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APRESENTAÇÃO DO CURSO Sandra de Mello Carneiro Miranda1 Prezado(a) aluno(a), A disciplina “Direito Ambiental” inaugura a parte especial de nossa especialização em “Gestão Ambiental: Educação, Direito e Análise Ambiental”. A partir de agora, aprofundaremos os principais instrumentos e institutos do Direito Ambiental Brasileiro, descrevendo-os, dentro do possível, de forma crítica e contextualizada com sua realidade prática. Com essa disciplina temos o intuito de orientar a atuação profissional tanto dos operadores do direito, quanto dos gestores ambientais interessados em aprofundar seus conhecimentos na temática jurídico- ambiental. Antes de pormenorizar os temas que a disciplina abrangerá, é válido relembrar alguns conceitos básicos ensinados na disciplina “Fundamentos de Direito Ambiental”, que são indispensáveis para que possamos dar continuidade ao nosso aprendizado sem maiores dificuldades. Inicialmente, devemos ter em mente que a concepção de meio ambiente para o direito não se restringe ao ambiente natural (sistemas vivos, elementos químicos e fenômenos físicos), mas envolve o meio ambiente cultural (como os sítios arqueológicos, as paisagens, as obras de valor artístico, turístico e arquitetônico) e o meio ambiente artificial (equipamentos urbanos p. ex.). O Direito Ambiental se apresenta como o conjunto de normas e princípios que disciplinam e regulamentam toda conduta e atividade humana que altera ou pode alterar as condições de salubridade do meio. Trata-se de uma ciência jurídica que estabelece estreito diálogo com outras áreas do saber na busca de conformar a ação humana com um ideal de preservação que assegure um ambiente suficientemente saudável para o desenvolvimento da vida como um todo, incluindo também as futuras gerações. Nesse sentido, o que o Direito Ambiental objetiva 1 Graduada em Direito pela UFJF, especialista em Direito Constitucional pela UNISUL, mestranda em Direito e Sociologia pela UFF. proteger não é o meio ambiente em si, mas o meio ambiente com qualidade, saudável, essencial à sadia qualidade de vida. Por ser concebido como indispensável para o desenvolvimento humano e social, dentro de uma realidade de risco planetário, o meio ambiente ecologicamente equilibrado é elevado ao posto de direito fundamental, adquirindo o status de um direito que não prescreve e que não se pode dispor ou alienar. Um direito que deve ser assegurado independente do comportamento de seus titulares, pois, muitas vezes, esses abdicam do direito em nome de benefícios pessoais. O Direito ao ambiente saudável assenta-se no topo do ordenamento jurídico brasileiro uma vez assegurado pela Constituição Federal. Outro ponto importante de ser lembrado é a compreensão do direito sobre os bens ambientais – os elementos naturais, os bens de valor histórico-cultural, os ciclos ecológicos, os seres vivos etc. Em sintonia com uma visão holística e integrativa, essa compreensão se dá como bens de “uso comum” ou de interesse coletivo, distinguindo-se das categorias de bens privados e públicos tradicionais. Estamos falando de direitos difusos, ou interesses difusos, direitos de toda coletividade. Mesmo sabendo que uma ação poluidora pode deixar vítimas perfeitamente identificáveis (sujeitos específicos – individuais homogêneos), a mesma poluição pode afetar indiretamente a coletividade, espraiando o rol de sujeitos por toda ela, confirmando o seu caráter difuso. Calcado em uma concepção coletivista e solidarista, o direito ao ambiente saudável figura como um direito-dever, incumbindo uma parcela da responsabilidade da preservação à própria coletividade e não apenas ao Estado. Devemos recordar ainda que vige no Direito Ambiental Brasileiro uma tríplice responsabilização pelo dano ambiental: de caráter preventivo, punitivo e corretivo/reparador. Ou seja, o agente que comete um dano ambiental, seja ele pessoa física ou jurídica, pública ou privada, pode ser responsabilizado penalmente e/ou administrativamente, se agiu com dolo ou culpa para a ocorrência do ilícito. Mas, independente do dolo ou da culpa, é imposta ao agente degradador a obrigação de reparar o dano e indenizar as vítimas desse dano, de acordo com a responsabilidade civil objetiva. Mesmo assim, devemos considerar o velho ditado popular que diz ser “melhor prevenir do que remediar” como algo de grande valor para o Direito Ambiental, visto que a reparação de um dano ambiental, quando possível, é muito complexa, onerosa e pouco eficiente. O ponto de partida da disciplina “Direito ambiental” será a Política Nacional do Meio Ambiente, implementada pela Lei Federal 6.938 de 1981 e pelas legislações posteriores que a modificaram. Recordando, a Política Nacional do Meio Ambiente, além de ser o principal marco para o Direito Ambiental Brasileiro, implementa no nosso país um modelo de gestão ambiental transversal (que perpassa os diversos setores sociais e os diversos campos do saber), descentralizado (que não está submetido a um poder concentrado) e compartilhado (que é aberto à participação da sociedade nos processos decisórios). Cria um Sistema Nacional de Meio Ambiente, o SISNAMA, que tem como finalidade estabelecer um conjunto articulado de órgãos, entidades, regras e práticas responsáveis pela proteção e pela melhoria da qualidade ambiental. Todos os órgãos e entidades da União, dos estados, do Distrito Federal, e dos municípios, bem como as fundações e autarquias instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental, constituem o SISNAMA. A Política Nacional de Meio Ambiente traça diretrizes que permitem compatibilizar as necessidades sociais de produção e desenvolvimento com a necessidade de preservação dos recursos naturais para as presentes e futuras gerações. A Lei 6.938/81 estabelece conceituações substancialmente importantes como as de meio ambiente natural, poluição, poluidor, degradação ambiental e recursos ambientais. Na presente disciplina, serão analisados alguns instrumentos criados no artigo 9º da Lei 6.938/81, quais sejam, o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental, o zoneamento ambiental, a criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo Poder Público e as penalidades disciplinares ou compensatórias não cumprimento das medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental. Além desses instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente serão estudadas a Política Nacional dos Recursos Hídricos, a Política Nacional de Resíduos Sólidos e a Mineração. Bom curso! 1. PADRÕES DE QUALIDADE E ZONEAMENTO AMBIENTAL 1.1 Padrões de Qualidade Ambiental A busca da “compatibilidade” entre o desenvolvimento econômico e social com a necessidade da preservação ambiental requer estimular ou restringir certos procedimentos e práticas sociais, i.e., nortear condutas para atingir o que se preconiza como “ideal” de conservação ambiental ou mesmo para não ultrapassar o que se estipula como “tolerável” de poluição/degradação ambiental. Isso de maneira a não inviabilizar a possibilidade de desenvolvimento, mas ao mesmo tempo mantendo um nível “ótimo” de preservação. Para tanto há a necessidade de se criar parâmetros/medidas que vinculem as práticas e condutas dos atores sociais. Esses parâmetros vão conjugar as concepções de um meioambiente saudável, com qualidade, de acordo com o conhecimento técnico científico e com os valores e necessidades sociais, tornando-os obrigatórios de serem observados. Nesse sentido os padrões de qualidade estabelecidos deverão ser seguidos e respeitados, fixando um nível tolerável de poluição/degradação que quando transgredidos terão configurado o dano ambiental e a possibilidade de o transgressor incorrer na tríplice esfera de responsabilização do Direito Ambiental. Sabemos que as atividades humanas dificilmente atingem um nível zero de degradação/poluição, mas existe aquela poluição/degradação que é vista como tolerável, que não agride de forma significativa o meio ambiente e que não impossibilita sua auto-recuperarão. Por outro lado, o que temos assistido reiteradamente, são atividades cuja poluição/degradação causa profundos males ao meio ambiente e à saúde, atividades que deixam conseqüências, muitas vezes, irreversíveis. Esse grau de poluição/degradação não pode mais ser tolerado nos dias atuais, uma vez que já temos consciência de que os benefícios gerados por essas práticas são muito menores do que os malefícios, assim como são desigualmente distribuídos. Os padrões de qualidade visam estabelecer um controle obrigatório (tem força de lei) dos variados tipos de poluição, mas sem inviabilizar as atividades necessárias ao desenvolvimento e compatíveis com os anseios sociais de