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22/02/2016 Psiqweb
http://www.psiqweb.med.br/site/?area=NO/LerNoticia&idNoticia=131 1/10
1
  Selecione . . .
Teoria da Personalidade ­ Geral
Uma base para refletir sobre nossa Personalidade 
| Personalidade |
A busca por explicações sobre a personalidade parece ter mobilizado as mais diversas
áreas do conhecimento humano desde sempre e a tendência em classificar pessoas é tão
antiga quanto a humanidade. Ninguém, absolutamente ninguém, deixa de classificara as
pessoas que conhece, ainda que intimamente, involuntariamente e até
inconscientemente. Todos nós temos uma espécie de arquivo subjetivo das pessoas que
julgamos explosivas, simpáticas, sensíveis, desleais, preocupadas, ansiosas, mentirosas,
amorosas e assim por diante.
Na Grécia, Hipócrates (460­377 a.C.), considerado o pai da medicina, classificava a
personalidade em quatro tipos, de acordo com a presença de determinadas substâncias
no organismo. No século XVII, o filósofo John Locke foi um dos primeiros a teorizar que a
mente humana nasce vazia, como um papel em branco, e que a personalidade seria fruto
das experiências. Logo depois, o francês Jean Jacques Rousseau criou o conceito do bom
selvagem inspirado nas descobertas de povos indígenas nas Américas. Para ele os
humanos nasceriam inocentes e pacíficos. Males como ganância e violência seriam
produto da civilização.
Um dos aspectos da tendência universal de classificar os outros se baseia em traços da
personalidade. Hipócrates começou com essa tendência classificatória através de sua
teoria dos quatro humores corporais ­ sangue, fleuma, bile branca e bile negra – segundo
a qual, a predominância de qualquer um desses quatro humores caracterizaria o
temperamento das pessoas, bem como a inclinação para determinadas doenças.
O primeiro cientista da era moderna a estudar seriamente a questão da natureza versus
criação foi o inglês Francis Galton (1822­1911), no fim do século XIX. Pioneiro no estudo
de irmãos gêmeos, Galton, primo de Charles Darwin, pretendia mostrar que a inteligência
e os talentos da elite intelectual inglesa eram passados de pai para filho.
No Renascimento e na era moderna, o debate se deu principalmente em torno do grau de
participação que a natureza e o ambiente teriam na formação da personalidade. Por muito
tempo os intelectuais insistiam na tese da personalidade humana ser produto exclusivo do
ambiente. Talvez essa insistência tenha sido uma atitude inconsciente de reagir à série de
discriminações e atrocidades cometida na Europa e Estada Unidos durante boa parte do
século 20 com propósitos étnicos. Em episódios que espocavam aqui e ali, geralmente
revelados apenas décadas mais tarde, judeus, ciganos, negros, deficientes físicos,
homossexuais e outros grupos étnicos ou estigmatizados foram esterilizados ou mortos
para evitar que transmitissem seus genes à posteridade. O apogeu trágico e brutal dessas
atitudes pretensamente eugênicas ocorreu na Alemanha nazista.
Baseado na teoria de Hipócrates, Cláudio Galeno (131­200 DC), em sua monografia "De
Temperamentis" desenvolveu a primeira tipologia do temperamento. Descreveu quatro
temperamentos básicos (que se desdobravam em nove e não vêm ao caso aqui):
sanguíneo, bilioso ou colérico, melancólico e fleumático.
Immanuel Kant (1724 – 1804), mil e quinhentos anos depois, aprimorou as características
dos quatro tipos de temperamento citados por Galeno. O tipo sangüíneo é caracterizado
pela força, rapidez e emoções superficiais. O tipo melancólico, designado pelas emoções
intensas e vagarosidade das ações. O tipo colérico, rapidez e impetuosidade no agir e o
fleumático, caracterizado pela ausência de reações emocionais e vagarosidade no agir.
DNA E PERSONALIDADE   
Na metade do século XX até agora, a partir da descoberta da estrutura do DNA pelo
americano James Watson e pelo inglês Francis Crick em 1953 até o mapeamento
completo do genoma humano, em 2003, abriu­se um campo de exploração sem
precedentes para entender as origens biológicas da personalidade. Hoje se sabe que os
comportamentos dependem da interação entre fatores genéticos e ambientais.
Além disso, as descobertas mais recentes nesse campo mostram que a influência dos
hábitos e do estilo de vida de cada um na ação dos genes é maior do que se pensava.
Pessoas com genes associados à depressão têm mais probabilidade de desenvolver a
doença se forem expostas a eventos traumáticos durante a vida. Fala­se que questões
vivenciais podem servir como gatilho para disparar certas predisposições geneticamente
determinadas.
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Introversão e Extroversão (na visão
de Jung)
"Dentre os conceitos de Jung, os de
introversão e extroversão são os mais
usados. Jung descobriu que cada
indivíduo pode ser caracterizado como
sendo primeiramente orientado para seu
interior ou para o exterior, sendo que a
energia dos introvertidos se dirige em
direção a seu mundo interno, enquanto a
energia do extrovertido é mais focalizada
no mundo externo.
Entretanto, ninguém é totalmente
introvertido ou extrovertido. Algumas
vezes a introversão é mais apropriada;
em outras ocasiões, a extroversão é
mais adequada. Mas as duas atitudes se
excluem mutuamente, de forma que não
é possível manter ambas ao mesmo
tempo. Jung também enfatizava que
nenhuma das duas é melhor do que a
outra, afirmando que o mundo precisa
dos dois tipos de pessoas. Darwin, por
22/02/2016 Psiqweb
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A descoberta da estrutura do DNA por James Watson e Francis Crick, em 1953, e a
divulgação do Projeto Genoma Humano, em 2000, abriram as portas para uma
compreensão sem precedentes das raízes biológicas da personalidade. As revelações de
que a genética pode influenciar comportamentos mudam a visão das pessoas sobre
questões filosóficas e do cotidiano. "A idéia de que os bebês vêm ao mundo sem
características inatas multiplica a angústia dos pais que dão aos filhos uma educação
adequada e eles não correspondem às suas expectativas. Na verdade, muitas coisas não
dependem dos pais, e sim da natureza", diz Steven Pinker. O biólogo Richard Dawkins, da
Universidade de Oxford, e autor de O Gene Egoísta, vai além. "A genética do
comportamento mudará muita coisa. Se partirmos do pressuposto de que nossa mente é
regida por algo além dos conceitos éticos e morais aprendidos, como punir um
assassino?", ele questiona. "Quando um computador não funciona, em vez de puni­lo, nós
o consertamos."
Na década de 70 os estudos com gêmeos, incluíam filhos biológicos e adotivos,
mostraram que as crianças adotadas têm traços de personalidade mais parecidos com os
de seus pais biológicos do que com os dos pais adotivos. Os estudos revelaram também
que gêmeos idênticos exibem aspectos da personalidade semelhantes.
 
AMBIENTE, GENÉTICA E PERSONALIDADE 
Como se forma a personalidade humana? O que é mais importante na formação e
desenvolvimento da personalidade? Essas questões acompanham a curiosidade humana
desde tempos imemoráveis. Atualmente, embora a dúvida continue, já podemos refletir
baseados em hipóteses bastante interessantes.
O indivíduo como se encontra aqui­e­agora é, indubitavelmente, um produto daquilo que
ele trouxe ao mundo com aquilo que o mundo fez com ele, em outras palavras, o sujeito é
uma combinação de seu genótipo com as influências do ambiente sobre esse genótipo.
Entre tantas tendências destaca­se um tronco ideológico segundo o qual os seres
humanos seriam criados iguais quanto sua capacidade potencial. Neste caso, a ocorrência
das diferenças individuais seria interpretada como uma decisiva influência ambiental sobre
o desenvolvimento da personalidade.
