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01.2 TEXTO Filosofia e Saber

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1 
FILOSOFIA E SABER 
Professor Mestre Obertal Xavier Ribeiro 
Março de 2014 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
A capacidade humana de pensar é o enfoque fundamental de toda a filosofia. O 
pensar está na preocupação da filosofia em toda a sua trajetória desde, o seu início até 
nossos dias. A tradição filosófica nos apresenta na Idade Antiga, entre outros, o mestre 
Sócrates desenvolvendo essa dimensão com os seus discípulos. É o que chamamos de 
diálogos, marco importante da tradição oral e que nos chegou pelos escritos posteriores. 
O seu método se destaca pela habilidade que tem de formar no discípulo a 
possibilidade de progressivamente ir construindo suas respostas a partir das indagações. 
Esse método leva ao conhecimento que se desdobra na moral que ele propõe. 
Este texto nos apresenta dois aspectos relevantes do pensamento filosófico na idade 
antiga. O primeiro o método Socrático chamado Maiêutica; o segundo o diálogo que 
Sócrates faz com seu discípulo, no Mito da Caverna, levando Glauco a pensar sobre si 
mesmo, sobre a realidade que o cerca e sobre o mundo. O texto escrito nos vem de Platão 
discípulo de Sócrates. 
 
 
A VIDA DE SOCRATES 
 
 
Sócrates nasceu em 470 ou 469 a.C., em Atenas. Filho de Sofrônico, escultor, e de 
Fenáreta, parteira. Aprendeu a arte paterna, mas dedicou-se inteiramente à meditação e ao 
ensino filosófico, sem recompensa alguma, não obstante sua pobreza. Desempenhou alguns 
cargos políticos e foi sempre modelo irrepreensível de bom cidadão. Inteiramente absorvido 
pela sua vocação, não se ocupou com as preocupações domésticas e familiares, nem pelos 
interesses políticos. Quanto à política, foi ele valoroso soldado e rígido magistrado. Mas, 
em geral, conservou-se afastado da vida pública e da política, que contrastavam com o seu 
 2 
temperamento crítico e com o seu reto juízo. Julgava que devia servir a pátria conforme 
suas atitudes, vivendo justamente e formando cidadãos sábios, honestos, temperados, 
diferentemente dos sofistas, que agiam para o próprio proveito e formavam grandes 
egoístas, capazes unicamente de se acometerem uns contra os outros e escravizar o 
próximo. 
Valorizou a descoberta do homem feita pelos sofistas, orientando-a para os valores 
universais, segundo a via real do pensamento grego. Entretanto, a liberdade de seus 
discursos, a feição austera de seu caráter, a sua atitude crítica, irônica e a conseqüente 
educação por ele ministrada, criaram descontentamento geral, hostilidade popular, 
inimizades pessoais. Diante da tirania aparecia Sócrates como chefe de uma aristocracia 
intelectual. 
Esse estado de ânimo hostil a Sócrates concretizou-se, tomou forma jurídica, na 
acusação movida contra ele por Mileto, Anito e Licon. Foi acusado de corromper a 
mocidade e negar os deuses da pátria introduzindo outros. Sócrates desdenhou defender-se 
diante dos juizes e da justiça humana, humilhando-se e desculpando-se. Tinha ele diante 
dos olhos da alma não uma solução empírica para a vida terrena, e sim o juízo eterno da 
razão, para a imortalidade. E preferiu a morte. Declarado culpado por uma pequena 
minoria, assentou-se com fortaleza de ânimo diante do tribunal, que o condenou à pena 
capital com o voto da maioria. 
Tendo que esperar mais de um mês a morte no cárcere - pois uma lei vedava as 
execuções capitais durante a viagem votiva de um navio a Delos - o discípulo Criton 
preparou e propôs a fuga ao Mestre. Sócrates, porém, recusou, declarando não querer 
absolutamente desobedecer às leis da pátria. E passou o tempo preparando-se para o passo 
extremo em palestras espirituais com os amigos. Especialmente famoso é o diálogo sobre a 
imortalidade da alma - que se teria realizado pouco antes da morte e foi descrito por Platão 
no Fédon com arte incomparável. Suas últimas palavras dirigidas aos discípulos, depois de 
ter bebido tranqüilamente a cicuta, foram: "Devemos um galo a Esculápio". É que o deus 
da medicina tinha-o livrado do mal da vida com o dom da morte. Morreu Sócrates em 399 
a.C. com 71 anos de idade. 
 
