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aula 06 Sociologia Organizacional

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Sociologia Organizacional 
 
 
 
 
Aula 6 
 
 
 
 
 
 
Profa. Carolina de Souza Walger 
 
 
Introdução 
Olá! Seja bem-vindo à sexta aula da disciplina Sociologia 
Organizacional! 
As questões ambientais figuram como uma preocupação global 
desde a década de 1960, e o debate sobre elas se intensificou na 
década de 1990. Como tais questões demandam envolvimento 
interdisciplinar, a Sociologia, como ciência, passou a discutir a 
relação entre sociedade e meio ambiente por meio do que se 
chamou Sociologia Ambiental, que será discutida nesse 
encontro. 
As organizações, por não serem sistemas isolados, mas 
envolvidos em um contexto social e ambiental, não puderam ficar 
alheias a essa discussão. Para compreender a influência desse 
contexto, vamos conhecer a Teoria dos Stakeholders e 
compreender as mudanças que essa visão trouxe para a gestão 
empresarial. 
 
Problematização 
Em 2010, a Revista Exame publicou uma reportagem sobre as 20 
empresas-modelo em responsabilidade socioambiental. Você 
pode acessar o texto na íntegra clicando no botão a seguir. 
É importante que você foque sua leitura em 4 empresas: Amanco, 
Bradesco, Natura e Philips. 
Botão notícia 
As questões que lançamos são: 
O que as empresas selecionadas têm em comum? O que você 
percebe como ponto central? Por que eles seriam opções 
interessantes para futuros gestores? 
Reflita e escreva as respostas em seu caderno. 
 
Sociologia Ambiental 
O debate em relação às questões ambientais tem se intensificado 
nos últimos anos. Dado o viés multi e interdisciplinar do 
conhecimento na atualidade, o tema tem sido trabalhado por 
várias áreas, o que é importante, já que o assunto é complexo e 
exige amplitude e profundidade. 
De acordo com Oliveira et al. (2004), podemos traçar a seguinte 
linha do tempo em relação à preocupação com as questões 
ambientais: 
1960 - A preocupação ambiental teve início na década de 1960, 
em especial nos Estados Unidos, por influência do Movimento 
Hippie. 
1972 - Contudo, oficialmente, é na Conferência do Meio Ambiente, 
realizada em Estocolmo em 1972, que se considera o debate 
aberto, com a participação de diversos países. Isso se deve 
principalmente à gravidade dos problemas ambientais que 
iniciaram na década de 1970 e se tornaram globais. 
1992 - A ECO-92 (Conferência do Meio Ambiente e 
Desenvolvimento realizada no Rio de Janeiro em 1992) foi muito 
importante no processo de evolução dos debates sobre a 
problemática ambiental no Brasil e no mundo. 
Frente ao cenário, surge uma nova temática que é do 
desenvolvimento sustentável, ou seja, a busca por padrões de 
crescimento e desenvolvimento econômico que possibilitem 
melhores condições para as gerações futuras (OLIVEIRA et al., 
2004). 
Como vimos, as discussões sobre o ambiente são recentes, 
portanto tornou-se um tema interessante para pesquisadores e 
estudiosos das Ciências Sociais há poucas décadas. Segundo 
Fleury et al. (2014), a articulação teórica do social e do ambiental 
constitui a Sociologia Ambiental, que teve início na década de 
1970, com o objetivo de gerar um corpo teórico e de investigação, 
 
 
gerando uma interpretação particularizada da relação entre 
sociedade e natureza. 
 
 Embora o debate seja recente, Fleury et al. (2014) consideram 
que os sociólogos clássicos (Karl Marx, Max Weber e Émile 
Durkheim), preocuparam-se com a relação entre sociedade e 
natureza ao debater o modo como as sociedades tradicionais 
haviam sido limitadas pelo natural, enquanto as sociedades 
modernas superaram alguns desses limites. Contudo, a Sociologia 
Ambiental se posiciona de forma crítica aos pioneiros da 
Sociologia, pela falta de atenção ao tema. 
O que a Sociologia Ambiental defende, então? 
Segundo essa ciência, sociedade e natureza devem ser 
analisadas de forma interligada, por meio da análise dos valores 
culturais e das crenças que motivam as pessoas a usarem o meio 
ambiente de forma particular e por meio, também, do conflito social 
que isso gera. Esse campo da Sociologia considera que a relação 
entre sociedade e natureza leva ao desequilíbrio e à ruptura 
ecológica, por conta da expansão econômica (FLEURY et al., 
2014). 
Diversos autores têm buscado construir um marco teórico para a 
Sociologia Ambiental. Fleury et al. (2014) explicam que uma das 
tentativas foi apresentada por Catton e Dunlap, que a dividiram em 
dois grandes paradigmas. Clique em cada um para mais 
informações: 
 