De acordo com tal enfoque, havendo no mundo uma hipotética igualdade de
oportunidades, seríamostodos iguais quanto as nossas realizações, já que,
potencialmente seríamos iguais. Assim pensando, se a todos fossem dadas oportunidades
iguais, como por exemplo, oportunidade musical ou artística, seria impossível destacar­se
um Chopin, Mozart, Monet, Rembrandt, porque a potencialidade de todos seus colegas
de classe seria a mesma. A única diferença entre Einstein e os demais teria sido uma
simples questão de oportunidade e circunstâncias ambientais. Neste caso a
personalidade, a inteligência, a vocação e a própria doença mental seriam questões
exclusivamente ambientais. 
 
A idéia de buscar fora da pessoa os elementos que explicassem seu comportamento a
sua desenvoltura vivencial teve ênfase com as teorias de Rousseau, segundo o qual era a
sociedade quem corrompia o homem. Subestimou­se a possibilidade da sociedade refletir,
exatamente, a totalidade das tendências humanas. São seres humanos que trazem em si
um potencial corruptor o qual, agindo sobre outros indivíduos sujeito à corrupção,
produzem um efeito corruptível. Ou seja, trata­se de um demérito tipicamente e
exclusivamente humano. 
Outra concepção acerca da personalidade foi baseada na constituição biotipológica,
segundo a qual a genética não estaria limitada exclusivamente à cor dos olhos, dos
cabelos, da pele, à estatura, aos distúrbios metabólicos e, às vezes, às malformações
físicas, mas também, determinaria às peculiares maneiras do indivíduo relacionar­se com
o mundo: seu temperamento, seus traços afetivos, etc.
As considerações extremadas neste sentido descartam qualquer possibilidade de
influência do meio sobre o desenvolvimento e desempenho psico­emocionale e atribuem
aos arranjos sinápticos e genéticos a explicação de todas as características da
personalidade. Entretanto, uma das descobertas mais interessantes do projeto Genoma
colocou em cheque essa hipótese organicista. Foi o fato de se verificar que os seres
humanos compartilham entre si 99,99% de seus genes e, desta forma, as diferenças
cromossômicas entre duas pessoas seriam ínfimas.
Pelo lado da biologia, se a diferença dos cromossomos entre duas pessoas gira em torno
de 0,01%, como se justificaria a enorme diferença de personalidade entre essas duas
pessoas. Pelo lado do ambiente, se o meio onde se desenvolvem dois irmãos é
basicamente o mesmo, o que justificaria também a enorme diferença entre as
personalidades de ambos.
Buscando um meio termo, como apelo ao bom senso, pode­se considerar a totalidade do
ser humano como sendo um balanço entre, no mínimo, duas porções que se conjugam de
forma a produzir a pessoa tal como é: uma natureza biológica, tendo por base nossa
natural submissão ao reino animal e às leis da biologia, da genética e dos instintos, e
uma natureza existencial, suprabiológica e que transcende o animal que repousa em nós.
A pessoa, ser único e individual, distinto de todos outros indivíduos de sua espécie, traduz
a essência de uma peculiar combinação bio­psico­social.
Pensando assim, os genes herdados se apresentam como possibilidades variáveis de
desenvolvimento em contacto com o meio e não como certeza inexorável de
desenvolvimento. Sensatamente, o ser humano não deve ser considerado nem
exclusivamente ambiente, nem exclusivamente herança, antes disso, uma combinação
exemplo, era predominantemente
extrovertido, enquanto Kant era
introvertido por excelência.
O ideal para o ser humano é ser flexível,
capaz de adotar qualquer dessas
atitudes quando for apropriado, o ideal
para o ser humano é não poder ser
classificado, é ser uma mistura bastante
incomum entre duas culturas.
Os introvertidos concentram­se
prioritariamente em seus próprios
pensamentos e sentimentos, em seu
mundo interior, tendendo à introspecção.
O perigo para tais pessoas é imergir de
forma demasiada em seu mundo interior,
perdendo ou tornando tênue o contato
com o ambiente externo. O cientista
distraído, estereotipado, é um exemplo
claro deste tipo de pessoa absorta em
suas reflexões em notável prejuízo do
pragmatismo necessário à adaptação.
Os extrovertidos, por sua vez, se
envolvem com o mundo externo das
pessoas e das coisas. Eles tendem a ser
mais sociais e mais conscientes do que
acontece à sua volta. Necessitam se
proteger para não serem dominados
pelas exterioridades e, ao contrário dos
introvertidos, se alienarem de seus
próprios processos internos. Algumas
vezes, esses indivíduos são tão
orientados para os outros que podem
acabar se apoiando quase
exclusivamente nas idéias alheias, ao
invés de desenvolverem suas próprias
opiniões.
As Funções Psíquicas
Jung identificou quatro funções
psicológicas que chamou de
fundamentais: pensamento, sentimento,
sensação e intuição. E cada uma dessas
funções pode ser experienciada tanto de
maneira introvertida quanto extrovertida.
O Pensamento. Jung via o pensamento
e o sentimento como maneiras
alternativas de elaborar julgamentos e
tomar decisões. O pensamento está
relacionado com a verdade, com
julgamentos derivados de critérios
impessoais, lógicos e objetivos. As
pessoas nas quais predomina a função
do pensamento são chamadas de
reflexivas. Esses tipos reflexivos são
grandes planejadores e tendem a se
agarrar a seus planos e teorias, ainda
que sejam confrontados com
contraditória evidência.
O Sentimento. Tipos sentimentais são
orientados para o aspecto emocional da
experiência. Eles preferem emoções
fortes e intensas, ainda que negativas, a
experiências apáticas e mornas. A
consistência e os princípios abstratos são
altamente valorizados pela pessoa
sentimental. Para ela, tomar decisões
deve estar de acordo com julgamentos
de valores próprios ­ como, por exemplo,
valores de bem ou de mal, do certo ou
do errado, do agradável ou do
desagradável ­, ao invés de julgar em
termos de lógica ou eficiência, como faz
o reflexivo.
A Sensação. Jung classifica a sensação
e a intuição juntas, como as formas de
apreender informações, diferentemente
22/02/2016 Psiqweb
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destes dois elementos em proporções completamente insuspeitadas. 
O ser humano não deve ser considerado um produto exclusivo de seu meio, tal como um
aglomerado dos reflexos condicionados pela cultura que o rodeia e despido de qualquer
atributo mais nobre de sentimentos e vontade própria. Não pode, tampouco, ser
considerado um punhado de genes, resultando numa máquina programada a agir desta
ou daquela maneira, conforme teriam agido exatamente os seus ascendentes biológicos. 
Seguindo essa idéia a definição de Personalidade poderia ser esboçada da seguinte
maneira:
"PERSONALIDADE É A ORGANIZAÇÃO DINÂMICA DOS TRAÇOS NO INTERIOR
DO EU, FORMADOS A PARTIR DOS GENES PARTICULARES QUE HERDAMOS,
DAS EXISTÊNCIAS SINGULARES QUE EXPERIMENTAMOS E DAS
PERCEPÇÕES INDIVIDUAIS QUE TEMOS DO MUNDO, CAPAZES DE TORNAR
CADA INDIVÍDUO ÚNICO EM SUA MANEIRA DE SER, DE SENTIR E DE
DESEMPENHAR O SEU PAPEL SOCIAL".
 OS TRAÇOS DA PERSONALIDADE  
Para a psiquiatria os tipos de personalidade, ou os tipos psicológicos, são classificados de
acordo com o conjunto de traços que caracterizavam a maneira de ser da pessoa, o modo
como a pessoa interage com seu mundo objectual, ou seja, como o sujeito se relacionava
com o objeto.
Carl Jung (1875 – 1961) classificava as pessoas em dois tipos básicos de atitude (dos
quais também derivam vários subtipos), a extroversão e a introversão, de origem
biológica. A extroversão, segundo ele, era governada por expectativas e necessidades
sociais, estando orientada para a adaptação e reações exteriores, enquanto a introversão
teria sua energia dirigida para os estados subjetivos e processos psíquicos. A extroversão,
segundo Jung, era mobilizada por expectativas e necessidades sociais, estando orientada
para reações exteriores, enquanto a introversão teria sua energia dirigida para os estados
subjetivos e processos psíquicos.
