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MARCELO JOSÉ GARCIA LÍQUIDOS ISOLANTES ELÉTRICOS Estudo comparativo das características físico-químicas, elétricas e aplicativas dos líquidos isolantes elétricos, minerais e sintéticos para uso em transformadores de potência Monografia apresentada ao Curso de Pós- Graduação em Transformadores de Potência, convênio FURB/WEG, Departamento de Engenharia Elétrica, Centro de Ciências Tecnológicas, Universidade Regional de Blumenau, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Transformadores de Potência. Orientador: Prof. Dr Eng. Eduardo Deschamps BLUMENAU 2001 ii TERMO DE APROVAÇÃO LÍQUIDOS ISOLANTES ELÉTRICOS Estudo comparativo das características físico-químicas, elétricas e aplicativas dos líquidos isolantes elétricos, minerais e sintéticos para uso em transformadores de potência Monografia aprovada com conceito A como requisito parcial para a obtenção do título de Especialista em Transformadores de Potência, Centro de Ciências Tecnológicas, Universidade Regional de Blumenau – FURB, pela Banca Examinadora formada pelos professores: Orientador: Prof. Eng. Dr. Eduardo Deschamps Centro de Ciências Tecnológicas Ms. Elisabeth Okada Laboratório Químico WEG Ms. Kátia Elisa de Castro Laboratório Químico WEG Blumenau, 25 de julho de 2001. iii DEDICATÓRIA “Dedico este trabalho, a minha mãe Adelina, meu pai José, e principalmente, minha esposa Rosana, pelo apoio e incentivo dados, e por serem as razões do meu viver, e minhas maiores alegrias”. iv AGRADECIMENTOS Agradeço a todos que direta ou indiretamente, me ajudaram na elaboração deste trabalho, fornecendo informações sobre o presente conteúdo, em especial ao pessoal do LACTEC-Instituto de Tecnologia para o Desenvolvimento, na pessoa do Sr. Romeu Granato. Agradeço à FURB, especialmente, ao Prof. Dr. Eng. Eduardo Deschamps, orientador deste trabalho, o qual contribuiu consideravelemente para este trabalho. Agradeço ainda, à WEG pelo oportunidade disponibilizada para promover o crescimento profissional e de conhecimento. Agradeço também a Deus, pela força de vontade de vencer que tem me dado, para que eu possa continuar, nesta dura jornada. v EPÍGRAFE “O tempo se perde, em grande parte, quando não se faz nada; quando a mente divaga ou não pensa. Tempo que se perde é vida estéril, que não merece sequer a honra de ser recordada.” “Como as montanhas, o homem guarda dentro de si riquezas ignoradas, que haverá de descobrir e utilizar se quiser alcançar os elevados fins destinados à sua existência.” “O esforço é vida: é um constante provar a capacidade de produzir, de fazer, de realizar.” González Pecotche vi SUMÁRIO TERMO DE APROVAÇÃO ........................................................................................................ ii DEDICATÓRIA ........................................................................................................................... iii AGRADECIMENTOS ................................................................................................................. iv EPÍGRAFE .................................................................................................................................... v SUMÁRIO ..................................................................................................................................... vi LISTA DE FIGURAS .................................................................................................................... x LISTA DE TABELAS .................................................................................................................. xi RESUMO ...................................................................................................................................... xii INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 1 LÍQUIDOS ISOLANTES ELÉTRICOS PARA TRANSFORMADORES ............................. 3 1 ESTUDO DAS PROPRIEDADES DOS LÍQUIDOS ISOLANTES .................................. 3 1.1 PROPRIEDADES FÍSICAS................................................................................................ 4 1.1.1 Massa volúmica (densidade volumétrica) ................................................................... 4 1.1.2 Condutividade térmica ................................................................................................. 5 1.1.3 Viscosidade cinemática ............................................................................................... 6 1.1.4 Ponto de escoamento (ponto de fluidez)...................................................................... 9 1.1.5 Ponto de fulgor .......................................................................................................... 10 1.1.6 Ponto de inflamação .................................................................................................. 11 1.1.7 Ponto de auto-ignição ................................................................................................ 12 1.2 PROPRIEDADES QÚIMICAS ......................................................................................... 12 1.2.1 Índice de neutralização (índice de acidez) ................................................................. 12 1.2.2 Tensão interfacial ...................................................................................................... 14 1.2.3 Teor de água .............................................................................................................. 16 1.2.4 Estabilidade à oxidação ............................................................................................. 23 1.2.5 Tendência à absorção de gases .................................................................................. 29 1.2.6 Teste de cloretos e sulfatos inorgânicos .................................................................... 30 1.2.7 Teste de enxofre corrosivo ........................................................................................ 30 vii 1.2.8 Coloração ................................................................................................................... 31 1.2.9 Índice de refração ...................................................................................................... 32 1.3 PROPRIEDADES ELÉTRICAS........................................................................................ 32 1.3.1 Rigidez dielétrica ....................................................................................................... 32 1.3.2 Perdas dielétricas (fator de potência)......................................................................... 34 1.3.3 Resistividade volumétrica.......................................................................................... 38 1.4 INFLUÊNCIAS E VARIÁVEIS DAS CARACTERÍSTICAS .............................................. 39 1.4.1 Relação entre tg e a resistividade ........................................................................... 39 1.4.2 Influência da água na rigidez dielétrica ..................................................................... 40 1.4.3 Influência de partículas sólidas na rigidez dielétrica ................................................. 42 1.4.4 Influência da temperatura na viscosidade .................................................................. 43 1.4.5 Influência da temperatura naabsorção de água pelo dielétrico ................................. 44 1.4.6 Efeito da freqüência na tg ....................................................................................... 45 1.4.7 Influência da intensidade do campo elétrico na tg ................................................. 46 1.4.8 Interesse da medida da tg e fatores influentes ........................................................ 47 1.4.9 Reatividade do dielétrico líquido com os materiais internos do transformador ........ 49 2 CARACTERÍSTICAS E ESTRUTURA DE UM LÍQUIDO ISOLANTE IDEAL ........ 50 3 ESTRUTURA DOS LÍQUIDOS ISOLANTES DISPONÍVEIS NO MERCADO .......... 54 3.1 ÓLEO MINERAL ISOLANTE .......................................................................................... 54 3.1.1 Óleo isolante mineral de origem naftênica (tipo A) .................................................. 56 3.1.2 Óleo isolante mineral de origem parafínica (tipo B) ................................................. 58 3.2 ÓLEO MINERAL DE ALTO PESO MOLECULAR (R-TEMP) ....................................... 58 3.2.1 Substituição do óleo mineral comum pelo óleo de alto ponto de fulgor ................... 59 3.2.2 Ensaios elétricos realizados ....................................................................................... 60 3.3 SILICONE ........................................................................................................................ 60 3.4 ASCAREL ......................................................................................................................... 62 3.5 ÉSTERES ORGÂNICOS ................................................................................................... 64 3.6 FLÚOR-CARBONO (FREON) ......................................................................................... 66 3.7 NOVOS TIPOS DE LÍQUIDOS ISOLANTES .................................................................. 68 3.7.1 Tetraclorobenziltolueno (Ugilec) .............................................................................. 