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Esta obra tem por finalidade apresentar os principais aspectos referen- tes à evolução do pensamento administrativo, suas teorias e escolas que deram suporte ao modelo empresarial de cada época, bem como ao modelo empresarial moderno. Ao tomar conhecimento da necessidade que atualmente se faz do estudo mais aprofundado da ciência administrativa e sua relevância, pode-se con- siderar que, no contexto social, econômico e político no qual se vive, não há um único lugar no planeta que não demande ser administrado. Deve-se notar que este livro não se volta exclusivamente para estudantes de Administração, pelo contrário, os conceitos aqui expostos procuram abarcar profissionais de várias áreas do conhecimento e que estejam interessados no campo da gestão empresarial. Evidentemente, alguns con- ceitos exigirão maior ou menor esforço de compreensão e introjeção. Isso acontece independentemente da classificação profissional. Mesmo para aqueles já familiarizados com a Administração, as ideias contidas nesta obra devem ser adaptadas às suas realidades. Este é o desafio desta obra: oferecer uma visão das teorias da Adminis- tração para que o leitor possa desenvolver uma base sólida para a continua- ção de seus estudos e a aplicação do conhecimento obtido nessa área. REN ATO RIBEIRO TEORIAS DA A DM IN ISTRAÇÃO Código Logístico 59317 Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6616-2 9 7 8 8 5 3 8 7 6 6 1 6 2 Teorias da Administração Renato Ribeiro IESDE BRASIL 2020 Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br © 2020 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito do autor e do detentor dos direitos autorais. Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: Gajus/Andrii Yalanskyi/Shutterstock CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ R372t Ribeiro, Renato Teorias da administração / Renato Ribeiro. - 1. ed. - Curitiba [PR] : IESDE, 2020. 108 p. : il. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6616-2 1. Administração. I. Título. 20-63823 CDD: 658 CDU: 005 Renato Ribeiro Doutor em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR). Especialista em Gerência de Recursos Humanos, em Engenharia Econômica, em Marketing e Propaganda e em Finanças pela FAE Business School (FAE). Graduado em Administração pela FAE. Pesquisador e professor nas áreas de gestão estratégica, gestão empreendedora e gestão de negócios. Palestrante e consultor empresarial. Avaliador institucional do Inep/MEC. Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! SUMÁRIO 1 A Administração e a evolução do pensamento administrativo 9 1.1 O que é Administração 9 1.2 Quem faz a administração 12 1.3 Conceituando organização 14 1.4 Evolução do pensamento administrativo 16 2 Perspectiva clássica da Administração 21 2.1 Entendendo o trabalho na organização 22 2.2 Uma abordagem fisiológica e anatômica da Administração 28 2.3 A racionalidade técnica expandindo a produtividade 30 3 Perspectiva humanística da Administração 39 3.1 As teorias de transição: integrando as relações humanas à organização formal 39 3.2 A teoria das relações humanas: a ênfase nas pessoas 43 3.3 A teoria comportamentalista: as novas relações humanas 47 3.4 A teoria estruturalista: aspectos da tipologia e do poder nas organizações 52 4 Perspectiva moderna da Administração 57 4.1 Teoria neoclássica: a Administração nos dias atuais 57 4.2 A teoria de sistemas: os aspectos integrativos das organizações 61 4.3 Teoria das contingências: as organizações e a interdependência do ambiente externo 66 4.4 Desenvolvimento organizacional: o dilema das organizações 73 4.5 APO: alinhamento das metas pessoais com a estratégia do negócio 76 5 Perspectiva contemporânea da Administração 81 5.1 A qualidade e a excelência organizacional 81 5.2 Novos modelos de gestão: projetos e processos organizacionais 90 5.3 As organizações e a interdependência do ambiente externo 98 6 Gabarito 106 Agora é possível acessar os vídeos do livro por meio de QR codes (códigos de barras) presentes no início de cada seção de capítulo. Acesse os vídeos automaticamente, direcionando a câmera fotográ�ca de seu smartphone ou tablet para o QR code. Em alguns dispositivos é necessário ter instalado um leitor de QR code, que pode ser adquirido gratuitamente em lojas de aplicativos. Vídeos em QR code! Em um livro que tem como assunto principal as teorias da Administração não poderiam ser deixadas de lado uma reflexão sobre o desenvolvimento da gestão organizacional, já que as teorias administrativas contribuem para modificações profundas nos métodos de produção, que geraram transformações sociais significativas. Esta obra tem por finalidade apresentar os principais aspectos referentes à evolução do pensamento administrativo, suas teorias e escolas que deram suporte ao modelo empresarial de cada época, bem como ao modelo empresarial moderno. Ao tratar das teorias administrativas, abordamos as concepções que são, em seu conjunto, um compêndio de normas principais que se complementam, para levar a ciência administrativa ao dia a dia das pessoas e das organizações como um todo, e em algumas situações se confrontam. Notamos, também, que cada teoria administrativa procurou enfatizar uma dimensão da organização – tarefas, pessoas, estrutura, ambiente e tecnologia – omitindo ou relegando a um plano secundário as demais. Todas, porém, buscam enriquecer o conhecimento do administrador, instrumentalizando-o para a sua prática administrativa. Portanto, ao tomar conhecimento da necessidade que atualmente se faz do estudo mais aprofundado da ciência administrativa e sua relevância, pode-se considerar que, no contexto social, econômico e político no qual se vive, não há um único lugar no planeta que não demande ser administrado. Com este livro, procuramos demonstrar o efeito cumulativo e gradativamente abrangente das diversas teorias da Administração com suas diferentes contribuições e seus diferentes enfoques. As contribuições que serviram de base para a formação da Ciência da Administração vieram das mais variadas fontes. Esta obra traz capítulos com objetivos específicos. A abordagem vai desde o conceito de Administração e organização até a reflexão sobre novos modelos de gestão que podem ser APRESENTAÇÃO Vídeo 8 Teorias da Administração utilizados pelas empresas, com o intuito de melhorar sua produtividade e sua lucratividade. Nesse aspecto, o livro passa também por vários momentos históricos, em que a concepção da Ciência da Administração foi se moldando ou remodelando. Cada capítulo está estruturado de maneira dinâmica, desenvolvendo uma linha de raciocínio que possa levá-lo a uma reflexão e aprendizado das teorias administrativas, desenvolvendo problemas e trazendo indicações de leitura para o aprofundamento dos conhecimentos. Por fim, são anexados exercícios de aplicação para fortalecer o aprendizado. Deve-se notar que este livro não se volta exclusivamente para alunos de Administração, pelo contrário, os conceitos aqui expostos procuram abarcar profissionais de várias áreas do conhecimento e que estejam interessados no campo da gestão empresarial. Evidentemente, alguns conceitos exigirão maior ou menor esforço de compreensão e introjeção. Issoacontece independentemente da classificação profissional. Mesmo para aqueles já familiarizados com a Administração, as ideias contidas nesta obra devem ser adaptadas às suas realidades. Este foi o nosso desafio: oferecer uma visão das teorias da Administração para que você possa desenvolver uma base sólida para a continuação de seus estudos e a aplicação do conhecimento obtido nessa área. Desejamos a você muito sucesso nessa caminhada! A Administração e a evolução do pensamento administrativo 9 1 A Administração e a evolução do pensamento administrativo Neste capítulo, vamos apresentar noções de administração, como conceitos, níveis e funções. Você vai compreender em que consiste o trabalho dos administradores e o que é uma organiza- ção, além de conhecer seus desafios. Vai acompanhar a evolução histórica do pensamento administrativo para entender as mudan- ças que a Administração sofreu ao longo do tempo e suas conse- quências para as organizações e vai reconhecer a importância da Administração para a sociedade. A palavra administração tem origem no latim administer, que significa “o que ajuda, auxiliar, operário, trabalhador” (REZENDE; BIANCHET, 2014). Observe que o significado original da palavra tem relação com obediência, no sentido restrito de prestar serviços a alguém. Hoje em dia, o termo tem um significado bem diferente e mais abrangente, porque foi acompanhando as mudanças na sociedade e nas relações de trabalho. Curiosidade 1.1 O que é Administração Vídeo Talvez você nunca tenha parado para pensar na palavra administração, afinal, ela está tão presente no nosso dia a dia que seu significado parece óbvio e simples. Contudo, esse termo é muito amplo e pode ser compreendido, basicamente, como um processo de tomar decisões e de organizar os elementos constitutivos de uma empresa, em qualquer escala de utilização de recursos. Toda organização, seja ela grande ou pequena, pública ou privada, precisa de um processo que a conduza ao alcance de seus objetivos. Para isso, são os atores do processo administrativo que devem in- terpretar os objetivos da empresa e transformá-los em uma ação organizacional. 