Buscar

AULA 08 LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA 2017.01

Prévia do material em texto

1 
 
Material Complementar de PENAL IV. 2017.01. Prof.ª Valéria Mikaluckis 
AULA 08. LEI DE ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA. Lei 11.850/13 
 
1. BREVE HISTÓRICO. 
A revogada Lei 9034/95 definia meios de investigação e obtenção de 
provas referentes a ilícitos decorrentes de ações praticadas por quadrilha ou bando 
e organização criminosa, no entanto não havia definição de organização criminosa 
razão pela qual o diploma legal sempre teve aplicação restrita às quadrilhas. Na 
tentativa de definir organização criminosa a doutrina aponta a aplicação da 
Convenção de Palermo (decreto 5015/2004), no entanto o STF decidiu que o 
conceito de organização criminosa não poderia ser extraído da referida Convenção 
sob pena de violação ao princípio da legalidade. 
Posteriormente surge a lei 12.694/12 que dispõe sobre o julgamento 
colegiado em primeiro grau de jurisdição de crimes praticados por organizações 
criminosas. A definição de organização não representava uma figura típica apenas 
uma forma de execução do delito. 
Art. 2o Para os efeitos desta Lei, considera-se organização 
criminosa a associação, de 3 (três) ou mais pessoas, 
estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de 
tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, 
direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, 
mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual 
ou superior a 4 (quatro) anos ou que sejam de caráter 
transnacional. 
Com a publicação da lei 12.850/2003 doutrina dominante passou afirmar 
a revogação tácita e parcial da lei 12.694/12 pois a nova lei trouxe um conceito 
as organizações criminosas, inclusive tornou um tipo penal incriminador (art. 2º). 
Art. 1º § 1o Considera-se organização criminosa a 
associação de 4 (quatro) ou mais pessoas estruturalmente 
ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que 
informalmente, com objetivo de obter, direta ou 
indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a 
prática de infrações penais cujas penas máximas sejam 
superiores a 4 (quatro) anos, ou que sejam de caráter 
transnacional. 
 
 
2 
 
2. APLICABILIDADE. 
ARTIGO 1º § 2o Esta Lei se aplica também: 
I - às infrações penais previstas em tratado ou convenção internacional 
quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido 
no estrangeiro, ou reciprocamente; Delito à distância ou delito internacional. 
II - às organizações terroristas internacionais, reconhecidas segundo as 
normas de direito internacional, por foro do qual o Brasil faça parte, cujos atos 
de suporte ao terrorismo, bem como os atos preparatórios ou de execução de 
atos terroristas, ocorram ou possam ocorrer em território nacional. 
II - às organizações terroristas, entendidas como aquelas voltadas para a 
prática dos atos de terrorismo legalmente definidos. (Redação dada pela lei nº 
13.260, de 2016) 
Trata-se de novatio legis incriminadora cuja aplicabilidade está restrita 
aos crimes praticados a partir 19 de setembro de 2103. Possui natureza de 
crime permanente, portanto aplica-se a súmula 711 STF. 
 
3. CRIMES POR NATUREZA E EXTENSÃO 
 Crime organizado por natureza. Lei 12850/03, art. 2º caput; art. 288 
CP e art. 35 Lei 11343/06. 
 
 Crime organizado por extensão. Refere-se às infrações praticas pelas 
organizações e associações. 
 
4. BEM JURÍDICO TUTELADO. Paz pública, isto é, o sentimento coletivo de 
segurança e proteção na ordem jurídica. 
 Crime de perigo abstrato pratica contra a coletividade. 
 
5. ANÁLISE DO TIPO 
Art. 2o Promover, constituir, financiar ou integrar, pessoalmente 
ou por interposta pessoa, organização criminosa: 
Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa, sem prejuízo 
das penas correspondentes às demais infrações penais 
praticadas. 
 
