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1 CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI APOSTILA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO ESPÍRITO SANTO 2 A IMPORTÂNCIA DA PSICOLOGIA http://hospitalstellamaris.com.br/ A Psicologia é uma ciência que procura compreender o comportamento do ser humano. Investiga uma série de fenômenos próprios do animal homem: a percepção, a emoção, o desejo, a patologia, a aprendizagem, o desenvolvimento, o comportamento, entre muitos outros. Com isso, podemos inferir que o campo da Psicologia é muito amplo e lida com questões fascinantes para todos os interessados em compreender de maneira mais apurada a si mesmos e as outras pessoas. É um conhecimento imprescindível para os profissionais que têm de lidar de modo direto com outras pessoas. Para os futuros professores, a psicologia, como disciplina da licenciatura, procura fornecer dados que ajudem o profissional a criar condições favoráveis no processo de ensino-aprendizagem. 3 TEORIAS DA APRENDIZAGEM 1.1 Teoria Cognitivista De Jean Piaget Jean Piaget (1896-1980) http://entreaspassp.blogspot.com.br/ Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua capacidade de observação. Aos onze anos percebeu um melro albino em uma praça de sua cidade. A observação deste pássaro gerou seu primeiro trabalho científico. Formado em Biologia interessou-se por pesquisar sobre o desenvolvimento do conhecimento nos seres humanos. As teorias de Jean Piaget, portanto, tentam nos explicar como se desenvolve a inteligência nos seres humanos. Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como o estudo dos mecanismos do aumento dos conhecimentos. Convém esclarecer que as teorias de Piaget têm comprovação em bases científicas. Ou seja, ele não somente descreveu o processo de desenvolvimento da inteligência, mas, experimentalmente, comprovou suas teses. 4 Resumir a teoria de Jean Piaget não é uma tarefa fácil, pois sua obra tem mais páginas que a Enciclopédia Britânica. Desde que se interessou por desvendar o desenvolvimento da inteligência humana, Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, até às vésperas de sua morte, em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escrito aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos artigos. 1 - A inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do organismo a uma situação nova e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a inteligência humana pode ser exercitada, buscando um aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui "desde o nível mais primitivo da existência, caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas" (RAMOZZI-CHIAROTTINO apud CHIABAI, 1990, p. 3). http://www.gettyimages.pt/ 5 2 - Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo = conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas. http://www.donaresolve.com/ 3 - “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem estrutura” (Piaget). Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo sofre um processo genético e a gênese depende de uma estrutura de maturação. Sua teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de conhecimento 6 para inseri-lo num sistema de relações. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e transformá-lo. O que implica os dois polos da atividade inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação na medida em que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência ou estruturação por incorporação da realidade exterior a formas devidas à atividade do sujeito (Piaget, 1982). É acomodação na medida em que a estrutura se modifica em função do meio, de suas variações. A adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e uma acomodação complementar" (Piaget, 1982). Piaget situa, segundo Dolle, o problema epistemológico, o do conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o objeto. E "essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, etc. ... e permite seguir fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento" (1974, p. 52). http://noctulachannel.com/ 7 4 - O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intrauterino e vai até aos 15 ou 16 anos. Piaget diz que a embriologia humana evolui também após o nascimento, criando estruturas cada vez mais complexas. A construção da inteligência dá-se, portanto em etapas sucessivas, com complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequencial”. Segundo Jean Piaget o conhecimento do indivíduo sobre o mundo está ligado à sua adaptação à realidade. Apenas através do conhecimento, pode o homem se adaptar ao mundo. Tais conhecimentos são o próprio desenvolvimento da pessoa humana, porque o papel do desenvolvimento é produzir estruturas lógicas que permitam ao homem agir sobre o mundo. http://pt.depositphotos.com/ Assim, a pessoa utiliza processos mentais que a princípio são simples e vão gradativamente se tornando mais complexos. A criança vai lidar com objetos no esforço de dar sentido ao seu entorno. Em função dessa ideia alguns teóricos chamam, também, a teoria de Piaget de interacionista e construtivista. 8 Para Piaget, nossa capacidade de manipular e formar conceitos muda em função do nosso amadurecimento. Assim, o pensamento de uma criança não é unicamente uma versão menos desenvolvida do pensamento de um adulto, mas difere dele em uma série de aspectos. Em função disto, temos que, uma das premissas básicas da teoria de Piaget, é a ideia de que a criança passa por estágios de desenvolvimento cognitivo e cada um desses estágios é caracterizado por uma estrutura cognitiva específica: ou seja, pela estratégia que a criança estabelece em suas tentativas de organizar e encontrar sentido na experiência. Os estágios são os seguintes: Sensório-motor, Pensamento pré- operacional, Operações concretas e Operações formais. Passemos, pois, a apresentar as características de cada um. 1º Estágio - Sensório-motor: aproximadamente do nascimento aos 2 anos. Nas primeiras semanas de existência, a atividade do recém-nascido parece ter um caráter puramente reflexo. Os bebês agarram objetos, sugam, estendem as pernas e os braços e choram. Tais ações são involuntárias. O bebê recebe um estímulo e a resposta reflexiva é invocada. Não há pensamentode nossa parte se afastamos os braços de um objeto que está muito quente. Essas atividades reflexas, a princípio, são direcionadas para o próprio corpo da criança, mas em algum momento entre o quarto e oitavo mês, começam a ser cada vez mais orientadas também a objetos externos. Isto indica que um elemento proposital está sendo introduzido no comportamento da criança. A criança está, agora, aparentemente utilizando uma sucessão de movimentos direcionados à obtenção de metas definidas. Piaget nomeia essas sequências de esquemas e afirma que são evidências de estruturas cognitivas que permitem à criança ligar ações em unidades estáveis e repetitivas. Entre o décimo segundo e o décimo oitavo mês, tais esquemas tornam-se cada vez mais elaborados à 9 medida que a criança faz experiências com eles para obter os fins desejados. Podemos citar como exemplos de esquemas: sugar, pegar, olhar. Podemos dizer, então, que o que acontece nesse estágio é que, a partir de reflexos básicos, o bebê começa a criar esquemas de ação para assimilar mentalmente o seu entorno. A inteligência é prática. As noções de espaço e tempo, por exemplo, são construídas pela ação. O contato com o meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. 2º Estágio – Pensamento Pré-Operacional: aproximadamente dos 2 aos 7 anos. /www.google.com.br Este estágio é divido em dois: Pré-conceitual e o intuitivo. Pré-conceitual (ou simbólico) - O desenvolvimento cognitivo da criança entre dois e quatro anos é cada vez mais dominado pelo surgimento da atividade simbólica. 