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ALEGAÇÕES FINAIS (Ausência de provas)

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EXCELENTÍSSIMO(A) SENHOR(A) DOUTOR(A) JUIZ(A) DA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE XXXXX – ESTADO DO XXXXX
Autos n.º XXXXX
XXXXX, já devidamente qualificado nos autos da ação penal que lhe move o Ministério Público do Estado do XXXXX, vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por intermédio de seu defensor dativo (XXXXX), com endereço profissional à XXXXX, apresentar
ALEGAÇÕES FINAIS
com fundamento no artigo 403, § 3º, do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de Direito a seguir expostas.
 
1. SÍNTESE FÁTICA E PROCESSUAL
O Réu foi preso em flagrante delito na data de XXXXX, conforme Auto de Prisão em Flagrante (XXXXX), por, em tese, ter cometido o delito previsto no artigo 155 do Código Penal (CP) e artigo 244-B do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Homologada a prisão em flagrante delito (XXXXX), esta fora convertida em prisão preventiva (XXXXX).
Em sequência, o Réu foi denunciado pelo Ministério Público na data de XXXXX (XXXXX) por ter, em tese, praticado a conduta descrita no artigo 155, §4º, incisos III e IV, do Código Penal e no artigo 244-B, da Lei n° 8.069/90, na forma do artigo 70 do Estatuto Repressivo, consistente no fato de:
1° FATO
XXXXX
2° FATO
XXXXX 
A denúncia foi recebida por este Juízo em XXXXX (XXXXX) e a resposta à acusação foi apresentada no dia XXXXX (XXXXX). 
No decorrer da instrução processual houve a inquirição da vítima (XXXXX) e de uma testemunha (XXXXX). Em seguida, o Réu foi interrogado (XXXXX).
Por fim, foi aberto prazo sucessivo para a apresentação de Alegações Finais por memoriais, em que o Ministério Público o fez no evento XXXXX.
Breve relato.
2. DO DIREITO
2.1. Da Ausência de Provas
Consubstancia-se dos autos que não existem preliminares a serem arguidas e que todas as provas admitidas em direito já foram produzidas. Passa-se a análise da materialidade e autoria dos delitos imputados ao Réu.
Em relação à materialidade do delito (artigo 155, §4º, incisos III e IV, do Código Penal e no artigo 244-B, da Lei n° 8.069/90, na forma do artigo 70 do Estatuto Repressivo), esta restou comprovada com a juntada do Auto de Prisão em Flagrante (XXXXX), Boletim de Ocorrência (XXXXX), Auto de Exibição e Apreensão (XXXXX), Auto de Entrega (XXXXX), Auto de Avaliação (XXXXX), bem como pela prova oral produzida nos autos (XXXXX).
No que diz respeito à autoria do delito, vejamos que a vítima XXXXX, quando ouvido em sede policial (XXXXX), afirmou que:
XXXXX. 
Ao ser ouvido em juízo (XXXXX), relatou que:
XXXXX.
Por sua vez, o Policial Militar XXXXX, quando ouvido em fase inquisitorial (XXXXX), declarou que:
XXXXX
Ao ser ouvido em juízo (XXXXX), relatou que: 
XXXXX
Verifica-se das declarações acima expostas que o Policial Militar XXXXX se resume em dizer que os envolvidos confessaram o crime, não dando maiores detalhes acerca de sua afirmação. Aliás, a referida afirmação é o único elemento que sustenta, ou ao menos tenta sustentar, a tese de acusação. 
Em que pese suas alegações, obviamente não se pode afirmar com a certeza necessária que o Réu confessou o crime, ou, ainda, em que circunstâncias essa suposta confissão fora feita, entre outros fatores. A mera afirmação de que os envolvidos confessaram o crime é insuficiente para que comprovar a autoria do mesmo.
Toda denúncia parte de uma presunção equivocada da autoria do Réu, calcada exclusivamente sobre um depoimento prestado pelo policial militar. 