AlfredAdler (1870 – 1937) reconhecia quatro tipos de temperamento, os quais, de certa
forma, foram ainda baseados em Galeno, porém, definidos de acordo com o interesse
social e nível de energia manifestado pelas pessoas. Adler denominava tipo governante as
pessoas com certo nível de agressividade, tirania e dominação, correspondendo ao tipo
colérico de Galeno. Falava do tipo dependente, para pessoas sensíveis, que se
acomodam em uma concha existencial para se protegerem dos eventos externos. O tipo
dependente possui baixos níveis de energia, são cronicamente cansados, pouco dispostos
e correspondem ao tipo fleumático de Galeno.
O terceiro tipo de Adler é chamado de evitação e representa pessoas que tendem a se
afastar do contato direto com os outros e com as circunstâncias. Essas pessoas também
têm níveis baixos de energia, são predominantemente tristes e correspondem ao tipo
melancólico de Galeno. Finalmente o tipo socialmente útil, representando as pessoas
saudáveis, que apresentam interesse social e energia, atléticas e vigorosas, relacionadas
ao tipo sangüíneo de Galeno.
Alguns traços de personalidade, de fato, parecem ter uma potencialidade geneticamente
determinada, faltando saber com que probabilidade esse potencial se desenvolverá ou
não na vida da pessoa. O seqüenciamento do genoma humano permitiu que cientistas
identificassem uma série de genes relacionados ao comportamento. Foram mapeados
genes relacionados à tendência para adquirir certos traços de personalidade, ou a
desenvolver hábitos ou vícios – desde que tais genes sejam "disparados" por estímulos
ambientais durante a vida da pessoa.
A mais recente pesquisa dos genes relacionados ao comportamento humano foi
conduzida pela Universidade de Essex, na Inglaterra, e se refere ao gene responsável pelo
transporte da serotonina, um neurotransmissor associado à tonalidade afetiva, bem como
ao bem­estar e felicidade, entre outros sentimentos e sensações. Esses genes estariam
relacionados à maneira como cada um processa as informações positivas ou negativas –
ou seja, à tendência a ser otimista ou pessimista.
Os trabalhos da geneticista brasileira Mayana Zatz da Universidade de São Paulo, em
parceria com o geneticista João Ricardo de Oliveira, da Universidade Federal de
Pernambuco, em pesquisas para tentar descobrir a influência genética de doenças
psíquicas levaram à descoberta do gene do otimismo. Isso pode nos fazer mais tolerantes
com quem teima em ver apenas o lado negativo do mundo. Para a psiquiatria essas
descobertas embasam o tratamento do mau humor (distimia) com medicamentos que
aumentam o nível da serotonina, geralmente antidepressivos.
Por conta desse gene do otimismo a revista Veja cogita, em um toque de bom humor, se
o carnaval brasileiro não teria uma origem genética, já que entre os brasileiros o gene
bom humor é encontrado em 40% das pessoas – um verdadeiro recorde se comparado
aos ingleses, com apenas 16% de portadores. O pesquisador Ricardo Kanitz, da PUC do
Rio Grande do Sul, atribui esse índice de otimismo dos brasileiros à mistura de etnias e
nacionalidades da qual se compõe nosso país. De qualquer maneira, felizmente ou
infelizmente, parece claro que o brasileiro é mais propenso a olhar o mundo com certo
otimismo.
Passo a passo a ciência descobre que a genética pode influir muito na formação das
características e no comportamento das pessoas. Talvez as pessoas com índole calma ou
explosiva tenham uma participação genética importante em seu comportamento, muito
além do comportamento aprendido. Como neste caso, a ciência se preocupará em ir a
fundo ao caso da homossexualidade, da inteligência, dos comportamentos obsessivos,
histéricos, fóbicos e assim por diante.
das formas de tomar decisões. A
sensação se refere a um enfoque na
experiência direta, na percepção de
detalhes, de fatos concretos. A sensação
reporta­se àquilo que uma pessoa pode
ver, tocar, cheirar. É a experiência
concreta e tem sempre prioridade sobre
a discussão ou a análise da experiência.
Os tipos sensitivos tendem a responder à
situação vivencial imediata, e lidam
eficientemente com todos os tipos de
crises e emergências. Em geral eles
estão sempre prontos para o momento
atual, adaptam­se facilmente às
emergências do cotidiano, trabalham
melhor com instrumentos, aparelhos,
veículos e utensílios do que qualquer um
dos outros tipos.
A Intuição. A intuição é uma forma de
processar informações em termos de
experiência passada, objetivos futuros e
processos inconscientes. As implicações
da experiência (o que poderia acontecer,
o que é possível) são mais importantes
para os intuitivos do que a experiência
real por si mesma. Pessoas fortemente
intuitivas dão significado às suas
percepções com tamanha rapidez que,
via de regra, não conseguem separar
suas interpretações conscientes dos
dados sensoriais brutos obtidos. Os
intuitivos processam informação muito
depressa e relacionam, de forma
automática, a experiência passada com
as informações relevantes da experiência
imediata." (trecho de um artigo no site
Pausa para a Filosofia)
As hipóteses sobre a personalidade,
mais precisamente as Teorias da
Personalidade, podem ter enorme
influência sobre o modo como são
elaboradas as ideologias políticas,
interpretações antropológicas, programas
sociológicos... Enfim, as especulações
sobre a formação daquilo que nós temos
de mais humano, a Personalidade,
determina maneiras como a sociedade
representa o próprio ser humano. 
Vejamos duas tendências, uma que
prioriza as diversas culturas na formação
da personalidade e outra, ao contrário,
que prioriza os atributos pessoais;
Etnocentrismo e Egocentrismo,
respectivamente. 
Etnocentrismo 
Aqui veremos a influência da etnia como
o centro da formação da personalidade,
em suma, a cultura configurando as
características na maneira de ser. Todos
nós crescemos em uma cultura que já
existia antes dele nascermos, e essa
cultura influirá tão profundamente, tão
marcantemente e, ao mesmo tempo, tão
sutilmente que vivemos acreditando que
“as cosas são assim porque são assim”.
Erich Fromm chama isso de inconsciente
social, uma força valorativa (que dá valor
à realidade) bastante poderosa. 
Assim sendo, muitas características
consideradas traços de personalidade, ou
mesmo traços da natureza humana são,
na realidade, influências culturais. Os
japoneses, por exemplo, não têm um
traço de personalidade responsável pelo
retraimento emocional e pela dificuldade
em externar sentimentos. Trata­se, sim,
22/02/2016 Psiqweb
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O que se pretende, hoje em dia, é que os pesquisadores não tenham de optar pelo
sistema orgânico ou psicológico, como acontecia antes. Não cabem mais, de um lado os
defensores da tese de que nascemos todos iguais e a personalidade se forma pelo
aprendizado e pelas experiências pessoais e, de outro lado, defensores de que os traços
da personalidade são definidos pela herança genética, assim como a cor dos olhos.
 
A genética do comportamento vem mostrando que não só o ambiente e nem só o DNA
formam a personalidade. Atualmente considera­se que os traços tenham um componente
genético, porém, sua manifestação depende de fatores ambientais. O gene carrega o
traço, mas é o ambiente que puxa o gatilho para ele se manifestar. De qualquer forma, já
se tem certeza de que os genes são capazes de influenciar o comportamento humano. Já
foram encontrados genes que tornam as pessoas mais vulneráveis a comportamentos
agressivos ou a sofrer transtornos psíquicos. Também foram detectados genes
relacionados à orientação sexual e a vícios como alcoolismo e tabagismo.
A presença desses genes, entretanto, não significa que a pessoa obrigatoriamente
desenvolverá o comportamento ligado a ele. O que existe é uma predisposição,
geralmente influenciada pelas experiências pessoais, familiares e pelo ambiente emque a
pessoa vive. Ter predisposição genética à depressão, por exemplo, não basta para a
pessoa ficar deprimida, pois os mesmos genes são encontrados também em pessoas não
deprimidas.
