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Professora Katia Polon 1 CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIC Faculdade de Direito TEORIA GERAL DO PROCESSO PENAL PROFª: KATIA POLON E-mail: profkatiapolon@gmail.com 2017/2 Bibliografia: ● 1 - Nucci, Guilherme de Souza. Processo penal - 3. ed. rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2015. (Esquemas & sistemas; v. 3) ISBN 978-85-309-6346-0. ● 2 - Nucci, Guilherme de Souza. Manual de processo penal e execução penal – 13. ed. rev., atual. e ampl. – Rio de Janeiro: Forense, 2016. ISBN 978-85-309-6952-3. Professora Katia Polon 2 Unidades de Ensino (Conteúdo Programático) UNIDADE 02 - AÇÃO PENAL ● U2.1 - Ação Penal: Conceito - Condições da ação penal, Princípios; Titularidade ● U2.2 - Ação penal pública incondicionada e condicionada ● U2.3 - Ação penal privada - Prazos - Denúncia e queixa ( requisitos, omissões, prazo, rejeição e aditamento); ● U2.4 - Ação civil ex delict: requisitos e condição de procedibilidade Professora Katia Polon 3Unidade 2.1 Professora Katia Polon 4 As ações são: a) públicas, quando promovidas pelo Ministério Público, subdivididas em: a.1) incondicionadas, quando propostas sem necessidade de representação ou requisição; a.2) condicionadas, quando dependentes da representação do ofendido ou de requisição do Ministro da Justiça. A petição inicial da ação penal: Quando proposta pelo Ministério Público, chama-se denúncia; Quando proposta pelo ofendido, no caso de se tratar de ação penal privada, denomina-se queixa (art. 100, § 2.º, CP). Unidade 2.1 Professora Katia Polon 5 ● Na essência, o Código Penal não deveria ter cuidado do tema ação penal, próprio de ser trabalhado no contexto do processo penal, (art. 24 do CPP - “nos crimes de ação pública, esta será promovida por denúncia do Ministério Público, mas dependerá, quando a lei o exigir, de requisição do Ministro da Justiça, ou representação do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo”). ● Porém deve-se analisar o tipo penal incriminador existente na Parte Especial do Código Penal (ou em legislação especial); caso não se encontre nenhuma referência à necessidade de representação ou requisição, bem como à possibilidade de oferecimento de queixa, trata-se de ação penal pública incondicionada. ● Por outro lado, deparando-se com os destaques “somente se procede mediante representação” (ex.: art. 153, § 1.º, CP) ou “procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça” (ex.: art. 145, parágrafo único, CP), está-se diante de ação penal pública condicionada. ● E caso se encontre a especial referência “somente se procede mediante queixa” (ex.: art. 145, caput, CP), evidencia-se a ação penal privada. ● ATENÇÃO: Por vezes, o legislador insere uma regra geral, valendo para vários capítulos, como se pode observar pela atual redação do art. 225, CP, dada pela Lei 12.015/2009: “Nos crimes definidos nos Capítulos I e II deste Título, procede-se mediante ação penal pública condicionada à representação. Parágrafo único. Procede-se, entretanto, mediante ação penal pública incondicionada se a vítima é menor de 18 (dezoito) anos ou pessoa vulnerável”. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 6 PROCESSO, PROCEDIMENTO E PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS ● O processo é um instrumento de realização do direito de pedir ao Poder Judiciário a aplicação do direito material ao caso concreto, formatando-se pelos aspectos externo e interno. ● Externamente, o processo é uma sucessão ordenada de atos dirigida à sentença. ● Internamente, cuida-se de uma relação estabelecida entre as partes contrapostas – acusação e réu – e o Estado-juiz. ● O procedimento é a forma e o ritmo dado à sucessão dos atos que buscam a sentença. ● Pode ser considerado comum ou especial, como veremos no capítulo próprio, significando um andamento mais célere ou mais lento, com várias audiências ou uma única, enfim, espelha a maneira pela qual se dará o desenvolvimento do processo. ● Os pressupostos processuais são os requisitos necessários para a existência e a validade da relação processual, permitindo que o processo possa atingir o seu fim. ● Como pressuposto de existência, pode-se citar a constatação da jurisdição, uma vez que apresentar a causa a uma pessoa não integrante do Poder Judiciário nada resolve em definitivo. ● Como pressuposto de validade, pode-se mencionar a inexistência de suspeição do magistrado, bem como a sua competência para decidir a causa, além da ausência de litispendência e coisa julgada. A Lei 11.719/2008 inseriu, dentre os motivos para a rejeição da denúncia ou queixa, a falta de pressuposto processual (art. 395, II, CPP). ● Devemos relembrar que alguns dos pressupostos processuais podem ser supridos e sanados, não implicando, necessariamente, a rejeição da peça acusatória. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 7 INÍCIO DA AÇÃO PENAL ● Há divergência doutrinária no que se refere ao início da ação penal, sendo favoráveis ao oferecimento da denúncia como termo inicial da ação Mirabete (Código de Processo Penal Interpretado, 2001, p. 169), Guilherme de Souza Nucci (Código de Processo Penal Comentado, 2002, p. 99) e Tourinho Filho (Código de Processo Penal Comentado, 1999, p. 75). ● Já Eugênio Pacelli entende de modo oposto, pelo seu recebimento como março inicial (Curso de Processo Penal, 2005, p. 447). ● Para o STF e o STJ, o termo inicial é o recebimento da denúncia ou queixa, respectivamente nos julgados a seguir: RHC 89721 / RO DJ 16-02-2007 e HC 9843 / MT DJ 17.04.2000. https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/962773/qual-o-termo-inicial-da-acao-penal-o-oferecimento-da-denuncia-ou-o-seu-recebimento-marcio-pereira Acesso em 08/09/2017 as 14h30min. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 8 ● O início da ação penal serve para interromper a decadência. ● Quando o magistrado recebe a denúncia ou a queixa, tem-se por ajuizada a ação penal, vale dizer, encontra-se em termos para estabelecer a relação processual completa, chamando-se o réu a juízo. Serve para interromper a prescrição. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 9 ATENÇÃO ● Prescrição: é a perda da pretensão punitiva ou executória em face do decurso do tempo. ● Decadência: é a perda do direito de ação em face do decurso do tempo. ● A decadência, a prescrição e a perempção extinguem a punibilidade ● (Art. 107, IV, do CP: Extingue-se a punibilidade: (…) IV - pela prescrição, decadência ou perempção) ● Perempção: é sanção processual ao querelante inerte ou negligente. ● Preclusão: perda de uma faculdade processual; a preclusão pode ser temporal, lógica ou consumativa e, diferente das demais hipóteses, não atinge o direito de punir. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 10 CONDIÇÕES DA AÇÃO PENAL ● GENÉRICAS: condições válidas para toda e qualquer ação penal. a) possibilidade jurídica do pedido; b) interesse de agir; c) legitimidade de parte. ● OBS.: A partir da Lei 11.719/2008 revogou-se o art. 43 e o seu conteúdo foi transferido, com alterações, para o art. 395 do CPP. ● De maneira ampla, passou-se a prever, como causas para a rejeição da denúncia ou queixa, o seguinte: a) inépcia da denúncia ou queixa; b) ausência de pressuposto processual; c) falta de condição para o exercício da ação penal; d) ausência de justa causa para o exercício da ação penal. ● ESPECÍFICAS: Determinadas ações penais, dependem do preenchimento de certos requisitos que vão além dos genéricos, também são denominadas de condições de procedibilidade. ● Exemplos: a) existência de representação da vítima ou requisição do Ministro da Justiça (ação pública condicionada); b) ingresso do estrangeiro no território nacional, no caso deextraterritorialidade condicionada; c) efetivação da prisão, no caso do processo de extradição etc. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 11 CONDIÇÃO GENÉRICA: POSSIBILIDADE JURÍDICA DO PEDIDO ● Significa ter o Estado a possibilidade, em tese, de obter a condenação do réu, motivo pelo qual é indispensável que a imputação diga respeito a um fato considerado criminoso. (fato típico, antijurídico e culpável). ● A possibilidade jurídica do pedido liga-se apenas à viabilidade de ajuizamento da ação penal para que, ao final, seja produzido um juízo de mérito pelo magistrado, não significando que não possa haver, desde logo, quando for possível, a antecipação dessa avaliação de mérito, encerrando-se de vez a questão, quando as provas permitirem, no interesse do próprio indivíduo. ● Acrescente-se, ainda, existir a possibilidade legal de, ultrapassada a fase de recebimento da denúncia ou queixa, o juiz absolver sumariamente o réu, após a apresentação da defesa prévia, dentre outras, pela razão de o fato narrado evidentemente não constituir crime (art. 397, III, CPP). Unidade 2.1 Professora Katia Polon 12 CONDIÇÃO GENÉRICA: Interesse de agir ● A necessidade de existência do devido processo legal para haver condenação e consequente submissão de alguém à sanção penal é condição inerente a toda ação penal. Logo, pode-se dizer que é presumido esse aspecto do interesse de agir. ● Quanto à adequação, o órgão acusatório precisa promover a ação penal nos moldes procedimentais eleitos pelo Código de Processo Penal, bem como com supedâneo em prova pré-constituída. Sem o respeito a tais elementos, embora a narrativa feita na denúncia ou queixa possa ser considerada juridicamente possível, não haverá interesse de agir, tendo em vista ter sido desrespeitado o interess e adequação. ● Quanto ao interesse-utilidade, significa que a ação penal precisa apresentar-se útil para a realização da pretensão punitiva do Estado. Vislumbrando-se, por exemplo, a ocorrência de causa extintiva da punibilidade, é natural deixar o processo de interessar ao Estado, que não mais possui pretensão de punir o autor da infração penal. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 13 CONDIÇÃO GENÉRICA: Legitimidade de parte ● O juiz certificar-se da legitimidade da parte nos dois polos: ativo e passivo. E mais, necessita verificar a legitimidade para a causa (ad causam) e a legitimidade para o processo (ad processum). ● Quanto à legitimidade para a causa, no polo ativo deve figurar o titular da ação penal: Ministério Público (ação penal pública) ou ofendido (ação penal privada), que pode ser representado ou sucedido por outra pessoa na forma da lei (arts. 30 e 31, CPP). ● No polo passivo, em face do princípio da intranscendência, deve estar a pessoa contra a qual pesa a imputação, vale dizer, não é parte legítima passiva aquele que não praticou a conduta típica, nem de qualquer forma auxiliou à sua realização. ● No tocante à legitimidade para o processo, no polo ativo deve estar o membro do Ministério Público que possua, legalmente, atribuição para tanto (princípio do promotor natural) ou o ofendido, devidamente representado por advogado (caso não esteja atuando em causa própria, isto é, se a própria vítima possuir habilitação profissional), se maior de 18 anos, bem como o ofendido, assistido por seu representante legal (pai, por exemplo), se menor de 18 anos, devidamente representado pelo advogado. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 14 CONDIÇÃO GENÉRICA: Legitimidade de parte ● Excepcionalmente, pode haver legitimidade ativa para a causa concorrente, ou seja, mais de uma parte está autorizada legalmente a agir. ● Logicamente, não podendo haver duas ações penais idênticas contra o mesmo réu, quem o fizer em primeiro lugar, afasta o outro. É o que acontece quando o membro do Ministério Público ultrapassa o prazo legal para o oferecimento de denúncia (art. 46, CPP), legitimando o ofendido a ingressar com queixa-crime (art. 29, CPP). Se este não o fizer, continua autorizado a oferecer denúncia o promotor, figurando, pois, uma legitimação concorrente. ● Outra exceção, não convincente, no entanto, é a possibilidade de o funcionário público, ofendido em sua honra no exercício da função, que deveria sempre, quando desejasse ver processado o ofensor, representar ao Ministério Público, para que este promovesse a ação penal pública (art. 145, parágrafo único, CP), valer-se de ação penal privada, ficando a seu critério a escolha. Assim, tem entendido o Supremo Tribunal Federal caber ao funcionário optar entre provocar o Ministério Público para que a ação seja proposta ou contratar ele mesmo um advogado para ingressar com queixa. ● O STF, editou a Súmula 714: “É concorrente a legitimidade do ofendido, mediante queixa, e do Ministério Público, condicionada à representação do ofendido, para a ação penal por crime contra a honra de servidor público em razão do exercício de suas funções”. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 15 CONDIÇÃO ESPECÍFICA: REPRESENTAÇÃO DO OFENDIDO ● A representação pode ser ofertada perante autoridade policial, promotor ou magistrado não competente para investigar, oferecer ou receber a denúncia, o que se afigura razoável, pois a manifestação de vontade da vítima é somente uma condição de procedibilidade e não a petição inicial, que inaugura um processo. ● A representação não exige rigorismo formal, ou seja, um termo específico em que a vítima declare expressamente o desejo de representar contra o autor da infração penal. ● Outra situação possível: o ofendido pode comparecer à delegacia, registrar a ocorrência e manifestar expressamente, no próprio boletim, o seu desejo de ver o agressor processado. Entretanto, para que dúvida não paire, o ideal é colher a expressa intenção do ofendido por termo, como deixa claro o § 1.º do art. 39 do CPP. ● Deve ser feita pela vítima, seu representante legal ou sucessor (cônjuge, ascendente, descendente e irmão) ● ATENÇÃO: Vale destacar, por fim, que a representação confere ao promotor autorização para agir e não obrigatoriedade. Assim, caso inexistam provas suficientes para a propositura da ação penal, após esgotarem-se os meios investigatórios, pode o representante do Ministério Público requerer o arquivamento. Determinado este, não tem a vítima o direito de ingressar com ação privada subsidiária da pública, uma vez que o promotor cumpriu sua função a tempo. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 16 CONDIÇÃO ESPECÍFICA: REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA ● Para alguns poucos casos, previu-se que haja a participação discricionária de órgão do Poder Executivo, conferindo autorização para a atuação do Ministério Público, diante da complexidade do tema e da conveniência política de se levar o caso à apreciação do Poder Judiciário. ● A requisição é a exigência legal que o Ministro da Justiça encaminha ao Ministério Público de que seja apurada a prática de determinada infração penal e sua autoria. Não deixa de ser uma delatio criminis postulatória, trata-se de uma condição para o exercício do direito de ação (art. 395, II, CPP). ● Ex.: quando há crime contra a honra do Presidente da República ou de chefe de governo estrangeiro (art. 145, parágrafo único, 1.ª parte, do CP). Obs.: feita a requisição, isso não significa que o Ministério Público agirá automaticamente. Havendo provas suficientes a fundamentar a ação penal, segundo o princípio da obrigatoriedade, deve o Ministério Público ofertar denúncia; porém, havendo falta de justa causa para o início da ação, deve ser requerido o arquivamento da requisição e das provas que a acompanharam ou do inquérito, caso este tenha sido instaurado por conveniência da formação da opinio delicti do órgão acusatório.