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Sociologia Organizacional Aula 5 Profa. Carolina de Souza Walger INTRODUÇÃO Estudaremos o tema sociedade e gestão a partir das contribuições da Escola Burocrática e da Teoria Estruturalista na Administração. Para tanto, realizaremos um recorte histórico no estudo da sociedade moderna, que é a Revolução Industrial. A Revolução Industrial é sem dúvida um marco na história da humanidade porque provocou mudanças na estrutura social e econômica provocando impactos sociais jamais imaginados. Após essa Revolução as formas de organização social e do trabalho passaram por mudanças marcantes, assim como também as formas de organização do poder, da estrutura dos Estados e das empresas. Os valores das sociedades tradicionais, por sua vez, foram sendo substituídos pela primazia da ciência e da racionalidade no interior as sociedades industriais, que passaram também a assumir e incorporar os valores do sistema capitalista. Tais mudanças estruturais também passaram a ser visivelmente percebidas nas relações dos indivíduos entre si, e destes com as organizações, tanto do ponto de vista interno quanto externo às próprias instituições. Essas relações passaram a ser permeadas pelo racionalismo moderno. Isso quer dizer que a sociedade moderna industrial se reinventou sob novos valores, perspectivas e formas de organização. Essas mudanças vão de certa forma provocar uma revolução nas ciências, que em diferentes abordagens, vão se debruçar sobre essa nova sociedade com o objetivo de compreendê- la, e também de buscar novas soluções para o leque de problemas e desafios que a Revolução Industrial vai desencadear. Nesse contexto, a Sociologia, ao lado de outras ciências comportamentais, mas também da Administração e Economia, vai ter como objeto de estudo a sociedade moderna industrial capitalista. Dentro dos ramos de estudo da sociologia desta quadra histórica, temos a Sociologia das Organizações, cujo expoente foi o cientista social Max Weber (1864/1920) que serviu de inspiração à outras ciências sociais, na busca pela compreensão do fenômeno da burocracia, como uma das características da sociedade moderna industrial. Isto porque Weber observou paralelos entre a ‘mecanização’ da atividade industrial e o aumento das formas burocráticas de organização. Nesta aula vamos estudar sobre Escola Burocrática; sobre a tipologia da dominação e o estudo dos diferentes tipos de liderança, segundo Max Weber; e por fim, abordaremos a Escola Estruturalista e suas contribuições ao estudo das organizações modernas. Seja bem-vindo a esse desafio e bons estudos! Problematização Acesse a matéria a seguir, da revista Exame: Burocracia emperra pesquisa de remédios no Brasil http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/burocracia-emperra- pesquisa-de-remedios-no-brasil-2 Em seguida, reflita sobre estas duas questões: Há no estudo da burocracia um conceito que explica a situação descrita na matéria, que é a noção de ‘disfunções da burocracia’, mas por ora, na sua visão, é possível imaginar uma organização estatal ou empresarial sem a figura da burocracia? Quais seriam as alternativas para os problemas criados pela própria burocracia? O ESTUDO DA BUROCRACIA COMO FORMA DE ORGANIZAÇÃO DA SOCIEDADE MODERNA Max Weber é comumente o pensador associado à Escola Burocrática no interior da ciência da Administração, porque seus estudos demonstraram que o instituto da burocracia refletia uma forma de organização racional, utilizada pelas instituições modernas, como um meio para se alcançar com eficiência seus objetivos e finalidades. Nos estudos de Weber o fenômeno da burocratização atinge todas as esferas da vida social, como expressão da racionalidade moderna, é, portanto, mais amplo e abrangente. Neste sentido, a ciência da Administração, influenciada por suas ideias, procurou compreender de que maneira a burocracia permeou as organizações empresariais e se refletiu na gestão de seus processos. Para analisar as estruturas burocráticas da sociedade, Weber buscou por meio de um estudo comparativo com as sociedades tradicionais, suas possíveis origens históricas, analisando tanto civilizações antigas quanto modernas. Estudou a organização de instituições como