68 3.7.2 Tetracloroetileno ........................................................................................................ 68 3.8 COMPARATIVO GERAL DAS CARACTERÍSTICAS APRESENTADAS ........................ 68 4 USO DAS CARACTERÍSTICAS PARA AVALIAÇÃO DO ÓLEO .............................. 71 4.1 LÍQUIDOS ISOLANTES NOVOS .................................................................................... 71 4.1.1 Ensaios comuns no recebimento (óleo mineral) ........................................................ 71 4.1.2 Rejeição de líquidos isolantes.................................................................................... 72 viii 4.1.3 Ensaios especiais (fluídos de segurança) ................................................................... 72 4.2 LÍQUIDOS ISOLANTES EM OPERAÇÃO ...................................................................... 72 4.2.1 Condições imediatas de isolamento, presença de água e contaminantes .................. 73 4.2.2 Aquecimento e/ou curto-circuito interno ................................................................... 73 4.2.3 Envelhecimento precoce ............................................................................................ 73 4.2.4 Prevenção de envelhecimento ................................................................................... 73 5 CRITÉRIOS PARA ESCOLHA DO TIPO DE LÍQUIDO ISOLANTE ......................... 74 5.1 ASPECTOS TÉCNICOS ................................................................................................... 74 5.1.1 Desempenho térmico ................................................................................................. 74 5.1.2 Limites de temperatura .............................................................................................. 75 5.1.3 Estabilidade térmica .................................................................................................. 76 5.1.4 Estabilidade à oxidação ............................................................................................. 76 5.1.5 Tendência à absorção de gases .................................................................................. 77 5.1.6 Desempenho elétrico ................................................................................................. 77 5.1.7 Desempenho funcional (desempenho global)............................................................ 77 5.2 ASPECTOS DE SEGURANÇA ........................................................................................ 78 5.3 ASPECTOS AMBIENTAIS ............................................................................................... 79 5.4 ASPECTOS PRÁTICOS ................................................................................................... 80 5.4.1 Restrição quanto ao uso ............................................................................................. 80 5.4.2 Uso mais freqüente .................................................................................................... 80 5.4.3 Miscividade ............................................................................................................... 81 5.4.4 Manutenção preventiva.............................................................................................. 81 5.4.5 Manutenção preditiva ................................................................................................ 82 5.4.6 Tratamento e recuperação de óleos minerais isolantes .............................................. 83 5.5 ASPECTOS ECONÔMICOS ............................................................................................ 84 5.5.1 Custo .......................................................................................................................... 84 5.5.2 Relação custo-benefício ............................................................................................. 84 5.5.3 Fornecedores .............................................................................................................. 85 5.5.4 Disponibilidade no mercado ...................................................................................... 85 5.6 APLICAÇÕES .................................................................................................................. 86 5.6.1 Local de instalação do transformador ........................................................................ 86 5.6.2 Limitação pela classe de tensão ................................................................................. 86 5.7 CONSIDERAÇÕES DE PROJETO DO TRANSFORMADOR ........................................ 86 5.7.1 Sistemas de resfriamento ........................................................................................... 87 5.7.2 Espaçadores das bobinas ........................................................................................... 87 5.7.3 Construção da parte ativa (núcleo e bobinas) ............................................................ 87 5.7.4 Construção do tanque ................................................................................................ 87 5.8 COMPARATIVO FINAL DE DESEMPENHO ................................................................ 88 5.9 GUIA DE SITUAÇÕES PRÁTICAS ................................................................................. 89 ix 6 TENDÊNCIAS ...................................................................................................................... 90 6.1 NOVOS MATERIAIS ........................................................................................................ 90 6.2 TRANSFORMADOR SECO ............................................................................................. 90 CONCLUSÃO ..............................................................................................................................91 BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA ........................................................................................ 93 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 95 x LISTA DE FIGURAS Figura 1: Variação da viscosidade V, de óleos novos com a temperatura T ................................... 7 Figura 2: Teor de Água saturante S, em óleo novo em função da temperatura T ......................... 17 Figura 3: Solubilidade de Água S, em Óleo Isolante novo em função da temperatura ................. 17 Figura 4: Teor em água W, de um óleo isolante novo em função da umidade relativa do ar Ha, em equilíbrio para várias temperaturas ................................................................................ 19 Figura 5: Teor em água W, de um óleo novo em função da pressão parcial de vapor de água p, para várias temperaturas ......................................................................................................... 22 Figura 6: Esquema de cadeia de reações de envelhecimento dos óleos isolantes ......................... 26 Figura 7: Diagrama vetorial das correntes num condensador com perdas ................................... 35 Figura 8: Relação entre a resistividade e a tg nos óleos isolantes ........................................... 40 Figura 9: Rigidez dielétrica E, de um óleo isolante novo em função de seu teor de água W ....... 42 Figura 10: Relação entre a tg e a temperatura de medida , para vários óleo isolantes ............. 44 Figura 11: Variação da tg de óleos isolantes com a freqüência f, do campo aplicado ............... 45 Figura 12: Evolução do valor da tg em óleos isolantes com o tempo t, decorrido entre a introdução do óleo na célula e o isolante da medida .............................................................. 48 Figura 13: Estrutura do tetraclorobenziltolueno ............................................................................ 51 Figura 14: Estrutura do poli(dimetilbenzilsiloxano) ..................................................................... 52 Figura 15: Estrutura de parafinas ou alcanos................................................................................. 54 Figura 16: Estrutura de naftenos ou ciclo-alcanos........................................................................ 55 Figura 17: Estrutura de aromáticos ............................................................................................... 55 Figura 18: Estrutura do óleo mineral de alto peso molecular (R-temp) ........................................ 59 Figura 19: Estrutura do silicone.................................................................................................... 62 Figura 20: Estrutura de um PCB ................................................................................................... 63 Figura 21: Estrutura de um policlorobenzeno ............................................................................... 63 Figura 22: Estrutura de um éster orgânico derivado do pentaeritrol ............................................. 65 Figura 23: Éster alifático ............................................................................................................... 66 Figura 24: Éster aromático ............................................................................................................ 66 xi LISTA DE TABELAS Tabela 1: Valores típicos de massa volúmica .................................................................................. 5 Tabela 2: Valores típicos de condutividade térmica ........................................................................ 