10 As crianças tornam-se capazes de usar símbolos para representar ações e, portanto, são capazes de representar essas ações para si mesmas sem de fato realizá-las (isto é, torna-se possível interiorizar ações). Na brincadeira infantil em que bonecas se tornam bebês, carros de brinquedo representam carros de verdade e a criança pode assumir o papel de “papai” e “mamãe”. Nesse caso, a criança não precisa mais da presença do objeto pois pode evocá-lo. A emergência da atividade simbólica, entretanto, não indica que a criança já é capaz de formar conceitos como adultos e crianças mais velhas fazem. Nesse estágio, a percepção da criança é global, não consegue discriminar detalhes, deixa-se levar pelas aparências. Intuitivo – As principais estruturas cognitivas utilizadas agora pela criança são denominadas egocentrismo, centração e irreversibilidade. O egocentrismo é caracterizado por uma incapacidade de ver o mundo de outro ponto de vista que não seja autocentrado. Portanto, nessa fase crianças são incapazes de se mostrar críticas, lógicas ou realistas. As crianças não estão conscientes ainda de que pode haver outros pontos de vista diferentes do seu. A centração envolve centralização da atenção num único aspecto de uma situação, desprezando outros, por mais pertinentes que sejam. Podemos citar, como exemplo, o caso de quando pegamos dois copos idênticos cheios até o mesmo ponto com líquido e derramamos o conteúdo de um deles em um vidro alto e estreito, as crianças geralmente afirmam que agora temos “mais” líquido do que tínhamos antes, e mais líquido do que no outro copo, apenas porque o nível ficou mais alto. A irreversibilidade envolve a incapacidade de retroceder a um ponto inicial. Assim, tendo percorrido, digamos, certa sequência de três etapas, as crianças têm dificuldade para retornar à etapa dois e, em seguida, à etapa um. Embora possam somar dois mais três para dar cinco, com frequência acham impossível reverter o procedimento e subtrair dois de cinco para chegar de volta a três. 11 http://atividadeparaeducacaoespecial.com/ 3º Estágio Operações Concretas: –aproximadamente dos 7 aos 11 anos As crianças atingem, nesse estágio, um sistema simbólico de pensamento organizado e coerente que lhes permite antecipar e controlar o ambiente. Porém, esse sistema ainda difere daquele utilizado pelos adultos, pois está encadeado a experiências concretas. Embora possam formular hipóteses, as crianças ainda precisam ter experiência tal evidência concreta no passado para conseguir fazer isso. Essencialmente, elas ainda são limitadas em seu pensamento e tendem a descrever seu ambiente em vez de explicá-lo (por isso acham muito mais fácil dar exemplos de coisas ao invés de apresentar definições). Nessa fase o pensamento infantil avança de forma considerável. Ele se torna menos egocêntrico e as crianças desenvolvem a capacidade de demonstrar tanto descentralização como reversão. A principal estrutura cognitiva subjacente a este estágio é o agrupamento (ou categorização). As crianças são capazes de reconhecer os membros de uma classe lógica real e, assim, organizar objetos e acontecimentos em conjuntos em termos de suas características definidoras comuns. O agrupamento lhes 12 possibilita cada vez mais encontrar sentido nas experiências, solucionar problemas e avançar para uma perspectiva mais realista e precisa do mundo. 4º Estágio – Operações Formais: aproximadamente dos 12 anos em diante. http://pt.slideshare.net/ As crianças tornam-se capazes de acompanhar a forma de um argumento ou de formular uma hipótese sem necessitar da experiência efetiva dos objetos ou situações concretas de que ela depende. De modo igualmente importante, tendo chegado a compreender conceitos individuais ou categorias isoladas durante os estágios anteriores de desenvolvimento, elas agora conseguem ver que eles podem ser interdependentes em certas circunstâncias. Piaget chamou esta estrutura cognitiva de estrutura de grade, para indicar que é uma forma de pensamento em que tudo pode ser relacionado a tudo o mais, permitindo assim que o indivíduo experimente várias combinações de proposições hipotéticas ao considerar um problema ou possível acontecimento futuro. O tipo de raciocínio 13 assim gerado é conhecido como raciocínio hipotético-dedutivo, porque o indivíduo é capaz de criar hipóteses e fazer deduções a partir dos resultados, ampliando assim a compreensão do material com que está lidando. Todas as formas de pensamento pertinentes a cada um destes estágios dependem da idade e do desenvolvimento do infante. As estruturas cognitivas mudam de acordo com o crescimento, entretanto outros processos cognitivos são inatos e permanecem ao longo da vida. São as invariantes funcionais. As mais estudadas por Piaget são: acomodação e assimilação. A assimilação se dá quando a criança tem novas experiências e tenta adaptar novos estímulos às estruturas que já possui. A assimilação consta na aplicação dos esquemas já adquiridos, ou seja, o meio é integrado no sujeito por meio de esquemas e estruturas de que o sujeito já possui. Trata-se, desse modo, de utilizar uma estrutura mental já formada. http://silstarsil.blogspot.com.br/ 14 A acomodação refere-se à modificação das estruturas já amadurecidas para resolver uma nova situação. Diante de uma nova situação, a criança começa por incorporar os objetos nos esquemas de que já possui, porém, ao mesmo tempo, os transforma para melhor se adaptar. http://1.bp.blogspot.com/-0sZF6DR4esw/TpINL5ryDlI/AAAAAAAABfE/9ZE7G4l1Moo/s1600/estudar.jpg No processo de assimilação a mente não se altera, o conhecimento que se possui da realidade não muda. Em alguns casos, os esquemas de ação que a criança já possui não são suficientes para incorporar uma nova realidade. É,justamente nesse caso que deve ocorrer a acomodação. O organismo se modifica e incorpora uma nova realidade. (Ver figura abaixo) 15 (FONTANA, David. Psicologia para professores. São Paulo, Loyola, 1998. 67p.‐74p.) 1.2 Teoria Do Condicionamento Operante De Skinner B.F. Skinner (1904-1990) drsophiayin.com Também conhecida como teoria comportamental (ou behaviorismo), o pressuposto da teoria de Skinner procura explicar o comportamento humano como resultado das influências dos estímulos do meio, e ao que pode ser observado do resultado desta influência. Se entendermos como os estímulos do meio influenciam o comportamento do homem, poderemos intervir neste 16 comportamento, simplesmente manipulando os estímulos que agem sobre o indivíduo. Para Skinner o homem é produto do meio em que vive, ou seja, o que o homem faz resulta de condições que podem ser discriminadas e, uma vez compreendidas, pode-se até antecipar, determinar e alterar as ações humanas. Conceitos e princípios da aprendizagem http://revistaescola.abril.com.br/ A aprendizagem se realiza por influência dos estímulos do meio. O indivíduo emite comportamentos em nível operante (frequência original de um comportamento antes de ser condicionado) e estes sofrem a influência das consequências deste comportamento (reforço). 17 Quando as consequências de um comportamento são desejáveis, estas retroagem sobre o comportamento aumentando sua frequência, quer dizer, aumentando a probabilidade de ocorrência do comportamento; se este tipo de consequência persistir, ocorrerá a formação de um hábito. Skinner chama tais consequências de reforço. O reforço é o conceito central do Condicionamento Operante e a frequência à medida deste processo. www.tribunadeituverava.com.br O reforço consiste em qualquer estímulo ou evento que aumenta a probabilidade de ocorrência de um comportamento. Por exemplo: quando uma criança chora (comportamento operante) e este choro traz como efeito a presença da mãe ou um colo, estas consequências podem ser consideradas reforços, e como tal, retroagem sobre o comportamento, aumentando progressivamente sua frequência. Se na sala de aula um aluno fica conversando durante a aula (comportamento operante) e o professor dá atenção (reforço) a este aluno, poderá estar condicionando o mesmo a falar. Se outro estudante apresenta o dever de casa e o professor demonstra satisfação pelo ato (reforço), estará também condicionando seu aluno a fazer o dever. 