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ÉTICA E CIDADANIA

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AULA 1
FILOSOFIA E ÉTICA
Introdução
Estudaremos os principais fatos que deram origem à filosofia e o relativo rompimento com o pensamento mítico como forma de explicar o mundo e seus fenômenos. Passaremos pelo significado da palavra filosofia e analisaremos as condições históricas que propiciaram o seu nascimento como uma nova forma de explicar o mundo.
Ética - Iniciaremos nossa primeira aula falando sobre ética, para isso vamos ver um pequeno estudo de caso para entendermos melhor este conceito.
A ética é algo essencialmente humano. Os outros animais não possuem um código de ética, nem uma base moral. 
Agem guiados por instintos, buscam a sobrevivência e a satisfação das suas necessidades, mas, acredita-se, não pensam, não refletem sobre os meios de alcançá-los. O vídeo ao lado deixa isso claro quando os indefesos filhotes de javali são atacados por predadores.
Ao assumirmos que a ética é uma coisa humana e está fora do campo dos instintos, da natureza, do fisiológico, afirmamos também que ela é social e culturalmente construída.
Dito de outra forma, a nossa ética nos é informada pela sociedade na qual vivemos e não por nós mesmos. Ninguém nasce ético. 
Podemos concordar ou discordar de determinados padrões morais, mas sempre refletimos e agimos em relação a eles. 
Mas, o que vem a ser ética? 
A ética, como veremos mais adiante, é um campo da *Filosofia. (*A palavra filosofia deriva de duas palavras gregas: Philo e Sophia. Philo significa “aquele ou aquela que tem um sentimento amigável” e Sophia é o mesmo que sabedoria. Então, concluímos que Filosofia quer dizer “amizade pela sabedoria” ou “amor e respeito pelo saber”. Filósofo é o que ama ser sábio, que é amigo ou tem amizade pelo saber, deseja ser sábio.)
A Filosofia grega pode ser dividida em 4 grandes fases que veremos nas telas seguintes.
Este período abrange as 4 fases da Filosofia Greco-romana, a saber:
1. Período pré-socrático ou cosmológico: A primeira fase da filosofia grega é chamada de pré-socrática ou cosmológica e vai do final do século VII ao final do século V a. C. 
Neste período, a preocupação é com a origem do mundo e as causas das transformações na natureza. Suas principais características são:
- É uma explicação racional e sistemática sobre a origem, a ordem e a transformação da natureza na qual o homem está inserido. 
Ao explicar a natureza, a Filosofia também procura explicar a origem e as mudanças dos seres humanos;
- Procura o princípio natural, eterno, imperecível e imortal, gerador de todos os seres. 
Neste período, não se admite a criação do mundo a partir do nada. 
Tudo é gerado por um princípio natural de onde tudo vem e para onde tudo retorna, a physis, ou seja, a causa natural contínua e imperecível da existência de todos os seres e de suas transformações;
- Afirma que, embora a physis seja imperecível, ela dá origem a todos os seres variados e diferentes do mundo e que, ao contrário do princípio gerador, são perecíveis ou mortais. Assim, a physis é imortal e as coisas físicas são mortais;
- Afirma que, embora a physis seja imutável, os seres por ela gerados são mutáveis e estão em contínua transformação. 
O mundo vive numa mudança contínua sem, contudo, perder sua forma, ordem e estabilidade.
- É importante notar que nem todos os filósofos dessa época concordavam quanto ao conceito de physis e cada um buscou razões e motivos para determinar qual é o princípio eterno e imutável que está na origem da natureza e de suas transformações.
2. Período socrático ou antropológico: A segunda fase da Filosofia grega é o período socrático ou antropológico. Vai do final do século V e todo o século IV a. C. e investiga as questões humanas, ou seja, a ética, a política e as técnicas e procura conhecer o lugar do homem no mundo.
- Período sistemático: Nessa fase, os filósofos, como Aristóteles, procuram reunir e sistematizar tudo o que foi produzido nos períodos cosmológico ou pré-socrático e na fase socrática ou antropológica. 
Existe o interesse de mostrar que tudo pode ser objeto do conhecimento filosófico, desde que as leis do pensamento e de suas demonstrações estejam firmemente estabelecidas para oferecer os critérios da verdade e da ciência.
Nesse período, ocorre o desenvolvimento da Teoria do Conhecimento, da Psicologia e da Lógica. ademais, os filósofos buscam o fundamento último de todas as coisas ou da realidade inteira, o que vem a ser chamado, séculos mais tarde, de Metafísica.
 - Período helenístico ou greco-romano: Período helenístico ou greco-romano (do final do século III a. C. até o final do século VI d. C.) Essa longa fase, caracterizada pelo domínio mundial de Roma e do surgimento do Cristianismo, a filosofia se ocupa sobretudo com as questões éticas, do conhecimento humano e das relações entre o ser humano e a natureza e de ambos com Deus.
4. Filosofia Patrística: A terceira fase é a Filosofia Patrística, que é assim conhecida por ter sido desenvolvida entre os séculos I e VII a partir das Epístolas de São Paulo e do Evangelho de São João e pelos padres da Igreja, isto é, os primeiros dirigentes espirituais e políticos do cristianismo, depois da morte dos apóstolos.
A patrística é vista como resultado do esforço de conciliação entre o catolicismo e o pensamento e a Filosofia dos gregos e dos romanos, em uma tentativa de convencer e converter os pagãos à nova religião.
Está ligada, então, à tarefa religiosa de evangelização e à defesa da religião cristã contra os ataques teóricos e morais que recebia dos antigos. Divide-se em patrística grega (ligada à Igreja de Bizâncio) e patrística latina (ligada à Igreja de Roma).
Devido à característica religiosa, a patrística introduziu temas desconhecidos para os filósofos greco-romanos, isto é, a ideia de criação do mundo a partir do nada, de pecado original do homem, de Deus como trindade una, de encarnação e morte de Deus, de juízo final ou de fim dos tempos e ressurreição dos mortos, além da existência do mal no mundo, já que tudo foi criado por Deus, que é pura perfeição e bondade.
5. Filosofia Medieval: Chamamos a quarta e última fase de Filosofia Medieval, (do século VIII ao século XIV) que foi desenvolvida por pensadores europeus, árabes e judeus. Nesta época, a Igreja Católica Apostólica Romana dominava a Europa em todos os âmbitos da vida social, política e econômica.
As primeiras universidades e escolas foram criadas pela Igreja e, por ter levado a Filosofia para dentro dessas instituições de ensino a partir do século XII, a Filosofia Medieval também é chamada de *Escolástica. (Escolástica foi o método de pensamento crítico dominante no ensino nas universidades medievais europeias de cerca de 1100 a 1500. Não tanto uma filosofia ou uma teologia, como um método de aprendizagem, a escolástica nasceu nas escolas monásticas cristãs, de modo a conciliar a fé cristã com um sistema de pensamento racional. As principais influências da Escolástica foram Platão e Aristóteles. É importante ressaltar que a obra de Platão, conhecida pelos medievais, foi aquela da interpretação de Plotino (século VI) e o Aristóteles foi aquele traduzido e interpretado por Avicena e Averróis.)
É durante esse período que surge a Filosofia Cristã, isto é, a Teologia. 
Os temas de reflexão dessa Filosofia são as provas da existência de Deus e da imortalidade da alma sempre com o uso de demonstrações racionais. 
Sobre a existência do infinito criador e do espírito humano imortal.
Também são temas da Filosofia Medieval:
- A diferença ou separação entre infinito (Deus) e finito (homem, mundo);
- A diferença e separação entre corpo (matéria) e alma (espírito);
- A diferença entre razão e fé (a primeira deve se subordinar a segunda);
- O universo como uma hierarquia de seres, onde os superiores dominam e governam os inferiores (Deus, serafins, querubins, arcanjos, anjos, alma, corpo, animais, vegetais e minerais);
- A subordinação do poder temporal dos reis e barões ao poder espiritual de papas e bispos.
Para aprofundarmos nosso conhecimentono termo Escolástica:
A disputa: É interessante notar que a Escolástica inventou um método para expor as ideias filosóficas: a disputa. A partir da apresentação de uma tese e com argumentos retirados da Bíblia, de Platão, Aristóteles e de outros padres da Igreja, iniciava-se um processo em que se refutava e defendiam-se as ideias. De acordo com Marilena Chauí (2012, p. 60): Assim, uma ideia era considerada uma tese verdadeira ou falsa dependendo da força e da qualidade dos argumentos encontrados nos vários autores. Por causa desse método de disputa – teses, refutações, defesas, respostas, conclusões baseadas em escritos de outros autores -, costuma-se dizer que, na Idade Média, o pensamento estava subordinado ao princípio da autoridade, isto é, uma idéia é considerada verdadeira se for baseada nos argumentos de uma autoridade conhecida (Bíblia, Platão, Aristóteles, um papa, um santo).
AULA 2
HISTÓRIA DA FILOSOFIA, RENASCENÇA, IDADE MODERNA E CONTEMPORÂNEA
Introdução
Nesta aula, teremos como objetivo estudar os diferentes períodos da História da Filosofia, suas características e os temas mais interessantes para os filósofos da época. Depois dessa caminhada, estaremos prontos para estudar, na nossa terceira aula, o quadro das doutrinas éticas fundamentais ao longo da História da Filosofia.
Na aula anterior, estudamos os primeiros períodos da História da Filosofia ressaltando os seus traços mais característicos 
e os temas considerados mais importantes pelos seus expoentes. (Filosofia antiga; Filosofia patrística; Filosofia medieval)
Neste encontro, daremos continuidade a esse exercício de apreciar, muito resumidamente, 26 séculos de Filosofia.