6 Tabela 3: Valores típicos de viscosidade ......................................................................................... 8 Tabela 4: Valores típicos de ponto de escoamento ......................................................................... 9 Tabela 5: Valores típicos de ponto de fulgor ................................................................................. 11 Tabela 6: Valores típicos de ponto de inflamação ......................................................................... 11 Tabela 7: Valores típicos de ponto de auto-ignição ...................................................................... 12 Tabela 8: Valores típicos de índice de neutralização .................................................................... 14 Tabela 9: Valores típicos de tensão interfacial .............................................................................. 16 Tabela 10: Valores típicos de K e X .............................................................................................. 20 Tabela 13: Escala de tendência à absorção de gases ..................................................................... 30 Tabela 14: Padrão de cores segundo a ABNT .............................................................................. 31 Tabela 15: Valores típicos de índice de refração ........................................................................... 32 Tabela 16: Valores típicos de rigidez dielétrica ............................................................................ 33 Tabela 17: Valores típicos de fator de dissipação de perdas dielétricas ........................................ 38 Tabela 18: Valores típicos de resistividade volumétrica ............................................................... 39 Tabela 19: Comparativo de características de líquidos isolantes disponíveis X novos................ 53 Tabela 20 : Características típicas dos líquidos isolantes disponíveis............. Erro! Indicador não definido. Tabela 21 : Características típicas e compostos de flúor-carbono................................................. 67 Tabela 22: Comparativo geral das características apresentadas .................................................... 69 Tabela 23: Valores orientativos de preço de líquidos isolantes..................................................... 84 Tabela 24: Comparativo final de desempenho dos líquidos isolantes ........................................... 88 Tabela 25: Situações práticas para uso de líquidos isolantes elétricos .......................................... 89 xii RESUMO Os transformadores sofrem um razoável aquecimento devido às perdas, geradas no seu interior, que precisam ser dissipadas; por outro lado o transformador precisa de um isolante dielétrico, para se conseguir diminuir distâncias elétricas internas. E o elemento que tem estas duas importantes funções, é o líquido isolante elétrico. Percebendo-se a importância deste, no desempenho funcional do transformador, pode-se dizer que o líquido isolante tem influência direta sobre a vida útil do transformador. Devido a esta importância, tem-se estudado muito sobre as características dos mesmos. Assim, neste trabalho, serão analisadas e avaliadas todas estas características e propriedades dos líquidos isolantes elétricos, bem como seus fatores influentes. Após o estudo destas características, serão apresentadas algumas sugestões de critérios de escolha dos líquidos isolantes. Há muitos anos, desde que se iniciou a fabricação de transformadores, vem sendo utilizado o óleo mineral, que é largamente o mais utilizado, e apresenta ótimas características de desempenho funcional. Com o passar dos anos, foram sendo desenvolvidos líquidos isolantes especiais, principalmente os fluídos de segurança. Chegou a ser bastante utilizado, no passado, o ascarel, que hoje em dia tem proibida a sua fabricação e utilização em transformadores novos. Surgiu também o flúor-carbono (freon), que também encontra-se proibido. Ambos foram proibidos porproblemas de ordem ambiental, pois são considerados extremamente tóxicos. Surgiram, ainda, outros líquidos, mais recentemente, que serão vistos, adiante, os aspectos envolvidos. E tem-se a certeza que, em breve ter-se-á outros tipos de líquidos isolantes disponíveis, que ainda serão desenvolvidos. 1 INTRODUÇÃO Nos equipamentos elétricos em que se observa a geração de calor devido às perdas elétricas e/ou naqueles onde existe a possibilidade de formação de arco voltáico entre os condutores que apresentam uma diferença de potencial, torna-se necessária a presença de um meio com características apropriadas para isolar e dissipar o calor gerado no interior do equipamento. Os dielétricos líquidos para uso em transformadores devem possuir: baixo fator de dissipação dielétrica, baixa viscosidade – para permitir uma fácil circulação, baixo ponto de solidificação, elevado ponto de inflamação – ou mesmo não inflamável, pequena constante dielétrica, pequena atividade química, baixo custo, entre outras. O limitado número de tipos de dielétricos líquidos disponíveis no mercado é devido, principalmente, à dificuldade de reunir todas estas características num único produto, não atendendo uma ou outra característica no grau desejado – como é o caso dos óleos minerais isolantes que possuem um ponto de inflamabilidade relativamente baixo. Além dos óleos minerais isolantes, são também encontrados no mercado os fluídos de silicone e o óleo parafínico de alto peso molecular (RTEmp). Um outro tipo também conhecido é o ascarel, entretanto, a sua comercialização e uso foram proibidos a partir de janeiro de 1981. Estes dielétricos líquidos não são usados totalmente puros, isso porque a redução do grau de contaminação abaixo de determinado limite, além de ser inviável, também não pode ser conseguido com os meios disponíveis nos ciclos normais de produção. Mesmo quase puros, os dielétricos líquidos atingem valores desejados em suas características, satisfazendo, desta forma, as exigências impostas para dielétricos a serem usados em transformadores. Por serem produtos bastante suscetíveis a contaminações, deve-se tomar todo cuidado possível para se evitar estas ocorrências, pois por menor que seja, serão observadas graves modificações nos valores das suas características. Os principais meios de contaminação dos dielétricos líquidos utilizados em 2 transformadores são: pela introdução de partículas, água ou produtos que afetam negativamente nas suas características; por formação de produtos contaminantes na interação com os materiais construtivos, e por produtos formados pelo processo normal de envelhecimento do dielétrico líquido. Desta forma, neste estudo, serão apresentadas as principais características físico-químicas que interessam no desempenho geral dos líquidos isolantes novos, além das características de desempenho elétrico. Nesta apresentação detalhada das características, será buscado um razoável entendimento quanto ao comportamento destas características, bem como fatores que influenciam nas mesmas. Quanto aos líquidos isolantes em uso serão feitos apenas alguns comentários. A seguir, será visto o comportamento desta características estudadas para cada tipo de líquido isolante disponível no mercado. Serão apresentados também o que existe de líquidos novos, alguns deles que estão sendo desenvolvidos, outros em fase de avaliação prática do desempenho. Este trabalho tem por objetivo, fornecer subsídios para que, um profissional que trabalha com especificação do tipo de líquido isolante elétrico a ser utilizado, faça a escolha mais adequada, levando-se em conta aspectos de características físico-químicas e desempenho elétrico, além de fatores como grau de segurança requerido pela instalação, custo do líquido isolante elétrico, aspectos ambientais, aspectos de fornecimento, facilidades de manutenção, entre outros. Para que seja atingido o objetivo deste trabalho de pesquisa, este será dividido em duas partes: na primeira parte, serão analisadas com bastante detalhes as características e propriedades dos líquidos isolantes, de forma geral; em seguida considerações sobre os líquidos isolantes elétricos disponíveis no mercado, através de uma revisão bibliográfica. Na segunda parte, serão sugeridos pelo autor deste trabalho, alguns critérios que podem ser utilizados para a escolha do líquido isolante elétrico, tanto técnicos como práticos, aplicativos, considerações de mercado, entre outros aspectos importantes. 3 LÍQUIDOS ISOLANTES ELÉTRICOS PARA TRANSFORMADORES Estudo comparativo das características físico-químicas, elétricas e aplicativas dos líquidos isolantes elétricos, minerais e sintéticos para uso em transformadores de potência Então para facilitar o entendimento, será feita uma divisão por itens. No primeiro, será realizado um estudo teórico isolado das propriedades dos líquidos isolantes; no segundo item, as características e estrutura de um líquido isolante ideal, uma espécie de exercício teórico; no terceiro item, a estrutura dos líquidos isolantes disponíveis no mercado; serão citados também o que existe de líquidos novos, sendo desenvolvidos; no quarto item, será dado um apanhado geral sobre o uso das características para avaliação do estado do óleo, seria uma espécie de catálogo de consulta para quem trabalha com manutenção; no quinto item, serão sugeridos critérios para escolha do tipo de líquido isolante, abordando desde aspectos técnicos, econômicos, práticos, até critérios de projeto e questões ambientais. 