 
 3 
MAIÊUTICA: O MÉTODO SOCRÁTICO 
 
 
 O método socrático consiste em ajudar a gerar os pensamentos na alma do 
interlocutor. Assim como faziam as parteira ao ajudar as mulheres com o nascimento das 
crianças, apresentando as diferenças que são próprias da cultura e da época. 
“Minha arte maiêutica - diz Sócrates- tem as mesmas características gerais que a 
arte [das parteiras]. Mas difere dela porque faz parir os homens, e não as mulheres, e 
porque vigia as almas, não os corpos, em seu trabalho de parto. O melhor da arte que 
pratico é, sem dúvida, permitir saber se o que a reflexão do jovem gera é uma aparência 
enganadora ou um fruto verdadeiro” (Teeteto, 149 A – 151 E). 
 O método maiêutico ou socrático, assim definido, isto é, como técnica que tem por 
objetivo mostrar ao interlocutor através de perguntas que as suas afirmações, teses, e 
supostos conhecimentos não passam de opiniões (infundadas), representa a primeira 
tentativa na História da Filosofia e, por conseguinte, do Ocidente, de distinção entre 
conhecimento verdadeiro/essencial/auto-evidente das reflexões apoiadas apenas na 
aparência, no simulacro, na opinião. 
 O que destacamos de importante na postura socrática é que mostra através da 
“destruição” dos falsos saberes - que o conhecimento verdadeiro ainda não fora encontrado, 
mas que deve-se como o maior Bem possível de ser alcançado, ser buscado, ser procurado. 
 
 
O MÉTODO DE SÓCRATES E OS SOFISTAS 
 
É a parte polêmica contra os sofistas. Insistindo no perpétuo fluxo das coisas e na 
variabilidade extrema das impressões sensitivas determinadas pelos indivíduos que de 
contínuo se transformam, concluíram os sofistas pela impossibilidade absoluta e objetiva 
do saber. Sócrates restabelece-lhe a possibilidade, determinando o verdadeiro objeto da 
ciência. 
O objeto da ciência não é o sensível, o particular, o indivíduo que passa; é o 
inteligível, o conceito que se exprime pela definição. Este conceito ou idéia geral obtém-se 
por um processo dialético por ele chamado indução e que consiste em comparar vários 
 4 
indivíduos da mesma espécie, eliminar-lhes as diferenças individuais, as qualidades 
mutáveis e reter-lhes o elemento comum, estável, permanente, a natureza, a essência da 
coisa. 
Praticamente, na exposição polêmica e didática destas idéias, Sócrates adotava 
sempre o diálogo, que revestia uma dúplice forma, conforme se tratava de um adversário a 
conflituar ou de um discípulo a instruir. 
No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia 
multiplicando as perguntas até colher o adversário presunçoso em evidente contradição e 
constrangê-lo à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironiasocrática. 
No segundo caso, tratando-se de um discípulo, que muitas vezes era o próprio 
adversário vencido, multiplicava ainda as perguntas, dirigindo-as agora ao fim de obter, por 
indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em 
questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava ele 
maiêutica ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parto das idéias. 
 