Para os genes ligados aos traços se manifestarem outros fatores são necessários, tais
como as vivências, o ambiente social, as condições de saúde geral e assim por diante. Os
traços de personalidade, porém, são produtos de muitos genes – e não de apenas um,
como ocorre com a maioria das características físicas e das doenças.
Os estudos com gêmeos têm revelado a natureza hereditária do perfil emocional das
pessoas. Esses experimentos permitiram concluir que as principais características da
personalidade – como introversão ou extroversão, vulnerabilidade à neurose ou
estabilidade emocional, abertura ou não a experiências, atenção ou dispersão – são em
média 50% herdadas.
Mesmo em atitudes culturais como a religião, por exemplo, o impacto dos genes é muito
forte. O conservadorismo político, outro exemplo, é um traço que, segundo estudos da
Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, tem 60% de influência genética. Os
pesquisadores dessa universidade vêem acompanhando 8.000 gêmeos, três centenas
deles são gêmeos idênticos e separados da família no nascimento há mais de 20 anos.
Os resultados surpreendem ao mostrar que certos comportamentos antes considerados
fruto do aprendizado são fortemente influenciados pela genética.
TEORIAS DA PERSONALIDADE 
Todas as vezes que colocamos lado a lado duas pessoas estabelecendo comparações
entre elas, qualquer que seja o aspecto a ser medido e comparado sempre existirá
diferenças entre ambas. São essas diferenças entre os indivíduos que os tornam únicos e
inimitáveis. 
Por outro lado, apesar de tais diferenças, constatamos outras características comuns a
todos os seres humanos, tal como uma espécie de marca registrada de nossa espécie.
Assim, existem elementos comuns e capazes de nos identificar todos como pertencentes
a uma mesma espécie, portanto, característicos da natureza humana e outros atributos
particulares e pessoais capazes de diferenciar um ser humano de todos os demais.
Para demonstrar didaticamente este duplo aspecto da constituição humana imaginemos,
por exemplo, um enorme canteiro de rosas amarelas. Embora todos os indivíduos do
canteiro tenham características comuns e suficientes para ser considerados e identificados
como rosas amarelas, é praticamente impossível encontrar dois exemplares exatamente
iguais. Portanto, apesar de todos esses indivíduos possuírem traços comuns, tais como,
perfume, pétalas e espinhos, cada um deles tem suas características individuais,
tamanho, número de pétalas, tonalidades diferentes, espinhos mais realçados... 
No ser humano normal, da mesma forma, existem características universais, como por
exemplo, duas pernas, dois braços, um nariz, angústia, ambição, amor, ódio, ciúme, etc.
Entretanto, em cada um de nós essas características combinar­se­ão de maneira
completamente pessoal e singular. 
Diante dessas características iguais e diferentes podemos afirmar que os seres humanos
são essencialmente iguais e funcionalmente diferentes, ou seja, somos iguais uns aos
outros quanto à nossa essência humana (ontologicamente), porém, funcionamos
diferentemente uns dos outros. Todas as ideologias que enfatizam uma igualdade
genérica entre os seres humanos, em total descaso para com as diferenças funcionais,
apesar do discurso eloqüente e retórico, apesar de certo romantismo ética e moralmente
correto, cientificamente são completamente falsas. 
Nossa igualdade é apenas essencial, jamais funcional. As teorias sobre uma igualdade
plena entre seres humanos pecam, inclusive, por negarem uma das principais
características de nossa espécie que é a perene vocação das pessoas em querer se
destacarem umas das outras.
Semelhanças Essenciais   
A data do aparecimento do ser humano na face da Terra vai recuando no tempo na
medida em que avançam os métodos das descobertas da arqueologia. A idéia de que o
homem de Neanderthal tenha sido um ancestral do Homo sapiens tem sido cada vez mais
contestada por antropólogos e palenteólogos, cogitando­se a tese de que há mais de
cinco milhões de anos já existiam homens capazes de fabricar utensílios e cultuar seus
de um apelo cultural.
Na Europa, por exemplo, durante a
segunda metade do século XIX, as
pessoas não falavam muito sobre o
sexo, especialmente as mulheres. Era
mais ou menos um tabu. Poderíamos
até falar que um dos traços da
personalidade das mulheres era certa
reserva, inibição e constrangimento em
relação aos assuntos relativos ao sexo.
Depois da abertura sexual a partir da
segunda metade do século XX, quando
falar sobre sexo ficou cada vez mais
natural, percebe­se que esse “traço de
personalidade” era, de fato, um traço
cultural. Assim aconteceu em ralação à
caça, erroneamente tida como um traço
predatório da natureza humana até
recentemente, quando passou a ser
constrangedor mostrar troféus de caça,
tornou­se politicamente incorreto contar
vantagens em matar elefantes, tigres,
baleias, etc. 
Por conta da tendência etnocentrista é
que pululam aqui e ali, em uma época
ou outra, os movimentos eugenistas, em
favor desta ou daquela raça ou etnia.
Atribuir características de personalidade
a esta ou aquela etnia, reconhecer como
boa ou má uma raça ou grupo étnico
favorece movimentos discricionários,
desde movimentos bélicos entre gregos
e troianos, nazista, na limpeza étnica do
cosovo, skinheads, castas, cor da pele,
etc.
Egocentrismo 
Outra teorização da personalidade situa
cada um de nós além da cultura,
considerando a participação da genética,
a estrutura psico­neurológica, as
experiências especiais que suportamos,
enfim, atribuindo às características
pessoais a estrutura da personalidade.
O centro de formação da personalidade
é a própria pessoa, como uma unidade
biológica autônoma. A natureza
pessimista, introvertida, expansiva,
empreendedora, anti­social, leal, etc,
etc, são peculiaridades constitucionais da
pessoa. 
A idéia de adjetivos positivos à nobreza,
às pessoas de “sangue azul”, à
descendência de fidalgos, de famílias
tradicionais, tem embasamento na idéia
das qualidades atreladas à pessoa em
seu sentido mais constitucional. Aqui o
inverso é também verdadeiro, supondo
adjetivos negativos às pessoas que não
obedecem ao “modelito” biológico.
Haveria assim uma espécie de biótipo do
bem.
________________________
Nina Rodrigues e a possessão pelos
orixás
O olhar dos psiquiatras
brasileiros sobre os
fenômenos de transe e
possessão, Angélica
A. Silva de Almeida,
Ana Maria G. R. Oda,
Paulo Dalgalarrondo,
disponvivel na internet
(veja), consultado em
2008
A Entre 1896 e 1897, o médico
maranhense Raimundo Nina Rodrigues
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mortos. Contudo, apesar do ser humano ter conseguido modificar suas possibilidades de
ação e seus modos de existência em poucos e recentes séculos de sua história, muitas
atitudes e sentimentos do homem pré­histórico continuam presentes e se repetindo no ser
humano moderno. 
É incontestável, sem dúvida, o grande salto dado pelo desempenho mental humano,
ainda que, desacompanhado de mudanças substanciais em nossa biologia. Fomos
capazes de saltar da pedra lascada ao micro­circuito integrado, do fogo à fusão nuclear e,
sabe­se lá, até onde chegaremos mais. Apesar disso, muita coisa ficou indelevelmente
impressa na maneira de ser do indivíduo moderno que remonta aos nossos irmãos das
cavernas. 
A atividade mental contemporânea do ser humano é totalmente diferente daquela de
nossos ancestrais, principalmente no que diz respeito à aquisição do conhecimento. Trata­
se, conforme expõe Herreira com clareza, de uma espécie de destino biológico da espécie
em sua jornada dirigida ao conhecimento, a qual se promoveatravés da utilização
progressiva dos ilimitados recursos do sistema nervoso humano.