1 ESTUDO DAS PROPRIEDADES DOS LÍQUIDOS ISOLANTES As principais funções requeridas pelos líquidos isolantes para transformadores, são: a) isolação: o aspecto mais importante, não esta essencialmente, na isolação das tensões nominais, pois o próprio verniz ou recobrimento dos condutores, junto com os espaçadores inter-espiras e inter-bobinas já seriam suficientes para tal. Desta forma a função de isolação, é importante nas situações de surtos atmosféricos e de surtos de manobra, razão pela qual a rigidez dielétrica do líquido isolante aos impulsos deve ser adequada às condições existentes em serviço. Sendo que a característica de isolação é a mais importante de todas. b) refrigeração: para que seja possível dissipar o calor gerado no interior dos enrolamentos e do núcleo do transformador, para o meio externo, pela circulação do líquido isolante por entre os canais de circulação e também pelos dispositivos dissipadores (radiadores). c) estabilidade à oxidação: para que o líquido isolante não sofra a ação das elevadas temperaturas, presença de oxigênio, contato com vários materiais de construção interna do 4 transformador, influência das diversas reações químicas (polimerização, condensação, rupturas de cadeia), e conseqüente, envelhecimento precoce. Um óleo isolante é especificado por um conjunto de características que têm por fim, identificar o produto (características físico-químicas gerais), e descrever o seu comportamento em serviço (características funcionais), isto é, as suas características como dielétrico e refrigerante. Desta forma, para simplificar, estas características serão divididas da seguinte maneira: propriedades físicas, químicas e elétricas. 1.1 PROPRIEDADES FÍSICAS A seguir, serão detalhadas as características próprias do líquido isolante, como a massa volúmica, que vem a ser uma característica visível, e por vezes serve apenas para conhecimento, e uso grosseiro, por exemplo, no cálculo da massa total do líquido isolante. Uma avaliação das características de refrigeração ou troca térmica dos líquidos isolantes pode ser realizada através de propriedades físicas, tais como condutividadee viscosidade. Serão abordados ainda, questões de temperaturas de serviço do transformador, que influencia no ponto de escoamento do fluído; características de segurança, que influenciam em características de ponto de fulgor, inflamação e auto-ignição. 1.1.1 Massa volúmica (densidade volumétrica) A massa volúmica de um óleo isolante não deve ultrapassar um valor máximo para evitar que a baixas temperaturas o gelo formado por água eventualmente presente no transformador possa subir no seio do óleo (por virtude da impulsão sofrida por parte deste) indo alojar-se em zonas sob tensão [1]. Este aspecto é particularmente importante em transformadores de medida, que operam à temperatura ambiente. Os hidrocarbonetos são menos densos que a água (à mesma temperatura) aumentando a sua massa volúmica com o número de átomos de carbono crescente (dentro de cada tipo de 5 hidrocarbonetos). Para igual número de átomos de carbono os naftênicos são mais densos que os parafínicos. O conhecimento da massa volúmica dos óleos isolantes tem por vezes interesse comercial, já que não é raro o fornecimento ser feito em unidades de volume e a faturação em unidades de massa. O procedimento deste ensaio está descrito na norma da ABNT NBR-1748. Por outro lado, esta característica poderá ter ainda outro interesse técnico, se bem que apenas grosseiro, para verificação da regularidade de fornecimentos. Também costuma ser usado para identificar o tipo de óleo, no caso de óleos minerais, se é de base naftênica (tipo A) ou base parafínica (tipo B). Tabela 1: Valores típicos de massa volúmica LÍQUIDO ISOLANTE MASSA VOLÚMICA A 25ºC Óleo mineral A 0,861 a 0,900 Óleo mineral B 0,860 R-Temp 0,87 Ascarel 1,55 Silicone 0,96 Éster 0,98 1.1.2 Condutividade térmica Trata-se da medida da capacidade de um material transmitir calor. É através dos líquidos isolantes que o calor gerado pelo transformador, no interior das bobinas e núcleo, é dissipado para o meio ambiente. A transferência de calor se dá através das vibrações moleculares e, portanto, quanto mais polar o fluído, mais rígida será sua estrutura líquida, dificultando a condutividade térmica. 6 Sendo a polaridade elétrica do óleo mineral nula e a do silicone e dos ésteres sintéticos praticamente desprezíveis, estes fluídos apresentam condutividade térmica baixa. Esta, porém, ainda é elevada se comparada à do ascarel, que possui uma polaridade relativamente alta. Esta característica não é um fator limitante, mas deve ser considerada no projeto do equipamento. Tabela 2: Valores típicos de condutividade térmica Líquido Condutividade térmica (W/(m°C) a 25°C) Condutividade térmica [10] (cal/(seg cm2°C)/cm a 25°C) Óleo mineral 0,13 2,9 . 10-4 R-Temp 0,13 3,0 . 10-4 Ascarel 0,09 2,8 . 10-4 Silicone 0,14 3,6 . 10-4 Éster 0,15 --- 1.1.3 Viscosidade cinemática Exige-se de um óleo isolante para transformadores que a sua viscosidade não ultrapasse um certo valor máximo, para que a sua circulação se dê ainda em boas condições mesmo a baixas temperaturas, de modo a garantir uma boa evacuação do calor produzido pelas perdas no transformador. A viscosidade varia em função do peso molecular e da interação molecular nos líquidos isolantes; portanto, quanto maior o tamanho das moléculas e maior sua polaridade, maior será sua viscosidade. (Note-se que esta regra é muito grosseira, pois não leva em conta a isometria). Um líquido isolante adequado deve permitir uma fácil convecção do óleo no interior do transformador, a fim de facilitar a troca térmica do mesmo com o meio ambiente. Na prática não se podem, no entanto, produzir óleos com viscosidades arbitrariamente baixas, posto que a introdução de hidrocarbonetos de baixas massas moleculares iria afetar 7 desfavoravelmente outras características (como por exemplo, ponto de inflamação, estabilidade à oxidação, etc.) Nos países de climas frios é costume as especificações contemplarem óleos especialmente fluídos, particularmente para utilização em disjuntores e transformadores de medida, isto é, equipamentos em que o óleo se encontra praticamente à temperatura ambiente. A viscosidade dos óleos é uma grandeza que depende fortemente da temperatura, sendo a correspondente lei da variação extremamente complexa: designando por V a viscosidade cinemática (em cSt) e T a temperatura absoluta (em K), a lei de variação V-T é uma reta [1] quando representada num diagrama de coordenadas proporcionais a: y = ar sh ln V (1.1) x = log T V (1.2) A – Limite superior para óleos de classe I segundo CEI B ... G –Diversos óleos do mercado Figura 1: Variação da viscosidade V, de óleos novos com a temperatura T ( Fonte: [1] ) 8 Medidas laboratoriais feitas pelo EFACEC, renomado laboratório de pesquisas da área, localizado em Portugal, sobre vários óleos isolantes do mercado confirmam este fato e mostram que, para os diversos óleos a inclinação das “retas V-T” é aproximadamente constante. (ver figura 1) Assim se compreende que a viscosidade de um líquido isolante seja sempre especificada a pelo menos duas temperaturas diferentes. É freqüente as normas especificadoras contemplarem várias classes de óleos [1] que se distinguem justamente pelos valores de viscosidade, o que por seu turno acarreta diferenças noutras características, em particular ponto de inflamação e ponto de escoamento. A viscosidade do óleo mineral é a mais baixa de todos o fluídos, seguida do éster, do R- temp e do silicone. A viscosidade do ascarel pode ser modificada através da adição de um solvente como o triclorobenzeno. A baixa viscosidade do óleo mineral, aliada à condutividade térmica próxima à dos outros líquidos, permite que menor volume de óleo seja utilizado para a refrigeração de equipamentos, tornando-os mais compactos e, portanto, mais baratos [3]. Os valores mais críticos de viscosidade são do R-Temp, do ascarel e do silicone. Neste caso, o projeto do transformador deve prever maior área de troca térmica. Tabela 3: Valores típicos de viscosidade LÍQUIDO ISOLANTE VISCOSIDADE (cSt) a 40°C VISCOSIDADE (cSt) a 100°C Óleo mineral 11 3 R-Temp 140 14 Ascarel Ver obs. abaixo Ver obs. abaixo Silicone 40 17 Éster 33 6 9 OBS.: Para o ascarel, por não ser possível aquecê-lo, usa-se a viscosidade somente a 25ºC, que tem como um valor típico 15 cSt. 1.1.4 Ponto de escoamento (ponto de fluidez) Como já citado anteriormente, os óleos isolantes não são compostos puros, e por isso não apresentam um ponto de solidificação bem definido. Define-se assim outra grandeza, o ponto de escoamento, que é a temperatura mais alta em que, em determinadas condições, uma amostra de óleo deixa de escorrer. Esse ponto corresponde aproximadamente à temperatura a que se começa a verificar a primeira formação de sólidos. A presença de tais sólidos pode ter influência desvantajosa sobre as propriedades isolantes (rigidez dielétrica, fator de perdas dielétricas) do produto, pelo que interessa que os óleos apresentem um baixo ponto de escoamento, particularmente nas utilizações em que o óleo esteja praticamente à temperatura ambiente (transformadores de medida e disjuntores). Além disso, o ponto de escoamento dá uma indicação da temperatura abaixo da qual já não é possível remover o óleo do recipiente em que se encontra por simples escoamento. Também esta característica não é independente da viscosidade: em princípio, quanto mais fluído é um óleo menor é o seu ponto de escoamento. Tabela 4: Valores típicos de ponto de escoamentoLÍQUIDO ISOLANTE PONTO DE ESCOAMENTO (°C) Óleo mineral A -39 Óleo mineral B -12 R-Temp -24 [9] Ascarel Ver obs. Abaixo Silicone -50 [10] 10 OBS.: Para o ascarel o ponto de escoamento pode variar de –14 a –44ºC, dependendo da composição química do mesmo. 