 
DOUTRINAS FILOSÓFICAS 
 
 
A introspecção é o característico da filosofia de Sócrates. E exprime-se no famoso 
lema conhece-te a ti mesmo - isto é, torna-te consciente de tua ignorância - como sendo o 
ápice da sabedoria, que é o desejo da ciência mediante a virtude. 
Como é sabido, Sócrates não deixou nada escrito. As notícias que temos de sua vida 
e de seu pensamento, devemo-las especialmente aos seus dois discípulos Xenofonte e 
Platão, de feição intelectual muito diferente.O primeiro, autor de Anábase, em seus Ditos Memoráveis, deixou-nos o aspecto 
prático e moral da doutrina do mestre. Xenofonte, de estilo simples e harmonioso, mas sem 
profundidade, não obstante a sua devoção para com o mestre e a exatidão das notícias, não 
entendeu o pensamento filosófico de Sócrates, sendo mais um homem de ação do que um 
pensador. 
 5 
O segundo Platão, pelo contrário, foi filósofo grande demais para nos dar o preciso 
retrato histórico de Sócrates; nem sempre é fácil discernir o fundo socrático das 
especulações acrescentadas por ele. Seja como for, cabe-lhe a glória e o privilégio de ter 
sido o grande historiador do pensamento de Sócrates, bem como o seu biógrafo genial. 
Com efeito, pode-se dizer que Sócrates é o protagonista de todas as obras platônicas 
embora, Platão conhecesse Sócrates já com mais de sessenta anos de idade. 
"Conhece-te a ti mesmo" - o lema em que Sócrates pauta toda a sua vida de sábio. O 
perfeito conhecimento do homem é o objetivo de todas as suas especulações e a moral, o 
centro para o qual convergem todas as partes da filosofia. 
 
 
A MORAL 
 
 
Para Sócrates a moral é compreendida mediante a doutrina de que eticidade 
significa racionalidade, ação racional. Virtude é inteligência, razão, ciência. A importância 
está na razão para a ação moral. Ele faz a separação, afirmando que não é sentimento, 
rotina, costume, tradição, lei positiva, opinião comum. 
Diferentemente dos sofistas, para ele é algo superior. Tudo isto tem que ser 
criticado, superado, subindo até à razão, não descendo até à animalidade - como ensinavam 
os sofistas. É sabido que Sócrates levava a importância da razão para a ação moral até 
àquele intelectualismo que, identificando conhecimento e virtude - bem como ignorância e 
vício - tornava impossível o livre arbítrio. Entretanto, como a gnosiologia
1
 socrática carece 
de uma especificação lógica, precisa - afora a teoria geral de que a ciência está nos 
conceitos - assim a ética socrática carece de um conteúdo racional, pela ausência de uma 
metafísica. Se o fim do homem for o bem - realizando-se o bem mediante a virtude, e a 
virtude mediante o conhecimento - Sócrates não sabe, nem pode precisar este bem, esta 
felicidade, precisamente porque lhe falta uma metafísica. 
 
1
 Gnosiologia (gnoséologie) 
Conhecimento, ciência superior. O estudo ou a filosofia do conhecimento (gnôsis). Mais abstrata que a 
epistemologia (que versa menos sobre o conhecimento em geral do que sobre as ciências em particular). A 
palavra vale principalmente pelo adjetivo gnoseológico, que é cômodo e não tem sinônimo. O substantivo, 
em francês, é de uso raro: os filósofos preferem falar em teoria do conhecimento. 
SPONVILLE. André Comte, Dicionário Filosófico. São Paulo, 2003 Martins Fontes, p. 267. 
 6 
A moral é a parte culminante da sua filosofia. Sócrates ensina a bem pensar para 
bem viver. O meio único de alcançar a felicidade ou semelhança com Deus, fim supremo 
do homem, é a prática da virtude. A virtude adquiri-se com a sabedoria ou, antes, com ela 
se identifica. Esta doutrina, uma das mais características da moral socrática, é conseqüência 
natural do erro psicológico de não distinguir a vontade da inteligência. 
Sócrates traçou, todavia, o itinerário, que será percorrido por Platão e acabado, 
enfim, por Aristóteles. Estes dois filósofos, partindo dos pressupostos socráticos, 
desenvolverão uma gnosiologia acabada, uma grande metafísica e, logo, uma moral. 
 