Todavia, a doutrina e a jurisprudência possuem posicionamento firmado de que o agente policial, sem qualquer acusação a sua probidade, mas possui conflito de interesses inafastável, uma vez que participou ativamente das diligências que culminaram em sua prisão. Nesse sentido:
Por mais idôneo que seja o policial, por mais honesto e correto, se participou da diligência, servindo de testemunha, no fundo está procurando legitimar a sua própria conduta, o que juridicamente não é admissível. A legitimidade de tais depoimentos surge, pois, com a corroboração por testemunhas estranhas aos quadros policiais (Apelação n.º 135.747, TACrim-SP Rel. CHIARADIA NETTO)
Apelação. Tráfico de drogas. Contradição no depoimento policial. Absolvição. 1. Os elementos de informações produzidos na fase de inquérito policial e não confirmados perante a autoridade judicial (depoimento das testemunhas da acusação), não podem ser utilizados para fundamentar uma condenação, sendo a absolvição única solução a ser implementada. 2. Apelação conhecida e improvida. (TJ-AM 02549835720128040001 AM 0254983-57.2012.8.04.0001, Relator: Elci Simões de Oliveira, Data de Julgamento: 24/09/2017, Segunda Câmara Criminal)
Além do mais, por outro lado, a força argumentativa das convicções dos magistrados deve ser extraída de provas submetidas ao contraditório e à ampla defesa, conforme bem exposto pelo Ministro do Superior Tribunal de Justiça Ribeiro Dantas, em sede de recurso especial (REsp 1.740.921). A liberdade do cidadão, o que se coloca em jogo no presente caso, só pode ser restringida após a superação do princípio da presunção de inocência, medida que se dá por meio de procedimento realizado sob o crivo do devido processo legal. Senão vejamos: 
AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. DIREITO PROCESSUAL PENAL. ART. 155 DO CPP. PRONÚNCIA FUNDADA EM ELEMENTOS EXCLUSIVAMENTE EXTRAJUDICIAIS. IMPOSSIBILIDADE. PRECEDENTES. AGRAVO IMPROVIDO. 1. Força argumentativa das convicções dos magistrados. Provas submetidas ao contraditório e à ampla defesa. No Estado Democrático de Direito, o mínimo flerte com decisões despóticas não é tolerado e a liberdade do cidadão só pode ser restringida após a superação do princípio da presunção de inocência, medida que se dá por meio de procedimento realizado sob o crivo do devido processo legal. 2. Art. 155 do CPP. Prova produzida extrajudicialmente. Elemento cognitivo destituído do devido processo legal, princípio garantidor das liberdades públicas e limitador do arbítrio estatal. 3. Art. 483, III, do CPP. Sistema da íntima convicção dos jurados. Sob o pálio de se dar máxima efetividade ao referido princípio, não se pode desprezar a prova judicial colhida na fase processual do sumário do Tribunal do Júri. 3.1. O juízo discricionário do Conselho de Sentença, uma das últimas etapas do referido procedimento, não apequena ou desmerece os elementos probatórios produzidos em âmbito processual, muito menos os equipara a prova inquisitorial. 3.2. Assentir com entendimento contrário implica considerar suficiente a existência de prova inquisitorial para submeter o réu ao Tribunal do Júri sem que se precisasse, em última análise, de nenhum elemento de prova a ser produzido judicialmente. Ou seja, significa inverter a ordem de relevância das fases da persecução penal, conferindo maior juridicidade a um procedimento administrativo realizado sem as garantias do devido processo legal em detrimento do processo penal, o qual é regido por princípios democráticos e por garantias fundamentais. 3.3. Opção legislativa. Procedimento escalonado. Diante da possibilidade da perda de um dos bens mais caros ao cidadão - a liberdade -, o Código de Processo Penal submeteu o início dos trabalhos do Tribunal do Júri a uma cognição judicial antecedente. Perfunctória, é verdade, mas munida de estrutura mínima a proteger o cidadão do arbítrio e do uso do aparelho repressor do Estado para satisfação da sanha popular por vingança cega, desproporcional e injusta. 4. Impossibilidade de se admitir a pronúncia de acusado com base em indícios derivados do inquérito policial. Precedentes. 5. Agravo regimental improvido. (STJ – AgRg no REsp: 1740921 GO 2018/0113754-7, Relator: Ministro RIBEIRO DANTAS, Data de Julgamento: 06/11/2018, T5 – QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 19/11/2018).
FURTO. PROVA POLICIAL. MERA RATIFICAÇÃO JUDICIAL DOS DITOS NA POLÍCIA. INADMISSIBILIDADE. CONDENAÇÃO EXIGE PLENA CONVICÇÃO. Valor algum se dá à prova oral coletada na fase inquisitorial. A mera ratificação judicial do que foi dito na Polícia não faz desaparecer a mácula da falta de garantias: com os ditamesdo devido processo legal é que deve ser coletada qualquer prova. Condenação exige convicção plena e não qualquer convicção da prova coletada no momento judicial. Deram provimento ao apelo defensivo, com extensão ao co-réu não-apelante (unânime). (TJRS – Ap. Crim. 70009730508 – 5ª Câmara Criminal – Rel. Amilton Bueno de Carvalho – j. em 03.11.2004).
FURTO. PROVA ORAL. POLICIAL. DESVALOR. ÁLIBI ACUSADO NÃO TEM ÔNUS PROBATÓRIO ALGUM. PROVA ORAL POLICIAL SE DESTINA A INSTRUMENTALIZAR A DENÚNCIA E NADA MAIS. Condenar alguém com base em prova inquisitorial é recuperar o estágio medieval do conhecimento jurídico. Acusado não tem ônus probatório algum. A carga alcança exclusivamente àquele que persegue. Negaram provimento ao apelo ministerial. (TJRS – Ap. Crim. 70009262163 – 5ª Câmara Criminal - Rel. Amilton Bueno de Carvalho – j. em 16.03.2005).