qualidade, com o conhecimento científico atual e com o mínimo de riscos para a saúde e para o ambiente. Quando falamos em qualidade ambiental nos atentamos tanto para um estado “objetivo” do meio ambiente, que busca estabelecer aspectos quantitativos, medíveis, como, por exemplo, quanto de uma determinada substância X uma empresa poderá lançar no corpo d’água Y; e um estado “subjetivo” do meio ambiente, que avalia aspectos qualitativos, como valor simbólico, paisagens, beleza cênica etc. Os padrões de qualidade se desenvolveram, de uma forma geral, através de níveis ou graus de qualidade, geralmente formulados numericamente, visando atender certos objetivos. Vamos imaginar um exemplo: suponhamos que se pretende estabelecer um padrão de qualidade para o ar cujo objetivo é permitir a proliferação de liquens nos centros urbanos. Sabemos que os liquens são extremamente sensíveis à poluição atmosférica, logo o padrão estabelecido seria extremamente rígido, impossibilitando ou limitando muito a circulação de automóveis movidos a combustíveis fósseis. No nosso exemplo, apesar de ideal, pois o ar seria extremamente puro e de altíssima qualidade, estaríamos completamente fora da realidade e dificilmente atingiríamos êxito, pelo menos em centros urbanos. Mas se pretendêssemos estabelecer um padrão de qualidade do ar cujo objetivo fosse proteger a “saúde humana”, logo buscaríamos dentro do conhecimento atual quais gases que lançados na atmosfera causam danos à saúde, de que forma e em quais quantidades. Uma vez conhecidos quais gases e quais os efeitos dos mesmos para a saúde, buscaríamos controlá-los, ou seja, estabeleceríamos quanto dos mesmos poderia ser lançado na atmosfera dentro de um nível mínimo ideal ou de um máximo tolerável. De maneira geral, assim funcionam os padrões de qualidade e essa mesma lógica pode se aplicar para a qualidade da água, do solo etc. Os padrões de qualidade são vinculados a determinado estágio do conhecimento técnico e científico e a fatores sociais, econômicos, políticos e culturais. Nesse sentido, duas características se sobressaem: I. Enfoque específico do padrão de qualidade (vinculado a propósitos como, por exemplo, a saúde pública); II. Aceitação social dos níveis e padrões fixados. A aceitabilidade social dos padrões e sua legitimidade democrática se dão pela forma de sua criação. Via de regra, são criados nos conselhos de meio ambiente que comportam múltiplos interesses. Possuem segmentos representativos que vão desde ONG’s ambientalistas até representantes de grandes empresários, além de cientistas, técnicos etc. Em nível federal os padrões de qualidade são estabelecidos pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente – CONAMA, mas também são passíveis de formulação regional, lembrando que não poderão ser mais permissíveis que os padrões fixados em nível federal. Os padrões de qualidade sofrem constantes reavaliações e readaptações de seus valores, seja para acompanhar o avanço do conhecimento, seja para atender aos anseios de uma sociedade cada vez mais consciente de seus direitos e cada vez mais exigente em sua qualidade de vida. A principal conseqüência de se modificar um padrão de qualidade é a necessidade de todos aqueles que estão a ele submetidos serem obrigados a se readaptar ao novo padrão. Não há que se falar em direito adquirido e nem em ato jurídico perfeito diante de uma readaptação do padrão de qualidade. Os padrões de qualidade possuem efeito retroativo e não estar de acordo com eles significa estar poluindo, e conseqüentemente, cometendo um crime previsto na Lei 9.605/98. 1.1.1 Padrões de Qualidade do Ar A preocupação com a poluição atmosférica ganhou visibilidade no Estado brasileiro durante a década de 1970 sobretudo por ter sido um período de descontrolado crescimento industrial, que gerou graves problemas de poluição do ar nas áreas de Cubatão, Contagem, São Paulo, Porto Alegre, etc. A relevância desses problemas despontou em incipientes políticas públicas de controle da poluição atmosférica como a Portaria do Ministério do Interior de nº 231/76 (que visava estabelecer padrões nacionais de qualidade do ar para material particulado, dióxido de enxofre, monóxido de carbono e oxidantes fotoquímicos) e um primeiro programa de controle de poluição veicular com a Resolução CONAMA nº 18/86. Entretanto, o primeiro programa nacional que contemplou fontes fixas de poluição atmosférica foi o Programa Nacional de Controle de Qualidade do Ar — PRONAR, que tinha como objetivo orientar e controlar a poluição atmosférica no país através da fixação de dispositivos de caráter normativo e do estabelecimento de ações de monitoramento atmosférico. A Resolução CONAMA 05/89 que criou o PRONAR teve como estratégia principal estabelecer limites nacionais para as emissões, por tipologia de fontes e poluentes prioritários, reservando o uso dos padrões de qualidade do ar como ação complementar de controle. Posteriormente a Resolução CONAMA 03/1990 ampliou o número de elementos regulamentados pelos parâmetros de qualidade. Podemos dizer que o PRONAR objetiva: a) a melhoria da qualidade do ar, b) o atendimento aos padrões definidos, e c) o não comprometimento de áreas não degradadas (as áreas que não estão poluídas devem permanecer sem poluição). As emissões são limitadas por tipologia de fontes e poluentes prioritários, fixando padrões de qualidade e estabelecendo limites máximos e necessidade de avaliação permanente das ações de controle e dos padrões estabelecidos. Como já foi dito, as avaliações permanentes nos padrões de qualidade são importantes já que o conhecimento avança de forma dinâmica e o que se concebe como inofensivo hoje, pode ser descoberto como prejudicial amanhã. O art. 2º da Resolução CONAMA 03/1990 dá destaque para dois padrões de qualidade do ar: Primários: que são os níveis de poluição que podem afetar a saúde da população quando ultrapassados (níveis máximostolerados – concebidos como metas de curto e médio prazo para serem alcançadas nos centros mais poluídos). Secundários: são níveis abaixo do mínimo efeito adverso previsto para a qualidade ambiental (níveis desejados – metas de longo prazo). Com a Resolução CONAMA 03/1990 são estabelecidos os limites legais da presença de poluentes atmosféricos durante determinado tempo em determinada área (metodologia de avaliação). A elaboração dos parâmetros tem como base estudos toxicológicos e epidemiológicos, sendo definidas as concentrações de poluentes atmosféricos que ultrapassados afetam a saúde e a qualidade ambiental. A resolução traz também a definição de poluente atmosférico: Art. 1º São padrões de qualidade do ar as concentrações de poluentes atmosféricos que, ultrapassadas, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem como ocasionar danos à fl ora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral. Parágrafo único. Entende-se como poluente atmosférico qualquer forma de matéria ou energia com intensidade e em quantidade, concentração, tempo ou características em desacordo com os níveis estabelecidos, e que tornem ou possam tornar o ar: I - impróprio, nocivo ou ofensivo à saúde; II - inconveniente ao bem-estar público; III - danoso aos materiais, à fauna e fl ora. IV - prejudicial à segurança, ao uso e gozo da propriedade e às atividades normais da comunidade. No art 6º a Resolução estabelece os Níveis de Qualidade do Ar para elaboração do Plano de Emergência para Episódios Críticos de Poluição do Ar, visando providências dos governos de estado e dos municípios, assim como de entidades privadas e comunidade geral, com o objetivo de prevenir grave e iminente risco à saúde da população. A Resolução considera Episódio Crítico de Poluição do Ar a presença de altas concentrações de poluentes na atmosfera em curto período de tempo, resultante da ocorrência de condições meteorológicas desfavoráveis à dispersão dos mesmos. Estabelece os Níveis de Atenção, Alerta e Emergência, para a execução do Plano. Na definição de qualquer desses níveis são consideradas concentrações dos seguintes poluentes: dióxido de enxofre, partículas totais em suspensão, produto entre partículas totais em suspensão e dióxido de enxofre, monóxido de carbono, ozônio, partículas inaláveis, fumaça, dióxido de nitrogênio, bem como a previsão meteorológica e os fatos e fatores intervenientes previstos e esperados. As providências a serem tomadas a partir da ocorrência dos Níveis de Atenção e de Alerta têm por objetivo evitar o atingimento do Nível de Emergência. Abaixo quadro que esclarece quando devem ser declarado os níveis de atenção, alerta e emergência considerando a concentração de poluente, a média de horas e a quantidade de microgramas por metro cúbico. Parâmetros