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Direito Civil IV 2017 Salvo Automaticamente

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DIREITO CIVIL IV 
			TEORIA GERAL DOS CONTRATOS
            No semestre passado, em DC III, foram estudadas as obrigações jurídicas decorrentes das relações entre sujeitos (Pessoa >---- VJ ----< Pessoa). Das relações dos homens com as coisas cuida o Direito Real, assunto de Civil V. E o principal direito real é a propriedade. Propriedade e contrato são assim os pilares do Direito Civil e da vida de todo cidadão.
            No segundo bimestre deste semestre letivo, ou ainda no final mesmo deste primeiro bimestre, o estudo dos contratos será aprofundado com a análise das diversas espécies de contratos, não de todos os contratos, mas apenas dos mais importantes (CC, art. 425).
            E como se originam as obrigações? 
	Quais as fontes das obrigações, como se criam as obrigações, assunto do semestre passado, lembram? 
1) A maior e mais importante fonte, já vimos isso no primeiro semestre, é o contrato. 
As outras fontes, vamos aqui recordar, são:
 2) os atos unilaterais (ex: promessa de recompensa, CC, art. 854);
3) os atos ilícitos (assunto de Direito Civil I e em Responsabilidade Civil, art. 927 CC, a ser estuda em DC VII, e 
4) a lei propriamente dita (ex: sustento, CC, art. 1566, IV, alimentos, CC, art. 1696, assuntos de Direito de Família).
>>> Ressalta-se, por necessário, que a lei está também por trás das demais fontes.
				CONTRATOS
             Etimologicamente deriva de “contractus” e de contrair.
            Conceito: negócio jurídico resultante de um acordo de vontades que produz efeitos obrigacionais. Este é o conceito da doutrina, até porque não é missão do legislador fazer definições. Vamos comentar e destacar os aspectos principais deste conceito:
            - negócio jurídico: contrato é negócio jurídico, ou seja, é uma declaração de vontade para produzir efeito jurídico. O contrato é negócio, via de regra, informal, quer dizer, existe uma grande liberdade das pessoas na celebração dos contratos, tanto que a maioria dos contratos pode ser verbal até para facilitar a nossa vida e a circulação de bens (art. 107). Chama-se de autonomia privada este campo do Direito Civil justamente porque a liberdade das pessoas no contratar e no dispor de seus bens é grande.        As partes podem até criar/inventar contratos, igualmente celebrá-los verbalmente, sem formalidades (425). Recomenda-se celebrar por escrito contratos de alto valor, mas não por uma questão de validade e sim por uma questão de segurança, caso surja algum litígio judicial (227). Os contratos verbais são provados em Juízo mediante testemunhas, que são provas menos seguras do que os documentos. Exemplo de contrato solene/escrito é a compra e vende de imóvel (108) e a doação (541). São contratos informais/verbais a compra e venda de móveis, a locação e o empréstimo.
             - acordo de vontades: o contrato exige um consenso, um acordo de vontades. É  esse consenso que vai formar o contrato, principalmente se o contrato for verbal. O consenso é entre pelo menos duas partes. Por isso todo contrato é no mínimo bilateral quanto às partes, afinal ninguém pode ser credor e devedor de si mesmo (revisem confusão, modo de extinção das obrigações visto em Civil 2).  O que se admite é o autocontrato, ou contrato consigo mesmo, quando uma única pessoa vai agir por duas partes (ex: A vai viajar e precisa vender sua casa, então passa uma procuração a seu amigo B autorizando-o a vendê-la a quem se interessar, eis que o próprio B resolve comprar a casa, então B vai celebrar o contrato como vendedor, representando A, e como comprador, em seu próprio nome). São duas vontades jurídicas distintas, embora expressas por uma só pessoa.
            - efeitos obrigacionais: as obrigações têm efeitos estudados em Civil 2, e dois deles se aplicam diretamente aos contratos:
1) a transitoriedade: os contratos, em geral, são transitórios/são efêmeros/têm vida curta (ex: compra e venda de balcão); alguns contratos são duradouros (ex: locação por doze meses), mas um contrato não deve ser permanente. Permanência é característica dos Direitos Reais. A propriedade sim dura anos, décadas, se transmite a nossos filhos, mas os contratos não.
2) o valor econômico: todo contrato, como toda obrigação, precisa ter um valor econômico para viabilizar a responsabilidade patrimonial do inadimplente se o contrato não for cumprido. Em outras palavras, se uma dívida não for paga no vencimento ou se um contrato não for cumprido,  o credor mune-se de uma pretensão e a dívida se transforma em responsabilidade patrimonial. Que pretensão é esta de que se arma/de que se mune o credor? É a pretensão a executar o devedor para atacar/tomar seus bens através do Juiz. E se o devedor/inadimplente não tiver bens? Então não há nada a fazer pois, como dito, a responsabilidade é patrimonial e não pessoal. Ao credor só resta espernear, é o chamado na brincadeira “jus sperniandi”. Realmente já se foi o tempo em que o devedor poderia ser preso, escravizado ou morto por dívidas. O único caso atual de prisão por dívida, conforme por inúmeras vezes já foi mencionado no semestre passado, é na pensão alimentícia, assunto de Direito de Família. 
Elementos, requisitos e pressupostos contratuais:
Vejamos o artigo 104 do CC, que vocês conhecem de Civil I e II.
1 – capacidade das partes: este é o primeiro elemento (art. 104, I), pois o contrato celebrado pelo incapaz é nulo (166, I) e pelo relativamente incapaz é anulável (171, I). A nulidade é assim mais grave do que aanulabilidade. Imaginem uma doença: a nulidade é uma doença fatal, já a anulabilidade é curável. Depois revisem este assunto de Civil 1. Mas o menor e o louco, embora incapazes, podem adquirir direitos e celebrar contratos, desde que devidamente representados. Então os pais representam os filhos, os tutores representam os órfãos e os curadores representam os loucos (assunto de Direito de Família, Civil 6). Desta forma, a capacidade de direito é inerente a todo  ser humano (art. 1º), a capacidade de fato é que falta a algumas pessoas (ex: menores, loucos) e que por isso precisam ser representadas para celebrar contratos (116).
2 – objeto do contrato: é a operação, é a manobra que as partes visam realizar. O objeto corresponde a uma prestação lícita, possível, determinada e de valoração econômica. Falaremos mais de prestação abaixo. Então A não pode contratar B para matar C, nem A pode contratar B para comprar contrabando ou drogas, pois o objeto seria ilícito.  Igualmente o filho não pode comprar um carro com o dinheiro que vai herdar quando o pai morrer, pois a lei proíbe no art. 426 (chama-se de pacta corvina, ou pacto de corvo este dispositivo já que é muito mórbido desejar a morte do pai, e ninguém garante que o filho é que vai morrer depois).
Quanto à possibilidade do objeto, seria impossível contratar um mudo para cantar, ou vender passagens aéreas para o sol.
O objeto também precisa ser determinado ou determinável, conforme visto no semestre passado quanto às obrigações de dar coisa certa ou incerta (243).
Finalmente, o contrato precisa ter valor econômico para se resolver em perdas e danos se não for cumprido por ambas as partes, conforme explicado na aula passada (CC, art. 389). O valor econômico do contrato viabiliza a responsabilidade patrimonial do inadimplente, já que não se vai prender um artista que se recusa a fazer um show. O artista será sim executado patrimonialmente para cobrir os prejuízos, tomando o Juiz seus bens para satisfazer a parte inocente.
Vide art. 104, II do CC (Aquele que, no semestre passado na disciplina DC III, eu vivia clamando para que vocês o decorassem). Lembram?
3 – forma: a forma do contrato é livre, esta é a regra, lembrem-se sempre disso. Existem exceções, mas esta é a regra geral: os contratos podem ser celebrados por qualquer forma, inclusive verbalmente face à autonomia da vontade que prevalece no Direito Civil (art. 107). O formalismo está em desuso nos países modernos para estimular as transações civis e comerciais, trazendo crescimento econômico coma circulação de bens e de riqueza. A vontade inclusive prevalece sobre a forma, nos termos do art. 112 CC, conforme veremos adiante. Assim, quando se for for redigir um contrato não há formalidades a obedecer, basta colocar no papel aquilo que seja imprescindível ao acordo entre as partes, até porque, como já vimos alhures, os contratos podem ser verbais, como na compra e venda, locação e empréstimo. 
Vide art. 104, III, CC: assim salvo expressa previsão em lei, a forma do contrato é livre.  
Então, que contratos têm forma especial e precisam ser escritos? 
Veremos ao longo deste semestre, mas já se podem adiantar dois: 
1 - A doação de coisas valiosas (art. 541 e Parágrafo Único, CC), e 
2 - a compra e venda de imóvel (art. 108, CC). 
Percebam que os contratos escritos se dividem em “instrumento particular” (feito por qualquer pessoa, qualquer advogado) e “escritura pública” (feita por tabelião de Cartório de Notas, com as solenidades do art. 215, CC).  
4 – legitimidade: está próxima da capacidade, vista na aula passada. São irmãs, mas não se confundem. A legitimidade é um limitador da capacidade em certos negócios jurídicos. A legitimidade é o interesse ou autorização para agir em certos contratos previstos em lei. A pessoa pode ser capaz, mas pode não ter legitimidade para agir naquele caso específico. Exs: o tutor não pode comprar bens do órfão (497, I), o cônjuge não pode vender uma casa sem autorização do outro (1647, I), a amante do testador casado não pode ser sua herdeira (1801, III), o pai não pode vender um terreno a um filho sem a autorização dos outros filhos (496). Em todos estes exemplos falta legitimidade e não capacidade às partes. Realmente, o marido não pode vender um imóvel sem a outorga uxória não porque o marido seja incapaz (louco ou menor), mas porque lhe falta autorização para agir, prevista em lei, para proteger a família ( = legitimidade). Igualmente o juiz não pode comprar o bem que ele penhorou do devedor no processo de execução não porque o magistrado seja incapaz, mas porque lhe falta legitimidade. Ora, com tanta coisa no comércio para ser adquirida, não é razoável o juiz comprar para si um bem que ele mandou tomar, afinal não basta ser honesto, é preciso parecer honesto. Para não esquecerem a legitimidade, que é tão importante, acrescentem a lápis um inciso IV ao art. 104 do CC.