Assim, considerando a escassa prova, constata-se que inexiste elementos insuficientes a incriminar o Réu.
Em sequência, o Policial Militar XXXXX, ouvido em fase inquisitorial (XXXXX), declarou que:
XXXXX.
Já o adolescente XXXXX, quando ouvido em sede policial (XXXXX), relatou que: 
XXXXX.
Em consonância com as declarações de XXXXX, o adolescente XXXXX, quando ouvido em sede policial (XXXXX), relatou que:
XXXXX
Observa-se a verdade real dos fatos nas declarações dos adolescentes. De forma inequívoca e em concordância involuntária, eles confessaram ter praticado o crime de furto sem o auxílio ou conhecimento do réu XXXXX.
Por fim, o réu XXXXX, quando interrogado em sede policial (XXXXX), relatou que:
XXXXX
Quando em juízo (XXXXX), declarou que: 
XXXXX.
Assim, observa-se que, da análise do processo, é necessário o reconhecimento de que não há elementos probatórios suficientes para imputação do fato criminoso ao Réu. Os depoimentos nos autos trazem apenas indícios, mas não provas concretas que sejam capazes de ensejar condenação. 
Tanto em sede de interrogatório por autoridade policial, quanto em juízo, o Réu nega o crime que lhe foi atribuído, explicando de forma clara os motivos e condições de estar no local do flagrante conjuntamente com os adolescentes XXXXX e XXXXX, conforme demonstrado acima. O único elemento em contrário as alegações dos adolescentes e do Réu é a afirmação genérica do Policia Militar Ronaldo, que de nenhuma forma pode ser considerada como prova.
Conforme pode-se observar da Denúncia, a mesma foi totalmente embasada pelas declarações do Policia Militar XXXXX, sem qualquer prova robusta sobre a autoria do fato. Ocorre que no atual Estado Democrático de Direito, em especial em nosso sistema processual penal acusatório, cabe ao Ministério Público comprovar a real existência do delito e a relação direta com a sua autoria.
No Direito Penal, para que haja a condenação, é necessária a real comprovação da autoria e da materialidade do fato, conforme preceitua o CPP ao prever expressamente: 
Art. 386. O juiz absolverá o réu, mencionando a causa na parte dispositiva, desde que reconheça:
VII - não existir prova suficiente para a condenação. 
O que deve ocorrer no presente caso, pois não há elementos suficientes para comprovar a relação do Réu com os fatos narrados. Dessa forma, o processo deve ser resolvido em favor do acusado, conforme destaca Celso de Mello no seguinte precedente: 
"É sempre importante reiterar - na linha do magistério jurisprudencial que o Supremo Tribunal Federal consagrou na matéria - que nenhuma acusação penal se presume provada. Não compete, ao réu, demonstrar a sua inocência. Cabe ao contrário, ao Ministério Público, comprovar, de forma inequívoca, para além de qualquer dúvida razoável, a culpabilidade do acusado. Já não mais prevalecem em nosso sistema de direito positivo, a regra, que, em dado momento histórico do processo político brasileiro (Estado novo), criou, para o réu, com a falta de pudor que caracteriza os regimes autoritários, a obrigação de o acusado provar a sua própria inocência (...). Precedentes." (HC 83.947/AM, Rel. Min. Celso de Mello). 
Fato é que de forma leviana instaurou-se o presente processo, desprovido de provas cabais a demonstrar a gravidade do ato, consubstanciadas unicamente em indícios que maculam a finalidade da ação proposta. 
Com base nas declarações e provas documentais acostadas ao presente processo, é perfeitamente possível verificar a ausência de qualquer evidência que confirme as pretensões do Ministério Público. Afinal, não há provas que sustentem as alegações trazidas no processo, sequer indícios contundentes foram juntados à inicial. 
As declarações que instruíram o processo até o momento, sequer indicam a conduta específica do denunciado, devendo o presente ser imediatamente arquivado, com a aplicação imediata do in dubio pro reo, como destaca os precedentes sobre o tema:
APELAÇÃO CRIMINAL - VIAS DE FATO EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LEI MARIA DA PENHA - PROVAS INSUFICIENTES DO CONTEXTO FÁTICO - ABSOLVIÇÃO IMPOSTA - RECURSO PROVIDO. 1. Não havendo provas seguras do contexto fático em que ocorreu a desavença, ou mesmo se houve ou não agressões e se o réu agiu dolosamente, imperiosa é a sua absolvição, aplicando-se o princípio in dubio pro reo. 2. Recurso provido. (TJ-MG - Apelação Criminal 1.0194.16.001308-3/001, Relator(a): Des.(a) Alberto Deodato Neto, julgamento em 02/07/0019, publicação da súmula em 10/07/2019) 
APELAÇÃO CRIMINAL - VIAS DE FATO EM CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA - LEI MARIA DA PENHA - PROVAS INSUFICIENTES DO CONTEXTO FÁTICO - ABSOLVIÇÃO IMPOSTA - RECURSO PROVIDO. 1. Não havendo provas seguras do contexto fático em que ocorreu a desavença, ou mesmo se houve ou não agressões, imperiosa é a absolvição do réu, aplicando-se o princípio in dubio pro reo. 2. Recurso provido. (TJ-MG - Apelação Criminal 1.0024.14.098386-7/001, Relator(a): Des.(a) Luiz Carlos Gomes da Mata, julgamento em 13/06/2019, publicação da súmula em 19/06/2019)
Prova-Insuficiência-Meros indícios que não bastam para a condenação criminal - Autoria que deve ser concludente e estreme de dúvida-Absolvição decretada. Em matéria de condenação criminal, não bastam meros indícios. A prova da autoria deve ser concludente e estreme de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal. Não havendo provas suficientes a absolvição do réu deve prevalecer" (TJMT - 2o C. - Rec. em AP - j . 12.5.93 - Rei. Inácio Dias Lessa - RT 708/339).
