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Teatro – O Cortiço * PERSONAGENS* Narrador (____________) João Romão ( ____________) Bertoleza ( ____________) Miranda ( ____________) Botelho ( ______________) Estela ( _______________) Henrique ( ______________) Rita Baiana ( ______________) Jerônimo ( ______________) Bruno (_____________) Leocádia (______________) Firmo (______________) Pombinha (_____________) Leónie (____________) Dona Isabel (___________) João da Costa (_____________) *ROTEIRO* CENA UM CENÁRIO: Duas Quitandas. [ João Romão está trabalhando em uma quitanda ao lado direito do palco, fica paulatinamente pegando no sono, em cima do balcão; todavia, ao lado esquerdo do palco Bertoleza, está rodeada de figurantes, vendendo angu ] Narrador: João Romão foi dos treze aos vinte e cinco anos, empregado de um vendeiro que enriqueceu entre as quatro paredes de uma suja e obscura taverna nos refolhos do bairro do Botafogo, tendo se tornado proprietário e estabelecendo-se por sua conta, o rapaz atirou-se à labutação ainda com mais ardor, possuindo de tal delírio de enriquecer, que afrontava resignadas as mais duras privações. Bertoleza também trabalhava forte; De manhã vendia angu, e à noite peixe frito e iscas de fígado; pagava de jornal a seu dono vinte mil-réis por mês. Porém um dia... CENA DOIS CENÁRIO: Duas Quitandas. [ Figurantes saem da cena. Um homem (branco) passa andando pelo palco, porém quando passa em frente a quitanda de João, o homem, começa a sentir dores e cai morto. João corre em direção a Bertoleza ] João Romão: Ó Bertoleza, lamento sua perca... Bertoleza: Ah. João (Suspiro) João Romão: O que foi Bertoleza? Bertoleza: Perdi meu homem, mas ainda sou escrava do branco, que mata o espírito e a carne do povo negro. Todo mês, eu lhe pago vinte mil réis, e nada me sobra. João Romão: Já passei por isso, mesmo sendo um homem branco, sei como esses homens destroem nossas vidas, todos os dias acabam conosco e saem impunes, mas eu prometo que vou buscar sua liberdade. [ Todos saem de cena e Bertoleza fica só no palco, Narrador entra no palco ] Narrador: João se tornou o caixa, o procurador e o conselheiro de Bertoleza, no fim era ele quem tomava conta da crioula e com o decorrer, quando precisavam tratar sobre Bertoleza, iam direto a João, certo dia, João chegou correndo com uma carta nas mãos. CENA TRÊS CENÁRIO: Duas Quitandas. [ João chega correndo em direção a Bertoleza gritando ] João Romão: Neguinha, Neguinha... Bertoleza: João? O que foi? Por que você veio gritando, desde lá de baixo? João Romão: Então Neguinha, as coisas serão melhores para você, és livre, de agora em diante o que você tiver será seu e dos seus filhos... Bertoleza: João, não sei nem como lhe agradecer... [ todos saem de cena, narrador entra no palco ] Narrador: Porém, o senhor de Bertoleza, se quer sabia o que havia feito ela para seu antigo senhor: havia fugido em direção a Bahia. CENA QUATRO CENÁRIO: Duas Quitandas [ João e Bertoleza voltam ao palco e andam juntos. João mostra ter muito dinheiro em suas mãos ] João Romão: Que bom que compramos esses imóveis, agora ficaremos ricos Bertoleza: Ah João, novamente, não sei como lhe agradecer. João Romão: [Silêncio] Ah Bertoleza, gostaríamos que fossemos, mais do que amigos... [ todos saem de cena, narrador entra no palco ] Narrador: Bertoleza passou a representar, ao lado de João Romão, o papel tríplice de caixeiro, de criada e de amante CENA CINCO CENÁRIO: Duas Quitandas [ João entra ao Palco pelo lado direito, Miranda entra pelo lado esquerdo ] Narrador: Vem morar perto dali o Senhor Miranda, português de classe mais elevada e com maior poder aquisitivo, sua esposa não muito recatada, suas duas filhas, e Botelho empregado e amigo. Miranda :Ah. Então você deve ser o tal João Romão. João Romão: Sim, eu mesmo, e quem é o senhor? Miranda :Prazer meu nome é Miranda. João Romão: Ah. Você deve ser o dono do casarão, ao lado... [ Miranda interrompe João ] Miranda :Ao lado, daquele cortiço sujo... Era isso que iria dizer? João Romão: Não... Eu ia falar casa... [ Miranda abraça João Romão, passando um braço pelas costas do mesmo ] Miranda :João, entenda, agora o dono voltou para casa, espero que entenda, que essas terras são minhas. João Romão: Como? Miranda: Assim, eu pretendo lhe propor uma negociação, venda-me as suas terras, porque pretendo aumentar meu quintal... João Romão: Você perdeu o seu tempo e o seu latim. Eu