 7 
2 O MITO DA CAVERNA 
 
Platão concebe a realidade em uma perspectiva dualista que inclui o mundo das idéias ou 
formas e o mundo concreto. E concebe a relação entre essas duas realidades. Esse texto, diálogo 
do seu mestre revela isso. 
 
Sócrates - Agora imagina a maneira como segue o estado das nossas naturezas relativamente à 
instrução e à ignorância. Imagina homens numa morada subterrânea, em forma de caverna, com 
uma entrada aberta à luz; esses homens estão aí desde a infância, de perna e pescoço acorrentados, 
de modo que não podem mexer-se nem ver senão o que está diante deles, pois as correntes os 
impedem de voltar à cabeça; a luz chega-lhes de uma fogueira acesa numa colina que se ergue por 
detrás deles; entre o fogo e os prisioneiros passa uma estrada ascendente. Imagina que ao longo 
dessa estrada está construído um pequeno muro, semelhante às divisórias que os apresentadores de 
títeres armam diante de si e por cima das quais exibem as suas maravilhas. 
Glauco - Estou vendo. 
Sócrates - Imagina agora, ao longo desse pequeno muro, homens que transportam objetos de toda 
espécie, que o transpõem: estatuetas de homens e animais, de pedra, madeira e toda espécie de 
matéria; naturalmente, entre esses transportadores, uns falam e outros seguem em silêncio. 
Glauco - Um quadro estranho e estranhos prisioneiros. 
Sócrates - Assemelham-se a nós. E, para começar, achas que, numa tal condição, eles tenham 
alguma vez visto, de si mesmos e de seus companheiros, mais do que as sombras projetadas pelo 
fogo na parede da caverna que lhes fica defronte? 
Glauco - Como, se são obrigados a ficar de cabeça imóvel durante toda a vida? 
Sócrates - E com as coisas que desfilam? Não se passa o mesmo? 
Glauco - Sem dúvida. 
Sócrates -Portanto, se pudessem se comunicar uns com os outros, não achas que tomariam por 
objetos reais as sombras que veriam? 
Glauco - É bem possível. 
Sócrates - E se a parede do fundo da prisão provocasse eco, sempre que um dos transportadores 
falasse, não julgariam ouvir a sombra que passasse diante deles? 
Glauco - Sim, por Zeus! 
 8 
Sócrates - Dessa forma, tais homens não atribuirão realidade senão às sombras dos objetos 
fabricados? 
Glauco - Assim terá de ser. 
Sócrates - Considera agora o que lhes acontecerá, naturalmente, se forem libertados das suas 
cadeias e curados da sua ignorância. Que se liberte um desses prisioneiros, que seja ele obrigado a 
endireitar-se imediatamente, a voltar o pescoço, a caminhar, a erguer os olhos para a luz: ao fazer 
todos estes movimentos sofrerá, e o deslumbramento impedi-lo-á de distinguir os objetos de que 
antes via as sombras. Que achas que responderá se alguém lhe vier dizer que não viu até então 
senão fantasmas, mas que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, vê com 
mais justeza? Se, enfim, mostrando-lhe cada uma das coisas que passam, o obrigar, à força de 
perguntas, a dizer o que é? Não achas que ficará embaraçado e que as sombras que via outrora lhe 
parecerão mais verdadeiras do que os objetos que lhe mostram agora? 
Glauco - Muito mais verdadeiras. 
Sócrates - E se o forçarem a fixar a luz, os seus olhos não ficarão magoados? Não desviará ele a 
vista para voltar às coisas que pode fitar e não acreditará que estas são realmente mais distintas do 
que as que se lhe mostram? 
Glauco - Com toda a certeza. 
Sócrates - E se o arrancarem à força da sua caverna, o obrigarem a subir a encosta rude e 
escarpada e não o largarem antes de o terem arrastado até a luz do Sol, não sofrerá vivamente e 
não se queixará de tais violências? E, quando tiver chegado à luz, poderá, com os olhos ofuscados 
pelo seu brilho, distinguir uma só das coisas que ora denominamos verdadeiras? 
Glauco - Não o conseguirá, pelo menos de início. 
Sócrates - Terá, creio eu, necessidade de se habituar a ver os objetos da região superior. Começará 