Atenção Alerta Emergência partículas totais em suspensão (µg/m3) - 24h 375 625 875 partículas inaláveis (µg/m3) - 24h 250 420 500 fumaça (µg/m3) - 24h 250 420 500 dióxido de enxofre (µg/m3) - 24h 800 1.600 2.100 SO2 X PTS (µg/m3)(µg/m3) - 24h 65.000 261.000 393.000 dióxido de nitrogênio (µg/m3) - 1h 1.130 2.260 3.000 monóxido de carbono (ppm) - 8h 15 30 40 ozônio (µg/m3) – 1h 400* 800 1.000 1.1.2 Padrões de qualidade da água As Resoluções CONAMA 357/2005 e 274/2000 fixam os padrões de qualidade de água, dispondo a primeira sobre enquadramento, condições e padrões de lançamento de efluentes e a segunda dispõe sobre balneabilidade. A Resolução 357/2005 traz as definições de águas doces (água com salinidade ≤ 0,5‰), águas salobras (água com salinidade > 0,5‰ e < 30‰) e águas salinas (água com salinidade ≥ 30‰). As águas doces, salobras e salinas são classificadas em classes segundo a qualidade requerida para os seus usos preponderantes, veja: Art. 4º As águas doces são classificadas em: I - classe especial: águas destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e, c) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. II - classe 1: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e e) à proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. III - classe 2: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e) à aqüicultura e à atividade de pesca. IV - classe 3: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à pesca amadora; d) à recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais. V - classe 4: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística. Art. 5º As águas salinas são assim classificadas: I - classe especial: águas destinadas: a) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; e b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. II - classe 1: águas que podem ser destinadas: a) à recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; b) à proteção das comunidades aquáticas; e c) à aqüicultura e à atividade de pesca. III - classe 2: águas que podem ser destinadas: a) à pesca amadora; e b) à recreação de contato secundário. IV - classe 3: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística. Art. 6º As águas salobras são assim classificadas: I - classe especial: águas destinadas: a) à preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral; e, b) à preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas. II - classe 1: águas que podem ser destinadas: a) à recreação de contato primário, conforme Resolução CONAMA no 274, de 2000; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à aqüicultura e à atividade de pesca; d) ao abastecimento para consumo humano após tratamento convencional ou avançado; e e) à irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rentes ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película, e à irrigação de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto. III - classe 2: águas que podem ser destinadas: a) à pesca amadora; e b) à recreação de contato secundário. IV - classe 3: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística. No seu art. 24 a Resolução 357/2005 determina que os efluentes de qualquer fonte poluidora somente poderão ser lançados, direta ou indiretamente, nos corpos de água, após o devido tratamento e desde que obedeçam às condições, padrões e exigências dispostos nesta Resolução e em outras normas aplicáveis. Acrescenta que o órgãoambiental competente poderá, a qualquer momento, acrescentar outras condições e padrões, ou torná-los mais restritivos, tendo em vista as condições locais, mediante fundamentação técnica; e exigir a melhor tecnologia disponível para o tratamento dos efluentes, compatível com as condições do respectivo curso de água superficial, mediante fundamentação técnica. Excepcionalmente, o órgão ambiental competente poderá autorizar o lançamento de efluente acima das condições e padrões estabelecidos na Resolução, desde que observados os seguintes requisitos: - comprovação de relevante interesse público, devidamente motivado; - atendimento ao enquadramento e às metas intermediárias e finais, progressivas e obrigatórias; - realização de Estudo de Impacto Ambiental-EIA, às expensas do empreendedor responsável pelo lançamento; - estabelecimento de tratamento e exigências para este lançamento; e - fixação de prazo máximo para o lançamento excepcional. A Resolução 357/2005 estabelece também que a disposição de efluentes no solo, mesmo tratados, não poderá causar poluição ou contaminação das águas. Com relação aos critérios de qualidade da água para balneabilidade, previstos na Resolução CONAMA 274/2000 são estabelecidas as categorias: excelente, muito boa, satisfatória (própria) e imprópria. Os parâmetros básicos de avaliação são o número de coliformes fecais (Escherichia coli e Enterococos) e também incidência de enfermidades, presença de resíduos, PH, floração de algas etc. Os órgãos ambientais são responsáveis pela informação ao público sobre as condições de balneabilidade de áreas de lazer como praias, por exemplo. 1.1.3 Proteção da Qualidade do Solo Existem diversas formas de deterioração do solo como poluição, degradação química, erosão, esgotamento etc. Apesar de ser, dentre os recursos ambientais, o mais utilizado pelo homem e, provavelmente, o que sofre diretamente mais agressões, não existe em âmbito nacional uma regulamentação de padrões de qualidade para os solos. Isso torna significativamente mais complexa uma ação eficaz de combate à poluição pelos órgãos ambientais. Não obstante, há por parte da Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT, uma classificação para os resíduos sólidos: ABNT 1:63-02-001: Resíduos Classe I – Perigosos Resíduos Classe II – Não-inertes Resíduos Classe III – Inertes Existem algumas regulamentações correlacionadas que merecem ser mencionadas: • Óleo lubrificante – Resolução CONAMA 362/05, Portaria ANP 127/99 e 128/99; • Pilhas e baterias – Resolução CONAMA 257/99; • Pneus – Resolução CONAMA 258/99; • Embalagem de agrotóxico – Lei 7.802/89, Decreto 4.074/02 e Resolução CONAMA 334/03; • Serviços de Saúde – Resolução ANVISA 306/04; • Construção Civil – Resolução CONAMA 307 (amianto). 1.2 ZONEAMENTO AMBIENTAL O zoneamento ambiental é um importante instrumento da Política Nacional do Meio Ambiente (art. 9º, II, Lei 6.938/81), ainda pouco utilizado, que visa subsidiar os processos de planejamento de uso e ocupação do território e da utilização dos recursos ambientais. Trata-se de um processo de conhecimento do meio ambiente em função do seu ordenamento sendo apresentado pela cartografia de áreas com características homogêneas. 1.2.1 Principais Elementos (zoneamentos ambientais em geral): • Definição de objetivos e da região de estudo; • Definição de prazos e recursos que serão utilizados no estudo; • Identificação dos aspectos ambientais de interesse; • Identificação das metodologias de diagnóstico, interpretação e representação dos dados; • Processamento e interpretação das informações; • Representação cartográfica; • Interação dos dados. 1.3 ZONEAMENTO ECOLÓGICO ECONÔMICO – ZEE O ZEE é regulamentado, em nível federal, pelo Dec. 4.297/2002. Sua definição pode ser extraída do art. 2º do referido decreto como sendo: “instrumento de organização do território a ser obrigatoriamente seguido na implantação de planos, obras e atividades públicas e privadas, estabelece padrões e medidas de proteção ambiental (…) garantindo o desenvolvimento sustentável e a melhoria das condições de vida da população”. O ZEE é um documento técnico legal que abrange aspectos políticos, econômicos, culturais e ecológicos, espacialmente delimitados. Observa tanto a pressupostos técnicos, quanto institucionais. A competência para a elaboração do ZEE é da União (prioritariamente), dos Estados (em escalas regionais e locais, mediante celebração de documento apropriado - convênio) e do município (não é mencionado pelo decreto, mas pode utilizar-se do plano diretor). 1.3.1 Diretrizes Com o ZEE busca-se: • Sustentabilidade ecológica: na distribuição espacial das atividades econômicas devem ser consideradas a importância ecológica, as limitações e a fragilidades dos ecossistemas (decorre em vedações, restrições, alternativas de exploração ou até relocalização de atividades); • Ampla participação democrática; • Valorização do conhecimento multidisciplinar. 1.3.2 Conteúdo • Diagnóstico dos recursos naturais, da socioeconomia e do marco jurídico- institucional; • Informações constantes do Sistema de Informações Geográficas; • Cenários tendenciais e alternativos; • Diretrizes gerais e específicas; • Aprovação do ZEE: Comissão Coordenadora. 