18 Podemos, por conseguinte, concluir: todos aqueles comportamentos que nossos alunos ou filhos manifestam e que pretendemos que eles mantenham, devem ser reforçados. Habitualmente, os pais e professores atuam em sentido contrário: quando a criança faz algo errado, então recebe atenção; na escola, é comum o professor dar atenção aos alunos quando estes conversam, deixam de estudar, fazem bagunça etc. ao invés de dar atenção a um comportamento desejável. http://portal.mec.gov.br/ Reforço Positivo e Reforço Negativo O reforço positivo compreende a apresentação de um estímulo (um estímulo é adicionado) como consequência do comportamento e esta apresentação aumenta a frequência do comportamento. Todos os exemplos citados acima são exemplo de reforço positivo. 19 O reforço negativo é quando a retirada (um estímulo é subtraído) de um estímulo como consequência de um comportamento, aumenta a frequência deste comportamento. Por exemplo: um bebê fica muito tempo de fraldas molhadas e chora por causa da irritação. Se neste momento as fraldas molhadas forem retiradas (reforço negativo) a criança será condicionada a ser “chorona” quando faz xixi nas fraldas. http://mundomulheres.com/ Tipos de Reforçadores Reforçadores Primários – são aqueles estímulos que satisfazem necessidades primárias como a fome, a sede etc. tais como alimentos e água. São universais, pois podem servir como reforçadores desde que o sujeito esteja privado de água e alimento. Reforçadores Secundários – originalmente não tinham propriedade reforçadora, mas adquiriram-na depois de terem sido sucessivamente emparelhados com algum reforçador primário. Como exemplo, podemos 20 citar a pessoa da mãe que adquire propriedade reforçadora na medida em que é emparelhada seguidamente com o alimento e, como consequência, passará a reforçar qualquer comportamento que a criança emitir no momento em que a mãe chegue perto dela. Reforçadores Generalizados – compreendem aqueles estímulos que foram emparelhados com mais de um reforçador secundário. Skinner cita exemplos como a atenção, o afeto, a aprovação, o dinheiro, as notas, os diplomas. A atenção é reforçadora “por ser condição necessária para os outros reforços que delas provém”. No caso da aprovação, ensinamos crianças a falar corretamente dizendo: “está certo!”, “muito bem!” O afeto é reforçador porque o agente está associado com vários reforçadores primários. Os reforçadores secundários e generalizados têm como vantagem especial serem eficientes independente do estado de privação do sujeito. Quatro Esquemas de Reforçamento Reforçamento Contínuo – reforça-se o comportamento toda vez que ele é emitido. Sempre que o comportamento esperado está sendo apresentado nós o reforçamos. Se queremos, por exemplo, que nosso aluno traga o dever regularmente, é importante que nas primeiras oportunidades em que ele venha com o dever feito nós reforcemos este comportamento. Este tipo de reforçamento apresenta como vantagem um rápido aumento do comportamento reforçado. Reforçamento em Intervalo – esquema de reforçamento em que o reforço é apresentado em função da passagem do tempo. O intervalo pode ser fixo ou variável. No intervalo fixo, o período de tempo compreendido entre um comportamento e outro é sempre o mesmo. No intervalo variável, o período de tempo compreendido entre um e outro reforçamento modifica sempre. 21 Podemos citar como exemplo de intervalo fixo quando o professor tem dia certo para conferir os deveres de casa; neste dia a maioria dos alunos faz seu dever, porém nos outros dias poucos o fazem. Seguindo o mesmo raciocínio podemos citar como exemplo de intervalo variável o caso do professor que não tem dia certo para verificar se os deveres foram feitos. O efeito do reforçamento em intervalo variável é manter estável e elevada à frequência do comportamento. http://sinpro-al.com.br/ Reforçamento em Razão – depende do número de ocorrências do comportamento. Pode ser em razão fixa ou variável. No reforçamento em razão fixa o número de comportamentos associado ao reforçamento é sempre o mesmo; se, por exemplo, a razão fixa é 4:1 (quatro por um) significa que a cada quatro vezes em que o comportamento venha a ser emitido ele será reforçado uma vez. Se um trabalhador confecciona um calçado e ganha por cada par, ele recebe um reforço em razão fixa. Todos os serviços na base da empreitada podem ser classificados como reforçamento em razão fixa. No reforçamento em razão variável, o reforço 22 mantém-se associado ao número de comportamentos apresentados, porém esta associação é irregular, ou seja, não é sempre a mesma. Um típico exemplo é o jogo de azar. Nunca sabemos quantas vezes teremos que jogar para ganhar. Reforçamento Intermitente – é ocasional, não contínuo e não sujeito a tempo nem razão. Éo reforçamento mais comum no dia-a-dia. Uma mãe frequentemente reforça alguns comportamentos de seu filho, mas quase nunca controla tempo nem razão. Tais reforçamentos, mesmo que aleatórios, condicionam muito bem os comportamentos reforçados (infelizmente muitas vezes comportamentos indesejáveis). Porém se esta mãe utilizasse este esquema para reforçar somente os comportamentos desejáveis, provavelmente, obteria bons resultados. PUNIÇÃO http://eupsico.webnode.com.br/ Um dos temas mais polêmicos em educação é o da punição. Skinner define a punição como: Apresentação de um estímulo aversivo frente a um comportamento indesejável. Por exemplo, bater na mão da criança quando mexe em algo que não deveria mexer. 23 Retirada de um reforço positivo frente a um comportamento indesejável. Por exemplo, tirar o recreio do aluno se ele estiver fazendo bagunça em sala de aula. Skinner aponta três efeitos da punição segundo a ótica do condicionamento operante. a) A punição inibe apenas temporariamente o comportamento punido. Quando a mãe bate na mão da criança por mexer onde não devia, a criança deixa de mexer por alguns momentos, mas nada garante que ela não voltará a fazê-lo. b) O efeito inibitório da punição tende a se estender a outros comportamentos que ocorreram próximos ao ato punido ou a ele vinculados. Se uma criança foi punida por mexer em um determinado objeto, pode sentir-se inibida em mexer em outros objetos que poderiam ser interessantes para ela. Quando o professor repreende um aluno que conversa durante a aula, pode estar inibindo o aluno a falar em outras ocasiões que esse comportamento poderia ser desejável. http://atividadeparaeducacaoespecial.com/ 24 c) A punição exerce um efeito inibitório apenas quando a contingência de punição ou o agente punidor esteja próximo. Se numa família é o pai que castiga a criança voltará a desobedecer na ausência do pai. Se na escola um dos professore é muito punitivo, no momento em que ele está presente os alunos se comportam adequadamente, mas logo que entra outro professor menos punitivo, a tendência é a turma extravasar. 