não vendo nada do que é meu e digo mais, compro tudo o que você vender. Espero que tenha entendido. Narrador: João Romão e Miranda travaram um conflito gigantesco. [ todos saem de cena, menos o narrador ] CENA SEIS: CENÁRIO: Um muro separando João de Miranda Narrador: Miranda, não via com bons olhos aquele cortiço ao redor de sua casa e pretendia derrubar tudo o que era de João e construir algumas casas para alugar e fazer dinheiro… Este, porém não esperava que João construísse mais barracos ao redor de sua casa, possesso Miranda jogava pragas e mais pragas sobre João e seu cortiço que prosperava cada dia mais. Miranda: Eu quero que levantem um muro entre eu e este homem, entre eu e esta favela, eu quero que levantem uma muro. [ Levantam um muro; Entra Botelho ] Botelho: Miranda... Miranda: Ah Botelho, sei que minha esposa não vale nada... [Suspiro] Mas eu não ligo, me sirvo dela como uma escrava... Botelho: Hmm... Faz bem senhor... Ela representa seu capital... [ Miranda sai de cena, entra um casal - Estela e Henrique - de mãos dadas…] Botelho: Mas que pouca vergonha é essa? Estela: Não é nada, não fazíamos nada. Botelho: Eu não sou otário... Henrique: Calma... Estela: [Gritando] BASTA... BASTA.. [Estela sai de cena] Henrique: Botelho, por favor... [Suspiro] Você não irá contar nada a ninguém? Botelho: Fique calmo rapaz... Para uma mulher depois dos trinta, vocêé pó de ouro... Você ainda faz um favor ao maridão Miranda... Só não faça besteiras com Zulmira e não contarei, pois o fato é que sou seu amigo... [ todos saem de cena, o muro é derrubado ] CENA SETE: CENÁRIO: Bar [ Jerônimo sentado em uma cadeira comenta com um amigo sobre Rita Baiana ] Jerônimo: Amigo, aquela Rita Baiana é linda... E muito... Figurante: [ Interrompendo] Não termina essa frase, todos sabem o que ela é... Jerônimo: Muito boa eu ia dizer, muito boa mesmo... [ Figurante sai de cena, outros figurantes entram e ficam do lado oposto do palco ] Narrador: Jerônimo é um português de 45 anos, casado com uma portuguesa chamada Piedade, porém Jerônimo sempre admirou a beleza de Rita Baiana, essa, uma mulher linda, que sempre chamou atenção dos homens no cortiço… [ Rita entra no palco e figurantes aplaudem ] Miranda: [ Grita das cochias] CALEM A BOCA... Rita Baiana: [ Rindo] O Domingo fez-se para se gozar, se festejar... [ Figurantes continuam aplaudindo; Jerônimo poxa Rita pelos braços e começam a dançar; Mulheres dançando e homens tocando violão; Todos saem de cena ] CENA OITO: Narrador: Henrique, que trabalhava na casa de Miranda, a um bom tempo demonstrava interesse por Leocádia, uma jovem habitante do cortiço, mas esta não lhe dava atenção, até que quando finalmente resolveu se entregar… [ Leocádia e Henrique aparecem de fundo, dando um beijinho; Bruno passa pelo palco e vê a traição, parte para cima de Henrique ] Bruno: Ah você vai se ver comigo moleque! Como ousa? Henrique: [ desesperado] Não fizemos nada demais! Bruno: Eu duvido! [ Bruno parte para cima de Henrique, este leva um soco na barriga e foge ] [ Bruno volta para casa e coloca todas as coisas de Leocádia para fora, ela promete se vingar e tenta destruir a casa ] Leocádia: [ Joga pedras na parede da casa ] Não pode me colocar para fora! Ainda sou sua mulher! Você vai ver seu cretino, se não tenho onde morar, você também não terá! [ Bruno sai de casa e agarra Leocádia, ela se debate e ele da um tapa em seu rosto; figurantes tentam afastar os dois para que a briga não se agrave; Leocádia pega suas coisas e vai embora ] CENA NOVE:Narrador: Um dia, enquanto João Romão lia um jornal, viu que Miranda foi nomeado pelo governo português como Barão do Freixal, e que este daria uma festa em comemoração, a qual fora ele convidado. Aproveitando a festa no casarão ao lado, os moradores do cortiço promoveram outra festa: comiam, bebiam, cantavam e dançavam… Firmo não deixava de perceber os olhares que sua namorada, Rita Baiana, trocava com Jerônimo enquanto dançavam, até que perdera a cabeça e partiu para cima de seu oponente. [ Firmo vai em direção a Jerônimo ] Firmo: Pensa que pode se engraçar com minha mulher? Tens a sua para cuidar!! Jerônimo: Não sei de onde tira tanta besteira, achava que nem pensamentos tinha… Firmo: Ahh..seu vagabundo!!! [ Firmo e Jerônimo lutam em uma mistura de golpes de capoeira com a luta portuguesa ] [ Rita, de fundo, sorri aparentando estar alegre ao ver dois homens brigando por ela ] [ Firmo saca uma