Prévia do material em texto
CURSO TÉCNICO DE MEIO AMBIENTE DISCIPLINA DE ECOTURISMO APOSTILA I Prof. Laurindo Chaves Neto 2009 2 1. HISTÓRIA E CONCEITO DE ECOTURISMO 1.1. Introdução O turismo é uma atividade que tem crescido muito nas últimas décadas, tanto no Brasil quanto em diversas partes do mundo. A EMBRATUR (Instituto Brasileiro de Turismo) e o Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) apontam que o número de estrangeiros que visitam o Brasil, anualmente, é de cerca de cinco milhões de pessoas, das quais mais de metade são provenientes de países da América do Sul, principalmente Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai; seguidos de Estados Unidos, Alemanha, Espanha, França, Inglaterra, Itália e Portugal. No Brasil, alguns fatos importantes demonstram o crescimento do turismo. Investimentos do setor privado, com a construção de hotéis, parques temáticos e centros de convenção; assim como a criação de inúmeros cursos voltados à formação em turismo, desde cursos rápidos e técnicos até graduações (que atualmente são mais de 500, em todo o país) e pós-graduações. Por isso, a área precisa de profissionais capacitados, comunicativos e que, em algumas situações, tenham conhecimento de um idioma estrangeiro. O turismo, como o conhecemos hoje, é uma atividade iniciada em 1841, com a realização da primeira viagem organizada de que se tem registro. Foi uma excursão, na Inglaterra, entre as cidades de Leicester e Loughborough. Um jovem pregador batista, Thomas Cook, teve a idéia de alugar um trem a fim de levar os fiéis de sua igreja a um congresso antialcoólico. Segundo o conceito de turismo da Organização Mundial do Turismo, que é adotado no Brasil turismo é “uma atividade econômica representada pelo conjunto de transações – compra e venda de serviços turísticos – efetuados entre os agentes econômicos do turismo, gerado pelo deslocamento voluntário e temporário de pessoas para fora dos limites da área ou região em que têm residência fixa, por quaisquer motivos, excetuando-se o de exercer alguma atividade remunerada no local que visita”. O turismo, quando comparado com outras atividades, como a industrial ou agrícola, costuma causar menos problema à natureza e às pessoas. Contudo, se 3 mal planejado, pode promover grandes descaracterizações às paisagens naturais e culturais dos destinos turísticos. Nos anos 1970 e 1980, houve uma expansão dos locais turísticos, os quais foram saturados com infra-estrutura, equipamentos e serviços de apoio ao turismo. Tratou-se de uma fase de excessos, acentuada pela baixa qualidade das casas e infra-estrutura das localidades turísticas, onde predominou o concreto, o crescimento desordenado, a arquitetura urbana, falta de controle de efluentes. Com isso, grandes extensões de áreas acabaram transformando-se de destinações turísticas em locais de segundas residências, desabitadas fora da temporada de visitação. Vejam alguns exemplos problemáticos desse período: • aumento e esgotamento de recursos naturais; • grande quantidade de construções, descaracterizando a paisagem original; • aumento da produção de lixo e esgoto; • alteração de ecossistemas naturais devido à introdução de espécies exóticas (de fora da localidade) de • animais e plantas; • compra de lembranças produzidas a partir de elementos naturais escassos; • descaracterização cultural, com perda de valores tradicionais; • aumento do custo de vida, gerando inflação; • geração de fluxos migratórios para áreas de concentração turística; • adensamentos urbanos não planejados; • favelização. 1.2. Breve Histórico O termo ecoturismo é recente, data da metade do séc XX, mas dos monges da era medieval e de viajantes naturalistas do séc XIX encontramos relatos sobre deslocamentos motivados por locais paradisíacos ou atrativos naturais exóticos. Encontramos neste comportamento o embrião do Ecoturismo. Podemos então destacar os antecedentes do que hoje conhecemos como ecoturismo: - caminhadas de longo curso, com a busca por novos conhecimentos e lugares; - expedições, como a procura pela fonte da eterna juventude, pelo “fim da terra”; - peregrinações por trilhas sagradas e áreas intocadas cultuadas por povos antigos. 