1.3 Teoria Humanista De Rogers http://www.simplypsychology.org/ Carl Ransom Rogers (1902-1987) A teoria da aprendizagem de Rogers deve-se, em grande parte, a sua experiência como psicólogo clínico. Em sua prática clínica, Rogers enfatizou a necessidade da terapia ser centrada no cliente. É essa mesma ideia que ele enfatiza a respeito da aprendizagem: esta deve ser centrada no aluno. Desse 25 modo, a responsabilidade da educação é do próprio aprendiz. A educação tem, portanto, a finalidade de criar condições que facilitem a aprendizagem do aluno. O objetivo é o de capacitar o aluno para autoaprendizagem. O papel do professor é apenas de facilitador. Condições de Aprendizagem Confiança na capacidade dos outros de aprender por si mesmos – Trata-se de um requisito básico para toda aprendizagem centrada no aluno. O professor deve acreditar em si e na relação com o outro e, principalmente, precisa crer na capacidade de seu aluno aprender por si mesmo. O professor-facilitador partilha com os estudantes a responsabilidade pelo processo de aprendizagem – Há uma espécie de contrato entre alunos e professor, em que se planeja o currículo, a forma de operá-lo e estabelecer a prática de ensino. Dessa maneira, a classe é responsável pelo currículo. O professor facilitador provê os recursos da aprendizagem – Livros, material didático, apostilas, etc. O professor não interfere na aprendizagem, ele proporciona os recursos, mas os alunos terão que buscá-los por si mesmos. O estudante escolhe o seu próprio programa de estudos – Ele faz a opção da direção de sua aprendizagem e a segue de acordo com seu próprio tempo. Assume, assim, a responsabilidade por sua escolha. 26 http://www.tecmundo.com.br/ É oferecido um clima facilitador de aprendizagem – Tanto no contato com o professor, como em reuniões com os colegas, desenvolve-se um clima em que o aprender com os outros é tão importante como aprender com os livros. O foco da aprendizagem não está no conteúdo, mas em favorecer um processo contínuo de aprendizagem – Para Rogers, não importa o conhecimento como resultado, mas o “processo significante na aprendizagem de como aprender aquilo que se quer saber”. A disciplina é responsabilidade do aluno – Não é o professor que impõe disciplina através de uma postura de autoridade, mas o próprio aluno que aceita a disciplina de maneira consciente. A avaliação é feita pelo próprio aprendiz – É a auto avaliação, que no máximo pode ser auxiliada por membros do grupo ou pelo facilitador. 27 Princípios de Aprendizagem http://pt.dreamstime.com/ Todos os indivíduos têm potencialidades para aprender. Todos têm curiosidade natural para aprender. Se houver ambiente favorável, aprenderão. Segundo Rogers, todos querem estudar, desejam crescer, querem descobrir e anseiam em criar. O professor deve favorecer tais tendências naturais. A aprendizagem é significativa quando o aluno percebe a importância do que estuda. Será significativo para o aluno tudo que ele perceber como importante e que estiver ligado ao crescimento e valorização de sua pessoa. A aprendizagem é sempre uma mudança na percepção do sujeito – por isso tende a provocar resistências. Tudo o que é novo pode ser vivenciado como ameaçador e, por isso, ocasiona resistência. A maior parte da aprendizagem significativa é adquirida na prática. Com nossos pais aprendemos como educar nossos filhos, porque o que eles nos ensinaram foi realizado na prática e foi significativo. Rogers afirma 28 que o estudante deve ter contato direto com problemas de todo o tipo: literários, sociais e filosóficos. Só dessa maneira irá aprender. Quando o aluno participa do processo, a aprendizagem é facilitada. Aprenderá melhor quando buscar o conhecimento de acordo com seus interesses e do seu ritmo pessoal. A avaliação não será feita pelo professor. Um clima em que impera a criatividade, a autoconfiança e a autocrítica leva a uma possibilidade de auto avaliação. Esta será justa, porque o clima de liberdade o permite. O professor não ensina, mas facilita a aprendizagem do aluno. Este é um princípio central. O QUE É PSICOLOGIA DA RELIGIÃO http://www.seligana90.net/ Poderíamos começar elogiando a Psicologia da Religião. Nunca antes houve tantas publicações e tantos encontros e conferências sobre religião, tal o interesse dentro e fora da Academia sobre o que a Psicologia tem a dizer a respeito da religião e da espiritualidade. 29 Redes se estabelecem, jornais são fundados, pessoas são citadas – parece que o campo está verdadeiramente se desenvolvendo bem. Vindo de alguém como eu, alguém que faz de sua vida o estudo da Psicologia da Religião, deveria haver apenas elogios para esta disciplina. http://aaapucrio.com.br/ E ainda, vindo de um acadêmico - alguém de quem se espera seriedade e rigor -, após ter feito os elogios acima, desejo, imediatamente, acrescentar alguns pontos que são motivo mais de preocupação do que de louvor. Nada do que eu disse é incorreto ou não verdadeiro, mas, não é a única verdade. Eu deveria, ao menos, apontar a semelhança entre o momento atual e aquele de cem anos atrás, quando a Psicologia da Religião foi rapidamente ganhando audiência e, fora e dentro da Psicologia, foram sendo fundados jornaise estabelecidas organizações. Não deveríamos, porém, esquecer o que aconteceu entre estes dois picos de atividade: houve um enorme declínio; e agora, o presente crescimento do campo. Como esta palestra não trata de História, não vou insistir sobre as razões nem daquele declínio, nem do presente crescimento do campo. Quero, no 30 entanto, partilhar algumas preocupações e apontar alguns remédios, assim como os compreendo hoje. Antes de fazer isso, porém, eu deveria acrescentar algumas nuances sobre aquilo o que disse a respeito do florescimento da disciplina. Certamente é grande o interesse em saber o que a Psicologia da religião tem a dizer a respeito da religião e da religiosidade ou espiritualidade etc. É importante perceber que nem tudo o que é psicológico na religião é, de fato, Psicologia da Religião. Colocado de modo mais incisivo, é mais provável que a maioria desses livros e atividades não pertençam à Psicologia da Religião. Tal posição admite que a expressão Psicologia da Religião pode, ela própria, levantar problemas de compreensão. http://psicologiaereligiosidade.blogspot.com.br/ Brevemente, o que a expressão não significa é justamente que qualquer psicologia pertença a, seja parte de, articule ou sirva à perspectiva de qualquer religião em particular. Psicologia da Religião não é o mesmo que Psicologia Religiosa (como a disciplina foi erroneamente designada por décadas). Em nosso ramo científico, a meta é a de fazer uso de instrumentos psicológicos (teorias, conceitos, intuições, métodos e técnicas) para analisar e entender a religião. 31 Isto vem sendo feito a partir de uma visão erudita, de uma perspectiva distante, tão despersonalizada quanto possível, como se requer em todas as disciplinas acadêmicas (Religionswissenschaften) que lidam com a religião, como a História, a Sociologia, a Antropologia, a Economia da Religião e muitas outras. Admito, de imediato, que cada tradição religiosa contém em si muito de intuição psicológica, que conselheiros, diretores espirituais e outros bons profissionais da religião apresentam insights respeitáveis sobre o funcionamento da psique humana. Veja-se, por exemplo, o relato que Levine (2000) faz das tradições budistas. Contudo, isto não deveria ser chamado de Psicologia da Religião. O mesmo se diga do conhecimento gerado por escritores e poetas. Também ele não deveria ser visto como científico. Além disto, há considerável conhecimento de psicologia fundado em ideias religiosas. Exemplos bem conhecidos incluem a psicologia de Jung, várias publicações esotéricas e a perspectiva transacional, mas, por mais interessantes que pareçam, não podem ser consideradas parte da Psicologia da Religião, a não ser pelos próprios autores. http://www.psicologiaentrenos.com.br/ Como não desejo que esta palestra se torne meramente uma enumeração de todos os tipos de psicologia relacionados com Religião que não são Psicologia da Religião, mencionarei apenas mais uma categoria: a assim 32 chamada Psicologia Pastoral. Os trabalhos realizados nesta área são usualmente de muito boa qualidade acadêmica, mas o que há por trás destes trabalhos mostra a diferença da Psicologia da Religião em seu sentido próprio: a Psicologia Pastoral serve a propósitos religiosos; é a psicologia que ajuda o pastor. É a psicologia que foi desenvolvida e seguida para facilitar os objetivos das igrejas cristãs. Não há nada de errado nisto, é claro, e dentro da Psicologia Pastoral as pessoas estão geralmente muito familiarizadas e empregam bem a Psicologia da Religião. O ponto é que esta última é primordialmente neutra em relação a seu objeto e não adota posições de combate à religião; ela simplesmente a analisa e compreende. (BELZEN 1995, 1996) http://pt.depositphotos.com/ Olhando desde este prisma, uma visão crítica disto tudo deveria ser que a de dizer que parece não se tratar, de forma alguma, de uma Psicologia da Religião. 