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Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da __ª Vara Criminal do Foro Central da Comarca do Município de Astorga Estado do Paraná. Autor: Ministério Público Réu: Jason Buton Autos n.º _______ JASON BUTON, já devidamente qualificado nos autos da AÇÃO PENAL em epígrafe, que o Ministério Publico lhes move, onde foi condenado como incurso na prática do crime tipificado no art. 155, parágrafo 4, incisos I e IV e art. 244-B , vem respeitosamente à presença de Vossa Excelência através de seu procurador devidamente constituído (procuração anexo fl.__), apresentar, dentro do prazo legal, na forma do art. 396-A, inconformado com a r. sentença de fls.__/__, interpor a presente APELAÇÃO Com fundamento no art. 593, I do Código do Processo Penal. Requer que, após o recebimento desta, com as razões inclusas e cumprimento das formalidades legais, sejam os autos encaminhados ao Egrégio tribunal de Justiça, onde serão processados e provido o presente recurso. Termos em que, Pede Deferimento. Astorga, 12 de maio de 2017. _____________________________ Advogados OAB/PR EGRÉGIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PARANÁ Apelante: JASON BUTON Apelado: MINISTÉRIO PÚBLICO DO MUNICÍPIO DE ASTORGA DO ESTADO DO PARANÁ Origem: VARA CRIMINAL DA COMARCA DE ASTORGA. Autos nº: ________ RAZÕES DE APELAÇÃO Eméritos julgadores: O apelante foi denunciado pela suposta prática dos delitos tipificados no artigo 155, parágrafo 4, incisos I e IV do Código Penal ( Furto Qualificado) e no artigo 244-B lei 8069 (corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la. A denúncia foi oferecida pelo Ministério Público em 15 de maio de 2012. Após a apresentação de resposta à acusação, o magistrado determinou a realização de audiência de instrução e julgamento, sendo que após, concedeu ao Ministério Público e à Defesa constituída, o prazo de 05(cinco) dias para o oferecimento de memoriais. Não permitindo contudo, a oitiv a de uma testemunha de defesa arrolada na resposta inicial. Acolhida a denúncia e aplicado, indevidamente, o rito sumário, como se demonstrará adiante, fora encerrada a instrução probatória e apresentadas as alegações finais, e em 04 de maio de 2017, fora proferida a sentença condenatória sendo imputado ao apelante as infrações supracitadas, condenando-o nos termos que seguem: a) artigo 155, parágrafo 4, incisos I e IV do Código Penal: pena privativa de liberdade de 3 (três) anos de reclusão, cumulada com 15 (quinze) dias-multa, no valor de 1/30 do salário mínimo cada dia; b) art. 244-B, da Lei n. 8.069/1990: pena privativa de liberdade de 1 (um) ano e 6 (seis) meses de reclusão; as penas privativas de liberdade deveriam ser cumpridas em regime semiaberto, pelo fato de a soma das penas ultrapassar 4 (quatro) anos e serem os delitos apenados com reclusão. Todavia, deve ser reformada a r. Sentença apelada, em conformidade com o exposto nos itens a seguir. DAS PRELIMINARES I- DA PRESCRIÇÃO DA PENA MÁXIMA EM ABSTRATO: Verifica-se, preliminarmente, que pelo crime de corrupção de menores, previsto no art. 244-B, da Lei n. 8.069/1990, que o apelante está sendo acusado, tem como pena máxima de 4 anos, a saber: “Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009). Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. (Incluído pela Lei nº 12.015, de 2009)” No caso em tela, o apelante foi penalizado em 1 ano e 6 meses de reclusão, a prescrição caberá na regra do inciso IV do Art 109 do Código Penal, a saber: Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1º do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (...) V – em 4 (quatro) anos, se o máximo da pena é igual a 1(um) ano ou, sendo superior , não excede a 2 (dois); Logo, o último marco interruptivo do prazo prescricional ocorreu em 15 de maio de 2012, data do recebimento da denúncia. Desde então, passaram-se