navalha e a enfia em Jerônimo, que cai no chão e é socorrido por Piedade e Rita ] CENA DEZ: CENÁRIO: Mesa de jantar para três (garrafas de vinho). Narrador: Em uma visita de Leónieà seus parentes no cortiço, a jovem prostituta de luxo, que vivia na cidade grande, desfrutando das melhores festas, convidou Pombinha e sua mãe, Dona Isabel, para um jantar em sua casa. O mesmo aconteceu pouco tempo depois…. Dona Isabel: [ Bebendo] Nunca pensei que passaria uma noite assim, que companhia deliciosa Leónie! Leónie: [ Enche a taça de vinho de Dona Isabel ] Oh minha querida! A tempos não participava de um jantar tão animado como este! Beba! Aproveite! [Dona Isabel se sente cansada e vai deitar no sofá; do outro lado do cômodo, Leónie aparece acariciando Pombinha] Leónie: Venha comigo querida, quero lhe mostrar algo em meu quarto… [Leónie sai de cena levando Pombinha pelo braço, delicadamente] Narrador: Depois do acontecido na casa de Leónie, Pombinha se sentia confusa e passou um certo período se isolando dos amigos no cortiço… Foi neste período também que algo novo aconteceu em sua vida: Pombinha tornou-se mulher, e poderia enfim se casar com João da Costa! CENA EXTRA: Casamento de Pombinha e João da Costa CENA ONZE: CENÁRIO: Cortiço. Narrador: Já a um bom tempo, Jerônimo não se interessava por sua esposa, Piedade, chegou ao ponto de passar noites junto de Rita Baiana (depois de ter assassinado seu namorado em uma emboscada) e planejar uma fuga junto da mulher a quem jurava seu amor… [ Jerônimo e Rita andam de mãos dadas pelo cortiço, Piedade os vê e vai em direção aos dois ] Piedade: Porque não voltas para casa Jerônimo? Esqueceu-se de mim? Jerônimo: [ Sarcástico] Sinto muito minha querida, mas encontrei o amor em outra mulher… Piedade: Em uma vagabunda como esta? Que vive por aí, rodeada por homens, passando de mão em mão? Tenha dó Rita Baiana: Tens é inveja, pois não é desejada nem mesmo por seu marido! [ Piedade parte para cima de Rita, Alguns puxões de cabelo acontecem, até que os moradores do cortiço resolvem ajudar Jerônimo a separar as duas ] CENA DOZE: Narrador: Ainda que a batalha entre os moradores do cortiço São Romão e os habitantes do cortiço ‘Cabeça-de-Gato” ocorresse em virtude da rixa criada entre eles por João Romão, esta não viveu seuápice até que uma das casas do cortiço começou a pegar fogo, devido à tentativas de Paula, a Bruxa, que já o havia tentado outra vez, sem sucesso, diferente desta, em que conseguira, só não contava que acabaria queimando junto com a casa no cortiço, levando consigo também Libório, um velho pão duro, que guardava uma grande fortuna embaixo do colchão. João ao ver o velho morrer, não faz nada. CENA TREZE [ Entra Miranda e João Romão, Miranda tenta consolar João ] Miranda: João, lamento pelo seu cortiço... João Romão: Tudo bem, não há com o que se preocupar ,eu havia feito um seguro na primeira vez que um incêndio ocorreu... acredito que dessa vez eu saí no lucro. Miranda: Nossa meus parabéns João... Não imaginava que você conseguisse pensar nisso, me surpreendeu... [ todos saem de cena ] CENA QUATORZE: Narrador: Passado alguns dias, aconteciam grandes movimentos no cortiço, este já passava por grandes obras. Miranda e Botelho passaram a admirar a ascendência do cortiço São Romão e João, que agora confirmava a sua amizade com os dois. [ João entra no palco e Botelho vai atrás dele ] Botelho: João, tenho boas noticias: do jeito que as coisas andam você e Zulmira, poderão se casar em breve. João Romão: Não acredito! Diga-me que não está brincando. Botelho: Não mesmo João, o único problema que tens chama-se Bertoleza... João Romão: Certo... sei como resolver isso, ligarei para os velhos donos dela e a entregarei. Botelho: Ótima Idéia João... Ótima Idéia... Narrador: João, ligou para os velhos senhores donos de Bertoleza e o primogênito do casal foi buscá-la. Ao chegar na casa de João e perguntar sobre a mulher, João entregou-lhe-a sem hesitar. Bertoleza, ao ouvir a voz do filho de seu velho senhor, se matou com uma faca que tinha em mãos. [ Enquanto o narrador conta o final da história, João Romão e Bertoleza, realizam a cena descrita pelo narrador, atrás do mesmo ] Narrador: O cortiço de João Romão já não era mais visto como uma favela: das 100 casinhas no começo, agora já existiam mais de 400… na entrada da mesma, agora encontrava-se uma plaquinha: AVENIDA SÃO ROMÃO.
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