exércitos, Igreja Católica, diferentes modelos de Estados, além das grandes fábricas capitalistas modernas. O autor percebeu que em comparação com as organizações antigas e tradicionais – bem como da análise de suas práticas – a burocracia era uma forma de organização mais eficiente. Para dar um exemplo, na esfera da administração pública estatal, a administração burocrática substituiu a administração patrimonialista, característica do Estado Monárquico Absolutista, em que o Estado era considerado, em todo o seu aparato administrativo, como uma extensão do poder do rei – que escolhia por critérios pessoais seus servidores –, favorecendo assim o nepotismo e a corrupção no seu interior. Esse tipo de administração foi superado pela Administração Burocrática, inserida no Estado Moderno Burguês. Instituída no século XIX, surgiu para combater a corrupção e o nepotismo patrimonialista. A Administração Burocrática também se baseava em critérios impessoais da meritocracia, na hierarquia funcional e em uma organização racional-legal do poder e das funções administrativas do Estado. Tinha a finalidade de conter abusos e desvios de finalidade no interior da administração pública, mas apresentava também disfunções, dentre elas, a ineficiência. Cabe ressalvar que Weber discorreu acerca da burocracia a partir de um contexto histórico demarcado pelo capitalismo como sistema econômico e social dominante. O que em certa medida permitiu a transposição de suas características fundamentais aos processos de gestão das empresas. Sendo assim, um conceito de burocracia, compreendido a partir dos estudos de Max Weber, poderia ser o de que a burocracia é a materialização da racionalidade moderna capitalista, aplicada pelas instituições, como um meio racional e objetivo de alcançar suas finalidades. A burocracia é desta maneira concebida como uma forma racional de organização da sociedade moderna, tanto no âmbito do Estado, quanto das organizações empresariais modernas, compreendendo também um meio de controle, dominação e poder, muito eficazes, dada a sua impessoalidade e tecnificação dos processos. Neste aspecto podemos compreender que a burocracia possui diversas dimensões – reproduzidas no interior das organizações, e para além delas –, que refletem as próprias formas de organização da sociedade moderna capitalista. Essas dimensões refletem as ideias de organização, poder e controle. Enquanto organização, a burocracia está baseada na própria estrutura de divisão e organização do trabalho e das atividades que visam objetivamente alcançar determinados fins. Essa noção de organização racional permeia a sociedade como um todo, suas instituições polícias, econômicas e sociais em nível macro ou micro sociológico. A noção de organização racional para consecução dos objetivos com eficiência, pressupõe a ideia de controle, pois a burocracia desenvolve uma série de aparatos e mecanismos objetivos de controle das práticas dos indivíduos, como forma de garantir a eficiência dos seus processos e o sucesso de sua produção final. Finalmente enquanto poder, a burocracia com seu aparato técnico- ideológico reproduz as relações de dominação-subordinação do homem sobre a natureza e dos indivíduos ou grupos,uns sobre os outros, segundo a hierarquia de suas diferentes posições sociais e seus respectivos interesses e objetivos. Para um aprofundamento dessa discussão sugerimos a leitura obrigatória indicada ao final da seção. Continuando nosso estudo da burocracia, podemos agora, compreender que um desdobramento do conceito de burocracia apresentado anteriormente, agora de maneira mais aprofundada, é que a burocracia é uma estrutura social na qual a direção das atividades coletivas fica a cargo de um aparelho impessoal hierarquicamente organizado, que deve agir segundo critérios impessoais e métodos racionais. Nasce das relações de produção, consolida-se no Estado como forma organizada de controle social e amplia-se com as organizações de modo geral. Assim, a sociedade moderna tornou-se uma sociedade de organizações burocráticas submetidas a uma grande organização burocrática que é o Estado (MOTTA, 1981 apud FARIA, J. H.; MENEGHETTI, F. K., 2011, p. 432). De qualquer modo, a partir dos parâmetros estabelecidos pelas