4 Da Antigüidade aos meados do séc XX ficou clara a busca por um conhecimento cultural ou pelo interesse na natureza ou pelo interesse na sociedade. A história do ecoturismo está ligada a uma noção de turismo ao ar livre. Mas ele é mais do que isso, antes de mais nada é um posicionamento ambiental de conservação do patrimônio natural e cultural, tanto nas áreas naturais com não naturais. O ecoturismo é um segmento da atividade turística e, portanto, uma atividade humana. 1.3. Mudanças a partir do Ano Internacional do Ecoturismo A OMT estabeleceu o ano de 2002 como o Ano Internacional do Ecoturismo.O objetivo foi chamar atenção dos governos e da comunidade internacional para as potencialidades que esse segmento do turismo possui e, ainda alertar sobre os impactos positivos e negativos no ambiente natural e cultural, onde existe este tipo de turismo. A OMT fortalece assim a terminologia Ecoturismo, o que passou a gerar maior facilidade no controle de sua utilização comercial, na fiscalização e indicação legal. No Brasil, a Embratur vem apresentando uma política de valorização desse segmento mediante publicações como as Diretrizes para uma política nacional de ecoturismo (1996) e, recentemente, com a criação dos Pólos de Ecoturismo (2000). O Ibama é o outro organismo estatal empenhado em incentivar a prática ecoturística, atuando por meio da criação de novas Unidades de Conservação – principalmente parques nacionais – e estabelecendo uma política de terceirização no atendimento de visitantes de algumas áreas. Para a Embratur (1994), a atividade ecoturística deve abranger como características conceituais: • à comunidade: melhores condições de vida e mais benefícios; 5 • ao meio ambiente: uma poderosa ferramenta na valorização dos recursos naturais; • à nação: uma fonte de riqueza, divisas e geração de empregos; • ao mundo: a oportunidade de conhecer e utilizar o patrimônio natural dos ecossistemas para onde convergem a economia e a ecologia, para o conhecimento e uso das gerações futuras. Atualmente, o ecoturismo se expande aproximadamente 20% ao ano. No Brasil, em 2001, 13,2% dos estrangeiros que visitaram o país eram ecoturistas. Esse crescimento do turismo na natureza reflete mudanças muito importantes na forma como os seres humanos observam e interagem com o ambiente natural. 1.4. Turismo comum (clássico) x Ecoturismo (turismo ecológico) Das diferenças existentes entre o turismo comum (clássico) e o ecoturismo (turismo ecológico) ressalta-se que enquanto no turismo clássico as pessoas apenas contemplam estatisticamente o que elas conseguem ver sem muita participação ativa, no ecoturismo existe movimento, ação e as pessoas, na busca de experiências únicas e exclusivas, caminham, carregam mochilas, suam, tomam chuva e sol, tendo um contato muito mais próximo com a natureza. O ecoturismo ainda se diferencia por passar informações e curiosidades relacionados com a natureza, os costumes e a história local o que acaba possibilitando uma integração mais educativa e envolvente com a região. Considerando que o Ecoturismo é uma tendência em termos de turismo mundial que aponta para o uso sustentável de atrativos no meio ambiente e nas manifestações culturais, devemos ter em conta que somente teremos condições de sustentabilidade casohaja harmonia e equilíbrio no "diálogo" entre os seguintes fatores: resultado econômico, mínimos impactos ambientais e culturais, satisfação do ecoturista (visitante, cliente, usuário) e da comunidade (visitada). O ecoturismo é uma atividade sustentável e, por se preocupar com a preservação do patrimônio natural e cultural, diferencia-se do turismo predatório. É uma tendência mundial em crescimento e responde a várias demandas: desde a prática do esporte radical ao estudo científico dos ecossistemas. 