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Redação Forense	 Nota de aula 5 Parecer
Parecer técnico-jurídico 
O Parecer é uma peça textual de aspecto formal próprio, redigida por autoridade competente, que emite uma opinião sobre o assunto consultado, devidamente fundamentado, que lhe dê credibilidade para seu convencimento.
A forma de um parecer jurídico:
Não existe uma forma definida por qualquer dispositivo legal para apresentação de um parecer [...], portanto na CF, art. 129, VIII, e na Lei Orgânica Nacional do Ministério Público (Lei 8.625/93, conhecida pela sigla LONMP) há a recomendação (art. 43, III) de que é dever do Ministério Público sempre indicar os fundamentos jurídicos em seus pronunciamentos processuais. Aliás, ressalte-se, nenhum parecer pode deixar de ter fundamentos. (REVISTA REDAÇÃO JURÍDICA: a palavra do advogado. Rio de Janeiro: Edipa, nº8, 2004.)
A estrutura do parecer lembra uma dissertação: introdução, desenvolvimento e conclusão. Interessante ainda que o documento mescla os dois tipos primordiais: inicialmente: argumentativo (impessoal); na conclusão, opinativo (pessoal).
Elementos do Parecer:
Tipo = padrão: Times New Roman 12; espaço simples.
Título Centralizado: P A R E C E R – em caixa alta, negritado, separadas as fontes para ocupar melhor o espaço da folha; fonte maior (pode ser Times New Roman 20). Após o cabeçalho, pular duas linhas.
1 - Ementa: apresentação sucinta, em no máximo oito linhas, do objeto de consulta. Inicia sempre pelo fato antijurídico e apresenta uma visão panorâmica dos fatos, provas e circunstâncias analisados e do ponto de vista defendido pelo parecerista. Título em negrito, caixa alta e baixa, alinhado à direita; pule uma linha após o título e duas, após o texto.
2 - Relatório: é a narração da história processual, marcada pela isenção, que apresenta a narração dos fatos importantes e as circunstâncias em que ocorreram, possibilitando uma transição lógica e coerente para a fundamentação. Título negritado, caixa alta e baixa, alinhado à esquerda; pule uma linha após o título e duas, após o texto.
3 - Fundamentação: argumentação baseada em sustentação legal, doutrinária e jurisprudencial, bem como em recursos polifônicos (religião, mídia, opinião pública, família, moral, costumes, etc), técnicas argumentativas e estratégias discursivas, para buscar o convencimento sobre o ponto de vista defendido quanto ao assunto da consulta. Título negritado, caixa alta e baixa, alinhado à esquerda; pule uma linha após o título e duas, após o texto.
4 - Conclusão: constitui a expressão formal que traduz a posição – favorável ou não – acerca da matéria em pauta. Título negritado, caixa alta e baixa, alinhado à esquerda; pule uma linha após o título e duas, após o texto.
5 -Autenticação: tendo em vista a responsabilidade civil, o parecer deve ser datado, assinado e apresentar o número da carteira de identidade profissional (OAB, por exemplo) de quem o emite.
Função do parecer no campo jurídico:
O parecer é um documento produzido, sob embasamento técnico ou jurídico, para que produza efeito esclarecedor e orientador. No plano jurídico, pode ser redigido em razão de três situações:
1) Parecer em procedimento processual – (...) é elaborado por determinação legal, pelos membros do Ministério Público. É o chamado parecer de ofício, prolatado nos autos pelo especialista que, na sua condição de fiscal da lei, tem por exercício funcional opinar na questão discutida dentro dos autos. O MP, então, emite parecer em ação civil pública, ação de alimentos, ação popular, ação de investigação de paternidade, etc.
2) Parecer em consulta – Para atender livre consulta por parte de pessoas que desejam ver algum assunto refletido exegeticamente por profissionais do direito (...).
3) Parecer em procedimento administrativo público – Para servir de orientação administrativa no serviço público e é geralmente prolatado por funcionários, cujo cargo público tenha por determinação opinar juridicamente.
Quem produz parecer técnico no universo jurídico?
Ministério público (Procuradores de Justiça);
Advogados especializados (geralmente);
Servidores públicos credenciados;
Procuradores autárquicos e de outros órgãos.