Entretanto, voltando à questão das coisas que temos em comum com nossos irmãos
trogloditas, se há cinqüenta mil anos o homem ia à luta com sua clava, hoje ele se
empenha no combate com armas automáticas. Porém, a motivação, sentimento e
objetivo desta desavença ente seres humanos são os mesmos, tanto na pré­história
quanto hoje. Se em nossa pré­história nossos irmãos cultuavam seus mortos, julgando
que se transformavam em deuses, hoje consola­nos a idéia de que eles vão a Deus
depois de mortos. Nessas questões essenciais não houve grandes mudanças.
De acordo com Jung, nenhum biólogo pensaria em admitir que os indivíduos adquiram
todo seu modo de comportamento apenas a partir do nascimento, a partir das coisas que
aprenderá daí em diante. Bem mais provável é que o jovem pardal teça seu ninho
característico porque é um pardal e não um coelho. Assim também, é mais provável que o
ser humano nasça com sua maneira de comportar­se especificamente humana e não com
a do hipopótamo. São manifestações comportamentais que “já vêm prontas”, que vêm se
repetindo em cada pessoa que nasce sabe­se lá desde quando.
É assim que percebemos elementos de notável semelhança na essência dos seres
humanos, expressões e modos característicos próprios da espécie. Podemos encontrar
formas psíquicas no indivíduo que ocorrem não somente em seus ascendentes mais
próximos, mas em outras épocas distantes de nós milhares de anos e às quais estamos
ligados apenas pela arqueologia. Jung coloca estas Semelhanças Essenciais do ser
humano como certas formas típicas de comportamento característico, os quais, ao se
tornarem conscientes, assumem o aspecto de representações do mundo, maneiras
humanas de representar a realidade.
Também serve para ilustrar um pouco mais esta questão das Semelhanças Essenciais a
idéia dos instintos. Eles aparecem como formas típicas de comportamento da espécie,
podendo estar ou não associados a um motivo consciente. Freud chama atenção para
estas características universais da pessoa: os Instintos Básicos. Enfatiza notadamente o
instinto para a preservação da vida, tanto da vida individual, sob a forma de afastamento
da dor (ou busca do prazer), quanto da vida da espécie, através da sexualidade e vocação
à reprodução. Ele cita ainda o instinto da morte, o qual, apesar de contestado por muitos
autores, quando voltado para o exterior conduz à agressão. Pela teoria dos instintos,
serão inúteis as tentativas do ser humano livrar­se das inclinações agressivas, já que elas
são indispensáveis para a execução dos instintos.
Didaticamente poderíamos considerar os Arquétipos e os Instintos como duas faces de
uma mesma moeda; enquanto os instintos trazem em seu bojo uma conotação biológica
e que nos remete às sombras de nosso passado animalesco, os arquétipos colocam o ser
humano num patamar mais elevado e diferenciado, ou seja, mais espiritualizado.
Na filosofia, a busca de uma característica humana marcante foi vislumbrada por
Schopenhauer como sendo a Vontade. O fato de sentir e querer é a atitude mais básica
que o ser humano conhece, portanto, é uma característica comum a todos nós. Assim, o
intelecto se coloca a serviço desta forma irracional ou supra­racional chamada Vontade.
Posteriormente Nietzsche acrescentou à vontade de Schopenhauer o Poder: motivação
básica e universal entre os homens. 
A vontade do poder serviu de orientação aos estudos de Alfred Adler para a compreensão
psicodinâmica deste impulso natural humano, retirando do termo “poder” qualquer
conotação pejorativa. Para Adler, o poder atendia as mesmas exigências dos instintos
básicos de Freud e a motivação da atitude comum aos seres humanos estava firmemente
atrelada à sua vontade do poder: poder sobre os demais semelhantes. O que mudaria
entre as pessoas seria o tipo de poder em questão; poder material, político, intelectual,
estético, de autoridade, de privilégios e assim por diante.
Adler compara fenomenologicamente o poder aspirado pelo bandido que deseja ser o
mais pérfido entre seus pares, com a aspiração de poder do indivíduo caridoso,
manifestando sua pulsão de supremacia caridosa entre seus companheiros de altruísmo.
Evidentemente não cabe aqui uma preocupação valorativa ou ética, mas apenas a
constatação do fenômeno.
De qualquer forma, seja a necessidade íntima de um deus que conforta, seja nossa
perene tendência em preservar a vida ou garantir a espécie, seja nossa constante busca
do prazer, seja uma vontade que motiva ou um poder que estimula, podemos pensar
sempre num elemento da personalidade que tenha se perpetuado ao longo de toda nossa
história. Trata­se de determinadas atitudes existenciais diante da vida que acompanham
nossa espécie através de infindáveis gerações. São elas, as verdadeiras Tendências
Naturais do ser humano.
(1862­1906) publicou suas pioneiras
pesquisas sobre os fenômenos de
possessão observados nos cultos afro­
brasileiros dos terreiros de candomblé de
Salvador (BA). O animismo fetichista dos
negros baianos (1935)1 estuda a teologia
e a liturgia afro­baiana, apresenta os
orixás e suas atribuições no Brasil e na
África, comenta os oráculos, os estados­
de­santo, as cerimônias de culto público
e os ritos funerários.
É importante ressaltar que sua vasta
produção se insere no grande debate
nacional ocorrido no período próximo da
Abolição, quando o “problema do negro”
passa a ser especificamente uma
questão científica, vista pelas lentes da
teoria da degenerescência, do
determinismo climático e das crenças na
inferioridade inata da “raça negra” e nos
malefícios dos cruzamentos étnicos.
Diante dessas teorias, os pensadores
brasileiros viram­se obrigados a refletir
sobre o futuro de um país mestiço de
clima tropical (e, ainda, de uma república
nascente sob a sombra da herança
escravista), reflexão para a qual Nina
Rodrigues explicitamente pretendeu
colaborar (Oda, 2003).
Cientista convicto, o autor enfatiza que
não pretendia alimentar as querelas que
ocorriam entre “deistas e ateístas”, mas
apenas estudar as manifestações
religiosas “nos domínios do cognoscível”
(Nina Rodrigues, 1935, p. 15), ou seja,
no que se considerava então como
domínios científicos.
Assim Nina Rodrigues (1935, p. 99­100,
grifos no original) descreve o estado de
possessão pelos orixás, também
chamados santos2: “Como na possessão
demoníaca, como na manifestação
espírita, o santo fetichista pode
apoderar­se, sob invocação especial do
pai­de­terreiro, ou ainda de qualquer
filho­de­santo, e por intermédio deles
falar e predizer. A pessoa em quem o
santo se manifesta, que está ou cai de
santo na gíria do candomblé, não tem
mais consciência de seus atos, não sabe
o que diz, nem o que faz, porque quem
fala e obra é o santo que dele se
apoderou. Por esse motivo, desde que o
santo se manifesta, o indivíduo que dele
é portador perde a sua personalidade
terrestre e humana para adquirir, com
todas as honras a que tem direito, a do
deus que nele se revela”.
Incorporando a discussão psicopatológica
ao relato etnográfico, o autor considera o
estado­de­santo relacionado ao
sonambulismo provocado por sugestão.
Postula que é a música, ritmada e
monótona, que impele à dança e esta
leva ao estado de possessão; compara o
batuque dos candomblés aos métodos
que produziam hipnose por fadiga da
atenção (como os usados por Charcot na
Salpêtrière). Salienta, ainda, os papéis
da sugestão verbal, criada pela confiança
ilimitada nos chefes dos terreiros e em
suas palavras mágicas e pelo ambiente
religioso.
Em resumo, considera como típicos da
estrutura fenomenológica apresentada
nos quadros de possessão: alteração
qualitativa de consciência causada por
sugestão e manifestada por estado
sonambúlico, modificações nesse estado
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Emboraa essência destas Tendências Naturais pareça independer do tempo e do espaço
atuais pelo fato de terem existido, de existirem e de continuarem existindo em qualquer
momento e qualquer civilização de nossa história, suas manifestações comportamentais e
emocionais devem estar sempre adequadas ao modelo sócio­cultural onde a pessoa se
insere e às possibilidades de ação de cada um.  Em outras palavras, as Tendências
Naturais Humanas devem ser disciplinadas, domesticadas e adequadas às circunstâncias
e possibilidades de cada um.