1.1.5 Ponto de fulgor O ponto de fulgor indica a concentração de compostos leves presentes no líquido isolante. Esta propriedade está relacionada com o peso molecular e com os elementos químicos constituintes da molécula. É a menor temperatura na qual se observa o aparecimento de uma faísca instantânea, durante o aquecimento do líquido isolante, quando submetido a uma chama. Seu método de ensaio está definido pela norma da ABNT NBR-11341. O óleo mineral apresenta o menor ponto de fulgor entre os líquidos utilizados em transformadores, pois possui o menor peso molecular e é formado basicamente por carbono e hidrogênio, que propiciam a reação de combustão. O R-Temp também é formado basicamente por carbono e hidrogênio, porém seu peso molecular é maior que o óleo mineral, o que lhe confere um valor de ponto de fulgor mais elevado. O silicone e o éster possuem peso molecular inferior ao do R-Temp, porém possuem menor quantidade de carbono na molécula, além de apresentarem outros elementos que não permitem reações de combustão, conferindo-lhes um elevado ponto de fulgor. O ascarel não apresenta ponto de fulgor, pois tanto o triclorobenzeno como as policlorobifenilas não são inflamáveis. Todos os líquidos citados, com exceção do óleo mineral isolante, possuem alto ponto de fulgor, o que possibilita o uso em instalações abrigadas, onde os riscos de incêndio e explosão devem ser minimizados. Por isso, são denominados de fluídos de segurança. 11 Tabela 5: Valores típicos de ponto de fulgor LÍQUIDO ISOLANTE PONTO DE FULGOR (°C) Óleo mineral 140 R-Temp 284 Ascarel Ver obs. abaixo Silicone 300 Éster 250 1.1.6 Ponto de inflamação É a menor temperatura na qual se observa a queima do líquido isolante durante, no mínimo, cinco segundos. Por razões de segurança, o ponto de inflamação dos óleos não deverá situar-se abaixo de um valor mínimo. Além disso, é uma medida grosseira para a volatilidade do óleo (isto é, a pressão de vapor), já que o ponto de inflamação é tanto maior quanto menos volátil for o óleo. Esta característica não é totalmente independente da viscosidade. Em geral, quanto menos viscoso for um óleo menor será o seu ponto de inflamação e vice-versa [3]. Tabela 6: Valores típicos de ponto de inflamação LÍQUIDO ISOLANTE PONTO DE INFLAMAÇÃO (°C) Óleo mineral 160 R-Temp 312 Ascarel Ver obs. abaixo Silicone 340 . 12 1.1.7 Ponto de auto-ignição É a menor temperatura na qual se observa a queima do líquido isolante apenas devido ao aquecimento do mesmo, sem a presença de fogo algum [10]. Tabela 7: Valores típicos de ponto de auto-ignição LÍQUIDO ISOLANTE PONTO DE AUTO-IGNIÇÃO (°C) Óleo mineral 332 R-Temp 540 Ascarel Ver obs. abaixo Silicone 430 OBS.: Não é possível de se determinar os pontos de fulgor, inflamação e auto-ignição do ascarel, pois este, não queima, porém o processo de aquecimento produz gases tóxicos e nocivos. 1.2 PROPRIEDADES QÚIMICAS Através de propriedades químicas, tais como índice de neutralização, tensão interfacial, teor de água, estabilidade à oxidação e tendência à absorção de gases, pode-se avaliar a estabilidade química dos líquidos. Serão abordadas também algumas outras características mais simples, de uso mais grosseiro, que vêm a ser os testes de cloretos e sulfatos inorgânicos e enxofre corrosivo, coloração e índice de refração que vão dar uma idéia mais geral da qualidade do líquido isolante, portanto, não podendo serem determinantes, sendo usados apenas como orientativos. 1.2.1 Índice de neutralização (índice de acidez) O índice de neutralização determina a concentração de compostos de caráter ácido presentes no líquido isolante, proveniente de contaminação ou da decomposição do óleo durante sua utilização. Esses compostos, a partir de certa concentração, são indesejáveis, pois reagem 13 com materiais de construção do transformador, principalmente com o papel e a madeira (isolamentos sólidos) e ainda polimerizam-se, formando borra. Esta, ao se depositar sobre a parte ativa ou nos trocadores de calor, dificulta a transferência de calor para o meio ambiente, diminuindo a vida útil dos transformadores [3]. Os ácidos constituem justamente um tipo de substância cuja presença é apenas tolerada em muito pequenas quantidades – a acidez normalmente admitida nas especificações para óleos isolantes novos corresponde a cerca de 1 e 2 moléculas de ácido por cada 10 “moléculas de óleos”, o que corresponde aproximadamente ao limite de detecção dos métodos vulgares de determinação de acidez de óleos minerais. A presença de ácidos nos líquidos isolantes é indesejada pois se trata de substâncias de atividade química relativamente elevada. A sua presença pode provocar o ataque aos diversos materiais de construção utilizados nos transformadores, em particular os metais, com conseqüente formação de produtos que podem piorar consideravelmente as características dielétricas do óleo, que por sua vez são já afetadas pela simples presença de substâncias ácidas. Em princípio os ácidos que poderão estar presentes num óleo mineral novo são de duas origens: ácidos orgânicos, quer provenientes já do petróleo bruto, quer formados durante certos processos de refinação, e ácidos inorgânicos resultantes de uma deficiente eliminação própria dos processos de refinação (segundo os processos tradicionais de refinação há uma fase em que o óleo é tratado com ácido sulfúrico). Assim se compreende que certas normas, especialmente as mais antigas, especifiquem dois valores máximos para a acidez: a acidez inorgânica, que deve ser nula (por vezes assinalada pela abreviatura SAN, “strong acid number”) e a acidez total que compreende pois o conjunto dos ácidos orgânicos e inorgânicos (por vezes assinalada pela abreviatura TAN, “total acid number”). Hoje em dia já não se especifica normalmente uma acidez inorgânica; por outro lado especifica-se um valor suficientemente baixo para a acidez total que, de acordo com a 14 experiência, garante uma acidez inorgânica nula. Nos óleos em serviço a acidez é essencialmente devida à presença de ácidos formados por envelhecimento. O índice de acidez é considerado crítico acima de 0,30 mgKOH/g de óleo, e deste valor em diante, cresce de modo exponencial sendo necessária a substituição ou a regeneração do óleo. No óleo novo e em boas condições, obtém-se índice de acidez menor que 0,03 mgKOH/g de óleo [11]. O procedimento de ensaio está definido pela norma da ABNT MB-101. Tabela 8: Valores típicos de índice de neutralização LÍQUIDO ISOLANTE ÍNDICE DE NEUTRALIZAÇÃO mgKOH/g de óleo Óleo mineral 0,01 R-Temp 0,005 Ascarel 0,01 Silicone 0,01 Éster 0,01 1.2.2 Tensão interfacial É a medida da força necessária para que um anel plano de platina rompa a interface formada entre água e óleo. A tensão interfacial indica a presença de moléculas hidrofílicas no líquido isolante, oriundas de sua deterioração, e contaminantes polares solúveis (produtos intermediários de oxidação). A presença de substâncias polares, mesmo em pequenas quantidades, é em princípio, indesejável, quer porque elas podem imediatamente deteriorar as propriedades dielétricas do óleo isolante, quer porque são normalmente substâncias quimicamente ativas que vão acelerar o envelhecimento do óleo (que por seu turno,leva à formação de mais produtos polares). 15 A medida de tensão interfacial no sistema água-óleo tem conta justamente das substâncias polares dissolvidas no óleo. Tais substâncias tendem à concentrar-se na interface água-óleo e quanto maior for esta concentração, menor é o valor de tensão interfacial. Claro que neste fenômeno intervém igualmente os ácidos eventualmente presentes no óleo, avaliados pela medida de acidez, além de quaisquer outras substâncias polares [5]. Nos óleos novos o valor da tensão interfacial é pois uma medida para a pureza do óleo e portanto para avaliar se houve adequada remoção de contaminantes, em particular subprodutos de refinação. Nem todas as normas especificadoras para óleos isolantes novos impõem um valor mínimo para a tensão interfacial. Quando há imposição é normalmente especificado o valor mínimo de 40 mN/m (as normas canadenses [1] especificam 35 mN/m). Para óleo novo devem ser encontrados valores acima de 40mN/m. Para óleo em serviço, valores abaixo de 20mN/m já devem ser monitorados em conjunto com os demais ensaios [11]. O ensaio está padronizado pela norma da ABNT NBR-6234. Os hidrocarbonetos são do ponto de vista dielétrico, substâncias essencialmente apolares, isto é, as suas moléculas apresentam um momento bipolar baixo ou mesmo nulo. O óleo mineral e o R-Temp devem ser acompanhados sistematicamente, pois a tensão interfacial indica a presença de produtos intermediários de oxidação, podendo indicar também contaminação ou incompatibilidade com algum material de construção do equipamento. 