● Diante do silêncio da lei, a qualquer tempo, enquanto não estiver extinta a punibilidade do agente (como pode ocorrer com o advento da prescrição), pode o Ministro da Justiça encaminhar a requisição ao Ministério Público. Unidade 2.1 Professora Katia Polon 17Unidade 2.2 Professora Katia Polon 18Unidade 2.2 Professora Katia Polon 19Unidade 2.2 Professora Katia Polon 20Unidade 2.3 AÇÃO PENAL PRIVADA Professora Katia Polon 21 Decadência ● A decadência envolve todo tipo de ação penal privada (exclusiva ou subsidiária), abrangendo também o direito de representação, que ocorre na ação penal pública condicionada. ● No caso da ação privada subsidiária da pública, como já visto, deve-se destacar que o particular ofendido pode decair do seu direito de apresentar queixa, tão logo decorra o prazo de seis meses, contado a partir da finalização do prazo legal para o Ministério Público oferecer denúncia, embora não afete o direito do Estado-acusação, ainda que a destempo, de oferecer denúncia. ● A contagem do prazo decadencial, embora seja um prazo processual, que cuida do exercício do direito de ação, possui nítidos reflexos no direito penal, uma vez que é capaz de gerar a extinção da punibilidade. Portanto, conta-se nos termos do art. 10 do Código Penal, incluindo-se o dia do começo e excluindo-se o dia final, valendo-se a contagem do calendário comum. Ex.: se alguém toma conhecimento da autoria do crime de calúnia, no dia 10 de março, vence o prazo para apresentar queixa no dia 9 de setembro. Não há interrupção por força de feriados, fins de semana, férias forenses ou qualquer outro motivo de força maior. ● O marco inicial da decadência é o dia em que a vítima souber quem é o autor do crime. O mesmo critério deve ser aplicado aos sucessores do ofendido, caso este morra ou seja considerado ausente. ● Ocorre a finalização de cômputo do prazo decadencial quando há o oferecimento de queixa ao juízo. Prescinde-se de despacho judicial ou recebimento da queixa, bastando a distribuição no fórum. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 22Unidade 2.3 Professora Katia Polon 23 Renúncia x Perdão desistir ou abdicar x desculpar ou absolver ● A desistência ocorre sempre antes do ajuizamento da ação ● A renúncia pode ser expressa, pode tanto ingressar com petição, ainda durante a fase do inquérito policial, deixando claro que desiste de agir contra o ofensor (art. 104, CP), como pode dirigir uma carta ao agressor demonstrando seu intuito. Exige a lei que o ofendido apresente declaração assinada por si ou por procurador com poderes especiais (não é necessário ser advogado). ● Tácita, o ofendido pode reconciliar-se com o agressor, deixando isso evidente através de atitudes e gestos, como, por exemplo, convidá-lo para ser padrinho de seu casamento (art. 104, parágrafo único, CP). ● Quando se configurar a renúncia, havendo inquérito, o juiz cuidará de findar a investigação, julgando extinta a punibilidade do agente. Inexistindo inquérito, pode-se provocar o juiz apenas com o fito de julgar extinta a punibilidade, embora o mais comum seja simplesmente nada fazer, deixando-se de registrar a ocorrência do fato delituoso. ● No caso da ação penal privada exclusiva, equivale à desistência da demanda, o que somente pode ocorrer quando a ação já está iniciada. ● É ato bilateral, exigindo, pois, a concordância do agressor (querelado). ● O art. 105 do Código Penal é expresso ao mencionar que o perdão obsta ao prosseguimento da ação, subentendendo-se que deve ela estar iniciada. ● A aceitação do perdão pode ser feita por procurador com poderes especiais, advogado ou não. O defensor dativo e o advogado, sem tais poderes específicos, não podem acolher o perdão do querelante. ● O limite para a ocorrência do perdão é o trânsito em julgado da sentença condenatória (art. 106, § 2.º, do CP). ● Unidade 2.3 Professora Katia Polon 24 PERDÃO – OBS.: ● Em razão da indivisibilidade da ação penal privada, desejando perdoar um dos agressores, está o querelante abrindo oportunidade para que todos os coautores dele se beneficiem. Entretanto, como o perdão é bilateral, exigindo aceitação do querelado, é possível que um coautor aceite e outro não, razão pela qual, em relação a este, não produz efeito (art. 51, CPP, e art. 106, I e III, CP). ● Por outro lado, quando houver mais de um ofendido, ainda que um deles perdoe, tal situação não afasta dos demais o direito de processar o agressor (art. 106, II, CP). Frise-se, também, que, havendo vários delitos de ação privada tramitando com as mesmas partes, o perdão concedido pelo querelante ao querelado em um só dos processos, não se estende aos demais, que podem prosseguir normalmente. ● Lembremos que a ação privada subsidiária da pública não comporta perdão, pois o titular, em última análise, é o Ministério Público (vide art. 29, CPP). Se o particular assume o polo ativo diante da inércia do órgão acusatório estatal, como mero substituto processual, caso tenha intenção de abandonar a causa ou perdoar o ofensor, torna a assumir a titularidade o promotor de justiça ou o procurador da República. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 25Unidade 2.3 Professora Katia Polon 26 Perempção ● Dá-se a extinção da punibilidade do querelado, (põe fim ao processo) nos casos de ação penal exclusivamente privada, quando o querelante, por desídia, demonstra desinteresse pelo prosseguimento da ação. ● Havendo mais de um querelante, a inércia de um não pode prejudicar os demais. Assim, caso um deles deixe perimir a ação penal, pode esta prosseguir em relação aos outros. ● SITUAÇÕES: I) paralisação do feito por mais de trinta dias (art. 60, I, CPP); II) falecimento ou a incapacidade do querelante (art. 60, II, CPP); III) não comparecimento, injustificado, do querelante a ato processual indispensável (art. 60, III, CPP); IV) ausência do pedido de condenação nas alegações finais do querelante (art. 60, III, parte final, CPP); V) extinção de pessoa jurídica, quando for a querelante, sem deixar sucessora disposta a assumir o polo ativo da demanda (art. 60, IV, CPP). Unidade 2.3 Professora Katia Polon 27 Ação privada subsidiária da pública ● Trata-se de autorização constitucional fornecida pelo art. 5.º, LIX, possibilitando que a vítima ou seu representante legal ingresse, diretamente, com ação penal, através do oferecimento de queixa, quando o Ministério Público, nos casos de ações públicas, deixe de fazê-lo no prazo legal (art. 46, CPP). ● De uso raríssimo no cotidiano forense. Não pelo fato do Ministério Público nunca atrasar no oferecimento de denúncia, mas porque a vítima, dificilmente, acompanha o desenrolar do inquérito, através de seu advogado. ● Há, pois, diferença substancial entre não agir e manifestar-se pelo arquivamento, por crer inexistir fundamento para a ação penal. ● Oferecida queixa pelo ofendido, as atribuições do Ministério Público passam a ser aditar (complementar, adicionar algum elemento) a inicial, para incluir circunstância constante das provas do inquérito, componente da figura típica, mas não descrita na peça inaugural privada, bem como para incluir algum indiciado olvidado; pode repudiar a queixa, oferecendo denúncia substitutiva, quando verificar que a peça ofertada pela vítima é inepta e não preenche os requisitos legais. ● Na ação penal privada subsidiária da pública é inadmissível a ocorrência do perdão ofertado pelo querelante. Conforme art. 105 do Código Penal, somente cabe perdão nas ações exclusivamente privadas. Se o fizer, demonstra sua indisposição a conduzir a ação penal, devendo o Ministério Público retomar o seu lugar como parte principal. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 28Espécies de ação privada Unidade 2.3 ● a) exclusivamente privada, quando somente a vítima, seu representante legal ou as pessoas autorizadas em lei (art. 31, CPP) podem ingressar com a ação penal. ● Dentro dessa modalidade, há alguns casos em que a legitimidade ativa é privativa da pessoa ofendida, não admitindo que sucessores assumam o polo ativo. Cuida-se da denominada ação personalíssima, como ocorre com o induzimento a erro essencial e ocultação de impedimento (art. 236, parágrafo único, CP); ● b) ação privada subsidiária da pública, quando o ofendido, porque o Ministério Público, sem agir como deveria, deixa escoar o prazo para o oferecimento da denúncia, age em seu lugar, apresentando queixa. Professora Katia Polon 29 Sucessão e menoridade no contexto do oferecimento de queixa Unidade 2.3 ● Nos exatos moldes da possibilidade de oferecimento de representação em caso de ofendido morto ou ausente, admite a lei processual penal (art. 31) que assuma o polo ativo, apresentando queixa em lugar da vítima, seus familiares, na seguinte ordem: cônjuge, ascendente, descendente e irmão. ● O prazo decadencial, que, como regra, é de seis meses para o ofendido, contado da data em que souber quem é o autor da infração penal, para os sucessores deve começar a contar a partir do mesmo momento, isto é, do dia em que cada qual souber a autoria do crime. ● Há possibilidade do ofendido ser menor de 18 anos – sem legitimação para agir no processo penal – ou mentalmente enfermo ou retardado, sem a devida representação legal. Nessa situação, para evitar que fique privado de seu direito de acionar criminalmente quem o ofendeu, deve o juiz, por ato de ofício ou mediante provocação do promotor, nomear à vítima um curador especial. ● O curador pode ser qualquer pessoa, com mais de 18 anos, da confiança do juiz. ● O mesmo caminho deve ser trilhado em se tratando de representação, quando envolver o interesse de pessoa incapaz. Por vezes, o referido incapaz tem representante legal, mas este tem interesse conflitante com o do representado, podendo ser de variadas ordens. Pode ocorrer do representante ser coautor ou partícipe do crime de ação privada cometido contra o incapaz, ou até mesmo muito amigo, ou intimamente relacionado com o autor. Professora Katia Polon 30 CONTEÚDO E FORMALIDADES DA DENÚNCIA OU QUEIXA ● Denúncia é a petição inicial, contendo a acusação formulada pelo Ministério Público, contra o agente do fato criminoso, nas ações penais públicas. ● Queixa é a petição inicial, contendo