5 – causa: qual o motivo do contrato? Qual a finalidade do contrato? Por que João quer comprar? Por que Maria quer alugar? Isto não interessa, não há relevância jurídica para a causa/motivo do contrato no direito brasileiro. O art 166, III usa a expressão “motivo”, todavia se refere ao objeto do contrato (104, II, ex: alugar uma casa para prostituição infantil). Quando você vai comprar um carro, é juridicamente irrelevante se o carro é para você passear, trabalhar, ou se você vai dar a seu filho, etc. Esse motivo é só do comprador, e o vendedor em geral nem sabe quais os motivos da outra parte. Outro exemplo, você compra anel de noivado, depois acaba o namoro, pode devolver o anel na loja e pedir o dinheiro de volta? Não, justamente porque o motivo da compra não é relevante. Mas e se você é salvo de um afogamento pelo bombeiro Jose, e como retribuição doa um carro ao bombeiro João, Jose pode pedir a anulação do contrato? Sim, pois houve erro como defeito do negócio jurídico, e o motivo da doação foi o salvamento, senão você jamais daria um carro nem a Jose nem a João (140, 171, II). Bom, em termos econômicos, as pessoas contratam para ganhar dinheiro, para ter conforto, para satisfazer suas necessidades. Nesse sentido o art. 421. E quando o contrato cumpre sua “função social”? Quando viabiliza trocas úteis e justas, afinal ninguém contrata para ter prejuízo. Falaremos mais da função social do contrato nas próximas aulas, mas o motivo do pacto juridicamente deve ser desprezado.
6 – prestação: é uma conduta humana, é um ato ou omissão das partes, é um dar, é um fazer ou é um não-fazer. O contrato é uma fonte de obrigação, e toda obrigação tem por objeto uma prestação que corresponde a um dar, fazer ou não-fazer. Então se eu contrato um advogado para me defender, o objeto deste contrato será o serviço jurídico que será feito pelo bacharel (obrigação de fazer). Outro exemplo: vejam o conceito legal de compra e venda no art. 481. Observem a expressão “se obriga”. Então o objeto da compra e venda não é a coisa em si, mas a prestação de dar o dinheiro pelo comprador e de dar a coisa pelo vendedor. O vendedor se obriga a dar a coisa, e se ele não der, o comprador não pode tomar a coisa, mas sim exigir o dinheiro de volta mais eventuais perdas e danos (389). O art 475 é uma exceção a este 389, veremos em breve quando formos tratar dos efeitos dos contratos. Assim, admite-se excepcionalmente que, ao invés de apenas resolver a obrigação em perdas e danos (art 947), o credor possa exigir a prestação “in natura”, ou seja, a coisa devida em si. Bom, aguardemos a aula sobre os efeitos dos contratos. Voltando a falar de prestação, o objeto do contrato é uma prestação, essa prestação pode ser de dar, fazer ou não-fazer. O objeto da prestação de dar será uma coisa, o objeto da prestação de fazer será um serviço e o objeto da prestação de não-fazer será uma omissão, conforme visto em Civil 2.
 7 – elementos acidentais: estes não são obrigatórios, mas facultativos, ou seja as partes inserem se quiserem (ex: cláusula penal, 408; encargo na doação, 562, etc). 
			Formação do contrato
Os contratos se formam pelo consenso, pelo acordo de vontades entre pelo menos duas pessoas, sem maiores solenidades (107). A vontade é fundamental nos contratos, por isso todo contrato é consensual. 
Para as pessoas se relacionarem é preciso que elas se comuniquem. A comunicação da vontade pode ser expressa e pode ser tácita. A comunicação expressa é a mais comum e mais clara, se fazendo de forma escrita ou verbal. Já a comunicação tácita é aquela presumida por certas circunstâncias, como o silêncio da outra parte (111, ex: em geral as pessoas gostam de receber presentes, mas ninguém está obrigado a aceitá-los, porém o silêncio do donatário é tido como aceitação, 539; outro ex: 659). Mas em Direito nem sempre quem cala consente, como na assunção de dívida, onde o silêncio do credor importa em recusa da troca do devedor (pú do art. 299). 
As vontades que formam o contrato se chamam de oferta (ou proposta) de um lado, e aceitação do outro lado. Quem emite a oferta é o proponente (ou policitante). Quem emite a aceitação é o aceitante (ou oblato). Nos contratos complexos e de alto valor existem os debates preliminares, avançando as negociações até a maturidade e o fechamento do contrato com o acordo de vontades. Na fase preliminar pode se escrever uma minuta ou rascunho do contrato. Mas para comprar chiclete na barraca ninguém faz isso: as vontades se comunicam, o contrato se forma, nasce e se extingue em segundos. 
Exemplificando, no contrato de compra e venda quem emite a proposta é o vendedor ao efetuar oferta a pessoa indeterminada ( = oferta ao público; ex: sapatos expostos numa sapataria). Esta oferta ao público tem caráter obrigatório pela seriedade e segurança das relações jurídicas (art. 427). Além de obrigatória, a proposta deve ser completa a fim de facilitar a aceitação e o surgimento do contrato, nos termos do art. 31 do Código do Consumidor: "a oferta e apresentação de produtos ou serviços devem assegurar informações corretas, claras, precisas, ostensivas e em língua portuguesa sobre suas características, qualidades, quantidade, composição, preço, garantia, prazos de validade e origem, entre outros dados, bem como sobre os riscos que apresentam à saúde e segurança dos consumidores." Quanto mais completa for a oferta, facilita seu "casamento" com a aceitação. Se a aceitação não se integrar com a oferta, teremos uma contraproposta do 431. 
Por outro lado, admite-se na compra e venda que o comprador faça a proposta, por exemplo, se uma pessoa vê o relógio do colega e pergunta se quer vendê-lo?Neste caso, o comprador estará estimulando o proprietário a colocar a coisa em leilão. 
Para nosso Código, presentes são as pessoas que contratam diretamente entre si, mesmo em cidades diferentes usando telefone ou internet (parte final do inc. I do art. 428). Já ausentes são aqueles que usam um intermediário ou mensageiro, mesmo que estejam os contratantes na mesma cidade. 
O contrato, uma vez concluído, faz lei entre as partes, e se uma delas posteriormente desistir terá que indenizar a outra pelas perdas e danos causados (430, 389). As referidas minutas não são contratos ainda, então pode se desistir sem problemas. Mas para justificar uma indenização tem que ter havido dano concreto, material ou moral, afinal já foi estudado em Civil 2 que não existe dano hipotético ou eventual (403). 
CLASSIFICAÇÃO DOS CONTRATOS
É importante conhecer esta classificação para fins de interpretação e aplicação dos contratos. 
a) unilateral e bilateral: todo contrato é sempre bilateral quanto às partes (no mínimo duas partes), mas quanto aos efeitos pode ser unilateral ou bilateral. O contrato bilateral quanto aos efeitos é também conhecido como sinalagmático, pois cria direitos e deveres equivalentes para ambas as partes. 
Ex: compra e venda, pois o comprador tem o dever de dar o dinheiro e o direito de exigir a coisa, enquanto o vendedor tem a obrigação de dar a coisa e o direito de exigir o dinheiro; locação, pois o locador tem a obrigação de transferir a posse do imóvel e o inquilino tem a obrigação de pagar o aluguel. 
Já o contrato de efeito unilateral só cria direito para uma das partes e apenas obrigação para a outra, uma das partes será só credora e a outra só devedora.
Ex: doação, pois só o doador tem a obrigação de dar e o donatário apenas o direito de exigir a coisa, sem nenhuma prestação em troca. 
Empréstimo e fiança também são exemplos de contratos unilaterais que estudaremos em breve. 
b) onerosos e gratuitos: nos contratos onerosos ambas as partes têm vantagem e proveito econômico, ex: os contratos bilaterais, onde ambas as partes ganham e perdem. Já os contratos gratuitos só beneficiam uma das partes, então geralmente todo contrato unilateral é gratuito, como na doação e no empréstimo 
Porém pode haver contratos unilaterais e onerosos quando existe uma pequena contraprestação da outra parte, como na doação modal, aquela onde há um encargo por parte do donatário, ou seja, o doador exige um pequeno serviço do donatário em troca da coisa 
Ex. 01: A doa uma fazenda a B com o ônus de construir uma escola para as crianças carentes da região; A dá um carro a seu filho com o ônus de levar a mãe para passear todo sábado, art. 553). O encargo tem que ser pequeno, senão descaracteriza a doação. Se o encargo for grande o contrato não será nulo, apenas não será doação, mas outro contrato qualquer. 
Ex. 02: empresto um apartamento a João sob pagamento mensal de mil reais, ora isto não é empréstimo, mas locação. Outro exemplo de contrato unilateral e oneroso é o mútuo feneratício ( = empréstimo de dinheiro a juros, art. 591). Empréstimo entre amigos em geral não tem juros (= mútuo simples), sendo unilateral e gratuito, mas no empréstimo econômico os juros são naturalmente devidos, tratando-se de contrato unilateral e oneroso. 
c) comutativos e aleatórios: esta classificação só interessa aos contratos onerosos. Só os contratos onerosos se dividem em comutativos e aleatórios. 
São comutativos quando existe uma equivalência entre a prestação (vantagem) e a contraprestação (sacrifício)
Ex.: Compra e venda, troca, locação, etc. Diz-se inclusive que a compra e venda é a troca de coisa por dinheiro. 
Já nos contratos aleatórios uma das partes vai ter mais vantagem do que a outra, a depender de um fato futuro e imprevisível chamado "alea" = sorte, destino. 
Ex.: Contrato de seguro onde eu pago mil reais para proteger meu carro que vale vinte mil; se o carro for roubado eu receberei uma indenização muito superior ao desembolso efetuado, mas se durante o prazo do contrato não houver sinistro, a vantagem será toda da seguradora. Jogo, aposta, compra e venda de coisa futura, são outros exemplos de contratos aleatórios que veremos oportunamente. 
d) principais e acessórios: Contrato principal é aquele que tem vida própria e existe por si só. A grande maioria dos contratos é principal, independente e autônoma. 
Porém há contratos acessórios cuja existência depende de outro contrato, como os contratos de garantia. 
Ex. 01: A fiança é um contrato acessório que geralmente garante uma locação principal.
Ex. 02: A hipoteca é outro contrato acessório que geralmente garante um empréstimo principal. 
A fiança e a hipoteca vão servir assim para satisfazer o credor caso haja inadimplemento dos contratos principais, trazendo mais segurança ao credor. 
Tais contratos acessórios seguem os principais (CC. Art. 184).
> Acessorium sequitor principale, já diziam os romanos na antiguidade.
e) instantâneos e de duração: a regra é o contrato ser instantâneo, ter vida curta/efêmera.
