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1 4. PARAFUSOS DE FIXAÇÃO Os parafusos fazem parte das junções removíveis cuja construção esta baseada na confecção de roscas em corpo cilíndrico para uma grande variedade de formas e geometrias conforme a aplicação. Na construção mecânica as roscas mais utilizadas são as seguintes: - rosca métrica - rosca whitworth - rosca trapezoidal - rosca dente de serra - rosca redonda. Figura 1: Nomeclatura para Rosca Métrica 4.1. Classificação Quanto ao Esforço: Os parafusos são elementos utilizados na construção de inúmeros tipos de equipamentos. Na construção mecânica e nas estruturas metálicas em geral podemos classificar as ligações quanto a forma de transmissão dos esforços: - Ligação à Tração - Ligação à Força Cortante (por contato e por atrito) - Ligação à Tração e Força Cortante A figura 2 apresenta as condições típicas de esforços atuantes nos parafusos. Os parafusos são classificados em dois grupos com referência à resistência: - Parafusos Comuns: utilizam normalmente o aço ASTM A-307 com 41,5 kN/cm² de resistência à ruptura por tração. Aplicações secundárias: guarda corpo, corrimão, terças, etc... - Parafusos de Alta Resistência: utilizam o aço ASTM A-325 e ASTM A-450, com resistência superior a 70 kN/cm². Aplicações de responsabilidade submetidos a carga dinâmicas. 2 A seguir são apresentadas algumas classificações para as diferentes normas existentes na área de estruturas e construção de máquinas. 3 4.2. Dimensionamento de Parafusos: Quando é desejada uma conexão desmontável a melhor solução é a utilização dos parafusos, combinados com a porca e arruelas endurecidas. Entretanto, as aplicações onde o cisalhamento é a principal carga, recomenda-se avaliar a utilização de rebites, pois a folga nos furos de conexão e a dificuldade de controle do aperto, podem prejudicar o uso dos parafusos. A figura 3 apresenta uma conexão parafusada típica. Observar a folga entre o corpo do parafuso e o furo. Este parafuso é torqueado para obter uma precarga correspondente à atuação de uma força Fi. O efeito da precarga produz deformação no parafuso e compressão nas peças, gerando atrito entre as superfícies em contato, de tal forma que este atrito seja suficiente para resistir à carga de cisalhamento. O esforço de cisalhamento não afeta as tensões no parafuso, enquanto o efeito de atrito for suficiente para resistir sem apresentar deslocamento. Figura 3: Conexão Parafusada 4 A constante de mola, ou constante de rigidez, de um conjunto elástico aparafusado, produz uma deflexão que pode ser representada na expressão: EA lF sendo: F - Força l - Comprimento da junção δ - Deflexão A - Área E - Módulo de Elasticidade A constante de rigidez é definida por: l EAF KKF Utilizando a nomeclatura abaixo podemos escrever as equações que relacionam as deformações dos parafusos e das chapas. P - Carga total externa na montagem Fi - Precarga devido ao torque de aperto Pb - Parcela de P absorvida pelo parafuso Pm - Parcela de P absorvida pela chapa Fb - Carga resultante no parafuso Fm - Carga resultante na chapa Temos: m m m b b b K P K P ; Considerando que as deformações sejam iguais: m m b b K P K P Considerando P = Pb + Pm, temos: mb m m mb b b KK PK P KK PK P ; Podemos escrever: i mb b bibb F KK PK FFPF i mb m mimm F KK PK FFPF O gráfico da figura 4 ilustra esta situação: 5 Figura 4: Gráfico das forças na conexão parafusada Exemplo: Para Km = 8Kb, conforme figura, considerar a precarga Fi =1470 N e a carga externa de 1600 N, qual será a força resultante no parafuso e na peça de conexão? N KK K F bb b b 1648F 1470 8 1600 b N KK K F bb b m 48 F 1470 8 16008 m A precarga é muito importante para o perfeito funcionamento de uma junção parafusada. A precarga adequada garante o funcionamento correto para cargas cíclicas (fadiga) e resistência ao cisalhamento. O parafuso com precarga recebe uma flutuação de apenas 10% da carga máxima, portanto a relação σa/ σm será muito pequena na aplicação do Diagrama Modificado de Goodman. 4.2.1. Compressão nas Peças da Junção: A determinação da constante de rigidez é uma das grandes dificuldades para calcular as junções parafusadas. Quando são usadas juntas de vedação, normalmente a constante de rigidez será a da própria junta, pois a constante equivalente é definida na expressão: ........ 