A condenação exige certeza absoluta, fundada em dados objetivos indiscutíveis, o que não ocorre no caso em tela. Razão pela qual, mesmo com o recebimento da denúncia, no que data máxima vênia, discordamos, não há que imputar ao Réu a conduta denunciada, levando em consideração e devido respeito ao princípio constitucional do in dubio pro reo. 
Sobre o tema, o doutrinador Noberto Avena destaca: 
"Apenas diante de certeza quanto à responsabilização penal do acusado pelo fato praticado é que poderá operar-se a condenação. Havendo dúvidas, resolver-se-á esta em favor do acusado. Ao dispor que o juiz absolverá o réu quando não houver provas suficientes para a condenação, o art. 386, VII, do CPP agasalha, implicitamente, tal princípio. (Processo penal. 10ª ed. Editora Metodo, 2018.Versão ebook, 1.3.15) 
Em consonância, a jurisprudência expõe que:
Apelação. Tráfico de drogas. Contradição no depoimento policial. Absolvição. 1. Os elementos de informações produzidos na fase de inquérito policial e não confirmados perante a autoridade judicial (depoimento das testemunhas da acusação), não podem ser utilizados para fundamentar uma condenação, sendo a absolvição única solução a ser implementada. 2. Apelação conhecida e improvida. (TJ-AM 02549835720128040001 AM 0254983-57.2012.8.04.0001, Relator: Elci Simões de Oliveira, Data de Julgamento: 24/09/2017, Segunda Câmara Criminal)
Trata-se da devida materialização do princípio constitucional da presunção de inocência – art. 5º, inc. LVII, da Constituição Federal –, pela qual cabe ao Estado acusador apresentar prova cabal a sustentar sua denúncia, impondo-se ao magistrado fazer valer brocado outro, a saber:allegare sine probare et non allegare paria sunt – alegar e não provar é o mesmo que não alegar. 
Não sendo o conjunto probatório suficiente para afastar toda e qualquer dúvida quanto à responsabilidade criminal do acusado, imperativa a sentença absolutória. A prova da autoria deve ser objetiva e livre de dúvida, pois só a certeza autoriza a condenação no juízo criminal.
Não havendo provas suficientes, a absolvição do réu deve prevalecer, nos termos do artigo 386, incisos V e VII, do Código de Processo Penal.
3. DA DOSIMETRIA DA PENA
No caso de Vossa Excelência entender pela impossibilidade de absolvição, o que não se espera, passa-se a ter considerações acerca da dosimetria da pena. De acordo com o artigo 68 do Código Penal, a dosimetria da pena deve respeitar o procedimento trifásico, e, em caso de condenação, a defesa postula a aplicação da pena-base no piso legal.
3.1. Do Crime de Furto (artigo 155, §4º, incisos III e IV, do CP)
3.1.1. Da Fixação Da Pena
Acerca da primeira fase da dosimetria da pena, devem ser valoradas as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, objetivando-se o exame da culpabilidade, dos antecedentes, da conduta social, da personalidade do agente, dos motivos, das circunstâncias, das consequências do crime e, por fim, do comportamento da vítima.
Da análise dos elementos carreados aos autos, o único elemento desabonador é a circunstância do crime, uma vez que este fora pratico mediando concurso de pessoas e emprego de chave falsa.
Não obstante, tal elemento não pode ser a única razão para o agravamento da pena do agente. A pensa a ser fixada pelo Ilmo. Magistrado deve ser baseada em provas inequívocas, que analisem de forma estrita a conduta e personalidade do Réu.