Para nos auxiliar nessa tarefa introdutória, utilizaremos novamente o livro Convite à Filosofia de Marilena Chauí, cuja linguagem simplificada nos guiará por esse passeio. 
Filosofia da Renascença (do século XIV ao século XVI)
Esse período tem como marco a redescoberta de obras de Platão e de Aristóteles não conhecidas na Idade Média. 
Essas obras passaram a ser lidas em grego e a receber novas traduções latinas, mais acuradas e fiéis. 
A época também traz a recuperação de obras de grandes autores e artistas gregos e romanos e a sua imitação. 
É nesse momento histórico que os pensadores vão rompendo com o pensamento religioso e se reconciliando com a possibilidade de conhecer o mundo de forma racional, como ocorria na Grécia Clássica. 
Vejamos agora as 3 grandes linhas de pensamento que predominavam na Renascença:
1. Primeiro pensamento: Aquela advinda da leitura de três diálogos de Platão, isto é, Banquete, Fédon e Fedro, das obras dos filósofos neoplatônicos e da descoberta do conjunto de livros do hermetismo ou de magia natural, que se acredita que vieram do Egito, tendo sido escritos séculos antes de Moisés e de Platão e que foram ditados por deuses a seus filhos humanos.
A natureza era vista como um grande ser vivo, dotada de uma Alma Universal (a Alma do Mundo) e composta de laços e vínculos secretos entre todas as coisas unidas por simpatia e desunidas por antipatia. 
O ser humano é concebido como parte do macrocosmo, ou seja, um pequeno mundo (microcosmo) que reflete e reproduz a estrutura e a vida do grande mundo, o Universo. 
Por ser parte do macrocosmo, o homem pode agir sobre o mundo utilizando conhecimentos e práticas que operam com as ligações secretas entre as coisas, isto é, por intermédio da magia natural, da alquimia e da Astrologia.
2. Segundo pensamento: A linha de pensamento que deriva dos pensadores florentinos que valorizava a vida ativa, isto é, a política e defendia a liberdade das cidades italianas frente ao Império Romano-Germânico, contra o poderio dos papas e dos imperadores.
Para atingir tais objetivos, retomaram a ideia de república de grandes autores políticos latinos como Cícero, Tito Lívio e Tácito e dos escritos de historiadores e juristas clássicos, propondo a “imitação dos antigos” ou o renascimento da república livre, anterior ao surgimento do império da Igreja Católica Apostólica Romana. (CÍCERO; TÁCITO; TITO LÍVIO)
3. Terceiro pensamento: Aquela que concebia o ser humano como artífice, produtor de seu próprio destino, seja por meio dos conhecimentos (Astrologia, magia, alquimia), por meio da política (o ideal republicano), das técnicas (Medicina, Arquitetura, Engenharia, navegação) e das artes (pintura, escultura, poesia, teatro). Clique aqui e entenda essa relação entre Renascimento e Humanismo. (Humanismo Por meio da análise dessas três grandes linhas de pensamento, podemos entender o motivo de se relacionar o período histórico conhecido como Renascimento com o Humanismo. Na verdade, o Humanismo é o traço característico dessa época porque o homem é valorizado e colocado no centro do Universo e defendido em sua liberdade e em seu poder criador e transformador. De acordo com Marilena Chauí (2012, p. 60): “A intensa atividade teórica e prática dessa época foi alimentada com as grandes descobertas marítimas, que garantiam ao homem o conhecimento de novos mares, novos céus, novas terras e novas gentes, permitindo-lhe ter uma visão crítica de sua própria sociedade. Essa efervescência cultural e política levou a críticas profundas à Igreja Romana, culminando na Reforma Protestante, baseada na ideia de liberdade de crença e de pensamento. À Reforma a Igreja Romana respondeu com a Contrarreforma e com o aumento do violento poder da Inquisição. Os nomes mais importantes desse período são: Dante, Marcílio Ficino, Giordano Bruno, Campanella, Maquiavel, Montaigne, Erasmo, Tomas Morus, Jean Bodin, Kepler e Nicolau de Cusa.”)
Filosofia Moderna (do século XVII a meados do século XVIII)
Essa fase também é conhecida como Grande Racionalismo Clássico que aparece para vencer o período de pessimismo teórico característico do final do século XVI e início do século XVII. 
O pessimismo teórico é também chamado de Ceticismo, ou seja, a atitude filosófica que duvida da capacidade da razão humana para conhecer a realidade exterior e o próprio ser humano.
Muitos e diversos foram os acontecimentos que contribuíram para que o sábio desconfiasse de que a razão humana fosse capaz de conhecimento verdadeiro e que a verdade fosse universal e necessária, levando-o a uma atitude cética perante o mundo:
. As guerras de religião entre católicos e protestantes; 
. A descoberta de povos inteiramente diferentes dos europeus;
. As disputas filosóficas e teológicas.
Grande Racionalismo: No intuito de vencer o *ceticismo (Ceticismo, do grego aquele que investiga, é a concepção segundo a qual o conhecimento do real é impossível à razão humana. Portanto, o homem deve renunciar à certeza, suspender seu juízo sobre as coisas e submeter toda afirmação a uma dúvida constante. Oposto a dogmatismo) e restaurar o ideal filosófico da possibilidade de conhecimento racional verdadeiro e universal, o Grande Racionalismo propôs 3 mudanças teóricas principais:
- Sujeito: O “surgimento do sujeito do conhecimento”: a Filosofia passa a perguntar qual a capacidade da razão humana para conhecer e demonstrar a verdade dos conhecimentos.
Assim, são questões características dessa postura:
- o ser humano é capaz de conhecimento verdadeiro?
- se o for, sob quais condições existe a capacidade de conhecer  o que é diferente dele?
- como o espírito pode conhecer a matéria?
- como o sujeito espiritual pode os objetos corporais, o seu próprio corpo e os demais corpos da natureza?
- Objeto: São nas respostas dessas indagações que reside a segunda grande mudança teórica dos modernos e se refere ao objeto do conhecimento: por um lado, as coisas exteriores, ao serem conhecidas, devem poder ser representadas por conceitos ou por uma ideia clara e distinta, demonstrável e necessária, formulada pelo intelecto. 
 Por outro lado, a natureza, a política e a sociedade podem ser conhecidas pelo sujeito do conhecimento porque são racionais em si mesmas e propensas a serem representadas pelas ideias do sujeito do conhecimento.
- Natureza: A concepçãode realidade como algo que pode ser plenamente conhecido pelas ideias e conceitos gerou a terceira grande mudança teórica moderna, a natureza.
Desde Galileu Galilei, a natureza passou a ser concebida como um sistema ordenado de causas e efeitos necessários cuja estrutura profunda e invisível é matemática.
O “livro do mundo”, segundo Galileu, está inscrito em caracteres matemáticos e para lê-los é preciso conhecer Matemática. 
Filosofia da Ilustração ou Iluminismo (meados do século XVIII ao começo do século XIX)
A crença no poder da razão, também chamada de As Luzes (daí Iluminismo), característica do período moderno, se prolonga por essa fase tão importante historicamente para o mundo ocidental. 
São características dessa etapa: A razão possibilita ao homem a conquista da liberdade e da felicidade social e política. Lembre-se que a Filosofia da Ilustração ou Iluminismo foi decisiva para as idéias da Revolução Francesa de 1789;
Filosofia Contemporânea (de meados do século XIX aos nossos dias)
Por ser o período mais próximo a nós, esse tempo parece o mais complexo e mais difícil de ser definido. 
Para Marilena Chauí (2012, p.63), isso se deve ao fato de “(...) as diferenças entre as várias filosofias ou posições filosóficas nos parecem muito grandes porque as estamos vendo surgir diante de nós”.
O distanciamento insuficiente que possibilitaria perceber os traços mais gerais e marcantes desse período da filosofia faz com que tenhamos dificuldade nessa tarefa. Contudo, segundo a autora, é possível assinalar quais têm sido as principais questões e os principais temas que interessam à Filosofia contemporaneamente. São eles:
. História e Progresso;
. As ciências e as técnicas;
. Os ideais políticos revolucionários;
. A cultura;
. O fim da Filosofia;
. A maioridade da razão;
. Infinito e finito;
. Nossos dias: a pós-modernidade
AULA 3
QUADRO DAS DOUTRINAS ÉTICAS FUNDAMENTAIS AO LONGO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Introdução
Esta nossa aula tem como objetivo estudar as principais doutrinas éticas ao longo da História da Filosofia, suas características e a forma como a moral foi tratada por seus principais expoentes. Veremos quais eram os grandes princípios da vida moral e os principais aspectos da ética grega. Em seguida, trataremos da ética cristã e como ocorreu a incorporação e atualização de conceitos e questionamentos anteriores. Bons estudos!
Ética: Chegar a um conceito de ética não é tarefa muito fácil. É preciso ter em mente que os costumes, valores e crenças que fazem com que tomemos determinadas atitudes são orientados pela sociedade à qual pertencemos. A educação age no sentido de nos moldar a determinados padrões morais.
 Nesse ponto, é válido destacarmos que a palavra ética pode ser utilizada de duas formas.
- A primeira como sinônimo de moral, ou seja, valores que concernem ao bem e ao mal, ao que se permite e ao que se proíbe e à conduta correta e incorreta ensinados a todos os membros de determinada sociedade.
- Já o entendimento da ética como filosofia moral, é uma reflexão que discute, problematiza e interpreta o significado dos valores morais.
Vejamos agora o surgimento da ética. Mas, para isso, precisamos saber de antemão que, no Ocidente, a ética como filosofia moral foi criada por Sócrates.
O mito da caverna: A Alegoria da Caverna é um diálogo escrito por Platão, discípulo de Sócrates, e encontra-se na obra intitulada A República.
Vamos conhecer esse brilhante diálogo?