organizações tradicionais, Weber concluiu que a burocracia seria um modelo organizacional ideal. Entretanto, compreendeu que a realidade é mais complexa do que o tipo ideal, na vida concreta, as burocracias variam entre a eficiência e a ineficiência, sendo necessário compreender o que as fazem funcionar bem ou mal. Essa compreensão pode contribuir para a busca de soluções no sentido de melhorar a operação das burocracias organizacionais. Dissemos há pouco que Weber ao empreender esforços para compreender essa forma racional de organização da sociedade, materializada no Estado e nas empresas modernas, buscou suas origens históricas e comparou-a a outros modelos de organização. Pois bem, para o autor, a principal diferença da burocracia para as formas de organização tradicionais ou carismáticas é justamente a estrutura de autoridade legal. Nas estruturas burocráticas os indivíduos passaram a ser escolhidos para atuar em determinadas funções, em razão da sua competência. Nesse contexto, sua autoridade passou a ser legitimada pelas regras estabelecidas e a partir de uma estrutura legal e hierárquica dos postos de trabalho, com o fim de alcançar a máxima eficiência dos processos. Essa impessoalidade e respeito às regras, permitiria uma atuação das instituições orientada por programas de ação, que deveriam se desenvolver de maneira objetiva, rígida e organizada, exercendo o máximo de controle possível sobre os processos. Weber acreditava que esse tipo de organização ideal, seria capaz de reduzir os problemas e conduziria a própria organização à consecução de seus objetivos. As principais características das organizações modernas formais é a sua estrutura burocrática, que compreende os seguintes aspectos: a) São regidas por leis, regulamentos ou normas administrativas: significa dizer que as funções dentro de uma organização, são exercidas de forma continuada e vinculadas a determinadas regras previamente estabelecidas; b) São marcadas por uma estrutura hierárquica: as posições de cada um (superior e subordinado) são definidas umas em relação às outras, com direitos e responsabilidades definidos pelas suas posições no interior do sistema e pelas regras estabelecidas; c) Há regras para a realização das tarefas: essas regras são formais, invariáveis e específicas, são escritas e estruturam a configuração do sistema social de trabalho da organização; d) A consecução das atividades pressupõe treinamento especializado e conhecimento das regras da organização; e) Os membros das organizações são submetidos a um sistema rigoroso e homogêneo de disciplina e controle das suas atividades; f) A atividade oficial exige a plena capacidade de trabalho do funcionário, sendo o tempo e a permanência na repartição, delimitados; g) Impessoalidade e imparcialidade. Os funcionários podem ser facilmente substituídos por outros aptos a exercer suas funções; h) Normas de eficiência: cada atitude é julgada pela sua eficiência e o desempenho, julgado pelos resultados obtidos; Fonte: Dias, 2008, p. 79. Contudo, a burocracia apresenta disfunções quando incorporadas às práticas das instituições. Essas disfunções possuem diferentes causas, mas sem dúvida, uma delas reside na origem de sua própria característica fundante, sua racionalização extremada e rígida. Quando os meios se tornam fins em si mesmos. Isso quer dizer que a busca da máxima eficiência por meio da ordem, da disciplina e da total previsibilidade, onde impera sempre a racionalidade, gera excessos de formalismo, de documentação e normatização, que refletem inúmeros problemas para as organizações modernas, produzindo por vezes, ineficiências. Vejamos alguns exemplos de disfunções da burocracia e suas consequências: a) A rotinização como um fim em si mesma, em que os sujeitos implicados no processo de divisão de trabalho tornam-se meros executores de rotinas e procedimentos, a ponto de tornar a ideia de ‘novidade’ uma ameaça à segurança e à eficiência. As mudanças passam a ser vistas como indesejáveis, inibindo a inovação e a criatividade; b) A pouca valorização das diferenças individuais e das subjetividades, somadas à ideia de poder e status das posições hierarquicamente definidas, passam a impactar no desempenho das próprias atividades e podem