6 1.5. Turismo Ecológico e Ecoturismo Ecologia: ciência que estuda a interação dos seres vivos com seu ambiente orgânico. Ecologia social: relação do homem com o meio ambiente, ressaltando a importância dos recursos naturais na realidade moderna e o uso racional destes recursos. Turismo Ecológico é o setor especializado do Turismo que se caracteriza por uma clara propensão demonstrada por seus praticantes em procurar viagens que os coloquem em contato íntimo com a natureza, dela desfrutando por simples observação ou estudo sistemático. Portanto, são atividades turísticas ligadas ao meio ambiente natural, em geral amadoras, onde os participantes mantêm estreito contato com a natureza. Referente ao turismo baseado na ecologia, que constitui uma forma de turismo especializado na natureza e dá ênfase a pequenas excursões em áreas naturais, podendo incluir visitas a locais de interesse cultural e tradicional. É dada prioridade ao desenvolvimento que respeite o ambiente (educação ambiental) e a utilização dos recursos naturais pelos visitantes. Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza de forma sustentável o patrimônio natural e cultural, incentiva sua conservação e busca a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas. No Turismo Ecológico ocorre apenas o desfrute e a contemplação passiva dos recursos naturais, enquanto que no Ecoturismo ocorre uma simbiose do turista com os atrativos naturais e culturais. 1.6. Conceito de Ecoturismo A terminologia ECOTURISMO – absorvida com o tempo pelo trade turístico – foi conceituada pela Embratur, em 1991, como: “Turismo desenvolvido em localidades com potencial ecológico, de forma conservacionista, procurando conciliar a exploração turística com o meio 7 ambiente, harmonizando as ações com a natureza, bem como oferecer aos turistas um contato íntimo com os recursos naturais e culturais da região, buscando a formação de uma consciência ecológica.” Na definição do MICT/MMA de março de 1995, temos: “Ecoturismo é um segmento da atividade turística que utiliza, de forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, incentiva a sua conservação e busca a formação de uma cultura ambientalista através da interpretação do ambiente, promovendo o bem-estar das populações envolvidas”. Martha Honey, 1999, propôs a seguinte definição: “Ecoturismo envolve viagens a áreas conservadas, frágeis e em geral protegidas, com o compromisso de serem de mínimo impacto e (usualmente) em grupos pequenos. O ecoturismo incentiva a educação viajante, recursos para a conservação, direciona benefícios para o desenvolvimento econômico e fortalecimento político das comunidades locais e promove o respeito por culturas diferentes e pelos direitos humanos”. Segundo The Ecotourism Society : “Ecoturismo é a viagem responsável a áreas naturais, visando preservar o meio ambiente e promover o bem-estar da população local”. David Western no prefácio do livro Ecoturismo: guia de planejamento e gestão, Ed. SENAC, 1995. define: “Ecoturismo é provocar e satisfazer o desejo que temos de estar em contato com a natureza, é explorar o potencial turístico visando à conservação e ao desenvolvimento, é evitar o impacto negativo sobre a ecologia, a cultura e a estética”. Analisando todas estas definições podemos concluir que o Ecoturismo: ? É uma atividade econômica; ? Promove o uso sustentável dos recursos; ? Busca a conscientização ambiental; ? Envolve as populações locais. 8 2. CARACTERÍSTICAS DO ECOTURISMO Chaves & Omarzabal (1989) afirmam que o ecoturismo deve apresentar as seguintes características: • Possuir um caráter disciplinar em todas as etapas de seu desenvolvimento; • Necessitar de uma organização adequada e de discernimento com vistas a evitar grandes grupos de visitantes, já que os ecoturistas aspiram desfrutar da exclusividade e privacidade; • Proporcionar opções de visitas e excursões dirigidas; • Englobar grupos que desejam contato mais estreito com as populações locais para conhecer seus costumes e sua cultura; • Constituir-se de grupos exigentes quanto ao tratamento de algumas questões éticas, ecológicas ou ambientais; • Proporcionar atividades de relaxamento com outras de índole desportiva, tais como caminhadas, escaladas, ciclismo, etc. Em 1994, um grupo multidisciplinar formado por representantes dos mais diversos segmentos interessados dos setores governamentais e privado, analisou e estabeleceu bases para a implantação de uma Política Nacional de Ecoturismo, de forma a assegurar: • a dimensão do conhecimento da natureza, • a experiência educacional interpretativa, • a valorização das culturas tradicionais locais, e • a promoção do desenvolvimento sustentável. 