Acerca da análise das circunstâncias judiciais, a jurisprudência segue o entendimento da defesa. Senão vejamos:
APELAÇÃO CRIMINAL – RECEPTAÇÃO DOLOSA – RECURSO DEFENSIVO – ALEGADA INÉPCIA DA INICIAL ACUSATÓRIA – INOCORRÊNCIA – PEÇA PROCESSUAL QUE PREENCHE TODOS OS REQUISITOS LEGAIS – PRELIMINAR REJEITADA – REQUERIDA A ABSOLVIÇÃO DIANTE DA INEXISTÊNCIA DE COMPROVAÇÃO DO DOLO DIRETO DO AGENTE – IMPOSSIBILIDADE – CIRCUNSTÂNCIAS QUE DEMONSTRAM A INEQUÍVOCA CIÊNCIA DO RÉU QUANTO À ORIGEM ESPÚRIA DOS OBJETOS – CONDENAÇÃO MANTIDA – VALORAÇÃO INIDÔNEA DAS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS – CULPABILIDADE, CONDUTA SOCIAL, PERSONALIDADE E MOTIVOS DO CRIME EQUIVOCADAMENTE SOPESADOS – PENA-BASE READEQUADA EM PATAMAR DIVERSO DO MÍNIMO EM RAZÃO DOS MAUS ANTECEDENTES DO RÉU – PLEITO PELO AFASTAMENTO DA INDENIZAÇÃO PELOS DANOS DECORRENTES DO ILÍCITO – CERCEAMENTO DE DEFESA – OCORRÊNCIA – RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. [...]. A valoração negativa das circunstancias judiciais elencadas no art. 59 do Código Penal para a exasperação da pena-base demanda fundamentação idônea para tanto. [...] (Ap 27419/2014, DRA. ANTÔNIA SIQUEIRA GONÇALVES RODRIGUES, SEGUNDA CÂMARA CRIMINAL, Julgado em 04/06/2014, Publicado no DJE 09/06/2014) (nosso grifo)
HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES COMETIDO SOB A ÉGIDE DA LEI6.368/1976. DOSIMETRIA. PENA-BASE. FIXAÇÃO ACIMA DO MÍNIMO LEGAL.CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS. MAUS ANTECEDENTES. AFASTAMENTO PELOTRIBUNAL IMPETRADO. FAVORABILIDADE DE TODAS. AUSÊNCIA DEJUSTIFICATIVA IDÔNEA PARA A IMPOSIÇÃO DE PENA SUPERIOR AO MÍNIMO.CONSTRANGIMENTO ILEGAL EVIDENCIADO. SANÇÃO REDIMENSIONADA. 1. Considerando que a única circunstância judicial tida como desfavorável ao paciente pelo juiz sentenciante - maus antecedentes-, foi afastada pela Corte impetrada, é de rigor a fixação da pena-base no seu patamar mínimo. 2. Não pode o Tribunal apontado como coator, em julgamento de recurso exclusivo da defesa, considerar como negativa circunstância judicial assim não reconhecida pelo sentenciante quando da dosimetria, sob pena de incidir em reformatio in pejus, e, consequentemente, em ilegalidade. [...] (STJ - HC: 154631 MG 2009/0229785-8, Relator: Ministro JORGE MUSSI, Data de Julgamento: 06/09/2011, T5 - QUINTA TURMA, Data de Publicação: DJe 13/09/2011) (nosso grifo)
Isto posto, verifica-se que, em que pese o único elemento desabonador, todas as outras circunstâncias são favoráveis ao Réu, razão pela qual a defesa pugna pela aplicação da pena-base no mínimo legal, nos termos do artigo 59, caput, do Código Penal.
3.1.2. Das Agravantes e das Atenuantes
Ultrapassada a primeira fase, e em concordância com a manifestação do Ministério Público, vê-se que não há circunstâncias agravantes presentes no caso em tela. Por outro lado, há a atenuante de menoridade a ser considerada. É de se observar que o Réu contava com menos de 21 (vinte e um) anos de idade à época dos fatos.
Com efeito, a certidão de antecedentes criminais (XXXXX) deixa consignado que o Réu nasceu na data de XXXXX. A peça acusatória, por sua vez, registra o fato como ocorrido na data de XXXXX (XXXXX). Da diferença entre as duas datas, observa-se que o Réu contava com 18 (dezoito) anos à época dos fatos.
Outrossim, o Código Penal é claro ao dispor que ter o agente menos de 21 (vinte e um) anos de idade à data do fato é circunstância que atenua a pena:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
Diante do exposto, é medida justa e de direito o reconhecimento da circunstância atenuante decorrente da menoridade do agente, nos termos do artigo 65, inciso I, do Código Penal.
3.1.3. Das Causas de Aumento e Diminuição de Pena
Finalmente, a Defesa, conforme exposto pelo Ministério Público, deixa de apresentar causas de diminuição de pena. Não obstante, também conforme exposto pelo Ministério Público, cabe salientar que há uma causa de aumento, qual seja, a presente no §1º do artigo 155 do Código Penal, uma vez que o crime foi praticado durante o repouso noturno.