 
 
 
Paradigma da Excepcionalidade Humana: Tem como premissa 
que: 
 O ser humano é uma criatura singular, pois tem uma 
cultura; 
 A cultura pode variar quase que infinitamente e pode 
mudar muito mais rápido do que as características 
biológicas; 
 A acumulação cultural significa que o progresso pode 
continuar sem limites, possibilitando a solução de todos 
os problemas sociais. 
Novo Paradigma Ecológico: Sustenta que: 
 Os seres humanos são apenas uma das muitas espécies 
que, de maneira interdependente, estão envolvidas nas 
comunidades bióticas que moldam nossa vida social; 
 As complexas ligações entre causa e efeito e 
o feedback na trama da natureza produzem muitas 
consequências não voluntárias a partir da ação social 
intencional; 
 O mundo é finito, existindo assim limites potenciais 
físicos e biológicos que reprimem o crescimento 
econômico, o progresso social e outros fenômenos da 
sociedade. 
Todavia, tal proposta passou por questionamentos. Então os 
autores Schnaiberg e O´Connor apresentaram o Marxismo 
Ambiental, corrente teórica que defendia a tese da contradição 
entre expansão econômica e equilíbrio ecológico, baseada na 
rotina da produção. 
Nesse sentido, “os resíduos do processo produtivo crescem sem 
a preocupação ecológica, devastando o estoque planetário de 
alimentos, ar e água, gerando e difundindo novos riscos objetivos 
 
 
(químicos, nucleares, biogenéticos) produzidos industrialmente” 
(FLEURY et al., 2014). 
Assim, na sociedade industrial os problemas ambientais 
apresentam escalas globais e consequências irreversíveis. 
Fleury et al. (2014) apresentam, também, o olhar dos autores do 
Construtivismo Social, os quais compreendem como objeto de 
estudo da Sociologia Ambiental o aspecto social dos problemas e 
as questões ambientais. Ou seja, como o ambiente é percebido e 
construído socialmente como um problema ou questão pública. 
Nessa visão teórica, a preocupação é com a forma pela qual as 
pessoas determinam o significado do seu mundo, ou seja, os 
problemas ambientais não existem por si mesmos, são resultado 
de um processo de construção social. Portanto, os problemas 
ambientais são semelhantes aos problemas sociais em geral. 
Como afirma McReynolds (1999), atualmente, a sociologia do 
meio ambiente é um emaranhado de disciplinas com bases na 
biologia, ecologia, ciência política, antropologia, psicologia, 
feminismo e outras. Por conta dessa interdisciplinaridade, definir 
a Sociologia Ambiental é um desafio. 
 
 
 
A Sociologia Ambiental tem como essência a busca por recuperar 
e revelar a estrutura da vida social a partir de entendimentos 
relevantes dos problemas ambientais. Temos, então, a união da 
natureza física e das construções sociais da natureza como foco. 
Para Lenzi (2006), o ponto central dessa área de estudo e 
pesquisa é o conflito existente entre o projeto capitalista (centrado 
no crescimento industrial e tecnológico) e a proteção ambiental. 
Devido à emergência das questões ambientais, a Sociologia foi 
desafiada a refletir sobre soluções viáveispara esses problemas, 
a partir do conhecimento que tem da organização da sociedade. 
Oliveira et al. (2004) elenca algumas questões relevantes frente 
ao tema. Clique para mais informações: 
a. O tratamento que a mídia dá à problemática ambiental: 
Mostrar dados reais em relação às desigualdades sociais e ao 
meio ambiente, para que as pessoas saibam de forma objetiva a 
realidade em que estão inseridas. 
b. Educação: Deve ser ampla e de qualidade para todos, 
debatendo de forma transversal o meio ambiente. 
c. Projetos ambientais: Deve-se superar o marketing 
ambiental para buscar verdadeiras soluções. 
d. Campanhas educativas: Ensinar as pessoas os limites 
apropriados de consumo. 
e. Ordenamento urbano: Dar ênfase aos aspectos 
ambientais e incentivar a busca de inovação em novos projetos. 
 