Imaginemos uma caverna separada do mundo externo por um alto muro. 
Entre o muro e o chão da caverna, há uma fresta por onde passa um fino feixe de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase completa.
 Desde o nascimento, geração após geração, os seres humanos encontram-se ali, de costas para a entrada, acorrentados, sem poder mover a cabeça nem locomover-se, forçados a olhar apenas a parede do fundo.
Os humanos viveriam sem nunca ter visto o mundo exterior nem a luz do sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos outros e de si mesmos, porque estão imobilizados no escuro.
 
Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna, há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e faz com que as coisas que se passam do lado de fora sejam projetadas como sombras na parede do fundo da caverna.
Do lado de fora, pessoas passam conversando e carregando nos ombros figuras ou imagens de homens, mulheres e animais, cujas sombras também são projetadas na parede da caverna, como em um teatro de fantoches.
Os prisioneiros julgam que as sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as imagens que transportam nos ombros são as próprias coisas externas, que os artefatos são seres vivos que se movem e falam.
Os prisioneiros se comunicam, dando nome às coisas que julgam ver (sem vê-las realmente, pois estão na obscuridade) e imaginam que escutam.
Eles não sabem que os sons vindos de fora são as vozes das próprias sombras, e não dos homens cujas imagens estão projetadas na parede; também imaginam que os sons produzidos pelos artefat carregados nos ombros desses homens são vozes de seres reais.
Qual é, pois, a situação dessas pessoas aprisionadas? 
Tomam sombras por realidade, tanto as sombras das coisas e dos homens exteriores como as dos artefatos fabricados por eles.
Essa confusão, porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros, e sim as condições adversas em que se encontram.
O que aconteceria se fossem libertados dessa condição de miséria?
Um dos prisioneiros, inconformado com a condição em que se encontra, decide abandoná-la. Então, fabrica um instrumento com o qual quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o corpo todo; a seguir, avança na direção do muro e o escala. Enfrentando os obstáculos de um caminho íngreme e difícil, ele sai da caverna.
No primeiro instante, fica totalmente cego pela luminosidade do sol, com a qual seus olhos não estão acostumados. Enche-se de dor por causa dos movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no interior da caverna.
Sente-se dividido entre a incredulidade e o deslumbramento. Incredulidade porque será obrigado a decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou nas sombras em que sempre viveu. Deslumbramento porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as coisas iluminadas.
Seu primeiro impulso é o de retornar à caverna para livrar-se da dor e do espanto, atraído pela escuridão que lhe parece mais acolhedora. Além disso, precisa aprender a ver, e esse aprendizado é doloroso, fazendo-o desejar a caverna, onde tudo lhe é familiar e conhecido.
Sentindo-se sem disposição para regressar à caverna por causa da rudeza do caminho, o prisioneiro permanece no exterior. 
Aos poucos, habitua-se à luz e começa a ver o mundo.Encanta-se, tem a felicidade de finalmente ver as próprias coisas, descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em sua prisão vira apenas sombras.
Doravante, desejará ficar longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas forças para jamais regressar a ela. 
No entanto, não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e, por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los a se libertarem também.
Nesse retorno, os demais prisioneiros zombam dele, não acreditam em suas palavras e, se não conseguem silenciá-lo com suas caçoadas, tentam fazê-lo espancando-o.
Se mesmo assim ele teima em afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, certamente acabam por matá-lo. 
Mas, quem sabe, alguns podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também decidem sair da caverna rumo à realidade.
O que é o mito da caverna?
A caverna é o mundo de aparências em que vivemos. As sombras projetadas no fundo são as coisas que percebemos. Os grilhões e as correntes são nossos preconceitos e opiniões, nossa crença de que o que estamos percebendo é arealidade.
O prisioneiro que se liberta e sai da caverna é o filósofo. A luz do sol é a verdade. O mundo iluminado pelo sol da verdade é a realidade. O instrumento que liberta o prisioneiro rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros prisioneiros é a Filosofia.
A ética grega antiga: De acordo com Marilena Chauí (2012, p. 389), a ética afirma três grandes princípios da vida moral no pensamento filosófico dos gregos antigos. São eles:
- Natureza: Por natureza, os humanos buscam o bem e a felicidade, que só podem ser alcançados por meio da conduta virtuosa;
- Virtude: A virtude é uma excelência alcançada pelo caráter. A vontade guiada pela razão controla os instintos e impulsos irracionais descontrolados existentes na natureza de todos os seres humanos;
- Conduta ética: A conduta ética é aquela na qual o agente sabe o que pode ou não realizar.
A ética cristã: O Cristianismo nasce como religião de indivíduos que não se definem por seu pertencimento a uma nação ou estado, mas por sua fé em um único e mesmo Deus.
 O Deus cristão se relaciona diretamente com os indivíduos que nele creem. 
Então, a vida ética do cristão não é definida por sua relação com a sociedade, mas por sua relação espiritual e interior com Deus.
A religião introduz duas diferenças importantes em relação à antiga concepção de ética:
. A idéia de que a virtude se define por nossa relação com Deus, e não com a cidade (pólis), nem com os outros. A nossa relação com os outros depende da nossa relação com Deus, único mediador entre cada indivíduo e os demais.
. A afirmação de que somos dotados de vontade livre, ou livre-arbítrio, e que, em decorrência do pecado original, ou desobediência de Adão e Eva aos mandamentos divinos, nossa vontade se perverteu e nossa liberdade se dirige espontaneamente para o mal e para o pecado, isto é, para a transgressão das leis divinas.
O Cristianismo considera que o ser humano, em decorrência do pecado original, tornou-se uma natureza fraca, incapaz de realizar o bem e as virtudes apenas pela força de sua própria vontade.
Para o Cristianismo, a vontade é pervertida pelo pecado e precisamos do auxílio divino para nos tornarmos seres morais. 
Esse auxílio é dado pela lei divina revelada ou pelos mandamentos diretamente ordenados por Deus e que devem ser obedecidos obrigatoriamente, sem nenhuma exceção.
Jean-Jacques Rousseau e a moral do coração: Para Rousseau, nascemos bons e puros. A sociedade, a propriedade e os interesses privados nos corrompem, tornando-nos egoístas, mentirosos e destrutivos.
Desta forma, o dever é o que nos força a recordar a nossa natureza boa.
Obedecendo ao dever (à lei divina inscrita na natureza e em nosso coração), estamos obedecendo a nós mesmos, aos nossos sentimentos e nossas emoções e não à razão, pois esta, privilegiando a utilidade e o interesse individuais, é responsável pela sociedade egoísta e perversa.
Imannuel Kant e a moral da razão prática: Para Kant, por natureza, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis e, por isso, precisamos do dever para nos tornarmos seres morais.
A razão deve domar a nossa natureza para que ajamos da forma correta. Assim, surgem o imperativo categórico (fórmula geral, lei moral interior) e as máximas morais.
Imperativo categórico: “age em conformidade apenas com aquela máxima pela qual possas querer ao mesmo tempo que ela se torne uma lei universal”.
Máximas morais
1. “Age como se a máxima de tua ação devesse ser erigida por tua vontade em lei universal da natureza”;
2. “Age de tal maneira que trates a humanidade, tanto na tua pessoa como na pessoa de outrem, sempre como um fim, e nunca como um meio”;
3. “Age como se a máxima de tua ação devesse servir de lei universal para todos os seres racionais”.
 
 AULA 4
PENSAMENTO FILOSÓFICO E OS PROBLEMAS ÉTICOS; DIFERENÇA ENTRE ÉTICA E MORAL
Introdução
Nesta aula, vamos continuar estudando as principais doutrinas éticas ao longo da História da Filosofia, suas características e a forma como a moral e a reflexão sobre a moral foram tratadas por seus principais expoentes. Veremos quais são os constituintes do campo ético. Em seguida, estudaremos os pensamentos de Hegel, Rousseau, Kant e temas contemporâneos ligados à ética. Bons estudos!
Quadro das doutrinas éticas fundamentais ao longo da História da Filosofia
Na nossa aula 3, começamos a estudar o quadro das doutrinas éticas fundamentais ao longo da História da Filosofia. 
Passamos, então, pelo pensamento grego, pelo Cristianismo, estudamos as concepções de Rousseau sobre a “moral do coração”e as ideias de Imanuel Kant sobre a ética.
Nesta aula, seguiremos analisando as principais doutrinas éticas no decorrer da História. Mas primeiro precisamos entender alguns elementos relevantes para os nossos estudos.
Vamos agora refletir sobre uma das principais questões quando se trata da nossa temática. 
Quais são os constituintes do campo ético?
Características do agente consciente
Segundo Marilena Chauí, para que haja conduta ética, é necessário existir o agente consciente.
Quais são as características desse agente?
Ele conhece a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido, a virtude e o vício.
Dotado de consciência moral, esse sujeito é capaz de deliberar diante de alternativas possíveis, a partir de avaliações sobre o valor dos atos e condutas e de agir em conformidade com os valores morais, tendo responsabilidade por suas ações e seus sentimentos e pelas conseqüências sobre o que faz e sente.
Aqui, é importante frisar que “consciência e responsabilidade são condições indispensáveis da vida ética” (Chauí, p. 383).
Consciência e vontade
Vamos entender cada uma:
- A consciência moral: é a capacidade para avaliar e pesar as motivações pessoais, as exigências feitas pela situação, as conseqüências para si e para os outros, a conformidade entre os meios e os fins, a obrigação de respeitar o estabelecido ou de transgredi-lo (se aquilo que está estabelecido for imoral ou injusto).