2.1. Caracterização da oferta ecoturística O ecoturismo pode ser ofertado de forma fragmentada ou desenvolvido, em segmentos, proporcionando vários produtos devido as particularidades dos ecossistemas e dos recursos naturais visitados. Bozzano (2001) apresenta um resumo dos principais ecotemas (tipos de temas ecoturísticos) encontrados em nosso planeta: 9 ECOTEMAS AMBIENTES SIGNIFICAÇÃO Paisagem e ecossistemas de montanhas, glaciares, vulcanismo. Áreas de montanha, vulcões altiplanos. Valorização paisagística, conhecimentos de fenômenos geológicos e formas de vida. Biodiversidade, ecossistemas, fauna e flora. Áreas de selva, bosques, manguezais, alagados e uma gama variada de ecossistemas. Interpretação de inter-relações e processos dos ecossistemas, espécies de flora e fauna. Espeleologia. Cavernas, grutas. Formações geológicas, elementos singulares, usos antrópicos, traços culturais, biota. Biota e paisagens marinhas, avifauna, flora e geologia. Zonas marinho- costeiras. Caracterização de paisagens, formações geológicas e biota associada. Insularidade, geomorfologia, fragilidade, adaptação. Ambientes insulares, arquipélagos Caráter de isolamento análise de processos de evolução e diferenciação de unicidade e endemismo de espécies, intervenção antrópica Manejo de água, hidrologia, conservação de nascentes. Áreas lacustres, quedas d´água e rotas fluviais. Contemplação de paisagem, valores de produção, uso e conservação de recursos hídricos. Obras humanas e usos. Termalismo. Fontes termais, balneários, mananciais e águas minerais. Propriedades medicinais e de recuperação na natureza. Interesse por lugares e práticas tradicionais, banhos rituais. Interação entorno cultural-ambiente natural. Áreas culturais históricas, centros e monumentos, zonas arqueológicas, entornos naturais e urbanos. Valores testemunhais, singularidade e diferenciação histórico-cultural relevante, ecologia humana. Etnografia, interação ecocultural. Territórios indígenas, comunidades tradicionais, assentamentos. Identidade cultural, adaptação ao meio, entornos naturais modificados por práticas tradicionais, convivência cultural. Agronaturalismo. Espaços rurais,paisagem cultural ou modificada. Produção sustentável, cultivos agroecológicos, processos de recuperação de solos, reflorestamento, agroreflorestamento. 10 3. CLASSIFICAÇÃO DO ECOTURISMO Para que uma atividade se classifique como ecoturismo, são necessárias quatro condições básicas: 1-respeito às comunidades locais; 2-envolvimento econômico efetivo das comunidades locais; 3-respeito às condições naturais e conservação do meio ambiente; 4-interação educacional - garantia de que o turista incorpore para a sua vida o que aprende em sua visita, gerando consciência para a preservação da natureza e dos patrimônios histórico, cultural e étnico. 3.1. Tipos de Ecoturismo a) Ecoturismo Científico Estudos e Pesquisas Científicas em Botânica, Arqueologia, Paleontologia, Geologia, Zoologia, Biologia, Ecologia, etc. b) Ecoturismo Educativo Observação da Vida Selvagem (fauna e flora),Interpretação da Natureza, Orientação Geográfica, Observação Astronômica. c) Ecoturismo Lúdico e Recreativo Caminhadas,Acampamentos, Contemplação da Paisagem, Banhos e Mergulhos, Jogos e Brincadeiras, Passeios Montados, etc. d) Ecoturismo de Aventura "Trekking", Montanhismo, Expedições, Contatos com Culturas Remotas, etc. e) Ecoturismo Esportivo Escalada, Canoagem, "Rafting", Bóia Cross, Rapel, "Surf", Vôo livre, Balonismo, etc. f) Ecoturismo Étnico Contatos e integração cultural do ecoturista com populações autóctones (primitivas/nativas) que vivem em localidades remotas em estreita relação com a natureza. 