Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA – UFU FACULDADE DE ENGENHARIA ELÉTRICA – FEELT Prof. Ivan Nunes Santos Apostila de Eletromagnetismo Uberlândia 2017 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 2 SUMÁRIO GERAL Capítulo Conteúdo Página 1 Análise Vetorial 03 2 Lei de Coulomb e Intensidade de Campo Elétrico 18 3 Densidade de Fluxo Elétrico, Lei de Gauss e Divergência 31 4 Energia Potencial e Potencial Elétrico 44 5 Condutores, Dielétricos e Capacitância 61 6 Equações de Poisson e de Laplace 83 7 Campo Magnético Estacionário 92 8 Forças Magnéticas, Materiais e Indutância 114 9 Campos Variantes no Tempo e Equações de Maxwell 134 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 3 1 – ANÁLISE VETORIAL 1.1 Escalares e Vetores O termo escalar se refere a uma grandeza cujo valor pode ser representado por um único número real (positivo ou negativo). Exemplo de grandezas escalares: temperatura, tempo, massa, densidade, volume, tensão (voltagem), etc. Uma grandeza vetorial tem magnitude, direção e sentido no espaço. Exemplo de grandezas vetoriais: força, velocidade, aceleração, densidade de fluxo elétrico, etc. Um campo também pode ser definido como escalar ou vetorial. Um exemplo de campo escalar é a temperatura em uma tigela de sopa, por outro lado, temos que o campo gravitacional e o magnético são exemplos de campo vetorial. 1.2 Álgebra Vetorial A álgebra vetorial possui seu conjunto próprio de regras, do qual destacaremos algumas. A adição vetorial segue a regra do paralelogramo, conforme figura abaixo. A adição vetorial obedece à propriedade comutativa, ou seja, 𝐴 + �⃗⃗� = �⃗⃗� + 𝐴 . A adição obedece também à propriedade associativa, ou seja, 𝐴 + (�⃗⃗� + 𝐶) = (�⃗⃗� + 𝐴) + 𝐶. A regra para a subtração de vetores decorre facilmente da regra para a adição, pois sempre podemos expressa 𝐴 − �⃗⃗� como 𝐴 + (−�⃗⃗�); o sinal, ou sentido, do segundo vetor é invertido, e este vetor é somado ao primeiro pela regra da adição vetorial. Observação importante: na figura anterior, extraída do livro de Eletromagnetismo de Jr. W. H. Hayt e J. A. Buck, a notação de vetor é dada por meio da letra em negrito, enquanto que em nosso curso usaremos a seta sobre a letra para designação de vetor, ou ainda, o acento circunflexo para representação de vetores unitários, conforme será explanado. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 4 Vetores podem ser multiplicados por escalares. O módulo do vetor se modifica, mas sua direção e sentido não, quando o escalar é positivo, embora ele inverta de sentido quando multiplicado por um escalar negativo. A multiplicação de um vetor por um escalar também obedece as propriedades associativa e distributiva da álgebra, então (𝑟 + 𝑠)(𝐴 + �⃗⃗�) = 𝑟(𝐴 + �⃗⃗�) + 𝑠(𝐴 + �⃗⃗�) = 𝑟𝐴 + 𝑟�⃗⃗� + 𝑠𝐴 + 𝑠�⃗⃗� A divisão de um vetor por um escalar é meramente a multiplicação do vetor pelo valor do inverso do escalar. Já a operação de multiplicação de um vetor por outro vetor será discutida mais adiante, ainda neste capítulo. 1.3 Sistema de Coordenadas Cartesianas (ou Retangulares) Para podermos descrever rigorosamente um vetor, alguns comprimentos, direções, ângulos, projeções ou componentes específicos devem ser fornecidos. Há três métodos simples de fazê-lo, os quais serão esmiuçados neste capítulo. O mais simples destes é a adoção do sistema de coordenadas cartesianas ou retangulares. Neste sistema estabelece-se três eixos coordenados que formam ângulos retos entre si, denominados de eixos x, y e z. Na figura a seguir (a) tem-se um sistema de coordenadas cartesianas do tipo triedro direito, em que se usando a mão direita, então o polegar, o indicador e o dedo médio podem ser identificados, respectivamente, como os eixos x, y e z. Nesta mesma figura podemos identificar os planos x = 0, y = 0 e z = 0. Tomando-se os ponto 𝑃(1,2,3) e 𝑄(2,−2,1) como exemplo, poderemos identificá-los no sistema de coordenadas cartesianas conforme figura (b) a seguir. O ponto P está, portanto, localizado no ponto comum da interseção dos planos x = 1, y = 2 e z = 3, enquanto que o ponto Q está localizado na interseção dos planos x = 2, y = -2 e z = 1. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 5 Podemos, conforme a figura (c) acima, deslocar um ponto 𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧) levemente para um ponto 𝑃′(𝑥 + 𝑑𝑥, 𝑦 + 𝑑𝑦, 𝑧 + 𝑑𝑧) adicionando-se diferenciais de comprimento. Os dois pontos P e P' formam 6 planos, conforme já falado, os quais definem um paralelepípedo retângulo cujo o diferencial de volume é 𝑑𝑣 = 𝑑𝑥 𝑑𝑦 𝑑𝑧; as superfícies possuem áreas diferenciais dS de 𝑑𝑥 𝑑𝑦, 𝑑𝑦 𝑑𝑧 e 𝑑𝑧 𝑑𝑥. E finalmente, a distância dL de P a P' é a diagonal do paralelepípedo e possui um comprimento diferencial √𝑑𝑥2 + 𝑑𝑦2 + 𝑑𝑧2. 1.4 Componentes Vetoriais e Vetores Unitários Para descrever um vetor no sistema de coordenadas cartesianas, vamos considerar primeiramente um vetor 𝑟 partindo da origem até um ponto P qualquer. Se as componentes vetoriais de 𝑟 são �⃗�, �⃗� e 𝑧, então 𝑟 = �⃗� + �⃗� + 𝑧, conforme mostrado na figura (a) abaixo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 6 Contudo, o uso das componentes vetoriais da forma que foram apresentadas não é comumente empregado. A figura (b) anterior apresenta os vetores unitários fundamentais �̂�𝑥, �̂�𝑦 e �̂�𝑧 representativos dos eixos cartesianos x, y e z, respectivamente. Considerando um vetor 𝑟 apontando da origem ao ponto 𝑃(1,2,3), o mesmo pode ser escrito tendo por base os vetores unitários dos eixos cartesianos: 𝑟𝑃 = �̂�𝑥 + 2�̂�𝑦 + 3�̂�𝑧 . Considerando-se um vetor 𝑟 apontando da origem ao ponto 𝑄(2,−2,1), tem-se 𝑟𝑄 = 2�̂�𝑥 − 2�̂�𝑦 + �̂�𝑧. Um vetor �⃗⃗�𝑃𝑄 de origem no ponto 𝑃(1,2,3) e apontando para 𝑄(2,−2,1) seria: �⃗⃗�𝑃𝑄 = 𝑟𝑄 − 𝑟𝑃 = (2�̂�𝑥 − 2�̂�𝑦 + �̂�𝑧) − (�̂�𝑥 + 2�̂�𝑦 + 3�̂�𝑧) = (2 − 1)�̂�𝑥 + (−2 − 2)�̂�𝑦 + (1 − 3)�̂�𝑧 = �̂�𝑥 − 4�̂�𝑦 − 2�̂�𝑧 Os vetores em questão podem ser vistos na figura (c) anterior. Então, qualquer vetor �⃗⃗�, pode ser escrito como �⃗⃗� = 𝐵𝑥�̂�𝑥 + 𝐵𝑦�̂�𝑦 + 𝐵𝑧�̂�𝑧. E o módulo de �⃗⃗�, escrito como |�⃗⃗�|, ou simplesmente B, é dado por Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 7 |�⃗⃗�| = 𝐵 = √𝐵𝑥 2 + 𝐵𝑦 2 + 𝐵𝑧2 Cada um dos três sistemas de coordenadas a serem discutidos tem seus três vetores unitários fundamentais e mutuamente independentes que são usados para analisar qualquer vetor em suas componentes vetoriais. Os vetores unitários não são limitados a esta aplicação, todo vetor tem seu vetor unitário que é facilmente encontrado dividindo o vetor por seu módulo. Então o vetor unitário de �⃗⃗� é �̂�𝐵 = �⃗⃗� |�⃗⃗�| = �⃗⃗� √𝐵𝑥 2 + 𝐵𝑦 2 + 𝐵𝑧2 A notação empregada para todo vetor unitário neste curso será o acento circunflexo sobre a letra do vetor, já no livro usa-se tão somente a letra “a” para identificar o mesmo. Vale ainda ressaltar, que o vetor 𝑟 apresentado, o qual liga a origem do sistema a um ponto P qualquer, é comumente chamado devetor posição. 1.5 Introdução aos Campos Todo campo pode ser definido matematicamente como função de um vetor que liga uma origem arbitrária a um ponto genérico no espaço. Note que o conceito de campo invariavelmente está relacionado a uma região. O campo pode assumir características escalares ou vetorial. Em geral para o campo vetorial, o módulo e a direção da função irão variar à medida que nos movemos através da região, e o valor da função vetorial deve ser determinado utilizando-se os valores das coordenadas do ponto em questão. Já o campo escala terá apenas o módulo variando. E como consideramos apenas o sistema de coordenadas cartesianas, devemos esperar que o campo vetorial ou escalar seja função das variáveis x, y e z. Se novamente representarmos o vetor posição por 𝑟 , então o campo vetorial �⃗� pode ser expresso, em notação funcional, como �⃗�(𝑟); enquanto o campo escalar T é escrito como 𝑇(𝑟) , havendo, neste caso, variação apenas do módulo da função. Pode-se citar como exemplos de campo escalar o campo da temperatura de um líquido no interior de um prato de sopa em função do vetor posição, ou ainda, o campo potencial elétrico de uma carga pontual. Por outro lado, são exemplos de campo vetorial a velocidade da corrente de água de um rio em função do vetor posição, o campo elétrico de uma esfera carregada e o campo magnético de um fio conduzindo corrente contínua. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 8 1.6 Produto Escalar Dados dois vetores 𝐴 e �⃗⃗�, o produto escalar, ou produto interno, é definido como o produto entre o módulo de 𝐴, o módulo de �⃗⃗� e o cosseno do menor ângulo entre eles. Assim, 𝐴 ∙ �⃗⃗� = |𝐴||�⃗⃗�| 𝑐𝑜𝑠𝜃𝐴𝐵 Percebe-se, que um ponto aparece entre os dois vetores. O mesmo deve ser forte para dar mais ênfase, lê-se “A escalar B”. O produto escalar tem como resultado um escalar, como o próprio nome indica, e obedece à propriedade comutativa, pois o sinal do ângulo não afeta o termo cosseno, ou seja, 𝐴 ∙ �⃗⃗� = �⃗⃗� ∙ 𝐴 A determinação do ângulo entre dois vetores no espaço tridimensional é muitas vezes um trabalho que se prefere evitar. Por essa razão, a definição de produto escalar normalmente não é usada em sua forma básica. Um resultado mais útil é obtido considerando-se dois vetores cujas componentes cartesianas são dadas por 𝐴 = 𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧 e �⃗⃗� = 𝐵𝑥�̂�𝑥 + 𝐵𝑦�̂�𝑦 + 𝐵𝑧�̂�𝑧. O produto escalar também obedece à propriedade distributiva, portanto, 𝐴 ∙ �⃗⃗� fornece uma soma de nove termos escalares, cada um envolvendo o produto escalar de dois vetores unitários. Então, 𝐴 ∙ �⃗⃗� = (𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧 ) ∙ (𝐵𝑥�̂�𝑥 + 𝐵𝑦�̂�𝑦 + 𝐵𝑧�̂�𝑧) = 𝐴𝑥𝐵𝑥(�̂�𝑥 ∙ �̂�𝑥) + 𝐴𝑥𝐵𝑦(�̂�𝑥 ∙ �̂�𝑦) + 𝐴𝑥𝐵𝑧(�̂�𝑥 ∙ �̂�𝑧) + 𝐴𝑦𝐵𝑥(�̂�𝑦 ∙ �̂�𝑥) + 𝐴𝑦𝐵𝑦(�̂�𝑦 ∙ �̂�𝑦) + 𝐴𝑦𝐵𝑧(�̂�𝑦 ∙ �̂�𝑧) + 𝐴𝑧𝐵𝑥(�̂�𝑧 ∙ �̂�𝑥) + 𝐴𝑧𝐵𝑦(�̂�𝑧 ∙ �̂�𝑦) + 𝐴𝑧𝐵𝑧(�̂�𝑧 ∙ �̂�𝑧) como o ângulo entre dois vetores unitários diferentes no sistema de coordenadas cartesianas é 90°, temos �̂�𝑥 ∙ �̂�𝑦 = �̂�𝑥 ∙ �̂�𝑧 = �̂�𝑦 ∙ �̂�𝑥 = �̂�𝑦 ∙ �̂�𝑧 = �̂�𝑧 ∙ �̂�𝑥 = �̂�𝑧 ∙ �̂�𝑦 = 0 Os três termos restantes envolvem o produto escalar de um vetor unitário por ele mesmo, o que é igual à unidade, finalmente obtendo-se: 𝐴 ∙ �⃗⃗� = 𝐴𝑥𝐵𝑥 + 𝐴𝑦𝐵𝑦 + 𝐴𝑧𝐵𝑧 que é uma expressão que não envolve ângulos. Vale ressaltar que, o produto escalar de um vetor por ele mesmo é o quadrado de seu módulo, ou seja, Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 9 𝐴 ∙ 𝐴 = |𝐴| 2 = 𝐴2 e o produto escalar de qualquer vetor unitário por ele mesmo é igual à unidade, ou seja, �̂�𝐴 ∙ �̂�𝐴 = 1. Uma das aplicações mais importantes do produto escalar é o cálculo da componente de um vetor dada uma certa direção. Podemos obter a componente (escalar) de �⃗⃗� na direção especificada pelo vetor unitário �̂� como �⃗⃗� ∙ �̂� = |�⃗⃗�||�̂�|𝑐𝑜𝑠𝜃𝐵𝑎 = |�⃗⃗�|𝑐𝑜𝑠𝜃𝐵𝑎 Neste caso é usado o termo projeção. Assim, �⃗⃗� ∙ �̂� é a projeção do vetor �⃗⃗� na direção �̂�, conforme pode ser observado na figura a seguir. Para obtermos a componente vetorial de �⃗⃗� na direção de �̂�, multiplicamos a componente escalar (projeção) por �̂�, como ilustrado na figura que se segue, ficando (�⃗⃗� ∙ �̂�)�̂�. 1.7 Produto Vetorial Dados dois vetores 𝐴 e �⃗⃗�, definiremos agora o produto vetorial, ou produto cruzado, de 𝐴 e �⃗⃗�, escrito com uma cruz entre os dois vetores, como 𝐴 × �⃗⃗�, e lido “A vetorial B”. O produto vetorial 𝐴 × �⃗⃗� é um vetor; o módulo de 𝐴 × �⃗⃗� é igual ao produto dos módulos de 𝐴, �⃗⃗� e o seno do menor ângulo entre 𝐴 e �⃗⃗�; a direção de 𝐴 × �⃗⃗� é perpendicular ao plano que contém 𝐴 e �⃗⃗� e está ao longo de duas possíveis perpendiculares, todavia escolhe-se aquela que está no sentido do avanço de um parafuso direito à medida que 𝐴 é girado para �⃗⃗�, conforme figura a seguir. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 10 Outra forma de determinar o sentido do vetor �̂�𝑁 é por meio da regra da mão direita. Sendo esta regra de mais fácil análise. Na forma de equação, podemos escrever 𝐴 × �⃗⃗� = �̂�𝑁 |𝐴||�⃗⃗�| 𝑠𝑒𝑛𝜃𝐴𝐵 O produto vetorial não é comutativo, já que 𝐴 × �⃗⃗� = −(�⃗⃗� × 𝐴). Se a definição de produto vetorial é aplicada aos vetores unitários �̂�𝑥 e �̂�𝑦 , encontramos �̂�𝑥 × �̂�𝑦 = �̂�𝑧, onde cada vetor possui módulo unitário, os dois vetores são perpendiculares e a rotação de �̂�𝑥 para �̂�𝑦 indica a direção positiva de z pela definição do sistema de coordenadas do tipo triedro direito. De maneira semelhante, �̂�𝑦 × �̂�𝑧 = �̂�𝑥 e �̂�𝑧 × �̂�𝑥 = �̂�𝑦. O cálculo do produto vetorial por meio de sua definição exige mais trabalho do que o cálculo do produto escalar, porém este trabalho pode ser evitado usando-se as componentes cartesianas para os dois vetores 𝐴 e �⃗⃗� e expandindo-se o produto vetorial como a soma de nove produtos vetoriais, cada um envolvendo dois vetores unitários. 𝐴 × �⃗⃗� = (𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧 ) × (𝐵𝑥�̂�𝑥 + 𝐵𝑦�̂�𝑦 + 𝐵𝑧�̂�𝑧) = 𝐴𝑥𝐵𝑥(�̂�𝑥 × �̂�𝑥) + 𝐴𝑥𝐵𝑦(�̂�𝑥 × �̂�𝑦) + 𝐴𝑥𝐵𝑧(�̂�𝑥 × �̂�𝑧) + 𝐴𝑦𝐵𝑥(�̂�𝑦 × �̂�𝑥) + 𝐴𝑦𝐵𝑦(�̂�𝑦 × �̂�𝑦) + 𝐴𝑦𝐵𝑧(�̂�𝑦 × �̂�𝑧) + 𝐴𝑧𝐵𝑥(�̂�𝑧 × �̂�𝑥) + 𝐴𝑧𝐵𝑦(�̂�𝑧 × �̂�𝑦) + 𝐴𝑧𝐵𝑧(�̂�𝑧 × �̂�𝑧) Já vimos que �̂�𝑥 × �̂�𝑦 = �̂�𝑧, �̂�𝑦 × �̂�𝑧 = �̂�𝑥 e �̂�𝑧 × �̂�𝑥 = �̂�𝑦. Os três termos remanescentes são iguais a zero, pois o produto vetorial de qualquer vetor por ele mesmo é igual a zero, já que o seno do ângulo envolvido é nulo. Estes resultados podem ser combinados para se obter 𝐴 × �⃗⃗� = (𝐴𝑦𝐵𝑧 − 𝐴𝑧𝐵𝑦)�̂�𝑥 + (𝐴𝑧𝐵𝑥 − 𝐴𝑥𝐵𝑧)�̂�𝑦 + (𝐴𝑥𝐵𝑦 − 𝐴𝑦𝐵𝑥)�̂�𝑧 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 11 que pode ser escrita como um determinante, numa forma mais fácil de ser lembrada: 𝐴 × �⃗⃗� = | �̂�𝑥 �̂�𝑦 �̂�𝑧 𝐴𝑥 𝐴𝑦 𝐴𝑧 𝐵𝑥 𝐵𝑦 𝐵𝑧 | Usando-se o cálculo do produto vetorial por meio desta matriz não há necessidade da aplicação de qualquer regra adicional para se encontrar o vetor normal, uma vez que o mesmo já será determinado pela resolução da equação. 1.8 Sistema de Coordenadas Cilíndricas Circulares O sistema de coordenadas cartesianas é, em geral, o preferido dos estudantes, contudo existem vários problemas ondea simetria pede um tratamento mais adequado para sua resolução. O sistema de coordenadas cilíndricas (com o objetivo de facilitar, não usaremos o termo “circulares”, apesar de existirem outros tipos de sistemas de coordenadas cilíndricas) é uma versão tridimensional das coordenadas polares da geometria analítica. No sistema de coordenadas polares bidimensional, um ponto é localizado em um plano dando-se a sua distância 𝜌 da origem e o ângulo 𝜙 entre a linha do ponto à origem e uma linha radial arbitrária, tomada como 𝜙 = 0. Um sistema de coordenadas tridimensionais cilíndricas circulares é obtido especificando-se a distância z do ponto a um plano arbitrário 𝑧 = 0, perpendicular à reta 𝜌 = 0. No sistema de coordenadas cilíndricas não mais consideraremos os três eixos como nas coordenada cartesianas, todavia o ponto continua sendo definido pela interseção de três superfícies mutuamente perpendiculares. Estas superfícies são: uma cilíndrica circular (𝜌 = constante), uma plana (𝜙 = constante) e uma outra também plana (𝑧 = constante), conforme pode ser visto na figura (a) abaixo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 12 Os vetores unitários apontam na direção crescente dos valores das coordenadas e são perpendiculares à superfície na qual esta coordenada é constante, sendo os três vetores especificados como: �̂�𝜌, �̂�𝜙 e �̂�𝑧. A figura (b) anterior mostra estes três vetores. Os vetores unitários são novamente mutuamente perpendiculares, pois cada um é normal a uma das três superfícies mutuamente perpendiculares, definindo-se, um sistema de coordenadas cilíndricas do tipo triedro direito, no qual �̂�𝜌 × �̂�𝜙 = �̂�𝑧 ou um sistema no qual o polegar, o indicador e o dedo médio da mão direita apontam, respectivamente, na direção crescente de 𝜌, 𝜙 e 𝑧. Um elemento diferencial de volume em coordenadas cilíndricas pode ser obtido aumentando- se 𝜌, 𝜙 e 𝑧 de incrementos diferenciais 𝑑𝜌, 𝑑𝜙 e 𝑑𝑧. Os dois cilindros de raios 𝜌 e 𝜌 + 𝑑𝜌, os dois planos radiais nos ângulos 𝜙 e 𝜙 + 𝑑𝜙 e os dois planos “horizontais” nas “elevações” 𝑧 e 𝑧 + 𝑑𝑧 limitam um pequeno volume, como mostrado na figura (c) anterior. Note que 𝑑𝜌 e 𝑑𝑧 têm dimensões de comprimento, mas 𝑑𝜙 não tem; 𝜌 𝑑𝜙 é o comprimento. O volume aproximado da figura será dado por 𝜌 𝑑𝜌 𝑑𝜙 𝑑𝑧, pois a forma do elemento de volume, por ser muito pequeno, aproxima-se à de um paralelepípedo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 13 As variáveis dos sistemas de coordenadas retangular e cilíndrico são facilmente relacionadas umas com as outras. Temos que 𝑥 = 𝜌 𝑐𝑜𝑠𝜙 𝑦 = 𝜌 𝑠𝑒𝑛𝜙 𝑧 = 𝑧 Do outro ponto de vista, podemos expressar as variáveis cilíndricas em temos de x, y e z 𝜌 = √𝑥2 + 𝑦2 (𝜌 > 0) 𝜙 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛 𝑦 𝑥 (𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒) 𝑧 = 𝑧 O valor adequado do ângulo 𝜙 é determinado por inspeção dos sinais de x e y, para encontrar o quadrante do ângulo. Dado o vetor cartesiano 𝐴 = 𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧 desejamos encontrar o mesmo vetor, porém em coordenadas cilíndricas, do tipo 𝐴 = 𝐴𝜌�̂�𝜌 + 𝐴𝜙�̂�𝜙 + 𝐴𝑧�̂�𝑧 Para determinar qualquer componente de um vetor em uma direção desejada, basta fazer o produto escalar entre o vetor e o vetor unitário na direção desejada. Assim, 𝐴𝜌 = 𝐴 ⋅ �̂�𝜌 𝐴𝜙 = 𝐴 ⋅ �̂�𝜙 𝐴𝑧 = 𝐴 ⋅ �̂�𝑧 desenvolvendo-se as equações, tem-se 𝐴𝜌 = (𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧) ⋅ �̂�𝜌 = 𝐴𝑥(�̂�𝑥 ⋅ �̂�𝜌) + 𝐴𝑦(�̂�𝑦 ⋅ �̂�𝜌) 𝐴𝜙 = (𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧) ⋅ �̂�𝜙 = 𝐴𝑥(�̂�𝑥 ⋅ �̂�𝜙) + 𝐴𝑦(�̂�𝑦 ⋅ �̂�𝜙) 𝐴𝑧 = (𝐴𝑥�̂�𝑥 + 𝐴𝑦�̂�𝑦 + 𝐴𝑧�̂�𝑧) ⋅ �̂�𝑧 = 𝐴𝑧 Analisando-se a figura abaixo, podemos identificar o ângulo entre �̂�𝑥 e �̂�𝜌 como sendo 𝜙, e assim, �̂�𝑥 ⋅ �̂�𝜌 = 𝑐𝑜𝑠𝜙; já o ângulo entre �̂�𝑦 e �̂�𝜌 como sendo 90° − 𝜙 e assim, �̂�𝑦 ⋅ �̂�𝜌 = 𝑠𝑒𝑛𝜙. Os produtos escalares entre os vetores unitários estão resumidos na tabela abaixo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 14 Produtos escalares entre os vetores unitários dos sistemas de coordenadas retangular e cilíndrico �̂�𝜌 �̂�𝜙 �̂�𝑧 �̂�𝒙 ⋅ 𝑐𝑜𝑠𝜙 −𝑠𝑒𝑛𝜙 0 �̂�𝒚 ⋅ 𝑠𝑒𝑛𝜙 𝑐𝑜𝑠𝜙 0 �̂�𝒛 ⋅ 0 0 1 Vale ressaltar que para a mudança de qualquer vetor de um sistema de coordenada para outro, é necessário saber o ponto de origem do mesmo, conforme será melhor compreendido a partir da realização de exercícios práticos. Complementarmente, podemos também traformar um vetor de coordenadas cilíndrica para cartesiana por meio do mesmo procedimento supra-apresentado, todavia, nesta situação, as projeções serão feita na direção dos eixo x, y e z do sistema cartesiano. A transformação de campos vetoriais de coordenadas cartesianas para cilíndricas ou vice-versa é efetuada usando-se as equações de transformação de escalares, mostradas anteriormente, e os produtos escalares entre os vetores unitários dados na tabela acima. 