Informações sobre a EMENTA
Em um parecer técnico-formal, a ementa é um texto informativo, que visa apenas ao entendimento do caso concreto, numa ótica simplificada. Por isso, devem ser delineados somente o fato gerador do conflito, os nexos de referência (três a cinco) e o entendimento do caso concreto.
Quanto aos nexos de referência, esses são um importante auxílio para a construção da fundamentação; são um verdadeiro fio condutor das idéias a serem discutidas na parte argumentativa do documento.
A ementa não pode apresentar verbos; deve se localizar ao extremo da margem direita e conter, no máximo, oito linhas. A capacidade de síntese, nesse item, é importantíssima, pois a ementa do Parecer técnico-formal deve conter frases nominais e palavras-chaves. Eis dois exemplos, o primeiro caso versa sobre a interrupção no fornecimento de água para um consumidor e o outro sobre falhas na prestação de serviço em uma festa de aniversário, ocorrida em lanchonete:
	Ementa
INTERRUPÇÃO NO FORNECIMENTO DE ÁGUA – direito do consumidor - hipossuficiência – dificuldades financeiras em virtude de incêndio em residência – proposta de parcelamento rejeitada pela empresa – suspensão de serviço essencial, como forma de obrigação de pagamento. Parecer favorável ao restabelecimento do serviço de água.
	 Ementa
PUBLICIDADE ENGANOSA PRATICADA POR REDE DE LANCHONETES – descumprimento dos serviços anunciados em panfleto – reclamação do consumidor à empresa antes do evento – improviso na decoração – prejuízo no atendimento aos convidados – constrangimento do consumidor – Parecer favorável ao ressarcimento por danos morais e ao abatimento proporcional no preço do serviço.
Informações sobre o RELATÓRIO
Adiante, esquematizamos as principais características do relatório jurídico:
O relatório é um texto de tipo narrativo;
Caracteriza-se por ser uma narrativa simples, sem valoração. Sempre que possível, aponte as alegações de ambas as partes;
Todos os fatos relevantes do caso concreto devem ser narrados no pretérito e na 3ª pessoa;
O que não existir no relatório não pode figurar como argumento na fundamentação;
A organização dos eventos deve seguir a ordem cronológica;
O primeiro parágrafo deve indicar o fato gerador da demanda e os sujeitos envolvidos;
O corpo do texto não pode deixar de responder às seguintes indagações: qual o fato gerador do conflito? Quem são os envolvidos na lide? Onde e quando os fatos ocorreram? Como se desenvolveu o conflito? Por que ocorreu o conflito de interesses? Quais as conseqüências dos fatos narrados?
Sugere-se, para iniciar o primeiro parágrafo, a redação “Trata-se de questão sobre...”;
A paragrafação deve seguir as orientações tradicionais de um texto redigido em norma culta;
Cada parágrafo deve receber um recuo inicial de, aproximadamente, 1,5 cm;
Não há limite mínimo ou máximo de linhas, mas sua narração deve ser clara e concisa;
Recorra à polifonia;
Terminado o relatório, na linha abaixo, use a expressão “É o relatório”.
Informações sobre a FUNDAMENTAÇÃO
Os argumentos são recursos lingüísticos que visam à persuasão, ao convencimento. O argumento não é uma prova inequívoca da verdade. Argumentar não significa impor uma forma de demonstração, como nas ciências exatas. O argumento implica juízo do quanto é provável ou razoável.
A variedade de tipos de argumentos dinamiza o texto e aumenta a possibilidade de convencimento, uma vez que explora estruturas lógicas diferenciadas.
Argumento pró-tese: Caracteriza-se por ser extraído dos fatos reais contidos no relatório. Deve ser o primeiro argumento a compor a fundamentação. A estrutura adequada para desenvolvê-lo seria: Tese + porque + e também + além disso. Cada um desseselos coesivos introduz fatos distintos favoráveis à tese escolhida.
“Anísio cometeu um crime doloso inaceitável, repudiado com veemência pela sociedade, porque desferiu três facadas certeiras no peito de sua companheira, e também porque agiu covardemente contra uma pessoa desarmada e fisicamente mais fraca. Além disso, ele já estava desconfiado do caso extraconjugal da mulher, o que afastaria a hipótese de privação de sentidos”.