Ex.: Compra e venda, troca, doação, que duram segundos ou minutos; mesmo uma compra e venda a prazo é instantânea, sua execução é que é diferida no tempo). 
Já outros contratos são duradouros e se prolongam por dias, semanas e meses.
Ex.: Empréstimo, locação, seguro. 
> Não é da essência dos contratos durarem anos e décadas. 
> Os direitos reais é que são permanentes, como a propriedade, a superfície e o usufruto, valendo por toda uma vida.  
Se alguém deseja alugar um imóvel por muitos anos, é mais seguro instituir uma superfície. 
E se superfície é melhor do que locação, por que a sociedade usa mais a locação? 
Porque os contratos são mais simples, podem até ser verbais, enquanto os direitos reais exigem solenidades e formalidades. 
Em suma: Os contratos devem ser no máximo duradouros e não permanentes.
f) pessoais e impessoais: o contrato pessoal é celebrado com determinada pessoa em virtude de suas qualidades pessoais, é chamado assim “intuitu personae” (em razão da pessoa). 
Ex.: Contrato um cantor famoso para um show, caso ele desista, não aceitarei outro cantor, ainda que também famoso. Lembram do que a respeito estudamos em DC III?
Quando a obrigação é de fazer um serviço, em geral o contrato é personalíssimo. 
Já nas obrigações de dar uma coisa, o contrato é impessoal, então se A me deve cem reais, não tem problema que B ou C me paguem tais cem reais.  
Veremos em breve que, nos contratos impessoais, se admite a execução forçada do contrato, prevista no art. 475 do CC (sublinhem “exigir-lhe o cumprimento”). Falaremos mais em breve deste importante art. 475, do CC.
Já nos contratos personalíssimos, se o devedor não quiser cumprir sua obrigação, a única saída são as perdas e danos do 389, afinal não se pode constranger uma pessoa a trabalhar sob vara.
g) típicos e atípicos: os contratos típicos têm previsão no tipo/na lei, e foram disciplinados pelo legislador, pois são os contratos mais comuns e importantes com “nomem juris” (nome na lei). 
Ex.: Os cerca de vinte contratos previstos no CC, no Título VI do Livro I, do art. 481 ao 853.  
Mas estes não são os únicos contratos permitidos, são apenas os mais importantes. 
Sim, já que a criatividade e necessidade dos homens em se relacionar e fazer negócios pode criar novos contratos não previstos em lei dentro da autonomia privada. 
Um exemplo de contrato atípico é o leasing, não previsto em lei, mas muito importante na aquisição de bens duráveis, que será visto quando estuarmos os contratos em espécie (art 425, obs: a lei  Nº 11.649/2008, dispõe sobre procedimento no leasing, não sobre o contrato em si). 
Quando o contrato é típico, a lei serve para completar a vontade das partes, o que chamamos de norma supletiva (ex.: CC, art. 490, este artigo não é imperativo/obrigatório, é apenas supletivo, já que as partes podem violá-lo em contrato). 
Os contratos típicos podem ser verbais, pois existe a lei para suprir suas lacunas. 
Já os contratos atípicos,como o leasing, devem ser escritos e minuciosos já que não há lei para regulamentá-los. 
Falando de tipicidade, os Direitos Reais são típicos, não podem ser criados pelas partes (CC, art. 1225). 
Falando de normas imperativas, no Direito Público a maioria das normas é imperativa, enquanto aqui na autonomia privada encontramos muitas normas supletivas.  Gosto de dizer que, no Direito Civil, se faz tudo que a lei não proíbe, a liberdade é grande, enquanto no Direito Público (Trabalhista, Administrativo) só se faz o que a lei permite.
h) solenes e informais: Como na autonomia privada a liberdade é grande, a maioria dos contratos são informais e consensuais, bastando o acordo de vontades para sua formação (107, 104 III). Já em alguns contratos, pelas suas características, a lei exige solenidades para sua conclusão, como no caso da doação e fiança que devem ser por escrito (541 e 819). Já na compra e venda de imóvel, pelo valor e importância dos imóveis, o contrato além de escrito deve ser feito por tabelião, pelo que para adquirir uma casa só o acordo de vontades não basta, é necessário também celebrar uma escritura pública (arts. 108 e 215).  Então os contratos informais podem ser verbais, enquanto os contratos solenes devem ser por escrito, sejaparticular (feito por qualquer pessoa/advogado, como na fiança e doação) ou público (feito apenas em Cartório de Notas, qualquer deles).
i) Reais e consensuais: já dissemos que todo contrato é consensual, quer dizer, exige acordo de vontades. Mas em alguns contratos, só o consenso é insuficiente, então além do acordo de vontades, a lei vai exigir a entrega da coisa ( = tradição), por isso se dizem contratos reais.  Podem  até ser verbais/informais, mas não nascem antes da entrega da coisa. Ex: doação de bens móveis (pú do 541), comodato (579), mútuo, depósito (627). Porém na compra e venda, troca, locação, etc., já vai existir contrato após o acordo de vontades e mesmo antes da entrega da coisa, de modo que uma eventual desistência pode ensejar perdas e danos ou até a execução compulsória do 475. Então se A  promete emprestar sua casa de praia para B passar o verão (= comodato), só haverá contrato após a ocupação efetiva da casa por B. Já se A se obriga a alugar sua casa de praia a B durante o verão (= locação), o contrato surgirá do acordo de vontades, e eventual desistência de A, mesmo antes da entrega das chaves, ensejará indenização por perdas e danos (389). A tradição não é requisito de validade, mas de existência dos contratos reais.
j) Civis e mercantis: os contratos civis visam satisfazer uma necessidade particular, sem visar diretamente ao lucro (53); já os contratos mercantis serão estudados em Direito Empresarial e têm fins econômicos (981). É fundamental preservar a informalidade dos contratos mercantis para estimular sempre o comércio entre as empresas, com a geração de emprego e renda. Afinal quem produz riqueza é o particular, e não o Estado.
Atos unilaterais
Neste semestre iniciamos estudando as fontes das obrigações, quais sejam: os contratos, os atos unilaterais e os atos ilícitos ( = responsabilidade civil, art. 927).
          Terminamos à pouco o estudo dos contratos, sua parte geral, pois a parte especial será vista mais a diante (a partir do art. 481 CC).
          Vamos agora começar a falar dos atos unilaterais que são quatro segundo nosso CC: 
1. A promessa de recompensa.
2. A gestão de negócios. 
3. O pagamento indevido.
4. O enriquecimento sem causa. 
Não há outros atos unilaterais além desses quatro previstos em lei, diferentemente dos contratos que podem ser atípicos (CC, art.425). 
A promessa de recompensa e a gestão de negócios são atos unilaterais autênticos, enquanto o pagamento indevido e o enriquecimento sem causa estão mais perto da disciplina da responsabilidade civil.
Vejamos, pois, o que se deve entender como atos unilaterais, dentre s quatro possíveis: 
          1 – Promessa de Recompensa
Toda pessoa que publicamente se comprometer a gratificar quem desempenhar certo serviço, contrai obrigação de fazer o prometido (854, ex: recompensa para quem encontrar um cachorro perdido, para quem denunciar um criminoso, para quem descobrir a cura do câncer, etc).
          O promitente tem que ter capacidade e a tarefa tem que ser lícita conforme art. 104. A promessa exige publicidade (ex: imprensa, carro de som, panfletos, cartazes). A promessa é feita a qualquer pessoa, ou a determinando grupo social (ex: qualquer aluno da Católica), pois se feita a pessoa certa não é ato unilateral, mas contrato de prestação de serviço (ex: pago cem a João para procurar meu cachorro perdido, neste caso não é ato unilateral mas bilateral/consensual). A lei, tendo em vista uma justa expectativa da sociedade, obriga o autor da promessa a cumprir o prometido, independente de qualquer aceitação, independente de qualquer anuência de terceiro.
Fundamento: o fundamento da promessa é ético: o respeito à palavra dada. A obrigação tanto é unilateral que mesmo que a pessoa que preste o serviço não tenha conhecimento da recompensa, fará jus à gratificação (855). Mas é óbvio que a recompensa pode ser rejeitada, afinal ninguém pode ser credor contra sua vontade. Quando a promessa é divulgada o credor é potencial e indeterminado.  Só ao satisfazer o requisito exigido é que se define o titular do direito cuja obrigação nasceu da publicação da promessa.
          Oferta ao público: não se confunde com a promessa de recompensa. Esta é também feita ao público, mas a oferta é, por exemplo, o sapato exposto a venda na vitrine de uma loja, ou seja, é uma proposta para realizar um contrato de compra e venda, sem gerar obrigação imediata para a loja.
          Elementos da promessa de recompensa: anúncio público; indicação dos destinatários (toda a sociedade ou certo grupo); tarefa a ser cumprida; recompensa prometida.
Qual o valor da recompensa? 
Depende do promitente, mas um valor ínfimo pode ser aumentado pelo Juiz (ex: a recompensa é um diploma, hipótese em que o credor deve reclamar, afinal toda obrigação pressupõe teor patrimonial). 
A recompensa pode ser dinheiro, coleção de livros, passagem de avião, hospedagem em hotel, etc. E se mais de uma pessoa fizer o serviço, quem fica com a recompensa? A lei responde nos arts. 857 e 858, ambos do CC.
Revogação: a promessa pode ser revogada? 
Sim, com a mesma publicidade da divulgação, mas só se não havia prazo para executar o serviço (CC, art. 856).   Parágrafo Único do art. 856 CC: dispositivo perigoso, pois como a oferta é feita ao público, muita gente pode exigir esse reembolso. A morte do promitente não revoga a promessa, respondendo os bens do falecido pela recompensa.
            Concurso: é semelhante aos concursos de direito administrativo para ingressar no serviço público.  O concurso civil é uma espécie de promessa de recompensa onde várias pessoas se dispõem a realizar uma tarefa em busca de uma gratificação que será oferecida ao melhor (ex: melhor desenho, melhor redação, melhor frase, melhor fotografia, melhor fantasia de carnaval, melhor livro, melhor música, melhor nome para animal do zoológico, etc). O concurso não pode ser revogado, pois o prazo é obrigatório, garantindo o trabalho de quem estiver desenvolvendo uma ideia (859). O concurso é aleatório para o concorrente que pode não ganhar nada, a depender da decisão do árbitro do certame, cuja decisão subjetiva não pode ser questionada (§§ 1º e 2º do art. 859). Todavia se houve corrupção do árbitro ou plágio do ganhador do concurso, admite-se anulação da decisão.  As obras/tarefas apresentadas podem passar a pertencer ao organizador do concurso (860).  
2 – Gestão de Negócios
 