1111 321 KKKKm Sendo a rigidez da junta muito baixa, nesta equação o valor de Km será praticamente a rigidez da própria junta. No caso onde existe junta de vedação é desenvolvido um método teórico. Para o caso representado na figura 5 temos: dl dl Ln dE Km 5,2 5,0 52 6 Figura 5: Gráfico da Relação de Rigidez 4.2.2. Requisitos de Torque: Nas junções parafusadas de grande responsabilidade é necessário um controle adequado do torque de aperto. Utilizando equações semelhantes as desenvolvidas para o dimensionamento de parafusos de transmissão obtemos a seguinte relação: dFKT i Nesta equação o valor de K é definido por: c m d d K 625,0 sectan1 sectan 2 Na maioria das aplicações o valor de K normalmente é da ordem de 0,2 (μ = μc = 0,15). Portanto: dFT i 20,0 Para as situações especiais deve ser feito um cálculo mais detalhado. O valor de Fi será fundamental para o dimensionamento do parafuso. No item 3 serão feitas as considerações necessárias para escolha do parafuso conforme a classe de resistência adequada. 4.3. Dimensionamento das Juntas Parafusadas: As juntas parafusadas podem trabalhas em esforços de tração ou de cisalhamento/tração. O aspecto fundamental para a definição dos esforços no parafuso é a definição da precarga a ser aplicada. Esta precarga deve ser considerada sob dois aspectos distintos: solicitações estáticas e solicitações cíclicas (fadiga). 7 4.3.1. Precarga no Carregamento Estático: Na aplicação de carregamento a tração a tensão atuante no parafuso pode ser obtida na expressão: t i t b A F A CP O valor de C é definido por: mb b KK K C A área de resistência At depende do tipo de rosca aplicada. No caso da rosca métrica os valores são definidos na tabela abaixo: Nas aplicações em geral podemos aplicar as seguintes relações: - Conexões não permanentes, desmontáveis: 75,0 pi FF - Conexões permanentes: pi FF 90,0 8 O valor de Fp, definido por carga de prova, é obtido através da equação: ptp SAF O valor de Sp é definido nas tabelas de classe de resistência, definido pela resistência mínima a prova. Para outros materiais o valor de Sp = 0,85 Sy. 4.3.2. Precarga no Carregamento Cíclico (Fadiga): O cálculo das junções à fadiga segue os mesmos critérios jádefinidos anteriormente para outros elementos de máquinas, como por exemplo os eixos. Nesta situação, com referência nos valores já definidos anteriormente temos: inicial) carga (Pré parafuso) no carga à somada carga (Pré min max i b FF FF Portanto: 22 minmax FFFFF iba A tensão alternada é: tmb b t ib a A P KK K A FF 22 t a A P C 2 A tensão média atuante, considerada para o dimensionamento à fadiga é definida por: t i am A F t i t m A F A CP 2 Considerando o Critério de Goodman temos: e ut t i ut a e a utm t i ma a a F S S A F S S S S SS A F SS S n 1 ;1 ; ; 9 Exemplo: A figura a seguir representa a secção de um cilindro submetido a uma pressão interna. Uma quantidade de N parafusos deve ser utilizada para uma força de separação de 160 kN. (a) Determinar a constante de rigidez C; (b) Determinar o número mínimo de parafusos considerando um fator de segurança 2, os parafusos devem ser reutilizáveis após a desmontagem. Qual a precarga a ser utilizada? Figura 6: Secção da Junta Flangeada. Material em Ferro Fundido. Parafuso M16 x 2, Classe 8.8 comprimento de 65 mm. Solução: a) A constante de rigidez dos parafusos é definida por: mb b KK K C Calculando os valores de Kb e Km, temos: N/m 1004,1 10404 101020716 4 9 3 6922 l Ed Kb dl dl Ln dE Km 5,2 5,0 52 9 39 10807,1 165,240 165,0405 2 10161079 Ln Km A constante C é obtida na expressão acima: 365,0C l EA Kb 10 b) As tabelas fornecem os seguintes valore: At = 157 mm 2 e Sp = 600 Mpa kN 65,701060015775,075,0 3 pti SAF A força em cada parafuso será: 65,70 1602365,0 N F N PnpC F ib 65,70 8,116 N Fb Na tabela obtemos Sy = 635 Mpa. Temos que a força máxima admissível no parafuso será: O número de parafusos será definido na seguinte expressão: 02,4 65,7010635157 8,116 3 NN Considerando o fator de segurança adotado, 4 parafusos são suficientes. Podemos verificar o valor de Fi através da equação: kN 8,50 365,01 4 1602 1 ii FC N Pnp F Este valor é influenciado pelo fator de segurança, porém devemos utilizar a precarga recomendada de 70,65 kN. 4.4. Juntas Solicitadas por Momentos: O cálculo de juntas parafusadas com carga excêntrica será estudado conforme exemplo apresentado nas figuras abaixo: Figura 7: Posição do centróide dos parafusos ytb t b y SAF A F S 11 Figura 8: a) Viga parafusada com porcas em ambas as extremidades; b) Diagrama de corpo livre da viga; c) Vista ampliada de todos os parafusos centrados em O, mostrando as forças de cisalhamento primária e secundária. As junções podem