Argumento de autoridade: Argumento constituído com base nas fontes do Direito e/ou em pesquisas científicas comprovadas.
“A Constituição é muito clara quando diz que a vida é um bem inviolável. Uma sociedade democrática defende esse direito e recorre a todos os meios disponíveis para que a vida seja sempre preservada e para que qualquer atentado a esse direito seja severamente punido. No caso em questão, Teresa foi atacada de maneira covarde e violenta, porque não dispunha de meios para ao menos tentar preservar sua vida. Portanto, o réu desrespeitou a Constituição Brasileira e incorreu no crime de homicídio doloso previsto no artigo 121 do Código Penal Brasileiro”.
Argumento de senso comum: Consiste no aproveitamento de uma afirmação que goza de consenso; está amplamente difundida na sociedade. 
“A sociedade brasileira sofre com a violência cotidiana em diversos níveis e não tolera mais essa prática. Certamente, a violência é o pior recurso para a solução de qualquer tipo de conflito. Uma pessoa sensata pondera, dialoga ou se afasta de situações que podem desencadear embates violentos. Não foi essa a opção de Anísio. Preferiu pegar uma faca e, como um bárbaro, assassinar a mulher, evitando todas as outras soluções pacíficas existentes, como a imediata separação que o afastaria definitivamente de quem o traiu. Aceitar sua conduta desmedida seria instituir a pena de morte para a traição amorosa”.
Argumento de oposição: Apoiada no uso dos operadores argumentativos concessivos e adversativos, essa estratégia permite antecipar as possíveis manobras discursivas que formarão a argumentação da outra parte durante a busca de solução jurisdicional para o conflito, enfraquecendo, assim, os fundamentos mais fortes da parte oposta.
Compõe-se da introdução de uma perspectiva oposta ao ponto de vista defendido pelo argumentador, admitindo-a como uma possibilidade de conclusão para, depois, apresentar, como argumento decisório, a perspectiva contrária.
“Embora se possa alegar que Teresa tenha desrespeitado Anísio, traindo-o com outro homem em sua própria casa, uma pessoa de bem, diante de situações adversas, reflete, pondera, o que a impede de agir contra os valores sociais. Eis o que nos separa dos criminosos. É certo que o flagrante de uma traição provoca uma intensa dor, porém o ato extremo de assassinar a companheira, por sua desproporção, não pode ser aceito como uma resposta cabível ao conflito amoroso”.
Argumento de analogia: É aquele que tem como fundamento estabelecer uma relação de semelhança entre elementos presentes tanto no caso concreto analisado quanto em outros casos já avaliados, ou seja, após apresentar as provas do caso concreto, desenvolve-se um raciocínio que consiste em aplicar o tratamento dado em outro caso ou hipótese ao caso ora avaliado.
 O objetivo dessa estratégia é aproximar conceitos ou interpretações a partir de casos concretos distintos, mas semelhantes. A analogia é também procedimento previsto no Direito como gerador de norma nos casos de omissão do legislador.
“Qualquer pessoa tem dificuldade de negar que utilizaria qualquer meio para defender alguém que ama. Em casos de um assalto, por exemplo, uma mãe está perfeitamente disposta a matar o assaltante para defender a vida de seu filho. Para fugir de uma perseguição, o motorista de um carro é plenamente capaz de causar um acidente para evitar que algo de mal aconteça aos caronas que conduz. O que há de comum nestes e em tantos outros casos de que se tem notícia é que existe um sentimento de amor ou bem querer que impede que uma pessoa dimensione racionalmente as conseqüências do ato que pratica em favor da proteção de alguém.”
Causa e efeito: Relaciona conceitos de causalidade e efeito com o objetivo de evidenciar as consequências imediatas de determinado ato (retirado das provas) praticado pelas partes.
O sucesso na defesa de uma tese depende de um raciocínio fundamentado por meio de uma série associações a serem feitas pelo argumentador. A maneira como o operador do direito deve direcionar o raciocínio para a tese depende, portanto, de planejamento minucioso do texto e seleção apurada de informações.