11 g) Ecoturismo Naturista Prática do "Nudismo" ao ar livre e junto à natureza. h) Gastronomia Oferecer alimentos naturais, locais e livres de contaminação. O ecoturismo é uma das facções do turismo que mais cresce no mundo inteiro. Porém, devem existir limites a este crescimento, pois os recursos naturais são finitos. Se o ecoturismo é viver de acordo com seu potencial, contribuindo para a qualidade ambiental, deve ser necessário permanecer restrito. Deve permanecer uma base de empenho fundamentada na economia local, sendo fonte de orgulho e envolvimento da população e não sendo somente um veículo de lucro. Utilizado como instrumento para preservação biológica e promoção do desenvolvimento sustentável, o advento do ecoturismo deve ser aplicado de forma benéfica, visando à conservação dos ecossistemas. Ele pode ser uma parte para se solucionar os problemas de conservação de áreas frágeis, mas ele deve ser reconhecido somente como parte de um grande quadro ambiental e econômico. 4. SUSTENTABILIDADE E ECOTURISMO 4.1. Desenvolvimento sustentável “O desenvolvimento sustentável é aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade das gerações futuras atenderem às suas próprias necessidades”. 4.2. Aspectos prioritários da sustentabilidade • satisfação das necessidades básicas da população em geral; • a solidariedade para com as gerações futuras; • a preservação dos recursos naturais • a elaboração de um sistema social que procure eliminar a miséria e a exclusão social , os preconceitos , afirme todas as formas de tolerância e de respeito à pessoa humana; 12 • a participação da população envolvida na tarefa de propor e trabalhar na construção de um novo modelo de desenvolvimento • efetivar programas educativos e de aperfeiçoamento técnico-profissional, que busquem fornecer sólida formação humana e profissional. 4.3. As Cinco Dimensões da Sustentabilidade a) A sustentabilidade social – que se entende como a criação de um processo de desenvolvimento sustentado por uma civilização com maior equidade na distribuição de renda e de bens, de modo a reduzir o abismo entre os padrões de vida dos ricos e dos pobres. b) A sustentabilidade econômica – que deve ser alcançada através do gerenciamento e alocação mais eficientes dos recursos e de um fluxo constante de investimentos públicos e privados. c) A sustentabilidade ecológica – que pode ser alcançada através do aumento da capacidade de utilização dos recursos, limitação do consumo de combustíveis fósseis e de outros recursos e produtos que são facilmente esgotáveis, redução da geração de resíduos e de poluição, através da conservação de energia, de recursos e da reciclagem. d) A sustentabilidade espacial – que deve ser dirigida para a obtenção de uma configuração rural-urbana mais equilibrada e uma melhor distribuição territorial dos assentamentos humanos e das atividades econômicas. e) A sustentabilidade cultural – incluindo a procura por raízes endógenas de processos de modernização e de sistemas agrícolas integrados, que facilitem a geração de soluções específicas para o local, o ecossistema, a cultura e a área. 4.4. Atividade Turística Sustentável “Considerar a atividade turística sustentável ou integrante da possibilidade do desenvolvimento sustentável é apenas desviar os termos da questão sem analisar a complexidade de uma atividade econômica que tem por base o consumo de paisagens naturais exóticas ou a história passada” 13 4.5. Princípios do Turismo Sustentável O turista é um consumidor das paisagens, sendo que a paisagem é um produto do turismo; portanto o ambiente do turismo deve ser transformado e produzido ou reproduzido para atender as necessidades dos turistas. O ambiente do turismo pode ser classificado como: a) Natural – elementos da paisagem e do espaço; b) Sócio-cultural – elementos da paisagem e do espaço mais as ações humanas; c) Econômico – complexa produção, diferença entre custos e investimentos – público e privado. Para que o turismo venha a se