33 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICA FONTANA, David. Psicologia para professores. São Paulo, Loyola, 1998. LA ROSA, Jorge (org.) Psicologia e educação: o significado do aprender. Porto Alegre: Edipucrs, 2001. MOREIRA, Marco Antonio. Teorias da aprendizagem. São Paulo: E.P.U., 1999. TOVAR, Sônia Maria e ROSA, Marilaine Bauer Santa. Psicologia da aprendizagem. Rio de Janeiro: Água-Forte, 1990. 34 TEXTOS PARA REFLEXÃO DISPONÍVEM EM: http://www.scielo.br/pdf/ptp/v25n3/a19v25n3.pdf AUTOR: Geraldo José de Paiva ACESSO: 19/07/2016 A Psicologia da Religião no Brasil: História, Resultados e Perspectivas PAIVA, Geraldo José de1 HISTÓRIA A Psicologia da Religião (PR) estava bem estabelecida na Europa e nos Estados Unidos, muito antes de despertar o interesse acadêmico no Brasil. De 1 Universidade de São Paulo GT Psicologia & Religião gjdpaiva@usp.br 35 fato, apenas nos anos 60, alguns pesquisadores da PUCSP iniciaram um estudo acadêmico do comportamento religioso. Essa iniciativa, contudo, não durou muito, em razão da situação social e política do país, que dirigiu a atenção dos pesquisadores para problemas psicossociais, e os levou para a Psicologia Comunitária. Em meados da década de 80, a disciplina “Psicologia da Religião” começou a ser ministrada no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social, na Universidade de São Paulo. Alguns anos mais tarde foi oferecida à Graduação, como optativa, a disciplina “Introdução à PR”. Em 1988 foi constituído na ANPEPP um Grupo de Trabalho denominado “Psicologia & Religião”, que congregou vários pesquisadores de algumas Universidades. Hoje, esse Grupo reúne pesquisadores de sete Estados, e organiza a cada dois anos um Seminário Nacional. Esses Seminários alcançaram cada vez mais um caráter internacional, devido à participação de conhecidos estudiosos da Europa e dos Estados Unidos. O Grupo de Trabalho tem estado ativamente presente, através de alguns de seus membros, nos Congressos dos Psicólogos Europeus da Religião, na IAPR, e em vários encontros internacionais. Em 2004, foi criado o Laboratório de Psicologia Social da Religião, no Departamento de Psicologia Social e do Trabalho da Universidade do IPUSP. 36 RESULTADOS 1. Criação da Sociedade Brasileira de Psicologia da Religião, nos anos 60, na PUCSP. Suas pesquisas foram publicadas na Revista de Psicologia Normal e Patológica, e trataram, teórica e experimentalmente, do perfil psicológico de seminaristas, da experiência religiosa em relação com a personalidade e a estruturação psicológica, e do conceito de psicologia “religiosa”, em sua relação com a espiritualidade e a culpa moral. 2. Progressiva consolidação da pesquisa e ensino em PR, graças ao Departamento e ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social da USP. A criação da disciplina “Psicologia da Religião” no Programa de Pós-Graduação e, alguns anos mais tarde, no curso de Graduação de Psicologia, levou a pesquisas que resultaram em várias dissertações e teses. O Laboratório de Psicologia Social da Religião, cujos membros são todos doutores e doutorandos, produziu pesquisas, na maioria apoiadas pelo CNPq: crença religiosa paranormal e da crença paranormal clássica; condição protopsíquica da opção de vida pela ciência ou pela religião; produção científica brasileira em PR; ciência e religião em docentes e pesquisadores deUniversidades brasileiras. 3. A criação, em 1997, do Grupo de Trabalho “Psicologia e Religião”, estimulou, em medida essencial, o estudo psicológico da dimensão do comportamento religioso. O GT reuniu pesquisadores de várias Universidades, atualmente onze entre públicas e confessionais, partilhando as pesquisas e as 37 instituições. A atividade principal do GT têm sido os Seminários bienais, que atraem grande número de estudiosos, nacionais e estrangeiros, e produziu dez livros resultantes desses encontros. Os Seminários, além de temas livres, têm tratado tópicos como necessidade e desejo na religião; representação religiosa; enfrentamento, psicologia e espiritualidade; morte, psicologia e religião; desafios atuais da PR, e interdisciplinaridade. Os membros do GT contribuem com periódicos brasileiros de alta reputação. O GT, finalmente, tem participado, por meio de alguns de seus membros, em encontros científicos ou em publicações, na Holanda, Bélgica, Itália, Reino Unido, Espanha, França, Estados Unidos, Suíça, Alemanha, Turquia e Japão. 4. O estudo psicológico do comportamento religioso tem sido apoiado, embora por vezes indiretamente, por outras Universidades e cursos. A Universidade Católica de Goiás tem um grupo de estudo denominado “Psicologia social da religião na pós-modernidade”; a PUCMG publicou um dossiê sobre Psicologia e Religião; a Universidade de Brasília teve, por muitos anos, a PR entre as disciplinas da graduação; a PUCSP, além de incluir a PR na Pós-Graduação em Ciência da Religião, tem produzido dissertações e teses relacionadas com a PR, e organizou o excelente “Compêndio de Ciência da Religião”, com uma extensa secção em PR; a UFRGS, através do Programa de Pós-Graduação em Psicologia do Desenvolvimento, traduziu e validou a Escala de Coping Religioso/Espiritual, de Pargament, e a Escala de Bem-Estar Espiritual, de Paloutzian e Ellison; a PUCRJ produziu valiosas publicações, em Psicologia, relativas a religiões populares e a religiões afro- brasileiras. Alguns outros autores independentes também têm contribuído com 38 importantes trabalhos, como estudos da religião popular e das romarias à luz da psicanálise, e vice-versa, realizados por pesquisadora da Universidade Federal do Vale do São Francisco, Pernambuco. Alguns cursos de pós- graduação em Ciências da Religião têm a PR em seu currículo: a UFJF, a UFPb, as Universidades Católicas de São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Goiás, Pernambuco e Campinas. A Universidade Presbiteriana Mackenzie e a UFPb oferecem a disciplina em seus cursos de graduação de teologia ou psicologia, e a UFJF oferece a disciplina “Pesquisa em Espiritualidade e Saúde”, no Programa de Pós-Graduação em Saúde. 5. Antes de concluir o tópico “Resultados”, é justo lembrar alguns autores que publicaram em PR no Brasil, independentemente da criação da Sociedade de Psicologia da Religião, nos anos 60. O jesuíta Leonel Franca escreveu, em 1933, A Psicologia da Fé, de natureza mais filosófico-teológica do que psicológica; o franciscano Damião Berge, publicou, em 1939, “A estrutura fundamental do sentimento religioso à luz da psicologia experimental”, e em 1942 “A estrutura psicológica da oração”. Digno de nota é o interesse pioneiro dos Seminários Protestantes, que publicaram a tradução de “Psychology of Religon”, de P.E.Jonhson, de 1964, e “Psicologia da Religião’, de Merval Rosa, de 1971. PERSPECTIVAS Que tarefas restam à PR no Brasil para os próximos anos? 39 1. A principal tarefa é estabelecer, nos Programas de Pós- Graduação, a disciplina PR, que favorece a pesquisa avançada. Ao mesmo tempo, é imprescindível seu oferecimento na Graduação. A experiência tem mostrado que é na Graduação que se estabelecem os conceitos e preconceitos em Psicologia relativos à religião. O silêncio acerca do comportamento religioso, como fora do campo científico, ou sua interpretação patológica, como neurose, tem impedido, entre nós, uma aproximação tranquila ao tema e o atendimento ao interesse, latente ou manifesto, dos estudantes. Na USP, somente depois que a PR se tornou disciplina optativa na Graduação, cresceu o interesse dos psicólogos por estudos pós-graduados nessa área. 2. Uma segunda tarefa é estabelecer uma rede de pesquisadores em PR no Brasil, para mútua colaboração. Essa rede poderia ser mantida pelo GT, não só devido a sua estrutura consolidada, mas também porque o GT congrega pesquisadores de várias regiões do país. Essa rede constituiria, ao longo anos, associações regionais e, futuramente, uma associação nacional. Nessa linha, pode-se pensar também na publicação de um e-journal próprio. 