Na construção das peças processuais, o prejuízo decorrente da falta de organização de um plano textual talvez fique mais evidente, porque a persuasão do juiz e o conseqüente sucesso no pleito dependem desse encadeamento (seleção, análise e síntese).
Estrutura formal de um parecer jurídico
P A R E C E R
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 EMENTA
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2 linhas 
RELATÓRIO
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Eis o relatório. 
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FUNDAMENTAÇÃO
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CONCLUSÃO
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PARTE AUTENTICATIVA
Data
Assinatura
Nº da Carteira de Identidade Profissional
Referências
COLETÂNEA DE EXERCÍCIOS. Redação forense. Curso de Direito. Niversidade Estácio de Sá.
SCHOCAIR, Nelson Maia. Português jurídico: teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.
Atividades (caderno de exercícios)
Leia a ementa adiante, produzida para o caso da morte do índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, morto em Brasília, e indique todos os equívocos que ela apresenta. Em seguida, reescreva-a, adequando-a às orientações dadas em sala de aula e na parte teórica inicial desta lição. Faça as alterações necessárias.
 Ementa
MORTE DE ÍNDIO – quatro rapazes mataram um índio pataxó – atearam fogo – fugiram sem prestar socorro à vítima – dolo eventual – motivo torpe – repercussão social do caso - Parecer favorável à condenação por homicídio doloso.
Leia o relatório, a fundamentação e a conclusão do Parecer que se apresenta e, de forma compatível com esse conteúdo, redija uma ementa para essa peça. Não deixe de respeitar, também, todas as orientações já explanadas.
P A R E C E R
Ementa
 Relatório
Trata-se de questão referente à solicitação encaminhada ao Poder Judiciário para a obtenção de autorização que assegure à autora o direito de interrupção de sua gravidez, uma vez comprovado que o feto é portador de uma anomalia incurável, denominada anacrania.
O pleito da autora baseia-se nos laudos periciais apresentados pelo Instituto Fernandes Filgueiras, pertencente à Fundação Oswaldo Cruz, especializado no atendimento a gestante de risco e em tratamento de problemas no período neonatal. De acordo com a perícia, além de colocar em risco a vida da gestante, em 100% dos casos, a anacrania é incompatível com a vida, Em razão disso, uma comissão de ética médica do Instituto recomendou o aborto do feto, como forma de evitar o prolongamento do sofrimento da mãe.
Em despacho datado de 19 de dezembro de 2002, a juíza negou a autorização para a realização do aborto, sob a alegação de que, apesar de os laudos certificarem a morte do feto, seja na fase intrauterina, seja na neonatal, a lei não confere ao magistrado o poder de determinar o término da vida. Uma autorização legal para o aborto, mesmo nas circunstâncias descritas, equivaleria, segundo a juíza, à condenação de um ser humano com vida à morte. Fundamentou ainda sua sentença com o argumento de que há registros médicos de bebês portadores de anacrania que, submetidos a cuidados especiais posteriores ao nascimento, sobreviveram por um período superior a um mês.
A autora recorreu da decisão.
É o relatório.
Fundamentação
A análise do caso concreto em questão impõe-nos um exercício de prudênciae sensibilidade, uma vez que o princípio constitucional que tutela o direito à vida e lhe confere o estatuto de "bem maior" está em pauta. Mãe e feto são possuidores do mesmo direito; entretanto, para que o direito de um possa ser assegurado, mesmo que por um breve tempo, a vida de outro haverá de ficar exposta a risco.
A matéria em exame, além de dialogar com o campo dos direitos da personalidade, especificamente no que se refere ao momento em que ela se instaura – se na oportunidade do nascimento, ou da concepção –, apresenta em seu núcleo um conteúdo de valores ético-morais e religiosos colidentes, que a revestem, ainda mais, de complexidade.
Se assumirmos uma perspectiva puramente legalista, a impossibilidade de conceder uma autorização judicial para a prática do aborto, em razão de circunstâncias não previstas pelo Código Penal brasileiro, por si só, seria argumento suficiente para fundamentar uma decisão pela improcedência do pedido encaminhado pela autora à Justiça.