mais de 04 anos e não havia sido proferida a sentença condenatória Art. 107 - Extingue-se a punibilidade: IV - pela prescrição, decadência ou perempção; Nesse sentido, seguem excertos do entendimento da Legislação direta Inciso V do Artigo 109 do Decreto Lei nº 2.848 de 07 de Dezembro de 1940: “Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1o do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao crime, verificando-se: (Redação dada pela Lei nº 12.234, de 2010). (...) V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a dois;” A jusrisprudência, por sua vez: “TJ-BA - Apelação APL 00028528620058050137 BA 0002852- 86.2005.8.05.0137 (TJ-BA) Data de publicação: 17/11/2012 Ementa: PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO PUNITIVA. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO INTERCORRENTE. DATA DO RECEBIMENTO DA DENUNCIA 03.10.2005 (FLS. 24), SENTENÇA PROLATADA EM 28.04.2010. TRANSCURSO DE MAIS DE 04 (QUATRO) ANOS. PRAZO PRESCRICIONAL. QUATRO ANOS. ARTIGO 109 , INCISO V DO CP . Transcorridos mais de 04 (Quatro) anos entre o recebimento da deúncia e a prolação da sentença, impõe-se, de fato, o reconhecimento da prescrição e, consequentemente, a declaração da extinção da punibilidade do Apelante, nos moldes do art. 107 , inciso IV , c/c art. 109 , inciso V , todos do Código Penal . ACOLHER A PRELIMINAR DE PRESCRIÇÃO PARA EXTINGUIR A PUNIBILIDADE DO APELANTE, NOS TERMOS DO ARTIGO 107 , INCISO IV DO CP . TJ-SP - Apelação APL 00275334420048260405 SP 0027533- 44.2004.8.26.0405 (TJ-SP) Data de publicação: 14/10/2015 Ementa: Apelação – Furto qualificado em continuidade delitiva – Condenação à pena de 02 anos e 04 meses de reclusão – Prescrição – Reconhecimento de ofício – Trânsito em julgado para a acusação – Afastado o acréscimo referente à continuidade delitiva – Prazos prescricionais de quatro anos – Artigo 109, inciso V, do CP – Lapso ultrapassado entre a data do recebimento da denúncia e da publicação da sentença – Extingue-se a punibilidade do réu, nos termos do artigo 107, inciso IV, do Código Penal, prejudicado o exame do mérito recursal.” Diante disso, considerando o interregno prazo prescricional de 04 anos, requer preliminarmente a extinção da punibilidade com base na prescrição da pretensão punitiva do Estado. II -DO CERCEAMENTO DA TESTEMUNHA DA DEFESA ARROLADA: Observa-se ainda, que após a apresentação da resposta a acusação o d. Magistrado não permitiu a oitiva de uma testemunha arrolada previamente pela defesa. De acordo com a previsão do artigo 564, III, h, do Código de Processo Penal, in verbis, ocorre nulidade se houver falta de intimação das testemunhas arroladas: “Art. 564 CPP. A nulidade ocorrerá nos seguintes casos: III - por falta das fórmulas ou dos termos seguintes: h) a intimação das testemunhas arroladas no libelo e na contrariedade, nos termos estabelecidos pela lei;” Ainda nesse sentido a jurisprudência versa: “APELAÇÃO CRIMINAL. NULIDADE ABSOLUTA POR FALTA DE INTIMAÇÃO DE TESTEMUNHA ARROLADA PELA DEFESA. AUSÊNCIA DE INDEFERIMENTO, SUBSTITUIÇÃO OU DISPENSA. CERCEAMENTO DE DEFESA. APELO CONCEDIDO. I -Tratando-se de falta de intimação de testemunha previamente requerida pela parte, sem qualquer motivação, dá-se provimento ao recurso para anular o processo a partir de tal ato. Vício que ofende o princípio constitucional do devido processo legal e da ampla defesa. II - Recurso conhecido e provido parcialmente à unanimidade. (TJ- MA - APR: 259932001 MA, Relator: NELMA SARNEY COSTA, Data de Julgamento: 01/04/2002, BURITI).” No caso em comento, há de se levar em consideração do peso testemunhal , objetivando comprovar fatos importantes e imprescindíveis para o deslinde do processo. Tem-se, desta forma, comprovada a nulidade pela falta de intimação da referida testemunha. DO MÉRITO I. DA AUSÊNCIA DAS QUALIFICADORAS E DA DESQUALIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES Caso restem ultrapassadas as preliminares supra arguidas, o que não se espera, pelo princípio da eventualidade, passa a análise de mérito. I.i) AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA. Rompimento de obstáculo: Prevê o art. 155, § 4º, inciso I, do CP que: “Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: [...] § 4º - A pena é de reclusão de dois a oito anos, e multa, se o crime é cometido: I - com destruição ou rompimento de obstáculo à subtração da coisa;” Ainda, sobre a importância da realização de prova pericial, dispõem os artigos 158, 167 e 171 do CPP, in verbis: “Art. 158 CPP. Quando a infração deixar vestígios, será indispensável o exame de corpo de delito, direto ou indireto, não podendo supri-lo a confissão do acusado. Art. 167 CPP. Não sendo possível o exame de corpo de delito, por haverem desaparecido os vestígios, a prova testemunhal poderá suprir-lhe a falta. Art. 171 CPP. Nos crimes cometidos com destruição ou rompimento de obstáculo a subtração da coisa, ou por meio de escalada, os peritos, além de descrever os vestígios, indicarão com que instrumentos, por que meios e em que época presumem ter sido o fato praticado. Dessa forma, para a caracterização da qualificadora em questão, segundo a doutrina, deve haver dano concreto do obstáculo, o qual deveria ser comprovado através de um laudo pericial. Ressalta-se ainda, que não foi juntado aos autos, o Auto de Levantamento de Local de Delito, documento que comprovaria a devida destruição do obstáculo. E neste caso é inviável reconhecer com segurança a configuração a qualificadora, visto que falta o necessário laudo pericial, tudo a atender o regramento processual penal vigente. Veja-se o entendimento jurisprudencial: “APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO QUALIFICADO - TENTATIVA - ARTIGO 155, § 4º, INC. IV, C/C ARTIGO 14, INC. II, DO CP – [...] PERGUNTAS FORMULADAS POR ESCRITO - PRINCÍPIO DA AMPLA DEFESA RESPEITADO - QUALIFICADORA PELO ROMPIMENTO OU DESTRUIÇÃO DE OBSTÁCULO NÃO COMPROVADA - DESCLASSIFICAÇÃO PARA FURTO SIMPLES E RESPECTIVO REDIMENSIONAMENTO DA PENA - SENTENÇA REFORMADANESTE PONTO [...] (TJ-PR - ACR: 4800982 PR 0480098-2, Relator: Edvino Bochnia, Data de Julgamento: 03/09/2009, 3ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 230) APELAÇÃO CRIME. FURTO QUALIFICADO. ROMPIMENTO DE OBSTÁCULO. IMPRESCINDIBILIDADE DE PERÍCIA. AFASTAMENTO DA QUALIFICADORA. [...]. (TJ-PR - APL: 13692772 PR 1369277-2 (Acórdão), Relator: Luiz Taro Oyama, Data de Julgamento: 12/11/2015, 4ª Câmara Criminal, Data de Publicação: DJ: 1708 11/12/2015).” O Ministério Público pleiteia o reconhecimento da qualificadora do rompimento de obstáculo à subtração da coisa, já que o automóvel teria sido arrombado.. Contudo, embora a acusação insista no reconhecimento do delito qualificado, percebe-se que não há perícia no veículo, logo, não há provas do emprego de destruição de obstáculo, o que macula a correta materialidade da qualificadora, requer a desqualificação para o crime de furto simples (art. 155, caput, do Código Penal). Portanto, deve ser afastada qualificadora do rompimento de obstáculo. I.ii) DO CONCURSO DE PESSOAS: Manifesta-se também o apelante pelo afastamento da qualificadora do concurso de pessoas diante da falta de vínculo subjetivo entre o apelante e o outro acusado. Em depoimento o adolescente A.B.C. foi ouvido , tendo informado que já havia praticado diversos furtos e desconhecia o apelante. Ou seja, de per si o menor confessou o ato infracional e eximiu o apelante de qualquer culpa ou participação no evento do furto, desqualificando a pena do inc. IV do art. 155, § 4º. Na perspectiva doutrinária, Nelson Hungria elucida a questão, quando enfatiza ser “[...] indispensável que haja uma consciente combinação de vontades na ação criminosa, para caracterizar a causa especial de aumento de pena” Ainda, nesse viés, a