por distinguir mais facilmente as sombras; em seguida, as imagens dos homens e dos outros 
objetos que se refletem nas águas; por último, os próprios objetos. Depois disso, poderá, 
enfrentando a claridade dos astros e da Lua, contemplar mais facilmente,durante a noite, os corpos 
celestes e o próprio céu do que, durante o dia, o Sol e sua luz. 
Glauco - Sem dúvida. 
Sócrates - Por fim, suponho eu, será o sol, e não as suas imagens refletidas nas águas ou em 
qualquer outra coisa, mas o próprio Sol, no seu verdadeiro lugar, que poderá ver e contemplar tal 
qual é. 
 9 
Glauco - Necessariamente. 
Sócrates - Depois disso, poderá concluir, a respeito do Sol, que é ele que faz as estações e os anos, 
que governa tudo no mundo visível e que, de certa maneira, é a causa de tudo o que ele via com os 
seus companheiros, na caverna. 
Glauco - É evidente que chegará a essa conclusão. 
Sócrates - Ora, lembrando-se de sua primeira morada, da sabedoria que aí se professa e daqueles 
que foram seus companheiros de cativeiro, não achas que se alegrará com a mudança e lamentará 
os que lá ficaram? 
Glauco - Sim, com certeza Sócrates. 
Sócrates - E se então distribuíssem honras e louvores, se tivessem recompensas para aquele que se 
apercebesse, com o olhar mais vivo, da passagem das sombras, que melhor se recordasse das que 
costumavam chegar em primeiro ou em último lugar, ou virem juntas, e que por isso era o mais 
hábil em adivinhar a sua aparição, e que provocasse a inveja daqueles que, entre os prisioneiros, 
são venerados e poderosos? Ou então, como o herói de Homero, não preferirá mil vezes ser um 
simples lavrador, e sofrer tudo no mundo, a voltar às antigas ilusões e viver como vivia? 
Glauco - Sou de tua opinião. Preferirá sofrer tudo a ter de viver dessa maneira. 
Sócrates - Imagina ainda que esse homem volta à caverna e vai sentar-se no seu antigo lugar: não 
ficará com os olhos cegos pelas trevas ao se afastar bruscamente da luz do Sol? 
Glauco - Por certo que sim. 
Sócrates - E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneiros que não se libertaram 
de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que seus olhos 
se tenham recomposto, pois se habituar à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que 
os outros se riam à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo 
que não vale a pena tentar subir até lá? E se alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse 
alguém não o mataria, se pudesse fazê-lo? 
Glauco - Sem nenhuma dúvida. 
Sócrates - Agora, meu caro Glauco, é preciso aplicar, ponto por ponto, esta imagem ao que 
dissemos atrás e comparar o mundo que nos cerca com a vida da prisão na caverna, e a luz do fogo 
que a ilumina com a força do Sol. Quanto à subida à região superior e à contemplação dos seus 
objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás 
quanto à minha idéia, visto que também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. 
 10 
Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a idéia do bem é a última a ser 
apreendida, e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo 
o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz; no mundo 
inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se 
comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública. 
Glauco - Concordo com a tua opinião, até onde posso compreendê-la. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
PADOVANI, Umberto e CASTAGNOLA, Luís, História da Filosofia, Edições Melhoramentos, 
São Paulo, 10.ª edição, 1974. 
 
MARCONDES, Danilo. Iniciação à História da Filosofia: dos pré-socráticos a Wittgenstein. 
Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 
 
SPONVILLE, André Comte, Dicionário Filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

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