3. Outra tarefa é ampliar os temas de pesquisa em PR. Depois de registrar os temas mais frequentes na pesquisa brasileira em seus primeiros 50 anos, os autores de “Psicologia da Religião no Brasil notaram a quase completa ausência de assuntos contemporâneos importantes, como a negação da fé ou o ateísmo; a desfiliação institucional; o comportamento ligado a religiões não tradicionais nem hegemônicas [...]; o lugar da experiência religiosa na sociedade pós-moderna ou pós-secular; e a religião 40 no trabalho profissional do psicólogo. A esses tópicos outros poderiam ser acrescentados, como a publicitação da religião no Brasil; o caráter cultural das religiões; as raízes protopsíquicas e pré-culturais do comportamento religioso; o impacto dos vários meios digitais nesse comportamento. 4. Outro desenvolvimento da PR brasileira seria a ampliação dos contatos interdisciplinares. A PR no Brasil parece sólida e pronta para dialogar com outras disciplinas interessadas no comportamento religioso, como a Antropologia e a Sociologia, e, contemporaneamente, as Neurociências. 5. Uma quinta tarefa é a inserção da PR brasileira na esfera internacional, por meio da filiação dos pesquisadores à IAPR, que permite o fortalecimento das relações pessoais e institucionais com pesquisadores de outros países, e leva à pesquisa e à publicação conjuntas. Nessa interação, os pesquisadores brasileiros não se considerem subordinados, uma vez que têm ouvido, de pesquisadores estrangeiros, terem muito a contribuir e, até, a ensinar... parece igualmente importante não importar problemas de outros países, a despeito da globalização. Na inserção internacional é aconselhável uma interação decidida com os parceiros latino-americanos. No tema “Ciência e Religião”, por exemplo nos Workshops do Rio (2012) e de Oxford (2014), organizados pelo Ian Ramsey Centre, participaram ativamente, além dos brasileiros, pesquisadores argentinos, chilenos, colombianos, mexicanos, panamenhos, peruanos e uruguaios. Nessas ocasiões ficou patente o interesse dos pesquisadores latino-americanos em PR. 41 6. Uma tarefa modesta, mas de importância, seria a tradução de alguns textos significativos em PR, de autores como Vergote, Aletti, Hood, Spilka, Hunsberger & Gorsuch, Pargament e Theissen. CONSIDERAÇÕES FINAIS A história e os resultados da PR no Brasil permitem esperar que suas perspectivas de desenvolvimento são realistas. Este relato limita-se à dimensão acadêmica, mas a pesquisa fertiliza a prática. A influência da pesquisa em PR é vista no atendimento clínico, no cuidado com a saúde e no ensino. Contribuição exemplar é dada pelo Instituto Acolher, em São Paulo, que atende clinicamente sacerdotes, religiosos e freiras católicos, mas também pastores e rabis. Na saúde, há várias iniciativas em hospitais e na atenção aos processos de aculturação dos (i) migrantes, voltadas para os recursos que a religião pode fornecerem situações estressantes. Na área escolar, a PR também tem estado presente, para o aprofundamento conceitual e operacional do ensino religioso. Embora o estudo do comportamento religioso não seja um campo dos mais desenvolvidos na psicologia brasileira, nem arraste multidões interessadas, parece consolidado na academia brasileira, e isso autoriza esperar sua permanência e sua expansão. 42 DISPONÍVEM EM: http://novaescola.org.br/politicas-publicas/ensino-religioso-escola-publica-relacao-delicada- laica-religiao-747579.shtml ACESSO EM: 19/07/2016 AUTORA: Fernanda Salla Ensino Religioso e escola pública: uma relação delicada Todos têm o direito de manifestar sua fé, mas incluir a disciplina na grade pode causar momentos embaraçosos Com apuração de Fernanda Salla (novaescola@fvc.org.br) 43 Aulas de religião na escola pública. Pode? Sim, de acordo com a Constituição brasileira e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), desde que não sejam obrigatórias para os alunos e a instituição assegure o respeito à diversidade de credos e coíba o proselitismo, ou seja, a tentativa de impor um dogma ou converter alguém. Mas faz sentido oferecer a disciplina na rede pública? Desta vez, a resposta é não, e os motivos são três. O primeiro tem a ver com a dificuldade de cumprir o que é determinado legalmente. A começar pelo caráter facultativo. O que fazer com os estudantes que, por algum motivo, não queiram participar das atividades? Organizar a grade para que eles tenham como opção atividades alternativas é o que se espera da escola. Porém, não é o que acontece em muitas redes. Nelas, nenhum aluno é obrigado a frequentar as aulas da disciplina, mas, se não o fizerem, têm de descobrir sozinhos como preencher o tempo ocioso. A lei não obriga a rede a 44 oferecer uma aula alternativa, mas é contraditório permitir que as crianças fiquem na escola sem uma atividade com objetivos pedagógicos. A questão da diversidade, outro item previsto na lei, também não é uma coisa simples de ser resolvida. Como garantir que todos os grupos religiosos - incluindo divisões internas e dissidências - sejam respeitados durante o programa em um país plural como o nosso? Dados do Censo Demográfico 2010, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelam que 64,6% da população se declara católica, 22,2% evangélica, 2% espírita, 3% praticante de outras religiões e 8% sem religião. O segundo motivo é de foro íntimo e tem a ver com as escolhas de cada um e com o respeito às opções dos outros. De que forma assegurar que o professor responsável por lecionar Ensino Religioso não incorra no erro de impor seu credo aos estudantes? Ou que aja de maneira preconceituosa caso alguém não concorde com suas opiniões? É fato que todos, educadores e alunos, têm o direito de escolher e exercer sua fé. Está na Constituição também. Não há mal algum em rezar, celebrar dias santos, frequentar igrejas (ou outros templos), ter imagens de devoção e portar objetos, como crucifixos e véus. Porém, em hipótese alguma, a escola pode ser usada como palco para militância religiosa e manifestações de intolerância. É bom lembrar que a mesma carta magna determina que o Estado brasileiro é laico e, por meio de suas instituições, deve se manter neutro em relação a temas religiosos. Quando isso não acontece, aumentam os riscos de constrangimentos e eventos de bullying. Stela Guedes Caputo, doutora em Educação e docente da 45 Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj), pesquisou por mais de duas décadas a infância e a adolescência de praticantes do candomblé. Por causa de sua fé, muitos deles foram humilhados pelos colegas e até por seus professores. Para evitar tais situações, a maioria omitia a crença na tentativa de se proteger. O terceiro motivo para deixar o Ensino Religioso fora do currículo é a essência da escola. Cabe a ela usar os dias letivos para ensinar aos estudantes os conteúdos sobre os diversos campos do conhecimento. Há tempos, sabe-se que estamos longe de cumprir essa obrigação básica. Os resultados de avaliações como a Prova Brasil e o Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, sigla em inglês) comprovam com clareza essa falta grave. Boa parte dos estudantes conclui o Ensino Fundamental sem alcançar proficiência em leitura, escrita e