16 Tabela 9: Valores típicos de tensão interfacial LÍQUIDO ISOLANTE TENSÃO INTERFACIAL (dinas/cm) Óleo mineral 40 R-Temp 38 Ascarel Ver obs. abaixo Silicone idem Éster idem OBS.: Não faz sentido determinar a tensão interfacial do ascarel, do silicone ou do éster, pois sendo polares, os mesmos apresentam grande interação com a água. 1.2.3 Teor de água O teor de água é a medida direta da quantidade de água dissolvida no óleo isolante, em miligramas de água por quilograma de óleo (partes por milhão em peso – ppm). A umidade pode afetar as características elétricas dos líquidos isolantes, tornando-os impróprios para a utilização no transformador, bem como provocar a degradação do isolamento sólido celulósico (papel, papelão, madeira). Este ensaio é realizado em laboratório, e o processo mais utilizado é o método de determinação de água Karl Fischer Coulométrico [4]. O ensaio está padronizado pela norma da ABNT NBR-10710. A solubilidade da água nos líquidos isolantes está relacionada com a estrutura química destes. O óleo mineral e o R-Temp contêm moléculas apolares e, portanto, pouca afinidade com a água. O silicone, o éster e o ascarel apresentam elementos químicos polares em suas estruturas, o que aumenta a solubilidade da água nestes líquidos. 17 Figura 2: Teor de Água saturante S, em óleo novo em função da temperatura T ( Fonte: [1] ) Figura 3: Solubilidade de Água S, em Óleo Isolante novo em função da temperatura ( Fonte: [1] ) 18 A água pode encontrar-se nos óleos isolantes novos sob três formas distintas: em solução; em emulsão; em dispersão grosseira. A solubilidade máxima de água em óleo isolante varia com a temperatura (figura 3), sendo da ordem de 50 ppm à temperatura ambiente (23°C). Representado por S a solubilidade da água no óleo e por T a temperatura absoluta, a experiência mostra que a lei de variação de log S com 1/T é linear (figura 2). Colocando um óleo isolante novo em contato com a atmosfera com um certo teor de umidade, estabelece-se para a água (sob forma de vapor) um equilíbrio de partição entre duas fases. Na literatura encontram-se opiniões controversas e sobretudo aparentemente confusas sobre as leis que regem este equilíbrio. Designado por W, o teor em água de um líquido isolante novo em equilíbrio com uma atmosfera de umidade relativa Ha, vários autores aceitam e retomam as retas experimentalmente obtidas por Kaufmann [1] relacionando aquelas duas grandezas (figura 4). 19 Figura 4: Teor em água W, de um óleo isolante novo em função da umidade relativa do ar Ha, em equilíbrio para várias temperaturas ( Fonte: [1] ) Se for atendido que a umidade relativa da atmosfera é definida por: em que P representa a pressão de vapor de água atual existente na atmosfera e P0 a tensão máxima de vapor de água à mesma temperatura, vê-se que as retas (da figura 4) não são mais do que a expressão da lei de Henry: lpkW . em que k é um parâmetro que depende da temperatura. Este resultado, foi, de resto, conhecido posteriormente por via experimental por outros autores, tendo-se posto em evidência que apenas é válido para óleos isolantes no estado novo, sendo no entanto verificado para óleos com composições químicas muito diversas, mesmo no que (1.3) (1.4) 0p pH a 20 diz respeito ao seu teor em carbonatos aromáticos (a solubilidade da água num óleo é tanto maior quanto este teor – os óleos isolantes correntemente utilizados apresentam, no entanto, diferenças entre teores em carbonos aromáticos que não são suficientemente grandes para manifestarem variações significativas nas respectivas solubilidades de água). Estranhamente porém, certos autores, apesar de aceitarem os resultados expressos na figura 4, consideram que o equilíbrio do vapor de água entre a fase gasosa e a fase líquida não obedece à lei de Henry mas sim a uma lei do tipo [1]: W = K.px em que K é um parâmetro que depende apenas da temperatura e X é um coeficiente cujo valor está compreendido entre 0 e 1. Outros autores por seu turno, encontraram experimentalmente resultados diferentes dos expressos na figura 4, que efetivamente se manifestam de acordo com a expressão acima, se bem que nenhuma indicação seja dada acerca da dependência de K da temperatura. No quadro abaixo, reúnem-se os valores de K e X que se encontram na literatura. Tabela 10: Valores típicos de K e X K X Referência 3,35 0,615 [13] 5,5 0,73 [14] Por outro lado, parece que o fato geralmente reconhecido que, quando tem-se um óleo isolante em presença de uma atmosfera úmida, a uma dada temperatura (a mesma para as duas fases), o equilíbrio entre as duas fases se estabelece de modo a haver igualdade entre a umidade relativa do ar, Ha, e a umidade relativa do óleo, H0 – razão entre o teor de água atual, W, e o fator saturante (solubilidade, S) à mesma temperatura. Noutros tem-se, o equilíbrio estabelece-se para: H0 = Ha , substituindo Ha pela equação (1.3), vem: e 0P PH a S WH 0 (1.5) (1.6) 21 donde se deduz que: que mais uma vez é a expressão da lei de Henry. A figura 5 representa graficamente esta lei para diversos valores de temperatura, não sendo mais do que uma forma alternativa da figura 4. Naturalmente que a lei de Henry só é válida enquanto a água está sob a forma de vapor, isto é, até os valores dos teores de água saturantes. Por isso, na figura 5 as retas terminam em pontos cujas ordenadas são os valores da solubilidade da água no óleo à temperatura considerada e cujas abcissas são consequentemente os valores da tensão máxima de vapor de água à mesma temperatura. Para teores de água no óleo superiores aos teores saturantes, isto é, superiores ao valor da solubilidade máxima à temperatura considerada, a quantidade de água excedente relativamente ao teor saturante já não está em solução podendo estar sob a forma de emulsão (partículas de água de dimensões entre 10-6 e 10-9 m). Esta situação ocorre normalmente quandose arrefece um óleo que foi saturado de água a uma temperatura mais elevada. Nestas condições, as gotículas de água que se formam, sendo de pequenas dimensões, não chegam a depositar-se em conseqüência das forças de tensão superficial e da viscosidade do óleo, pelo que se mantém o estado de emulsão, situa-se na ordem da grandeza de 300 a 400 ppm [1]. Para teores de água superiores, a água encontra-se já sob a forma de dispersão grosseira, pelo que se deposita rapidamente no fundo do recipiente que contém o óleo. São considerados valores orientativos máximos aceitos para serviços contínuos [11]: 40 ppm para equipamentos com tensão até 72,5 kV 35 ppm para equipamentos com tensão 72,5 kV e < 242 kV 25 ppm para equipamentos com tensão 242 kV P P SW 0 (1.7) 22 Figura 5: Teor em água W, de um óleo novo em função da pressão parcial de vapor de água p, para várias temperaturas ( Fonte: [1] ) Tabela 11: Valores típicos de teor de água LÍQUIDO ISOLANTE TEOR DE ÁGUA (ppm) Óleo mineral 35 R-Temp 15 Ascarel 30 Silicone 50 Éster 40 23 1.2.4 Estabilidade à oxidação Quando em serviço nos transformadores de potência, os óleos isolantes encontram-se sujeitos à influência de vários fatores, tais como temperatura relativamente elevada, presença de oxigênio, contato com vários materiais de construção. Estes fatores vão provocar uma oxidação do óleo, resultando uma diversidade de produtos indesejáveis. A estabilidade à oxidação é indicada para se determinar a resistência à degradação dos líquidos isolantes na presença de oxigênio, sendo a velocidade da reação de oxidação proporcional à variação da temperatura. Além de reações de oxidação, dão-se ainda reações de polimerização, condensação, rupturas de cadeia, etc. Quando se fala em oxidação dos óleos, subentende-se normalmente o conjunto destes fenômenos, a que freqüentemente se chama também envelhecimento. Numa fase de oxidação pouco adiantada formam-se produtos que são solúveis no óleo quente, mas pouco solúveis no óleo frio. No seu circuito de circulação, natural ou forçada, destinado a fazer a evacuação do calor resultante das perdas no seio do transformador, o óleo passa em zonas mais frias (radiadores). Aí pode haver precipitação dos produtos de oxidação pouco solúveis, do que resulta, com o tempo, uma diminuição sensível de seção do circuito de circulação do óleo. Daqui advém uma menor irradiação de calor e portanto uma temperatura de funcionamento mais elevada, que por seu turno vai acelerar ainda mais o envelhecimento não só do óleo como também dos restantes materiais isolantes, principalmente os materiais celulósicos (papelão e madeiras). Podem também formar-se produtos de óxidos sólidos insolúveis no óleo mesmo quente, que vão se depositar em vários pontos do transformador, em particular nos estreitos canais das bobinas. Assim, vai ser dificultada a circulação do óleo nesses canais onde passará a haver um sobreaquecimento do que pode acabar por resultar num rápido envelhecimento dos isolantes sólidos envolvidos. O conjunto daqueles produtos sólidos que precipitam nos vários pontos do 24 transformador, em cuja composição contém sabões metálicos, e é correntemente conhecido por lamas. Por outro lado, durante os fenômenos de envelhecimento, além das lamas formam-se muitos outros produtos quimicamente mais ativos que os hidrocarbonetos originais, que por seu turno vão acelerar ainda mais o envelhecimento. Sente-se assim que a oxidação de um óleo isolante é um fenômeno de avalanche, isto é, a sua progressão, inicialmente lenta, dá-se a um ritmo cada vez maior. A estabilidade dos óleos isolantes à oxidação depende grandemente da sua estrutura. Assim, com base em investigações feitas com várias misturas conhecidas de hidrocarbonetos do tipo dos que se