Teoria dos Stakeholders e Responsabilidade Social 
“Stakeholders”, em português, significa “partes interessadas”. No 
âmbito dos estudos organizacionais, esse termo foi utilizado para 
denominar a Teoria dos Stakeholders, proposta a partir 1960, a 
qual encontra embasamento na Sociologia, no comportamento 
organizacional e na política de interesses de grupos específicos. 
 
 
 Essa teoria estuda o processo gerencial a partir do 
relacionamento dos diversos atores que compõem o universo 
empresarial em busca de seus próprios interesses. Conforme 
explicam Silva e Garcia (2011), as pesquisas passaram a apontar 
que estratégias de sucesso seriam capazes de integrar os 
diversos interesses presentes em uma organização, sem 
privilegiar um grupo em detrimento do outro e visando a 
sobrevivência da empresa em longo prazo. 
Assim, a atuação dos gestores organizacionais deve contemplar 
múltiplos objetivos, a fim de atender as necessidades de 
acionistas, empregados, clientes, fornecedores, financiadores e 
sociedade. 
Embora pareça fácil definir o que são stakeholders, essa tarefa 
pode não ser tão simples. Silva e Garcia (2011) argumentam que 
se trata de todos os interessados, que tenham expectativas em 
relação à organização, ou seja, grupos de interesse que exercem 
influência junto às empresas. 
Mas que elementos são considerados stakeholders? 
De acordo com Silva e Garcia (2011), propostas mais abrangentes 
consideram os atores diversos, sejam eles pessoas, grupos ou 
entidades, que tenham relações ou interesses diretos ou indiretos 
com ou na empresa. Por sua vez, as propostas menos 
abrangentes consideram como atores os empregados, gerentes, 
fornecedores, proprietários, acionistas e clientes. 
 
 
 
Fonte: elaborado pela autora. 
 
Embora todos esses atores possam influenciar as decisões 
organizacionais, um deles exerce determinado poder: o acionista. 
Em geral, ao realizar investimento financeiro, os acionistas 
esperam obter lucro, que é o principal objetivo de uma 
organização capitalista. 
Nesse contexto, Silva e Garcia (2011) explicam que a função 
social dos líderes sindicais seria a luta pelos direitos da classe 
trabalhadora e a função social dos empresários e seus gestores 
seria aumentar os lucros. Portanto, a discussão sobre a 
responsabilidade social seria contraditória às bases da sociedade 
de livre mercado, já ela seria responsabilidade do governo. 
Sabemos que, desde a década de 1970, mudanças têm ocorrido 
nas relações entre empresas e sociedade, em especial quanto à 
temática do desenvolvimento sustentável, o que vêm afetando a 
gestão das organizações e o papel do gestor. 
Como explicam Silva e Garcia (2011), as pressões sociais têm 
feito com que os gestores mudem suas concepções, de forma que 
a atuação empresarial deixe de ser puramente econômica para 
assumir uma posição relacional, que considere outros interesses. 
Nessa onda, surge o debate sobre a responsabilidade social. 
ORGANIZAÇÃO
Governo
Consumidores
Clientes
ONGs
Concorrentes
Empregados
Comunidade
Sindicatos
Acionistas
Fornecedores
Mídia
Financiadores
 
É importante considerar o que é a responsabilidade social, que 
erroneamente é associada a ações sociais e filantrópicas. A 
responsabilidade social corporativa, segundo Silva e Garcia 
(2011) é caracterizada por investimentos sociais feitos pelos 
acionistas ou gestores, sendo um comprometimento ético do 
gestor, que contribui para o desenvolvimento econômico da 
empresa e para a qualidade de vida dos empregados, de seus 
familiares, da comunidade local e da sociedade como um todo. 
Assim, o objetivo da empresa, além do lucro, passa a ser a 
promoção de um desenvolvimento sustentável e transparente. 
Segundo Silva e Garcia (2011), a responsabilidade social total dos 
gestores é composta por 5 responsabilidades: 
 Responsabilidade econômica: base de todas as demais 
responsabilidades, a empresa deve manter-se lucrativa, por isso 
precisa produzir bens e serviços e fornecê-los à sociedade, 
obtendo lucro. Contudo, contribuem para o lucro o valor das ações 
e o valor da empresa, os quais permitem ganhos futuros. 
 Responsabilidade legal: obediência às leis. 
 Responsabilidade ética: seguir os princípios éticos e 
morais da sociedade na qual a empresa está instalada. 
 Responsabilidade discricionária: ações voluntárias de 
extensão à comunidade, às caridades e às filantropias. 
Dessa forma, a responsabilidade social corporativa pode ser 
entendida como a responsabilidade de uma organização pelos 
impactos de suas decisões na sociedade e no meio ambiente 
através de um comportamento ético e transparente. Assim, ela 
contribui para o desenvolvimento sustentável em conformidade 
com a legislação e as normas internacionais de comportamento, 
levando em consideração as expectativas das partes interessadas 
(SILVA; GARCIA, 2011). 
 