levar à desumanização das relações no interior das organizações e para além delas, por exemplo, na relação com seus clientes finais. A burocratização dos processos deixa de valorizar as necessidades e habilidades individuais dos sujeitos e passa a conceber clientes como caso-padrão e funcionários como integrantes da engrenagem; c) Por vezes, o ritualismo burocrático (normas, regulamentos e procedimentos-padrão) é reproduzido incansavelmente, a ponto dos fins para os quais os procedimentos foram criados ficarem relegados à segundo plano, impedindo muitas vezes as organizações de atingirem seus objetivos; d) A formação de verdadeiras oligarquias dentro das organizações, em que ocorre uma separação abismal entre dirigentes e dirigidos, consoante suas posições e conhecimento especializado. Esse processo, em última instância, reproduz as relações de poder, dominação e subordinação do mundo capitalista no interior das empresas. O poder de decisão é comumente concentrado nas mãos de poucos, o que em certa medida, pode levar ao ‘emperramento’ dos processos; e) Há também o problema da inércia burocrática: algumas vezes as burocracias são tão grandes e rígidas que se desconectam da realidade e continuam a seguir seus programas de ação, mesmo quando as necessidades ou demandas dos clientes mudam. Esse problema pode estar ligado ao tamanho das organizações, que além da inércia burocrática passam a ter problemas de comunicação (que pode se perder, ser bloqueada ou distorcida) e passam a reproduzir ineficiências. Ou ainda, a divisão das funções é tão delimitada que retira a responsabilidade individual dos sujeitos quanto ao produto final da organização. Exemplo disso é a velha frase de ordem “não sou o responsável por este setor” ou ainda “estava apenas obedecendo ordens” e por fim “não se pode abrir exceções, regra é regra”. Muitas vezes esses aspectos dificultam a percepção da organização dos seus problemas, pois do ponto de vista interno, impedem os dirigentes de terem real noção do que ocorre na base da organização, e do ponto de vista externo, impedem que as reais necessidades de seus clientes sejam atendidas. Os modelos de gestão contemporâneos têm buscado soluções parasuperar os desvios da burocracia nas organizações empresariais, e um caminho trilhado foi a busca por organizações mais dinâmicas, flexíveis e enxutas do ponto de vista burocrático. De todo o modo, conhecer esses problemas pode ajudar o gestor do futuro a buscar novas soluções e evitar incorrer nos velhos e conhecidos erros, oriundos dessa forma de organização e gestão da sociedade e de suas instituições. A TIPOLOGIA DA DOMINAÇÃO SEGUNDO MAX WEBER Conforme vimos anteriormente, segundo Max Weber, umas das características marcantes da sociedade moderna é a racionalização que passa a permear todas as esferas da vida social. Para compreender essa realidade complexa, Weber desenvolveu um recurso metodológico denominado tipo ideal. O tipo ideal é uma espécie de abstração teórica para que o pesquisador consiga captar ou apreender aspectos da vida concreta e organizá-los intelectualmente de maneira lógica e objetiva. É uma idealização, uma construção mental realizada pelo investigador, com base nos vários aspectos históricos e sociais dos elementos que deseja estudar (Paixão, 2010). A partir do tipo ideal construído o pesquisador poderá compará-lo à realidade, a fim de verificar suas aproximações e distanciamentos. Para compreender o processo de racionalização da sociedade moderna Weber criou a tipologia da ação social, nesta, é preciso partir do pressuposto que uma ação só é social quando atinge seu fim, ou seja, quando é revestida de significado para o outro, a quem é dirigida. Isso porque uma ação é sempre dotada de intencionalidade. Segundo essa tipologia, Weber dividiu as ações em quatro tipos: a ação racional com relação a fins, quando o indivíduo busca a consecução de um determinado fim; a ação racional com relação a valores, quando racionalmente um indivíduo age em função de um valor moral, ético ou religioso; a ação afetiva, considerada em certa medida como irracional, já que dotada de estados ou impulsos emocionais, e por fim, a ação tradicional, determinada por práticas costumeiras, tradicionais e transmitidas