2 ESPAÇOS TERRITORIAIS PROTEGIDOS E FLORESTAS No caminhar do Direito Ambiental, assim como no desenvolvimento das políticas ambientais do Estado Brasileiro a segregação do espaço territorial para atender fins específicos foi um aspecto marcante e necessário. Por um lado, determinadas áreas foram qualificadas e destinadas a se tornarem intocáveis, verdadeiras bolhas em meio a outros espaços. Estes, por sua vez, foram entregues aos apetites econômicos de um crescente capitalismo e de uma tradição agrária expansionista que sempre se utilizou da terra à exaustão, deixando para trás um legado de miséria. Se mantivéssemos uma relação com a terra mais harmoniosa, se tivéssemos amor pela nossa terra, provavelmente não seria necessário criar espaços intocáveis, pois saberíamos respeitar as condições e sensibilidades de cada área, como fazem as populações tradicionais, que perduram geração após geração em uma mesma terra, sem precisar tomar novas áreas para sobreviver. Mas na nossa tradição ocidental essa realidade está muito longe de ser alcançada. Precisamos de cada vez mais espaço e cada vez mais crescimento, sem nos importar muito com as limitações que o próprio planeta nos impõe. Diante do nosso modelo cultural, a Lei que cria restrições à utilização de certas áreas ou que cria espaços resguardados de toda e qualquer forma de exploração, senão para fins científicos e educacionais, se faz irrenunciável. São desses espaços que gozam de uma tutela jurídica diferenciada que trataremos no presente capítulo, precisamente aqueles espaços disciplinados pelo Código Florestal, Lei 4.471/65 e pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação, Lei 9.985/2000. Conforme a CF/88, art. 225, § 1º, incumbe ao Poder Público definir espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos em todas as unidades da Federação. A alteração e a supressão desses espaços são permitidas somente através de lei, e é vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. Se tomarmos o sentido da expressão “Espaços Territoriais Especialmente Protegidos”– ETEP’s – perceberemos que ela é imprecisa, podendo abranger qualquer espaço que goze de alguma proteção diferenciada. A expressão num sentido amplo poderia englobar qualquer espaço de interesse ambiental, como uma Reserva Biológica, ou uma Área de Preservação Permanente – APP ou uma Reserva Legal. No entanto, em sentido estrito, o termo se limita exclusivamente às Unidades de Conservação – UC’s, espaços territoriais tutelados pela Lei 9.985/00, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. Esse entendimento é possível pelo fato de que nesses espaços territoriais “a alteração e a supressão” são “permitidas somente através de lei”, o que não ocorre com os demais espaços territoriais de interesse ambiental que não são abrangidos pelo SNUC. Por isso, precisamos travar aqui um acordo semântico: quando falamos em espaços territoriais protegidos em sentido estrito, estamos falando daqueles tutelados pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação; quando falamos em sentido amplo, englobamos os demais espaços protegidos por outros diplomas legais. 2.1 CÓDIGO FLORESTAL Os primeiros espaços protegidos que vamos estudar são aqueles tutelados pelo Código Florestal, Lei 4.771 de 1965, com diversos artigos alterados pela Lei 7.803 de 1989 e modificações efetuadas pela MP 2.166-67/2001. Muito em pauta nas discussões atuais, sofrendo fortes pressões políticas por parte dos ruralistas para que seja modificado (pelas restrições que impõe à fruição da propriedade), o Código Florestal foi um precursor na concepção do meio ambiente como bem de uso comum de todos, ou seja, da noção de interesse difuso. Através dele as florestas existentes no território nacional e as demais formas de vegetação passaram a ser consideradas como bens de interesse comum a todos os habitantes do País. Por resguardar a utilização de certas áreas por suas características, o Código Florestal exerce uma limitação ao usufruto da propriedade privada. Essas restrições ligam-se diretamente à função social e ambiental da propriedade. Isso acarreta que a não observação do Código Florestal representa o uso nocivo da propriedade, pois, se as florestas e demais formas de vegetação são bens públicos e essenciais à manutenção do equilíbrio dos ecossistemas, a utilização da terra que não considera as restrições da lei é uma utilização que degrada o solo e prejudica a todos. I.1.1 Áreas de Preservação Permanentes – APP Conforme art.1º, II, Lei 4.771/65, área de preservação permanente é a área protegida nos termos dos arts. 2º e 3º desta Lei, coberta ou não por vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a paisagem, a estabilidade geológica, a biodiversidade, o fluxo gênico de fauna e flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas A APP é um espaço territorial em que a floresta ou a vegetação devem estar presentes ou devem ser plantadas. O proprietário da terra que possui em sua propriedade áreas que caracterizam APP’s, ainda que sem a devida vegetação, não terá estas áreas descaracterizadas e, relembrando a idéia de passivo ambiental, essa situação fica ad eternum até que ele resolva recuperar a área. Isso quer dizer que o Estado tem o direito de cobrar desse hipotético proprietário de terra a reparação de suas APP’s em qualquer tempo. Ou seja, ainda que pereça ou se retire a floresta, a área não perderá sua vocação florestal. A vegetação, ainda que não seja nativa, e o próprio espaço territorial são os objetos de proteção e se não está presente deverá ser plantada. Podemos mencionar duas modalidades de APP: 1) área de preservação permanente por imposição legal que existem só pelo efeito da lei, bastando que uma suposta área possua as características arroladas no artigo 2º da Lei 4771/65: Art. 2° Consideram-se de preservação permanente, pelo só efeito desta Lei, as florestas e demais formas de vegetação natural situadas: a) ao longo dos rios ou de qualquer curso d'água desde o seu nível mais alto em faixa marginal cuja largura mínima será: 1 - de 30 (trinta) metros para os cursos d'água de menos de 10 (dez) metros de largura; 2 - de 50 (cinquenta) metros para os cursos d'água que tenham de 10 (dez) a 50 (cinquenta) metros de largura 3 - de 100 (cem) metros para os cursos d'água que tenham de 50 (cinquenta) a 200 (duzentos) metros de largura; 4 - de 200 (duzentos) metros para os cursos d'água que tenham de 200 (duzentos) a 600 (seiscentos) metros de largura; 5- de 500 (quinhentos) metros para os cursos d'água que tenham largura superior a 600 (seiscentos) metros; b) ao redor das lagoas, lagos ou reservatórios d'água naturais ou artificiais; c) nas nascentes, ainda que intermitentes e nos chamados "olhos d'água", qualquer que seja a sua situação topográfica, num raio mínimo de 50 (cinquenta) metros de largura; d) no topo de morros, montes, montanhas e serras; e) nas encostas ou partes destas, com declividade superior a 45°, equivalente a 100% na linha de maior declive; f) nas restingas, como fixadoras de dunas ou estabilizadoras de mangues; g) nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em faixa nunca inferior a 100 (cem) metros em projeções horizontais; h) em altitude superior a 1.800 (mil e oitocentos) metros, qualquer que seja a vegetação. Parágrafo único. No caso de áreas urbanas, assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, em todo o território abrangido, obervar-se-á o disposto nos respectivos planos diretores e leis de uso do solo, respeitados os princípios e limites a que se refere este artigo 2) área de preservação permanente por ato do Poder Público que depende de um ato declaratório (ato administrativo ou lei) do Poder Público federal, estadual ou municipal. A segunda categoria está prevista no artigo 3º da Lei 4771/65: Art. 3º Consideram-se, ainda, de preservação permanentes, quando assim declaradas por ato do Poder Público, as florestas e demais formas de vegetação natural destinadas: a) a atenuar a erosão das terras; b) a fixar as dunas; c) a formar faixas de proteção ao longo de rodovias e ferrovias; d) a auxiliar a defesa do território nacional a critério das autoridades militares; e) a proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico ou histórico; f) a asilar exemplares da fauna ou flora ameaçados de extinção; g) a manter o ambiente necessário à vida das populações silvícolas; h) a assegurar condições de bem-estar público. § 1° A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida com prévia autorização do Poder Executivo Federal, quando for necessária à execução de obras, planos, atividades ou projetos de utilidade pública ou interesse social. § 2º As florestas que integram o Patrimônio Indígena ficam sujeitas ao regime de preservação permanente (letra g) pelo