Matemática. Além disso, há que se avaliar um argumento usado por quem defende o Ensino Religioso como forma de tratar de valores morais. Sem dúvida, é importante que a escola explore esse tema, mas desde que ele perpasse todo o currículo e esteja presente no discurso e nas atitudes de toda a comunidade escolar. Por isso, não faz sentido falar de moral nas aulas sobre religião e nas atividades alternativas oferecidas para quem optar por não cursar a disciplina. Num cenário ideal, a moral trabalhada no ambiente educacional não tem a ver com a pregada pelas religiões. Educação e verdades incontestáveis não combinam. Enquanto os credos são dogmáticos e pautados na heteronomia (quer dizer, as normas são reguladas por uma autoridade ou um poder onipresente), a escola é o lugar para a conquista e o desenvolvimento da 46 autonomia moral. Isso quer dizer que crianças e adolescentes devem aprender e ser estimulados a analisar seus atos por meio da relação de respeito com o outro, compreendendo as razões e as consequências de se comportar de uma ou outra maneira. Bons projetos de Educação moral, que abrem espaço para questionamentos e mudanças de hábito, dão conta do recado. Mesmo sem oferecer a disciplina, muitas instituições pecam ao usar a religião no dia a dia. Segundo respostas dadas por 54.434 diretores ao questionário da Prova Brasil 2011, independentemente de oferecer a matéria, 51% das escolas cultivam o hábito de cantar músicas religiosas ou fazer orações no período letivo, no horário de entrada ou da merenda, entre outros(leia outros dados no gráfico abaixo). Outro exemplo de como os limites são extrapolados é apresentado no estudo O Uso da Religião como Estratégia de Educação Moral em Escolas Públicas e Privadas de Presidente Prudente, de Aline Pereira Lima, mestre em Educação e docente da Faculdade Estadual de Ciências e Letras de Campo Mourão (Felicam). Na instituição pública analisada, mesmo sem a presença da matéria na grade dos anos iniciais do Ensino Fundamental, a religião estava muito mais presente do que nas duas escolas particulares visitadas, que tinham caráter confessional declarado. O discurso teológico permeava o dia a dia dos estudantes: era usado para solucionar casos de indisciplina e até de violência. A pesquisadora observou também que os professores diziam às estudantes frases como "Deus castiga os desobedientes". 47 Sem contestar ou ameaçar a liberdade de credo de ninguém, espera-se que os educadores sigam buscando ensinar o que realmente interessa. Sem orações, imagens e afins. DISPONÍVEL EM: https://pt-br.facebook.com/notes/o-psic%C3%B3logo/psicologia-e- religi%C3%A3o-di%C3%A1logo-poss%C3%ADvel/546891978721586/ ACESSO EM: 19/07/2116 PSICOLOGIA E RELIGIÃO: DIÁLOGO POSSÍVEL? 48 1- INTRODUÇÃO A intenção proposta neste trabalho é trazer discussões, que tragam possibilidades da dialogicidade entre Psicologia e Religião. Serão levantados questionamentos, que permitirão refletirmos sobre como estas variantes podem estar presentes em nossas vidas e como poderemosposicionar diante da afirmação de uma sem negar a veracidade da outra. A construção deste trabalho será realizada através das hipóteses mencionadas, que atribuem a dificuldade do vínculo entre Psicologia e Religião, devido Ciência e religião serem temas complexos, que por algumas vezes, ou não, trilharam (e trilham) seus caminhos paralelamente (historicamente, culturalmente, economicamente, etc.). Sem contar que, ao longo da história, pensadores atacaram as raízes do cristianismo questionando a veracidade dos eventos centrais da fé. Não pode ser deixado de mencionar que muitas pessoas acreditam única e exclusivamente na palavra de um líder religioso, deixando de lado o que a ciência dos homens tem comprovado reiteradamente acerca de diferentes conceitos psicológicos ao longo da vida. 2- CIÊNCIA E RELIGIÃO Para se discutir melhor a Psicologia e Religião, é preciso primeiramente responder a uma seguinte questão: Interessa o diálogo Ciência e Religião? 49 A questão é simples e nem requer muita reflexão: ciência lida com o mundo objetivo utilizando a razão e a experimentação; religião lida com o mundo espiritual utilizando a fé e a ritualística. Ponto final! Mas será? ... GOLDFARB (2006), nos diz que Ciência e Religião são, “distintas formas de ação do ser humano com características próprias e independentes”. (Goldfarb, 2006, p.6). Percebe-se ai que as fronteiras são claras, não há em verdade a necessidade de disputas, pois os domínios da ciência e da religião não se encontram nem se desencontram: simplesmente não se comunicam. Mas se essa é a verdade (se é que existe verdade), porque existem tantos conflitos entre ciência e religião? GOLDFARB (2006), nos diz ainda que: “Depois de séculos de disputas, encontros e desencontros, quando presenciamos a violência (até física) de variadas formas de inquisições religiosas (cristãs, judaicas, islâmicas) opondo-se à livre especulação e observação da natureza da ciência, seguida do contra-ataque iluminista que marcando o despontar da modernidade, quis eliminar toda a metafísica, para consolidar o domínio da ciência; nasce afinal um pacto de convivência pacífica entre as duas mais poderosas formas de expressão que a humanidade já experimentou. A ciência e a religião teriam tudo para deixar de confrontar-se pois não há mais o diálogo. Cada qual cuida de sua área de influência. Em linhas gerais, este pode ser indicado como o quadro da questão nos dias de hoje”. (Goldfarb, 2006. p.7). Então, se de acordo com o que diz Goldfarb, entende-se que ciência e religião não necessariamente teriam que (ainda hoje) viver em conflito, pois estas tratam 50 de áreas distintas do pensamento humano. Mas o que acontece é que uma sempre tenta entrar no campo da outra, gerando grandes frustrações e desmistificando saberes históricos, sempre tentando deturpar a visão que uma tem da outra, de forma a ter benefício próprio. 2.1 Psicologia e Religião O desafio metodológico enfrentado pela Psicologia (bem como das outras ciências) e pela Religião é o de evitar o reducionismo de uma a outra. Manter um equilíbrio entre as áreas, respeitando suas especificidades, exige uma abordagem interdisciplinar do profissional psicólogo que, discutindo aproximações e distanciamentos conceituais e metodológicos, permita uma análise crítica dessa relação. O profissional de psicologia adepto de uma religião precisa movimentar-se entre as duas perspectivas mostrando competência e capacidade para estabelecer pontes entre elas. A psicologia como ciência deve cuidar do que propõe, cuidar (teórica e tecnicamente), a igreja idem. Todas as questões que envolvem valores morais devem ser tratadas com cuidado, pois foi a partir de ideais assim que Hitler se fez. Ao longo da história, percebemos vários conflitos entre estas duas grandes chaves da humanidade: Psicologia e Religião. Paradigmas, e crenças vêm sendo rompidos desde que a cultura se estabeleceu na humanidade. E esta briga entre ciência e religião, é algo determinado desde os primórdios da aculturação das civilizações. 