ao longo do tempo. Ter em mente a ideia de ação social de Weber nos permitirá compreender sua tipologia da dominação. Isso porque o processo de racionalização da sociedade é também em certa medida um processo de desenvolvimento de regras e leis que visam a organização da sociedade. Os indivíduos criam as regras e são por elas também conduzidos. Mas a questão que se coloca aqui é justamente, qual é o mecanismo que faz com que os indivíduos obedeçam tais leis e regras sociais? Esse mecanismo é denominado de legitimação. É a coletividade, por meio do consenso que legitima as regras como verdadeiras e passíveis de serem obedecidas por todos. Weber nos ensina que quem cria as regras são alguns indivíduos, ou grupos de indivíduos detentores de poder no interior da sociedade. Em outras palavras, indivíduos que adquirem capacidade de impor aos outros, sua própria vontade. Para explicar esse fenômeno, Weber criou a tipologia da dominação, em que demonstrou como se dá os diferentes mecanismos de legitimação das regras. Como é possível convencimento o outro a obedecê-las, ou seja, a considerá-las como verdadeiras, e, portanto, passíveis de serem seguidas. Conhecer essa tipologia pode auxiliar o gestor a identificar qual tipo de liderança e motivação impera no interior das instituições modernas e aplicar esse conhecimento, pode conforme o caso, dirimir conflitos e auxiliar no desenvolvimento das organizações. É necessário ressalvar a diferença que o autor faz do conceito de poder e dominação: o poder é a capacidade de impor ao outro sua própria vontade, dentro de uma relação social; dominação significa a probabilidade de encontrar obediência a uma determinada ordem, regra ou mandado. Weber busca analisar os fundamentos que tornam legítima a autoridade, ou ainda, as razões internas que justificam a dominação. Nesta perspectiva Weber identificou três tipos básicos de dominação ao longo da história: a dominação carismática, a dominação tradicional e a dominação racional-legal. Na dominação tradicional, sua legitimidade apoia-se na crença de que o poder de mando tem um caráter sagrado, herdado pelo líder pela própria tradição, tornando-se quase divinizado; não pode ser questionada. Na dominação carismática, a legitimidade da autoridade do líder carismático lhe é conferida por um aspecto subjetivo, ‘mágico’, pelo afeto e confiança que os indivíduos depositam nele; dificulta a possibilidade de questionamentos em função do conteúdo de afetividade aí implicado. Na dominação legal-racional a obediência apoia-se na crença da validez da norma, da lei e dos direitos de mando das pessoas autorizadas a comandar. Esse líder é autorizado a comandar pela norma, segundo sua posição dentro de uma estrutura racional e burocraticamente organizada. Se por qualquer motivo o líder desviar- se da norma, pode-se questionar sua autoridade. É por essa razão, que esse tipo de dominação é comumente associado às instituições modernas burocráticas (públicas e privadas). Daí que para Weber, o crescente processo de racionalização da sociedade se reflete na burocratização das suas instituições, dada a sua capacidade de organizar a vida e as práticas sociais, políticas e econômicas de maneira lógica, racional e impessoal. O que por sua vez torna a burocracia um meio capaz de conduzir às organizações aos seus objetivos. Alessandro Paixão leciona neste ponto a crítica weberiana dessa sociedade moderna burocrática e racional: “As regras e regulamentos são meios para se alcançar um fim, seja ele qual for. Acontece que esses meios acabam se transformando em fins em si mesmos, ou seja, os homens não cumprem mais as regras para alcançar um fim desejado, mas sim com o único propósito de cumpri-las. É aí que ocorre a perda de sentido na sociedade moderna, pois não é mais o fim que guia as ações; os próprios meios se transformam em fins” (2010, p. 131). Esse saber é importante para o futuro gestor, porque quando isso ocorre no interior de uma organização, significa que há aí uma ‘disfunção da burocracia’, ou seja, significa que a organização pode passar a produzir ineficiências! TEORIAS ESTRUTURALISTAS E ORGANIZAÇÕES A teoria estruturalista é subsequente à teoria da burocracia, buscou superar em certa medida, os problemas das