1.9 Sistema de Coordenadas Esféricas A figura (a) abaixo mostra o sistema de coordenadas esféricas sobre os três eixos cartesianos. Inicialmente, definimos a distância da origem a qualquer ponto como 𝑟. A superfície 𝑟 = constante é uma esfera. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 15 A segunda coordenada é o ângulo 𝜃 entre o eixo 𝑧 e a linha desenhada da origem ao ponto em questão. A superfície 𝜃 = constante é um cone. A terceira coordenada é o ângulo ∅ , exatamente o mesmo ângulo ∅ das coordenadas cilíndricas. Ele é o ângulo entre o eixo 𝑥 e a projeção no plano 𝑧 = 0 da linha desenhada da origem ao ponto. A superfície ∅ = constante é um plano que inicia no eixo 𝑧 e vai até o infinito (plano semi- infinito). Podemos novamente considerar qualquer ponto como a interseção de três superfícies mutuamente perpendiculares – uma esfera, um cone e um plano – cada uma orientada na maneira descrita anteriormente e mostrada na figura (b) acima. Os três vetores unitários são �̂�𝒓 , �̂�𝜽 e �̂�𝝓 . Os mesmos encontram-se mutuamente perpendiculares e definem um sistema de coordenadas esféricas do tipo triedro direito, em que, �̂�𝒓 × �̂�𝜽 = �̂�𝝓 . Pela regra da mão direita o polegar, o indicador e o dedo médio indicam, Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 16 respectivamente, 𝑟, 𝜃 e ∅, conforme pode ser visualizado na figura (c) acima. Note que a componente ∅, diferentemente do que foi verificado nas coordenadas cilíndricas, é o 3º termo e não o 2º. Um elemento diferencial de volume pode ser construído em coordenadas esféricas aumentando-se 𝑟, 𝜃 e ∅ por 𝑑𝑟, 𝑑𝜃 e 𝑑∅, como mostra a figura (d) anterior. A distância entre as duas superfícies de raios 𝑟 e 𝑟 + 𝑑𝑟 é 𝑑𝑟; a distância entre os cones com ângulos de geração 𝜃 e 𝜃 + 𝑑𝜃 é 𝑟 𝑑𝜃 e a distância entre os dois planos radiais de ângulos ∅ e ∅ + 𝑑∅ é calculado como sendo 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑑∅. O volume aproximado do elemento será 𝑟2 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑑𝑟 𝑑𝜃 𝑑∅. A transformação de escalares do sistema de coordenadas esféricas para cartesianas pode ser feita usando-se 𝑥 = 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜙 𝑦 = 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑠𝑒𝑛𝜙 𝑧 = 𝑟 𝑐𝑜𝑠𝜃 A transformação no sentido inverso é realizada com a ajuda de 𝑟 = √𝑥2 + 𝑦2 + 𝑧2 (𝑟 > 0) 𝜃 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛√𝑥2 + 𝑦2 𝑧 (0° < 𝜃 < 180°) (𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒) 𝜙 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛 𝑦 𝑥 (𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒) A transformação dos vetores requer a determinação dos produtos vetoriais entre os vetores unitários das coordenadas cartesianas e esféricas. Os produtos são obtidos de maneira análoga ao exposto para as coordenadas cilíndricas. Os mesmos podem ser observados na tabela a seguir. Produtos escalares entre os vetores unitários dos sistemas de coordenadas retangular e esférico �̂�𝒓 �̂�𝜽 �̂�∅ �̂�𝒙 ⋅ 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜙 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜙 −𝑠𝑒𝑛𝜙 �̂�𝒚 ⋅ 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑠𝑒𝑛𝜙 𝑐𝑜𝑠𝜃 𝑠𝑒𝑛𝜙 𝑐𝑜𝑠𝜙 �̂�𝒛 ⋅ 𝑐𝑜𝑠𝜃 −𝑠𝑒𝑛𝜃 0 Pode-se, também, transformar os escalares do sistema de coordenadas esféricas para cilíndricas, para tanto, deve-se usar 𝜌 = 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝜙 = 𝜙 𝑧 = 𝑟 𝑐𝑜𝑠𝜃 A transformação no sentido inverso será Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 17 𝑟 = √𝜌2 + 𝑧2 (𝑟 > 0) 𝜃 = 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛 𝜌 𝑧 (0° < 𝜃 < 180°) (𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒) 𝜙 = 𝜙 Já a transformação dos vetores requer novamente a determinação dos produtos vetoriais entre os vetores unitários das coordenadas cilíndricas e esféricas. Estes podem ser observados na tabela a seguir. Produtos escalares entre os vetores unitários dos sistemas de coordenadas cilíndrico e esférico �̂�𝒓 �̂�𝜽 �̂�∅ �̂�𝝆 ⋅ 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑐𝑜𝑠𝜃 0 �̂�∅ ⋅ 0 0 1 �̂�𝒛 ⋅ 𝑐𝑜𝑠𝜃 −𝑠𝑒𝑛𝜃 0 Observação 1: quando se diz "𝑣𝑒𝑟𝑖𝑓𝑖𝑐𝑎𝑟 𝑞𝑢𝑎𝑑𝑟𝑎𝑛𝑡𝑒", há a necessidade, no caso do ângulo encontrado não ser condizente com a expectativa, de se soma 180° ao mesmo. Isto é verdade para todas as operações envolvendo 𝑎𝑟𝑐𝑡𝑎𝑛. Observação 2: todas as transformações de vetores, de um sistema de coordenada para outro, feitas neste capítulo, foram realizadas considerando que os sistemas possuem um ponto de origem comum. Todavia, caso a origem dos distintos sistemas seja pontos distintos, haverá necessidade de se realizar uma operação de translação para o cálculo do ponto de partida do vetor a ser transformado. Neste sentido, neste nosso curso, quando necessário, será realizado uma explanação apropriada abordando tal operação. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 18 2 – LEI DE COULOMB E INTENSIDADE DE CAMPO ELÉTRICO 2.1 Lei de Coulomb Lei de Coulomb: a força elétrica aplicada por um corpo carregado em outro, depende diretamente do produto das intensidades das cargas presentes em cada corpo e inversamente do quadrado de suas distâncias, ou seja, 𝐹 = 𝑘 𝑄1𝑄2 𝑅2 [𝑁] Onde k é chamada de constante de Coulomb. Esta equação é aplicada para objetos carregados cujo tamanho é muito menor que a distância entre estes, ou seja, somente para cargas pontuais. A constante k é dada por 𝑘 = 1 4𝜋𝜀0 onde 𝜀0 é conhecida por constante elétrica ou constante de permissividade do ar, sendo seu valor, no SI (Sistema Internacional), igual a 𝜀0 = 8,85418781762𝑥10 −12 = 1 36𝜋 10−9 𝐶2 𝑁.𝑚2⁄ 𝑘 = 8,99𝑥109 𝑁.𝑚2 𝐶2⁄ A lei de Coulomb é agora escrita como 𝐹 = 𝑄1𝑄2 4𝜋𝜀0𝑅2 Para podermos representa o vetor força da lei de Coulomb, precisamos saber se a força que atua sobre as cargas é de repulsão ou atração. Pois, como é sabido, cargas de mesmos sinais se repelem e cargas de sinais contrários se atraem. Todavia, neste curso, as equações serão, via de regra, desenvolvidas de modo a chegarmos a resultados definitivos sem que, para isto, haja a necessidade de análises complementares, conforme poderemos notar através do equacionamento final a seguir. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 19 Na figura acima, temos o vetor 𝑟1 localizando 𝑄1 enquanto 𝑟2 localiza 𝑄2 . Então o vetor �⃗⃗�12 = 𝑟2 − 𝑟1 representa o segmento de reta orientado de 𝑄1 para 𝑄2, como mostrado. O vetor �⃗�2 é a força em 𝑄2 e é mostrado para o caso em que 𝑄1 e 𝑄2 possuem o mesmo sinal. A forma vetorial da lei de Coulomb será �⃗�2 = 𝑄1𝑄2 4𝜋𝜀0𝑅12 2 �̂�12 onde �̂�12 é o vetor unitário na mesma direção �⃗⃗�12. Esta equação pode ser considerada uma equação genérica, uma vez que a mesma pode ser aplicadas a qualquer tipo interação (atração ou repulsão). A força expressa pela lei de Coulomb é uma força mútua de ação e reação, já que cada uma das duas cargas experimenta uma força de mesma intensidade direção, apesar de sentidos opostos. Assim, a força sobre a carga 1 será: �⃗�1 = −�⃗�2 = 𝑄1𝑄2 4𝜋𝜀0𝑅21 2 �̂�21 2.2 Intensidade de Campo Elétrico Se considerarmos uma carga fixa numa posição 𝑄1, e lentamente movermos uma segunda carga, chamada de carga de teste 𝑄𝑡, em torno da primeira, notaremos que existe por toda parte uma força nesta segunda carga; em outras palavras, esta segunda carga está mostrando a existência de um campo de força. A força sobre ela é dada por �⃗�𝑡 = 𝑄1𝑄𝑡 4𝜋𝜀0𝑅1𝑡 2 �̂�1𝑡 A intensidade de campo elétrico é definida pela razão da força observada nesta carga teste - �⃗�𝑡 - pela unidade da carga teste - 𝑄𝑡. Usando a letra maiúscula 𝐸 para a intensidade do campo elétrico, temos Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 20 �⃗⃗� = �⃗�𝑡 𝑄𝑡 = 𝑄1 4𝜋𝜀0𝑅1𝑡 2 �̂�1𝑡 A intensidade do campo elétrico deve ser medida em unidades de Newton por Coulomb, ou ainda, volts por metro, conforme será deduzido posteriormente. Dispensando-se os índices, podemos reescrever a equação anterior como �⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑅2 �̂�𝑅 Relembrando que 𝑅 é a magnitude do vetor �⃗⃗�, segmento de reta orientado do ponto no qual a carga pontual 𝑄 está localizada ao ponto no qual �⃗⃗� é desejado, e que �̂�𝑅 é um vetor unitário na direção de �⃗⃗�. Se localizarmos 𝑄 no centro do sistema de coordenadas esféricas, o vetor unitário �̂�𝑅, então, se torna o vetor unitário radial �̂�𝑟, e 𝑅 é 𝑟. Assim, �⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 �̂�𝑟 Já se escrevermos esta expressão em coordenadas cartesianas para a carga na origem, temos �⃗⃗� = 𝑟 = 𝑥�̂�𝑥 + 𝑦�̂�𝑦 + 𝑧�̂�𝑧 e �̂�𝑟 = 𝑥�̂�𝑥+𝑦�̂�𝑦+𝑧�̂�𝑧 √𝑥2+𝑦2+𝑧2 , portanto, �⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝜀0(𝑥2 + 𝑦2 + 𝑧2) ( 𝑥 √𝑥2 + 𝑦2 + 𝑧2 �̂�𝑥 + 𝑦 √𝑥2 + 𝑦2 + 𝑧2 �̂�𝑦 + 𝑧 √𝑥2 + 𝑦2 + 𝑧2 �̂�𝑧) Então, pode-se notar que o sistema de coordenadas esféricas, devido à simetria do problema em questão, é o mais adequado para uma representação (quando a carga encontra-se localizada na origem do sistema). Se considerarmos a carga deslocada da origem do sistema, o campo não mais possuirá simetria esférica, e teremos que usar coordenadas cartesianas. Para uma carga 𝑄 localizada no ponto 𝑟′ = 𝑥′�̂�𝑥 + 𝑦 ′�̂�𝑦 + 𝑧 ′�̂�𝑧 , como mostrada na figura abaixo, encontramos o campo num ponto genérico 𝑟 = 𝑥�̂�𝑥 + 𝑦�̂�𝑦 + 𝑧�̂�𝑧, expressando �⃗⃗� como 𝑟 − 𝑟 ′, e então �⃗⃗�(𝑟) = 𝑄 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟′|2 𝑟 − 𝑟′ |𝑟 − 𝑟′| �⃗⃗�(𝑟) = 𝑄(𝑟 − 𝑟′) 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟′|3 �⃗⃗�(𝑟) = 𝑄[(𝑥 − 𝑥′)�̂�𝑥 + (𝑦 − 𝑦 ′)�̂�𝑦 + (𝑧 − 𝑧 ′)�̂�𝑧] 4𝜋𝜀0[(𝑥 − 𝑥′)2 + (𝑦 − 𝑦′)2 + (𝑧 − 𝑧′)2]3/2 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 21 Para o caso em que se pretende encontrar a intensidade de campo elétrico provenientede várias cargas pontuais, basta somar vetorialmente o campo devido a cada uma destas cargas, ou seja, �⃗⃗�(𝑟) = 𝑄1 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟1 ′|2 �̂�1 + 𝑄2 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟2 ′|2 �̂�2 + ⋯ + 𝑄𝑛 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟𝑛 ′|2 �̂�𝑛 A figura a seguir apresenta um exemplo da soma vetorial da intensidade de campo elétrico total em um ponto P devido a duas cargas pontuais 𝑄1 e 𝑄2. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 22 2.3 Distribuições Contínuas de Cargas Caso tenhamos uma distribuição de carga ao longo de um volume qualquer, podemos representar a densidade volumétrica de carga por 𝜌𝑣, tendo a unidade de Coulomb por metro cúbico (C/m3). Uma pequena quantidade de carga Δ𝑄 em um pequeno volume Δ𝑣 é Δ𝑄 = 𝜌𝑣 Δ𝑣 A carga total dentro de um volume finito é obtida pela integração através deste volume, 𝑄 = ∭𝜌𝑣 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙. Muito embora a indicação de uma integração tripla, normalmente apenas um sinal de integração é indicado, porém o diferencial 𝑑𝑣 significará integração através de um volume, portanto, uma integração tripla. Caso a carga esteja distribuída ao longo de uma área, teremos uma distribuição superficial de carga. A mesma é representada por 𝜌𝑆, que é a densidade superficial de carga com unidade dada em Coulomb por metro quadrado (C/m2). Então, 𝑄 = ∬𝜌𝑆 𝑑𝑆 𝑠𝑢𝑝. E, por fim, para uma distribuição de cargas ao longo de uma linha, temos a densidade linear de carga, que é representada por 𝜌𝐿, cuja a unidade é Coulomb por metro (C/m). Assim, 𝑄 = ∫𝜌𝐿 𝑑𝐿 2.4 Campo de uma Linha de Cargas Consideremos uma linha reta de cargas ao longo do eixo z no sistema de coordenadas cilíndricas (devido à simetria existente) de −∞ a ∞, como mostra a figura a seguir. Neste caso, temos uma densidade linear de carga dada por 𝜌𝐿. Desejamos a intensidade do campo elétrico �⃗⃗� em todo e qualquer ponto resultante desta linha de cargas de densidade uniforme (𝜌𝐿 constante). Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 23 Escolhemos um ponto 𝑃(0, 𝑦, 0) no eixo y no qual determinaremos o campo. Aplicando-se a equação da intensidade de campo de cargas pontuais para determinar o campo incremental em P devido à carga incremental tem-se: 𝑑𝑄 = 𝜌𝐿 𝑑𝑧 ′ Assim, �⃗⃗�(𝑟) = 𝑄(𝑟 − 𝑟′) 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟′|3 (para carga pontual) 𝑑�⃗⃗� = 𝜌𝐿 𝑑𝑧 ′(𝑟 − 𝑟′) 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟′|3 (para carga incremental numa linha de cargas) onde 𝑟 = 𝑦�̂�𝑦 = 𝜌�̂�𝜌 𝑟′ = 𝑧′�̂�𝑧 e 𝑟 − 𝑟′ = 𝜌�̂�𝜌 − 𝑧 ′�̂�𝑧 Portanto, 𝑑�⃗⃗� = 𝜌𝐿 𝑑𝑧 ′(𝜌�̂�𝜌 − 𝑧 ′�̂�𝑧) 4𝜋𝜀0(𝜌2 + 𝑧′2)3/2 De forma genérica: 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝐸𝜌�̂�𝜌 + 𝑑𝐸𝜙�̂�𝜙 + 𝑑𝐸𝑧�̂�𝑧 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 24 Pode-se perceber, por meio da figura, que a componente 𝐸𝑧 será nula devido a simetria, restando tão somente 𝐸𝜌, então 𝑑𝐸𝜌 = 𝜌𝐿 𝜌 𝑑𝑧 ′ 4𝜋𝜀0(𝜌2 + 𝑧′2)3/2 e 𝐸𝜌 = ∫ 𝜌𝐿 𝜌 𝑑𝑧 ′ 4𝜋𝜀0(𝜌2 + 𝑧′2)3/2 ∞ −∞ Integrando a expressão, tem-se 𝐸𝜌 = 𝜌𝐿 4𝜋𝜀0 𝜌 ( 1 𝜌2 𝑧′ √𝜌2 + 𝑧′2 ) −∞ ∞ e 𝐸𝜌 = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 ou, de forma vetorial: �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 Esta é a resposta desejada, mas há outras maneiras de obtê-la. Por outro lado, vale ressaltar que, caso calculemos a integral de 𝐸𝑧, encontraremos como resultado, zero, ou seja, 𝐸𝑧 = ∫ −𝑧′𝜌𝐿 𝑑𝑧 ′ 4𝜋𝜀0(𝜌2 + 𝑧′2)3/2 ∞ −∞ = 0 Devemos também examinar o fato de que nem todas as linhas de carga estão localizadas ao longo do eixo z. Como exemplo, consideremos uma linha de cargas infinita paralela ao eixo z em 𝑥 = 6 , 𝑦 = 8 , como mostrada na figura abaixo. Desejamos determinar �⃗⃗� em um ponto genérico 𝑃(𝑥, 𝑦, 𝑧). Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 25 Na equação da intensidade de campo encontrada para a linha de carga infinita, substitui-se 𝜌 pela distância radial entre a linha de carga e o ponto P, 𝑅 = √(𝑥 − 6)2 + (𝑦 − 8)2 e consideramos �̂�𝜌 como sendo �̂�𝑅. Assim, �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0√(𝑥 − 6)2 + (𝑦 − 8)2 �̂�𝑅 onde �̂�𝑅 = �⃗⃗� |�⃗⃗�| = (𝑥 − 6)�̂�𝑥 + (𝑦 − 8)�̂�𝑦 √(𝑥 − 6)2 + (𝑦 − 8)2 Portanto, �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0 (𝑥 − 6)�̂�𝑥 + (𝑦 − 8)�̂�𝑦 (𝑥 − 6)2 + (𝑦 − 8)2 Nota-se, novamente, que o campo não é uma função de z. De forma genérica, para linha de carga paralela a qualquer eixo do sistema de coordenadas cartesianas, pode-se escrever: �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝑅 �̂�𝑅 2.5 Campo de uma Lâmina de Cargas Outra configuração básica é a lâmina infinita de carga de densidade uniforme (𝜌𝑆 constante). Consideremos que a mesma está localizada no plano yz (x = 0), conforme figura a seguir. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 26 Partiremos o desenvolvimento da análise do campo de uma linha de cargas. Para tanto, dividiremos a lâmina infinita em faixas de larguras diferenciais. Cada faixa equivalerá a uma linha de cargas, de acordo com a figura anterior. A densidade linear de carga de cada faixa, neste caso, será: 𝜌𝐿 = 𝜌𝑆 𝑑𝑦 ′ Aplicando-se a equação da intensidade de campo de linha de cargas, temos �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝑅 �̂�𝑅 (para linha de cargas) 𝑑�⃗⃗� = 𝜌𝑆 𝑑𝑦 ′ 2𝜋𝜀0𝑅 �̂�𝑅 (para linha de cargas incremental numa lâmina infinita de cargas) sendo 𝑟 = 𝑥�̂�𝑥 𝑟′ = 𝑦′�̂�𝑦 �⃗⃗� = 𝑟 − 𝑟′ = 𝑥�̂�𝑥 − 𝑦 ′�̂�𝑦 𝑅 = |�⃗⃗�| = √𝑥2 + 𝑦′2 �̂�𝑅 = �⃗⃗� |�⃗⃗�| = 𝑥�̂�𝑥 − 𝑦 ′�̂�𝑦 √𝑥2 + 𝑦′2 Portanto, 𝑑�⃗⃗� = 𝜌𝑆 𝑑𝑦 ′(𝑥�̂�𝑥 − 𝑦 ′�̂�𝑦) 2𝜋𝜀0(𝑥2 + 𝑦′2) De forma genérica: Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 27 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝐸𝑥�̂�𝑥 + 𝑑𝐸𝑦�̂�𝑦 + 𝑑𝐸𝑧�̂�𝑧 Analisando-se a simetria, tem-se que a componente 𝐸𝑦 será nula, restando tão somente a componente 𝐸𝑥. Então 𝑑𝐸𝑥 = 𝜌𝑆 𝑥 𝑑𝑦 ′ 2𝜋𝜀0(𝑥2 + 𝑦′2) e 𝐸𝑥 = ∫ 𝜌𝑆 𝑥 𝑑𝑦 ′ 2𝜋𝜀0(𝑥2 + 𝑦′2) ∞ −∞ Integrando, com o auxílio de tabela de integrais, temos 𝐸𝑥 = 𝜌𝑆 2𝜋𝜀0 [𝑎𝑟𝑐𝑡𝑔 ( 𝑦′ 𝑥 )] −∞ ∞ e 𝐸𝑥 = 𝜌𝑆 2𝜀0 Porém, vale ressaltar que, caso calculemos a integral de 𝐸𝑦 , encontraremos zero como resultado, ou seja, 𝐸𝑦 = ∫ −𝑦′𝜌𝑆 𝑑𝑦 ′ 2𝜋𝜀0(𝑥2 + 𝑦′2) ∞ −∞ = 0 Já, se o ponto P tivesse sido escolhido no semi-eixo x negativo, então 𝐸𝑥 = − 𝜌𝑆 2𝜀0 pois o campo está sempre dirigido para fora, no caso de uma superfície positivamente carregada. Esta dificuldade no sinal é usualmente contornada especificando-se um vetor unitário �̂�𝑁, o qual é normal à lâmina e (sempre) direcionado para fora da mesma. Então, �⃗⃗� = 𝜌𝑆 2𝜀0 �̂�𝑁 A título de exemplo, se uma segunda lâmina de cargas, tendo uma densidade de carga negativa −𝜌𝑆 , fosse adicionada no plano localizado em 𝑥 = 𝑎 , poderíamos determinar o campo total adicionando as contribuições de cada lâmina. Na região 𝑥 > 𝑎, Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 28 �⃗⃗� = �⃗⃗�+ + �⃗⃗�−= 𝜌𝑆 2𝜀0 �̂�𝑥 − 𝜌𝑆 2𝜀0 �̂�𝑥 = 0 e para 𝑥 < 0, �⃗⃗� = �⃗⃗�+ + �⃗⃗�− = 𝜌𝑆 2𝜀0 (−�̂�𝑥) − 𝜌𝑆 2𝜀0 (−�̂�𝑥) = 0 e quando 0 < 𝑥 < 𝑎, �⃗⃗� = �⃗⃗�+ + �⃗⃗�− = 𝜌𝑆 2𝜀0 �̂�𝑥 − 𝜌𝑆 2𝜀0 (−�̂�𝑥) = 𝜌𝑆 𝜀0 �̂�𝑥 Este é um resultado importante na prática, pois é o campo encontrado entre as placas paralelas de um capacitor separadas por ar, contanto que as dimensões lineares das placas sejam bem menores que a sua separação e também que estejamos considerando um ponto bem distante das bordas. 