Assim sendo, as Tendências Naturais nunca se manifestam de maneira pura e primitiva,
mas sim, domesticadas e aculturadas. Uma conduta instintiva pura é praticamente
impossível manifestar­se em condições psíquicas normais. Tais impulsos primitivos se
diluem pelas pressões das circunstâncias e pelas peculiaridades afetivas de cada um e se
mascaram de tal forma, que acabam ficando dissimuladas pelo caráter da pessoa. O
impulso sexual, por exemplo, na normalidade psíquica, não surge de forma primitiva a
ponto da em pessoa arrastar a outra a força para a cama. Normalmente marca­se um
jantar... Muitas vezes a ânsia de poder se dissimula em altruísmo, generosidade e outras
“máscaras sociais”.
Durante toda sua existência a pessoa é compelida a atender as Tendências Naturais,
essencialmente as mesmas em todos nós. As maneiras pelas quais tais tendências serão
atendidas mostrarão as diferenças entre as pessoas, entre as gerações e entre os povos.
A tendência ao poder, por exemplo, como vimos, pode se manifestar de diversas
maneiras nas diferentes pessoas; prazer em ter poder, em sentir­se superior aos demais
nos mais variados aspectos existenciais. Um monge poderia manifestar esta tendência
buscando o prazer de sentir­se o mais humilde entre seus pares, superior a todos os
demais em termos de humildade e abnegação. Sentiria uma satisfação suprema, perante
Deus, ao saber­se o mais humilde entre os mortais. O intelectual, através do o poder do
saber, conquistaria seu prazer percebendo­se o mais erudito em sua área. O amante,
através do poder de cativar, ou o poder material do rico, a autoridade do político, a
coragem do soldado, o qual teme mais a opinião de seus camaradas que a arma do
inimigo, e assim por diante.
Apesar da busca do prazer dever atender certos anseios pessoais, os meios de se
conquistar esse prazer devem estar em concordância com as circunstâncias sócio­
culturais. Mas, de qualquer modo, o universal fenômeno da busca do prazer ­ com suas
mais variadas apresentações ­ é observado entre todos os seres humanos conscientes.
Ainda se estuda mais a fundo as razões pelas quais temos tendência a nos irritarmos
quando percebemos que o outro busca atender seus prazeres. Talvez porque o que dá
prazer ao outro não sejam as mesmas coisas que procuramos para nosso próprio prazer
ou, pior, porque não permitimos no outro atitudes eficientes que não nos permitimos.   
Para a manutenção de uma situação de equilíbrio entre a pessoa e seu meio ou entre ela
e si própria é necessário haver harmonia entre três elementos; o peso ou força de suas
tendências, as possibilidades de seu ego em atender essas exigências e as condições de
realização oferecidas pelo ambiente. As situações de emergência podem determinar
atitudes primitivas, mas eficientes, em direção à sobrevivência, apesar de emancipadas
da ética. Há um ditado que diz: quando a miséria entra pela porta da frente a virtude sai
pela janela.
Há uma tendência ao aparecimento de comportamentos primordiais ou primitivos sempre
que houver uma flagrante ameaça aos instintos básicos, como se houvesse uma
regressão ao estado biológico natural (predominantemente instintivo), como um
desempenho comandado por nível mais inferior de psiquismo, nível este onde as
considerações mais sublimes, dos tipos morais e éticas, ficassem suspensas em benefício
de objetivos mais imediatos e pragmáticos.
Os instintos aparecem sempre idênticos entre os indivíduos de uma mesma espécie,
porém, apenas enquanto funcionam instintivamente, sem o polimento da domesticação.
O aparelho psíquico do ser humano tem por função a transformação da pulsão instintiva
original de acordo com as exigências de sua cultura e de suas emoções. Embora o instinto
seja, em si, comum a todos os indivíduos de uma mesma espécie, no ser humano as
manifestações desses instintos são peculiares a cada pessoa, elas atendem às
peculiaridades do padrão emocional de cada um, enfim, atendem às características da
personalidade de cada um. Nem por conta dessa domesticação pode­se anular o instinto
básico original, ele é apenas transformado e adequado ao indivíduo e às exigências de
seu meio.
Diferenças Funcionais x
Ao lado das Tendências Naturais, as quais identificam todos nós como pertencentes à
mesma espécie, existem as peculiaridades próprias e particulares com as quais cada um
se apresentará e se relacionará com o mundo. Allport ilustra as diferenças funcionais de
cada um ao descrever os Traços Pessoais; arranjos individuais e constitucionais
determinados por fatores genéticos, os quais, interagindo com o meio em maior ou menor
intensidade, resultariam em uma característica psíquica capaz de particularizar uma
pessoa entre todas as demais.
Os traços herdados são possibilidades de vir a ser e não a certeza de que será. Há uma
quantidade enorme de traços possíveis de transmissão hereditária, porém, apenas parte
desses traços se manifestará no indivíduo.
A maneira singular e própria da pessoa interagir com seu mundo, decorrente de seus
traços pessoais, pode ser chamada de Disposição Pessoal. Sendo esta a combinação dos
traços que se manifestam na pessoa, então a Disposição Pessoal se confunde com a
própria personalidade, ou seja, a maneira particular da pessoa de lidar com a vida, com o
mundo e com suas próprias emoções.
por meio de respostas verbais e físicas
dadas às injunções sugestivas feitas por
uma figura de autoridade, assunção
temporária de outras identidades,
confusão mental ou sonolência, além de
grande desgaste físico e amnésia ao sair
do processo. Além dessa forma “clássica”
do estado­de­santo, observa que as
manifestações poderiam ser frustras ou
incompletas, mas também se prolongar
em “delírio furioso e duradouro”, o que
ele considera “desvios, aberrações do
verdadeiro estado­de­santo” (Nina
Rodrigues, 1935, p. 109).
Para Nina Rodrigues, o estado­de­santo
seria sempre sugestivo, mas nem
sempre histérico, pois acreditava que
estados semelhantes de “estreitamento
do campo de consciência” (ele usa aqui o
conceito de Pierre Janet) surgiriam em
outras condições mórbidas, como em
neurastênicos – sujeitos em estado de
esgotamentos físico e mental
permanentes e progressivos – e em
deficientes mentais.
Com relação aos fenômenos mediúnicos
das chamadas “seitas espíritas”, surgidas
em contextos urbanos modernos, o autor
supôs que teriam causas e mecanismos
similares aos que descrevera para os
estados­de­santo, mas não os observou
nem estudou em detalhes (Nina
Rodrigues, 1935). Comenta sobre a
“loucura espírita” em artigo sobre as
“loucuras epidêmicas no Brasil” (1901),
em que se vale de informações
fornecidas pelo psiquiatra paulista
Francisco Franco da Rocha. 
A maior crítica que dirige aos praticantes
do espiritismo, sobretudo aos “chefes de
seita”, é a de estimularem fenômenos
psicopatológicos latentes, o que sob
certas condições poderia conduzir à
loucura coletiva ou ao crime – crítica
comum entre os alienistas europeus
citados pelo médico brasileiro (Nina
Rodrigues, 1939).
Sobre a religião do candomblé, a
despeito de atribuir a origem de seus
transes e possessões a um mecanismo
mental patológico, pode­se dizer que
Nina Rodrigues considerava que esses
fenômenos poderiam ter valor
psicológico positivo, por seus efeitos
catárticos, e por se apresentarem de
forma ritualizada e altamente controlada
pelo grupo religioso, em especial pelos
pais­de­terreiro.Além disso, pensava que
tais manifestações religiosas satisfariam
as necessidades emocionais “primitivas”
dos seus adeptos, e não deveriam ser
reprimidas.