10 Teorias da Administração Nesse sentido, analisando mais detalhadamente: as funções gerenciais da administração são planejar, organizar, liderar e controlar o uso dos recursos financeiros, humanos, materiais e tecnológicos de uma organiza- ção, a fim de alcançar seus objetivos. Como você deve ter percebido, para compreender o significado de administração é preciso, primeiramente, entender qual papel a Administração desempenha, tanto para as organizações quanto para a sociedade. Para as organizações, ela é a forma como se atin- gem os resultados empresariais; para a sociedade, é o grande bali- zador na execução de atividades que satisfaçam as necessidades de seus cidadãos. Segundo Maximiano (2012), a administração pode ser explica- da por meio de três palavras-chaves: objetivos, decisões e recursos (Figura 1). Figura 1 Elementos da administração RECURSOS • Pessoas • Informação e conhecimento • Espaço • Tempo • Dinheiro • Instalações OBJETIVOS • Resultados esperados do sistema DECISÕES • Planejamento • Organização • Execução • Direção • Controle Fonte: Adaptado de Maximiano, 2012, p. 25. De acordo com a Figura 1, administração é um processo que envolve tomar decisões sobre objetivos e recursos em cada área da organiza- ção. As decisões dizem respeito a quatro tipos de funções: planejamen- to, organização, liderança e controle. Para cada função são necessários recursos distintos (pessoas, informações e conhecimentos, espaço, tempo, dinheiro ou instalações, por exemplo) que visem alcançar os re- sultados esperados, ou seja, os objetivos. Portanto, decisões, recursos e objetivos estão entrelaçados e um depende do outro para que haja um processo administrativo. A Administração e a evolução do pensamento administrativo 11 Administrar é destinar os recursos necessários para produzir bens e serviços, atingin- do os objetivos da empresa por meio de boas decisões. Diante dessa perspectiva, podemos definir administração, de modo sucinto, como um processo de atingimento de objetivos, por meio dos esforços de pessoas. Desse modo, administração pode ser entendida como uma ação. Oliveira (2011, p. 6) complementa que administração é: um sistema estruturado e intuitivo que consolida um conjunto de princípios, normas e funções para alavancar, harmoniosa- mente, o processo de planejamento de situações futuras dese- jadas e seu posterior controle de eficiência e produtividade, bem como a organização e a direção dos recursos empresariais para os resultados esperados. O processo de tomada de decisões busca alcançar objetivos orga- nizacionais, considerando o envolvimento de pessoas lideradas por um administrador ou gestor, que assume a posição de sistematizar as práticas administrativas, utilizando recursos humanos, informacionais, materiais e financeiros (Figura 2). Figura 2 Trabalho do administrador RECURSOS MATERIAIS RECURSOS INFORMACIONAIS RECURSOS FINANCEIROS RECURSOS HUMANOS ALCANCE DE METAS ATIVIDADES ADMINISTRATIVAS UTILIZAÇÃO EFICIENTE E EFICAZ DOS RECURSOS Fonte: Silva, 2001, p. 07. 12 Teorias da Administração 1.2 Quem faz a administração Vídeo Considerando que a administração é uma ação, quem a executa são pessoas – os administradores ou os gestores – cujo desempenho está intimamente ligado à eficiência e à eficácia do seu trabalho. Eficiência é a forma como um processo é realizado. Para que seja eficiente, precisa ser realizado com boa qualidade e em curto prazo. Já eficácia é a capacidade de realizar objetivos, ou seja, chegar a um bom resultado. Uma pessoa pode ser eficiente sem necessariamente ser eficaz, isto é, ela pode seguir todos os procedimentos corretamente e cumprir prazos, mas não entregar um produto ou serviço de qualida- de. Fazendo uma analogia, é como o jogador de futebol que não erra qualquer passe de bola, mas também não faz gol. Geralmente, os administradores estão presentes em três níveis da organização, conforme apresentados na Figura 3. Figura 3 Níveis de administração ALTA ADMINISTRAÇÃO MÉDIA ADMINISTRAÇÃO ADMINISTRAÇÃO OPERACIONAL Tomadores de decisão: responsáveis pela estratégia do negócio. Kr as ov itc ki i/S hu tte rs to ck Gerentes: coordenam e decidem que produtos ou serviços serão realizados. Supervisores: responsáveis pela produção dos bens ou serviços. Fonte: Elaborada pelo autor. Em todos esses níveis, os administradores, para a realização da sua tarefa, deverão ter ou desenvolver certas habilidades e assumir alguns papéis, em função das contingências. contingência: eventualidade; um acaso; um acontecimento que tem como fundamento a incerteza de que pode ou não acontecer. Glossário Portanto, cabe ao administrador fazer com que as metas organiza- cionais sejam alcançadas de maneira eficiente e eficaz, tanto na utiliza- ção dos recursos quanto na realização das atividades administrativas. A Administração e a evolução do pensamento administrativo 13 1.2.1 Habilidades do administrador Para poder desempenhar seu trabalho, o administrador/gestor deve desenvolver habilidades técnicas, humanas e conceituais, as quais fazem parte do seu perfil de bom profissional. • Habilidades técnicas: estão relacionadas a saber utilizar os prin- cípios, as técnicas e as ferramentas administrativas, além de sa- ber decidir e solucionar problemas. • Habilidades humanas: têm relação com o saber lidar com pessoas, comunicando-se eficientemente, negociando, conduzindo mudan- ças, obtendo cooperação e solucionando possíveis conflitos. • Habilidades conceituais: dizem respeito à capacidade de o administrador analisar e interpretar situações de modo holístico, isto é, tendo uma visão do todo. 1.2.2 Papéis do administrador Além das habilidades, em situações específicas, o administrador deverá desempenhar na organização diversasexpectativas de com- portamento, denominadas papéis. Dentre os inúmeros papéis que o administrador deve procurar se aprimorar, existem alguns que ele de- verá dominar (Figura 4). Fonte: Elaborada pelo autor. Figura 4 Papéis do administrador ph ip at bi g/ Sh ut te rs to ck PAPÉIS INTERPESSOAIS Indicam como o administrador interage com as pessoas e influencia seus subordinados. São desempenhados geralmente por um chefe e líder. Indicam como o administrador intercambia, troca e processa a informação. São desempenhados geralmente por um monitor, disseminador e interlocutor. Indicam como o administrador utiliza a informação em suas decisões. São desempenhados geralmente por um empreendedor, solucionador de conflitos, alocador de recursos e negociador. PAPÉIS INFORMACIONAIS PAPÉIS DECISORIAIS 14 Teorias da Administração 1.3 Conceituando organização Vídeo As organizações (instituições ou empresas) estão presentes e são necessárias em nossas vidas. Podemos afirmar que hoje vivemos em uma sociedade eminentemente organizacional, constituída de institui- ções complexas, as quais controlam o homem em todas as etapas de sua vida. Somos constantemente influenciados por essa instituições, uma vez que nascemos em hospitais, somos educados em escolas e trabalhamos em organizações. Hodge, Anthony e Gales (apud SILVA, 2001, p. 44) afirmam que uma “organização é definida como duas ou mais pessoas trabalhando jun- tas cooperativamente, dentro de limites identificáveis, para alcançar um objetivo ou meta comum”. Assim, as organizações são arranjos sistemáticos de pelo menos duas pessoas em constante interação, que cumprem papéis formais e compartilham um propósito comum, possuem objetivos e contam com recursos, constituindo um todo orientado para determinados fins. Uma empresa pode ser definida também como o conjunto de es- forços dos atores que fazem parte da dinâmica produtiva, somados aos recursos necessários para a consecução do processo administra- tivo. Desse modo, para que possa atender às necessidades dos seres humanos, é necessário que ela reúna, junto à tecnologia (proveniente da construção do conhecimento), elementos econômicos (fatores da produção), como recursos naturais (bens econômicos originados na natureza), trabalho (esforços das pessoas que participam do processo produtivo) e capital (máquinas, equipamentos e moeda). Dentre os vários conceitos de organização, Peter Drucker (1997), considerado por muitos o guru da Administração moderna, é quem tem lidado com o conceito da melhor forma. Para ele, uma organização é um agrupamento humano, composto de especialistas que trabalham em conjunto em uma atividade comum. Peter Ferdinand Drucker, escritor, professor e consultor administrativo, é considerado o pai da administração moderna, a qual era subentendida como a ciência que trata das pessoas nas organizações. Saiba mais O administrador é um ator que não pode faltar em uma cena orga- nizacional ou social. Ele tem importância no sucesso de uma empresa, pois a mantém no rumo e com o foco em seus objetivos, possibilitan- do que os resultados sejam alcançados de modo eficaz. A essência do administrador é obter resultados por intermédio de terceiros, sendo assim, ele transforma conhecimento em resultados. A Administração e a evolução do pensamento administrativo 15 De todos os conceitos aqui ilustrados, os quais não apresentam dis- crepâncias sensíveis, mas sim valorações diferentes em relação aos ele- mentos da definição, podemos construir um conceito próprio, dentro de uma realidade pragmática, na qual tentamos refletir o pensamento e as ações das empresas. Portanto: as organizações são grupos de pessoas que se constituem de modo organizado e estruturado para atingir objetivos comuns, por meio da utilização de recursos finan- ceiros, materiais, tecnologias e informações. Enquanto as empresas eram pequenas, elas não sofriam influência do meio ambiente e eram de fácil administração. A partir do momen- to em que foram crescendo, muitas vezes de forma desordenada, o ambiente onde elas existiam foi se transformando e tornando-se mais complexo em suas exigências, com isso, as organizações precisaram transformar aspectos como estrutura e modelo de gestão e produção. Essas, hoje, podem ser classificadas com base em seu tamanho (pequena empresa, empresa de médio ou grande porte), em seu nível hierárquico, em seu grau de complexidade, em sua condição de forma- lidade ou informalidade, nos usuários a quem atende, se são mecâni- ca, orgânica, nacional