jurisprudência brasileira confirma esse entendimento: “APELAÇÃO CRIMINAL - FURTO QUALIFICADO [...] A AUSÊNCIA DE DOLO DE UM DOS RÉUS DESCARACTERIZA O LIAME SUBJETIVO, INDISPENSÁVEL PARA A CONFIGURAÇÃO DO CONCURSO DE PESSOAS E PARA CONDENAÇÃO PELO CRIME DE FURTO QUALIFICADO. ASSIM, O DELITO DE FURTO QUALIFICADO PELO CONCURSO DE PESSOAS (ART. 155, § 2º, IV, CP) DEVE SER DESQUALIFICADO PARA O DELITO DE FURTO SIMPLES (ART. 155, CAPUT, CP). - RECURSO PROVIDO, SEM EXTENSÃO DOS SEUS EFEITOS AO CORRÉU NÃO APELANTE. (TJ-MG - APR: 10427120005470001 MG, Relator: Alberto Deodato Neto, Data de Julgamento: 15/04/2014, Câmaras Criminais / 1ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 25/04/2014).” Por conseguinte, pugna pela descaracterização da qualificadora de concurso de pessoas, e consequentemente a desqualificação para o crime de furto simples (art. 155, caput, do Código Penal). I.iii) DA CORRUPÇÃO DE MENORES: Embora resta descaracterizado o previsto no inc. IV do art 155, §4º, do CP, não tendo razão de prosperar a condenação ao apelante pela prática do crime previsto no art.244-B da Lei 8.069/90, in verbis: “Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou induzindo-o a praticá-la: Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos”. Porém, impende observar que o apelante não participou da conduta delitiva, ou seja, não presenciou o cometimento de qualquer conduta, seja ativa ou passivamente. Pois, como já supra mencionado, denota-se dos autos que, não há indícios e muito menos provas que caracterizem o crime em questão. Ao contrário, o próprio menor em seu depoimento afirma desconhecer a pessoa do apelante. Restando comprovado, portanto, que não houve qualquer tipo de facilitação ou corrupção do menor. Nesse sentido, veja-se um excerto do entendimento jurisprudencial pátrio: “APELAÇÃO CRIMINAL - CORRUPÇÃO DE MENORES - CRIME NÃO CARACTERIZADO - AUSÊNCIA DE PROVA DA CORRUPÇÃO OU DA FACILITAÇÃO DA CORRUPÇÃO DO MENOR - ABSOLVIÇÃO QUE SE IMPÕE – [...]. Para que se caracterize o delito de corrupção de menores, não basta a simples prática do crime em companhia de menor inimputável, sendo imprescindível que haja prova da atuação concreta do acusado no sentido de quebrar a resistência do jovem ou adolescente, para corrompê-lo ou facilitar-lhe a corrupção, sem o que a infração penal não se configura. [...] (TJ- MG - APR: 10433110047241001 MG, Relator: Paulo Cézar Dias, Data de Julgamento: 22/01/2013, Câmaras Criminais Isoladas / 3ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 29/01/2013).” Por conseguinte, diante da ausência de provas do crime de corrupção de menores, a absolvição é medida que se impõe. Ainda, importa ressaltarque o objeto material do crime de corrupção de menores previsto no artigo 244-B, da Lei 8.069/90, não é qualquer menor de dezoito anos. Pois, a lei preceitua dois núcleos verbais delitivos, quais sejam, corromper ou facilitar a corrupção. Deste modo, além do sujeito passivo ser menor de 18 anos, seria necessário que este ainda não estivesse corrompido, ou, ainda que corrompido, que a conduta do agente corruptor seja capaz de corrompê-lo ainda mais, na escala ascendente da corrupção. Caso contrário, sendo o menor já corrompido, teremos a figura de crime impossível, por absoluta impropriedade do objeto de acordo com o art. 17 do Código Penal. A jurisprudência pátria também entende desse modo, senão vejamos: “EMENTA: ROUBO BIQUALIFICADO TENTADO -CORRUPÇÃO DE MENORES - INOCORRÊNCIA- MAUS ANTECEDENTES - INQUÉRITOS E AÇÕES EM ANDAMENTO - EXACERBAÇÃO DA PENA BASE E REGIME PRISIONAL - INADMISSIBILIDADE - QUALIFICADORAS - PERCENTUAL MÍNIMO – POSSIBILIDADE. Sendo o crime de corrupção de menores de natureza material, exige para a sua configuração, que o agente pratique uma das condutas descritas no tipo - corromper ou facilitar a corrupção - não sendo suficiente para caracterizá-lo o fato de haver praticado o crime com o inimputável, já que é de rigor a prova do resultado, a qual não pode ser presumida, pois o Direito Penal repudia a responsabilidade objetiva. De acordo com o princípio constitucional da não-culpabilidade (art. 5.