Conceito: é a atuação de uma pessoa que, espontaneamente e sem mandato (= procuração), administra negócio alheio em situações emergenciais, presumindo o interesse do próximo (861, ex: é gestor de negócio alheio o morador de um edifício que arromba a porta do vizinho para fechar torneira que ficou aberta enquanto o vizinho saiu em viagem; então ogestor fecha a torneira, enxuga o apartamento, manda  secar os tapetes, troca a fechadura arrombada, e depois manda a conta pro dono do apartamento, que terá que indenizar o gestor pelas despesas, 869).
O gestor geralmente é um vizinho, amigo ou parente que vai administrar os negócios alheios sem procuração. Embora a lei use a expressão “negócio”, na verdade a gestão é de “interesse” alheio.
A GN estimula a solidariedade entre as pessoas. O gestor não tem autorização e nem obrigação de agir, mas deve fazê-lo por altruísmo, garantindo a lei o reembolso das despesas feitas. O gestor age deimproviso numa emergência (866), sendo equiparado a um mandatário sem procuração. Se o dono do negocio autoriza o gestor a agir teremos contrato de mandato e não mais GN (ex: no caso da torneira aberta, localiza-se o vizinho por telefone que autoriza o arrombamento, 873, 656).  Há também semelhanças da gestão de negócios com a estipulação em favor de terceiros (vide aula 7).
Trata-se de conduta unilateral do gestor com reflexos no patrimônio do próximo, chamado juridicamente de “dono do negócio”. Digo unilateral pois o gestor age sem combinar com o interessado, não havendo o acordo de vontades (consenso) que caracteriza os contratos. O gestor e o dono do negocio não precisam sequer se conhecer.
Elementos da GN: administração de negocio alheio, atuação de terceiro e falta de autorização do dono do negocio.
Pressupostos: a) ausência de qualquer contrato ou obrigação legal entre as partes a respeito do negócio gerido, pois a gestão é voluntária/espontânea; b) inexistência de proibição pelo dono do negócio, pois o gestor deve agir conforme vontade presumível daquele; c) interesse do gestor de cuidar do negócio alheio, não sendo pura liberalidade, afinal vai querer ser ressarcido das despesas efetuadas; d) o gestor deve agir com intenção de ser útil ao dono do negócio, agindo como ele faria se não estivesse ausente; e) fungibilidade do objeto do negócio, ou seja, o negócio pode ser realizado por terceiro, pois se for ato personalíssimo só o dono pode praticar (ex: não pode um amigo fazer prova no lugar de alguém que está doente e vai perder o concurso); f) ação do gestor limitada a atos de natureza patrimonial.
A gestão é gratuita (= altruísmo), mas o gestor pode ser processado caso não exerça bem sua tarefa (862, 863). Então o gestor pode ser responsabilizado se, mesmo de boa-fé, agir com precipitação e interpretar equivocadamente um fato, causando prejuízo ao dono do negocio. O gestor precisa agir com bom senso, respeitando a lei. Se a GN de um lado estimula a solidariedade entre estranhos, também protege o dono do negocio contra atos de intromissão indevida na sua esfera jurídica (868).
Cumprindo bem sua missão, o gestor será indenizado pelo interessado (869, e § 1º). Se a gestão resultar proveito para o dono do negócio, a gestão independe de aprovação, medindo-se a indenização devida ao gestor pela importância das vantagens obtidas.
Obrigações do gestor: comunicar a gestão ao dono do negocio (864); agir com prudência e probidade em favor do interessado; não fazer operações arriscadas; prestar contas de sua gestão. Obrigações do interessado: ratificar ou desaprovar a gestão após tomar conhecimento dela; indenizar o gestor das despesas feitas; cumprir as obrigações contraídas em seu nome.
Outros exemplos: providenciar um guincho para remover o carro de alguém estacionado na frente de uma casa em chamas; um advogado paga com seu dinheiro um imposto devido pelo cliente; levar uma vitima de atropelamento ao hospital e pagar as despesas médicas; pagar alimentos quando o devedor da pensão está ausente (871: então quem sustenta filhos dos outros pode exigir indenização dos pais); também é gestão de negócios pagar as despesas do funeral de alguém (872); último exemplo: num condomínio, o condômino que age em proveito da comunhão é gestor do negócio de todos, podendo exigir compensação financeira dos demais beneficiários (1.318).
 3 e 4 – Pagamento Indevido e Enriquecimento Sem Causa
Enriquecer sem causa é enriquecer repentinamente sem motivo justo, sem trabalhar, sem herdar, sem doação e em detrimento de outrem. Enriquecer é muito importante, nossa sociedade exalta o estudo, o trabalho, o lucro e a produção, afinal essa riqueza individual vai gerar empregos, tributos e renda para todos. Mas é preciso enriquecer dentro da legalidade.
Outro modo de enriquecimento lícito, porém usado em simulações é através das loterias oficiais, o que exige cuidado da Justiça. Maus políticos enriquecem à custa da corrupção e alegam que ganharam na loteria... Igualmente em ações de dano moral o Juiz deve ter cautela para não estipular indenizações altíssimas e provocar enriquecimento injusto (ex: Juiz manda pagar um milhão a quem perdeu um dedo num acidente).
Enfim, enriquecer não é pecado, não é crime, mas tal enriquecimento exige causa justa. Uma das hipóteses de enriquecimento sem causa, ou com causa ilegal, é através do pagamento indevido, por isso estes dois assuntos devem ser estudados em conjunto. PI enseja sempre ESC. Mas nem todo ESC é decorrente de PI. PI é espécie, ESC é gênero.
Ocorre pagamento indevido quando o devedor paga a alguém que não é o credor, ou seja, o recebedor (= accipiens) não é o credor, e o devedor (= solvens = pagador) agiu por engano. Quem recebe pagamento indevido enriquece sem causa (ex: João deve a José da Silva, mas paga a outro José da Silva, homônimo do verdadeiro credor; João efetuou pagamento indevido e vai ter que pagar de novo ao verdadeiro credor, pois quem paga mal paga duas vezes;  João obviamente vai exigir o dinheiro de volta do outro José da Silva que enriqueceu sem causa, mas o verdadeiro credor não precisa esperar, ele não tem nada a ver com isso). Em suma: o PI é típico caso de obrigação de restituir, face ao enriquecimento sem causa, afinal é preciso dar a cada um o que é seu.
Ocorre enriquecimento sem causa quando alguém aufere um aumento patrimonial, em prejuízo de outrém, sem justa causa. Outro conceito: dá-se enriquecimento sem causa quando o patrimônio de certa pessoa se valoriza a custa de outra pessoa, sem causa justificada.
Como ESC é gênero e PI é espécie, há outros casos de enriquecimento sem causa além das hipóteses de pagamento indevido, ex: 578, 1255, pú do 1817, etc. Estudaremos esses exemplos oportunamente, ao longo do extenso curso de Direito Civil.
Elementos do ESC: enriquecimento de um, empobrecimento de outrem, nexo entre esse ganho e essa perda, e finalmente falta de causa justa. Lembro que o proibido não é enriquecer à custa de outrem, mas enriquecer injustamente (ex: nosso conhecido contrato aleatório).
Relação do ESC com a Responsabilidade Civil: nesta o direito de indenizar existe face ao prejuízo sofrido, mesmo que ninguém tenha se locupletado (ex: acidente de trânsito), já no ESC há sempre um patrimônio beneficiado. De qualquer modo, em ambos será necessária a reparação ao prejudicado, e o retorno das coisas ao estado anterior.
Pagamento indevido e cobrança indevida não se confundem, pois no PI paga-se quando não se devia pagar; na CI  cobra-se dívida já paga, então o autor da cobrança deve devolver o dobro ao requerido (940).
Dois efeitos do pagamento indevido:
1 – aquele que enriqueceu sem causa fica obrigado a devolver o indevidamente auferido, não só por uma questão  moral (= direito natural), mas também por uma questão de ordem civil(876, 884) e tributária, afinal como explicar à Receita Federal um súbito aumento de patrimônio? O objetivo dessa devolução é reequilibrar os patrimônios do devedor e do falso credor, alterados sem fundamento jurídico, sem causa justa.
            2 – se o falso credor não quiser voluntariamente devolver o pagamento, surge o segundo efeito que é o direito do solvens de propor ação de repetição do indébito (repetitio indebiti) contra tal accipiens.  Esta ação tem este nome pois, em linguagem jurídica, “repetir” significa “devolver” e “indébito” é aquilo que não é devido. Então a ação é para o falso credor devolveraquilo que não lhe era devido.  Tal ação prescreve em três anos (206, § 3º, IV).
            Também se aplicam as regras do pagamento indevido quando se paga mais do que se deve. Porém não cabe a repetição quando o “solvens” agiu por liberalidade (ex: doação, 877) ou em cumprimento de obrigação natural (ex: gorjeta, dívida de jogo, dívida prescrita, 882, 814) ou quando o “solvens” deu alguma coisa para obter fim ilícito, afinal ninguém pode se beneficiar da própria torpeza (ex: pagou ao pistoleiro errado para cometer um homicídio, não cabe devolução, 883).
            E se o objeto do pagamento indevido já tiver sido alienado pelo falso credor a um terceiro? Bem, se tal objeto era coisa móvel, tal alienação vale por uma questão de segurança das relações jurídicas e porque em geral os móveis são menos valiosos do que os imóveis. De qualquer modo o falso credor vai responder pelo equivalente em dinheiro.
            Mas se o objeto do pagamento indevido for um imóvel que o falso credor já tenha alienado a um terceiro, tal alienação só valerá se feita onerosamente (venda sim, doação não) e o terceiro estiver de boa-fé. Caso contrário o solvens poderá perseguir o imóvel e recuperá-lo do terceiro (879).
Responsabilidade civil e ato ilícito
Meus pupilos, chegamos hoje ao último tema do semestre, a última grande fonte de obrigação: o ato ilícito, visto por vocês em Civil 1 (art. 186), que enseja a responsabilidade civil (927). Exemplo muito comum na nossa vida: acidente de trânsito, pois motorista imprudente que bate no carro de alguém comete ato ilícito e fica obrigado a reparar o dano. Parece exagero, mas podemos afirmar que no nosso cotidiano inevitavelmente vamos sofrer e causar danos a terceiros.
A RC é tema moderno pois as questões práticas se multiplicam no dia a dia, face ao dinamismo das relações sociais, e ao urbanismo das grandes cidades. Assim quanto maior a diversidade dos riscos para a humanidade, e as seqüelas que brotam dos acidentes, maior o campo de aplicação da teoria da RC. Toda atividade humana pode acarretar a responsabilidade de indenizar se causar prejuízo a alguém. A teoria da RC visa restaurar um equilíbrio patrimonial ou moral violado. Quanto mais se estuda, mais interessante se torna essa matéria. Para proteção das pessoas, face a evolução da RC, é fundamental a celebração cada vez maior de contratos de seguro, inclusive para garantir a indenização da vítima (ex: hospitais devem ter seguro caso seus médicos errem e prejudiquem os pacientes).
Histórico: a teoria da RC decorre do instinto humano de sempre querer reparação pelo mal que outro lhe causara; é a natureza humana que exige responsabilizar as pessoas por seus atos danosos. No Velho Testamento a lei de talião já autorizava “olho por olho, dente por dente” para reparar um dano; um prejuízo não reparado é fator de inquietação social; assim a vingança privada, a justiça com as próprias mãos, o mal pela violência, é o berço da RC. Com a evolução da sociedade, a vingança passou a ser praticada pela autoridade, e não mais pela própria vítima. O passo seguinte foi a substituição dessa vingança por uma coisa ou quantia paga pelo ofensor ao ofendido. Nos dias de hoje permanece essa obrigação do ofensor de indenizar a vitima pelo dano causado, mesmo que em alguns casos não tenha ensejado o acidente por culpa. Como se vê, a doutrina chega ao 3º milênio ciente de que o fundamento da RC não é a culpa, mas o dano, de modo que em alguns casos pode haver obrigação de indenizar independente de culpa, mas não se falará em RC se não houver prejuízo à vítima (pú do 927).
Exemplo: terremoto que provoca vazamento em posto de gasolina, poluindo o rio e deixando a cidade sem água, teremos dano sem culpa e obrigação de indenizar pois comercializar combustível é atividade de risco; outro ex: João atira em Maria, mas ela não escuta o disparo, sequer tomando conhecimento do risco que correu, teremos culpa, teremos até crime de tentativa de homicídio do Código Penal, mas não vai se falar em indenização pois não houve qualquer dano, nem material e nem moral; mais exemplos de ato ilícito com culpa mas sem dano, e que por isso não ensejam RC: pisar um pouco na grama do jardim; entrar, dar uma olhada e sair da casa de uma pessoa sem quebrar nada ou furtar nada.
E que casos são estes que geram a RC? São os fatos jurídicos, ou seja, todo aquele acontecimento, natural ou humano, voluntário ou não, relevante para o direito em virtude dos quais nascem, subsistem e se extinguem as relações jurídicas. (ex: um raio que cai no mar não tem relevância jurídica, mas um raio que cai numa casa implica em morte, sucessão, dano, indenização decorrente de seguro, etc; um raio quem cai numa fabrica de pólvora e provoca incêndio no bairro enseja RC face a atividade de risco).  
O fato é um acontecimento e o ato é um fato humano, ou seja, ato = fato + vontade. O ato jurídico está conforme o direito, é ato de vontade. Já o ato ilícito é injurídico e impõe ao seu responsável o dever de indenizar contra sua vontade. Além da responsabilidade civil, esse ato ilícito pode ensejar também delito criminal, interessando ao Dir Penal e levando à prisão do infrator. 
Lembro que a lei é hipotética, e é do fato que nasce o direito/o direito se origina do fato, de modo que quando esse acontecimento causa dano a outrem, o responsável por esse ato ilícito deve indenizar a vitima.
Neste séc. XXI a RC é uma grande vedete do Direito Civil, tema muito bom para a pesquisa do estudante e o trabalho do advogado, em busca do restabelecimento do equilíbrio violado pelo dano.
Função da RC: a) garantir o direito da vítima ao ressarcimento do dano sofrido; b) servir como pena civil ao infrator, desestimulando-o a praticar novos atos lesivos.
Ato ilícito
Ato ilícito já foi estudado em Civil 1, mas vamos revisar. O ato ilícito é a terceira grande fonte das obrigações, junto com os contratos e os atos unilaterais de vontade. Os atos ilícitos são  praticados pelos homens mas produzem efeitos jurídicos contrários à lei; seu autor será punido financeiramente se provocou um dano, patrimonial ou moral, a alguém (186).
Quem comete ato ilícito fica obrigado a reparar o dano causado a outrem, (art. 927) indenizando a vítima, seja esse dano material, seja esse dano moral, conforme explicaremos abaixo.
 