2.6 Linhas de Força e Esboço de Campos As linhas de força são linhas imaginárias em cada ponto do espaço sob influência de um campo elétrico. Elas são empregadas no sentido de visualizar melhor a atuação do campo elétrico. Por convenção, são propriedades destas linhas: as linhas de força começam nas cargas positivas e terminam nas cargas negativas; a tangente à linha de força passando por qualquer ponto no espaço fornece a direção do campo elétrico naquele ponto; a intensidade do campo elétrico em qualquer ponto é proporcional ao número de linhas por unidade de área transversal perpendicular às mesmas. Contudo, se tentássemos esboçar o campo de uma carga pontual, a variação do campo para dentro e para fora da página poderia essencialmente causar dificuldades. Por esta razão, o esboço é habitualmente limitado a representações bidimensionais, conforme exemplos abaixo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 29 No caso de um campo bidimensional, vamos arbitrariamente considerar 𝐸𝑧 = 0. As linhas de força estão assim confinadas aos planos nos quais z é constante. Na figura abaixo, linhas de força são mostradas, e as componentes 𝐸𝑥 e 𝐸𝑦 são indicadas em um ponto genérico. As equações das linhas de força podem ser obtidas por meio da evidente constatação que 𝐸𝑦 𝐸𝑥 = 𝑑𝑦 𝑑𝑥 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 30 Como ilustração deste método considere o campo de uma linha de cargas uniforme com distribuição linear 𝜌𝐿 = 2𝜋𝜀0, �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 = 1 𝜌 �̂�𝜌 Em coordenadas cartesianas, �⃗⃗� = 𝑥 𝑥2 + 𝑦2 �̂�𝑥 + 𝑦 𝑥2 + 𝑦2 �̂�𝑦 Assim, formamos a equação diferencial 𝑑𝑦 𝑑𝑥 = 𝐸𝑦 𝐸𝑥 = 𝑦 𝑥 𝑜𝑢 𝑑𝑦 𝑦 = 𝑑𝑥 𝑥 Portanto, 𝑙𝑛 𝑦 = 𝑙𝑛 𝑥 + 𝐶 𝑜𝑢 𝑙𝑛 𝑦 = 𝑙𝑛 𝑥 + 𝑙𝑛 𝐶 ou ainda, 𝑦 = 𝐶𝑥 Neste caso, para encontrar a equação matemática de uma linha de força em particular, basta substituirmos as coordenadas de um ponto pertecente à mesma e calcularmos a contante C acima. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 31 3 – DENSIDADE DE FLUXO ELÉTRICO, LEI DE GAUSS E DIVERGÊNCIA 3.1 Densidade de Fluxo Elétrico A figura a seguir ilustra um experimento de Faraday em que se têm duas esferas condutoras concêntricas separadas entre si por um material dielétrico. A esfera interna é previamente carregada com carga +𝑄 , posteriormente, coloca-se a esfera externa descarregada e conecta-a momentaneamente a terra. Com isto Faraday observou que a esfera externa, que a princípio estava descarregada, ficava carregada com carga igual (em magnitude) à carga da esfera interna e que isto era verdade independente do material dielétrico que separava as duas esferas. Ele concluiu que da esfera interna para a externa havia um certo tipo de “deslocamento” que era independente do meio, e agora nos referimos a este “deslocamento” ou fluxo como fluxo elétrico. O mesmo será representado por 𝛹 (psi) e dado, conforme experimento, por 𝛹 = 𝑄 O fluxo elétrico é então medido em Coulomb. Podemos observar, por meio da figura anterior, que as trajetórias do fluxo elétrico se estendem da esfera interna para a externa e são indicadas por linhas de força simetricamente distribuídas, desenhadas de uma esfera a outra. A densidade de fluxo elétrico é a razão entre o fluxo elétrico e a área da superfície que o mesmo cruza. Trata-se de uma grandeza vetorial e é representada pela letra �⃗⃗⃗�. A direção de �⃗⃗⃗� em um ponto é a direção das linhas de fluxo naquele ponto, e sua magnitude é dada pelo número de linhas de fluxo que cruzam a superfície normal a elas dividido pela área da superfície. A unidade de �⃗⃗⃗� é, naturalmente, Coulomb por metro quadrado (algumas vezes descrita como “linhas por metro quadrado”, pois cada linha está relacionada à quantidade de carga). Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 32 Novamente, nos referindo à figura anterior, a densidade de fluxo elétrico está na direção radial e tem um valor de �⃗⃗⃗�| 𝑟=𝑎 = 𝑄 4𝜋𝑎2 �̂�𝑟 (𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 𝑖𝑛𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎) �⃗⃗⃗�| 𝑟=𝑏 = 𝑄 4𝜋𝑏2 �̂�𝑟 (𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 𝑒𝑥𝑡𝑒𝑟𝑛𝑎) e para a distância radial 𝑟, onde 𝑎 ≤ 𝑟 ≤ 𝑏, �⃗⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝑟2 �̂�𝑟 Se substituíssemos a esfera interna por uma carga pontual carregada com a mesma carga 𝑄, a densidade de fluxo elétrico no ponto distando 𝑟 metros desta carga pontual ainda é dada pela equação anterior. Como a intensidade de campo elétrico radial de uma carga pontual no espaço livre é �⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 �̂�𝑟 podemos escrever que, no espaço livre, �⃗⃗⃗� = 𝜀0�⃗⃗� Embora esta expressão seja aplicável somente ao vácuo, ela não se restringe somente ao campo de uma carga pontual, a mesma é verdadeira para qualquer configuração no espaço livre, seja ela uma distribuição volumétrica, superficial ou linear. 3.2 Lei de Gauss Imaginemos uma distribuição de carga, conforme mostrada na figura abaixo, como uma nuvem de cargas pontuais, envolvidas por uma superfície fechada com uma forma qualquer. Se a carga total é +𝑄 Coulomb, então 𝑄 Coulomb de fluxo elétrico irão atravessar a superfície, o vetor densidade de fluxo elétrico �⃗⃗⃗� terá algum valor �⃗⃗⃗�𝑆 , onde o índice 𝑆 meramente nos lembra que �⃗⃗⃗� deve ser calculado na superfície, e �⃗⃗⃗�𝑆 irá em geral variar em magnitude e direção de um ponto da superfície para outro. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 33 Especificando o elemento incremental da superfície, tal como ilustrado na figura anterior, como sendo o vetor Δ𝑆 normal à superfície e apontando para fora da mesma, podemos então escrever que o incremento de fluxo elétrico (∆𝛹) neste elemento incremental de superfície será: ∆𝛹 = 𝐷𝑆 𝑛𝑜𝑟𝑚𝑎𝑙 𝛥𝑆 = (𝐷𝑆 𝑐𝑜𝑠𝜃) 𝛥𝑆 = �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝛥𝑆 O fluxo total que atravessa a superfície fechada é obtido adicionando-se as contribuições diferenciais que atravessam cada elemento de superfície Δ𝑆, 𝛹 = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 (𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑓𝑒𝑐ℎ𝑎𝑑𝑎) Esta integral resultante é uma integral de superfície fechada, ou seja, é uma integral dupla da superfície total. Tal superfície é freqüentemente chamada de superfície gaussiana. Temos, então, a formulação matemática de Gauss, que afirma 𝛹 = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑐𝑎𝑟𝑔𝑎 𝑒𝑛𝑣𝑜𝑙𝑣𝑖𝑑𝑎 = 𝑄 A carga envolvida pode ser um conjunto de várias cargas pontuais, ou uma linha de cargas, ou uma superfície de cargas, ou ainda, uma distribuição volumétrica de cargas. Como a equação da distribuição volumétrica é uma generalização das outras expressões, podemos escrever a Lei de Gauss emtermos desta ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∫ 𝜌𝑣 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙 uma afirmativa matemática significando simplesmente que o fluxo elétrico total através de qualquer superfície fechada é igual à carga envolvida. Para ilustrar a aplicação da lei de Gauss, vamos conferir os resultados do experimento de Faraday colocando uma carga pontual 𝑄 na origem do sistema de coordenadas esféricas e escolhendo uma superfície fechada como uma esfera de raio 𝑟. Temos então ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∮(𝜀0�⃗⃗�) ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∮ (𝜀0 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 �̂�𝑟) ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 34 = ∮ ( 𝑄 4𝜋𝑟2 �̂�𝑟) ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∮ 𝑄 4𝜋𝑟2 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 4𝜋𝑟2 ∮𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 4𝜋𝑟2 4𝜋𝑟2 = 𝑄 e obtém um resultado que mostra que 𝑄 Coulomb de fluxo elétrico está atravessando a superfície, como deveria ser, já que a carga envolvida é de 𝑄 Coulomb. A figura abaixo ilustra o fato de que os vetores �⃗⃗⃗�𝑆 e 𝑑𝑆, neste exemplo, estão sempre na mesma direção Já a integral de área da superfície fechada esférica é 𝑆𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 = ∫ ∫ 𝑟 2𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑑𝜃 𝑑𝜙 𝜃=𝜋 𝜃=0 𝜙=2𝜋 𝜙=0 = 4𝜋𝑟2 contudo, por ser a área de uma superfície esférica uma equação conhecida, não há necessidade de se calcular a mesma em todos os exemplos que esta aparecer. Vale ressaltar que para o cálculo do fluxo elétrico em uma superfície aberta pode-se usar 𝛹 = ∫ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 (𝑠𝑢𝑝𝑒𝑟𝑓í𝑐𝑖𝑒 𝑎𝑏𝑒𝑟𝑡𝑎) 3.3 Aplicações da Lei de Gauss: Algumas Distribuições Simétricas de Cargas A solução da equação de Gauss é fácil se formos capazes de escolher uma superfície fechada que satisfaça duas condições: 1. �⃗⃗⃗�𝑆 deve ser normal ou tangente à superfície fechada em qualquer ponto, de modo que �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 se torna 𝐷𝑆 𝑑𝑆 ou zero, respectivamente. 2. Na parte da superfície fechada para a qual �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 não é zero, 𝐷𝑆 deverá ser constante. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 35 Isto nos permite substituir o produto escalar pelo produto dos escalares 𝐷𝑆 e 𝑑𝑆 e depois levar 𝐷𝑆 para fora da integral. A integral remanescente é, então, sobre aquela porção de área da superfície fechada em que �⃗⃗⃗�𝑆 cruza normalmente, o que é simplesmente a área desta superfície. Vamos considerar uma carga pontual 𝑄 na origem de um sistema de coordenadas esféricas e decidir por uma superfície fechada adequada que irá satisfazer os dois requisitos listados acima. A superfície em questão é obviamente uma superfície gaussiana esférica, centrada na origem e de raio 𝑟 qualquer. �⃗⃗⃗�𝑆 é normal à superfície em qualquer ponto e 𝐷𝑆 possui o mesmo valor em todos os pontos na superfície. Temos, então, 𝑄 = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 = ∮ 𝐷𝑆 𝑑𝑆 𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 = 𝐷𝑆 ∮ 𝑑𝑆 𝑒𝑠𝑓𝑒𝑟𝑎 = 𝐷𝑆 4𝜋𝑟 2 e assim, 𝐷𝑆 = 𝑄 4𝜋𝑟2 Como 𝑟 pode ter qualquer valor e como �⃗⃗⃗�𝑆 está dirigido radialmente para fora, �⃗⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝑟2 �̂�𝑟 𝑒 �⃗⃗� = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 �̂�𝑟 que concorda com os resultados advindos da lei de Coulomb. Em um segundo exemplo, consideremos uma distribuição uniforme e linear de carga situada no eixo z se estendendo de −∞ a +∞. Neste exemplo em questão, a superfície cilíndrica é a única superfície em que �⃗⃗⃗�𝜌 é normal em qualquer ponto e pode ser fechada por superfícies planas normais ao eixo z. A figura abaixo mostra um cilindro circular uniforme fechado de raio 𝜌 se estendendo de 𝑧 = 0 até 𝑧 = 𝐿. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 36 Aplicando-se a lei de Gauss 𝑄 = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑐𝑖𝑙𝑖𝑛𝑑𝑟𝑜 = ∬ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑏𝑎𝑠𝑒 + ∬ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑡𝑜𝑝𝑜 + ∬ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 = = 0 + 0 + ∬ 𝐷𝑆 𝑑𝑆 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 = 𝐷𝑆 ∬ 𝑑𝑆 𝑙𝑎𝑡𝑒𝑟𝑎𝑙 = 𝐷𝑆 2𝜋𝜌𝐿 e obtemos 𝐷𝑆 = 𝑄 2𝜋𝜌𝐿 Em termos da densidade de carga linear: 𝐷𝑆 = 𝑄 2𝜋𝜌𝐿 = 𝜌𝐿𝐿 2𝜋𝜌𝐿 = 𝜌𝐿 2𝜋𝜌 , resultando nos vetores �⃗⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜌 �̂�𝜌 𝑒 �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 Mais uma vez em conformidade com o resultado obtido anteriormente pela aplicação da lei de Coulomb. Um terceiro exemplo é o problema de um cabo coaxial. Suponhamos que ter dois condutores cilíndricos coaxiais, o interno de raio 𝑎 e o externo de raio 𝑏, cada um de extensão infinita, como mostra a figura a seguir. Consideremos uma distribuição de carga 𝜌𝑆 na superfície externa do condutor interno. As cargas dos dois cilindros são iguais em módulos e opostas em sinais. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 37 Um cilindro circular reto de comprimento 𝐿 e raio 𝜌 , onde 𝑎 < 𝜌 < 𝑏 , é necessariamente escolhido como a superfície gaussiana, e rapidamente temos 𝑄 = 𝐷𝑆2𝜋𝜌𝐿 e encontramos 𝐷𝑆 = 𝑄 2𝜋𝜌𝐿 Em termos da densidade de carga superficial: 𝐷𝑆 = 𝑄 2𝜋𝜌𝐿 = 𝜌𝑆𝑆 2𝜋𝜌𝐿 = 𝜌𝑆2𝜋𝑎𝐿 2𝜋𝜌𝐿 = 𝑎𝜌𝑆 𝜌 . Passando para densidade linear, mais comumente usada para cabos coaxiais, temos que 𝑄 = 𝜌𝐿𝐿, então, 𝐷𝑆 = 𝑄 2𝜋𝜌𝐿 = 𝜌𝐿𝐿 2𝜋𝜌𝐿 = 𝜌𝐿 2𝜋𝜌 . Assim, em termos vetoriais, tem-se �⃗⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜌 �̂�𝜌 𝑒 �⃗⃗� = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 e a solução possui uma forma idêntica àquela da linha infinita de cargas. Caso usássemos, para a superfície gaussiana, um cilindro de raio 𝜌 > 𝑏, a carga total envolvida seria então zero, já que o resultado da soma das cargas dos dois cilindros é nulo. Um resultado idêntico seria obtido para 𝜌 < 𝑎, pois a carga do cilindro interno só existirá na superfície do mesmo, conforme veremos em breve para o caso de materiais condutores. 3.4 Aplicações da Lei de Gauss: Elemento Diferencial de Volume Agora aplicaremos o método da lei de Gauss para um tipo de problema ligeiramente diferente – um que não possui qualquer simetria. Para se contornar a problemática da ausência de simetria, que é imprescindível para aplicação da lei de Gauss, será necessário escolher uma superfície fechada muito Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 38 pequena em que �⃗⃗⃗� seja praticamente constante sobre ela e, que uma pequena variação de �⃗⃗⃗� possa ser adequadamente representada pelos dois primeiros termos da expansão de �⃗⃗⃗� em série de Taylor. Consideremos um ponto 𝑃 qualquer, mostrado na figura seguinte, representado pelo sistema de coordenadas cartesianas. O valor de �⃗⃗⃗� neste ponto pode ser expresso em componentes cartesianos, �⃗⃗⃗�0 = 𝐷𝑥0�̂�𝑥 + 𝐷𝑦0�̂�𝑦 + 𝐷𝑧0�̂�𝑧. Escolhemos como nossa superfície fechada uma pequena caixa retangular, centrada em 𝑃, tendo lados de comprimentos 𝛥𝑥, 𝛥𝑦 e 𝛥𝑧, e apliquemos a lei de Gauss, ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ d𝑆 𝑆 = ∫ 𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 + ∫ 𝑎𝑡𝑟á𝑠 + ∫ 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑖𝑡𝑎 + ∫ 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟𝑑𝑎 + ∫ 𝑡𝑜𝑝𝑜 + ∫ 𝑏𝑎𝑠𝑒 = 𝑄 onde, dividimos a integral sobre a superfície fechada em seis integrais, uma para cada face. Consideremos a primeira destas integrais detalhadamente, ∫ 𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = �⃗⃗⃗�𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 ∙ 𝛥𝑆𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = �⃗⃗⃗�𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒∙ (𝛥𝑦𝛥𝑧)�̂�𝑥 = = (𝐷𝑥,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 �̂�𝑥 + 𝐷𝑦,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 �̂�𝑦 + 𝐷𝑧,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 �̂�𝑧) ∙ (𝛥𝑦𝛥𝑧 �̂�𝑥) = = 𝐷𝑥,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝛥𝑦𝛥𝑧 onde devemos aproximar somente o valor de 𝐷𝑥 nesta face frontal. A face frontal está a uma distância de 𝛥𝑥/2 de 𝑃, e assim 𝐷𝑥,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝐷𝑥0 + 𝛥𝑥 2 × 𝑡𝑎𝑥𝑎 𝑑𝑒 𝑣𝑎𝑟𝑖𝑎çã𝑜 𝑑𝑒 𝐷𝑥 𝑐𝑜𝑚 𝑥 = = 𝐷𝑥0 + 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 39 Temos, agora ∫ 𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 = 𝐷𝑥,𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 𝛥𝑦𝛥𝑧 = (𝐷𝑥0 + 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 )𝛥𝑦𝛥𝑧 Consideremos agora a integral sobre a superfície posterior, ∫ 𝑎𝑡𝑟á𝑠 = �⃗⃗⃗�𝑎𝑡𝑟á𝑠 ∙ 𝛥𝑆𝑎𝑡𝑟á𝑠 = �⃗⃗⃗�𝑎𝑡𝑟á𝑠 ∙ (𝛥𝑦𝛥𝑧)(−�̂�𝑥) = = (𝐷𝑥,𝑎𝑡𝑟á𝑠 �̂�𝑥 + 𝐷𝑦,𝑎𝑡𝑟á𝑠 �̂�𝑦 + 𝐷𝑧,𝑎𝑡𝑟á𝑠 �̂�𝑧) ∙ (−𝛥𝑦𝛥𝑧 �̂�𝑥) = = −𝐷𝑥,𝑎𝑡𝑟á𝑠 𝛥𝑦𝛥𝑧 e, fazendo-se novamente uma aproximação, 𝐷𝑥,𝑎𝑡𝑟á𝑠 = 𝐷𝑥0 − 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 resultando ∫ 𝑎𝑡𝑟á𝑠 = −𝐷𝑥,𝑎𝑡𝑟á𝑠 𝛥𝑦𝛥𝑧 = −(𝐷𝑥0 − 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 )𝛥𝑦𝛥𝑧 = (−𝐷𝑥0 + 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 )𝛥𝑦𝛥𝑧 Se combinarmos estas duas integrais, temos ∫ 𝑓𝑟𝑒𝑛𝑡𝑒 + ∫ 𝑎𝑡𝑟á𝑠 = (𝐷𝑥0 + 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 )𝛥𝑦𝛥𝑧 + (−𝐷𝑥0 + 𝛥𝑥 2 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 )𝛥𝑦𝛥𝑧 = = 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 𝛥𝑥𝛥𝑦𝛥𝑧 Usando-se exatamente este mesmo procedimento, encontramos que ∫ 𝑑𝑖𝑟𝑒𝑖𝑡𝑎 + ∫ 𝑒𝑠𝑞𝑢𝑒𝑟𝑑𝑎 = 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 𝛥𝑥𝛥𝑦𝛥𝑧 ∫ 𝑡𝑜𝑝𝑜 + ∫ 𝑏𝑎𝑠𝑒 = 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 𝛥𝑥𝛥𝑦𝛥𝑧 Sendo 𝛥𝑥𝛥𝑦𝛥𝑧 = 𝛥𝑣, podemos escrever: ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 = ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 )𝛥𝑣 A expressão é uma aproximação que se torna melhor à medida que 𝛥𝑣 se torna menor. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 40 3.5 Divergência No subitem anterior, encontramos que ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 = ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 )𝛥𝑣 Obteremos agora a relação exata desta equação, permitindo que o elemento de volume 𝛥𝑣 tenda a zero. Para tanto, escreveremos esta equação como ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 ) = ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 = 𝑄 𝛥𝑣 Pode-se, assim, fazer um limite tal qual ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 ) = lim 𝛥𝑣→0 ( ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) = lim 𝛥𝑣→0 ( 𝑄 𝛥𝑣 ) sendo que este último termo representa a densidade volumétrica de carga 𝜌𝑣, portanto ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 ) = lim 𝛥𝑣→0 ( ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) = 𝜌𝑣 Por enquanto, trabalhemos somente com a primeira igualdade da expressão, ou seja, ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 ) = lim 𝛥𝑣→0 ( ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) pois a equação que relaciona a densidade volumétrica será tratada na próxima seção. A expressão anterior envolve a densidade de fluxo elétrico �⃗⃗⃗�𝑆, porém a mesma poderia ser representativa de qualquer outro campo vetorial genericamente representado pela letra 𝐴 (velocidade, aceleração, força, etc.). Podendo-se reescrevê-la como ( 𝜕𝐴𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐴𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐴𝑧 𝜕𝑧 ) = lim 𝛥𝑣→0 ( ∮ 𝐴 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) Esta operação apareceu tantas vezes em investigações físicas passadas que recebeu um nome descritivo, divergência. A divergência de 𝐴 é definida como 𝐷𝑖𝑣𝑒𝑟𝑔ê𝑛𝑐𝑖𝑎 𝑑𝑒 𝐴 = 𝑑𝑖𝑣 𝐴 = lim 𝛥𝑣→0 ( ∮ 𝐴 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 41 e é usualmente abreviada por 𝑑𝑖𝑣 𝐴. Este vetor 𝐴 é membro da família dos vetores densidade de fluxo. A seguinte interpretação física é válida: “A divergência do vetor densidade de fluxo �⃗⃗⃗� é a descarga de fluxo em uma pequena superfície fechada por unidade de volume à medida que o volume tende a zero.” Por exemplo, consideremos a divergência da velocidade da água em uma banheira após termos aberto o dreno. O fluxo líquido de água através de qualquer superfície fechada situada inteiramente dentro da água deve ser igual a zero, pois a água é essencialmente incompressível e, conseqüentemente, a água que entra e sai de diferentes regiões da superfície fechada deve ser igual. Portanto a divergência desta velocidade é zero. Entretanto, se considerarmos agora a velocidade do ar em um pneu que acabou de ser furado por um prego, percebemos que o ar se expande à medida que a pressão cai e que, conseqüentemente, há um fluxo líquido em qualquer superfície fechada situada dentro do pneu. A divergência desta velocidade é, portanto, maior que zero. Já na operação de enchimento do pneu, o fluxo líquido em qualquer superfície fechada situada dentro do mesmo terá de sentido oposto ao do procedimento anterior. Uma divergência positiva de qualquer grandeza vetorial indica uma fonte desta grandeza vetorial naquele ponto. De forma semelhante, uma divergência negativa indica um sorvedouro (sumidouro). Como a divergência da velocidade da água acima é zero, não existe fonte nem sorvedouro. A divergência para o nosso caso específico da densidade de fluxo elétrico será 𝑑𝑖𝑣 �⃗⃗⃗� = ( 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 ) 𝑐𝑜𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑎𝑟𝑡𝑒𝑠𝑖𝑎𝑛𝑎𝑠 Esta expressão está representada em coordenadas cartesianas. Caso desejássemos escrevê-la em coordenadas cilíndricas ou esféricas, as mesmas ficariam como se segue. 