ou multinacional etc. Essas classificações levam também em consideração o faturamento mensal ou a quantidade de colaboradores de cada instituição. As empresas informais são resultantes da relação estabelecida entre seus membros. Por outro lado, as formais são originárias de planeja- mento de divisão racional do trabalho e especialização dos órgãos em funções que a compõem. Ainda, as mecânicas são aquelas vistas como rígidas em sua estrutura e gerenciamento, construídas por meio de um projeto e montadas como peças mecânicas. Já as orgânicas adotam um modelo de gestão focado no desenvolvimento humano; esse tipo de gestão é indicado para empresas que lidam com alta competitividade e mudanças constantes no mercado em que estão inseridas. As nacionais possuem operação e atuação apenas em um país, são também chama- das de locais e, por fim, as multinacionais possuem condições de operar em diversos países simultaneamente (empresas globais). Além disso, as organizações podem ser lucrativas (empresas) e não lu- crativas (igreja, exército, serviço público, ONGs). No caso das organizações não lucrativas, não estamos querendo dizer que elas não perseguem o O livro Teorias Da Adminis- tração I apresenta como foi o desenvolvimento das teorias da administração, em relação a sua aplica- bilidade nas empresas em função da análise das forças de mercado e das variáveis tarefas, estrutu- ras, pessoas, ambientes e tecnologias. TRIGUEIRO, F. M. C.; MARQUES, N. A. Florianópolis: Departamento de Ciências da Administração/UFSC [Brasília]: CAPES: UAB, 2014. Disponível em: https://educa- pes.capes.gov.br/bitstream/ capes/401253/1/Livro_Teo- rias_da_Administracao_I%20 WEB%20atualizado.pdf. Acesso em: 20 jul. 2020. Livro https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401253/1/Livro_Teorias_da_Administracao_I%20WEB%20atualizado.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401253/1/Livro_Teorias_da_Administracao_I%20WEB%20atualizado.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401253/1/Livro_Teorias_da_Administracao_I%20WEB%20atualizado.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401253/1/Livro_Teorias_da_Administracao_I%20WEB%20atualizado.pdf https://educapes.capes.gov.br/bitstream/capes/401253/1/Livro_Teorias_da_Administracao_I%20WEB%20atualizado.pdf 16 Teorias da Administração lucro, até porque se não houver lucro a instituição, mesmo sem fins lucra- tivos, sucumbiria com o tempo. As empresas, por sua vez, diferenciam-se por visarem ao lucro. Elas se sujeitam às leis do mercado e sofrem interfe- rência de todas as variáveis que o ambiente externo apresenta. As instituições governamentais têm por objetivo a promoção do bem comum, isto é, a satisfação das necessidades públicas, tais como segurança, saúde e educação, além de gerir adequadamente todos os recursos do Estado para que o alcance dos objetivos seja claro e eficaz e de acordo com a vontade política emanada da sociedade. As organizações privadas sem fins lucrativos objetivam, basica- mente, a transformação social, pautada numa sociedade mais justa e igualitária, podendo ser representadas pelas ONGs, pelas igrejas ou organizações religiosas, pelos sindicatos etc. Sua atuação diz respeito à utilização de recursos, públicos ou não, de modo a satisfazer às ne- cessidades dos menos favorecidos. Quem define essas prioridades é o próprio ambiente sociocultural que as cerca. As empresas comfins lucrativos são aquelas organizações intencio- nalmente produzidas para atender às necessidades de um determina- do e característico grupo de consumidores com a produção de bens ou a prestação de serviços. 1.4 Evolução do pensamento administrativo Vídeo A história da administração é recente como ciência da administra- ção, tendo um pouco mais de 100 anos. Considerando que vivemos em uma sociedade em constante mudança, essa transformação vem ocorrendo desde a pré-história, passando por diversas outras fases até chegarmos à era da informação e do conhecimento. No primeiro momento, as relações sociais entre os membros da or- ganização eram praticamente inexistentes. Hoje, as pessoas se organi- zam e dependem da sociedade para sobreviver e viver em associações. Segundo Motta (2002), essa evolução vem acontecendo de forma muito mais veloz, em que a inovação é consequência do dinâmico mun- do do conhecimento e as formas de transmissão desse conhecimento vêm exigindo das pessoas maior integração e adaptação. A transição social aconteceu e a economia tornou-se mais forte, ambas conse- quências da disseminação do conhecimento. A Administração e a evolução do pensamento administrativo 17 Durante a evolução histórica da administração, duas instituições se destacaram: a Igreja Católica Romana e as Organizações Militares. A Igreja Católica Romana pode ser considerada a instituição for- mal mais eficiente da civilização ocidental. Através dos séculos, vem mostrando e provando a força de atração de seus objetivos, a eficácia de suas técnicas organizacionais e administrativas, espalhando-se por todo mundo e exercendo influência, inclusive sobre os comportamen- tos das pessoas, seus fiéis. Já as Organizações Militares evoluíram das ordens dos cavaleiros medievais e dos exércitos mercenários, entre os séculos XVII e XVIII até os tempos modernos, cuja hierarquia de poder é rígida e baseada na adoção de princípios e práticas administrativas comuns a todas empresas da atualidade. No decorrer da história, a Administração se desenvolveu muito len- tamente. O aparecimento da empresa e da Administração moderna ocorreu no final do século XVIII, foi devagar até o século XIX e acelerou a partir do início do século XX. Esse fenômeno, que resultou em rápidas e profundas mudanças econômicas, sociais e políticas, ficou conhecido como Revolução Industrial 1 . No entanto, antes disso, a administração sofreu influência decisiva dos filósofos, uma vez que era vista como habilidade pessoal, sepa- rada do conhecimento técnico e da experiência. Essa influência ficou evidente na maneira de abordar e solucionar problemas e na tendência à análise e à divisão do trabalho. Os principais filósofos da antiguidade que influenciaram a admi- nistração, dentro de sua linha de pensamento e raciocínio, foram: Sócrates, por meio da habilidade pessoal, do conhecimento técnico e da experiência; Platão, por meio de interesses políticos e sociais e da forma social de governo; e Aristóteles, por meio da Administração Pública (Monarquia, Aristocracia e Democracia). Continuando a abordagem histórica, chega-se à Idade Média, em que nos deparamos com os pensamentos do filósofo René Descartes, o qual defendia a ideia de O Discurso do Método, descrevendo as coordenadas cartesianas, bases para o estudo da Administração, como a divisão do trabalho, a ordem, o controle etc., os quais influenciaram a Administra- ção de maneira significativa. Podemos citar seus princípios, que foram: A Revolução Industrial pode ser dividida em duas épocas distintas: a primeira vai de 1780 a 1860, com a utilização mais intensa do carvão e do ferro; e a segunda, de 1860 a 1914, com a utilização do aço e da eletricidade. 1 Durante a caminhada histórica do pensamento administrativo, os filósofos e economistas liberais alemães Karl Marx e Friedrich Engels discutiam a dominação econômica do homem pelo homem, por meio de seu Manifesto Comunista, no qual afirmavam que a história da humanidade sempre foi a história da luta de classes, resu- midamente, entre exploradores e explorados. Saiba mais 18 Teorias da Administração • Dívida Sistêmica ou Evidência: diz respeito a não aceitar como verdadeira coisa alguma enquanto não se souber com evidência – clara e distinta – o que é realmente verdadeiro; • Análise de Decomposição: trata-se de dividir o problema em partes e resolvê-las, cada uma, separadamente; • Síntese da Composição: tem relação com compor as soluções parciais para solução do problema; • Enumeração ou Verificação: trata-se de fazer revisões, quantas forem necessárias, para ficar seguro que não houve omissão ou esquecimento. Com a invenção da máquina a vapor, na Idade Antiga, surgiu uma nova concepção de trabalho, a qual modificou profundamente toda a estrutura social e comercial, modificando o conceito de fabricação artesanal, para a fabricação industrial, transferindo a habilidade de fabricação do artesão para a máquina, com a finalidade de produzir com mais eficiência e qualidade, em uma quantidade maior e com redução de custos. Não podemos deixar de citar a influência dos empreendedores, em função da derrocada das grandes corporações, uma vez que dirigi-las ou administrá-las não era apenas uma questão de habilidade pessoal ou de utilização de recursos. Era a necessidade de fatores como desen- volvimento tecnológico, mudança de mercado, livre comércio, cresci- mento das empresas e maior capacidade de investimento. Esses fatores criaram as bases para o surgimento das teorias administrativas e para a gestão empresarial, fazendo com que, hoje, seja impossível imaginar a sociedade moderna sem o esforço organizado e sem o administrador, que ajuda a sincronizar e integrar tal esforço. As raízes da Administração podem ser localizadas na antiguidade, mas a Administração Científica constitui certamente a sua porta de en- trada. O certo é que cada época produz uma forma organizacional ade- quada para o seu tempo e suas necessidades. Hoje, estamos vivendo a Era do Conhecimento e da Informação, em que o grande elemento é a mudança. Assim, o compromisso dos administrado- res e gestores é com a mudança, pois a sociedade organizada muda e, con- sequentemente, as relações, sejam sociais ou comerciais, a acompanham. Para ampliar seus conhecimentos sobre os conceitos apresentados nesse capítulo, assista ao vídeo Gestão Empresarial – Principais problemas organizacionais, publicado pelo canal Empari Global Innovation, em que se procura mostrar os pro- blemas das organizações e explicar a necessidade de uma boa administra- ção ou gestão. Disponível em: https://www.you- tube.com/watch?v=LhETYBBA1ag. Acesso em: 20 jul. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=LhETYBBA1ag https://www.youtube.com/watch?v=LhETYBBA1ag A Administração e a evolução do pensamento administrativo 19 Esse compromisso com a mudança é a única certeza para a sobrevi- vência das organizações, permitindo, por meio das inovações, acelerar, de forma racional e estruturada, as atividades produtivas e empresa- riais, configurando um melhor desenvolvimento econômico para as instituições, as quais procuram atender às demandas do mercado, que ocorrem de maneira progressiva como perspectiva de fortalecimento do pensamento capitalista. CONSIDERAÇÕES FINAIS Ao estudarmos os conceitos e fundamentos da Administração, pre- cisamos entender que essa é uma ação realizada dentro das empresas. Portanto, é uma maneira de se fazer coisas; realizar ações, de maneira correta e estruturada; utilizando recursos; buscando atingir aos resulta- dos que representem a satisfação da sociedade consumidora e a satisfa- ção da organização. Nesse sentido, fica muito claro que a administração é realizada nas organizações, sejam elas quais forem, e necessária para a estruturação e o dimensionamento da atividade laborativa. Para entendermos de maneira mais pormenorizada essa questão, foi necessária uma compreensão clara doconceito de organização e sua con- cepção como sociedade organizada, pois é nela que os meios produtivos são inseridos e transformados, gerando satisfação das diversas necessi- dades da sociedade. Essa abordagem deve servir como um ponto de partida para qualquer administrador e gestor de uma organização, pois explora os conceitos, funções, princípios etc. que constituem a base da Administração, bem como o desenvolvimento histórico do pensamento administrativo, os quais afetam o papel e as habilidades de um administrador ou gestor e como eles podem ser desenvolvidos. Como tudo, esses conceitos também se encontram em transforma- ção, pois as velhas incertezas da Administração estão cada vez mais se desfraldando, uma vez que a evolução do pensamento administrativo está relacionada com o contexto histórico em que está inserido e que as pessoas representam o meio onde vivem e guiam sua ação. Essa evolução evidencia a necessidade da sociedade compreender a nova lógica das organizações diante da velocidade das mudanças e dos 20 Teorias da Administração desafios do mundo globalizado, cabendo ao administrador ou gestor o desafio de fazer a leitura da realidade, diagnosticar a situação e decidir a abordagem mais indicada para cada situação organizacional. Logo, a coexistência das perspectivas, aparentemente contraditórias com relação às teorias administrativas e organizacionais, deve ser vista como algo inevitável, uma vez que a sociedade é extremamente mutável e as pessoas que a compõem acompanham essas mudanças. Portanto, é necessário desenvolver novos modelos de administração que contem- plem a modernidade e a contemporaneidade. ATIVIDADES 1. Para que as empresas possam ser bem-sucedidas, é necessário que os seus processos sejam sistêmicos, a fim de obter os melhores resultados em menor tempo e com menos custos. Com base nessa afirmação, como você pode explicar a eficiência e a eficácia? 2. Conceitue as três habilidades fundamentais aos administradores. 3. As empresas buscam constantemente serem bem-sucedidas e se destacarem diante da concorrência e do mercado. Com base nessa afirmação, conceitue organização e administração. REFERÊNCIAS DRUCKER, P. A organização do futuro: como preparar hoje as empresas de amanhã. São Paulo: Futura, 1997. MAXIMIANO, A. C. A. Teoria geral da administração. São Paulo: Atlas, 2012. MOTTA, F. C. P. Teoria geral da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. OLIVEIRA, D. P. R. Administração estratégica na prática: a competitividade para administrar o futuro das empresas. São Paulo: Atlas, 2011. REZENDE, A. M.; BIANCHET, S. B. Dicionário do latim essencial. Belo Horizonte: Autêntica, 2014. (Coleção Clássica). SILVA, R. O. Teorias da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2001. Perspectiva clássica da Administração 21 2 Perspectiva clássica da Administração Antes de estudarmos a perspectiva clássica da Administração, é necessário entendermos que a Administração é uma ação, ou seja, uma forma de aplicarmos, no contexto organizacional, princípios, técnicas e métodos voltados ao aumento da produtividade e à melhoria da qualidade de vida, relacionando-os com a organização do trabalho e com o dimensionamento estratégico das relações comerciais, visando satisfazer as demandas da sociedade, sejam elas econômicas ou sociais. Temos um grande compromisso com a mudança, que aconte- ce de modo muito veloz. Isso fica comprovado quando utilizamos nossos smartphones, que praticamente resolvem todos, ou quase todos, nossos problemas de comunicação, bem como se transfor- mam em computadores para auxiliar nosso trabalho no dia a dia, que, anteriormente à Revolução Industrial, era moroso, pouco pro- dutivo e muito custoso. Os trabalhos que hoje realizamos em nossas instituições sem- pre foram feitos de outra forma, menos técnica, menos produtiva e mais onerosa para as organizações e para os atores do processo administrativo, mas sempre uma ação estruturada, coletiva, articu- lada, coordenada e orientada para um propósito comum. Com base nessa visão, vamos estudar as principais teorias administrativas desenvolvidas nos primeiros 50 anos de existência da ciência administrativa. Vale a pena observar que o estudo da história do pensamento administrativo não se resume a apenas dispor os fatos em ordem cronológica, porém a entender o im- pacto das concepções teóricas e de determinadas forças sobre as organizações, sejam elas políticas, culturais, econômicas ou sociais, 22 Teorias da Administração o que, certamente, dará apoio ao alcance dos níveis de eficiência e de eficácia e efetividade desejados pelo gestor. As teorias são elaboradas por meio da observação de práticas e realidades existentes em determinados ambientes, configurando uma forma de pensamento baseada na busca de padrões e na de- terminação de sua repetição através dos tempos. Compreendendo com clareza as teorias da Administração, teremos condições de entender a evolução dos conceitos e das práticas da Administração e descobrir como esses conhecimentos podem nos ajudar a administrar eficazmente a organização. 2.1 Entendendo o trabalho na organização Vídeo O trabalho nas organizações passa a ser estruturado com o surgi- mento da Administração Científica, no início do século XX, decorrente das fortes influências da Revolução Industrial. Esta resultou na saída do processo de produção artesanal e agrícola para o processo industrial de produção, com a predominância de processos em massa. Os integrantes dessa escola ficaram conhecidos como os “engenhei- ros” da organização, pois grande parte deles era engenheiro profis- sional e realizaram seus estudos sobre os problemas da organização partindo da unidade fundamental da qual se originam todas as organi- zações humanas – a função e seu ocupante – e dela prosseguiram na constituição da estrutura até o topo. Predominava a atenção ao méto- do de trabalho, aos movimentos necessários para a execução da tarefa e ao tempo padrão determinado para a execução. Um dos fundamentos dessa escola era o postulado de que o homem é um ser fundamentalmente racional e, ao tomar uma decisão, “conhece previamente todos os cursos de ação disponíveis, bem como as conse- quências da opção por qualquer um deles” (MOTTA, 2002, p. 86). 2.1.1. A Administração Científica O surgimento da teoria da Administração Científica tem como base a necessidade de sistematizar o trabalho, para que as empre- sas pudessem ter mais lucratividade decorrente da produtividade do Perspectiva clássica da Administração 23 trabalhador, que era considerado um instrumento de produção neces- sário para alcançar eficiência para a organização. Frederick Winslow Taylor (1856-1915), ou simplesmente Taylor – como é conhecido no meio acadêmico –, foi um dos grandes influen- ciadores da Administração no século XX, especialmente na indústria de produção em massa. A principal preocupação de Taylor era aumentar a produtividade da empresa por meio do aumento da eficiência no nível operacional, isto é, no nível dos operários, assegurando simultanea- mente o máximo de prosperidade ao patrão e ao operário. Taylor (1911) comparava a organização com uma máquina, que se- gue um projeto predefinido. Desse modo, segundo o autor, o salário é importante, mas não é fundamental para a satisfação dos funcionários; a organização é vista de forma fechada, desvinculada de seu mercado; a qualificação do funcionário passa a ser supérflua em consequência da divisão de tarefas, que são executadas de maneira repetitiva e mo- nótona; e, finalmente, a Administração Científica faz uso da exploração dos funcionários em prol dos interesses particulares da empresa. Para tanto, por meio de um estudo minucioso, Taylor (1911) propôs que a análise científica das tarefas e atividades contribuiria para a de- terminação do que seria o trabalho mais adequado para cada pessoa desempenhar. Taylor defendia a ideia de que para cada pessoa existe um trabalhoideal. Taylor (1911) dividiu seu trabalho em duas partes: uma teórica ou filosófica e outra aplicável. Esse pensamento de cunho mais teórico e filosófico resultou em uma combinação de quatro grandes princípios básicos da Administração: • desenvolvimento de uma verdadeira ciência; • seleção científica do trabalhador; • educação e treinamento científico do