tornar sustentável há a necessidade de seguir os seguintes Princípios: • Estratégias de conservação e planos integrais; • Princípios éticos de respeito a cultura e ambientes (naturais, econômicos e sociais); • Encaixar na nova atividade turística, os modos de vida tradicionais e os fatores ambientais aos diferentes tipos de desenvolvimento turístico; • Princípio de equidade social e econômica; • Estimulo a população local na iniciativa de planejar o desenvolvimento do local; • Programa de evolução, vigilância e medição para que a população se beneficie das oportunidades e reaja bem aos impactos da atividade. 4. 6. Certificação do Turismo Sustentável Para receber a certificação em turismo sustentável a empresa turística deverá: • estar comprometida com o manejo ambiental • promover a promoção e venda de produtos responsáveis e autênticos que atendam a expectativas realistas • promover a retro-alimentação de sua clientela • saber avaliar eventuais impactos negativos sociais, culturais, ambientais e econômicos, inclusive estabelecendo estratégias para manejo e mitigação 14 • seus funcionários deverão estar capacitados, educados, responsáveis e ter conhecimento e consciência sobre manejos ambiental, social e cultural • ter mecanismos para monitorar e relatar seu desempenho ambiental Além dos itens acima a empresa turística ainda deverá obedecer deverá os aspectos ambientais, sócio-culturais e econômicos da região. 4.6.1. Aspectos ambientais • controlar a emissão de ruídos e gases • estar adequadamente implantada com relação ao ambiente natural • evitar danos ao local ao implementar o paisagismo ou a recuperação do ambiente natural relativamente à situação original • evitar impactos visuais e luminosos • fazer uso sustentável de materiais e insumos - recicláveis e reciclados - produzidos localmente • promover o manejo adequado da drenagem, solo e águas pluviais • minimizar a produção de dejetos e assegurar sua adequada disposição • minimizar os impactosambientais de sua operação • promover a conservação da biodiversidade e a integridade dos ecossistemas • promover a redução e o uso sustentável de água • promover a redução e o uso sustentável de energia • promover o adequado tratamento e disposição de águas residuais 4.6.2. Aspectos Sócio-culturais • adquirir, utilizar e manter a posse de terras de forma apropriada • possuir mecanismos para assegurar o reconhecimento dos direitos e aspirações de comunidades indígenas e locais • possuir medidas para proteger a integridade da estrutura social das comunidades locais • promover impactos positivos (benefícios) na estrutura social, cultural e econômica local (a níveis local e nacional) 15 4.6.3. Aspectos Econômicos • estabelecer mecanismos de forma a assegurar que as relações trabalhistas e as práticas industriais sejam justas e estejam em conformidade com a legislação • estabelecer mecanismos para minimizar impactos econômicos negativos e maximizar benefícios econômicos para a comunidade • fomentar contribuições para a manutenção do desenvolvimento da infra- estrutura comunitária • utilizar-se de práticas éticas comerciais 5. COMUNIDADE E TURISMO SUSTENTÁVEL 5.1. Desenvolvimento Sustentável “Este conceito propõe a integração da comunidade local com atividades que possam promover a conservação e o uso sustentável dos recursos naturais e culturais.” 5.2 Condições para implantação Alguns municípios possuem atrações turísticas, mas não a infra-estrutura necessária para o turismo. Por isto é importante atentar para o enfoque regional dos problemas: municípios vizinhos, sem atrações turísticas, podem ter a infra- estrutura necessária para permitir esta atividade. 5.2.1. Interesse da População Antes de implementar o ecoturismo é necessário saber se a população local está disposta a se envolver, direta ou indiretamente com esta atividade. 