Todavia, entre a invocação da norma e sua aplicabilidade linear ao caso concreto existe a dimensão excepcional e o caráter singular do pleito da autora. Trata-se, efetivamente, do que a norma é incapaz de prever, até que antes a vida nos interpele e desafie nossos sistemas de valores, inclusive jurídicos, com questões que exigem uma reflexão orientada, no mínimo, pelo princípio da razoabilidade. Em outros termos, o caso em questão é mais um, entre tantos não invocados pela norma, em que o Direito, assim como todos os demais sistemas e modelos de referência, merecem uma relativização, em particular, por estarmos diante de uma aparente colisão de direitos entre mãe e filho e mesmo de um suposto crime; fato que, de imediato, enseja a formulação da seguinte pergunta: a concessão de autorização do aborto, ainda que em situações especiais como a da autora, implica sentenciar à morte um ser humano com vida?
A questão principal, entretanto, não é essa. A pergunta desafiadora é: quem possui maiores e melhores condições de estar vivo até mesmo para exercer esse direito? Ou: quem, entre mãe e filho, poderá desfrutar, de fato e com dignidade, do bem da vida? A tensão e a complexidade dessa discussão, portanto, reside no próprio conceito de vida, independentemente do marco temporal que assinala o seu início.
No ângulo do caso concreto, é indiferente se a vida se inicia na concepção ou no nascimento, porque - repita-se - o problema está em avaliar e decidir quem possui reais chances de viver. De acordo com a maior autoridade em saúde pública do país, a FIOCRUZ, é a autora quem as possui; se, é claro, interromper sua gestação. Essa instituição, representada por uma comissão de ética médica, além de preparar os laudos que atestaram a anomalia do feto, emprestou sua assinatura e sua respeitabilidade à redação de um documento que recomendava o aborto, dadas as circunstâncias extraordinárias do caso.
Ora, a decisão da douta magistrada - fruto da obediência estrita à letra da lei, ou do temor de ser confundida como uma substituta de Deus – embora digna de respeito, temeu o que não poderia: a ponderação dos valores e dos direitos postos em causa no drama pessoal da autora.
Ao fugir do exercício da argumentação e curvar-se à invocação tranquilizadora dos direitos já positivados em norma, a decisão judicial legou um papel secundário ao fato de que toda norma advém do caso concreto. Em igual medida, legou a morte, não ao feto, é claro, mas à sua própria possibilidade de dizer o Direito e fundamentá-Io corajosamente.
Se as condições de saúde da autora dependem da interrupção de sua gravidez; se os laudos atestam a certeza da morte do filho que ela gera - o que a fez suportar um profundo sofrimento, desde o início da gestação - não há motivo para condená-la ao prolongamento dessa dor.
Conclusão
À conta dessas considerações, opino pela reforma da decisão judicial.
É o Parecer.
Rio de Janeiro, 06 de setembro de 2005.
“Equipe de professores de Português Jurídico”.
Leia o caso concreto e a ementa que foi para ele produzida. Em seguida, redija o relatório jurídico.
Caso concreto
Maria Silva celebrou contrato de compra e venda� com a empresa “Casa Clean”, localizada em Porto Alegre, produtora e vendedora de aparelhos domésticos�, para adquirir uma máquina de lavar louça, no dia 1º de março de 2006. A empresa fabricou e entregou a máquina no dia 15 de março de 2006.
Logo depois, no dia 20 do mesmo mês, a máquina se incendiou, causando danos à cozinha. A empresa providenciou o conserto da máquina, que passou a funcionar regularmente. Contudo, no dia 2 de setembro de 2007, a máquina se incendiou outra vez, causando mais danos à cozinha, destruindo a própria máquina e ferindo Lúcia, de 4 anos de idade, filha de Maria que, no momento do incêndio, estava sozinha na cozinha.
Maria e Lúcia propuseram uma ação, no dia 15 de janeiro de 2008, pedindo devolução de dinheiro no valor da máquina e indenização por danos patrimoniais e morais sofridos. A empresa alegou que não era responsável pelo defeito por desconhecê-lo; e que a lesão da menina era culpa preponderante da mãe, que a deixou sozinha na cozinha quando a máquina estava ligada.