3.1.4. Da Pena de Multa
A conduta praticada pelo Réu não foi caracterizada por quaisquer traços de violência ou grave ameaça à pessoa, sendo que, como já ressaltado no item anterior, as circunstâncias judiciais que permeiam o delito encontram-se dentro dos parâmetros da normalidade e, portanto, não são capazes de ocasionar o agravamento de eventual condenação imposta ao acusado.
Assim, é imperioso que a fixação da pena de multa se dê com base no valor mínimo previsto em lei e, também, no menor número de dias-multa possível, em conformidade com as previsões do art. 49, caput, e §1º, do CP.
Deve-se levar em conta, ainda, a situação econômica do acusado, que não disporia de recursos financeiros suficientes para promover o custeio de uma pena de multa de valor demasiado, impossibilitando-se, desse modo, o cumprimento de eventual condenação pelo réu.
O Superior Tribunal de Justiça, acerca de tal questão, posicionou-se:
A PENA DE MULTA DEVE SER FIXADA EM DUAS FASES. NA PRIMEIRA, FIXA-SE O NÚMERO DE DIAS-MULTA, CONSIDERANDO-SE AS CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS (ART. 59 DO CP). NA SEGUNDA, DETERMINA-SE O VALOR DE CADA DIA-MULTA, LEVANDO-SE EM CONTA A SITUAÇÃO ECONÔMICA DO RÉU. (STJ – 5ª Turma – HC 132.351/DF – Relator: Ministro Felix Fischer – DJe 05/10/2009)
AS DIRETRIZES DO ART. 59 DO CP DEVEM ORIENTAR TANTO A IMPOSIÇÃO DA PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE QUANTO A PENA DE MULTA. PRECEDENTE DESTA CORTE. SE A PENA-BASE DA REPRIMENDA CORPORAL FOI IMPOSTA NO MÍNIMO LEGAL, A PENA DE MULTA, POR SUA VEZ, NÃO PODE SER SUPERIOR AO MENOR PATAMAR PREVISTO NO ESTATUTO REPRESSOR. (STJ – 5ª Turma – HC 56.160/RS – Relator: Ministro Gilson Dipp – DJ 09/10/2006, p. 324 – Destaques nossos)
Diante disso, faz-se necessário que a fixação da pena de multa guarde relação estreita com a situação econômica do Réu e com o baixo grau de reprovabilidade da conduta do acusado que se configura no presente caso.
Conseguintemente, requer-se que a pena de multa seja fixada em 10 (dez) dias-multa e que cada dia-multa seja estabelecido no valor de um trigésimo do salário mínimo vigente à época dos fatos, nos moldes das disposições constantes no artigo 49, caput, e §1º, do Código Penal.
3.2. Do Crime de Corrupção de Menores(artigo 244-B da Lei n.º 8.069/90)
3.2.1. Da Fixação Da Pena
Acerca da primeira fase da dosimetria da pena, devem ser valoradas as circunstâncias judiciais previstas no art. 59 do Código Penal, objetivando-se o exame da culpabilidade, dos antecedentes, da conduta social, da personalidade do agente, dos motivos, das circunstâncias, das consequências do crime e, por fim, do comportamento da vítima.
Da análise das circunstâncias judiciais, verifica-se que todas são favoráveis ao acusado, não havendo elementos nos autos para que se possa fazer um juízo valorativo objetivo sobre a personalidade do acusado.
Isto posto, a defesa pugna pela aplicação da pena-base no mínimo legal, nos termos do artigo 59, caput, do Código Penal.
3.2.2. Das Agravantes e das Atenuantes
Ultrapassada a primeira fase, e em concordância com a manifestação do Ministério Público, vê-se que não há circunstâncias agravantes presentes no caso em tela. Por outro lado, há a atenuante de menoridade a ser considerada. É de se observar que o Réu contava com menos de 21 (vinte e um) anos de idade à época dos fatos.
Com efeito, a certidão de antecedentes criminais (XXXXX) deixa consignado que o Réu nasceu na data de XXXXX A peça acusatória, por sua vez, registra o fato como ocorrido na data de XXXXX (XXXXX). Da diferença entre as duas datas, observa-se que o Réu contava com 18 (dezoito) anos à época dos fatos.
Outrossim, o Código Penal é claro ao dispor que ter o agente menos de 21 (vinte e um) anos de idade à data do fato é circunstância que atenua a pena:
Art. 65 - São circunstâncias que sempre atenuam a pena:
I - ser o agente menor de 21 (vinte e um), na data do fato, ou maior de 70 (setenta) anos, na data da sentença;
Diante do exposto, é medida justa e de direito o reconhecimento da circunstância atenuante decorrente da menoridade do agente, nos termos do artigo 65, inciso I, do Código Penal.
3.2.3. Das Causas de Aumento e Diminuição de Pena
Finalmente, a Defesa, da mesma forma que o Ministério Público, deixa de apresentar causas de aumento e diminuição de pena, consideradas para a dosimetria da pena em sua terceira fase, porquanto inexistentes no caso em debate.