só efeito desta Lei OBS: Quanto à segunda categoria de APP’s podemos dizer que, em sua implementação, são menos usuais tornarem-se APP’s, sobretudo para aquelas áreas que assumem as características das alienas e) até h), pois, via de regra, para áreas que assumem essas características são implementadas Unidades de Conservação, conforme a Lei 9.985/2000. Supressão vegetal em APP A supressão total ou parcial de florestas de preservação permanente só será admitida em caso de execução de obras, planos, atividadesou projetos de utilidade pública ou interesse social devidamente caracterizados e motivados. Ou seja, nessas áreas, em regra, não se pode retirar a vegetação que deve permanecer intacta, salvo motivos plenamente justificados e que assumem característica de utilidade pública ou interesse social. E ainda, para a autorização de supressão vegetal em APP, que depende do órgão ambiental competente, deve inexistir alternativa técnica e locacional para a atividade de interesse social ou utilidade pública. São exemplos de atividades de interesse social: a) atividades imprescindíveis à proteção de integridade da vegetação nativa; b) as medidas com o fim de prevenir ou erradicar pragas e doenças que afetem a vegetação florestal; c) as atividades de manejo agroflorestal sustentável. São exemplos de atividades de utilidade pública: a) atividades de segurança nacional e proteção sanitária; b) obras essenciais de infra-estrutura destinadas aos serviços públicos; c) estradas, vias, pontes etc. Cabe mencionar, também, que qualquer árvore poderá ser declarada imune de corte, mediante ato do Poder Público, por motivo de sua localização, raridade, beleza ou condição de porta-sementes Em caso de reforma agrária, não devem ser incluídas as áreas florestadas de preservação permanente de que trata o Código Florestal, nem as florestas necessárias ao abastecimento local ou nacional de madeiras e outros produtos florestais. As florestas de propriedade particular, enquanto indivisas com APP’s, ficam subordinadas às disposições que vigorarem para as APP’s. Não é permitida a derrubada de florestas, situadas em áreas de inclinação entre 25 a 45 graus, só sendo nelas tolerada a extração de toros, quando em regime de utilização racional, que vise a rendimentos permanentes, ressalvado os casos em que o órgão ambiental autorize motivadamente. Nas terras de propriedade privada, onde seja necessário o florestamento ou o reflorestamento de preservação permanente, o Poder Público Federal poderá fazê- lo sem desapropriá-las, se não o fizer o proprietário. Se tais áreas estiverem sendo utilizadas com culturas, de seu valor deverá ser indenizado o proprietário. As áreas assim utilizadas pelo Poder Público Federal ficam isentas de tributação. 2.1.2 Reserva Legal Florestal - RLF Em uma propriedade rural pode-se utilizar ou suprimir as florestas e outras formas de vegetação nativa, ressalvadas as situadas em área de preservação permanente, assim como aquelas sujeitas ao regime de utilização limitada ou objeto de legislação específica (como Mata Atlântica, p. ex.), desde que seja mantido um percentual determinado em lei de acordo com a região. Para esse percentual designamos o termo de Reserva Lega Florestal. Ou seja, conforme a própria Lei 4.771/65, no art. 1º, III: Reserva Legal: área localizada no interior de uma propriedade ou posse rural, excetuada a de preservação permanente, necessária ao uso sustentável dos recursos naturais, à conservação e reabilitação dos processos ecológicos, à conservação da biodiversidade e ao abrigo e proteção de fauna e flora nativas. Conforme se vê, a Reserva Legal, que não pode ter computada para sua implementação as APP’s, deve ser adequada à tríplice função da propriedade: 1 – econômica: possibilita a utilização por manejo florestal sustentável; 2 – social: preservação das condições ambientais (fertilidade dos solos, recursos hídricos, equilíbrio térmico etc.) para as futuras gerações; 3 – ambiental: preservação da fauna e flora nativas de uma dada região. A lei prevê, no art. 16, um percentual de Reserva Legal que deve ser mantido de acordo com a região geográfica ou bioma específico. Esse percentual deve ser, de no mínimo: 80% na propriedade rural situada em área de floresta localizada na Amazônia Legal2; 35% na propriedade rural situada em área de cerrado localizada na Amazônia Legal, (sendo no mínimo 20%na propriedade e 15% na forma de compensação em outra área, desde que esteja localizada na mesma microbacia, e seja averbada nos termos do § 7º deste artigo); 20% na propriedade rural situada em área de floresta ou outras formas de vegetação nativa localizada nas demais regiões do País; e 20% na propriedade rural em área de campos gerais localizada em qualquer região do País. Essa porcentagem pode ser reduzida ou aumentada nas hipóteses previstas no § 5º do art. 16. São características da Reserva Legal Florestal: 2 Segundo o art. 1º, § 2º, IV, entende-se por “Amazônia Legal: os Estados do Acre, Pará, Amazonas, Roraima, Rondônia, Amapá e Mato Grosso e as regiões situadas ao norte do paralelo 13o S, dos Estados de Tocantins e Goiás, e ao oeste do meridiano de 44o W, do Estado do Maranhão”. 2. Inalterabilidade relativa à destinação: quer dizer que a reserva legal não pode ser destinada a outro fim que não o de ser Reserva Legal Art. 16 (...) § 8o A área de reserva legal deve ser averbada à margem da inscrição de matrícula do imóvel, no registro de imóveis competente, sendo vedada a alteração de sua destinação, nos casos de transmissão, a qualquer título, de desmembramento ou de retificação da área, com as exceções previstas neste Código. 3. Regime de manejo florestal sustentado: pode-se utilizar desde que de forma sustentável. Art. 16 (...) § 2o A vegetação da reserva legal não pode ser suprimida, podendo apenas ser utilizada sob regime de manejo florestal sustentável, de acordo com princípios e critérios técnicos e científicos estabelecidos no regulamento, ressalvadas as hipóteses previstas no § 3o deste artigo, sem prejuízo das demais legislações específicas. § 3o Para cumprimento da manutenção ou compensação da área de reserva legal em pequena propriedade ou posse rural familiar, podem ser computados os plantios de árvores frutíferas ornamentais ou industriais, compostos por espécies exóticas, cultivadas em sistema intercalar ou em consórcio com espécies nativas. 4. Gratuidade da constituição da Reserva Legal: não cabe indenização ao proprietário. Art. 16, § 9o “A averbação da reserva legal da pequena propriedade ou posse rural familiar é gratuita, devendo o Poder Público prestar apoio técnico e jurídico, quando necessário.” 5. Aprovação da Reserva Legal Florestal pelo órgão ambiental competente. Art. 16 (...) § 4o A localização da reserva legal deve ser aprovada pelo órgão ambiental estadual competente ou, mediante convênio, pelo órgão ambiental municipal ou outra instituição devidamente habilitada, devendo ser considerados, no processo de aprovação, a função social da propriedade, e os seguintes critérios e instrumentos, quando houver: I - o plano de bacia hidrográfica; II - o plano diretor municipal; III - o zoneamento ecológico-econômico; IV - outras categorias de zoneamento ambiental; e V - a proximidade com outra Reserva Legal, Área de Preservação Permanente, unidade de conservação ou outra área legalmente protegida. 6. Isenção de Imposto Territorial Rural sobre a área da reserva e de preservação permanente. Cabe mencionar por fim que pode ser instituída reserva legal em regime de condomínio. Art. 16(...) § 11. Poderá ser instituída reserva legal em regime de condomínio entre mais de uma propriedade, respeitado o percentual legal em relação a cada imóvel, mediante a aprovação do órgão ambiental estadual competente e as devidas averbações referentes a todos os imóveis envolvidos. Mata Atlântica A Mata Atlântica desenvolve-se ao longo da costabrasileira, do Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte. É regulada pela Lei 11.428/2006. Após 14 anos de tramitação a Lei da Mata Atlântica foi à sanção presidencial com potencial para por freio a um ciclo de séculos de devastação, trazendo em seu escopo um conteúdo moderno. Com mecanismos de racionalização econômica, a nova lei permite que proprietários de terra com áreas remanescentes superiores aos 20% de Reserva Legal vendam ou arrendem o excedente a outros proprietários que não atingiram as cotas necessárias (mecanismos de Servidão Ambiental). Assim, o detentor de passivos ambientais poderá adquirir áreas preservadas necessárias para doação ao poder público ficando quite com a obrigação legal. Conforme art. 8º o corte, a supressão e a exploração da vegetação do Bioma Mata Atlântica far-se-ão