 Ementa
RESPONSABILIADE CIVIL POR DANOS DECORRENTES DE VÍCIO DE PRODUTO – relação de consumo – danos materiais em cozinha – acidente com criança causado por defeito de produto – responsabilidade objetiva – hipossuficiência da consumidora – Parecer favorável à devolução do valor do produto e indenização por danos morais e patrimoniais.
Leia o caso concreto seguinte e produza a ementa e a fundamentação do Parecer.
Texto
Adriana Menezes ajuizou ação de revisão de alimentos em face de seu ex-marido André Menezes. O objetivo era aumentar o valor da pensão de R$ 6 mil para quase R$ 12 mil. A alimentada já recebia os alimentos há vinte anos. O argumento foi de decréscimo no padrão de vida. A mulher relatou que era obrigada a recusar convites para idas ao teatro e restaurantes, teve de dispensar o caseiro, demorava para fazer reparos na casa, não trocava mais o carro e que, nos últimos dois anos, tinha feito apenas uma viagem ao exterior.
Já o ex-marido, André Menezes, por sua vez, reconviu�, pedindo a exoneração da obrigação de prestar os alimentos ou a redução de seu valor porque a ex-mulher tinha condições financeiras suficientes para seu sustento.
André Menezes constituiu nova família, mas, desde então, nunca reclamou de continuar a pagar a pensão para a ex-mulher. Executivo da Petrobrás, recebe mensalmente quase R$ 30 mil, mas sustenta que isso não dá à sua ex-mulher o direito de explorá-lo, até porque ele tem condições de se sustentar sozinha, repetiu.
Demonstrou que ela é formada em dois cursos superiores (Biomedicina e Psicologia), trabalha como psicóloga em clínica própria, é professora universitária, tem dois imóveis e aplicação financeira. Inconformado, ainda declarou que sua ex-mulher teve aumento patrimonial desde a separação, ocorrida há vinte anos.
Se entender conveniente, recorra às fontes indicadas a seguir:
Art. 1.694, CC: Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação.
§ 1° Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos recursos da pessoa obrigada.
§ 2° Os alimentos serão apenas os indispensáveis à subsistência, quando a situação de necessidade resultar de culpa de quem os pleiteia.
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Art. 1.695, CC: São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.
-------------------------------------------------------
Art. 1.699, CC: Se, fixados os alimentos,sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo.
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Art. 1.709, CC: O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação constante da sentença de divórcio.
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Art. 1.710, CC: As prestações alimentícias, de qualquer natureza, serão atualizadas segundo índice oficial regularmente estabelecido.
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A Ministra do STJ Nancy Andrighi sustenta que há a possibilidade de desoneração ou redução da pensão quando fica comprovado que a alimentada tem condições de se sustentar por meio de seu trabalho, ou mesmo em decorrência do patrimônio. Quanto à queda no padrão de vida, Nancy Andrighi entende que o artigo 1.694 do novo Código Civil, ao citar que os alimentos devem garantir modo de vida “compatível com sua condição social”, deve ser interpretado com razoabilidade.
� Estudo interdisciplinar: trata o caso concreto de uma relação de consumo, regida pelo Código de Defesa do Consumidor. Para aprofundar seus conhecimentos sobre a matéria, sugerimos a leitura das fontes indicadas: arts. 2º e 3º, do CDC; art. 6º, do CDC, art. 12, § 1º e §3º, III, do CDC; art. 17, do CDC.
� Estudo interdisciplinar: já que a empresa produziu e vendeu o aparelho, não será necessária a discussão sobre a responsabilidade do fornecedor do produto, Casa Clean. Ou seja, não há responsabilidade civil solidária entre quem produziu e quem vendeu porque a mesma empresa realizou as duas atividades.
� A Reconvenção é uma das possibilidades de resposta do réu. Este poderá propor, dentro do mesmo processo, uma outra ação por meio de petição escrita, dirigida ao juiz da causa, dentro do prazo de 15 dias, contra o autor, conforme prescreve os arts. 34, 109, 253, parágrafo único, 297, 315 a 318, 354, 836, II, do Código de Processo Civil; Ação pela qual o réu demanda o autor, no mesmo processo em que por este é demandado, para opor-lhe direito que lhe altere ou elimine a pretensão.
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