5.2.2. Conscientização da população *degradação ambiental; *mudanças nos valores locais; *descaracterização ou o abandono de atividades tradicionais; 16 *aumento da violência e da criminalidade; *apoio da prefeitura; * sem ser obrigada a se transformar em uma cidade turística 5.3. Programa de capacitação de monitores ambientais locais. Capacitar significa fornecer às pessoas ou grupos competências e habilidades específicas, por meio de métodos de treinamento diversos .É uma das formas de envolver a população com o ecoturismo, gerando emprego e renda. 5.3.1. Benefícios da capacitação • Melhoria dos Produtos e Serviços Existentes • Diversificação dos produtos e serviços existentes • Aproveitamento de produtos locais, promovendo a verticalização da produção • Maior capacitação das pessoas implica melhores condições salariais • Aumento da renda familiar e ampliação do número de beneficiários • Uma nova profissão ou aprimoramento da atual profissão • O ecoturismo valoriza ofícios tradicionais • O aprendizado dos cursos pode também ser útil em casa • Melhores condições de competividade no mercado turístico • Maiores benefícios econômicos 5.3.2. Vantagens do processo participativo para o planejamento e realização de cursos • Possibilita a escolha de cursos que realmente atendam às necessidades do projeto de ecoturismo • Possibilita a escolha de cronograma mais adequado à realidade local e à maioria dos futuros alunos • Gera informações para subsidiar a estrutura dos cursos de forma mais adequada à realidade da comunidade 17 • Favorece a escolha/indicação de pessoas da comunidade com conhecimento e capacidade para ministrar cursos • Favorece a escolha/indicação de pessoas da comunidade para serem monitores dos cursos 5.4. Competitividade e a importância dos serviços no turismo O mercado de ecoturismo tem concorrência, portanto, a qualidade do serviço é crucial para a sobrevivência do empreendimento em um mercado competitivo 6. IMPACTOS DO ECOTURISMO Os impactos negativos e positivos que podem advir da atividade do ecoturismo estão, a princípio, relacionados a danos potenciais ao meio ambiente e ŕ comunidade e, por outro lado, aos benefícios sócio-econômicos e ambientais, esperados a níveis regionais e nacional. A fragilidade dos ecossistemas naturais, muitas vezes, não comporta um número elevado de visitantes e, menos ainda suporta o tráfego excessivo de veículos pesados. Por outro lado, a infra-estrutura, se não atendidas normas pré- estabelecidas, pode comprometer de maneira acentuada o meio ambiente, com alterações na paisagem, na topografia, no sistema hídrico e na conservação dos recursos naturais florísticos e faunísticos. É tecnicamente possível estimar-se o impacto ambiental que uma atividade industrial pode vir a causar, se medidas mitigatórias não forem tomadas nas fases de projeto, implantação, e operação, uma vez que matérias primas, produtos, refugos e resíduos são conhecidos e quantificáveis. Um dos danos mais freqüentes são os causados por muitas pessoas visitando a um mesmo lugar e a principal conseqüência é que em breve, os milhares de pés que seguiram a trilha, simplesmente estragam e destroem a vegetação da superfície. Em seguida o vento e a chuva removem o solo ou em áreas de pouca drenagem, cria-se um lodaçal. Desta forma, teremos provocado um permanente e irreparável dano ŕ natureza. É errado levar ou deixar qualquer 18 coisa na natureza, não importa quão pequeno possa parecer diante da imensidão natural pois como a cada ano cresce o número de visitantes, há um efeito cumulativo e devemos estar preparados para controlar fluxos pois, toda ação praticada, todo comportamento, devem ser considerados à luz do que acontecerá se milhares de pessoas o repetirem. Mas mesmo assim, o ecoturismo apresenta significativos benefícios econômicos, sociais e ambientais, como: diversificação da economia regional, geração de empregos, melhoramento das infra-estruturas, diminuição do impacto sobre o patrimônio natural e cultural, diminuição do impacto no plano estético- paisagístico e melhoria nos equipamentos das áreas protegidas. Não há dúvidas que as concepções vinculadas ao ecoturismo representam um avanço em relação ao turismo tradicional e seu manejo superficial do exótico e da beleza natural. Suas