Porém, fora desse contexto religioso
estrito, costumava denunciar o abuso
que “feiticeiros africanos” cometeriam,
sobretudo influenciando negativamente
mulheres histéricas das classes mais
altas, já que as crenças em feitiços e
possessões se estendiam por toda a
sociedade baiana. Para sua psicologia
evolucionista, tais crenças eram
incompatíveis com a mentalidade dita
“civilizada” (Nina Rodrigues, 1935).
Politicamente, Nina Rodrigues
posicionava­se contra a repressão policial
sistemática e arbitrária que os terreiros
de candomblé sofriam na época, pois os
considerava templos onde ocorriam
manifestações religiosas, legítimas em
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É possível, como mostraram inúmeros autores, agrupar indivíduos de acordo com
determinadas características psíquicas mais ou menos comuns entre eles formando
grupos. Temos assim as classificações ou a tipologia da personalidade. É assim que se
reconhecem os introvertidos, extrovertidos, sensitivos, pensativos, intuitivos, sentimentais
ou, de outra forma, os explosivos, melancólicos, obsessivos, e assim por diante. 
A classificação das personalidades baseada em traços busca reconhecer os traços
predominantes naquela determinada personalidade ou na maneira de ser. Isso não quer
dizer, de forma alguma, que as personalidades globais das pessoas classificadas desta ou
daquela maneira sejam idênticas em todos do mesmo grupo: entre todos introvertidos, por
exemplo, cada qual dispõe de uma personalidade peculiar e o fator – comum a todos do
mesmo grupo – que permitiu serem classificados é uma tonalidade afetiva depressiva e
sua conseqüente apresentação social introvertida.
Para avaliar as diferenças funcionais dos indivíduos, mais precisamente das
personalidades peculiares de cada um, podemos considerar três critérios de observação:
1­ Classificação baseada nos Traços;
2­ o "eu" como Personalidade e;
3­ os Papéis Sociais como Personalidade.
 
Classificação baseada nos Traços
Nenhum ser humano mostrará algum traço de personalidade que já não exista em todos
outros indivíduos, pois os traços do ser humano são uma espécie de patrimônio de nossa
espécie, ou seja, à todos indivíduos de uma mesma espécie são atribuídos os traços
característicos dessa espécie. Vimos isso no item anterior sobre as Semelhanças
Essenciais. Entretanto, a combinação individual desses traços em proporções variadas
numa determinada pessoa caracterizará sua personalidade ou sua maneira de ser
(Diferenças Funcionais).
O senso comum de um sistema sócio­cultural costuma elaborar uma relação muito
extensa de adjetivos utilizados para a argüição dos indivíduos deste sistema: sincero,
honesto, compreensivo, inteligente, cálido, amigável, ambiciosos, pontual, tolerante,
irritável, responsável, calmo, artístico, científico, ordeiro, religiosos, falador, excitado,
moderado, calado, corajosos, cauteloso, impulsivo, oportunista, radical, pessimista, e por
aí afora. Podemos considerar como Traço Predominante da pessoa em apreço a
característica que melhor a define, como se, entre tantos traços tipicamente e
caracteristicamente humanos, este traço específico predominasse sobre os demais. 
Pois bem. É exatamente a predominância de alguns traços e a atenuação de outros que
acaba por constituir a personalidade de cada um. Enfim, é como se o artista conseguisse
extrair uma cor única e muito pessoal misturando uma série de cores básicas encontradas
em todas as lojas de tintas.
Como os traços básicos do ser humano são infinitamente mais numerosos que as cores
do exemplo acima, as combinações entre esses traços será praticamente infinita, vindo
daí a infinita diversidade de personalidades. É difícil pensar nos traços de outra forma,
senão como uma inclinação inata e submetida à influência agravante ou atenuante do
meio.
O "EU" como personalidade
O "eu" é o ser total, essencial e particular da pessoa. Freqüentemente usado como
sinônimo de personalidade, o “eu” diz respeito ao indivíduo e sua consciência do mundo e
de si próprio, ou seja, a consciência da própria identidade e da realidade.
Na abordagem do "eu" importa o aspecto dinâmico da personalidade, portanto, as
representações internas que a pessoa tem sobre a realidade externa, ou seja, as relações
entre o sujeito e o objeto ou, em outras palavras, entre a pessoa e o mundo. Enquanto a
análise dos traços é uma tarefa prática, de observações objetivas sobre como é a pessoa,
a avaliação sobre o "eu" é mais subjetiva, mais psicodinâmica.
As características da personalidade baseadas no “eu” dizem respeito não apenas ao modo
como a pessoa se apresenta no mundo, conforme se vê em relação aos traços, mas à
maneira como a pessoa sente o mundo e interage com ele. Enquanto os traços refletem
mais o lado biológico da personalidade, o “eu” representa mais o aspecto afetivo da
pessoa.
Muitos autores discorrem sobre esta forma de avaliação da personalidade. Entre eles,
Jung vê dois tipos de Disposição Pessoal pelas quais os indivíduos se caracterizarão no
contacto com o mundo objectual:
1­ a maneira introvertida e;
2­ a maneira extrovertida.
 Além destas duas disposições básicas, Jung reconhece ainda quatro funções associadas
a elas: função pensamento, sentimento, sensação e intuição. Desta forma, o indivíduo
pode ser considerado do tipo introvertido pensativo, ou sensitivo extrovertido e assim por
diante. Pela tipologia psicológica de Jung oito tipos psicológicos puros são possíveis, mas,
normalmente, cada pessoa dispõe de duas funções predominantes, como por exemplo, o
tipo extrovertido intuitivo­sentimental. Em sua obra Tipos Psicológicos este assunto é
abordado detalhadamente e apresentado de maneira mais fácil do possa parecer nesse
exemplo sumário.
Outros autores consideram a personalidade baseada no "eu" de maneira diferente.
um país que tinha assegurada a
liberdade de culto3. Assim, o fato de se
pautar por paradigmas científicos
racialistas não o impediu de ter uma
relação amistosa com seus “objetos” de
estudo, em uma postura que
chamaríamos hoje de paternalista (Oda,
2003).
 
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Entendem os indivíduos que contactuam a realidade de maneira introvertida através de
uma descrição mais diversificada e atribuindo­lhes outros adjetivos: tristes, inseguros,
melancólicos, de tonalidade afetiva depressiva, e assim por diante. Na realidade,
entendendo os conceitos básicos das teorias da personalidade percebemos que as
diferentes denominações são diferenças mais semânticas que ideológicas.
 
O Papel Social como personalidade
Este tipo de avaliação sobre a personalidade observa o papel das atitudes e
comportamentos da pessoa inserida na estrutura social a qual pertence. As pessoas
tendem adaptar­se aos papeis sociais a elas designados buscando satisfazer a expectativa
que o sistema tem sobre tais “personagens”. As pessoas que encontram um padre pela
frente têm expectativas comuns sobre como ele dever se comportar, da mesma forma que
o doente tem expectativas diante de seu médico e este diante de seus clientes e assim
por diante.
Todos desempenham muitos papeis sociais, cada um a seu tempo. Papel de criança pré­
escolar, de criança escolar, de universitário, de enamorado, de profissional, de traído, de
cúmplice, etc. Há papeis de pai, de filho, de chefe, de subalterno, enfim, estamos sempre
a desempenhar algum papel social. Às vezes temos que desempenhar vários papéis
sociais ao longo do dia. Jung chama de Persona esta nossa apresentação social.
A palavra persona, de origem grega, significa máscara, ou seja, caracteriza a maneira
pela qual o indivíduo vai se apresentar no palco davida em sociedade.  Portanto, diante
do palco existencial cada um de nós ostenta sua persona, mas há, porém, uma
respeitável distância entre o papel social do indivíduo e aquilo que ele realmente é, ou
entre aquilo que ele pensa ou pensam que é e aquilo que ele é de fato.
Na realidade, considerar a personalidade através dos papeis sociais pode não refletir a
verdadeira natureza da pessoa. A avaliação mais objetiva seria através dos traços,
indicativos de como a pessoa é. A avaliação mais subjetiva se dá através do “eu”,
indicativo de quem é a pessoa e os papeis sociais mostram a capacidade de adaptação
da pessoa.