º, LVII/CF), inquéritos e ações em andamento, por si só, não autorizam a exacerbação da pena-base ou o regime prisional a título de maus antecedentes, pois somente a coisa julgada autoriza juízo desfavorável contra o réu. Ainda que no roubo ocorram duas majorantes obrigatórias, na conformidade do previsto no parágrafo único, do art. 68, do CP, o acréscimo deve limitar-se ao percentual mínimo, reservando-se o percentual máximo para os crimes cometidos com armamentos altamente vulnerantes e grande número de agentes. Recurso parcialmente provido. (grifo nosso) (TJ/MG - APELAÇÃO CRIMINAL Nº 1.0471.05.045464- 7/001 – Rel. Des. ANTONIO ARMANDO DOS ANJOS)” Verifica-se que o menor confessou já ter se envolvido anteriormente em vários outros delitos, ou seja, já tinha participado de condutas típicas anteriormente ao fato. Portanto, não há que se falar que o acusado promoveu ou facilitou a corrupção do menor envolvido, haja vista que o menor era reincidente quando foi apreendido, logo, trata-se de crime impossível, descaracterizando a pena auferida pelo inc IV do CP. II. DESCLASSIFICAÇÃO DE FURTO PARA RECEPTAÇÃO CULPOSA. SUBSIDIARIAMENTE, RECEPTAÇÃO DOLOSA. Caso a tese de absolvição acima seja desacolhida, deve ser levantada uma tese subsidiária, eis que se entende que o fato jamais pode ser considerado furto, diante da total falta de provas. Admitindo-se que a posse dos bens é capaz de demonstrar a autoria delitiva, é preciso discutir a que infração essa ação corresponde. Isso porque entende-se que, na mais dramática das hipóteses, caberia a responsabilização por receptação, conforme previsto no art. 180 do CP: “Art. 180 - Adquirir, receber, transportar, conduzir ou ocultar, em proveito próprio ou alheio, coisa que sabe ser produto de crime, ou influir para que terceiro, de boa-fé, a adquira, receba ou oculte: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)” Considerando que alguns bens foram encontrados com o acusado e que não há provas suficientes de que ele foi o autor da subtração, é viável a condenação por receptação. Jamais por furto. Diante disso, requer-se a desclassificação de furto qualificado para receptação culposa, eis que se entende não haver prova da ciência da origem criminosa. Subsidiariamente, caso se entenda que o elemento subjetivo é dolo, requer-se a desclassificação para receptação simples, conforme previsto no § 3º do art. 180 do CP: (…) “§ 3º - Adquirir ou receber coisa que, por sua natureza ou pela desproporção entre o valor e o preço, ou pela condição de quem a oferece, deve presumir-se obtida por meio criminoso: (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996)” Pena - detenção, de um mês a um ano, ou multa, ou ambas as penas. (Redação dada pela Lei nº 9.426, de 1996) (...) § 5º - Na hipótese do § 3º, se o criminoso é primário, pode o juiz, tendo em consideração as circunstâncias, deixar de aplicar a pena. “ IIII. DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO: Sendo as teses anteriores acatadas, o apelante faz jus, conforme prevê o art. 383, § 1º do CPP, o art. 89 da Lei 9.099/91, e também a Súmula 337 do STJ, in verbis, à suspensão condicional do processo. “Art. 155 CP - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.” Art. 383 CPP. O juiz, sem modificar a descrição do fato contida na denúncia ou queixa, poderá atribuir-lhe definição jurídica diversa, ainda que, em consequência, tenha de aplicar pena mais grave. § 1º Se, em consequência de definição jurídica diversa, houver possibilidade de proposta de suspensão condicional do processo, o juiz procederá de acordo com o disposto na lei. Súmula 333 STJ . É cabível a suspensão condicional