teorias anteriores e seus respectivos modelos de gestão, quais sejam, a Escola clássica da administração (teoria científica), a Escola comportamental (teoria das relações humanas) e a Escola burocrática. Pode-se dizer que os estruturalistas por meio de uma perspectiva crítica, revisitaram alguns conceitos que já haviam sido trabalhados por estas escolas, no intuito de inseri-los em um contexto mais amplo de análise. Uma das ideias fundamentais do estruturalismo é a busca pela compreensão do ‘todo’, ou seja, o todo, ou conjunto de uma estrutura formada pelas partes, se constrói a partir de uma relação de interdependência destas partes, capazes de influenciar e serem por ele (todo) influenciadas. Isso significa dizer que o estudo das organizações modernas sob a perspectiva estruturalista leva em consideração os sujeitos, os processos e o ambiente (interno e externo) no qual se desenvolvem, influenciando-se mutuamente. Deste modo, uma das críticas que o estruturalismo realiza às Escolas anteriores é quanto à sua visão parcial e fragmentada dos elementos que compõem uma organização. Estudar uma organização sob a óptica estruturalista implica em realizar uma análise global de todos os fatoresque compõem o ‘todo’ organizacional. Assim como também, reconhecer a integração e interdependência desses fatores, sua mútua influência e o ambiente onde eles se inserem. De modo que o Estruturalismo vê a organização em constante interação com o ambiente. Dentre os pensadores estruturalistas podemos citar: Thompson, Amitai Etzioni, Peter M.Blau, dentre inúmeros outros, uma vez que a Escola Estruturalista transitou por todas as ciências sociais em seus diferentes ramos de estudo. O estruturalismo também ampliou – para além do estudo das fábricas e industrias – por meio de um método comparativo, o próprio estudo das organizações, já que pretendeu uma análise globalizante, demonstrando as diferentes características, funções e papeis de diversos tipos de organizações, não apenas formais, mas também informais, com diferentes objetivos e finalidades. São exemplos de organizações modernas e complexas, as cooperativas, sindicatos, associações de classe, hospitais, escolas e universidades, comércio e prestadores de serviços. De um modo geral é uma teoria mais humanizada e democrática, que trabalhou as seguintes temática em linhas gerais: o conflito no interior das organizações; a questão da hierarquia e da participação democrática nos processos decisórios; a questão da coesão interna sob o prisma dos níveis de colaboração; o papel dos grupos informais no interior das organizações; a questão da flexibilização para as mudanças; a ideia do sistema de recompensas e o sentido de realização dos indivíduos; a consideração do fator humano como ponto de partida para se alcançar níveis de produtividade; a relação direta da organização com seu ambiente. O estruturalismo também apresentou contribuições conceituais ao estudo das organizações, tais como a ideia do Homem Organizacional, formado por sujeitos capazes de transitar em diferentes organizações, desempenhando diferentes atividades, por possuírem as seguintes características: flexibilidade; maior tolerância a frustrações; capacidade de adiar suas necessidades de recompensas e o permanente desejo de realização. O papel dos gestores e das próprias organizações é o de considerar esses fatores humanos. Ou seja, é preciso buscar potencializar a participação democrática dos sujeitos nos processos decisórios; favorecer sua colaboração na coesão organizacional e ainda, associar formas de motivação dos indivíduos. Tudo isso pode tornar-se uma estratégia positivo para a estrutura das organizações, ao mesmo tempo em que se constitui em um desafio para as mesmas. O papel do conflito nas organizações: para o estruturalismo, o conflito no interior das organizações deve ser compreendido como inevitável, isso porque os interesses de ambos (sujeitos e organizações) são por vezes, distintos e também porque o conflito é inerente aos seres humanos. Desta forma a Administração deveria abandonar em certa medida a ilusão da harmonia, pois os conflitos, ainda que indesejáveis, devem ser concebidos como elementos geradores de mudanças e desenvolvimento das organizações, se