3 
 
5.1 Condutas típicas 
PROVER – dar origem, gerar ou fomentar. 
CONSTITUIR – formar, organizar, 
FINANCIAR – sustentar os gastos, prover o capital necessário para 
viabilizar determinada atividade. 
INTEGRAR – fazer parte. 
5.2 Requisitos 
 Associação de 04 ou mais pessoas. 
 Estrutura ordenada que se caracteriza pela divisão de tarefas ainda que 
informalmente. 
 Finalidade de obtenção de vantagem de qualquer natureza mediante a 
prática de infrações penais cujas penas sejam superiores a 04 anos ou 
de caráter transnacional. 
o Ilícito transnacional consiste naquele que transcende o território 
brasileiro, ultrapassar doze milhas de mar e espaço aero 
respectivo. 
5.3 Consumação. Consuma-se com a simples associação de no mínimo 04 
pessoas para a prática de crimes cuja pena seja superior a 04 anos. Não exige 
a prática de nenhum crime por parte dos agentes. 
5.4 Concurso de crime. Havendo a pratica de crimes por parte dos integrantes 
da organização ocorrerá concurso de crimes. 
5.5 FIGURA EQUIPARADA. 
Art. 1º, § 1o Nas mesmas penas incorre quem impede ou, de 
qualquer forma, embaraça a investigação de infração penal que 
envolva organização criminosa. 
 Bem jurídico tutelado: administração da justiça. 
 Considerado monossubjetivo ou de concurso eventual. 
 Faz referência apenas a investigação deixando de lado a fase judicial. 
 
5.6 CAUSAS DE AUMENTO DE PENA. 
§ 2o As penas aumentam-se até a metade se na atuação da organização 
criminosa houver emprego de arma de fogo. 
§ 4o A pena é aumentada de 1/6 (um sexto) a 2/3 (dois terços): 
I - se há participação de criança ou adolescente; 
4 
 
II - se há concurso de funcionário público, valendo-se a organização 
criminosa dessa condição para a prática de infração penal; 
III - se o produto ou proveito da infração penal destinar-se, no todo ou em 
parte, ao exterior; 
IV - se a organização criminosa mantém conexão com outras 
organizações criminosas independentes; 
V - se as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade da 
organização. 
 
5.7 AGRAVANTE 
§ 3o A pena é agravada para quem exerce o comando, individual ou 
coletivo, da organização criminosa, ainda que não pratique pessoalmente atos 
de execução. 
 Não se aplica a parte geral do CP. 
 
6. Confronto com os crimes de associação criminosa e milícia privada. 
6.1 Associação Criminosa 
 Art. 288. Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o 
fim específico de cometer crimes: Pena - reclusão, de 1 
(um) a 3 (três) anos. 
 Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a 
associação é armada ou se houver a participação de 
criança ou adolescente. 
 Comparando com a organização criminosa observa-se as seguintes 
diferenças: número de integrantes, o fim de cometer apenas crimes e a 
ausência de limite quanto a pena. 
 
6.2 Constituição de milícia privada 
Art. 288-A. Constituir, organizar, integrar, manter ou custear 
organização paramilitar, milícia particular, grupo ou 
esquadrão com a finalidade de praticar qualquer dos crimes 
previstos neste Código: Pena - reclusão, de 4 (quatro) 
a 8 (oito) anos. 
5 
 
 A doutrina dominante afirma que por se tratar de espécie de associação 
criminosa exige-se no mínimo 03 integrantes e a finalidade e praticar 
crimes mencionados no Código Penal. 
 
 
7. Dos Crimes Ocorridos na Investigação e na Obtenção da Prova 
Art. 18. Revelar a identidade, fotografar ou filmar o colaborador, sem sua 
prévia autorização por escrito: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. 
 
Art. 19. Imputar falsamente, sob pretexto de colaboração com a Justiça, a 
prática de infração penal a pessoa que sabe ser inocente, ou revelar 
informações sobre a estrutura de organização criminosa que sabe inverídicas: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Art. 20. Descumprir determinaçãode sigilo das investigações que envolvam a 
ação controlada e a infiltração de agentes: 
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa. 
 
Art. 21. Recusar ou omitir dados cadastrais, registros, documentos e 
informações requisitadas pelo juiz, Ministério Público ou delegado de polícia, 
no curso de investigação ou do processo: 
Pena - reclusão, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa. 
Parágrafo único. Na mesma pena incorre quem, de forma indevida, se 
apossa, propala, divulga ou faz uso dos dados cadastrais de que trata esta Lei.

Continue navegando