3.3. Do Concurso de Crimes
Conforme descrito na peça acusatória, os crimes ora imputados ao Réu foram praticados em concurso formal. Assim, caso Vossa Excelência entenda pela condenação, o que não se espera, faz-se necessário a aplicação do disposto no artigo 70 do Código Penal. Senão vejamos:
Art. 70 - Quando o agente, mediante uma só ação ou omissão, pratica dois ou mais crimes, idênticos ou não, aplica-se-lhe a mais grave das penas cabíveis ou, se iguais, somente uma delas, mas aumentada, em qualquer caso, de um sexto até metade. As penas aplicam-se, entretanto, cumulativamente, se a ação ou omissão é dolosa e os crimes concorrentes resultam de desígnios autônomos, consoante o disposto no artigo anterior. 
Desta forma, pugna-se pela aplicação da pena mais grave – artigo 155, §4º, incisos III e IV, do CP –, aumentada em 1/6 (um sexto).
3.4. Do Regime Inicial de Cumprimento da Pena
Na remota hipótese de condenação, pugna-se para que o regime inicial da execução da pena seja o semi-aberto.
A determinação do regime inicial de cumprimento de pena privativa de liberdade depende de dois fatores: da quantidade da pena fixada e das condições penais do condenado. A esse respeito, O E. Supremo Tribunal Federal (STF) firmou jurisprudência, conforme expresso na Súmula n.º 718:
Súmula 718. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena aplicada.
Nesse sentido, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) dispõe, conforme Súmula 440, que:
Súmula 440. Fixada a pena-base no mínimo legal, é vedado o estabelecimento de regime prisional mais gravoso do que o cabível em razão da sanção imposta, com base apenas na gravidade abstrata do delito.
Ademais, a inteligência do artigo 33, §2º, alínea ‘b’, do Código Penal do igualmente indica a necessidade de ser aplicado o regime inicial menos gravoso.
 Art. 33 - A pena de reclusão deve ser cumprida em regime fechado, semi-aberto ou aberto. A de detenção, em regime semi-aberto, ou aberto, salvo necessidade de transferência a regime fechado. (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
§2º - As penas privativas de liberdade deverão ser executadas em forma progressiva, segundo o mérito do condenado, observados os seguintes critérios e ressalvadas as hipóteses de transferência a regime mais rigoroso: (Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
b) o condenado não reincidente, cuja pena seja superior a 4 (quatro) anos e não exceda a 8 (oito), poderá, desde o princípio, cumpri-la em regime semi-aberto;
Sendo assim, havendo condenação, é devida a fixação do regime semi-aberto para o cumprimento da pena, nos termos do artigo 33, §2º, alínea ‘b’, do Código Penal.
3.5. Da Substituição de Pena
Mais uma vez, caso o entendimento de Vossa Excelência seja o de cometimento do crime descrito no artigo 157, caput, do Código Penal, o que não se espera, vejamos que é incabível a substituição da pena, por força do disposto no inciso I do artigo 44 do CP.
3.6. Da Suspensão Condicional da Pena
Este instituto tem como finalidade evitar o recolhimento à prisão do condenado, devendo este observar certos requisitos e condições previamente fixadas. Segundo Júlio Fabbrini Mirabete e Renato N. Fabbrini, a Suspensão Condicional da Pena é forma de: 
“[...] reeducar o delinquente e conduzi–lo à sociedade como parte integrante daqueles que respeitam o direito de liberdade alheia, em seu mais amplo entendimento, que é o limite de outro direito. Toda vez que essa recuperação pode ser obtida, mesmo fora das grades de um cárcere, recomendam a lógica e a melhor política criminal a liberdade sob condições, obrigando - se o condenado ao cumprimento de determinadas exigências”. E completa o raciocínio dizendo que “trata- se de dar um crédito de confiança ao criminoso, estimulando – o à não reincidência no cometimento de delitos e, além disso, prevê - se uma medida profilática de saneamento, evitando - se que o indivíduo que resvalou para o crime fique no convívio de criminosos irrecuperáveis.”
A Suspensão Condicional da Pena tem seus requisitos previstos no artigo 77 do Código Penal, sendo estes:
Art. 77 - A execução da pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser suspensa, por 2 (dois) a 4 (quatro) anos, desde que:
I - o condenado não seja reincidente em crime doloso;
II - a culpabilidade, os antecedentes, a conduta social e personalidade do agente, bem como os motivos e as circunstâncias autorizem a concessão do benefício;
III - Não seja indicada ou cabível a substituição prevista no art. 44 deste Código.
Uma vez que a reprimenda a ser aplicada supera o patamar de 2 (dois) anos de provação e liberdade, também incabível a aplicação do instituto da Suspensão Condicional da Pena (SURSIS) ao Réu.