e dever ser carregadas em cisalhamento para que os fixadores não recebam tensão adicional além do aperto original. O carregamento de cisalhamento é resistido de duas formas principais: - A carga de cisalhamento é suportada pelo atrito entre os membros, garantido pela precarga dos parafusos que devem receber um torque de aperto adequado para esta condição e de acordo com a resistência admissível a tração. A inexistência desta condição provoca condições críticas para a junção pois normalmente apenas dois parafusos passarão a suportar toda a carga de cisalhamento. - A junção recebe pinos calibrados para garantir o perfeito alinhamento e suportam a carga de cisalhamento de trabalho. O uso de rebites permitia uma situação bastante segura nas junções submetidas ao cisalhamento. A montagem a quente garantia o preenchimento das furações e durante o resfriamento garantia o aperto devido a contração dos mesmos. No dimensionamento dos parafusos submetidos às cargas excêntricas devemos inicialmente definir a posição do centróide, com base na figura 7 temos: 54321 5544332211 AAAAA xAxAxAxAxA x 54321 5544332211 AAAAA yAyAyAyAyA y Numa junção similar à da figura 8 irá criar duas situações de carregamento: o cisalhamento primário e o cisalhamento secundário. O cisalhamento primário é calculado diretamente pela força cortante: n V F ' “V” representa a carga vertical em cada lado da junção e “n” o número de parafusos. 12 A carga de cisalhamento secundário é definida pelo momento em cada lado da junção: ........"""1 CCBBAA rFrFrFM Observando a figura podemos escrever: C C B B A A r F r F r F """ O valor da força em cada parafuso será: ...... " 222 1 CBA n n rrr rM F Exemplo: A figura abaixo apresenta uma barra de aço retangular de 15 mm por 200 mm, sustentada em balanço por uma viga tipo “C” com 250 mm, usando dois pinos localizados em E e F, e quatro parafusos com porcas, localizados em A, B, C e D. Encontrar os seguintes valores para as diferentes situações descritas abaixo: a) A carga máxima em cada parafuso caso o atrito entre as chapas não resista aos esforços aplicados e não sejam montados os pinos em E e F; b) A tensão máxima de cisalhamento em cada parafuso na mesma condição do item a; c) A máxima tensão de contato entre o furo na peçam e o corpo do parafuso na mesma condição do item a; d) A tensão de momento crítica na chapa na mesma situação do item a; e) Considerando que os pinos E e F sejam montados, determinar a força atuante nos pinos caso não exista atrito resistente entre as chapas; 13 Solução: a) Carga máxima em cada parafuso, sem atrito nas chapas e sem os pinos “E” e “F”: Teremos duas condições que devem ser consideradas: - Cisalhamento puro: (V = 16 kN e n = 4 parafusos) F’A = F’B = F’C = F’D = 16/4 ou seja: F’ = 4 kN - Cisalhamento por torção: (neste caso rA = rB = rC = rD = rn = r = 96 mm) M1 = 16 x 425 ou seja: M1 = 6800 kN x mm √ ou seja: F” = 17,7 kN A distribuição das forças é definida na figura a seguir: √ obs: 38,66 = arctan(60/75) √ obs: 141,34 = 90 + arctan(75/60) Temos que: FA = FB = 21 kN FC = FD = 14,8 kN 14 b) Tensão Máxima de Cisalhamento em cada parafuso: Considerando os parafuso A e D mais solicitados, temos: Para o cálculo será considerada a condição crítica em que o esforço atua na região roscada. Na tabela obtemos que: As = 144 mm 2 Substituindo valores obtemos: c) Tensão de contato no furo:Neste caso é utilizada a secção de contato do parafuso com a chapa mais fina: Ab = 16 x 10 Portanto: d) Tensão de Momento Crítica: Esta tensão ocorre na secção dos parafusos “A” e “D”, ou seja: O cálculo da tensão para esta condição é definida na expressão: O momento de inércia da secção crítica é definida na expressão: ( ) O valor de “c” corresponde a 100 mm, ponto de máxima tensão, substituindo valores temos: 15 e) Força nos Pinos: Neste caso os pinos são montados com interferência. Caso o atrito de aperto entre as chapas não suporte as forças produzidas pelo momento e esforço cortante os pinos devem resistir ao total da carga aplicada. O momento no centroide dos pinos será: As forças são calculadas da mesma forma que no caso anterior para os parafusos, porém neste caso os pinos suportam toda a carga: - Força de Cisalhamento puro: - Força de Cisalhamento pelo esforço de torção: Considerando o esforço combinado das duas forças, conforme figura para os pinos “E” e “F”, temos: Pino E: FE = 45333 – 8000 = 37,33 kN Pino F: FF = 45333 + 8000 = 53,33 kN
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