O AI tem cinco elementos: 
 
1) ação ou omissão de alguém, mesmo que incapaz (art. 928);
 
2 ) culpa “lato sensu”: trata-se da inobservância de um dever que o agente devia conhecer e observar. A culpa em sentido amplo abrange o dolo e a culpa stricto sensu. No dolo o agente procura intencionalmente o resultado. A culpa restrita é a negligência, imprudência e imperícia:
- na negligência o agente deixa de fazer o certo, ou seja, o infrator não age com atenção devida, omitindo certo cuidado que teria evitado o dano (ex: cirurgião que não chama um anestesista para acompanhar a operação; proprietário que não troca as pastilhas de freio na revisão do seu veículo).
- na imprudência o agente faz o errado, ou seja, age com açodamento e precipitação (ex: motorista que ultrapassa em curva).
- na imperícia o agente demonstra inabilidade para seu ofício (ex: advogado que não sabe português, lê pouco e redige mal; motorista de caminhão que pensa que sabe dirigir trator).
 O grau maior ou menor de culpa influencia no valor da indenização (pú do 944). A culpa pode ser contratual – 389, ou extracontratual – 927. A culpa contratual gera as conseqüências da mora e do inadimplemento estudado em Civil 2. A culpa do AI é a culpa extracontratual, também chamada “aquiliana”, em homenagem ao jurista romano Aquiles que desenvolveu essa teoria. Na responsabilidade objetiva o elemento culpa é dispensado (pú do 927). 
 
3 ) violação de direito privado: o AI viola direito privado, mas se violar também direito público, pode configurar crime e ensejar duas sanções (948); a sanção privada fica a cargo da vítima com seu advogado que pede ao Juiz para atacar o bolso do infrator; a sanção pública fica a cargo do Delegadoe do Promotor, que pede ao Juiz para atacar a liberdade do infrator. 
 
4) dano (tem 4 espécies, patrimonial,  moral, estético e perda da chance; o dano é mais importante do que a culpa, pois eventualmente existe responsabilidade sem culpa - objetiva, p.ú. 927). O dano é o prejuízo sofrido pela vítima na sua alma (dano moral) ou nos seus bens (dano material). A jurisprudência admite também mais duas espécies: o dano estético e a perda da chance. 
 
- dano material: são as perdas e danos (944, 402), é o prejuízo concreto e efetivo. O dano precisa ser atual e certo, não se indenizando dano hipotético (ex: ônibus quebra, estudante se atrasa e perde o vestibular, cabe indenização contra a empresa? Mas será que ele iria passar? art. 403).  O dano patrimonial é suscetível de avaliação pecuniária e visa reparar o prejuízo (revisem dano emergente e lucro cessante de Civil II). Ato ilícito sem dano existe, mas não enseja reparação civil (ex: pisar na grama é proibido, mas pisar um pouquinho não vai estragar o jardim; outro ex: atirar em alguém e errar, não tomando a vítima conhecimento da tentativa de homicídio).
- dano moral é o abalo psicológico, é o sofrimento que tira o sono da vítima (186). O dano moral tem caráter também pedagógico e preventivo, visando educar o ofensor, intimidando-o e desestimulando-o para não mais praticar ilícitos (art. 5º, X, CF). O dano moral afeta o equilíbrio psicológico, moral e intelectual da média das pessoas, não se confundindo com aborrecimentos do cotidiano (ex: fila pra entrar no elevador, engarrafamento de trânsito, ficar preso na porta giratória do banco, etc.). Confiram a aula 18 de Obrigações no nosso site. O juiz tem toda independência para decidir de acordo com seu sentimento, inclusive “sentença” vem de “sentir”. A vítima basta provar que sofreu o dano, pois o valor do prejuízo, especialmente no dano moral, depende do juiz, o que não é fácil,  mas enfim, é o papel que cabe ao magistrado na sociedade. O dano material e o dano moral podem ser cumulados (ex: mulher perde marido assassinado, cabendo o dano moral pelo sofrimento, além do dano material do 948).
 