encontram nos óleos isolantes, é possível traçar as seguintes linhas gerais [1]: a) Os hidrocarbonetos aromáticos sem cadeias laterais são pouco ou nada sensíveis à oxidação. Se entre os anéis aromáticos for introduzido um carbono alifático, a sua resistência à oxidação vem diminuída. Quanto mais complicada e assimétrica for a estrutura, menor será a estabilidade. Os produtos de oxidação incluem uma maioria de produtos de polimerização relativamente aos produtos ácidos. Os hidrocarbonetos aromáticos com cadeias laterais são tanto menos estáveis à oxidação quanto maior o número e comprimento dessas cadeias. A oxidação começa por se dar nas cadeias laterais originando produtos ácidos. Os produtos de polimerização e condensação formam-se em pequena quantidade; b) Os hidrocarbonetos naftênicos são tanto mais sensíveis à oxidação quanto maior a sua massa molecular, o número e comprimento das cadeias laterais. Neste caso, porém, a oxidação inicia-se não nas cadeias laterais mas sim no anel, normalmente no átomo de carbono onde se liga a cadeia lateral. Os principais produtos de oxidação são ácidos livres e ésteres. c) Nos hidrocarbonetos parafínicos a estabilidade à oxidação depende do número de carbonos terciários, visto estes serem os mais facilmente oxidáveis. O mecanismo do envelhecimento de um óleo isolante é bastante complexo. Aceita-se hoje em dia que os fenômenos começam pela formação de um hidro-peróxido resultante de fixação de oxigênio por um radical livre. Tal radical não é mais do que o resultado da separação de um 25 átomo de hidrogênio de uma molécula de hidrocarboneto. Admite-se que a formação de radicais livres seja fomentada pela ação catalítica dos metais, especialmente cobre, presentes no transformador. A partir dos hidroperóxidos, que são intermediários instáveis, forma-se toda a gama de produtos de oxidação [1], conforme esquematizado na figura 6. Além dos graves inconvenientes já apontados – formação de lamas com conseqüente deficiência na circulação do óleo e formação de produtos quimicamente ativos que aceleram o envelhecimento do óleo – o envelhecimento do óleo, conforme figura 6 acarreta uma multiplicidade de outros problemas, como por exemplo: A formação de produtos de condensação e polimerização pode aumentar a viscosidade do óleo, o que dificulta a sua circulação; A oxidação dá origem à formação de ácidos e muitos outros produtos mais ou menos polares que, sendo quimicamente ativos, exercem a sua ação prejudicial sobre os restantes materiais de construção. A presença desses produtos de oxidação provoca um aumento de acidez e tg do óleo e uma diminuição da sua tensão interfacial e ainda um aumento da aptidão para dissolver água com eventual conseqüente diminuição da rigidez dielétrica (note-se que, contrariamente à idéia geralmente expandida, a rigidez dielétrica de um óleo mineral não diminui pelo efeito do envelhecimento em si). 26 Figura 6: Esquema de cadeia de reações de envelhecimento dos óleos isolantes ( Fonte: [1] ) Nota-se assim, a importância que tem para a vida de um transformador, uma boa estabilidade à oxidação do óleo isolante. A este propósito convém abrir um parêntesis para referir brevemente os meios que há para aumentar a estabilidade à oxidação dos óleos isolantes. De acordo com o exposto, um processo consiste em fazer refinação do óleo de tal maneira que sejam removidos os hidrocarbonetos mais sensíveis à oxidação. Se bem que os produtores de óleos isolantes façam todos os esforços neste sentido, a resolução por esta via não é simples, quer pela complexidade da estrutura dos óleos, quer por isso nem sempre ser compatível com outras exigências como, por exemplo, viscosidade, ponto de escoamento, etc. Outro processo consiste em adicionar ao óleo isolante produtos estranhos cuja finalidadeseja exatamente aumentar a estabilidade à oxidação. Estes aditivos podem ser adicionados pelo 27 fabricante, que é o mais comum para óleos novos, bem como podem ser adicionados nos reservatórios, entretanto isto sendo feito pelo fornecedor garante uma melhor homogeneidade. No caso de líquidos em serviço, é comum os mesmos serem aditivados quando do tratamento preventivo que é feito no mesmo, sendo isto feito por empresas de serviços especializadas nisso. É costume classificar tais aditivos anti-oxidantes, genericamente designados por inibidores de oxidação, em quatro categorias [1]: a) Substâncias passivadoras de catálise, que formam a superfície dos metais catalisadores uma película que a eles adere física e quimicamente, de modo a afastá-los do processo. Este método não evita, a oxidação não catalítica. b) Substâncias desativantes de catálise, que diminuem ou anulam a atividade catalítica dos metais, transformando-os em complexos organometálicos. Tal como no caso anterior, não há bloqueio da oxidação não catalítica. c) Inibidores de oxidação (propriamente ditos), que reagem com os primeiros elementos da cadeia de reações de oxidação (figura 6), convertendo-os em moléculas inativas. Naturalmente que tais aditivos se consomem com o tempo. d) Anti-oxidantes indiretos, que são substâncias em si sem ação direta sobre a inibição da oxidação, mas se transformam em anti-oxidantes de um dos tipos anteriores uma vez que se inicie o processo de oxidação. Os anti-oxidantes mais utilizados são os do terceiro tipo, os inibidores de oxidação propriamente ditos. Trata-se normalmente de derivados do fenol ou de animais. O mais utilizado é o 2,6-di-terc-butil-paracresol correntemente conhecido por DBPC ou BHT (abreviatura de “butylated hidroxytoluene”) ou ainda por uma designação comercial como Topanol, Ionol, Paranox, Dalpac, Impruvol, Vianol. O uso de óleos isolantes inibidos tem sido encarado com bastante ceticismo, quer por parte de fabricantes de transformadores, quer por parte dos exploradores, especialmente na Europa. Assim se explica que a na maioria das normas especificadoras para óleos isolantes novos se declare expressamente dizerem respeito exclusivamente a óleos não inibidos. Nos Estados 28 Unidos já está mais vulgarizado o uso de óleos inibidos, tendo sido recentemente publicada uma norma correspondente. As exigências que se põem a tais óleos são em tudo iguais às relativas aos óleos não inibidos, exceção feita à estabilidade à oxidação. Em Portugal tem-se verificado igualmente uma oposição formal à inibição de óleos isolantes por parte de fabricantes de transformadores de potência. Dada a importância com que se reveste a característica de estabilidade à oxidação de um óleo isolante (como do resto as características de envelhecimento de qualquer material isolante), sempre houve a preocupação de no laboratório e em tempo relativamente reduzido realizar ensaios que permitam avaliar, pelo menos em termos comparativos, a estabilidade à oxidação dos óleos isolantes. Através dos tempos têm sido preconizados e utilizados vários métodos de ensaio, de diferente grau de elaboração. Atualmente o método seguido universalmente, na avaliação de óleos não inibidos é o preconizado pela Comissão Eletrotécnica Internacional. Consiste essencialmente em, durante cerca de uma semana, fazer borbulhar uma corrente de oxigênio através de uma amostra de óleo contendo cobre metálico e mantida à temperatura de 100°C. Todos os parâmetros são exigentemente fixados. Sobre o óleo resultante determina-se a acidez e o teor de substâncias sólidas formadas. O ensaio é extremamente delicado e apesar da aparente rigorosa definição dos vários passos do método de ensaio, admitem-se tolerâncias relativamente amplas nos resultados. A estabilidade à oxidação dos líquidos isolantes é crescente à medida que suas estruturas possuam ligações químicas mais fortes, conforme ordem: éster, óleo mineral, R-temp, silicone, ascarel. Uma grande estabilidade à oxidação é requerida a fim de maximizar a vida em serviço do fluído e, consequentemente, do transformador, através da minimização de formação de ácidos e borra. 29 Tabela 12: Escala de estabilidade à oxidação LÍQUIDO ISOLANTE ESTABILIDADE À OXIDAÇÃO Ascarel Alta Silicone R-temp Aumenta Óleo mineral Éster Baixa 1.2.5 Tendência à absorção de gases Falhas em equipamentos podem ser causadas por descargas em bolhas de gás. Em equipamentos hermeticamente selados é necessária a utilização de um líquido absorvedor de gases, pois, caso contrário, a pressão interna torna-se maior que a externa, danificando o transformador. A propriedade de absorver gases é própria dos compostos aromáticos, como o ascarel e os ésteres aromáticos, adequados para utilização em capacitores, por exemplo, onde a característica de absorção de gases é de extrema importância [5]. O ponto de anilina é a característica que nos indica, de modo comparativo, o conteúdo aromático de um óleo isolante. Sabendo-se que a capacidade de absorção de gases pelo óleo isolante está diretamente ligado ao seu teor de núcleos aromáticos, o ponto de anilina é também um indicativo da qualidade do óleo, e deve estar dentro da faixa de valores preestabelecidos pela norma NBR 5356. Os valores do ponto de anilina serão sempre expressos em graus celsius (°C), que é a temperatura na qual uma mistura de partes iguais de anilina e óleo isolante tornam-se miscíveis. Os métodos de ensaio padronizados são: ASTM-D611 e ABNT MB-299 [3]. O óleo mineral, que contém na sua composição compostos aromáticos, pode absorver gases, enquanto o R-Temp e o silicone não possuem compostos aromáticos em sua composição; portanto somente liberam gases. Principalmente nos óleos parafínicos, um conteúdo de aromáticos abaixo do mínimo fixado por norma, pode permitir a formação de bolhas de gás no 30 interior e canais da parte ativa e enrolamentos, e permitir possivelmente a formação de arco entre os enrolamentos [7]. Tabela 13: Escala de tendência à absorção de gases LÍQUIDO ISOLANTE TENDÊNCIA À ABSORÇÃO DE GASES Óleo mineral A Absorve Óleo mineral B Libera R-Temp Libera Ascarel Absorve Silicone Libera Éster Absorve 1.2.6 Teste de cloretos e sulfatos inorgânicos A determinação dos teores de cloretos e sulfatos é importante para detectar a presença destes elementos contaminantes que conferem ao dielétrico o caráter corrosivo. Os dielétricos líquidos não deverão conter estes íons, pois são corrosivos, e consequentemente, prejudiciais ao equipamento. São determinados pelos métodos: ASTM-D-878 e ABNT MB-901 [4]. 