 
Silva e Garcia (2011) chamam a atenção para uma questão 
importante na gestão dos stakeholders: a transparência 
empresarial. Para ser transparente, o gestor deve apresentar 
periodicamente relatórios e balanços sociais da empresa, que 
devem trazer informações sobre investimentos e realizações nas 
áreas socioambientais. 
No Brasil, há uma tendência de integração e padronização das 
informações sociais e ambientais nos relatórios sociais. Desde 
2003, alguns setores estão obrigados a divulgar os balanços 
sociais com informações qualitativas e quantitativas precisas 
sobre o desempenho da empresa nas áreas sociais, ambientais e 
nas relações com os seus diversos stakeholders. 
O que podemos observar é que a gestão sustentada em 
stakeholders, deve voltar a atenção para os diversos interessados 
e para as políticas gerais e de responsabilidade social nas 
tomadas de decisões durante o seu tempo de existência em dado 
contexto social. 
Na Prática 
Steve Cutts é um artista britânico, que faz interessantes vídeos e 
ilustrações questionando a sociedade moderna, baseada no 
consumo desenfreado e na despreocupação com os impactos 
causados no meio ambiente. Seu trabalho é extremamente bem 
construído e desperta profunda reflexão. 
Selecionamos a seguir uma obra desse artista, que você confere 
a seguir: 
 
 
 
 
A partir das reflexões sobre a 
Sociologia Ambiental, a 
Teoria dos Stakeholders e a 
responsabilidade social, 
analise a imagem ao lado e 
exponha suas considerações 
a respeito do papel do gestor 
na sociedade atual. 
Disponível em: <http://www.stevecutts.com/illustration.html>. 
Síntese 
Nesse encontro, vimos que a Sociologia é uma das ciências que 
estuda as questões ambientais, investigando a relação do homem 
com a natureza e os impactos do capitalismo ao meio ambiente, 
por meio da forte industrialização. 
A partir dessaspreocupações, a responsabilidade social se tornou 
um “tema da moda” e, para entendê-la, exploramos a Teoria dos 
Stakeholders, a qual considera as organizações como imersas em 
um contexto socioambiental, tendo que responder a diversos 
interessados, como investidores, clientes, fornecedores, 
sociedade, empregados etc. 
A partir dessas discussões, esperamos ter contribuído para a 
formação de gestores mais críticos e conscientes, que tomarão 
decisões éticas e responsáveis, com uma preocupação para além 
do lucro. 
 
Referências 
FLEURY, Lorena Cândido; ALMEIDA, Jalcione; PREMEBIDA, 
Adriano. O ambiente como questão sociológica: conflitos 
 
 
ambientais em perspectiva. Revista Sociologias. Porto Alegre, v. 
16, n. 35, 2014. 
LENZI, Cristiano Luis. Sociologia Ambiental: risco e 
sustentabilidade na modernidade. São Paulo: EDUSC, 2006. 
MCREYNOLDS, Samuel A. Guia para o iniciante em sociologia do 
meio ambiente: definição, lista de jornais e bibliografia. Ambiente 
e Sociedade. Campinas, n. 5, p. 181-189, 1999. 
OLIVEIRA, José Afonso; SIMÃO, Valdecir Antonio; SILVA, A. J. 
Sociologia Ambiental. Revista de Administração da UNIMEP. 
Piracicaba, v. 2, n. 3, Setembro/Dezembro, 2004. 
SILVA, Antonio Carlos; GARCIA, Ricardo Alexandre Martins. 
Teoria dos Stakeholders e Responsabilidade Social: algumas 
considerações para as organizações contemporâneas. Trabalho 
de Conclusão de Curso. 2011. Disponível em: 
<http://acslogos.dominiotemporario.com/doc/TEORIA_DOS_STA
KEHOLDERS_E_RESPONSABILIDADE_SOCIAL.pdf>. Acesso 
em: 29 out. 2015. 
SZABO, V.; COSTA, B. K.; RIBEIRO, H. C. M. Stakeholders e 
sustentabilidade: produção científica internacional e nacional entre 
1998 e 2011. Revista Brasileira de Estratégia, v. 7, n. 2, p. 174-
190, 2014.

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