a ideia de que a busca e a obtenção de oportunidades dependem exclusivamente do querer e da vontade de cada um. Assim, a responsabilidade de conseguir instrução, formação profissional e emprego é atribuída unicamente aos indivíduos. Mas será que boa formação profissional e alto grau de instrução garantem empregos e salários condizentes? A resposta nem sempre tem sido positiva. Hoje, mais do que em outros períodos, a ênfase dada à educação como meio de ascensão na sociedade para insuficiente para garantir oportunidades para todos, embora ainda se apresente como caminho mais indicado para isso. “Será que nunca faremos senão confirmar A incompetência da América católica Que sempre precisará de ridículos tiranos? “ REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS MARX, Karl. Manuscritos econômicos- filosóficos. São Paulo: Bomtempo, 2014. Os desafios da globalização e da crise ecológicapara o discurso da democracia e dos direitos humanos. In: HELLER, Agnes et al. A crise dos paradigmas em Ciências Sociais e os desafios para o século XXI. Rio de Janeiro: Contraponto,1999. BECK, Ulrich. A reinvenção da política: rumo a uma teoria da modernização reflexiva. In: GIDDENS, A; LASH, S. Modernização reflexiva: política, tradição e estética na ordem social moderna. São Paulo: Ed. Da Unesp, 1997. REFERÊNCIAS DA Internet www.biblioteca.fespsp.org.br www.cafecomsociologia.com/2013/03/analise-da-musica-podres-poderes.html
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