1.2.7 Teste de enxofre corrosivo A presença ou não de enxofre corrosivo no óleo isolante também é um indicativo de qualidade do dielétrico. Na verdade determina se o enxofre presente é ou não corrosivo. Os óleos isolantes normalmente contém enxofre em sua composição, e estes devem apresentar-se combinados com os radicais hidrocarbônicos sob a forma de compostos sulfurosos instáveis atuarão como corrosivos frente aos metais que entrarem em contato com o óleo isolante. Os métodos para determinação são: ASTM-D-1275 e ABNT MB-899 [4]. 31 1.2.8 Coloração Esta característica pode ser usada para indicar o grau de refinação do líquido isolante, presença de elementos contaminantes ou deterioração provocada por produtos resultantes de envelhecimento. A análise desta característica pode nos dar uma idéia a respeito do nível de contaminação do líquido isolante, podendo apresentar, principalmente, partículas sólidas, e outros elementos indesejáveis, que por sua vez, em geral, contribuem para a alteração da cor do mesmo. Tendo-seuma cor padrão para cada tipo de líquido isolante novo, a presença de partículas sólidas indesejáveis irá provocar um escurecimento da mesma. Para líquidos isolantes de transformadores em serviço, um rápido crescimento ou alto valor da cor indicam deterioração e/ou contaminação do óleo. Os métodos previstos são: ABNT MB-351 e ASTM D1500. A determinação da cor, expressa em valor numérico, é obtida pela comparação de padrões, com a cor da luz transmitida através da amostra. A cor ideal para um líquido isolante é a mais próxima possível do número 1 e nos líquidos novos observa-se este padrão de cor [2]. Tabela 14: Padrão de cores segundo a ABNT Número da cor Cor padrão 1 Lírio 1 1/2 Creme claro 2 Amarelo pálido 2 1/2 Cidra pálido extra 3 Cidra pálido 3 1/2 Laranja pálido extra 4 Laranja pálido 4 1/2 Vermelho descorado 5 Vermelho claro 6 Vermelho escuro 7 Vinho 8 Marrom 32 1.2.9 Índice de refração Esta característica varia com a natureza e quantidade de contaminantes dissolvidos. Como o índice de refração de uma substância é a somatória dos índices de refração de cada um dos seus componentes, é possível estimar a variação da composição ou grau de contaminação do óleo usado, comparada ao padrão estabelecido para cada tipo de óleo. O índice de refração permite também, através do método da triangulação (ASTM-D-2140) determinar o teor dos compostos de carbono típicos no óleo, possibilitando sua classificação quanto a sua origem naftênica, ou parafínica, em função da porcentagem de aromáticos, naftênicos e parafínicos existentes [2]. Tabela 15: Valores típicos de índice de refração LÍQUIDO ISOLANTE ÌNDICE DE REFRAÇÃO Óleo mineral A 1,485 a 1,500 Óleo mineral B 1,469 a 1,478 Ascarel -- Silicone 1,402 R-Temp -- 1.3 PROPRIEDADES ELÉTRICAS A eficiência de isolamento pode ser avaliada através de algumas propriedades elétricas, tais como: rigidez dielétrica, perdas dielétricas e resistividade volumétrica. 1.3.1 Rigidez dielétrica Está relativamente expandida a idéia da avaliação da qualidade de um óleo isolante através do valor de sua rigidez dielétrica. Esta idéia só é parcialmente correta, posto que a rigidez 33 dielétrica de um óleo isolante não constitui uma característica intrínseca, sendo antes determinada pelo seu estado de poluição (dependendo ainda do método de medida, isto é, forma de afastamento dos eletrodos, modo de aplicação de tensão, etc.). Com efeito, a rigidez dielétrica dos líquidos isolantes sem impurezas parece ser extremamente elevada, tendo-se já conseguido medir valores da ordem dos 400 kV/mm, valor que ainda não parece ser o limite superior. Na prática corrente, porém, os valores máximos atingidos são muitos inferiores, sendo costume considerar-se satisfatório um óleo isolante que apresente valores de rigidez dielétrica de 20 a 25 kV/mm. O método padronizado pela ABNT está descrito na norma NBR-6869. A rigidez dielétrica mede a capacidade de um líquido isolante resistir ao impacto elétrico sem falhar. Baixos valores indicam a presença de agentes contaminantes como água, impurezas, fibra celulósica, partículas metálicas ou condutoras no óleo. Sua determinação é importante para verificar a função isolante do fluído [11]. 25 kV para equipamentos com tensão até 72,5 kV 30 kV para equipamentos com tensão 72,5 kV e < 242 kV Os principais fatores que influenciam a rigidez dielétrica dos óleos isolantes são a presença de água e de partículas sólidas. Tabela 16: Valores típicos de rigidez dielétrica LÍQUIDO ISOLANTE RIGIDEZ DIELÉTRICA (kV) Óleo mineral 30 Ascarel 40 Silicone 35 R-Temp 43 34 1.3.2 Perdas dielétricas (fator de potência) Supondo-se que constituí-se um condensador com um determinado dielétrico e ao qual aplica-se uma tensão alternada senoidal U. Se o dielétrico fosse perfeito, resultaria uma corrente alternada senoidal que estaria defasada de exatamente /2 rad. Na realidade, a corrente I está defasada de menos de /2 rad, o que num diagrama vetorial pode ser um representação como a figura 7 [1]. É uma medida da tangente do ângulo de fase (ou cosseno de seu complemento), entre tensão e corrente ao aplicar-se uma diferença de potencial (d.d.p.) pré-determinada a dois eletrodos entre os quais é colocado o líquido isolante. As perdas dielétricas indicam a presença de compostos polares ou polarizáveis sob ação de um campo magnético, bem como partículas no líquido isolante provenientes de contaminação ou degradação. É uma medida da qualidade do líquido e pode ser utilizada para seu acompanhamento em serviço. As perdas dielétricas são função da polaridade do fluído. O ascarel apresenta maiores perdas dielétricas, pois a molécula possui uma estrutura com polaridade resultante não nula. Esse fato deve ser considerado no projeto do equipamento. É costume representar por o ângulo formado pelo vetor I com o vetor U e por - ângulo de perdas dielétricas – o seu complementar. Para efeitos de tratamento analítico, pode-se decompor o vetor I segundo duas direções perpendiculares, dando origem ao vetor Ia, que representa a corrente ativa, em fase com a tensão aplicada, e ao vetor Ir, a corrente reativa, em quadratura.. O fator de potência de um óleo novo e em boas condições é de 0,05% ou menor, a 25°C. No óleo usado, o fator de potência até 0,5% a 25°C é considerado admissível, de 0,5% a 2% a 25°C , o óleo deve ser analisado detalhadamente para determinar as causas desta elevação. 35 Figura 7: Diagrama vetorial das correntes num condensador com perdas ( Fonte: [1] ) Designa-se por fator de dissipação dielétrica a tangente do ângulo de perdas dielétricas , que é igual à razão entre a potência ativa Pa dissipada no dielétrico e a potência reativa Pr posta em jogo: Esta grandeza é uma característica intensiva do material dielétrico utilizado, sendo portanto independente das suas dimensões. Indica a presença de compostos polares ou polarizáveis, como a água, bem como partículas no líquido isolante provenientes de contaminação ou degradação, como carbono e outras partículas estranhas ao mesmo. É uma medida da qualidade do líquido e pode ser utilizada para acompanhamento do mesmo em serviço. É costume definir-se ainda o fator de potência como sendo a razão entre a energia ativa dissipada do condensador – no modelo apresentado concentrada na resistência R – e a energia total (ativa e reativa) fornecida ao condensador – produto da tensão eficaz aplicada pela corrente eficaz total resultante. Facilmente se demonstra que esse fator é expresso por sen (=cos ). r a r a I I P Ptg (1.8) 36 Como para um bom isolante o ângulo é pequeno, o fator de potência é praticamente igual ao fator de dissipação dielétrica. Percebe-se pois que o fator de dissipação dielétrica de um material, correntemente designado por tg , é uma medida de qualidade do dielétrico: quanto mais baixo for, mais ele se aproxima da condição de dielétrico ideal e menores são as perdas. Num óleo isolante as perdas dielétricas são determinadas essencialmente por fenômenos de condução e polarização. Com efeito, em qualquer dielétrico, exceto o vácuo perfeito, há deslocamento de cargas elétricas quando a ele se aplica um campo elétrico constante. A carga deslocada pode cobrir apenas um pequena distância, fenômeno conhecido por polarização, ou pode atravessar completamente o material, constituindo assim a condução. A condução nos dielétricos líquidos é em princípio determinada pela presença de três classes de partículas: a) alguns elétrons livres, libertados, por exemplo,
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