- A vontade, então, é um poder deliberativo e decisório do agente moral. Para exercer esse poder, ela deve ser livre, ou seja, não pode se submeter à vontade de outros, nem estar submetida aos instintos 
(ou impulsos naturais cegos) e às paixões (sentimentos e emoções incontroláveis que dominam o agente). Ao contrário, deve ter poder sobre eles e elas, dominando-os e controlando-os.
ATENÇÃO: O campo ético é constituído pelo agente livre, que é o sujeito moral ou pessoa moral, e pelos valores e obrigações que formam o conteúdo das condutas morais, ou seja, as virtudes ou as condutas e ações conformes ao bem.
Condições para existir o agente moral
O agente moral só pode existir se preencher as seguintes condições:
- Ser consciente de si e dos outros, capaz de refletir e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a si;
- Ser dotado de vontade - Ser dotado de vontade, isto é:
 . Capaz de controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, paixões, sentimentos para conformá-los com as normas e valores ou virtudes reconhecidas pela consciência moral;
 . Dotado de capacidade para deliberar e decidir entre as alternativas possíveis;
- Ser responsável, ou seja, reconhecer-se como o autor da ação, ter a capacidade de avaliar os efeitos e as consequências sobre si e sobre os outros, assumir a ação e as conseqüências, respondendo por elas;
- Ser livre, não estar submetido a nenhum a poderes externos que o forcem a sentir, querer e fazer alguma coisa.
O virtuoso: O ativo ou virtuoso, quando se trata de ética, é aquele que consegue controlar seus impulsos, inclinações, paixões, reflete consigo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos.
Ele questiona se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores e fins superiores aos existentes.
Faz avaliações sobre a sua própria capacidade de criar para si mesmo as regras de conduta, age apenas depois de consultar sua razão e sua vontade.
Considera os outrossem subordinar-se ou submeter-se cegamente, responde pelo que faz, julga as suas próprias intenções e não aceita nem pratica violência contra si mesmo ou contra os outros. É assim que se torna autônomo e verdadeiramente livre.
A ética - O campo ético é, então, constituído pelo agente moral e pelos valores morais ou virtudes éticas, também considerados os fins da ação ética ou a finalidade da vida moral. Com relação aos valores, a ética mostra a maneira como uma cultura e uma sociedade definem para si o que julgam ser:
- O mal e o vício, a violência e o crime.
Independentemente do conteúdo e da forma oferecidos por cada cultura, todas as culturas consideram virtude o melhor sentimento, como conduta e como ação; a virtude é a excelência, a realização perfeita de um modo de ser, sentir e agir.
- Bem e a virtude, a brandura e o mérito.
Ao contrário, o vício é o pior como sentimento, conduta ou ação. O vício é a baixeza dos sentimentos e das ações.
De acordo com Chauí (p. 385): Por realizar-se como relação intersubjetiva e social, a ética não é alheia ou indiferente às condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral.
Consequentemente, embora do ponto de vista da sociedade que a institui uma ética seja sempre considerada universal (universal porque seus valores são obrigatórios para todos os seus membros), de fato, toda ética está em relação com o tempo e a história, transformando-se para responder a exigências novas da sociedade e da cultura,
pois somos seres históricos e culturais e nossa ação se desenrola no tempo.
Os meios e os fins: Afirmamos anteriormente que o campo ético é constituído pela pessoa moral e pelos valores morais, mas há ainda um elemento importante: os meios para que os sujeitos realizem os fins.
No caso da ética, aquela famosa frase atribuída a Nicolau Maquiavel, de que os fins justificam os meios, não é válida. 
Dito de outra forma, artifícios não éticos, mesmo que utilizados com boa intenção, não levarão objetivos éticos.
No caso da ética, nem todos os meios são justificáveis. Isso quer dizer que fins éticos exigem meios éticos.
Esta relação entre meios e fins leva em consideração a idéia de discernimento, ou seja, é preciso que se saiba distinguir entre meios morais e imorais, a partir da orientação da nossa cultura, da nossa sociedade.
Educação ética: uma violência?
Então, a educação ética é uma violência? A princípio, pode parecer que sim, por dois motivos:
1. Porque, se essa educação tem como objetivo transformar-nos de seres passivos em ativos, poderíamos perguntar se nossa natureza não seria essencialmente passional.
Portanto, se forçá-la à racionalidade ativa não seria um ato de violência contra a nossa natureza espontânea, haja vista que violência é forçar alguém a sentir e agir de forma contrária à sua natureza;
2. Porque, se essa educação tem por objetivo nos colocar em harmonia e em acordo com os valores da nossa sociedade, poderíamos perguntar se isso não nos submeteria a um poder externo à nossa consciência, o poder moral social.
Nesse caso, em vez de sujeitos autônomos ou livres, seríamos escravos das normas, regras e valores impostos por nossa sociedade.
Rousseau e Kant (Jean –Jacques Rousseau e Immanuel Kante)
Agora que entendemos o campo ético e analisamos seus elementos, podemos retomar nosso estudo sobre o quadro das doutrinas éticas no decorrer da História ocidental.
- Rousseau e Kant buscaram conciliar o dever e a idéia de natureza humana, que precisa ser obrigada à moral, como vimos na nossa última aula.
Contudo, não podemos esquecer que tudo aquilo que julgamos como a forma universal e o conteúdo universal da moral é culturalmente determinado.
Isso traria à tona novamente o problema da exterioridade entre sujeito e a forma e o conteúdo do ato moral, pois estes são definidos pela cultura, impondo-se de fora aos membros de uma cultura determinada.
Hegel - Georg Wilhelm Friedrich Hegel (Alemanha, 1770-1831) critica Rousseau e Kant, pelos seguintes motivos:
- Em primeiro lugar, ele acha que os dois filósofos deram atenção demasiada à relação entre sujeito humano e natureza do que à relação entre sujeito e cultura ou história;
- Em segundo lugar, para Hegel, tanto Kant como Rousseau estabeleceram a relação entre ética e sociabilidade sobre laços muito frágeis, isto é, sobre relações pessoais diretas entre indivíduos.
Segundo Hegel, o certo seria tomar como base os laços fortes das relações sociais, fixadas pelas instituições como família, sociedade civil e Estado.
Por sermos seres históricos e culturais, possuímos, além de nossa vontade individual subjetiva, a vontade objetiva, mais poderosa que a primeira e que está inscrita na cultura, nas instituições da sociedade.
Conforme a teoria de Hegel, essas instituições determinam a vida ética ou moral dos indivíduos.
Ter uma vida ética, então, na concepção de Hegel, é conseguir o acordo e a harmonia entre a vontade subjetiva individual e a vontade objetiva cultural.
Isso só se realiza totalmente quando interiorizamos nossa cultura, de forma que passamos a praticar livremente nossos costumes e valores, sem pensar, discutir ou duvidar.
Segundo Chauí (p. 396): A vontade objetiva é uma vontade impessoal, coletiva, social, pública e historicamente determinada.
Esse querer impessoal, social e histórico cria as instituições sociais, políticas, religiosas, artísticas e, com elas, a moralidade como sistema regulador da vida coletiva por meio de mores, isto é, dos costumes e dos valores de uma sociedade, numa época determinada.
A moralidade é uma totalidade formada pelas instituições (família, religião, artes, técnicas, ciências, relações de trabalho, organização política etc.), que obedecem, todas, aos mesmos valores e aos mesmos costumes, educando os indivíduos para interiorizarem a vontade objetiva de sua sociedade e de sua cultura.
 
O dever é o acordo pleno entre nossa vontade subjetiva individual e a totalidade ética ou moralidade. Cada sociedade definirá os valores e vícios, e o indivíduo deverá se colocar de acordo com as regras morais de sua cultura.
As sociedades podem entrar (e entram) em declínio quando o antigo acordo entre as vontades subjetivas individuais e a vontade objetiva institucional rompe-se, anunciando um novo período histórico.
AULA 5
QUADRO DAS DOUTRINAS ÉTICAS FUNDAMNETAIS AO LONGO DA HISTÓRIA DA FILOSOFIA
Introdução
Nesta aula, vamos terminar nosso estudo sobre as principais doutrinas éticas ao longo da História da Filosofia. Vamos identificar a forma como a moral foi tratada por seus principais expoentes: Bergson, Spinoza e temas contemporâneos ligados à ética. Vamos lá? Bons estudos!
Nesta aula, continuaremos estudando o quadro das doutrinas éticas fundamentais ao longo da História da Filosofia.
Veremos, então, a perspectiva de Henri Bergson  sobre ética e as diferenças entre o que ele chama de “moral aberta” e “moral fechada”, o pensamento de Baruch Spinoza  e a concepção contemporânea de virtude, em uma sociedade plural e diversificada como a nossa.
Henri Bergson: Para iniciar com o pensamento de Henri Bergson (Este pensador defende ideias fundamentais para o desenvolvimento da Filosofia moderna. Essas ideias são amplamente absorvidas por todos, assumindo assim um caráter popular sem precedentes, quando Bergson ainda se encontrava vivo. Ele sobrepõe seu ponto de vista biológico à tradicional concepção materialista da Ciência e da Metafísica, encerrando desta forma o reinado da visão de Descartes.), precisamos saber que ele distingue entre duas morais:
- Moral fechada: Pode ser definida como o acordo entre os valores e os costumes de uma sociedade e os sentimentos e as ações dos indivíduos que nela vivem. 
É a moral repetitiva, habitual, respeitada quase automaticamente por seus membros.
- Moral aberta: Pode ser vista como uma criação de novos valores e de novas condutas que rompem com a moral fechada, inaugurando uma ética nova.
Os criadores éticos seriam indivíduos excepcionais, como santos, heróis,profetas, artistas, pois colocam suas vidas a serviço de um novo tempo, inaugurado por eles, graças a ações exemplares que contrariam a moral fechada vigente.