PERSONALIDADE: o meio ou os genes?
Há em biologia uma fórmula muito significativa e de validade indiscutível: FENÓTIPO =
GENÓTIPO + AMBIENTE. Entende­se por Fenótipo o estado atual no qual se encontra o
indivíduo aqui e agora, por Genótipo entende­se seu patrimônio genético e, em nosso
caso, por Ambiente entendemos as influências do destino existencial sobre o
desenvolvimento do ser.
De maneira geral, o estado em que se apresenta o indivíduo num dado momento deve
ser entendido como uma conjugação entre seu patrimônio genético e a influência
ambiental a que se submeteu. Em outras palavras, uma somatória daquilo que ele trouxe
para a vida com aquilo que a vida lhe deu. Podemos assim, considerar a personalidade
como sendo composta de elementos constitucionais ou genotípicos e de elemento
ambientais ou paratípicos. O resultado final do indivíduo, tal como se encontra no
momento atual, será o seu fenótipo.
A discussão sobre a força do ambiente ou da constituição na formação da personalidade é
antiga, acirrada, infindável e inconclusiva. A tendência moderna e politicamente correta é
entender o sujeito como resultado da influência preponderante do meio, porém, como o
politicamente correto tende à acentuada demagogia, melhor seria uma concepção mais
sensata.
A ciência médica, acostumada que está a considerar relacionamentos causais para os
fenômenos que estuda, sente­se incomodada quando alguma tendência sociogênica
atribui à delinqüência, por exemplo, um reflexo direto da pobreza (ambiental). Fosse
assim, pelo menos em nosso meio a delinqüência seria, no mínimo, milhares de vezes
mais presente.
É por causa de idéias assim, as quais procuram estabelecer relações diretas entre
sentimentos e acontecimentos, que a sociedade não consegue entender a Depressão
como um estado não necessariamente associado a alguma coisa má que tenha
acontecido para a pessoa deprimida.
Por outro lado, a medicina psiquiátrica também se incomoda com as afirmações
exageradamente orgânicas, como por exemplo, sobre a hipótese do comportamento
agressivo ser conseqüência exclusiva de um bracinho mais longo de determinado
cromossomo. Contribuindo para atenuar esta perpétua discussão, podemos pensar em um
modelo de quatro mecanismos de influência para a formação da personalidade. São eles:
1 ­ Mecanismo Constitucional Direto
O mecanismo genético direto sugere uma influência dos genes e/ou da constituição de
maneira direta na formação da personalidade. Neste caso, a influência ambiental é muito
pequena e a participação biológical é quase absoluta. São poucas as situações que se
enquadram neste mecanismo e a maioria delas refere­se aos casos de deficiência mental,
como por exemplo, a Trissomia 21 ou Síndrome de Down, entre outras.
De um modo geral, são situações onde o patrimônio genético determina solidamente a
configuração do indivíduo de modo decididamente irreversível, praticamente imune às
alternativas terapêuticas atuais (grife­se "atuais"). Diz­nos o bom senso que de acordo
com os avanços da genética, tais situações tendem a rarear cada vez mais. A detecção
22/02/2016 Psiqweb
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precoce de genes anômalos ou patogênicos e o conhecimento acerca da penetrância de
tais genes prometem um futuro mais otimista na área da concepção humana. Entretanto,
atualmente tais procedimentos corretivos da formação genética desenvolvem­se,
predominantemente, na esfera da prevenção e não do tratamento.
O termo correto para os fatores biológicos atrelados à pessoa é genético­constitucional e
não apenas genético. Há diferenças entre um elemento apenas genético e outro
constitucional. Genético significa, em tese, hereditário, herdado. Constitucional, por sua
vez, significa que faz parte da constituição da pessoa, podendo ou não ser genético. Um
fator genético significa também ser constitucional, mas o contrário não se dá. As
malformações proporcionadas pela toxoplasmose ou pela rubéola, por exemplo, são de
natureza constitucional, embora não seja genética.
2 ­ Mecanismo Constitucional Indireto
Neste caso, muito embora os traços marcantes da personalidade possam ser
determinados por fatores constitucionais, uma atuação decisiva do ambiente pode alterar
o curso do desenvolvimento da pessoa. Uma surdez congênita, por exemplo, capaz de
determinar uma personalidade peculiar por conta das limitações de desenvolvimento, essa
alteração será significativamente atenuada caso a pessoa possa se beneficiar de recursos
especializados de treinamento e educação.
As alterações constitucionais proporcionam maior ou menor probabilidade de se tornarem
características na personalidade dependendo da atuação ambiental. Um indivíduo que
tenha em si probabilidade genética de ser alto, por exemplo, poder ter o desenvolvimento
da estatura prejudicada se o meio não lhe fornecer condições adequadas de nutrição. O
contrário é verdadeiro; probabilidades genéticas de baixa estatura podem ser
compensadas com nutrição, exercícios, etc.
Encontram­se nesta possibilidade os transtornos emocionais considerados endógenos. É o
caso da esquizofrenia, por exemplo, que pode ou não se manifestar durante a vida do
indivíduo apesar da probabilidade constitucional­genética. A eclosão franca da doença
dependerá de um complexo conjunto de circunstâncias psicossociais. Também a
predisposição à depressão poderia ser entendida através deste mecanismo, assim como
outras condições psicopatológicas de comprovada concordância familiar.
3 ­ Mecanismo Ambiental Geral
O ambiente ou o espaço sócio­cultural a que pertence o indivíduo pode favorecer o
desenvolvimento de alguns traços peculiares em sua personalidade, principalmente na
forma de relacionamento para com o mundo. Os estímulos, as solicitações, as
oportunidades de treinamento, as normas de convivência, enfim, todo o conjunto de
recursos oferecido à pessoa através do sistema sócio­cultural e ambiental poderá
determinar características da pessoa existir.
O ambiente desempenha ação modeladora sobre as potencialidades constitucionais da
personalidade, ou seja, o ambiente pode alterar os rumos do desenvolvimento geral da
pessoa. Situam­se aqui os estados emocionais e de formação psicológica resultantes das
vivências apesar da existência de fatores constitucionais.
A chamada negligência parental (abandono por parte dos pais) pode exercer marcantes
alterações no desenvolvimento emocional da pessoa, assim como as profundas perdas
sofridas, a vitimização das guerras e coisas assim. Essas alterações seriam de maneira
global sobre o desenvolvimento da personalidade.
4 ­ Mecanismo Ambiental Específico
Aqui a influência dos elementos ambientais se dá de forma especifica, ou seja, em
aspectos específicos da Personalidade. A desnutrição, o alcoolismo, certas infecções,
intoxicações, etc., são intercorrências ambientais que atuam na personalidade
especificamente neste ou naquele aspecto, como por exemplo, retardo mental, paranóia,
epilepsia, etc. Este é também o caso de um traumatismo craniano, após o qual o
indivíduo tenha passado a apresentar convulsões ou demenciação. Isso quer dizer que
sem determinado fator ambiental específico a personalidade tomaria outro rumo e o
indivíduo se apresentaria na vida com outro desempenho existencial.
Emboraesta proposta dos quatro mecanismos de influência possa facilitar uma reflexão
acerca da formação da personalidade e dos transtornos da personalidade, isso não deve
ser tomado como uma questão hermética. Tanto para o desenvolvimento da
personalidade normal, quanto da não­normal, sempre haverá uma condição multifatorial,
uma conjunção de mais de um destes mecanismos de influência. Atualmente o mais
sensato é admitir uma natureza bio­psico­social na origem da personalidade e o peso com
que cada um desses elementos participam será extremamente variável e individual.
 
para referir:
Ballone GJ, Meneguette JP­ Teoria da Personalidade ­ Geral, in. internet PsiqWeb,
disponível em www.psiqweb,med.br, atualizado em 2008
 
 
Referências
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22/02/2016 Psiqweb
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