- dano estético:  Verifica-se quando a vitima sofre lesões que deixam cicatrizes e aleijões que prejudicam a sua aparência e auto-estima.  Trata-se de uma terceira espécie de dano, além do material e do moral. Para alguns, o dano estético se assemelha ao dano moral, sendo assim incabível uma repetição de indenização para o mesmo dano. Entretanto a jurisprudência  vem, cada vez mais, permitindo a acumulação dos danos material, estético e moral, ainda que decorrentes de um mesmo acidente, quando for possível distinguir com precisão as condições que justifiquem cada um deles. Vide Sumula 387 do STJ: é possível a acumulação das indenizações de dano estético e moral. Classificado como um dano autônomo, o dano estético é passível de indenização quando comprovada a sua ocorrência. É o dano verificado na aparência da pessoa, manifestado em qualquer alteração que diminua a beleza que esta possuía. Pode ser em virtude de alguma deformidade, cicatriz, perda de membros ou outra causa qualquer. (ex: perder a orelha/braço num acidente, uma cicatriz no rosto, uma queimadura no corpo, cabe dano material pelos dias que ficar sem trabalhar e despesas médicas, cabe ainda dano moral pelo sofrimento e finalmente existe dano estético). Nesses exemplos temos assim três formas diversas de dano – o material, o moral e o estético. O dano material é o art. 402. O dano moral  corresponde à violação do direito à dignidade e à imagem da vítima, assim como ao sofrimento, à aflição e à angústia a que foi submetida. Finalmente o dano estético decorre da modificação da estrutura corporal do lesado, enfim, da deformidade a ele causada. O dano estético não tem previsão expressa na lei, só na jurisprudência, embora o art. 949, in fine, possa ser um indício do dano estético no CC.
 
 
- perda da chance: trata-se da probabilidade bastante certa, com grande segurança,  que a chance seja realizada e que a vantagem perdida resulte em prejuízo. Para a caracterização da responsabilidade civil pela perda de uma chance, é necessário que essa chance seja séria e real, e não uma mera eventualidade, suposição ou desejo. Assim, a perda da chance deve ser vista como a perda da possibilidade de se obter o resultado esperado ou de se evitar um possível dano, valorizando as possibilidades que se tinha para conseguir o resultado. Não há previsão em lei, apenas doutrina e jurisprudência. A adoção da teoria da perda da chance exige que o juiz saiba diferenciar o improvável do quase certo. Ex: show do milhão com as 5 alternativas erradas, coube indenização de 20% do prêmio; cachorro azul que morre no petshop antes do desfile; fiscal do concurso que perde a prova do candidato? O art 403 seria uma restrição à perda da chance? 
 
5) nexo causal: é a relação/liame entre a ação do agente e o dano. Podemos até desprezar a culpa na responsabilidade objetiva, mas é preciso ligar a conduta do agente ao dano sofrido pela vítima.
 
Algumas situações excluem a responsabilidade civil por interromper o nexo causal, vejamos:
- culpa exclusiva da vítima: se a culpa é concorrente, aplica-se o 945, mas se a culpa for exclusiva da vítima não há dever de indenizar (ex: cozinheiro que não usa a luva fornecida pelo restaurante e corta o dedo; passageiro que viaja com o braço pra fora do ônibus e se machuca).
- caso fortuito e força maior:  são expressões sinônimas definidas no pú do art 393 do CC. Não há RC por ausência de nexo causal se veículo é invadido por enxame de abelhas e o motorista perde o controle, atropelando alguém. Também não há dever de indenizar nos assaltos a ônibus (734).
- legítima defesa: tem o mesmo conceito do Dir Penal, então se você mata alguém para se defender, não terá que indenizar a família do morto nos termos do art. 948 do CC.
- estado de necessidade (188, II, ex: carro que sobe a calçada e atropela pedestre para evitar choque com caminhão que vinha na contramão). O indivíduo na iminência de ver atingido direito seu, agride direito do próximo. Não haverá crime pelo atropelamento, e o dono do caminhão terá que reparar os prejuízos (930).
- estrito cumprimento do dever legal: um ilícito perde esse caráter quando praticado em obediência a um dever legal (ex: carcereiro que prende um ladrão, privando-o da sua liberdade; carrasco que executa uma pena de morte; radiopatrulha em alta velocidade no cerco a bandidos, o motorista é exonerado de responsabilidade, porém se alguém vier a ser atropelado pode agir contra o Estado, art. 37 § 6º da CF).
- exercício regular de um direito (veremos na aula 19).  
Responsabilidade civil
Conceito de Responsabilidade Civil: obrigação que pode incumbir um agente de reparar o danocausado a outrém, por fato do próprio agente ou por fato de pessoas ou coisas que dependam do agente. A palavra responsabilidade vem de responder = assumir pagamento. Assim se diz que o pai responde pelo filho menor e o diretor responde pela empresa.
         Aspectos principais do conceito:
Dano - não há RC sem dano, pode até haver RC sem culpa (vide item 2.b abaixo), mas o dano, material ou moral, é elemento mais importante do que a culpa. Em alguns casos especiais o dano pode ser lícito, ou seja, permitido/tolerado pela lei, mas obriga o beneficiário a indenizar como uma compensação a vítima (ex: art 1.285, art 1.313, § 3º, do CC e CF, art 5º, XXV). No dano lícito a lei autoriza a violação do interesse privado mas atribui ao prejudicado o poder de exigir indenização. Não se trata de uma sanção ao infrator, mas mera compensação à vítima.
Fato próprio – em geral quem causa o dano é o agente, e deve indenizar a vítima com seus bens (391, 942, 943); se não tem bens, ao credor só resta lamentar, é o chamado na brincadeira “jus sperniandi (direito de ter raiva)”.
Fato de pessoas ou coisas – é a responsabilidade civil transubjetiva: o dano pode ser causado por pessoas ou coisas que dependam do agente, e o agente vai sercivilmente responsabilizado embora não tenha pessoalmente praticado o ato ilícito. Isto visa ampliar as possibilidades de reparação dos prejuízos sofridos pela vítima. Mas deve a vítima provar a culpa do agente causador (ex: ônibus atropela ciclista que pode processar a empresa, desde que o motorista tenha agido culposamente, e não o próprio ciclista tenha se atravessado na frente do veículo; art. 933 – exige culpa do causador do dano, e não do pai/patrão). Esta RC transubjetiva se aproxima da teoria do risco, podendo a vítima escolher quem deseja processar, ou então os dois solidariamente (pú do 942). Espécies:
- culpa in vigilando – atribuída ao pai que não observa (vigia) o filho, e deixa adolescente pegar as chaves do carro e provocar um acidente (932, I e II).
 - culpa in eligendo: oriunda da má escolha, atribuída aos patrões que não selecionam bem seus funcionários (932, III, ex: empregada doméstica que ao limpar a janela do apartamento derruba a vassoura e danifica um carro, o responsável será a dona do apartamento). Vide súmula 341 do STF: presume-se a culpa do empregador pelo ato culposo do empregado. Caberá ao patrão tentar provar que o fato se deu fora do expediente para escapar da responsabilidade. De qualquer modo cabe ação regressiva, até com desconto de parte do salário (934).
- responsabilidade dos donos de hotéis (932, IV): o hotel responde pelos furtos praticados por seus funcionários contra seus hóspedes. Se a hospedagem for gratuita não haverá tal responsabilização. Igualmente as escolas respondem pela incolumidade física do aluno.
- responsabilidade pelo proveito do crime (932, V): é aplicação do princípio do enriquecimento injusto (ex: a família do ladrão é responsável civilmente pelo produto do crime que a beneficiou). 
-  culpa in custodiendo: culpa no custodiar, no cuidar das suas coisas e animais (ex: carga mal amarrada num caminhão que cai na rodovia e provoca acidente; objeto que numa ventania cai da janela do apartamento na cabeça de alguém, 938; leão que comeu uma criança no circo em Jaboatão; animal solto na rua; art 936). Parece mentira, mas eu já vi um cavalo ser atropelado em via urbana e um popular anotar a placa do carro, como se o errado fosse o motorista, e não o dono do animal...
A RC admite sancionar alguém que não cometeu o ato, circunstância inadmissível no Direito Penal, que só pune o próprio causador do dano e se agiu com culpabilidade (art. 5º, XLV, CF; não há responsabilidade objetiva e nem transubjetiva no Direito Penal, ex: se um adolescente mata alguém, não se pode prender o pai dele).
Lembro que se o incapaz que cometeu o ato tiver mais bens do que seu responsável, o patrimônio desse incapaz deve satisfazer a vítima, não pode é o dano ficar sem reparação (928). Esse é um dispositivo novo, não previsto no CC do século XX, que não diferencia o absolutamente incapaz do relativamente incapaz, sendo aplicável, por exemplo, nos casos de tutela, em que o menor órfão herda patrimônio dos pais, ficando sob a responsabilidade de um parente.
Espécies de RC:
1.a –negocial ou contratual: o dano decorre do descumprimento de um contrato ou ato unilateral entre as partes (884). Essa responsabilidade do inadimplemento contratual foi vista em Civil 2 (389, 402).
1.b – extracontratual ou aquiliana: o dano decorre de um ato ilícito, ou seja, não existe vínculo obrigacional anterior entre agente e vítima (ex: acidente de trânsito, homicídio, lesão corporal, calúnia). Esse nome deriva da Lex Aquillia em homenagem ao jurista Aquiles do Direito Romano.
2.a – subjetiva: é a regra geral pela qual o agente só é responsável pelo dano se agiu com culpa “lato sensu” (= dolo + culpa stricto sensu, art. 186); pode a culpa ser concorrente, quando ambas as partes têm culpa pelo acidente, assim se ambas as partes agiram culposamente, ocorre a compensação (ex: carro que bate num trem por não respeitar a preferência do trem no cruzamento, porém o maquinista não apitou como deveria, devendo cada um indenizar a metade dos danos ocasionados ao outro; 945.) No Dir Penal não existe compensação de culpa, cada criminoso respondendo por sua participação.
2.b – objetiva: é a exceção pela qual, em alguns casos previstos em lei, o agente responde mesmo sem ter havido culpa sua para o dano (parte inicial do pú do 927); por isso, como dito acima, na teoria da RC o dano é mais importante do que a culpa. Ex: 931 – provedor de internet, 933, 938 (ex: vento derruba sapato que você deixou para secar na janela e machuca uma criança na calçada), acidente de avião (art. 14 e § 1º do Cód do Consumidor), acidente ferroviário (Decreto 2681/12, art.26). No Dir Público o Estado também tem responsabilidade objetiva nos casos da CF, art 21, XXIII, “d” e 37, § 6º que vocês irão estudar em Dir Adminstrativo.Estas espécies se combinam entre si, de modo que num contrato a responsabilidade pode ser subjetiva (mais comum) ou objetiva (exceção do 393, in fine). Igualmente a responsabilidade aquiliana pode ser subjetiva (acidente de transito) ou objetiva (acidente de avião).
Teoria do risco
Teoria do risco: é uma teoria nova, consagrada pelo CC na parte final do pú do art. 927, pela qual o agente deve indenizar dano decorrente de atividade por ele desenvolvida que implique risco para outrem, mesmo que não tenha agido com culpa para o acidente (exemplos de atividades perigosas: curso de mergulho submarino, empresa que trabalha com produtos químicos, empresa que organiza shows, jogos de futebol com muita gente, loja que vende fogos de artifício, empresa que transporta dinheiro, usina de energia nuclear, transmissão de energia elétrica, etc). Assim se ocorre um vazamento num posto de gasolina por causa de uma cheia, não cabe a excludente do caso fortuito do 393, pois vender combustível é atividade de risco. Mas a lei exige que essa atividade desenvolvida pelo agente seja habitual, e não esporádica (sublinhem “normalmente” no referido pú). Tudo isso decorre do dever genérico de não prejudicar outrem. Lembro que muitas atividades de risco já são reguladas no nosso ordenamento pela responsabilidade objetiva vista na aula passada (1ª parte do pú do 927).  Lembro ainda que a responsabilidade objetiva e a teoria do risco são exceções, a regra é a responsabilidade por culpa.
 