Condições históricas: Até aqui comprovamos, com a ajuda de Marilena Chauí, uma idéia: a de que os valores morais se modificam ao longo da História porque seu conteúdo é determinado por condições históricas.
O que era visto como virtude ou vício no passado pode não ser assim considerado hoje.
Por exemplo: o trabalho, para os gregos, era uma atividade menor e nunca poderia fazer parte dos valores do homem livre, pois era visto como coisa de escravos. No Cristianismo, passa a ser visto como virtude.
Todos já ouvimos a máxima de que “o trabalho enobrece o homem”, não é?
Por oposição, o ócio, tão valorizado pelo homem grego como condição para o exercício da filosofia e da política, passa a ser visto pelo cristianismo como o vício da preguiça.
Baruch Spinoza – Importante filósofo holandês do século XVII, Spinoza  afirma que o afeto ou o sentimento é constitutivo da relação de nossa alma com nosso corpo. (Baruch Spinoza acreditava que Deus era a engrenagem que movia o Universo, e que os textos bíblicos nada mais eram que símbolos, os quais dispensam qualquer abordagem racional. De acordo com sua visão, os textos aí contidos não traduzem a realidade que envolve o Criador e sua criação.)
Segundo Chauí (2012, p. 400), de acordo com o filósofo: O que se passa em nosso corpo é psiquicamente vivido por nós sob a forma afetiva.
Assim, por exemplo, quando alguma coisa aumenta a capacidade vital de nosso corpo, experimentamos amor por ela; e, ao contrário, quando alguma coisa enfraquece tal capacidade, experimentamos ódio por ela.
O afeto ou sentimento é, portanto, constitutivo da relação de nossa alma com nosso corpo.
Nossos afetos, explica Spinoza, podem ser paixões ou ações. São paixões quando causados por forças ou coisas externas; são ações quando causados por nossa força interna.
As paixões são naturais porque, sendo criaturas rodeadas por outras e afetados por elas de várias formas, somos naturalmente passionais porque somos naturalmente passivos, na medida em que sofremos a ação de causas exteriores a nós.
Como, por natureza, vivemos cercados por outros seres mais fortes do que nós, que agem sobre nós, a passividade ou paixões humanas não são boas nem ruins; são simplesmente naturais.
As paixões “não são vícios da natureza humana, nem sinais de uma vontade fraca ou pervertida, e sim a maneira como naturalmente existimos recebendo e sofrendo a ação de causas externas”.
Uma paixão indica a força ou a fraqueza de nosso ser para existir e agir.
Paixões originais ou primitivas - Vejamos agora como é interessante a descrição das três paixões originais ou primitivas, conforme Spinoza:
- Alegria: Dá origem às paixões do amor, da devoção, da esperança, da segurança, do contentamento, da misericórdia e da glória.
- Tristeza: Origina o ódio, a inveja, o orgulho, o arrependimento, a modéstia, a humildade, o medo e o desespero.
- Desejo: Conforme este se combine com a alegria ou com a tristeza, desencadeia a gratidão, a glória, a benevolência, a cólera, a crueldade, a vingança, a ambição, o temor, a ousadia,a luxúria, a avareza etc. O desejo pode exprimir a diminuição ou aumento de nossa força de existir.
Vício e virtude: Estudaremos agora sobre vício e virtude.
- Vício: Para Espinosa, vício é a fraqueza para existir, agir e pensar. É tornar-se passivo, deixando-se levar por causas externas, permitindo-lhes poder sobre si.
- Virtude: A virtude é a causa interna dos nossos sentimentos, atos e pensamentos.
O bem e o mal: Spinosa também faz outra distinção importante, isto é, entre o bem e o mal. Buscamos sempre nos aproximarmos do bom-útil e nos afastarmos do mau-nocivo.
- O bem: O bom é o útil para o crescimento do nosso ser.
- Mal: O mau é aquilo que nos impede de alcançar algo bom para a nossa existência.
Alaisdair MacIntyre: Para Alaisdair MacIntyre, filósofo, teólogo e professor, na sociedade contemporânea, plural e diversificada, onde um mesmo indivíduo se vê diante uma grande variedade de condutas e comportamentos diferentes,
é possível falar em apenas uma virtude? 
Além disso, é possível falar em virtude no mundo moderno?
Segundo MacIntyre, a virtude é aquela ação ou conduta na qual o agente, o ato e a finalidade são inseparáveis ou mesmo idênticos.
A virtude é uma qualidade humana adquirida que, em qualquer esfera de vida e atividade, torna-nos capazes de alcançar um bem interno à própria prática ou à própria conduta, isto é, inseparável da ação que o busca e o realiza.
Na próxima aula, veremos um resumo sobre racionalismo ético, como é pensada a ética dos desejos e das emoções e as relações entre ética e psicanálise.
Trataremos também das perspectivas éticas e morais das normas e dos valores e finalizaremos estudando a responsabilidade, ou seja, a oposição entre liberdade e determinismo. Até lá!
AULA 6
A RESPONSABILIDADE – LIBERDADE X DETERMINISMO
Introdução
Esta aula vai tratar da responsabilidade dentro das questões éticas. O que é necessário para que alguém seja responsabilizado por determinada conduta? Vamos ver a importância da consciência e da liberdade para que o agente possa fazer escolhas éticas. Bons estudos!
A responsabilidade: 
O que é responsabilidade?
O Dicionário Abagnano ou Japiasssu e Marcondes a define como “a obrigação de responder pelas ações próprias ou dos outros; caráter ou estado do que é responsável”.
Responsabilidade x Moral
Qual seria, então, a relação entre responsabilidade e moral?
Pode-se afirmar que, para considerarmos um ato como moral é preciso que o agente possa responder pelo que fez e também pelos resultados ou conseqüências de sua ação ou inação.
O problema da responsabilidade moral se relaciona com o da necessidade (Como vimos na segunda aula, a necessidade é relativa às coisas e acontecimentos que não podem ser diferentes do que são. Necessário é tudo aquilo que não pode não ser.
Como exemplo de necessidade, pensemos no ato de se alimentar.) Não há possibilidade de continuar vivo se você não se alimentar.) e da liberdade humanas, pois somente ao admitir que o agente tem certa liberdade de opção e de decisão é que se pode responsabilizá-lo por seus atos (O ato não pode ser julgado apenas a partir de uma norma. Deve ser examinado pelas 
condições concretas nas quais se realiza, levando em consideração se existe a possibilidade de opção e de decisão para imputar-lhe uma responsabilidade moral.), omissões e negligências.
Constituintes do campo ético
Então, quais seriam as condições necessárias e suficientes para imputar a alguém uma responsabilidade moral por determinado ato?
Desde o tempo de Aristóteles, colocam-se duas condições fundamentais:
1. Que o sujeito não ignore as circunstâncias, nem as consequências de sua ação; isto é, que o seu comportamento seja consciente.
2. Que a causa de seus atos esteja nele próprio (causa interior), e não em outro agente (causa exterior) que o force a agir de determinada maneira, contrariando sua vontade; isto é, que a conduta seja livre.
COMENTÁRIO: Platão e Aristóteles na Escola de Atenas (1509-1510), fresco de Rafael Sanzio, na Stanza della Segnatura, nos Museus Vaticanos.
SAIBA MAIS: Dotado de consciência moral, esse sujeito é capaz de deliberar diante de alternativas possíveis, a partir de avaliações sobre o valor dos atos e condutas.
Ele age em conformidade com os valores morais, tendo responsabilidade por suas ações, seus sentimentos e pelas conseqüências sobre o que faz e sente.
Vamos agora refletir sobre uma das principais questões quando se trata da nossa temática.
Quais são os constituintes do campo ético?
Segundo Marilena Chauí, para que haja conduta ética, é necessário existir o agente consciente. Esse agente conhece a diferença entre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido, a virtude e o vício.
Agente moral - O agente moral só pode existir se preencheras seguintes condições:
- Ser consciente de si e dos outros - Capaz de refletir e de reconhecer a existência dos outros como sujeitos éticos iguais a si.
- Ser dotado de vontade - Capaz de controlar e orientar desejos, impulsos, tendências, paixões e sentimentos, para conformá-los com as normas e valores ou virtudes reconhecidas pela consciência moral;
- Capaz de deliberar e decidir entre as alternativas possíveis - ser responsável (Reconhecer-se como o autor da ação, ter a capacidade de avaliar os efeitos e consequências sobre si e sobre os outros, assumir a ação e as conseqüências, respondendo por elas.) e ser livre (Não estar submetido a poderes externos que o forcem a sentir, querer e a fazer alguma coisa. A liberdade não diz respeito só a poder escolher entre vários possíveis; é poder de autodeterminação, fornecendo a si mesmo as regras de sua própria conduta).
Distinção entre passividade e atividade
Aqui a liberdade deve ser entendida como o poder de autodeterminação. Isso nos traz a idéia de distinção entre passividade e atividade.
Conforme nos ensina Chauí (p. 384): Passivo é aquele que se deixa governar e arrastar por seus impulsos, inclinações e paixões, pelas circunstâncias, pela boa ou má sorte, pela opinião alheia, pelo medo dos outros, pela vontade de outro, não exercendo sua própria consciência, vontade, liberdade e responsabilidade.
O ativo ou virtuoso, quando se trata de ética, é aquele que:
A - Consegue controlar seus impulsos, inclinações e paixões;
B - Reflete consigo e com os outros o sentido dos valores e dos fins estabelecidos;
C - Questiona se devem e como devem ser respeitados ou transgredidos por outros valores e fins superiores aos existentes;
D - Faz avaliações sobre a sua própria capacidade de criar para si mesmo as regras de conduta;
E - Age apenas depois de consultar sua razão e sua vontade;
F - Considera os outros sem subordinar-se ou submeter-se cegamente;
G - Responde pelo que faz, julga as suas próprias intenções e não aceita, nem pratica violência contra si mesmo ou contra os outros. É assim que se torna autônomo e verdadeiramente livre.