a acusação formulada pela vítima, através de seu advogado, contra o agente do fato delituoso, nas ações penais privadas Unidade 2.3 Professora Katia Polon 31 O art. 41 do Código de Processo Penal estipula quais são os elementos da denúncia ou da queixa: ● a) exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias; ● b) qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo; ● d) rol de testemunhas. ● c) classificação do crime; Unidade 2.3 Professora Katia Polon 32 ● a) A exposição do fato criminoso: todas as circunstâncias diz respeito à narrativa do tipo básico (figura fundamental do delito) e do tipo derivado (circunstâncias que envolvem o delito na forma de qualificadoras ou causas de aumento). ● É dever do órgão acusatório promover a imputação completa, embora possa deixar de lado as circunstâncias genéricas de elevação da pena. ● b) qualificação do acusado: pode ocorrer que ele não tenha o nome ou os demais elementos que o qualificam devidamente conhecidos e seguros. Há quem possua dados incompletos, não tenha nem mesmo certidão de nascimento ou seja alguém que, propositadamente, carregue vários nomes e qualificações. ● Contenta-se a ação penal com a determinação física do autor do fato, razão pela qual se torna imprescindível a sua identificação dactiloscópica e fotográfica, o que, atualmente, é expressamente previsto na Lei 12.037/2009. O art. 259 do Código de Processo Penal deixa claro que a “impossibilidade de identificação do acusado com o seu verdadeiro nome ou outros qualificativos não retardará a ação penal, quando certa a identidade física”. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 33 ● C) classificação do crime: pode-se dizer que é a tipicidade ou definição jurídica do fato. O promotor, autor da denúncia, após descrever pormenorizadamente o fato delituoso praticado pelo agente, finda a peça inicial oferecendo a classificação, isto é, a sua visão a respeito da tipicidade. Manifesta qual é a definição jurídica do ocorrido, base sobre a qual será proferida eventual decisão condenatória. ● Trata-se de um juízo do órgão acusatório, que não vincula nem o juiz, nem a defesa. Portanto, tendo em vista que o acusado se defende dos fatos alegados, pode o defensor solicitar ao magistrado o reconhecimento de outra tipicidade, o mesmo podendo fazer o juiz de ofício, ao término da instrução, nos termos do art. 383 do CPP. ● Se houver algum erro quanto à classificação/tipificação pelo MP, é irrelevante, pois o réu se defende dos fatos alegados. ● O réu deve apresentar sua defesa quanto aos fatos e não quanto à tipificação feita, uma vez que, como leigo que é e estando assegurada a autodefesa, não tem obrigação de conhecer a lei penal. ● Por sua vez, a defesa técnica prescinde da classificação feita pelo promotor, pois deve conhecer o direito material o suficiente para ater-se aos fatos alegados, apresentando ao juiz a tipificação que entende mais correta. ● Unidade 2.3 Professora Katia Polon 34 Quanto as testemunhas ● O rol de testemunhas é facultativo. A obrigatoriedade, nesse cenário, que vincula o órgão acusatório, é o oferecimento do rol na denúncia, razão pela qual, não o fazendo, perde a oportunidade de requerer a produção de prova testemunhal. ● Quando, além de testemunhas, o órgão acusatório pretender apontar qual é o ofendido (ou mais de um, se for o caso) a ser ouvido, deve fazê-lo à parte do rol. Afinal, há um número específico de testemunhas (no procedimento comum, para crimes apenados com reclusão, por exemplo, é de oito para cada parte, conforme art. 401, CPP) e a vítima não faz parte desse montante. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 35 Quanto a assinatura ● ATENÇÃO: A falta de assinatura da peça inicial pode não ser defeito essencial, quanto à denúncia, tendo em vista que o representante do Ministério Público é órgão oficial conhecido dos serventuários, e, consequentemente, terá vista aberta para sua manifestação, sendo a falta de assinatura é mera irregularidade. ● Quanto à queixa, entretanto, temos que não pode prescindir da assinatura, pois é ato fundamental de manifestação da vontade da vítima, que dá início à ação penal dando entrada no distribuidor, como regra. ● Logo, cabe ao juiz, quando a recebe, analisar quem a fez, se realmente a fez e se tinha poderes específicos ou capacidade para tanto. Não deve recebê-la sem a assinatura, ainda que isso possa acarretar a decadência. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 36 ● Outras deficiências de denúncia ou queixa podem ser supridas a todo tempo, antes da sentença final de primeiro grau (art. 569, CPP), desde que a falha não prejudique a defesa do acusado. No caso da queixa, no entanto, eventuais deficiências que a comprometam devem ser sanadas antes dos seis meses que configuram o prazo decadencial. Do contrário, estar-se-ia criando um prazo bem maior do que o previsto em lei para que a ação penal privada se iniciasse validamente. ● A inépcia da peça acusatória ficará evidente caso os requisitos previstos no art.41 do CPP não sejam fielmente seguidos. Na realidade, a parte principal da denúncia ou queixa, que merece estar completa e sem defeitos, é a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias. Afinal, é o cerne da imputação, contra o qual se insurge o réu, pessoalmente, em autodefesa, bem como por intermédio da defesa técnica. ● Se for constatada a falta de aptidão da inicial acusatória deve o juiz rejeitá-la de início (art. 395, I, CPP). Unidade 2.3 Professora Katia Polon 37 Concisão da denúncia ou queixa ● É medida que se impõe para não tornar a peça inicial do processo penal uma autêntica alegação final, avaliando provas e sugerindo jurisprudência a ser aplicada. Diferentemente da área cível, no processo criminal, a denúncia ou queixa deve primar pela concisão, limitando-se a apontar os fatos cometidos pelo autor (denunciado ou querelado), sem juízo de valoração ou apontamentos doutrinários e jurisprudenciais. ● A peça deve indicar o que o agente fez, para que ele possa se defender. Se envolver outros argumentos, tornará impossível o seu entendimento pelo réu, prejudicando a ampla defesa. Ensina ESPÍNOLA FILHO que “a peça inicial deve ser sucinta, limitando-se a apontar as circunstâncias que são necessárias à configuração do delito, com a referência apenas a fatos acessórios, que possam influir nessa caracterização. E não é na denúncia, nem na queixa, que se devem fazer as demonstrações da responsabilidade do réu, o que deve se reservar para a apreciação final da prova, quando se concretiza (ou não) o pedido de condenação” (Código de Processo Penal Brasileiro anotado, v. 1, p. 418). ● Peças longas, contendo exposição doutrinária e citação de jurisprudência, terminam por prejudicar a autodefesa, constituindo-se inicial inepta, merecedora de rejeição (art. 395, I, CPP). Unidade 2.3 Professora Katia Polon 38 Retificação da denúncia ou queixa no seu recebimento ● Caso a denúncia ou a queixa esteja mal redigida, dando a entender tratar-se de extorsão, quando, na realidade, é um roubo, o caminho mais indicado é a rejeição para que outra seja oferecida. Afinal, tal medida preserva o direito de defesa, evitando que o acusado seja prejudicado ao impugnar fatos duvidosos e mal expostos. ● Entretanto, se o órgão acusatório descreveu uma situação de modo detalhado que o promotor entendeu merecer a classificação de roubo, ainda que ao magistrado pareça ser uma extorsão, deve receber a denúncia para que, ao final, já na sentença, promova, se for o caso, a devida retificação. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 39 Poderes especiais para o ingresso de queixa ● A queixa pode ser oferecida por procurador com poderes especiais (art. 44, CPP). Embora a maioria da doutrina interprete esse termo (procurador) como o advogado do querelante, exigindo, então, que a procuração seja outorgada com poderes específicos, cremos que se deve ampliar o sentido para abranger a nomeação, por mandato, de qualquer pessoa capaz que possa representar o querelante, contratando advogado, inclusive, para o ajuizamento da ação penal. ● O importante é que a vítima se responsabilize, sempre e claramente, pelos termos em que é oferecida a queixa, seja quando constitui pessoa para representar seus interesses, seja quando constitui diretamente advogado para fazê-lo. Caso o ofendido seja advogado, pode ingressar sozinho com a queixa. ● Optando pela contratação de advogado, é preciso que a procuração contenha poderes especiais, indicando exatamente o fato a ser imputado e contra quem, valendo, no entanto, a substituição dessa exposição pela assinatura aposta pela vítima diretamente na queixa, junto com seu advogado. ● A referência ao crime, constante da procuração, deve consistir no resumo do fato, sob duas ressalvas: a) não deve calcar-se unicamente no artigo de lei no qual está incurso o denunciado; b) não precisa ser detalhado a ponto de narrar integralmente o fato. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 40 SÍNTESE ● Ação penal: direito constitucional e abstrato de invocar o Estado-juiz a aplicação da lei penal ao caso concreto. ● Finalidade: formar o devido processo legal, que é meio indispensável para sustentar a condenação criminal de alguém, assegurados o contraditório e a ampla defesa. ● Espécies: conforme o polo ativo: divide-se em ação penal pública, cuja titularidade é do Ministério Público, e ação penal privada, a ser proposta pelo ofendido ou seu representante legal, como regra. No caso da ação penal pública: subdivide-se em pública incondicionada (não dependente de qualquer manifestação de vontade de terceiro) e condicionada (dependente da manifestação de vontade do ofendido ou do Ministro da Justiça). A ação penal privada subdivide-se: em exclusiva (titularidade do ofendido, seu representante legal ou sucessores), personalíssima (titularidade somente do ofendido ou seu representante legal) e subsidiária da pública (assume o ofendido o polo ativo em face da inércia do órgão do Ministério Público). Unidade 2.3 Professora Katia Polon 41 SÍNTESE ● Princípios regentes: obrigatoriedade conduz a ação penal pública, uma vez que o Ministério Público, havendo provas suficientes e preenchidas as condições legais, deve promover o seu ajuizamento; oportunidade e indivisibilidade