         Relação entre a Justiça Civil e Penal: o ato ilícito pode interessar ao direito civil (atinge o bolso do agente) e ao direito penal (atinge a liberdade do agente), ex: o homicídio (art. 121 do CP e art. 948 do CC); quem move a ação civil na Justiça é a vítima (ou seus herdeiros), quem move a ação penal na Justiça é o Promotor do Ministério Público. Os atos ilícitos decorrentes dos fatos humanos são muito mais numerosos do que os crimes tipificados no Código Penal, assim há muito mais ilícito civil do que penal, pois a tipificação criminal é restrita (art. 1º do CP, ex: acidente de trânsito sem vítima só interessa ao cível). Cabe ao legislador reconhecer ou não um ilícito civil como crime, de modo que os ilícitos menos graves se resolvem na esfera privada, patrimonialmente, sem necessidade de polícia, promotor e prisão. Quando o ilícito é mais grave se faz necessário a punição pessoal ao infrator, com a tipificação criminosa e sua privação de liberdade. Seria um absurdo alguém matar outrem, pagar a indenização do art. 948, e escapar da prisão, por isso se impõe a punição da pessoa do homicida com sua reclusão. As normas penais interessam ao direito público e a sociedade, já o ilícito civil visa reparar o dano financeiramente em prol da vítima. 
De regra a ação civil independe da penal, já que a responsabilidade civil e a criminal são independentes (935, parte inicial), mas essa independência não é absoluta, e sim relativa, pois em alguns casos a justiça penal pode influenciar na civil (a decisão civil nunca influencia na penal).
Qual o motivo disso? É porque a responsabilidade civil atinge o bolso  e não a liberdade, e a liberdade é mais importante (será?), então para se punir no crime é preciso mais critérios, mais segurança, doque para se punir no cível. Desde que haja culpa, ainda que levíssima, deve o agente indenizar a vítima, mas a culpa levíssima não autoriza condenação criminal.
A culpa tem três graus: grave, leve e levíssima. A culpa grave se aproxima do dolo. A culpa leve se caracteriza pela infração do homem médio, ou seja, é uma situação onde a média da população, o bom pai de família, não cometeria o ilícito. A culpa levíssima é a falta de atenção extraordinária, que somente uma pessoa especial poderia ter (ex: atropelamento que só um piloto profissional evitaria o acidente de trânsito). Essa culpa levíssima enseja reparação civil mas não condenação criminal. Nosso CC não é expresso sobre essa gradação da culpa, mas o pu do art 944 admite essa divisão.
Que casos de influência da Justiça Penal na Cível são esses? Existência do fato e negativa de autoria (935, parte final). Então se o Juiz Criminal julgar que não houve o fato (ex: uma pessoa se auto mutila para acusar alguém) ou que o acusado não foi o seu autor (ex: acusa-se João e o Juiz Penal diz que não foi João, mas José) tais decisões fazem coisa julgada no cível. Lembro que a jurisdição como poder do Estado é una, então o sistema deve buscar soluções coerentes e não contraditórias, tomando o Juiz Cível emprestadas as provas produzidas pelo Juiz Criminal e vice-versa. Nesse sentido o art. 74 e pú da lei 9.099/95 que impede a ação penal nos delitos menos graves se o criminoso pagar o prejuízo sofrido pela vítima.
Ainda nos casos do art. 188 a decisão penal influencia na civil.
Ressalto que  a prescrição civil não corre antes do trânsito em julgado penal (200), mas a vítima não deve esperar pela polícia e pelo promotor, e sim ir logo com seu advogado processando o agente. Ressalto ainda que a função do Dir Penal é punir o infrator (função repressiva), enquanto a função do Dir Civil é compensar o dano sofrido pela vítima (função reparatória).
Exercício regular e abuso de direito.
Mesmo que cause lesão a alguém, o exercício regular de um direito exclui a ilicitude conforme art. 188, I do CC. Exemplos: credor que pede ao Juiz para tomar bens do devedor (153), pessoa que constrói na sua casa um 1º andar e tira a ventilação do vizinho, caco de vidro colocado sobre o muro, cerca elétrica com placa avisando do risco, então caso alguém se machuque não haverá ato ilícito. Chamam-se deofendículas esses dispositivos destinados a proteger a propriedade, conforme será tratado na aula 14 de Dir Reais.
Ora, quem exerce seus direitos não responde por eventuais prejuízos causados a terceiros. Porém o exercício irregular de um direito, ou o uso abusivo de um direito deve ser condenado. O ERD é um sexto caso de interrupção do nexo causal (vide aula 16).
Abuso de Direito: é o ato praticado no exercício irregular de um direito, sem vantagem para o praticante e com intenção de lesar outrem (ex: advogado que alterando os fatos e com excesso de linguagem faz queixa de juiz na Corregedoria; revistas constrangedoras feitas a clientes na saída das lojas, cerca elétrica sem sinalização; enviar “spam” pela internet; greve de funcionário público; uma mãe proibir a sogra de visitar o neto; plantar coqueiros para prejudicar vizinho que tem ultra-leve, etc); o juiz deve analisar a irregularidade, fixar uma indenização e desfazer o ato abusivo; trata-se de regra de harmonia social, pela qual o direito de um termina onde começa o do outro (art. 187)
Mais exemplos de abuso de direito (413, 939, 940, 1.277, 1.289, 1.312).
             
Questões práticas:
Exemplos:
         Se o infrator morre não haverá responsabilidade penal, pois a morte extingue a punibilidade, mas vai haver responsabilidade civil (943).
         Um acidente de trânsito sem vítima só vai interessar ao Cível, pois o crime de dano do Código Penal só se pune a título de dolo.
         Um policial que se defende de um bandido e atinge um inocente, não vai haver responsabilidade penal pois agiu em legítima defesa, mas vai haver respons. civil pois a responsabilidade do Estado é objetiva (37 § 6o da CF)
         Uma pessoa que se defende de um bandido e atinge um inocente, não vai haver responsabilidade penal e nem civil (188, I, CC) = dano sem indenização.
            Acabar noivado enseja RC? Sim, pois causa sofrimento. Além disso o noivo dava muitos presentes, jóias, que terminavam fazendo parte do orçamento da noiva. Mas eram presentes, era liberalidade, e não obrigação. E onde está a liberdade de contrair matrimônio? Reflitam!
            Art 938 - Não se sabendo de que apartamento caiu o objeto, pode-se responsabilizar o condomínio todo? Sim para que o dano não fique sem reparação, e de qualquer modo o prejuízo será pulverizado entre vários moradores.
            Tremor de terra que provoca rompimento de esgoto, responsabilidade ambiental da companhia de saneamento, afinal o dano ambiental é muito relevante na atualidade com toda essa preocupação de poluição e efeito estufa.(ex: derrubada de árvores; poluição das águas e produção intensa de ruídos; barulho também é poluição). O dano ambiental pode resultar em tríplice responsabilidade: civil, penal e administrativa (225, § 3º, CF).
 