SAIBA MAIS: O campo ético é, então, constituído pelo agente moral e pelos valores morais ou virtudes éticas, também considerados os fins da ação ética ou a finalidade da vida moral.
Valores – vícios e virtudes: Com relação aos valores, a ética mostra a maneira como uma cultura e uma sociedade definem para si o que julgam ser o mal e o vício, a violência e o crime e, por oposição, o que consideram ser o bem e a virtude, a brandura e o mérito.
Independentemente do conteúdo e da forma oferecidos por cada cultura, todas as culturas consideram virtude (A virtude é a excelência, a realização perfeita de um modo de ser, sentir e agir) como algo que é o melhor sentimento, como conduta e como ação.
Ao contrário, o vício é o pior como sentimento, conduta ou ação. O vício é a baixeza dos sentimentos e das ações.
SAIBA MAIS: Por realizar-se como relação intersubjetiva e social, a ética não é alheia ou indiferente às condições históricas e políticas, econômicas e culturais da ação moral.
Conseqüentemente, embora do ponto de vista da sociedade que a institui uma ética seja sempre considerada universal (porque seus valores são obrigatórios para todos os seus membros), de fato, toda ética está em relação com o tempo e a história, transformando-se para responder a exigências novas da sociedade e da cultura, pois somos seres históricos e culturais e nossa ação se desenrola no tempo.
Os fins e os meios
- Afirmamos que o campo ético é constituído pela pessoa moral e pelos valores morais, mas há ainda um elemento importante: os meios para que os sujeitos realizem os fins.
- No caso da ética, aquela famosa frase atribuída a Nicolau Maquiavel, “os fins justificam os meios”, não é válida. Dito de outra forma, artifícios não éticos, mesmo que utilizados com boa intenção, não levarão a objetivos, éticos.
 
No caso da ética, nem todos os meios são justificáveis. Isso quer dizer que fins éticos exigem meios éticos.
- Esta relação entre meios e fins leva em consideração a idéia de discernimento. Ou seja, é preciso que se saiba distinguir entre meios morais e imorais, a partir da orientação da nossa cultura e da nossa sociedade.
- Consciência e liberdade são palavras-chave para o nosso estudo. Agora vejamos a definição de liberdade e a importância deste elemento para a vida moral.
Determinismo: Vamos falar agora das doutrinas entre dois pólos que tornam a ética impossível. O primeiro deles é o determinismo.
Se ele é total, não há ética, porque esta se refere às ações humanas. Se elas são determinadas de fora para dentro, não existe espaço para a liberdade, como autodeterminação; conseqüentemente, não há espaço para a ética.
Existem algumas formas muito conhecidas de determinismo, veja a seguir.
• O fatalismo - Assumimos que tudo o que acontece é porque tinha de acontecer assim. Se a fatalidade, ou o destino, nos move o tempo inteiro, não temos liberdade, nem presente ou futuro. Se tudo o que vai acontecer já estava decidido, vivemos em um eterno passado.
• A doutrina de um Deus dominador - Tudo o que fazemos é decidido por ele, de modo que não temos liberdade.
• Materialismo estrito - A natureza, ou lei natural, rege todos os nossos atos. Assim, os condicionamentos materiais (como os econômicos) decidem por nós. No caso de objetividade total dominando o sujeito, não existe mais espaço para a liberdade e, conseqüentemente, para a ética.
Libertarismo: O extremo oposto ao determinismo é a concepção que acredita em uma liberdade total e absolutamente incondicionada.
O libertarismo prega que ser livre é decidir e operar como se deseja, isto é, poder agir de modo como faríamos se quiséssemos e decidíssemos. Neste caso, tem-se uma liberdade de decisão e de ação que foge à determinação causal.
O desenvolvimento da liberdade se liga ao desenvolvimento do homem como ser prático, transformador ou criador.
Está vinculado ao processo de produção de um mundo humano ou humanizado, que transcende o mundo dado, natural, bem como ao processo de autoprodução do ser humano que constitui precisamente a sua história.
SAIBA MAIS - De acordo com Adolfo Sanchez-Vasquez (2011, p. 123): A liberdade se apresenta como um dado da experiência imediata ou como uma convicção inquebrantável que não pode ser destruída pela existência da causalidade.
E, embora se admita que o homem estaria sujeito a uma determinação causal – por ser parte da natureza e viver em sociedade -, acredita-se que exista uma esfera do comportamento humano – e muito especialmente a moral – na qual é absolutamente livre; isto é, livre a respeito da determinação dos fatores causais.
Esta posição é compartilhada também, no fundo, por aqueles que vêem na determinação interior da vontade, ou autodeterminação, uma nova forma de causalidade.
A liberdade 
Conforme Sanchez-Vasquez (2011:130), Karl Marx  acreditava que: A liberdade não é somente um assunto teórico, pois a compreensão da necessidade não basta para que o homem seja livre, visto que a liberdade implica – como assinalamos – uma atividade prática transformadora. Mas, sem o conhecimento da necessidade, também não há liberdade; por isso, é uma das suas condições necessárias.
O conhecimento e a atividade prática, sem os quais a liberdade humana não existiria, não tem como sujeito indivíduos isolados, mas indivíduos que vivem em sociedade, que são sociais por sua própria natureza e estão inseridos na rede das relações sociais que, por sua vez, variam historicamente.
Por todas essas razões, a liberdade também possui um caráter histórico-social. Os níveis de liberdade são níveis de desenvolvimento do homem como ser prático, histórico e social.
COMENTÁRIO - Disso se conclui que não podemos falar da liberdade humana em abstrato, fora da história e da sociedade.
A liberdade - como compreensão da necessidade causal
Seja a liberdade como poder do homem sobre a natureza, seja como domínio sobre a sua própria natureza(Controle sobre as suas próprias relações ou sobre os seus próprios atos individuais.), a liberdade implica uma ação humana baseada na compreensão da necessidade causal.
É uma liberdade que não exclui a necessidade. Ao contrário, supõe sua existência e a ação dentro de sua própria esfera.
COMENTÁRIO: Antes de seguir para a próxima tela, veja uma pequena poesia de Cecília Meireles e o que ela dizia sobre a liberdade.
Em nossa sétima aula, trataremos das temáticas recorrentes da Filosofia ocidental, ou seja, justiça, morte, liberdade e poder.
AULA 7
TEMÁTICAS RECORRENTES DA FILOSOFIA OCIDENTAL: LIBERDADE E PODER
Introdução
Nesta aula, vamos estudar categorias importantes quando se trata das reflexões sobre a moral: as concepções de justiça, morte, liberdade e poder. Vamos partir da definição de poder, estabelecendo sua relação com liberdade e justiça, para chegarmos ao ponto da vida e da morte e suas relações com a ética. Bons estudos!
Já percorremos mais da metade de nossa disciplina e, até aqui, demos bastante importância a um tema recorrente quando se discute a questão ética: a liberdade.
Nesta aula, veremos que a liberdade não é um assunto isolado, que paira no mundo abstrato. Liberdade tem muito a ver com poder, justiça, vida e morte. E tudo isso junto jamais se desvincula da moral.
Poder: é o tipo de palavra que possui vários significados e sentidos. Aranha e Pires (1993, p. 182) consideram-no genericamente como sendo “a capacidade ou possibilidade de agir, de produzir efeitos desejados sobre indivíduos ou grupos humanos”.
Então, o poder tem dois polos, ou dois extremos:
1. Diz respeito àquele que exerce o poder;
2. Referente àqueles sobre quem o poder é exercido.
De acordo com o que vimos, conclui-se que o poder é a relação ou o conjunto de relações pelas quais indivíduos ou grupos interferem na atividade de outros indivíduos ou grupos.
O que faz com que isso aconteça?
A resposta para essa pergunta é aparentemente simples: é preciso que aquele que exerce o poder tenha força.
Reflexões sobre a força
Aqui entendemos força como instrumento para o exercício do poder, não se restringindo apenas à força física, coerção, violência, pois estes são apenas tipos de força.
Um dos tipos de força que muito nos interessa é o poder do *Estado sobre os cidadãos, pois, desde a Idade Moderna, se apresenta como a instância por excelência do exercício do poder político.
O sociólogo alemão Max Weber, em suas reflexões sobre o poder e suas formas legítimas, afirmou que o Estado moderno tem dois elementos constitutivos:
1. A presença do aparato administrativo para a prestação de serviços públicos.
2. O monopólio legítimo da força.
Cabe lembrar que, mesmo que a força física seja condição necessária e exclusiva do Estado para a garantia do funcionamento e da ordem na sociedade, jamais será condição suficiente para a manutenção do poder.
* Desde então, com a criação das monarquias nacionais, o Estado se fortaleceu e passou a significar a posse de um território no qual o comando sobre os habitantes se realiza a partir da centralização do poder cada vez maior.
 Cabe agora apenas ao Estado aplicar as leis, recolher impostos e ter um exército. O monopólio dos serviços essenciais para garantir a ordem interna e externa exige o desenvolvimento do aparato administrativo fundado em uma burocracia controladora.
Poder precisa de legitimidade: Dito de outra forma, o poder do Estado, apenas sustentado na força, não pode durar. Para que se mantenha, ele precisa de legitimidade, do consentimento daqueles que obedecem.
Sobre isso, vejamos o que afirmam Aranha e Pires (1993, p. 183): Ao longo da História humana foram adotados os mais diversos princípios de legitimidade de poder: nos Estados teocráticos, o poder considerado legítimo vem da vontade de Deus; ou da força da tradição, quando o poder é transmitido de geração em geração, como nas monarquias hereditárias.