de maneira diferenciada, conforme se trate de vegetação primária ou secundária, nesta última levando-se em conta o estágio de regeneração. A Lei veda o corte e a supressão de vegetação primária ou nos estágios médio e avançado de regeneração do Bioma Mata Atlântica quando: Art. 11(...) I - a vegetação: a) abrigar espécies da flora e da fauna silvestres ameaçadas de extinção, em território nacional ou em âmbito estadual, assim declaradas pela União ou pelos Estados, e a intervenção ou o parcelamento puserem em risco a sobrevivência dessas espécies; b) exercer a função de proteção de mananciais ou de prevenção e controle de erosão; c) formar corredores entre remanescentes de vegetação primária ou secundária em estágio avançado de regeneração; d) proteger o entorno das unidades de conservação; ou e) possuir excepcional valor paisagístico, reconhecido pelos órgãos executivos competentes do Sistema Nacional do Meio Ambiente - SISNAMA; II - o proprietário ou posseiro não cumprir os dispositivos da legislação ambiental, em especial as exigências da Lei nº 4.771, de 15 de setembro de 1965, no que respeita às Áreas de Preservação Permanente e à Reserva Legal. No art. 12, a Lei determina que os novos empreendimentos que impliquem o corte ou a supressão de vegetação do Bioma Mata Atlântica deverão ser implantados preferencialmente em áreas já substancialmente alteradas ou degradadas. Conforme dispõe o Código Florestal para as APP’s, o art. 14 da Lei 11.428/06, traz conteúdo similar para a supressão de vegetação primária e secundária no estágio avançado de regeneração. Esta somente poderá ser autorizada em caso de utilidade pública, sendo que a vegetação secundária em estágio médio de regeneração poderá ser suprimida nos casos de utilidade pública e interesse social, em todos os casos devidamente caracterizados e motivados em procedimento administrativo próprio, quando inexistir alternativa técnica e locacional ao empreendimento proposto. É importante a exigência de EIA/RIMA, prevista no art. 15: Art. 15. Na hipótese de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, o órgão competente exigirá a elaboração de Estudo Prévio de Impacto Ambiental, ao qual se dará publicidade, assegurada a participação pública. Com relação às áreas urbanas e metropolitanas a supressão de vegetação é regulada pelos artigos 30 e 31. 2.2 SISTEMA NACIONAL DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO A Lei 9.985/2000 regulamenta o art. 225, § 1º, incisos I, II, III e VII da Constituição Federal e institui o Sistema Nacional de Unidades de Conservação da Natureza. Ao instituir o SNUC, essa Lei estabelece critérios e normas para a criação, implantação e gestão das unidades de conservação. O conceito de Unidades de Conservação é previsto no seu art. 2º, I, desmembrado abaixo: • Espécies de espaços territoriais especialmente protegidos • Características naturais relevantes • Legalmente instituídos • Objetivo de conservação • Limites definidos • Regime especial de proteção e conservação. O SNUC separou as unidades de conservação em duas categorias: Unidades de Proteção Integral e Unidades de Uso Sustentável. O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral é preservar a natureza. Em regra, só é admitido o uso indireto de seus recursos naturais (como pesquisas e visitas). O uso direto (como consumo) só é admitido nas exceções legais. Nas as Unidades de Uso Sustentável a intensidade da proteção é menor, sendo permitido o uso direto dos recursos naturais. Têm como objetivo compatibilizar a conservação da natureza com o uso sustentável de parcela dos seus recursos naturais. Unidades de Conservação de Proteção Integral: 1 Estação Ecológica: (Art.9º) Tem como objetivo a preservação da natureza e a realização de pesquisas científicas. A Estação Ecológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. É proibida a visitação pública, exceto quando com objetivo educacional, de acordo com o que dispuser o Plano de Manejo da unidade ou regulamento específico. A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas. Na Estação Ecológica só podem ser permitidas alterações dos ecossistemas no caso de: I - medidas que visem à restauração de ecossistemas modificados; II - manejo de espécies com o fim de preservar a diversidade biológica; III - coleta de componentes dos ecossistemas com finalidades científicas; IV - pesquisas científicas cujo impacto sobre o ambiente seja maior do que aquele causado pela simples observação ou pela coleta controlada de componentes dos ecossistemas, em uma área correspondente a no máximo 3% da extensão total da unidade e até o limite de 1500 hectares. 2 Reserva Biológica (Art. 10) Tem como objetivo a preservação integral da biota e demais atributos naturais existentes em seus limites, sem interferência humana direta ou modificações ambientais, excetuando-se as medidas de recuperação de seus ecossistemas alterados e as ações de manejo necessárias para recuperar e preservar o equilíbrio natural, a diversidade biológica e os processos ecológicos naturais. A Reserva Biológica é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. É proibida a visitação pública, exceto aquela com objetivo educacional, de acordo com regulamento específico. A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. OBS: Enquanto a Estação ecológica pode ter até 3% da sua área modificada para pesquisa científica, A reserva biológica dever ter 100% preservada. 3 Parques Nacionais (Art. 11.) São criados pela União. Têm como objetivo básico a preservação de ecossistemas naturais de grande relevância ecológica e beleza cênica, possibilitando a realização de pesquisas científicas e o desenvolvimento de atividades de educação e interpretação ambiental, de recreação em contato com a natureza e de turismo ecológico. O Parque Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites serão desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsávelpor sua administração A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas, bem como àquelas previstas em regulamento. As unidades dessa categoria, quando criadas pelo Estado ou Município, serão denominadas, respectivamente, Parque Estadual e Parque Natural Municipal. 4 Monumento Natural (Art. 12.) Tem como objetivo básico preservar sítios naturais raros, singulares ou de grande beleza cênica. O Monumento Natural pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Monumento Natural com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. A visitação pública está sujeita às condições e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração e àquelas previstas em regulamento. OBS: Segundo MILARÉ (2007) tendo sido admitido em sua área a existência de propriedades particulares e o desenvolvimento de atividades econômicas utilizadoras de recursos naturais, deveriam ter sido classificados entre as unidades de uso sustentável. 5 Refúgio de Vida Silvestre: (Art. 13.) Tem como objetivo proteger ambientes naturais onde se asseguram condições para a existência ou reprodução de espécies ou comunidades da flora local e da fauna residente ou migratória. O Refúgio de Vida Silvestre pode ser constituído por áreas particulares, desde que seja possível compatibilizar os objetivos da unidade com a utilização da terra e dos recursos naturais do local pelos proprietários. Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas ou não havendo aquiescência do proprietário às condições propostas pelo órgão responsável pela administração da unidade para a coexistência do Refúgio de Vida Silvestre com o uso da propriedade, a área deve ser desapropriada, de acordo com o que dispõe a lei. A visitação pública está sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da unidade, às normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração, e àquelas previstas em regulamento. A pesquisa científica depende de autorização prévia do órgão responsável pela administração da unidade e está sujeita às condições e restrições por este estabelecidas. OBS: Segundo MILARÉ (2007) tendo sido admitido em sua área a existência de propriedades particulares e o desenvolvimento de atividades econômicas utilizadoras de recursos naturais, deveriam ter sido classificados entre as unidades de uso sustentável. Unidades de Conservação de Uso Sustentável: 1 Área de Proteção Ambiental - APA (Art. 15.) É uma área em geral extensa, com um certo grau de ocupação humana, dotada de atributos abióticos, bióticos, estéticos ou culturais especialmente importantes para a qualidade de vida e o bem-estar das populações humanas e tem como objetivos básicos proteger a diversidade biológica, disciplinar o processo de ocupação e assegurar a sustentabilidade do uso dos recursos naturais. A Área de Proteção Ambiental é constituída por terras públicas ou privadas. Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Proteção Ambiental. As condições para a realização de pesquisa científica e visitação pública nas áreas sob domínio público serão estabelecidas pelo órgão gestor da unidade. Nas áreas sob propriedade privada, cabe ao proprietário estabelecer as condições para pesquisa e visitação pelo público, observadas as exigências e restrições legais. A Área de Proteção Ambiental dispõe de um Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da população residente, conforme se dispõe no regulamento desta Lei, o Decreto nº 4.340, de 2002 . 2 Área de Relevante Interesse Ecológico - ARIE (Art. 16.) É uma área em geral de pequena extensão, com pouca ou nenhuma ocupação humana, com características naturais extraordinárias ou que abriga exemplares raros da biota regional, e tem como objetivo manter os ecossistemas naturais de importância regional ou local e regular o uso admissível dessas áreas, de modo a compatibilizá- lo com os objetivos de conservação da natureza. A Área de Relevante Interesse Ecológico é constituída por terras públicas ou privadas. Respeitados os limites constitucionais, podem ser estabelecidas normas e restrições para a utilização de uma propriedade privada localizada em uma Área de Relevante Interesse Ecológico. 3 Floresta Nacional (Art.17.) É uma área com cobertura florestal de espécies predominantemente nativas e tem como objetivo básico o uso múltiplo sustentável dos recursos florestais e a pesquisa científica, com ênfase em métodos para exploração sustentável de florestas nativas. A Floresta Nacional é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. Nas Florestas Nacionais é admitida a permanência de populações tradicionais que a habitam quando de sua criação, em conformidade com o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. A visitação pública é permitida, condicionada às normas estabelecidas para o manejo da unidade pelo órgão responsável por sua administração. A pesquisa é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e àquelas previstas em regulamento. A Floresta Nacional disporá de um Conselho Consultivo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e, quando for o caso, das populações tradicionais residentes. A unidade desta categoria, quando criada pelo Estado ou Município, será denominada, respectivamente, Floresta Estadual e Floresta Municipal. 4 Reserva Extrativista (Art.18.) É uma área utilizada por populações extrativistas tradicionais, cuja subsistência baseia-se no extrativismo e, complementarmente, na agricultura de subsistência e na criação de animais de pequeno porte, e tem como objetivos básicos proteger os meios de vida e a cultura dessas populações, e assegurar o uso sustentável dos recursos naturais da unidade. A Reserva Extrativista é de domínio público, com uso concedido às populações extrativistas tradicionais, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. A Reserva Extrativista será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. A visitação pública é permitida, desde que compatível com os interesseslocais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área. A pesquisa científica é permitida e incentivada, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento. O Plano de Manejo da unidade será aprovado pelo seu Conselho Deliberativo. São proibidas a exploração de recursos minerais e a caça amadorística ou profissional. A exploração comercial de recursos madeireiros só será admitida em bases sustentáveis e em situações especiais e complementares às demais atividades desenvolvidas na Reserva Extrativista, conforme o disposto em regulamento e no Plano de Manejo da unidade. 5 Reserva de Fauna (Art.19.) É uma área natural com populações animais de espécies nativas, terrestres ou aquáticas, residentes ou migratórias, adequadas para estudos técnico-científicos sobre o manejo econômico sustentável de recursos faunísticos. A Reserva de Fauna é de posse e domínio públicos, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser desapropriadas de acordo com o que dispõe a lei. A visitação pública pode ser permitida, desde que compatível com o manejo da unidade e de acordo com as normas estabelecidas pelo órgão responsável por sua administração. É proibido o exercício da caça amadorística ou profissional. A comercialização dos produtos e subprodutos resultantes das pesquisas obedecerá ao disposto nas leis sobre fauna e regulamentos. 6 Reserva de Desenvolvimento Sustentável (Art. 20) é uma área natural que abriga populações tradicionais, cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidos ao longo de gerações e adaptados às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável tem como objetivo básico preservar a natureza e, ao mesmo tempo, assegurar as condições e os meios necessários para a reprodução e a melhoria dos modos e da qualidade de vida e exploração dos recursos naturais das populações tradicionais, bem como valorizar, conservar e aperfeiçoar o conhecimento e as técnicas de manejo do ambiente, desenvolvido por estas populações. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável é de domínio público, sendo que as áreas particulares incluídas em seus limites devem ser, quando necessário, desapropriadas, de acordo com o que dispõe a lei. A Reserva de Desenvolvimento Sustentável será gerida por um Conselho Deliberativo, presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes de órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e das populações tradicionais residentes na área, conforme se dispuser em regulamento e no ato de criação da unidade. As atividades desenvolvidas na Reserva de Desenvolvimento Sustentável obedecerão às seguintes condições: I - é permitida e incentivada a visitação pública, desde que compatível com os interesses locais e de acordo com o disposto no Plano de Manejo da área; II - é permitida e incentivada a pesquisa científica voltada à conservação da natureza, à melhor relação das populações residentes com seu meio e à educação ambiental, sujeitando-se à prévia autorização do órgão responsável pela administração da unidade, às condições e restrições por este estabelecidas e às normas previstas em regulamento; III - deve ser sempre considerado o equilíbrio dinâmico entre o tamanho da população e a conservação; e IV - é admitida a exploração de componentes dos ecossistemas naturais em regime de manejo sustentável e a substituição da cobertura vegetal por espécies cultiváveis, desde que sujeitas ao zoneamento, às limitações legais e ao Plano de Manejo da área. O Plano de Manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável definirá as zonas de proteção integral, de uso sustentável e de amortecimento e corredores ecológicos, e será aprovado pelo Conselho Deliberativo da unidade. 7 Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN (Art. 21) é uma área privada, gravada com perpetuidade, com o objetivo de conservar a diversidade biológica. O gravame de que trata este artigo constará de termo de compromisso assinado perante o órgão ambiental, que verificará a existência de interesse público, e será averbado à margem da inscrição no Registro Público de Imóveis. Só poderá ser permitida, na Reserva Particular do Patrimônio Natural, conforme se dispuser em regulamento: I - a pesquisa científica; II - a visitação com objetivos turísticos, recreativos e educacionais; Os órgãos integrantes do SNUC, sempre que possível e oportuno, prestarão orientação técnica e científica ao proprietário de Reserva Particular do Patrimônio Natural para a elaboração de um Plano de Manejo ou de Proteção e de Gestão da unidade. Principais aspectos jurídicos das Unidades de Conservação • Criação, Alteração e Supressão Conforme art. 22, as unidades de conservação são criadas por ato do Poder Público, que pode ser um decreto, p. ex.. Não é necessário lei específica. A criação de uma unidade de conservação deve ser precedida de estudos técnicos e de consulta pública que permitam identificar a localização, a dimensão e os limites mais adequados para a unidade. Neste processo de consulta, o Poder Público é obrigado a fornecer informações adequadas e inteligíveis à população local e a outras partes interessadas. Não é obrigatória a consulta pública nas Estação Ecológica ou Reserva Biológica. Conforme o § 5° do art. 22, as unidades de conservação do grupo de Uso Sustentável podem ser transformadas total ou parcialmente em unidades do grupo de Proteção Integral, por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade (se for uma lei que criou a UC, deverá ser uma lei, se for um decreto, poderá ser um decreto), desde que obedecidos os procedimentos