trabalhador; • cooperação íntima e cordial entre a administração e os trabalhadores. Seu estudo iniciou-se no “chão de fábrica”, por meio da análise das tarefas de cada operário, decompondo seus movimentos e processos 24 Teorias da Administração de trabalho, aperfeiçoando-os e racionalizando-os gradativamente. Assim, concluiu que um operário médio produzia muito menos do que era capaz com o equipamento disponível e que, muitas vezes, não produzia mais porque os colegas dele também não produziam. Dessa observação, surgiu a ideia de fazer um pagamento maior e diferencia- do de acordo com a quantidade produzida. Com a aplicação desse estudo, Taylor constatou que, para obter mais produtividade, eficiência e baixo custo nas empresas, seria ne- cessário um método científico que objetivasse pagar salários altos e ter baixos custos unitários de produção; e a Administração deveria aplicar métodos científicos de pesquisas e experimentação. A fim de formular princípios e estabelecer processos padronizados que permitissem o controle de operações fabris, os empregados de- viam ser cientificamente colocados em serviços ou postos em que os materiais e as condições de trabalho fossem cientificamente seleciona- das, para que as normas pudessem ser cumpridas, e adestrados para aperfeiçoar suas aptidões e, portanto, executar um serviço ou tarefa de modo que a produção normal seja cumprida; e uma atmosfera de cooperação devia ser cultivada entre a administração e os trabalha- dores, para garantir a continuidade desse ambiente psicológico que possibilitasse a aplicação dos princípios mencionados. Em consequência disso, Taylor (1911) concluiu que: existe uma divisão de trabalho e de responsabilidades, quase equitativa, entre a di- reção e o operário. A direção se encarrega de todas as atribuições para que esteja melhor aparelhada do que o trabalhador, ao passo que, anteriormente, quase todo o trabalho e a maior parte das responsabilidades recaíam sobre o operário. Em um segundo período, Taylor, colocando em prática o modelo de aplicação de sua filosofia, desenvolveu estudos sobre a Administra- ção geral, a qual denominou efetivamente de Administração Científica, sem deixar, contudo, sua preocupação com relação à tarefa do ope- rário. Desse modo, a ênfase saiu da produtividade do trabalhador e deslocou-se para o aprimoramento dos métodos de trabalho. No entanto, segundo Taylor (1911), as indústrias de sua época pade- ciam de problemas, os quais classificou em três grupos: Perspectiva clássica da Administração 25 • vadiagem sistemática por parte dos operários, com o objetivo de evitar reduções nos salários; • desconhecimento, pelas gerências, dos métodos de trabalho ne- cessários para a produção; • falta de uniformidade nos métodos de trabalho. Para resolver tais problemas, Taylor idealizou a Administração Científica (Gerência Científica, Organização Científica no Trabalho e Organização Racional do Trabalho), um sistema de administração que tinha como objetivo principal garantir o melhor custo-benefício aos sistemas produtivos. Por meio da Administração Científica, Taylor almejava elevar o nível de produtividade, conseguindo com que o trabalhador produzisse mais em menos tempo e sem elevar os custos de produção. Ele também observou que os sistemas administrativos da época eram falhos, com falta de padronização dos métodos de trabalho e desconhecimento, por parte dos administradores, do trabalho dos operários. Para ele, as pessoas eram consideradas instrumentos de produção para atingir a eficiência empresarial. Todavia, de acordo com Taylor (1911), a implantação dessa Admi- nistração Científica deveria ser gradual e obedecer a certo período de tempo, para evitar alterações bruscas que causem descontentamento por parte dos empregados e prejuízos aos patrões. 2.1.2. Princípios da Administração Científica Taylor criou uma revolução mental, com a definição de regras para a melhoria da eficiência do processo produtivo e, como resulta- do de seus estudos, criou os princípios da Administração científica. São eles: • desenvolvimento de um método científico para o trabalho dos operários; • desenvolvimento de um processo científico de seleção e treina- mento do operário; • cooperação entre as gerências e os operários; • divisão do trabalho dos operários em função de sua especialização. 26 Teorias da Administração 2.1.3. Os seguidores de Taylor Devido às suas grandes ideias, Taylor conseguiu diversos seguido- res, entre eles Henry Ford, Harrington Emerson, Frank Gilbreth, Lilian Gilbreth e Henry Gantt. Henry Ford É conhecido como um dos responsáveis pelo grande salto quali- tativo no desenvolvimento organizacional atual. Buscava a cristali- zação do conceito da eficiência no mais amplo sentido. No período entre 1905 e 1910, Ford promoveu a produção em massa, uma gran- de inovação do século XX. Foi ele quem apresentou o maior exemplo de administração eficiente individual que a história conhece; apli- cou as ideias da Administração Científica, revolucionando, com esse processo, a indústria automotiva e a nossa sociedade. Assim, Ford lançou alguns princípios para agilizar a produção e reduzir os custos e o tempo de produção. • Princípio da intensificação: consistia em diminuir o tempo de produção com o emprego imediato dos equipamentos e da matéria-prima e a rápida colocação do produto no mercado. • Princípio da economicidade: consistia em reduzir ao mínimo o volume do estoque da matéria-prima em transformação, tor- nando a velocidade de fabricação rápida. • Princípio da produtividade: consistia em aumentar a capaci- dade de produção do homem, no mesmo período, por meio da especialização da linha de montagem. Harrington Emerson Era engenheiro e foi um dos principais auxiliares de Taylor. Foi Harrin- gton Emerson quem popularizou a Administração Científica e desenvol- veu os primeiros trabalhos sobre seleção e treinamento de empregados. Para isso, Emerson (1919) idealizou 12 princípios para eficiência: • traçar um plano objetivo e bem definido, de acordo com os ideais; • estabelecer o predomínio do bom senso; • manter orientação e supervisão competentes; • manter disciplina; • manter honestidade nos acordos; Perspectiva clássica da Administração 27 • manter registros precisos imediatos e adequados; • fixar remuneração proporcional ao trabalho; • fixar normas padronizadas para as condições do trabalho; • fixar normas padronizadas para o trabalho; • fixar normas padronizadas para as operações; • estabelecer instruções precisas; • fixar incentivos eficientes ao maior rendimento e à eficiência. Frank Gilbreth Seguiu um percurso similar, embora independente do de Taylor. Abdicou de estudar na universidade estadounidense Massachusetts Institute of Technology (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, MIT) para ser auxiliar de pedreiro. Foi defensor da maioria dos princí- pios da Administração Científica, como a divisão do trabalho, e tinha como principal objetivo descobrir a melhor forma de trabalhar. Lilian Gilbreth Lançou a tese A psicologia da Administração, considerada um dos primeiros estudos sobre o homem na indústria. Lilian julgava o am- biente e as chances dadas aos funcionários essenciais para o aprimo- ramento da produtividade. Henry Gantt Trabalhou com Taylor na Midvalle Steel Co. Desenvolveu métodos gráficos para representar planos e possibilitar melhor controle geren- cial. Destacou a importância do fator tempo, custo e planejamento para realização do trabalho. A Administração Científica tem vantagem pela dinâmica da produ- tividade.Isso porque foi possível colocar em pauta o aumento dos sa- lários e a diminuição da carga horária de uma maneira mais concreta. Por sua vez, teve como maior desvantagem a sua abordagem super- ficial e superespecializada, motivo para receber críticas por aqueles que eram contra esses métodos, a mecanização dos trabalhos. Contudo, podemos concluir que a Administração Científica tem um papel importantíssimo na formação do que conhecemos hoje como administração, porque foi pioneira nos estudos de métodos de traba- lho, sendo grande responsável pela evolução de engenharias indus- triais e de produção. 28 Teorias da Administração 2.2 Uma abordagem fisiológica e anatômica da Administração Vídeo Paralelamente à administração Científica de Taylor, surgiu, na França, a Teoria Clássica da Administração, desenvolvida por Henry Fayol (1841- 1925). Essa teoria é constituída de um pensamento baseado na prescrição de normas que tinham como intuito fornecer, aos gerentes de empresas, maneiras de atingir os objetivos de suas organizações, caracterizando-se pelo olhar tanto sobre todas as esferas – operacionais e gerenciais – e apli- cação do topo para baixo, ou seja, da gerência para a produção. Essa maneira prescritiva de lidar com os problemas organizacionais é entendida pela inexistência de referências na época. Quando não se tem elementos de comparação, é necessário relacionar situações ideais para determinada situação. Portanto, partia do todo organizacional e da sua estrutura para garantir eficiência a todas as partes envolvidas (pessoas ou órgãos). De acordo com Fayol (1990), toda organização possui um conjunto de funções, desempenhadas por empregados que possuem responsa- bilidades e talentos. Esses empregados são responsáveis pelas funções básicas e administrativas da empresa, têm oportunidades de exercitar suas habilidades como gestores e serem reconhecidos por isso, visto que o sucesso organizacional depende mais das habilidades adminis- trativas dos seus líderes do que de suas habilidades técnicas. Henri Fayol dividiu as funções da empresa com base em uma visão sintética, global e universal, inaugurando uma abordagem anatômica e es- trutural que superou o enfoque analítico e concreto de Taylor. Dentre as funções administrativas, relativas a planejamento, organização, comando, coordenação e controle, Fayol destacou cinco funções que a integram: • Função técnica: produção e transformação de bens e serviços; • Função comercial: compra, venda, permutação e troca; • Função financeira: otimização do uso de capital; • Função de segurança: proteção e preservação de bens e pessoas; • Função contábil: inventário, balanço patrimonial, custos e estatísticas. Por meio dessas funções universais da Administração, Fayol define que o ato de administrar envolve: prever (visualizar o futuro e traçar o Perspectiva clássica da Administração 29 programa de ação); organizar (constituir o duplo organismo material e social da empresa); comandar (dirigir e orientar o pessoal); coordenar (ligar, unir, harmonizar todos os atos e todos os esforços coletivos); e controlar (verificar que tudo ocorra conforme as regras estabelecidas e as ordens dadas). Além disso, Fayol (1990) criou os princípios gerais da administração, que são as bases da Administração como ciência. 