Nos governos aristocráticos, apenas os melhores podem ter funções de mando; é bom lembrar que os considerados melhores variam conforme o tipo de aristocracia: os mais ricos, ou os mais fortes, ou os de linhagem nobre, ou até a elite do saber; na democracia, vem do consenso, da vontade do povo.
A discussão acerca da legitimidade do poder se relaciona aqui com a liberdade e as demais problemáticas éticas. Ela tem a ver com a questão de que a obediência é devida apenas ao comando do poder legítimo, segundo o qual a obediência é voluntária e, por isso, livre.
 
Fosse de outra forma, existiria o direito à resistência, que leva à turbulência social. Ainda restaria também examinar as condições que permitem estabelecer os limites do poder.
Perceba que falar em poder é fazer referência também aos regimes de governo e, ao pensar nisso, não podemos deixar de mencionar a democracia.
Democracia: é uma palavra grega, derivada dos vocábulos demos e kratos.
- A primeira elaboração teórica sobre o ideal democrático foi formulada pelos atenienses, cujos cidadãos tinham a capacidade de decidir os destinos da polis.
- É na praça pública que o povo grego se encontra para, por meio do discurso, decidir os destinos políticos.  Em Atenas, a democracia era do tipo direto.
É importante notar que, em Atenas, o conceito de cidadania era muito diferente do que conhecemos hoje.
- Para um ateniense, cidadão era homem, adulto, proprietário dos bens. Mulheres, escravos e crianças eram vistos como meras propriedades desses senhores. Neste tipo de democracia, valores que pertenciam a apenas uma classe foram considerados universais.
Historicamente, a democracia reaparece com roupagens novas. Não nos deteremos aqui em traçar um roteiro da sua existência ao longo dos séculos. Interessa-nos saber qual é o lugar do poder na democracia.
Como apontam Aranha e Pires (2005, p. 184), para o cientista político Claude Lefort, “é o lugar vazio, ou seja, é poder com o qual ninguém pode se identificar e que será exercido transitoriamente por quem foi escolhido para tal”.
Não deve existir, então, elitismo ou ditadura da maioria. Democracia também pressupõe as ideias de conflito, abertura e rotatividade.
SAIBA MAIS: Antes de dar continuidade aos seus estudos, veja aqui os comentários de Marilena Chauí e Aranha e Pires sobre o assunto.
Definição de justiça - No Dicionário Online de Português, encontramos a seguinte definição para justiça:
Virtude moral pela qual se atribui a cada indivíduo o que lhe compete: praticar a justiça.
Direito: ter a justiça a seu lado.
Ação ou poder de julgar alguém, punindo ou recompensando: administração da justiça.
Conjunto de tribunais ou magistrados: recorrer à justiça.
Ética e justiça
Qual seria a relação entre ética e justiça? 
Sendo a ética a busca do bem, do bom, não só para si, mas para os seus semelhantes, pode-se afirmar que essa relação é muito estreita. Justiça pressupõe a ideia de igualdade, pois todas as leis e regras, mesmo aquelas não escritas, devem ser aplicadas a todos, sem distinção. Assim, a justiça procura garantir a igualdade entre todos os cidadãos, por isso é comum ouvirmos a expressão “justiça social”. (Em uma sociedade democrática, é impensável que não se busque, embora nem sempre se consiga, a justiça social, os direitos, a proteção contra os abusos e o direito de ter direitos. É impensável também, em nosso tipo de sociedade, que alguns tenham negados os direitos que garantem a dignidade, o bem-estar e, no limite, a vida.)
Vida e morte: Para os seres humanos, vida e morte não são meros acontecimentos biológicos. De acordo com Chauí (2012, p. 423), a vida e a morte são acontecimentos simbólicos, são significações, possuem sentido e fazem sentido.
Só o ser humano tem noção da finitude da vida e, para alguns filósofos, a vida só se completa com a morte.
É o fim da vida que permite dizer quem uma pessoa realmente foi, pois, enquanto ela estava viva, havia a possibilidade de toda a sorte de mudanças.
Vive-se com os outros, morre-se sozinho. A vida é estar com os outros. A essênciada vida é intercorporeidade e intersubjetividade.
Você sabe qual é a relação entre vida, morte e ética?
Vida, morte e ética 
Qual a relação entre vida, morte e ética? 
Marilena Chauí (2012, p. 423) responde: A ética é o mundo das relações intersubjetivas, isto é, entre o eu e o outro como sujeitos e pessoas, portanto, como seres conscientes, livres e responsáveis.
Nenhuma experiência evidencia tanto a dimensão essencialmente intersubjetiva da vida e da vida ética quanto a do diálogo.
A vida é intersubjetividade corporal e psíquica, é reciprocidade entre sujeitos e, por isso, tantos filósofos consideravam a amizade como a virtude proeminente, expressão do mais alto ideal de justiça.
SAIBA MAIS: Para Espinosa, o ser humano é mais livre na companhia de outros do que na solidão. Só os seres humanos livres têm gratidão e reconhecimento pelos outros porque sujeitos livres agem com boa-fé e nunca com fraude.
Em nossa oitava aula, entraremos em um campo mais concreto, utilizando as categorias que conhecemos mais detidamente até agora. Estudaremos também as temáticas brasileiras relacionadas à ética e cidadania: os Direitos Humanos e a afrodescendência.
AULA 8
ÉTICA E CIDADANIA – TEMÁTICAS BRASILEIRAS: OS DIREITOS HUMANOS
Introdução
Nesta ocasião, estudaremos categorias importantes quando se trata das reflexões sobre a moral. Analisaremos, então, as concepções de justiça, morte, liberdade e poder. É claro que, neste ponto, já tendo estudado o tema da liberdade quase que exaustivamente, nos restringiremos apenas a relacioná-la com os outros assuntos. Vamos, então, partir da definição de poder, estabelecendo a sua relação com liberdade e justiça para chegarmos ao ponto da vida e da morte e suas relações com a ética, os Direitos Humanos e a Segurança Pública.
Nesta aula, entraremos em um campo mais concreto, utilizando as categorias que conhecemos mais detidamente até agora e estudaremos as temáticas brasileiras relacionadas à ética e cidadania. 
Nesse encontro, examinaremos detalhadamente os direitos humanos fundamentais, suas relações com a ética e a cidadania e com a Segurança Pública.
O Brasil é um Estado Democrático de Direito, baseado no respeito aos Direitos Humanos. Os profissionais de Segurança Pública, em nosso país, devem ter noção de sua relevância no processo de democratização e na construção e ampliação da percepção da cidadania no seio da sociedade.
Conceito de Direitos Humanos: Ao começar nosso estudo, vamos analisar a definição de Direitos Humanos. Para tanto, observemos o que encontramos no Portal Brasil do Governo Federal sobre o tema:
Os Direitos Humanos são os direitos essenciais a todos os seres humanos, sem que haja discriminação por raça, cor, gênero, idioma, nacionalidade ou por qualquer outro motivo (como religião e opinião política).
Eles podem ser civis ou políticos, como o direito à vida, à igualdade perante a lei e à liberdade de expressão. Podem também ser econômicos, sociais e culturais, como o direito ao trabalho e à educação e coletivos, como o direito ao desenvolvimento. 
A garantia dos direitos humanos universais é feita por lei, na forma de tratados e de leis internacionais, por exemplo.
Características dos Direitos Humanos
Os Direitos Humanos têm algumas características importantes. São elas:
- Imprescritibilidade: Não há prazo de validade para os Direitos Humanos Fundamentais, porque eles são permanentes.
- Inalienabilidade: Não podem ser transferidos de uma pessoa para outra.
- Irrenunciabilidade: Não é possível que alguém renuncie aos seus direitos humanos fundamentais. Por exemplo, não se pode renunciar à vida ou à liberdade em favor de outra pessoa.
- Inviolabilidade: Não existe lei infraconstitucional ou autoridade que possam desrespeitar os direitos fundamentais de alguém, sob pena de ser responsabilizado civil, administrativa e criminalmente.
- Universalidade: Os direitos fundamentais são aplicados a todos os indivíduos, independentemente de sua nacionalidade, sexo, credo ou convicção político-filosófica.
- Efetividade: Cabe ao poder público assegurar a efetivação dos direitos e garantias fundamentais,mesmo que haja necessidade do uso de mecanismos coercitivos, pois esses direitos não são satisfeitos apenas com o reconhecimento abstrato.
- Interdependência: As várias previsões constitucionais e infraconstitucionais não podem se chocar com os direitos fundamentais, ao contrário, devem se relacionar de modo a atingirem suas finalidades.
- Complementaridade: Não devemos interpretar os direitos fundamentais isoladamente, mas sim de modo conjunto para a sua plena realização.
Não há prazo de validade para os Direitos Humanos Fundamentais, porque eles são permanentes.
Histórico dos Direitos Humanos: A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi aprovada pela Resolução 217 A (III) na Assembleia Geral da ONU, em 10 de dezembro de 1948.
- 1945: Com o fim da Segunda Grande Guerra Mundial e com a criação da Organização das Nações Unidas, ambos em 1945, os líderes mundiais acharam por bem complementar a promessa da comunidade internacional de não mais permitirem que, novamente, ocorressem atrocidades como as cometidas na Segunda Guerra e, para isso, elaboraram um guia para garantir os direitos de todas as pessoas e em todos os lugares do globo terrestre.
- 1946: O documento (a guia) foi apresentado na primeira Assembleia Geral da ONU, em 1946, e encaminhado à Comissão de Direitos Humanos para que fosse utilizado na preparação de uma declaração internacional de direitos.
- 1947: Os membros da comissão, na primeira sessão, em 1947, foram autorizados a elaborar o “esboço preliminar da Declaração Internacional dos Direitos Humanos”. 