de consulta. • Desafetação e modificação dos seus limites Conforme o § 6º do art. 22, a ampliação dos limites de uma unidade de conservação, sem modificação dos seus limites originais, exceto pelo acréscimo proposto, pode ser feita por instrumento normativo do mesmo nível hierárquico do que criou a unidade, desde que obedecidos os procedimentos de consulta. Contudo, conforme o § 7º do referido artigo, a desafetação (incorporação ao domínio privado) ou redução dos limites de uma unidade de conservação só pode ser feita mediante lei específica, ainda que a mesma tenha sido criada por decreto. • Compensação do dano ambiental Conforme art. 36, nos casos de licenciamento ambiental de empreendimentos de significativo impacto ambiental, assim considerado pelo órgão ambiental competente, com fundamento em estudo de impacto ambiental e respectivo relatório - EIA/RIMA, o empreendedor é obrigado a apoiar a implantação e manutenção de unidade de conservação do Grupo de Proteção Integral, de acordo com o disposto abaixo: - O montante de recursos a ser destinado pelo empreendedor para esta finalidade não pode ser inferior a 0,5% dos custos totais previstos para a implantação do empreendimento, sendo o percentual fixado pelo órgão ambiental licenciador, de acordo com o grau de impacto ambiental causado pelo empreendimento. - Ao órgão ambiental licenciador compete definir as unidades de conservação a serem beneficiadas, considerando as propostas apresentadas no EIA/RIMA e ouvido o empreendedor,podendo inclusive ser contemplada a criação de novas unidades de conservação. - Quando o empreendimento afetar unidade de conservação específica ou sua zona de amortecimento, o licenciamento do empreendimentos de significativo impacto ambiental só poderá ser concedido mediante autorização do órgão responsável por sua administração, e a unidade afetada, mesmo que não pertencente ao Grupo de Proteção Integral, deverá ser uma das beneficiárias da compensação definida neste artigo. • Plano de Manejo Plano de manejo é o documento técnico mediante o qual, com fundamento nos objetivos gerais de uma unidade de conservação, se estabelece o seu zoneamento e as normas que devem presidir o uso da área e o manejo dos recursos naturais, inclusive a implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade. Conforme o art. 27, as unidades de conservação devem dispor de um Plano de Manejo e este deve abranger a área da unidade de conservação, sua zona de amortecimento e os corredores ecológicos, incluindo medidas com o fim de promover sua integração à vida econômica e social das comunidades vizinhas. Na elaboração, atualização e implementação do Plano de Manejo das Reservas Extrativistas, das Reservas de Desenvolvimento Sustentável, das Áreas de Proteção Ambiental e, quando couber, das Florestas Nacionais e das Áreas de Relevante Interesse Ecológico, será assegurada a ampla participação da população residente (Acreditamos ser um equívoco não contemplar a participação pública nos planos de manejo das demais UC’s). Conforme o § 3º do art. 27, o Plano de Manejo de uma unidade de conservação deve ser elaborado no prazo de cinco anos a partir da data de sua criação. E, conforme o art. 28, são proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos. Até que seja elaborado o Plano de Manejo, todas as atividades e obras desenvolvidas nas unidades de conservação de proteção integral devem se limitar àquelas destinadas a garantir a integridade dos recursos que a unidade objetiva proteger, assegurando-se às populações tradicionais porventura residentes na área as condições e os meios necessários para a satisfação de suas necessidades materiais, sociais e culturais. • Zona de Amortecimento e Corredores Ecológicos Zona de Amortecimento é o entorno de uma unidade de conservação, onde as atividades humanas estão sujeitas a normas e restrições específicas, com o propósito de minimizar os impactos negativos sobre a unidade. Corredores Ecológicos são porções de ecossistemas naturais ou seminaturais, ligando unidades de conservação, que possibilitam entre elas o fluxo de genes e o movimento da biota, facilitando a dispersão de espécies e a recolonização de áreas degradadas, bem como a manutenção de populações que demandam para sua sobrevivência áreas com extensão maior do que aquela das unidades individuais. Conforme o art. 25, as unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, devem possuir uma zona de amortecimento e, quando conveniente, corredores ecológicos. Tanto a Zona de Amortecimento como os Corredores Ecológicos não fazem parte do domínio público, mas exercem limitações à propriedade privada, sem inviabilizá-la. • População Tradicional São as populações cuja existência baseia-se em sistemas sustentáveis de exploração dos recursos naturais, desenvolvidas ao longo de gerações e adaptadas às condições ecológicas locais e que desempenham um papel fundamental na proteção da natureza e na manutenção da diversidade biológica. Conforme o art. 42, as populações tradicionais residentes em unidades de conservação nas quais sua permanência não seja permitida serão indenizadas ou compensadas pelas benfeitorias existentes e devidamente realocadas pelo Poder Público, em local e condições acordados entre as partes. O Poder Público, por meio do órgão competente, priorizará o reassentamento das populações tradicionais a serem realocadas. Até que seja possível efetuar o reassentamento de que trata este artigo, serão estabelecidas normas e ações específicas destinadas a compatibilizar a presença das populações tradicionais residentes com os objetivos da unidade, sem prejuízo dos modos de vida, das fontes de subsistência e dos locais de moradia destas populações, assegurando-se a sua participação na elaboração das referidas normas e ações. É tremendamente injusto realojar pessoas que vivem por gerações em uma determinada área, respeitando a natureza, ou melhor fazendo parte dela, para atender objetivos preservacionistas equivocados de uma visão segregacionista. Essa é uma das principais causas de conflitos em UC’s e hoje, tem-se evitado criar unidades que requeiram realocar pessoas pré-estabelecidas. • Pesquisa Científica Conforme art. 32, os órgãos executores articular-se-ão com a comunidade científica com o propósito de incentivar o desenvolvimento de pesquisas sobre a fauna, a flora e a ecologia das unidades de conservação e sobre formas de uso sustentável dos recursos naturais, valorizando-se o conhecimento das populações tradicionais. As pesquisas científicas nas unidades de conservação não podem colocar em risco a sobrevivência das espécies integrantes dos ecossistemas protegidos. A realização de pesquisas científicas nas unidades de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, depende de aprovação prévia e está sujeita à fiscalização do órgão responsável por sua administração. Os órgãos competentes podem transferir para as instituições de pesquisa nacionais, mediante acordo, a atribuição de aprovar a realização de pesquisas científicas e de credenciar pesquisadores para trabalharem nas unidades de conservação. Conforme o art. 33, a exploração comercial de produtos, subprodutos ou serviços obtidos ou desenvolvidos a partir dos recursos naturais, biológicos, cênicos ou culturais ou da exploração da imagem de unidade de conservação, exceto Área de Proteção Ambiental e Reserva Particular do Patrimônio Natural, dependerá de prévia autorização e sujeitará o explorador a pagamento, conforme disposto em regulamento. • Gestão das UC’s a) Órgãos Públicos Segundo o art. 6º, o SNUC será gerido pelos seguintes órgãos, com as respectivas atribuições: - Órgão consultivo e deliberativo: o Conselho Nacional do Meio Ambiente - Conama, com as atribuições de acompanhar a implementação do Sistema; - Órgão central: o Ministério do Meio Ambiente, com a finalidade de coordenar o Sistema; - órgãos executores: o Instituto Chico Mendes e o Ibama, em caráter supletivo, os órgãos estaduais e municipais, com a função de implementar o SNUC, subsidiar as propostas de criação e administrar as unidades de conservação federais, estaduais e municipais, nas respectivas esferas de atuação. Podem integrar o SNUC, excepcionalmente e a critério do Conama, unidades de conservação estaduais e municipais que, concebidas para atender a peculiaridades regionais ou locais, possuam objetivos de manejo que não possam ser satisfatoriamente atendidos por nenhuma categoria prevista nesta Lei e cujas características permitam, em relação a estas, uma clara distinção. b) Recursos Conforme art. 34, os órgãos responsáveis pela administração das unidades de conservação podem receber recursos ou
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