do processo na desclassificação do crime e na procedência parcial da pretensão punitiva. Nesse sentido: “APELAÇÃO - FURTO SIMPLES [...] - OBSERVÂNCIA DO ARTIGO 383, DO CPP E DO ENUNCIADO DE SÚMULA 337, DO STJ - NECESSIDADE - REMESSA DOS AUTOS À INSTÂNCIA DE ORIGEM - RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE. – [...] - Condenado o acusado em segunda instância por crime menos grave do que imputado na denúncia, nos termos do art. 383, do CPP, observa-se a possibilidade de suspensão condicional do processo, se preenchidos os requisitos legais (súmula 337, do STJ), o que enseja o retorno dos autos à Comarca de origem a fim de se oportunizar ao Ministério Público a possibilidade de oferecimento da proposta inerente, não havendo que se falar, neste momento, em fixação de pena. - Recurso provido parcialmente. (TJ-MG - APR: 10074130003903001 MG, Relator: Agostinho Gomes de Azevedo, Data de Julgamento: 22/05/2014, Câmaras Criminais / 7ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 30/05/2014). [...] ART. 383, § 1º. PROCEDÊNCIA PARCIAL DA DENÚNCIA. LEI 9.099/95. ART. 89. SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO. SÚMULA 337 - STJ. Denúncia que atribuiu a prática de mais de um crime, mas a sentença de parcial procedência condenou por apenas um, com pena mínima de um ano. Excesso de acusação. Incidência da Súmula 337 do Superior Tribunal de Justiça, e do art. 383, § 1º, do Código de Processo Penal. Em caso de desclassificação, ou em caso de concurso de crimes, sendo o remanescente com pena mínimo igual ou inferior a um ano, antes da condenação deve ser examinada a possibilidade da suspensão condicional do processo. Sentença desconstituída, em parte. APELO PARCIALMENTE PROVIDO. POR MAIORIA. (TJ-RS - ACR: 70060296076 RS, Relator: Ivan Leomar Bruxel, Data de Julgamento: 16/10/2014, Quarta Câmara Criminal, Data de Publicação: Diário da Justiça do dia 27/10/2014).” Portanto, requer, havendo a desclassificação do crime, na qual a nova definição permite a suspensão, que haja a remessa dos autos para o juízo de primeiro grau, a fim de que, com a devida intimação do representante do Ministério Público, ofereça a suspensão condicional do processo ao apelante. Por fim, mediante todo o exposto acima, o fato dos objetos terem sido encontradocom o apelante, não é capaz de assegurar que o mesmo seja autor desses dois furtos. A razão é muito simples: é corriqueiro que autores de furto vendam os objetos subtraídos a terceiros de boa-fé. Não é razoável admitir como certo que o apelante subtraiu os bens e resolveu ficar com eles. No mínimo, paira dúvida se o apelante não adquiriu esses bens de alguém. Importante destacar que há apenas ilações frágeis a sustentar a versão acusatória, visto que o Ministério Público não logrou angariar provas robustas de autoria. De fato, contudo, essa circunstância que dificulta a colheita de provas não pode ter a sua consequência pesando sobre o acusado. Ao contrário, se, por qualquer motivo, a acusação não trouxe aos autos os elementos confiáveis e íntegros a fundamentar a acusação, a única saída viável no nosso sistema processual penal é a absolvição. Diante de tudo isso, não há como admitir que o Jason Button participou das subtrações. Portanto, deve ser o pedido julgado IMPROCEDENTE, absolvendo-se o réu, nos termos do artigo 386, inciso V ou VII, do Código de Processo Penal. IV. DA DOSIMETRIA DA PENA a) Da pena-base e do concurso de crimes, Na remota hipótese de o acusado não ser absolvido, deve ser aplicada a pena-base no mínimo legal, uma vez que todas as circunstâncias judiciais (art. 59 do CP) lhe são favoráveis. “Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade do agente, aos motivos, às circunstâncias e consequências do crime, bem como ao comportamento da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) I - as penas aplicáveis dentre as