1. Divisão do Trabalho: especialização das tarefas e das pessoas, a fim de aumentar a eficiência. 2. Autoridade e responsabilidade: autoridade é o direito de dar ordens e o poder de esperar obediência. A responsabilidade é uma consequência natural da autoridade e significa ter o dever de prestar contas. Ambas devem estar equilibradas entre si. 3. Disciplina: obediência, comportamento e respeito às normas estabelecidas. 4. Unidade de comando: cada empregado deve receber ordens de apenas um superior. É o princípio da autoridade única. 5. Unidade de direção: uma cabeça e um plano para cada conjunto de atividades que tenham o mesmo objetivo. 6. Subordinação dos interesses individuais aos interesses gerais: os interesses gerais devem sobrepor-se aos interesses particulares. 7. Remuneração do pessoal: deve haver justa e garantida satisfação para os empregados e para a organização em termos de retribuição. 8. Centralização: concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização. 9. Cadeia escalar: a linha de autoridade que vai do escalão mais alto ao mais baixo. 10. Ordem: um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar. É a ordem material e humana. 11. Equidade: amabilidade e justiça para obter a lealdade do pessoal. 12. Estabilidade e duração do pessoal: quanto mais tempo um empregado permanecer no cargo, melhor é; a rotatividade é um fator negativo. 13. Iniciativa: capacidade de visualizar um plano e assegurar o seu sucesso. 14. Espírito de Equipe: harmonia e união entre os empregados. 30 Teorias da Administração Os princípios, segundo Fayol (1990), são úteis para estruturar qual- quer organização, seja qual for seu ramo de atividade e seu tamanho. De acordo com o autor, existe uma proporcionalidade da função admi- nistrativa, que se reparte por todos os níveis de hierarquia da empresa e não é privativa da alta direção da empresa. Em suma, a função adminis- trativa não se concentra apenas no topo da empresa, mas é distribuída proporcionalmente em todos os níveis hierárquicos. Assim, conforme se desce na escala hierárquica, se aumenta a proporção das outras fun- ções da empresa; já à medida que se sobe na escala hierárquica, mais se aumenta a extensão e o volume das funções administrativas. No entanto, para Silva (2008), os princípios da Administração falha- ram como verdades universais e em satisfazer os estudiosos, os quais se queixavam de que tais princípios eram como provérbios, apresen- tando falta de origem científica e verificação. Nesse contexto, podemos concluir que os trabalhos de Fayol, tal como os de Taylor, conseguiram desvendar que a chave do sucesso industrial estava no problema do pessoal e da sua administração, uma vez que Fayol se preocupava com a administração da empresa, sistematizando em seus estudos o resultado de observações experimentais e psicológicas. 2.3 A racionalidade técnica expandindo a produtividade Vídeo Ao falarmos em racionalidade técnica como forma de expandir a produtividade, estamos apontando para uma das correntes da abor- dagem clássica da Administração, cuja organização é vista, em larga escala, como estruturas mecanicistas. A Teoria da Burocracia abordou implicações sociais, dentro da estratégia do sistema aberto. Essa teoria originou-se na Europa, no início do século XX, como uma alternativa às teorias administrativas conhecidas, pois usava a racionali- dade para construir um sistema administrativo com base nos tipos de re- lacionamentos necessários para se obter um aumento de produtividade. Uma das primeiras aplicações do termo burocracia data do século XVIII, em que o termo era carregado de forte conotação negativa, de- signando aspectos de poder dos funcionários de uma administração estatal, aos quais eram atribuídas funções especializadas, sob uma mo- narquia absoluta. Perspectiva clássica da Administração 31 Hoje, tendemos a ver a burocracia como uma máquina defasada, obsoleta e inchada, responsável muitas vezes pela lentidão das decisões e pela inoperância nos resultados das políticas públicas dos governos. De acordo com Silva (2008), a escola da burocracia abriu uma nova visão na perspectiva administrativa, introduzindo o estudo de seu as- pecto institucional, partindo da ciência política, do direito e da sociolo- gia. Desse modo, completou o escopo da natureza da Administração, fornecendo-lhe o complemento necessário à consolidação da doutrina clássica 1 , propondo um modelo de aplicação e comparação. Ainda, não podemos conceber uma organização sem um cunho ca- pitalista, consequentemente, sem a utilização dos fatores da produção e sem um modelo sociológico burocrático que lhe dê sustentaçãoeco- nômica e social. 2.3.1. Conceito de burocracia A burocracia tem estreita relação com as organizações que se ba- seiam em regulamentos, que criam direitos e obrigações. Podemos compreender que a burocracia enfatiza a formalização, a divisão do trabalho, a hierarquia, a impessoalidade e profissionalização e a com- petência técnica dos trabalhadores. Portanto, podemos conceituar a burocracia como uma forma de organização humana baseada na racio- nalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos. Burocracia não quer dizer apenas papelada que corre pela empre- sa, mas todos os processos empregados na empresa, como a compra de um equipamento ou mesmo de material de consumo (papel, lápis, caneta, clips etc.), em que é necessário que se preencha uma requisi- ção ou pedido de compra, a qual precisa ser analisada e autorizada pelo seu chefe imediato. Este passa a requisição para o gerente do de- partamento responsável pela aquisição e lá passa por outro processo formal (cotação de preços, efetivação da compra, recebimento da mer- cadoria etc.) e, assim, para qualquer atividade formal de um escritório. Diante disso, embora possamos conceituar a burocracia como um sistema social, ela é um tipo de poder e deve garantir a funcionalidade eficaz das estruturas organizacionais, sejam estas pertencentes ao go- verno ou de domínio econômico privado. Podemos também conceituar a burocracia como um sistema socio-organizacional desenvolvido para Para a abordagem clássica, uma organização é a estrutura de relacionamentos, poder, objetivos, papéis, atividades, comunicações e outros fatores que existem quando pessoas trabalham juntas. Ou seja, as interações grupais, normas, ritos e modelo de convivência. 1 32 Teorias da Administração oferecer o meio mais eficiente de se obter o trabalho feito, uma vez que os funcionários definiriam claramente e estabeleceriam a relação com as outras atividades. Resumidamente, a burocracia refere-se a todo um processo de re- gras, métodos, hierarquia e outros. 2.3.2. Características da Teoria da Burocracia Considerando o entendimento do conceito da burocracia, citado anteriormente com diversas conotações, Weber (1999) coloca a buro- cracia num posicionamento bem diferente, considerando-a muito mais do que uma forma de organização. Ele a explica como um fenômeno, enxergando nela um grande perigo para o homem, por sentir nos buro- cratas a tendência de dominar a sociedade de uma forma legitimada de dominação, o domínio legal-burocrático. Isto é, quando esse domínio é legitimado pela existência de normas formais e regulamentos, caracte- rizando a existência de uma rede burocrática cujas características mais marcantes são: • Caráter legal das normas e regulamentos: é baseada em le- gislação própria e previamente estabelecida; possui caráter legal, porque confere às pessoas nomeadas em cargos poder de coa- ção sobre os subordinados. • Caráter formal das comunicações: na burocracia, as comu- nicações, regras e decisões são escritas, criando a formalidade com o preenchimento de formulários e a rotina que advém desse procedimento. • Caráter racional e divisão do trabalho: a divisão do trabalho é sistemática e adequada aos objetivos pretendidos de máxima eficiência com cada funcionário, sua respectiva função, suas atri- buições e suas responsabilidades. • Impessoalidade nas relações profissionais: a distribuição das atividades é feita em termos de cargos e funções, e não pessoas envolvidas. • Hierarquia da autoridade: cada cargo inferior deve estar sob o controle e supervisão de um posto superior. • Rotinas e procedimentos padronizados: as regras e normas téc- nicas regulam a conduta do ocupante de cada cargo e suas ativi- dades são executadas de acordo com as rotinas e procedimentos. Perspectiva clássica da Administração 33 • Competência técnica e por mérito: a escolha do profissional é feita por meio de méritos adquiridos e da competência técnica. São usados critérios de avaliação e classificação para toda a organização. • Especialização da Administração: os administradores da buro- cracia não são seus donos ou acionistas, assim surgiu a especiali- dade de gerir o negócio. • Profissionalização dos participantes: cada funcionário da bu- rocracia é um profissional especializado nas atividades do cargo que ocupa. • Completa previsibilidade do comportamento funcional: os funcionários deverão comportar-se de acordo com as normas e regulamentos da organização e conforme o previsto. 