estratégias mais elaboradas consideram, por exemplo, os problemas provenientes do choque cultural e questões de difícil solução como a ampliação da distribuição de renda gerada para as populações locais. Para que o turismo seja considerado sustentável ele deve obedecer as seguintes premissas básicas: “A proteção do meio ambiente e o êxito do desenvolvimento turístico são inseparáveis”. “O movimento de pessoas deve produzir-se em harmonia as necessidades fundamentais de todas as sociedades”. “É essencial que os residentes participem da adoção de decisões sobre o planejamento, desenvolvimento e gestão do turismo”. 7. O ECOTURISTA Os ecoturistas, geralmente, apresentam elevado grau de instrução: muitos concluíram um curso superior e preferem locais que respeitam as culturas tradicionais e a natureza. Eles querem aprender e buscam informações e esclarecimentos nas destinações visitadas. Os esclarecimentos requisitados pelos ecoturistas dizem respeito, principalmente, às características da natureza, ou seja, são pessoas que se 19 apresentam motivadas para aprender sobre rios, montanhas, oceanos, florestas, árvores, flores e fauna silvestres. No entanto, não se preocupam apenas em observar uma paisagem ou elemento da natureza, mas também em sentir e perceber algo mais de seu valor, por exemplo: a importância da natureza para a sociedade,seu valor histórico, produção de recursos (alimentos e matéria-prima), oportunidades de reflexão, contemplação, controle de processos (controle de erosões e inundações, fotossíntese e produção de biomassa), entre outros. Procuram, além do rico contato com a natureza, vivenciar novos estilos de vida e esperam ver o dinheiro que gastam em suas viagens, contribuindo para a conservação e para o benefício da economia local. 7.1. Tipos de ecoturistas a) Ecoturistas praticantes Caracterizam-se por uma busca contínua de contato e integração com a natureza; São adeptos fiéis de uma ou várias práticas ecoturísticas; normalmente com alternância na prática das atividades b) Ecoturistas eventuais Buscam um contato esporádico com a natureza; Normalmente são pessoas que procuram aliviar a tensão e o estresse do dia-a- dia; Quase sempre procuram atividades de mais ação. 8. O PROFISSIONAL DE CAMPO O ecoturista aceita um guia mais descritivo e espera o fornecimento de um nível apropriado de explicação sobre a natureza e a cultura das localizações visitadas. Sendo assim, as pessoas que trabalham com o ecoturismo devem ser capazes de explicar conceitos, significados da natureza, de entender a estrutura e a dinâmica básica dos ecossistemas e das paisagens naturais, e ser capazes de explanar sobre as conseqüências das mudanças promovidas pelo ser humano, considerando os princípios básicos da conservação da natureza. Ele deve possuir 20 conhecimentos de geografia, história, biologia, ecologia, botânica entre outras ciências, além de noções de primeiros socorros e cultura local, de cada um das áreas que percorre. O profissional de campo recebe várias denominações: Guia de ecoturismo, Condutor de áreas naturais, Monitor de trilha ou até mesmo mateiro (normalmente morador da região aproveitado para o serviço) 9. BIBLIOGRAFIA BOZZANO,D.P. Planificación e desarrollo de productos ecoturísticos desde la perspectiva de la sostenibilidad. Cuiabá: MOT/Embratur, 2001. CÉSAR, Pedro de Alcântara Bittencourt [et al]; coordenação ALMEIDA, Regina Araújo de [et al}. Ecoturismo. São Paulo: IPSIS, 2007. COSTA, Patrícia Cortês. Ecoturismo. São Paulo: Editora Aleph, 2002 – (Coleção ABC do Turismo). CHAVES, E.; OMARZABAL. Manual de planificación de sistemas nacionales de áreas silvestres protegidas en la América Latina. Santiago: FAO/PNUMA, 1989. MENDONÇA, Rita; NEIMAN, Zysman. Ecoturismo no Brasil. Barueri, SP: Manole, 2003 TINEO, Daniela. Projeto Rondon. Pariquera-Açú: Centro Universitário Monte Serrat, 2006 – (Palestra). http://www.ambientalconsulting.com http://www..embratur.gov.br http://facabonito.tripod.com/index.html http://www.facha.edu.br/faccturismo/ecoturismo/index.asp http://www.heliorocha.com.br/