cominadas; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984); II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos; (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984); III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984); IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie de pena, se cabível. (Incluído pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) b) Do regime inicial Se condenado, o que se admite apenas a título argumentativo, terá direito à fixação de regime aberto desde o início do cumprimento da pena, considerando o disposto no artigo 33, §2, c, do Código Penal. “Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi- aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) § 2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984) (...) c) o condenado não reincidente, cuja pena seja igual ou inferior a 4 (quatro) anos, poderá, desde o início, cumpri-la em regime aberto.” c) Da conversão da pena privativa de liberdade em restritiva de direitos. Pois, na remota possibilidade de condenação, deve a pena privativa de liberdade eventualmente aplicada ser substituída por restritiva de direitos, ante o inegável preenchimento dos requisitos do artigo 44 do Código Penal: Art. 44. As penas restritivas de direitos são autônomas e substituem as privativas de liberdade, quando: (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) I - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e o crime não for cometido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a pena aplicada, se o crime for culposo;(Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) II - o réu não for reincidente em crime doloso; (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) III - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e a personalidade do condenado, bem como os motivos e as circunstâncias indicarem que essa substituição seja suficiente. (Redação dada pela Lei nº 9.714, de 1998) DO PEDIDO PELO EXPOSTO, requer o apelante seja reformada a decisão para: a.) preliminarmente, seja reconhecida a extinção da punibilidade com base na prescrição da pretensão punitiva do Estado, nos termos do art. 107, IV, ou do art. 109. Inciso V, ambos do CP; b.) reconhecer a prescrição retroativa pelo decurso do prazo, nos termos do artigo 109, V do CP; c.) declarar a nulidade, pela falta de intimação da testemunha previamente arrolada, com base no art. 564, III, h, do CPP; d.) caso sejam as preliminares improvidas (o que não se acredita), no mérito seja reformada a sentença para reconhecer a não configuração da destruição de obstáculo e do concurso de pessoas, e consequentemente desclassificar a conduta típica para furto simples; e.) absolver o apelante, considerando os argumentos carreados e a absoluta falta de provas para a caracterização do crime de corrupção de menores, conforme previsto no art. 17 do CP. f.) a DESCLASSIFICAÇÃO da imputação de furto qualificado para a de receptação culposa e subsidiariamente para receptação simples; g.) que com a desclassificação do tipo penal com base no art. 17, remetendo os autos ao juízo de primeiro grau, com o objetivo de se possibilitar o oferecimento da suspensão condicional do processo. h) Em caso de eventual condenação, o que se ventila por mera argumentação e, ainda, por apego aos princípios da oportunidade e da ampla defesa, pleiteia-se: h.1) a fixação da pena no mínimo legal, bem como o afastamento de furto qualificado; h.2. a fixação do regime aberto para início de cumprimento de pena; h.3. a substituição da pena privativa de liberdade por restritivas de direitos. Termos em que, Pede Deferimento. Astorga, 12 de Maio de 2017. _______________________ Advogados OAB/PR “TJ-BA - Apelação APL 00028528620058050137 BA 0002852-86.2005.8.05.0137 (TJ-BA) TJ-SP - Apelação APL 00275334420048260405 SP 0027533-44.2004.8.26.0405 (TJ-SP)
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