não forem desconsiderados ou erroneamente potencializados. O papel dos incentivos e recompensas mistos: uma das críticas dos estruturalistas à Escola Clássica da Administração é quanto à sua ênfase unilateral aos incentivos monetários, ou ainda, aos incentivos e recompensas psicológicas, da Escola Neoclássica. Para os estruturalistas ambos os incentivos e recompensas devem ser considerados pelas organizações, pois o homem organizacional não busca apenas realização e estabilidade econômica, mas também alcançar realização pessoal no interior das organizações e por meio do seu trabalho. Por fim a própria ampliação da análise organizacional foi uma importante contribuição do Estruturalismo ao estudo das organizações modernas, uma vez que incentivou a compreensão do papel das organizações não-industriais e sem fins lucrativos no sistema social, assim como o estudo da influência do ambiente sobre as organizações e vice-versa. SÍNTESE Nesse encontro estudamos sobre o tema Sociedade e Gestão, em que apresentamos duas Escolas que buscaram compreender das organizações modernas sob diferentes perspectivas. A Escola burocrática, cujo expoente foi Max Weber, que contribuiu com a ciência da Administração no sentido de melhor compreender como a racionalização – enquanto categoria de organização social moderna – permeou as instituições empresariais e influenciou suas práticas, no intuito de buscar a máxima eficiência de seus processos, por meio da burocratização. Nessa perspectiva de análise social estudamos também a tipologia da dominação em Max Weber, também como uma forma de compreender em certa medida os processos de legitimação da própria liderança e autoridade dentro das organizações modernas. Finalmente, estudamos a teoria estruturalista e suas contribuições para a ciência da Administração, na medida em que buscou integrar e superar as falhas teóricas e as soluções apontadas pelas Escolas anteriores e seus correspondentes modelos de gestão. Aplicação Prática Analise estudo de caso apresentado, articulando-o com os conceitos trabalhados nessa aula. Criatividade versus Regulamentação na 3M Em seus 100 anos de existência, a companhia americana 3M confiou em uma fórmula segura de crescimento: contratar cientistas de primeira linha, fornecer a cada um deles grande verba e dar-lhes tempo para fazer o que quiserem. Essa política sempre foi uma das chaves do sucesso da empresa. Desde lixas, fitas adesivas, fitas magnéticas e papéis adesivos “temporariamente permanentes” até isolantes e produtos de alta tecnologia, seus produtos trouxeram-lhe a reputação de uma das grandes inovadoras. Essa capacidade de inovação reflete-se na estrutura de suas receitas. No ano 2000, a 3 M gerou 5,6 bilhões de dólares de receitas de vendas com produtos que não existiam quatro anos antes. Esse número corresponde a exatamente um terço de sua receita total de vendas desse ano. McNerney assume a 3M No começo do ano de 2001, W. James McNerney assumiu os cargos de presidente do conselho de administração e presidente executivo da 3 M. Trazido da General Electric, McNerney foi o primeiro executivo de fora a assumir a direção da empresa, com planos ambiciosos de redução de custos e aumento do faturamento. A partir de 2002, em 10 anos ou menos, a 3M deveria duplicar o desempenho recorde de 2000. No passado, 15 anos haviam sido necessários para realizar esse feito. Depois de demitir 6000 pessoas em 2001, McNerney planejava cortar outras 2,5 vagas em 2002 e reduzir despesas em $ 1 bilhão. As vendas do grupo haviam caído no último trimestre de 2001, embora o lucro líquido tivesse crescido. O desempenho global das vendas e dos lucros, no entanto, havia diminuído desde a chegada de McNerney. A receita de vendas havia caído mais velozmente do que em qualquer outro período dos últimos 30 anos. A unidade de produtos de saúde da 3M vinha crescendo rapidamente, mas as vendas de telecomunicações caíram muito. Para atingir suas metas de aumentar as vendas anuais em 11% e os lucros operacionais em 12%, quase o dobro da taxa da última década, a 3M deveria realizar uma série de aquisições de porte razoável e envolver-se profundamente no setor de serviços. No entanto, como diversas companhias haviam descoberto, as compras de empresas