𝑑𝑖𝑣 �⃗⃗⃗� = ( 1 𝜌 𝜕 𝜕𝜌 (𝜌𝐷𝜌) + 1 𝜌 𝜕𝐷𝜙 𝜕𝜙 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 ) 𝑐𝑜𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑖𝑙í𝑛𝑑𝑟𝑖𝑐𝑎𝑠 𝑑𝑖𝑣 �⃗⃗⃗� = ( 1 𝑟2 𝜕 𝜕𝑟 (𝑟2𝐷𝑟) + 1 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝜕 𝜕𝜃 (𝑠𝑒𝑛𝜃 𝐷𝜃) + 1 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝜕𝐷𝜙 𝜕𝜙 ) 𝑐𝑜𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑠𝑓é𝑟𝑖𝑐𝑎𝑠 A divergência é uma operação que resulta em um escalar, ou seja, a divergência meramente nos diz quanto fluxo está deixando um pequeno volume em termos de “por unidade de volume”, nenhuma direção está associada a ela. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 42 3.6 O Operador Vetorial �⃗⃗⃗� (Nabla) Definimos o operador nabla �⃗⃗� como sendo um operador vetorial, representado pela expressão: �⃗⃗� = 𝜕 𝜕𝑥 �̂�𝑥 + 𝜕 𝜕𝑦 �̂�𝑦 + 𝜕 𝜕𝑧 �̂�𝑧 Consideremos o produto escalar dos vetores �⃗⃗� e �⃗⃗⃗�, �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = ( 𝜕 𝜕𝑥 �̂�𝑥 + 𝜕 𝜕𝑦 �̂�𝑦 + 𝜕 𝜕𝑧 �̂�𝑧) ∙ (𝐷𝑥�̂�𝑥 + 𝐷𝑦�̂�𝑦 + 𝐷𝑧�̂�𝑧) �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 Isto é reconhecido como a divergência de �⃗⃗⃗�, ou seja, �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = 𝑑𝑖𝑣 �⃗⃗⃗� O uso de �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� é muito mais comum que 𝑑𝑖𝑣 �⃗⃗⃗�. A partir de agora, usaremos a notação �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� para indicar a operação de divergência. O operador �⃗⃗� não possui uma forma específica em outros sistemas de coordenadas. Se considerarmos �⃗⃗⃗� em coordenadas cilíndricas ou esféricas, então �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� ainda indica a divergência de �⃗⃗⃗�, conforme as expressões já definidas anteriormente, porém não temos uma fórmula para �⃗⃗� em si nestes sistemas de coordenadas. 3.7 Primeira Equação de Maxwell (Eletrostática) As expressões desenvolvidas para a divergência são as seguintes �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = lim 𝛥𝑣→0( ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = 𝜕𝐷𝑥 𝜕𝑥 + 𝜕𝐷𝑦 𝜕𝑦 + 𝜕𝐷𝑧 𝜕𝑧 �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = 𝜌𝑣 A primeira equação é a definição da divergência; a segunda é o resultado da aplicação da definição a um elemento diferencial de volume em coordenadas cartesianas; e a terceira é meramente Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 43 escrita usando-se de desenvolvimento matemático. Esta última equação é um resultado do seguinte desenvolvimento ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 (𝐿𝑒𝑖 𝑑𝑒 𝐺𝑎𝑢𝑠𝑠) ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 = 𝑄 𝛥𝑣 lim 𝛥𝑣→0 ( ∮ �⃗⃗⃗�𝑆 ∙ 𝑑𝑆 𝑆 𝛥𝑣 ) = lim 𝛥𝑣→0 ( 𝑄 𝛥𝑣 ) �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = 𝜌𝑣 Esta é a primeira das quatro equações de Maxwell. Ela estabelece que o fluxo elétrico por unidade de volume que deixa uma unidade de volume infinitesimal é exatamente igual à sua densidade volumétrica de carga. A primeira equação de Maxwell é também descrita como a forma diferencial da lei de Gauss. De modo recíproco, a lei de Gauss é reconhecida como a forma integral da primeira equação de Maxwell. A operação divergência não é limitada à densidade de fluxo elétrico, ela pode ser aplicada a qualquer campo vetorial de densidade de fluxo. 3.8 Teorema da Divergência O teorema da divergência se aplica a qualquer campo vetorial para o qual existe a derivada parcial apropriada. Partindo da lei de Gauss, ∮ �⃗⃗⃗� ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 e considerando 𝑄 = ∫ 𝜌𝑣 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙. e então substituindo 𝜌𝑣 por sua igualdade, �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� = 𝜌𝑣 temos então ∮ �⃗⃗⃗� ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = 𝑄 = ∫ 𝜌𝑣 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙. = ∫ �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 44 A primeira e a última expressão constituem o teorema da divergência, ∮ �⃗⃗⃗� ∙ 𝑑𝑆 𝑆 = ∫ �⃗⃗� ∙ �⃗⃗⃗� 𝑑𝑣 𝑣𝑜𝑙. que pode ser escrito como se segue: “A integral da componente normal de qualquer campo vetorial sobre uma superfície fechada é igual à integral da divergência deste campo vetorial através do volume limitado por esta superfície fechada.” Novamente, enfatizamos que o teorema da divergência é verdadeiro para qualquer campo vetorial. Sua vantagem advém do fato de que ele relaciona uma tripla integração através de algum volume com uma dupla integração sobre a superfície daquele volume. O teorema da divergência se torna óbvio fisicamente se considerarmos o volume, tal qual apresentado na figura acima, dividido em inúmeros pequenos compartimentos de tamanho diferencial. A consideração de uma dessas células mostra que o fluxo que diverge desta célula entra, ou converge, para as células adjacentes, a menos que estas contenham uma porção de superfície externa. Em resumo, a divergência da densidade de fluxo através de um volume leva, então, ao mesmo resultado que o determinado pelo fluxo líquido que atravessa a superfície fechada. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 45 4 – ENERGIA POTENCIAL E POTENCIAL ELÉTRICO 4.1 Trabalho Empregado no Movimento de uma Carga no Interior de um Campo Elétrico Se tentarmos movimentar uma carga de teste contra o campo elétrico, deveremos exercer uma força de igual módulo e sentido contrário àquela exercida pela força proveniente do campo, e isto requer dispêndio de energia ou trabalho. Já se tentarmos movimentar a carga na direção do campo, nosso dispêndio de energia torna-se-á negativo; não realizaremos trabalho, o campo é que realizará. A força aplicada à carga 𝑄 devido a existência de um campo elétrico �⃗⃗� é �⃗�𝐸 = 𝑄�⃗⃗� A componente desta força numa direção 𝑑�⃗⃗� qualquer é 𝐹𝐸𝐿 = �⃗�𝐸 ∙ �̂�𝐿 = 𝑄�⃗⃗� ∙ �̂�𝐿 onde �̂�𝐿 é o vetor unitário da direção de 𝑑�⃗⃗�. A força que deve ser aplicada por um agente externo para deslocar a carga é de módulo igual e sentido oposto, ou seja, 𝐹𝑎𝑝𝑙𝑖𝑐𝑎𝑑𝑎 = −𝑄�⃗⃗� ∙ �̂�𝐿 Já o dispêndio de energia será dado pelo produto da força aplicada pela distância de deslocamento. Pode-se então escrever que o trabalho diferencial realizado por um agente externo deslocando 𝑄 ao longo da direção �̂�𝐿 é 𝑑𝑊 = (−𝑄�⃗⃗� ∙ �̂�𝐿)𝑑𝐿 = −𝑄�⃗⃗� ∙ �̂�𝐿𝑑𝐿 = −𝑄�⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� onde substituímos �̂�𝐿𝑑𝐿 pela expressão mais simples 𝑑�⃗⃗�. O trabalho necessário para deslocar a carga de uma distância finita deve ser determinado pela integração 𝑊 = −𝑄∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 onde o caminho deve ser especificado antes que a integral seja calculada. Considera-se, para tanto, que a carga está parada nas posições inicial e final. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 46 4.2 Integral de Linha A expressão da integral para o trabalho é um exemplo de integral de linha, a qual, sempre assume a forma da integral ao longo de um caminho prescrito do produto escalar entre o campo vetorial e o vetor comprimento diferencial, qual seja: 𝑊 = −𝑄∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 O procedimento da integral de linha está indicado na figura abaixo, onde foi escolhido um caminho a partir da posição inicial 𝐵 até a posição final 𝐴 e selecionado um campo elétrico uniforme. O caminho está dividido em seis segmentos. O trabalho envolvido no deslocamento da carga 𝑄 de 𝐵 para 𝐴 é, então, aproximadamente 𝑊 = −𝑄(�⃗⃗�1 ∙ ∆�⃗⃗�1 + �⃗⃗�2 ∙ ∆�⃗⃗�2 + ⋯+ �⃗⃗�6 ∙ ∆�⃗⃗�6) e, como admitimos um campo uniforme 𝑊 = −𝑄�⃗⃗� ∙ (∆�⃗⃗�1 + ∆�⃗⃗�2 + ⋯+ ∆�⃗⃗�6) A soma dos segmentos dos vetores pode ser realizada pela regra do paralelogramo, resultando justamente em um vetor dirigido do ponto inicial para o ponto final, �⃗⃗�𝐵𝐴. Portanto, 𝑊 = −𝑄�⃗⃗� ∙ �⃗⃗�𝐵𝐴 (�⃗⃗� 𝑢𝑛𝑖𝑓𝑜𝑟𝑚𝑒) Para este caso especial de uma intensidade de campo elétrico uniforme, devemos notar que o trabalho envolvido no deslocamento da carga depende somente de 𝑄, �⃗⃗� e �⃗⃗�𝐵𝐴. Ele não depende do caminho escolhido para deslocar a carga, ou seja, pode-se ir de 𝐵 para 𝐴 em uma linha reta ou por um caminho tortuoso que a resposta será a mesma. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 47 Note que a expressão de 𝑑�⃗⃗� utiliza dos vetores de comprimentos diferenciais, os quais encontram-se destacado a seguir. 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝑥 �̂�𝑥 + 𝑑𝑦 �̂�𝑦 + 𝑑𝑧 �̂�𝑧 (𝑐𝑜𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑎𝑟𝑡𝑒𝑠𝑖𝑎𝑛𝑎𝑠) 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝜌 �̂�𝜌 + 𝜌 𝑑𝜙 �̂�𝜙 + 𝑑𝑧 �̂�𝑧 (𝑐𝑜𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑐𝑖𝑙í𝑛𝑑𝑟𝑖𝑐𝑎𝑠) 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝑟 �̂�𝑟 + 𝑟 𝑑𝜃 �̂�𝜃 + 𝑟 𝑠𝑒𝑛𝜃 𝑑𝜙 �̂�𝜙 (𝑐𝑜𝑜𝑟𝑑𝑒𝑛𝑎𝑑𝑎𝑠 𝑒𝑠𝑓é𝑟𝑖𝑐𝑎𝑠) Para ilustrar o cálculo da integral de linha, investigaremos os diversos caminhos que devemos considerar próximos a uma linha infinita de cargas, conforme figura a seguir. O campo já foi obtido anteriormente e é inteiramente na direção radial, �⃗⃗� = 𝐸𝜌�̂�𝜌 = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 Deslocando-se uma carga positiva em torno de um caminho circular de raio 𝜌1 , conforme figura (a), tem-se 𝑑�⃗⃗� = 𝜌1𝑑𝜙 �̂�𝜙, o trabalho será: 𝑊 = −𝑄∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = −𝑄 ∫ 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 ∙ 𝜌1𝑑𝜙 �̂�𝜙 2𝜋 0 = 0 Considerando-se agora um deslocamento da carga de 𝜌 = 𝑏 para 𝜌 = 𝑎 ao longo do caminhoradial, de acordo com figura (b) acima (sentido contrário do indicado na figura). Aqui, 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝜌 �̂�𝜌 e 𝑊 = −𝑄 ∫ 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 ∙ 𝑑𝜌 �̂�𝜌 𝜌𝑎 𝜌𝑏 = −𝑄 ∫ 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0 𝑑𝜌 𝜌 𝜌𝑎 𝜌𝑏 = − 𝑄𝜌𝐿 2𝜋𝜀0 ln 𝜌𝑎 𝜌𝑏 𝑊 = 𝑄𝜌𝐿 2𝜋𝜀0 ln 𝜌𝑏 𝜌𝑎 Como 𝜌𝑏 é maior do que 𝜌𝑎, percebe-se que o trabalho realizado é positivo, indicando que a fonte externa (ou agente externo), que está deslocando a carga, fornece energia. Poderíamos também efetuar o cálculo na direção �̂�𝑧 a partir de uma posição inicial 0 até uma altura 𝐿 qualquer, o que resulta em Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 48 𝑊 = −𝑄 ∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 = −𝑄∫ 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0𝜌 �̂�𝜌 ∙ 𝑑𝑧 �̂�𝑧 𝐿 0 = 0 O que resultaria, mais uma vez, em um valor nulo. 4.3 Definição de Diferença de Potencial e Potencial Elétrico Define-se a diferença de potencial V como a razão do trabalho realizado (por um agente externo) ao deslocar uma carga teste 𝑄𝑡𝑒𝑠𝑡𝑒 , de um ponto inicial a um ponto final, no interior de um campo elétrico, dividido pelo valor desta carga teste , 𝐷𝑖𝑓𝑒𝑟𝑒𝑛ç𝑎 𝑑𝑒 𝑃𝑜𝑡𝑒𝑛𝑐𝑖𝑎𝑙 = 𝑉 = 𝑊 𝑄𝑡𝑒𝑠𝑡𝑒 = −𝑄𝑡𝑒𝑠𝑡𝑒 ∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 𝑄𝑡𝑒𝑠𝑡𝑒 = −∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝑓𝑖𝑛𝑎𝑙 𝑖𝑛𝑖𝑐𝑖𝑎𝑙 A diferença de potencia 𝑉𝐴𝐵 significa a diferença de potencial entre os pontos A e B, e também pode ser definido como o trabalho realizado ao deslocarmos uma unidade de carga de B até A, ou seja, 𝑉𝐴𝐵 = −∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝐴 𝐵 (𝑉) onde a unidade de medida é volts que freqüentemente é abreviado por V, trata-se, conforme observado, de uma grandeza escalar. No exemplo da linha de carga da última seção, encontramos que o trabalho realizado ao levarmos a carga 𝑄 de 𝜌𝑏 para 𝜌𝑎 é 𝑊 = 𝑄𝜌𝐿 2𝜋𝜀0 ln 𝜌𝑏 𝜌𝑎 Assim, a diferença de potencial entre os pontos 𝜌𝑏 e 𝜌𝑎 pode ser descrita como 𝑉𝐴𝐵 = 𝑊 𝑄 = 𝜌𝐿 2𝜋𝜀0 ln 𝜌𝑏 𝜌𝑎 Já para o caso de uma carga pontual Q, a diferença de potencial entre os pontos A e B nas distâncias radiais 𝑟𝐴 e 𝑟𝐵 da mesma, escolhendo-se a origem em Q, ou ainda, Q na origem, será dada �⃗⃗� = 𝐸𝑟�̂�𝑟 = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 �̂�𝑟 e 𝑑�⃗⃗� = 𝑑𝑟 �̂�𝑟 temos Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 49 𝑉𝐴𝐵 = −∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝐴 𝐵 = −∫ 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 �̂�𝑟 ∙ 𝑑𝑟 �̂�𝑟 𝑟𝐴 𝑟𝐵 = −∫ 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 𝑑𝑟 𝑟𝐴 𝑟𝐵 = 𝑄 4𝜋𝜀0 ( 1 𝑟𝐴 − 1 𝑟𝐵 ) Se 𝑟𝐵 > 𝑟𝐴, a diferença de potencial 𝑉𝐴𝐵 é positiva, indicando que a energia é despendida pelo agente externo ao trazer a carga positiva de 𝑟𝐵 para 𝑟𝐴. Isto concorda com o modelo físico que mostra que duas cargas iguais se repelem. Muitas vezes é conveniente falarmos em potencial, ou potencial absoluto, de um ponto em vez de diferença de potencial entre dois pontos, mas isto significa somente que concordamos em medir toda diferença de potencial em relação a um ponto referencial específico, o qual consideramos ter potencial igual a zero. O ponto de referência de zero mais universal para medidas físicas ou experimentais de potencia é a “terra”, entendida como sendo o potencial da região da superfície da Terra. Outro “ponto” de referência amplamente utilizado é o infinito. Este normalmente aparece em problemas teóricos. Mais uma consideração de referencial pode ser feita para o caso de um cabo coaxial, no qual o condutor externo é escolhido como o zero de referência para o potencial. Nota-se, portanto, que o ponto de referência de zero pode assumir inúmeras denominações distintas dependendo da aplicação específica em que está sendo usado. Se o potencial num ponto A é 𝑉𝐴 e num ponto B é 𝑉𝐵, então 𝑉𝐴𝐵 = 𝑉𝐴 − 𝑉𝐵 onde necessariamente concordamos que 𝑉𝐴 e 𝑉𝐵 devem possuir o mesmo ponto de zero de referência. Observa-se que esta notação de 𝑉𝐴𝐵 é diferente da empregada na análise vetorial onde 𝑟𝐴𝐵 = 𝑟𝐵 − 𝑟𝐴. 4.4 Campo Potencial de uma Carga Pontual Na seção anterior, encontramos uma expressão para a diferença de potencial entre dois pontos localizados em r= 𝑟𝐴 e 𝑟 = 𝑟𝐵, imersos no campo de uma carga pontual Q localizada na origem. 𝑉𝐴𝐵 = 𝑄 4𝜋𝜀0 ( 1 𝑟𝐴 − 1 𝑟𝐵 ) = 𝑉𝐴 − 𝑉𝐵 Considerou-se que os dois pontos pertenciam à mesma linha radial. Agora, consideraremos dois pontos A e B com deslocamentos também nas coordenadas 𝜃 e 𝜙, conforme pode figura abaixo. Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 50 O comprimento diferencial do caminho 𝑑�⃗⃗� possui as componentes 𝑟, 𝜃 e 𝜙, e o campo elétrico possui somente a componente radial. Tomando, então, o produto escalar, temos apenas 𝑉𝐴𝐵 = −∫ �⃗⃗� ∙ 𝑑�⃗⃗� 𝐴 𝐵 = −∫ 𝐸𝑟𝑑𝑟 𝑟𝐴 𝑟𝐵 = −∫ 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟2 𝑑𝑟 𝑟𝐴 𝑟𝐵 = 𝑄 4𝜋𝜀0 ( 1 𝑟𝐴 − 1 𝑟𝐵 ) Obtemos a mesma resposta e concluímos, portanto, que a diferença de potencial entre dois pontos em um campo de uma carga pontual depende somente da distância de cada ponto à carga e não do caminho particular usado para deslocar uma unidade de carga de um ponto para outro. Agora, se considerarmos 𝑉 = 0 no infinito, o potencial em 𝑟𝐴 torna-se 𝑉𝐴 = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟𝐴 ou, como não há motivo para identificar este ponto com o índice A, 𝑉 = 𝑄 4𝜋𝜀0𝑟 Podemos também definir uma superfície equipotencial como sendo uma superfície composta por todos aqueles pontos que possuem o mesmo valor de potencial. Nenhum trabalho está envolvido no deslocamento de uma unidade de carga sobre uma superfície equipotencial, pois, por definição, não há diferença de potencial entre dois pontos quaisquer desta superfície. Observação: pode-se escrever, genericamente, que o trabalho para se movimentar uma carga de um ponto inicial B até um ponto final A é 𝑊 = 𝑄𝑉𝐴𝐵 Universidade Federal de Uberlândia Faculdade de Engenharia Elétrica Eletromagnetismo Prof. Ivan Nunes Santos 51 4.5 Campo Potencial de um Sistema de Cargas e Propriedade Conservativa dos Campos Potenciais O potencial de uma carga pontual simples, identificada por 𝑄1 e localizada em 𝑟1, envolve somente a distância da carga ao ponto 𝑟 onde se procura estabelecer o valor do potencial. Para um zero de referência no infinito, temos 𝑉(𝑟) = 𝑄1 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟1| O potencial devido a duas cargas, 𝑄1 em 𝑟1 e 𝑄2 em 𝑟2, é função somente das distâncias de cada uma das cargas ao ponto do campo, ou ainda, 𝑉(𝑟) = 𝑄1 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟1| + 𝑄2 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟2| Continuando a adicionar cargas, encontramos que o potencial devido a n cargas pontuais é 𝑉(𝑟) = 𝑄1 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟1| + 𝑄2 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟2| + ⋯+ 𝑄𝑛 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟𝑛| Se agora cada carga pontual for representada como um pequeno elemento com uma distribuição volumétrica contínua de carga igual a 𝜌𝑣Δ𝑣, então 𝑉(𝑟) = 𝜌𝑣(𝑟1) Δ𝑣1 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟1| + 𝜌𝑣(𝑟2) Δ𝑣2 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟2| + ⋯+ 𝜌𝑣(𝑟𝑛) Δ𝑣𝑛 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟𝑛| Fazendo o número de elementos tornar infinito, podemos obter a expressão do potencial por meio da integral: 𝑉(𝑟) = ∫ 𝜌𝑣(𝑟′) 𝑑𝑣′ 4𝜋𝜀0|𝑟 − 𝑟′| 𝑣𝑜𝑙 Esta expressão é válida para uma distribuição volumétrica de cargas. Para o caso de uma distribuição linear ou superficial de cargas,
Compartilhar