Foi formado, então, um comitê composto por membros de 8 países e presidido por Eleanor Roosevelt, viúva de Franklin Roosevelt. Esse comitê também contou com a participação do francês René Cassin, responsável pelo primeiro esboço da declaração.
- 1948: O primeiro rascunho da Declaração Universal dos Direitos Humanos, cuja redação contou com a participação de representantes de mais de 50 países, foi apresentado em setembro de 1948 e teve seu texto final concluído em menos de 2 meses.
Declaração Universal dos Direitos Humanos
DUDH
Como vimos, uma das características dos Direitos Humanos é a universalidade e esse documento é a base da luta universal contra a opressão e a discriminação, defendendo a igualdade e as liberdades fundamentais que devem ser aplicados a cada cidadão do planeta.
Outros documentos que reagiam contra tratamentos desumanos e injustiças já tinham sido assinados anteriormente, tais como:
• a Declaração de Direitos Inglesa (após as Guerras Civis Inglesas, em 1689, para pregar a democracia) e; 
• a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, redigida em 1789, pouco depois da
   Revolução Francesa para proclamar a igualdade para todos.
Os Direitos Humanos no Brasil
Na Constituição Brasileira de 1988 (Também conhecida como Constituição Cidadã. Esta Carta Magna traz um indiscutível avanço na consolidação legislativa das garantias e direitos fundamentais e na proteção de setores vulneráveis da sociedade brasileira.) encontramos a institucionalização e a instauração de um regime político democrático no Brasil. A partir dela, os Direitos Humanos ganham importância, o que faz dessa constituição um documento abrangente e pormenorizado sobre os Direitos Humanos, nunca antes adotados no Brasil.
Para o tenente-coronel da PMDF, Suamy Santana da Silva (Curso Nacional de Multiplicador de Polícia Comunitária, p. 228),
A consolidação das liberdades fundamentais e das instituições democráticas no país, por sua vez, muda substancialmente a política brasileira de Direitos Humanos, possibilitando um progresso significativo no reconhecimento de obrigações internacionais neste âmbito.
Desde seu preâmbulo, a Carta de 1988 projeta a construção de um Estado Democrático de Direito, “destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar,o desenvolvimento, a igualdade e a justiça, como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos (...)” (José Joaquim Gomes Canotilho).
Em 1977, foi criada, no âmbito do Ministério da Justiça, a Secretaria de Direitos Humanos. 
Em 2003, essa secretaria ganhou o status de ministério e, a partir de 2010, recebeu o novo nome de Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR) e, atualmente, é responsável pela articulação interministerial e intersetorial das políticas de promoção e proteção aos Direitos Humanos no Brasil.
Obrigação do Estado: Sabemos que é obrigação do Estado garantir a lei, a ordem, a paz e a segurança. Os Estados, na maior parte das vezes, entrega esta incumbência às organizações, civis, militares ou paramilitares.
Aos profissionais de Segurança Pública cabe, hoje, além da aplicação da lei, a promoção e a proteção dos Direitos Humanos.
As funções das organizações de aplicação da lei
As funções das organizações de aplicação da lei, independente de suas origens, estruturas ou vinculações, estão geralmente relacionadas a: Manutenção da ordem pública; Prestação de auxílio e assistência em todos os tipos de emergência; Prevenção e detecção do crime.
Por muito tempo, o tema dos Direitos Humanos foi visto como oposto ao da Segurança Pública. O autoritarismo vigente no país, entre 1964 e 1984 promoveu uma cisão entre polícia e sociedade, como se os profissionais da Segurança Pública não fizessem parte do corpo social.
Polícia: A polícia passou a ser caracterizada, equivocadamente, pelos segmentos mais progressistas da sociedade como afeta à repressão antidemocrática, à truculência, ao conservadorismo. 
Depois da “abertura democrática”, os defensores dos Direitos Humanos começaram a ser vistos como “defensores de bandidos” e da impunidade.
Todas as visões são equivocadas e prejudicadas pelo preconceito. É necessário estabelecer parcerias entre a sociedade e as forças de Segurança Pública para o alcance de uma sociedade mais justa, pois todos somos defensores da mesma democracia.
De acordo com Suamy Santana da Silva (Para o autor (p. 257), O policial, pela natural autoridade moral que porta, tem o potencial de ser o mais marcante promotor dos Direitos Humanos, revertendo o quadro de descrédito social e qualificando-se
como um personagem central da democracia. As organizações não governamentais que ainda não descobriram a força e a importância do policial como agente de transformação, devem abrir-se, urgentemente, a isso, sob pena de, aferradas a velhos paradigmas, perderem o concurso da ação impactante desse ator social.), a polícia que age como uma instituição de serviço à cidadania, em uma de suas demandas mais básicas, isto é, a Segurança Pública, tem todas as condições para ser altamente respeitada e valorizada.
Porém, é preciso que recobre a consciência da importância de seu papel social e a sua autoestima. Esse caminho só pode ser seguido ao superar os paradigmas passados.
Clique aqui e conheça as  considerações de Ricardo Brisolla Ballestreri sobre a aproximação entre as forças de Segurança Pública e a sociedade.
AULA 9
DIREITOS HUMANOS DE PESSOAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE
Introdução
Esta aula tratará da questão da segurança pública e a proteção dos direitos humanos das pessoas em situação de vulnerabilidade. Analisaremos, então, como os profissionais de segurança pública devem abordar e conduzir mulheres, crianças e adolescentes, pessoas envolvidas em situações de racismo e discriminação racial e pessoas com deficiência. Bons estudos!
Esta aula tratará da questão da segurança pública e a proteção dos direitos humanos das pessoas em situação de vulnerabilidade. 
Analisaremos, então, como os profissionais de segurança pública devem abordar e conduzir mulheres, crianças e adolescentes, pessoas envolvidas em situações de racismo e discriminação racial e pessoas com deficiência.
Perceberemos, com esse estudo, que é fundamental que os integrantes das corporações responsáveis pela segurança pública sejam constantemente capacitados e encorajados a pensar em seu relevante papel quando se trata da garantia dos direitos e da coibição de abusos.
Na última aula, estudamos as relações entre Direitos Humanos e Ética.
Vimos que o profissional da Segurança Pública deve ser um agente de garantia dos direitos de todo e qualquer cidadão, afinal, os Direitos Humanos são universais, inalienáveis e irrenunciáveis. 
Contudo, há alguns grupos sociais que são injustamente tratados ou percebidos com desconfiança.
Em 2010, a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp) do Ministério da Justiça lançou a cartilha intitulada “Atuação policial na proteção dos direitos humanos de pessoas em situação de vulnerabilidade”. Seu objetivo é reforçar aspectos da atividade policial pautada na legalidade e no respeito aos Direitos Humanos.
Essa publicação oferece subsídios teóricos e práticos aos profissionais de segurança pública no exercício de suas ações, que devem estar ligadas à garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Devido à complexidade do seu papel no ambiente democrático, os (as) profissionais de segurança pública devem ser periodicamente qualificados (as) e atualizados (as) no que diz respeito à conduta e às responsabilidades inerentes à sua atuação.
 A cartilha mostra as diretrizes que devem ser observadas na abordagem e encaminhamento, realizados por policiais e guardas municipais, de cidadãos e cidadãs em situação de vulnerabilidade.
Alguns exemplos desses cidadãos são: mulheres; crianças e adolescentes; idosos; pessoas com deficiência; pessoas em situação de rua; gays, lésbicas, travestis e transexuais.
 Em nossas duas últimas aulas, vamos nos ocupar exatamente disso. Vamos lá?
Mulheres: Sabemos que deve existir igualdade de direitos entre homens e mulheres e mecanismos que garantam a não discriminação entre os sexos.
Todavia, também é notório que as mulheres estão em situação de vulnerabilidade, pois são vítimas de discriminação de gênero, sofrendo violência física, psicológica e sexual.
É por esta razão que existem políticas específicas para as mulheres, ou seja, para que as desigualdades sejam minimizadas.
É preciso proteger a mulher capturada ou detida, agindo da seguinte forma:
- A mulher detida deve ser conduzida separada dos indivíduos de sexo masculino;
- Ela deve ser colocada em local exclusivo para o sexo feminino;
- Tenha cuidados especiais durante a abordagem e condução da mulher gestante e lactante, respeitando suas limitações físicas;
- De acordo com o Art. 766 do Código de Processo Penal, “a internação das mulheres será feitva em estabelecimento próprio ou em seção especial”.
Nos casos em que a mulher é a vítima da violência, a vítima deverá ser entrevistada e orientada, preferencialmente, por policial feminina. 
Na entrevista, é importante saber:
 - Quem é o agressor e qual o seu parentesco ou relacionamento com a  vítima;
- Se houve agressões anteriores;
- Se o agressor ingeriu bebidas alcoólicas ou fez uso de outras drogas  ilícitas;
- Se foi utilizada arma de fogo ou arma branca (facas, canivetes, estiletes, lâminas);
- Se o agressor já ameaçou a vítima de morte.
Os profissionais de segurança pública devem amparar e conduzir a mulher vítima de violência a uma delegacia especializada no atendimento à mulher.
Assim, deve-se demonstrar interesse na ocorrência e incentiva a mulher vítima de violência a registrar os fatos, por essa ser a melhor forma de garantir seus direitos.
A mulher também está presente nas guarnições. Pode-se afirmar que, para defender os direitos humanos e o respeito à dignidade da pessoa humana, a mulher policial ajuda também a instituição a preservar os direitos e garantias da mulher, tanto na condição de infratora como na de vítima.
 
SAIBA MAIS: A discriminação de gênero pode atingir a profissional de segurança pública quando elas são desencorajadas a exercer tarefas operacionais. Assim, deve-se promover e incentivar

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