nem sempre compensam. Além disso, a 3 M tinha pouca experiência em fazer negócios além da compra de nichos. Mais ainda, o catálogo de produtos de baixo valorda 3M não se prestava ao desenvolvimento de serviços afins. Gestão da eficiência Baseando-se em cortes de custos e melhorias de eficiência, a 3M havia conseguido transitar eficazmente durante 2001. Algumas semanas depois de assumir a direção da empresa, ele anunciou a demissão de 5 mil dos 75 mil empregados da 3M. Ele também instituiu um programa de economia na gestão de processos. Por exemplo: a 3M perdia $ 1 milhão por ano porque seu produto cerâmico, usado em trabalhos dentários, às vezes rachava. Uma reavaliação mostrou que o material não tinha sido curado de maneira apropriada e o problema foi resolvido. A 3M também começou a fazer compras globais combinadas, para obter preços mais baixos. Essas medidas tiveram o efeito de conseguir confiança na gestão de McNerney. Em plena recessão, a empresa tivera bom desempenho. Os resultados financeiros atestavam sua capacidade. A 3M havia acumulado quase $ 400 milhões em caixa em setembro de 2001, um avanço de 45% em relação ao começo do ano. Analistas do mercado estavam otimistas com os planos de longo prazo de McNerney, embora considerassem que sua Implementação não seria fácil. Gestão a inovação A história de inovação de sucesso certamente havia impressionado McNerney, mas parecia insuficiente para implementar seus planos. Ele dizia que, mesmo com um orçamento de $ 1 bilhão e 7 mil funcionários, o laboratório de pesquisa e desenvolvimento da 3M não seria capaz de gerar o crescimento pretendido. As estratégias de McNerney corriam o risco de sufocar a elogiada criatividade da 3M. Ele e sua equipe executiva já estava definindo onde os dólares de pesquisa e desenvolvimento deveriam ser gastos e estabelecendo padrões uniformes de desempenho para toda a 3M. Isso ia contra a tradição da empresa de dar liberdade aos chefes de unidades de negócios. Os veteranos da 3M, de forma geral, apoiavam McNerney, admitindo que nem sempre o dinheiro havia sido gasto com sabedoria. O novo chefe dizia que entendia a necessidade de equilíbrio: - Minha tarefa é conseguir escala num ambiente empresarial em rápida transformação. Se eu acabar matando esse espírito empresarial, terei fracassado. E, no entanto, ele iria precisar de toda a energia criativa que a 3M pudesse arregimentar para recuperar o crescimento quando a recessão terminasse. Muitos analistas do mercado acreditavam que a 3M poderia crescer um ponto percentual apenas aumentando a eficiência na criação e no lançamento de produtos. Esse processo, segundo McNerney, deveria produzir resultados com os lançamentos de 2002. Fonte: MAXIMIANO, Antônio C. A. Teoria Geral da Administração – da revolução urbana à revolução digital. São Paulo: Atlas, 2012. Questões para reflexão 1. De que forma a inovação encaixa-se nos planos do novo presidente para a empresa? 2. Em sua opinião, qual modelo de organização o novo presidente encontrou ao chegar na 3M? Qual o modelo de organização o novo presidente estava pretendendo implantar? Até que ponto esse modelo era adequado para o tipo de ambiente em que a 3M atua? 3. Gastar o dinheiro dedicado à inovação “nem sempre com sabedoria” pode ser o resultado de algum tipo de disfunção organizacional? Identifique a disfunção, se for o caso, ou indique outra possibilidade. 4. Em resumo, qual o impacto previsível dos planos do novo presidente sobre a capacidade de inovação da empresa? Referências ARAÚJO, Silvia Maria; BRIDI, Maria Aparecida; MOTIM, Benilde Lenzi. Sociologia: um olhar crítico. São Paulo: Contexto, 2009. BRYM, Robert J. et al. Sociologia – sua bússola para um novo mundo. São Paulo: CENGAGE Learning, 2010. DIAS, Reinaldo. Sociologia das Organizações. São Paulo: Atlas, 2008. LAKATOS, Eva Maria; MARCONI, Marina de Andrade. Sociologia Geral. São Paulo: Atlas, 1999. PAIXÃO, Alessandro Eziquiel. Sociologia Geral. Curitiba: Intersaberes, 2012. ROBBINS, S.P. Comportamento Organizacional. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005. WEBER, Max. Economia e Sociedade – fundamentos da sociologia compreensiva. 3.ed. Brasília: Editora UnB, 1994.
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