51 Ataques ferrenhos contra a religiosidade, mais especificamente aos ensinamentos bíblicos, tem sido lançado de múltiplas direções. Dos campos psicológico, filosófico, biológico, para não mencionar o religioso, aparecem razões para descrê desse Evangelho. NEVES (1998), nos dá um panorama geral do que foi relatado acima, quando nos diz que: “Karl Marx tentou derrubar a fé cristã pelo determinismo materialista, e ainda Charles Darwin lançou sua teoria evolucionista há quase 150 anos, mas ela continua fazendo vítimas em nossas escolas e universidades. Para Darwin as incríveis maravilhas da Criação nada mais são d que um processo natural que age por acaso durante bilhões de anos”. (Neves, 1998. p.16). Na visão de Neves, compreende-se que ao longo da história, a ciência rompeu barreiras e modelos pré-estabelecidos de uma cultura e uma moral, onde as causas de conflitos entre os indivíduos e a ciência tornam algo inevitável. Seguindo a mesma linha, FREIRE (2004) apresenta-nos a visão da Psicanálise quando nos diz que, “Freud, postulou que o conceito de Deus é uma projeção da menta que cria um pai substituto, necessário para a estabilidade emocional de pessoas fracas e medrosas”. (Freire, 2004, p.03). Compreende-se claramente que a um ataque de grandes personalidades da história aos valores religiosos estabelecidos até então pela maioria da população mundial, questionando a veracidade dos eventos centrais da fé. E nessa relação à mídia acrescenta seu apoio, publicando artigos e passando documentários que lançam dúvidas sobre alguns fatos centrais, como por 52 exemplo, incitam o cristianismo, com relação a veracidade do nascimento virginal de Jesus, sua ressurreição e ascensão. No entanto, FREITAS (1997) nos apresenta outro panorama, quando cita Jung, um dos mais venerados teóricos da última geração: “Jung escreveu um livro intitulado Modern Man in Search of a Soul (O homem moderno em busca da Alma). A tese do seu livro é que um analista precisa fornecer para seu paciente, enfermo emocionalmente, uma fé que o ajude a vencer o temor da escuridão. Tem que o ajudas a vencer o desespero e a desilusão no mundo que domina sua vida. Precisa de alguma percepção (insight) que o permita alcançar saúde emocional”. (Freitas, 1997. p.19). Freitas nos apresenta sua ideia baseada em Jung, que todo ser humano, sem nenhuma exceção, precisa de, pelo menos, quatro coisas: Amor, Fé, Esperança, Compreensão. E isso nos mostra que o pensamento humano é incapaz de dar ao paciente esses quatro pilares, restando apenas a este seguir uma filosofia de vida que fornece estes elementos essenciais ao bem-estar do homem, como por exemplo, a religião. Diante disso cabe-nos uma reflexão enquanto alunos de psicologia e religiosos, sobre assuntos desta dimensão, em relação ao que sempre acreditamos, com os estudos que este novo campo científico nos propõe. É possível sim, sermos psicólogos, sem ferir nossos costumes e princípios, tendo por base a ideia de que nunca somos os mesmos, a partir de uma nova aprendizagem. 2.2 O Terapeuta e a Religião 53 As questões e conflitos entre psicologia e práticas místicas ou religiosas têm adquirido relevância no meio profissional do psicólogo, sejam em função de posturas cristãs fundamentalistas ou esotéricas de alguns. Atendendo a esta demanda, os Conselhos buscam esclarecer e fundamentar a prática da psicologia nos parâmetros éticos e científicos da profissão. Não podemos negar que como estudantes, e futuros psicólogostambém temos nossas crenças e conflitos que com as teorias psicológicas podem trazer sofrimento e dificultar o atendimento aos pacientes. Mas é certo também que o código de ética, prevê essa dificuldade de o psicólogo lidar com demandas que não estão a nível, tanto do preparo profissional, quanto psicológico, podendo encaminhar a outro profissional. O código de ética do Psicólogo, nos diz em seu artigo 2º que: Art. 2º – Ao psicólogo é vedado: b). Induzir às convicções políticas, filosóficas, morais, ideológicas, religiosas, de orientação sexual ou a qualquer tipo de preconceito, quando no exercício de suas funções profissionais”; (Código de Ética, 2007). Ainda em consenso com este tema, o manual do psicólogo, expedido pelo conselho Federal de Psicologia diz que: “É vetado ao psicólogo divulgar a prática da Psicologia juntamente com ciência e profissão associada a crenças religiosas ou posições filosóficas alheias ao campo da Psicologia”. (Manual do Psicólogo, 2007). Percebe-se então que enquanto profissionais temos que ter o discernimento de diferenciar nossa convicção religiosa de nossa atuação. E fugirmos do conflito, 54 não é a solução, o importante é usarmos a inteligência emocional na escolha da abordagem teórica, buscando vertentes, que não sejam tão antagônicas ao que cremos, mas lembrando sempre, que a Psicologia, tem suas teorias e técnicas que não precisam da Religião para terem respaldo. Um exemplo bem típico, tão questionável recentemente, é a forma como é visto a homossexualidade, na Psicologia, que já foi tirada do CID, como doença, portanto vista como uma orientação sexual que não pode ser atribuída à uma escolha feita pelo indivíduo. Mas é comum, vermos profissionais do ramo psicológico defendendo que há cura. Temos que ter em mente, que é possível sermos psicólogos, sem deixar nossas crenças religiosas. Por outro lado, quando o cliente traz conteúdos religiosos, ZACHARIAS (2007) diz que: “A conduta mais apropriada ao psicólogo é compreendê-los sob os parâmetros da ciência psicológica e das crenças do cliente, sejam elas quais forem – sem julgamento ou preconceito”. (Zacharias, 2007 p.02). Percebe-se ai que a dinâmica religiosa é do cliente, e o terapeuta deve respeitar isto, sabendo que a ciência não invalida a religiosidade, mas que esta compõe o todo do seu cliente. ZACHARIAS (2007) ainda discorrendo sobre o assunto, diz que: “O psicoterapeuta deve atuar com o olhar científico, dialogando com as crenças e valores de seu cliente, bem como com a experiência religiosa deste, sob o ponto de vista dos conteúdos religiosos próprios do cliente e nos limites da prática psicológica cientificamente recomendada”. (Zacharias, 2007. p.03). 55 Neste sentido, o psicólogo deve estar consciente do olhar profissional que é esperado dele. O psicoterapeuta não é, no exercício de sua profissão, um (guia, pastor, padre, xamã, pai de santo) embora trabalhe com os mesmos conteúdos, “os ditos inconscientes”. O que diferencia um do outro é o olhar, a maneira e os referenciais conceituais para interagir com o conteúdo exposto pelo cliente. Enquanto futuros psicólogos, temos que procurar compreender a pessoa como um ser plural e único e, humildemente, atuar dentro dos limites a que estamos sendo treinados - o olhar psicológico – de forma a proporcionar dignidade e profundidade ao nosso trabalho e, quem sabe, poderemos ficar um pouco mais próximos da sabedoria. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS Seria possível, chegarmos ao um ponto conclusivo referente ao tema? Creio que não. O que nos traz aqui é a possibilidade de repensarmos, a nossa postura ética como futuros profissionais da Psicologia. É necessário lembrar que as reflexões precisam ser constantes na vida do ser humano, como sujeito de mudanças, por outro lado, esse refletir deve estar pautado no agir psicológico. Respostas? Não teriam aqui espaço. O Percurso nos traz a demonstração, de que a psicologia tem um arcabouço teórico e técnico e seriam necessários que os indivíduos compreendessem que, não pode ser misturada com nenhum tipo de credo, fé ou crença, por isso alguns profissionais da psicologia deveriam rescindir da ideia de converter a psicologia, pelo fato de serem religiosos. 56 No espaço de escuta devem ser deixados as crenças pessoais, estabelecendo uma reorganização do pensamento, para que não haja mistura de valores no fazer psicológico. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Conselho Federal de Psicologia. Código de ética do profissional Psicólogo. CFP, 2007. Disponível em: www.pol.org.br/publicacoes Conselho Federal de Psicologia. Manual do profissional Psicólogo. CFP, 2007. Disponível em: www.pol.org.br/publicacoes FREITAS, Marta Helena. Crença religiosa e personalidade em estudante de psicologia. Dissertação, p.19. UNB, 1997. FREIRE, Jurandir Costa. Psicanálise e religião. 2004 p.03, disponível em: http://jfreirecosta.sites.uol.com.br, acesso em 18 de setembro de 2007. GOLDFARB, José Luiz. Ciência e religião. 2006, disponível em: http://www.comciencia.br/reportagens/14.shtml, acesso em 28 de novembro de 2007. NEVES, Eduardo. Psicologia e fé cristã. P.16, ed. Betel, São Paulo. 1998. ZACHARIAS, José Jorge M