2.3.3. A sociedade organizacional na concepção de Weber A Teoria da Burocracia cria um novo padrão de comportamento socio-organizacional, fundamentado em especificidades do contexto social mais amplo que o ambiente intraorganizacional; observando o fe- nômeno da autoridade racional-legal da sociedade, de forma crescente. Diante dessa perspectiva, com o intuito de perceber melhor a buro- cracia, Weber identificou tipos de autoridade, também conhecida como o sistema de controle social, que faz parte dos estudos das organiza- ções formais, distinguindo autoridade das demais formas de influência, tais como poder e persuasão. A autoridade pode ser distinguida segundo três tipos básicos: • Racional-legal: baseia-se em normas sociais, administradas pela meritocracia, com traços impessoais, técnicos e racionais. • Tradicional: resulta de uma ordem social sagrada e eterna, am- parada no direito divino, na tradição cultural, na herança. • Carismática: confererida ao líder, em decorrência da fé de seus seguidores em suas qualidades distintivas. Para Weber (1999), com base nos estudos da autoridade, as organi- zações passariam por alguns estágios sociais até conseguirem se ade- quar ao modelo burocrático. Ele identificou três tipos de sociedade, as quais corresponderiam três tipos de autoridade: Poder: é a probabilidade de o indivíduo executar sua vontade apesar das resistências opostas. O poder inclui o controle da situação, mediante ameaças ou coações, ou por meio da manipulação das condições, de modo a obter obediência; poder não é autoridade. Persuasão: é a faculdade de o indivíduo influenciar a decisão ou ação de outro, mediante a ra- zão, o lógico e a argumentação. Glossário 34 Teorias da Administração • sociedade tradicional: na qual prevaleceria a produção de subsistência, a dominação por um líder autocrático e a ausência de profissionalização; • sociedade carismática: tendo como predominantes as ideias re- volucionárias, a mística ideológica, a propaganda personalística e as reações emocionais de massa; • sociedade legal, racional ou burocrática: caracterizada pela autoridade racional-legal, que tem como base de obediência as normas burocráticas. Para Weber, a autoridade racional-legal permanece em todas a so- ciedades organizacionais e apresenta-se como modelo. Esse modelo é o modelo burocrático da sociedade organizacional contemporânea. 2.3.4. Vantagens e disfunções da Burocracia As vantagens da burocracia, para Weber (apud RIBEIRO, 2007), são: • racionalidade: relacionado ao alcance dos objetivos da organização; • precisão: na definição do cargo e na operação pelo conhecimen- to exato dos deveres; • rapidez: nas decisões, pois cada um conhece quem e o que deve ser feito, através de canais preestabelecidos; • univocidade de interpretação: garantida pela regulamentação específica e escrita. A informação é dada apenas para quem deve recebê-la, sendo discreta; • uniformidade de rotinas e procedimentos: padronização reduzin- do custos e erros, pois os procedimentos são definidos por escrito; • continuidade de organização: selecionando substitutos para o pessoal que é afastado da organização; • redução de atritos entre pessoas: cada funcionário conhece suas responsabilidades, o seu limite e o dos outros; • constância: os mesmos tipos de decisões devem ser tomadas nas mesmas circunstâncias;• subordinação dos mais novos aos mais antigos: o superior toma decisões que afetam o nível mais baixo; • confiabilidade: o negócio é conduzido de acordo com regras co- nhecidas. As decisões são previsíveis e o processo decisório, por O vídeo Burocracia – Max Weber apresenta alguns aspectos sobre um assunto que enfrentamos em nosso dia a dia, a burocracia, tema esse tratado pelo sociólogo alemão Max Weber. Disponível em: https://www.youtu- be.com/watch?v=PXDKh9_wcGo. Acesso em: 20 jul. 2020. Vídeo https://www.youtube.com/watch?v=PXDKh9_wcGo https://www.youtube.com/watch?v=PXDKh9_wcGo Perspectiva clássica da Administração 35 ser despersonalizado no sentido de excluir sentimentos irracio- nais, elimina a discriminação pessoal; • benefícios sob o prisma das pessoas na organização: o traba- lho é dividido entre as pessoas de maneira ordenada, as quais são treinadas para se tornarem especialistas em seus campos particulares, podendo fazer carreira em função de seu mérito pessoal e competência técnica. Como o comportamento humano nem sempre obedecia à previsi- bilidade esperada por Weber, insuficiências e imperfeições foram se somando, dando origem às disfunções da burocracia. Entre consequências imprevistas e não desejadas, podemos afir- mar que disfunções são anomalias de funcionamento em que se deu muita ênfase aos resultados positivos da organização burocrática, esquecendo-se dos outros aspectos, como as tensões internas, impor- tantes para o contexto geral da organização. Dentre as disfunções po- dem ser citadas: • internalização das regras e apego aos regulamentos (passam de meios a principais objetivos); • excesso de formalismo e de papelada; • resistência às mudanças; • despersonalização do relacionamento; • categorização como base do processo decisório; • superconformidade às rotinas e aos procedimentos; • exibição de sinais de autoridade; • dificuldade no atendimento a clientes e conflitos com o público. Nos dias atuais, a burocracia fixou-se no conceito popular, em que o papelório, a morosidade e a ineficiência impedem soluções rápidas e eficientes. O fato é que a burocracia está extremamente voltada para dentro da organização. Além disso, ela não leva em conta a organização informal e a imprevisibilidade do comportamento humano e das situa- ções da vida cotidiana. Porém, de acordo com os estudos de Weber aqui apresentados, a burocracia é exatamente o oposto. Pelo fato de estar totalmente vol- tada para o interior da empresa, ele acreditava que burocracia é uma organização eficiente por excelência, tendo em vista que explica, deta- lhadamente, como as coisas deverão ser feitas. 36 Teorias da Administração Na verdade, o pensamento de Max Weber sobre a Burocracia não advém de qualquer preocupação prática com a condução das em- presas ou com a apresentação de normas e princípios científicos que viessem a auxiliar os administradores em suas contendas diárias. Sua preocupação era com o sentido das organizações na sociedade moder- na, bem como essas como espaço de observação da modernidade e da racionalização. Ou seja, o interesse de Weber pelas organizações deriva de seu interesse maior em compreender o processo de modernização e racionalização na sociedade, o que atribui ao seu trabalho um caráter bem diferente da maioria dos teóricos da administração. Ainda, a teoria a respeito da Organização Burocrática de Weber é parte constituinte de uma teoria maior da sociedade; assim sendo, é natural tanto que ela se concentre no sentido geral, ao invés das dife- renças particulares, quanto que a sua transposição vulgar para a vida das empresas empobreça-lhe o sentido. Por isso, acredita-se que a Teoria da Burocracia é um dos marcos mais importantes das teorias organizacionais, pois trouxe riqueza sociológica para esse campo, dominado até então pelo pensamento árido de técnicos e administradores emergidos de dentro das organizações. Além disso, em sua origem essencialmente cognitiva, podemos afirmar que a Teoria da Burocracia rompe com o prescritivismo das teorias organizacionais exis- tentes até então (sobretudo da Escola Clássica e Científica). Artigo Para ampliar seus conhecimentos, leia o artigo Rotina de executivos inclui muito tempo perdido, publicado por Lucas Amorim na Revista Exame. O texo reflete os ensinamentos de Taylor e Fayol a respeito da divisão do trabalho e das responsabilidades na empresa. De acordo com esses ensinamentos, os gestores devem dedicar seu tempo para pensar e planejar as atividades da empresa, enquanto os demais operários devem executar as outras tarefas. Até hoje as empresas têm dificuldades para concretizar esse pensamento. Acesso em: 20 jul. 2020. https://exame.abril.com.br/revista-exame/rotina-de-executivos-inclui-muito-tempo-perdido/ https://exame.abril.com.br/revista-exame/rotina-de-executivos-inclui-muito-tempo-perdido/ Perspectiva clássica da Administração 37 CONSIDERAÇÕES FINAIS A abordagem clássica da administração buscou tratar quase que exclusivamente da anatomia da organização formal. Esse modo de abor- dagem foi, segundo nossa concepção e estudos, a primeira tentativa de considerar de forma mais específica os problemas da complexidade organizacional. A perspectiva clássica da administração foi o primeiro esforço significativo de desenvolvimento de uma teoria formal para as modernas organizações industriais. Tradicionalmente, a empresa era vista como um meio racional para realizar metas e objetivos. Embora provavelmente essa visão seja correta o suficiente, ela tende a não perceber os trabalhos e propósitos internos da própria organização. Outra forma de tratar a organização é com uma maneira ou um me- canismo para controlar aquelas forças que desgastam a colaboração humana. Temos que entender que o trabalho depende do que a or- ganização oferece em termos de atividades e resultados, e isso tudo é melhor obtido por meio das organizações. A presente análise da abordagem clássica da administra- ção baseia-se na evolução que as organizações tiveram, a partir destes estudos, que estabeleceram um novo contexto histórico, o qual teve ori- gem nas consequências da Revolução Industrial. Essas consequências trouxeram dois fatores genéricos que podem ter originado a perspectiva clássica da administração: o crescimento desorganizado das empresas, com sua complexidade administrativa, exigindo uma abordagem mais científica para substituir a improvisação e o empirismo então dominan- tes; e a necessidade de aumentar a competência das organizações, no sentido de se obter o melhor rendimento possível de seus recursos para enfrentar a competição que aumentava entre as empresas. Portanto, é necessário se desenvolver novas teorias da Administração que sejam complementares e contemplem a modernidade e a contemporaneidade. 