3.7. Da Possibilidade de Recorrer em Liberdade
É cediço que a busca pela ressocialização pretendida pelo Estado ao restringir a liberdade ambulatória do apenado não tem se revelado apto a cumprir tal intento. A notória agressão à dignidade da pessoa humana com manutenção de estabelecimentos prisionais superlotados se revela em uma realidade da qual o Estado não pode se furtar. 
A distorção do sistema carcerário tem se mostrado nítida na medida em que se consubstancia em mero depósito de pessoas, cujos comportamentos fatidicamente se tornam passíveis de piora, em que presídios se tornam verdadeiras escolas do crime.
Soma-se ao isso, o fato de o Réu, no presente caso, apenado no mínimo legal, se eventualmente encarcerado, tal medida mostrar-se-ia desproporcional, apta tão somente a corromper-lhe o mínimo da conduta socialmente aceita que ainda preserva.
Acerca do assunto, a jurisprudência assim tem entendido:
HABEAS CORPUS. TRAFICO PRIVILEGIADO E PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO. REGIME INICIAL SEMIABERTO. DIREITO DE RECORRER EM LIBERDADE.POSSIBILIDADE. MEDIDA DESPROPORCIONAL. CONSTRANGIMENTO ILEGAL DEMONSTRADO. ORDEM CONCEDIDA. Revela-se injustificável a manutenção do paciente em cárcere se fixara o do juiz sentenciante o regime semiaberto para o cumprimento inicial da pena, constituindo a custódia preventiva gravame maior que o próprio provimento final. (TJ-MG - HC: 10000130782873000 MG, Relator: Matheus Chaves Jardim, Data de Julgamento: 07/11/2013, Câmaras Criminais / 2ª CÂMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 18/11/2013). (Grifo nosso). 
Com base no princípio da presunção de inocência, previsto na nossa Constituição Federal em seu artigo 5º, inciso LVII, requer o Réu que tenha o direito de recorrer em liberdade, pois não estão presentes nenhum dos requisitos fundamentadores da prisão preventiva.
3.8. Da Detração Penal
Conforme o artigo 387, §2º, do Código de Processo Penal, a detração penal é compreendida como sendo o abatimento do tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro:
Art. 387. O juiz, ao proferir sentença condenatória:
§2º. O tempo de prisão provisória, de prisão administrativa ou de internação, no Brasil ou no estrangeiro, será computado para fins de determinação do regime inicial de pena privativa de liberdade.
Segundo o penalista Renato Brasileiro, o instituto da detração pode ser compreendido da seguinte forma:
[...] a detração consiste no desconto do tempo de prisão cautelar (ou de internação provisória) do tempo de prisão penal (ou de medida de segurança) imposto ao acusado em sentença condenatória (ou absolutória imprópria) transitada em julgado. A título de exemplo, se determinado acusado for condenado irrecorrivelmente pela prática de um crime de homicídio simples à pena de 6 (seis) anos de reclusão, se acaso tiver permanecido preso preventivamente durante 1 (um) ano, terá direito à detração, restando a ele, portanto, o cumprimento de mais 5 (cinco) a 10 anos de reclusão. (LIMA, Renato Brasileiro. Legislação Criminal especial comentada. 3.ed. Salvador: Juspodivm, 2015. P.86).
Isto posto, nos termos do artigo 42 do Código Penal, o Réu postula a aplicação do instituto da Detração, de maneira que todo o tempo de prisão provisória (no Brasil ou no exterior), de prisão administrativa ou de internação nos estabelecimentos mencionados no artigo 43, caput, do Código Penal, deve ser considerado para fins de aplicação de eventual pena privativa de liberdade.
4. DOS PEDIDOS
Diante do exposto, requer que se digne, Vossa Excelência, a acatar integralmente os argumentos desta peça, para o fim de:
No mérito, julgar IMPROCEDENTE a inicial acusatória, acolhendo o pedido de ABOLSVIÇÃO do Réu, nos termos do artigo 386, incisos V e VII, do Código de Processo Penal.
Subsidiariamente, caso Vossa Excelência entenda pela condenação, postula-se, conforme previamente fundamentado:
i. 	a fixação da pena em seu mínimo legal;
ii. 	o reconhecimento da atenuante que consta no artigo 65, inciso III, alínea ‘d’, do Código Penal;
iii. 	que o regime inicial de cumprimento da pena seja o semi-aberto;
iv. 	que a pena de multa seja fixada em 10 (dez) dias-multa e que cada dia-multa seja estabelecido no valor de 1/30 (um trigésimo) do salário mínimo vigente;
v. 	a possibilidade de apelar em liberdade, com a consequente expedição de alvará de soltura, tendo em vista que o Réu se encontra preso;
vi. 	a aplicação do instituto da detração, nos termos do artigo 42 do Código Penal;
vii. que sejam arbitrados honorários dativos para o advogado que esta subscreve, observada a respectiva Tabela de Honorários da Advocacia Dativa.
Nestes termos
Pede deferimento.
XXXXX, XXXXX.
XXXXX		 
XXXXX

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