            João é atropelado, sofre um ferimento leve, mas toma um remédio que faz muito mal a ele e termina morrendo por causa dessa medicação, o atropelador responde por homicídio? Não, pois o ferimento foi leve. Mas se João é atropelado, sofre um ferimento grave, e morre na cirurgia decorrente da anestesia, o motorista vai responder por homicídio pois o atropelamento grave, por si só, é fato capaz de produzir o óbito.  
         Ver súmulas do STF e STJ 
				DIREITO CIVIL IV
 PARTE ESPECIAL DOS CONTRATOS DAS VÁRIAS ESPÉCIES DE CONTRATOS
            Na primeira parte do semestre estudamos a teoria geral dos contratos. Nesta segunda parte na disciplina de Direito Civil IV, conheceremos os principais contratos dentre os vinte previstos no nosso Código, entre os artigos 481 e 853. Conforme dito alhures, a terceira e última parte desta disciplina vai tratar dos atos unilaterais, pois já sabemos que todo contrato é sempre bilateral quanto às partes.
            A partir de hoje estudaremos os contratos nominados e típicos porque têm nome e previsão na lei, mas vocês já sabem que não são os únicos, são apenas os mais importantes (CC, art. 425).
            1 – Compra e venda: este é o primeiro e principal contrato que nós vamos estudar. A Compra e Venda tem origem na troca pois o homem primitivo não conhecia o dinheiro, então trocavam coisas entre si. A inconveniência das mercadorias terem valores diferentes e a necessidade de dar troco, fez surgir o dinheiro e o contrato de Compra e Venda. Assim, ao invés de se trocar coisa por coisa, passou a se trocar coisa por dinheiro. Este é o conceito mais simples de CeV: é a troca de coisa por dinheiro. A Compra e Venda nasceu da troca e a substituiu pois a troca hoje é contrato raro. 
            Conceito: Contrato em que uma das partes se obriga a transferir a outra o domínio de uma coisa mediante o pagamento convencionado de certo preço em dinheiro (CC, art. 481).
            Neste conceito destaquem de imediato a expressão “se obriga”, oriunda do Direito Romano e Alemão pois a Compra e Venda, como todo contrato, gera obrigação. 
A Compra e Venda não transfere o domínio (= propriedade), e sim obriga o vendedor a transferir o domínio da coisa, se ele não o fizer será cabível as perdas e danos do artigo 389 CC, com as exceções já conhecidas do art. 475 CC. Observem que o art. 481 CC prescreve que a Compra e Venda não transfere o domínio, mas obriga o vendedor a transferir. 
E o que é que vai transferir o domínio da coisa adquirida?
 
Se a coisa for móvel, é a tradição = entrega efetiva da coisa prevista nos artigos. 1226 e 1267. 
E se a coisa for imóvel a propriedade se adquire pelo registro em Cartório, conforme art. 1227. Registro e tradição são assuntos de Direitos Reais, mas que vocês já podem ir se familiarizando.
Por que se exigea tradição e o registro? 
Porque a propriedade é um direito tão importante na nossa vida, que para transferi-la não basta o contrato, é necessário um gesto a mais/uma confirmação, que é a tradição para os móveis e o registro para os imóveis. O nosso Direito entende que o contrato é um caminho para se adquirir a propriedade, mas não é o único, pois a usucapião (Civil V) e a herança (Civil VI) também conduzem à propriedade.
            Observação: Conforme já expus em DC III, os automóveis são bens móveis então se transferem pela tradição. O registro no DETRAN é importante para fins administrativos, não para fins civis, assim quando alguém vende um carro ele deixa de ser do sujeito quando ele entrega o carro ao comprador, mas é prudente comunicar ao DETRAN para não ficar recebendo multas e infrações em seu nome e toda vez ter que ficar provando que já alienou o veículo.
            Antes da tradição ou do registro a coisa pertence ao vendedor (CC, art. 492), de modo que se alguém compra uma geladeira a vista e vai aguardar em casa que a loja entregue, porém o caminhão é roubado, o prejuízo será da loja que vai ter que entregar outra geladeira; todavia, se alguém compra um celular a prazo, sai com o aparelho da loja e é roubado, o prejuízo será dele que terá que pagar as prestações. 
Tudo isso é consequência do princípio res perit domino (a coisa perece para o dono), sobre o qual já falamos em DC III. Lembram?
            Elementos da Compra e Venda são três:
a) a coisa: é o objeto da obrigação de dar do vendedor; tal coisa em geral é corpórea, ocupa lugar no espaço, é tangível; mas pode também ser incorpórea como a propriedade intelectual, os direitos do autor e o fundo de comércio. Esta coisa em geral está presente, mas pode ser futura, como já vimos nos contratos aleatórios (483: emptio spei e emptio rei speratae dos arts. 458 e 459).  Só as coisas úteis e raras são apropriáveis, então não são vendidas coisas inúteis (ex: folhas), abundantes (ex: água do mar, o ar que se respira) e inalienáveis (ex: bens públicos, 99 e 100; bens herdados com cláusula de inalienabilidade, 1911).
b) o preço: é objeto da obrigação de dar do comprador; o preço geralmente é em dinheiro ( = pecúnia, que deriva de pecus = cabeça de gado, que era uma moeda primitiva), mas pode ser em título de crédito (ex: cheque).  O preço precisa ser combinado pelas partes, afinal todo contrato é consensual, não se admitindo uma CeV tipo “o comprador pagará o que quiser” (489). Admite-se que um terceiro fixe o  preço, mediante arbitramento (485, depois vejam um artigo sobre Arbitragem no site). Finalmente, o preço pode também ser fixado pelo mercado (486 e 487).  Em geral, o comprador primeiro dá o preço para depois exigir a coisa (491).  Além do preço, a CeV gera outras despesas relativas a transporte da coisa móvel ou registro da coisa imóvel, despesas que devem ser pagas conforme acerto entre as partes (490).
c) o consenso: é o terceiro elemento da CeV e de todo contrato, que sempre exige acordo de vontades e mútuo consentimento sobre o preço, o objeto e os demais detalhes do negócio. Não esqueçam que na compra e venda de imóveis tal consenso exige a solenidade da escritura pública (108). No art. 482 encontramos os três elementos da Compra e Venda: acordo, objeto e preço.  
Características da Compra e Venda:
            a) bilateral: é contrato de efeito bilateral pois ambas as partes são credoras e devedoras, ambas as partes possuem direitos e deveres. Na compra e venda encontraremos duas ações: a do comprador entregando o preço e a do vendedor entregando a coisa. O comprador tem o dever de entregar o preço e o direito de exigir a coisa, e o vendedor tem o dever de entregar a coisa e o direito de exigir o preço. Os contratos de efeitos bilaterais são também conhecidos como sinalagmáticos, palavra que deriva do grego sinalagma ( reciprocidade).
            b) consensual: nasce do acordo de vontades, e mesmo antes da entrega da coisa já existe contrato, diferente do depósito e comodato que são contratos reais. A CeV pode ser verbal, salvo a compra e venda de imóvel que é contrato solene e além do consenso exige escritura pública (108). 
            c) onerosa: não é gratuita, pois ambas as partes têm interesse econômico e vantagem patrimonial. A Compra e Venda pressupõe trocas úteis e justas, no espírito da função social do contrato, exigida pelo art. 421 do CC.
            d) geralmente comutativa: a Compra e Venda pode ser aleatória, como na já estudada CeV de coisa futura (emptio spei e emptio rei speratae), mas em geral é contrato comutativo já que existe uma equivalência entre o preço pago (prestação) e a coisa adquirida (contraprestação).
            e) instantânea: a Compra e Venda dura segundos, minutos, e mesmo se o pagamento é a prazo, a Compra e Venda continua sendo instantânea, porém de execução diferida.
 
            Legitimidade para a Compra e Venda: a legitimidade e um limitador da capacidade que já explicamos em aula passada. Algumas pessoas, embora capazes, não têm legitimidade (= autorização) para comprar e vender certos bens, em certas circunstâncias, vejamos:
            a) para proteger a família, o cônjuge não pode vender um bem imóvel sem a autorização do outro cônjuge, o que se chama de outorga uxória (1647, I). Caso essa venda ocorra ela não será nula, mas anulável (1649). A nulidade é mais grave do que a anulabilidade, depois revisem Invalidade do Negócio Jurídico (169 e 172). O Juiz pode suprir uma recusa injusta (1648).
            b) para proteger a igualdade da herança entre os filhos, e evitar que uma venda a preço vil esconda uma doação, um pai também não pode vender um bem a um filho sem a autorização dos demais filhos, sob pena de anulabilidade (496). Se o pai quer beneficiar patrimonialmente um filho mais do que a outro, deve fazer isso expressamente e aguardar as consequências do ciúme entre os irmãos. O pai não pode é por trás de uma venda ter feito uma doação, afirmando que recebeu o preço sem ter havido pagamento. Em Civil 7 estudaremos colação, assunto que se completa com este para uma perfeita compreensão de vocês, pois a coisa vendida não é colacionada  (art. 2002).
            c) por uma questão moral, afinal não basta ser honesto, é preciso parecer honesto, o tutor não pode comprar os bens do órfão que ele administra; idem o Juiz não pode comprar os bens que ele mandou penhorar do devedor no processo de execução, sob pena de nulidade (497, I e III).
            d) para facilitar a extinção do condomínio, um condômino não pode vender sua parte a um terceiro se outro condômino a quiser, sob pena de anulabilidade (ex: imaginem que João e Maria são donos de um barco, se João quiser vender sua parte deverá antes oferecer a Maria até para extinguir o condomínio, pois não é fácil duas pessoas exercerem propriedade sobre um mesmo bem, 504).
            Venda ad mensuram e ad corpus: estas duas espécies de CeV se aplicam a imóveis. A venda é ad mensuram quando se determina a área do imóvel vendido (ex: fazenda de cem hectares, terreno com mil metros quadrados) ou o preço de cada metro ou hectare (ex: mil reais cada metro quadrado, dez mil reais por hectare); o erro no tamanho do imóvel traz conseqüências  conforme art 500. Já na venda ad corpusadquire-se coisa certa e que se presume conhecida pelo comprador (ex: Fazenda São João, Engenho Limoeiro), de modo que  não se pode falar de abatimento do preço (§ 3º do art. 500). Na venda ad corpusexiste uma presunção absoluta de que  o comprador conhecia o imóvel, sua extensão e suas divisas. Falando de presunção, em direito a presunção pode ser absoluta (jure et de jure) ou relativa (juris tantum): a presunção absoluta não admite prova em contrário (exs: 158, 1.238), a relativa sim (ex: 322).
            Cláusulas especiais à compra e venda: estas cláusulas modificam o contrato e são opcionais, podem ou não estar presentes nos contratos de CeV, a critério das partes:
            a) retrovenda: cláusula pela qual o vendedor, em acordo

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