38 Teorias da Administração ATIVIDADES 1. Qual era o objetivo básico da Administração Científica, desenvolvida por Frederick Taylor? 2. De acordo com Fayol, a Administração podia ser definida como a realização das atividades administrativas, concentradas em cinco funções. Que funções eram essas? 3. Embora seja alvo de críticas, a visão burocrática contribuiu com a forma moderna de gerenciar uma empresa. Apresente e exemplifique uma dessas contribuições. REFERÊNCIAS EMERSON, H. Os doze princípios da eficiência. Nova York: The Engineering Magazine Co., 1919. FAYOL, H. Administração industrial e geral. 10. ed. São Paulo: Atlas, 1990. MOTTA, F. C. P. Teoria geral da administração. São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2002. RIBEIRO, R. V. Teorias da administração. Curitiba: IESDE Brasil, 2007. SILVA, R. O. Teorias da administração. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2008. TAYLOR, F. W. The principles of scientific management. Nova York; Londres: Harper & Brothers, 1911. WEBER, M. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Saõ Paulo: Universidade de Brasília; Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 1999. Perspectivahumanística da Administração 39 3 Perspectiva humanística da Administração Na abordagem clássica, que envolve tanto a Administração Científica quanto a Administração Anatômica ou Administrativa, todos os estudos e processos centravam-se na eficiência, pessoal e organizacional. Já na burocracia, centravam-se esforços de pes- quisa no uso de conhecimentos, razoabilidade, regras e procedi- mentos lógicos. Embora fundamentais para o processo administrativo, essas abordagens ignoravam a dimensão humana e social da organiza- ção, apresentando como fundamentos somente as ideias do homo economicus 1 e a necessidade de controlar os aspectos da organi- zação formal dentro de uma visão mecanicista. Contudo, somente a eficiência não é suficiente para o suces- so organizacional, sendo necessário olhar para a organização sob outra ótica, a qual se refere às pessoas. Diante disso, percebeu-se a necessidade de uma abordagem que integre a estrutura organi- zacional formal às relações humanas. Neste capítulo, vamos com- preender essa nova abordagem administrativa e de que modo ela visava entender os processos psicológicos e sociais como influen- ciadores no desempenho do trabalho. O homem, segundo o conceito de homo economicus, ou homem econômico, é um ser capaz de raciocinar, informar-se e centrar-se nele próprio. Esse homem almeja riqueza, evita trabalho desnecessário e é competente para tomar decisões em prol de seus objetivos. 1 3.1 As teorias de transição: integrando as relações humanas à organização formal Vídeo O surgimento da corrente das relações humanas, influenciado pela desumanização do trabalho, foi basicamente um movimento de oposi- ção aos métodos anteriormente propostos. Com base nisso, a ênfase, 40 Teorias da Administração que antes estava somente na tarefa e na estrutura, passa a ser dedica- da também às pessoas. Nesse momento, surge, pela primeira vez, uma perspectiva das organizações voltada às relações humanas, baseando- -se nos conceitos de empowerment e liderança visionária. Nesse novo contexto, os funcionários passam a ser mais participa- tivos na tomada de decisões das organizações, que devem, então, dis- ponibilizar informações para que eles realizem tal tarefa. Antes disso, as teorias organizacionais convencionais desconsideravam a razão substancial essencial às necessidades de evolução e de emancipação humanas. A partir desse momento, a satisfação humana, ou a ênfase nas pessoas, passou a ser considerada importante, dando origem, por- tanto, a uma visão da organização informal 2 . Alguns estudiosos, como Follett e Barnard, dedicaram-se aos estu- dos dessa abordagem, trazendo conceitos bastante essenciais para a compreensão desse tipo de organização. 3.1.1. Os estudos de Mary Parker Follett Mary Parker Follett 3 foi uma estudiosa norte-americana – per- tencente à escola das relações humanas e conhecida como a profe- tisa do gerenciamento – que abordou vários conteúdos relacionados à Administração. Destacou-se em seus estudos por descrever a de- mocracia como um processo dinâmico, por meio do qual os con- flitos e as diferenças individuais deveriam ser negociados, visando ao encontro do consenso geral e perdurável. Dedicou-se, também, aos estudos da motivação humana, partindo de valores individuais e sociais, nos quais abordou uma perspectiva das organizações com base nas relações humanas. Baseando-se no conceito de homo economicus, desenvolvido por pensadores da Administração Científica, Follett afirmava que o desen- volvimento do ser humano somente acontecia quando o encarregavam de responsabilidades. Além disso, dando continuidade aos estudos da escola clássica, a qual afirma que há princípios gerais que podem ser aplicados em qualquer forma de organização, Follett preocupou-se com o estabelecimento de uma abordagem psicológica, concepção fu- turamente estudada pela escola de relações humanas. De acordo com os estudos de Follett, as concepções da psicologia – fundamentais para explicar o comportamento e obter um melhor de- empowerment: termo utilizado na administração de empresas para se referir à descentralização de poderes, proporcionando, aos trabalhadores, uma maior participação e autonomia nas tomadas de decisão e nas res- ponsabilidades de determinada organização. Glossário A organização informal designa o conjunto de relações ou intera- ções que surgem espontanea- mente entre os seus membros e que não são previstas ou formalizadas pela organização formal. Alguns exemplos são os grupos de moto, de caça ou de pesca ou, ainda, o grupo que normalmente almoça junto e cujos membros se relacionam entre si informalmente. 2 Para melhor compreender a singularidade de Follett na teoria administrativa e melhor avaliar a originalidade e o significado de sua contribuição à ciência e à prática da administração, é indispensável analisar as suas concepções a respeito de realida- de social, comparando-as com as de outros autores que foram dominantes no assunto. 3 Perspectiva humanística da Administração 41 sempenho dos trabalhadores – não eram aplicadas adequadamente na administração das empresas. Ainda segundo a autora, as potencialida- des individuais do ser humano permanecem até que sejam liberadas pela vivência em grupo, o que significa que o verdadeiro indivíduo só é compreendido quando organizado em grupo. Com isso, Follett concluiu que a verdade de cada pessoa é a verdade de um grupo (SILVA, 2008) e que, dessa forma, cada um tem direitos dentro de uma sociedade, independentemente se é a favor ou contra ela. Assim, a administração tem como principais responsabilidades integrar as pessoas e coorde- nar as tarefas delas. Considerando que a coordenação era o núcleo da administração, Follett criou quatro princípios democráticos para a função administra- tiva nas organizações: • Coordenação pelo contato direto entre os diversos níveis da organização. • Coordenação do processo de planejamento, envolvendo os parti- cipantes desde o início. • Coordenação pelos relacionamentos recíprocos, em que todas as partes influenciam e são influenciadas por outros. • Coordenação como um processo contínuo, que não deve ter fim. Esses princípios visam preparar os administradores para compreen- der e lidar com situações concretas, porque exploram exatamente a diversidade, a qual compõe a complexidade da vida real, e os procedi- mentos que permitem lidar construtivamente com a divergência, tanto sob o ponto de vista individual quanto organizacional ou social. Além disso, aliando esses princípios democráticos à liderança participativa, a autora transfere o poder, antes voltado apenas às unidades superiores, para o conjunto geral de indivíduos da organização. 3.1.2. Os estudos de Chester Irving Barnard Chester Irving Barnard, conhecido como um pensador do beha- viorismo (comportamentalismo), pertenceu à escola das relações hu- manas e desenvolveu seus estudos nos contextos de autoridade e de liderança, criando a teoria da cooperação apresentada à organização formal. De acordo com Barnard (1971), essa cooperação se desenvolve diante das necessidades biológicas, psicológicas e sociais que os indi- 42 Teorias da Administração víduos têm para cumprir propósitos em uma organização, a qual ele conceitua como um sistema de tarefas ou forças coordenadas racional- mente por dois ou mais indivíduos (WILLIANS, 2010). As concepções do autor, relacionadas às organizações e aos geren- tes, ganharam destaque na área da Administração por ressaltarem uma abordagem mais humana e social, envolvendo conceitos de eficácia, eficiência, equilíbrio dinâmico com o ambiente externo e autogestão. Nesse contexto, a eficácia e a eficiência são competências funda- mentais para que o executivo atinja os objetivos da organização pela qual é responsável e, ao mesmo tempo, alcance os próprios ideais (Figura 1). Desse modo, considerando que a eficácia e a eficiência apre- sentam motivos pessoais e organizacionais, o comportamento
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