regulam a ação penal privada, pois o ofendido pode promover o seu ajuizamento, ficando ao seu inteiro critério fazê-lo ou não; caso opte pela ação penal, deve promovê-la contra todos os eventuais coautores e partícipes, não sendo viável eleger contra quem irá atuar. ● Limitações ao direito de ação do ofendido: tendo em vista que se trata de um direito excepcional, pois, como regra, a titularidade da ação penal é do Ministério Público, o particular, quando autorizado a fazê-lo, encontra limites nos institutos da decadência (tem um prazo fatal para dar início à ação penal, que é, em regra, de seis meses, a contar da data em que souber quem é o autor da infração penal); renúncia e perdão (pode desistir de promover a ação, antes ou depois de iniciada, implicando a extinção da punibilidade do querelado); perempção (a negligência na condução da demanda implica em perda do direito de ação, extinguindo-se igualmente a punibilidade do querelado). Unidade 2.3 Professora Katia Polon 42 SÍNTESE ● Condições da ação penal: são os requisitos exigidos por lei para que o juiz aprecie o mérito da imputação, ou seja, para que acolha ou rejeite o pedido do autor, afirmando ou afastando a pretensão punitiva do Estado. Genéricas (possibilidade jurídica do pedido, interesse de agir e legitimidade de parte) e Específicas (também chamadas de condições de procedibilidade, que variam conforme o delito praticado). ● Petição inicial: denúncia é a peça apresentada pelo Ministério Público contendo a imputação contra o agente; queixa é a peça oferecida pelo ofendido descrevendo a imputação contra o autor do delito. ● Conteúdo da peça acusatória: deve haver a exposição do fato criminoso (tipo básico) com todas as suas circunstâncias (tipo derivado), a qualificação do acusado ou elementos que possam identificá-lo, bem como a classificação do crime; pode haver o rol das testemunhas. Unidade 2.3 Professora Katia Polon 43Unidade 2.4 Professora Katia Polon 44 Ação civil ex delicto ● Trata-se da ação ajuizada pelo ofendido, na esfera cível, para obter indenização pelo dano causado pela infração penal, quando existente. Há delitos que não provocam prejuízos, passíveis de indenização – como ocorre nos crimes de perigo, como regra. ● O dano pode ser material ou moral, ambos sujeitos à indenização, ainda que cumulativa. ● A legislação criminal cuida, com particular zelo, embora não com a amplitude merecida, do ressarcimento da vítima, buscando incentivá-lo, sempreque possível. Unidade 2.4 Professora Katia Polon 45 SEPARAÇÃO DA JURISDIÇÃO ● Privilegia o nosso sistema a separação da jurisdição, fazendo com que a ação penal destine-se à condenação do agente pela prática da infração penal e a ação civil tenha por finalidade a reparação do dano, quando houver. ● Note-se o disposto no art. 935 do Código Civil: “A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal”. ● Apesar da consagração da separação, prevalece a justiça penal sobre a civil, quando se tratar da indenização de crime e aquela julgar que inexistiu o fato ou tiver afastado a autoria. ● Unidade 2.4 Professora Katia Polon 46 SENTENÇA CONDENATÓRIA COMO TÍTULO EXECUTIVO Transitando em julgado e tornando-se, pois, definitiva, pode a sentença ser levada ao juízo cível para que a vítima obtenha a reparação do dano (art. 63, CPP). Não mais se discutirá se esta é devida (an debeatur), mas tão somente o quanto é devido pelo réu (quantum debeatur). ● Facilita-se o processo, impedindo-se o reinício da discussão em torno da culpa, merecendo debate somente o valor da indenização, o que é justo, pois o retorno ao debate a respeito da ocorrência do crime ou não somente iria causar o desprestígio da Justiça. ● Se a indenização civil for fixada, pelo juiz criminal, de maneira ampla e definitiva, cremos ser indevida a liquidação na órbita do juízo cível. Entretanto, se não for estabelecida a reparação ou se apenas cuidar do valor mínimo, torna-se possível renovar a discussão no cível. Unidade 2.4 Professora Katia Polon 47 SENTENÇA CONCESSIVA DE PERDÃO JUDICIAL ● Entendemos que se trata de decisão de natureza condenatória, pois não se perdoa quem é inocente, mas sim aquele que é culpado, embora não mereça sofrer a imposição de pena. ● A despeito disso, está em vigor a Súmula 18 do Superior Tribunal de Justiça, considerando-a meramente declaratória, sem qualquer efeito condenatório. Pensamos, no entanto, como já expusemos na nota 30 ao art. 107 do nosso Código Penal comentado, que pode ela ser executada, como título, no cível. ● Entretanto, para quem optar pelo fiel cumprimento ao disposto na referida Súmula do STJ, será imprescindível reiniciar toda a discussão acerca da culpa do réu, beneficiário do perdão judicial, na esfera cível, para que possa haver indenização. Unidade 2.4 Professora Katia Polon 48 EXCLUDENTES DE ILICITUDE E FORMAÇÃO DA COISA JULGADA NO CÍVEL ● Há quatro excludentes de ilicitude mencionadas na Parte Geral do Código Penal (art. 23): estado de necessidade, legítima defesa, exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal. Servem para afastar, quando reconhecidas, a antijuridicidade do fato típico. ● Entretanto, a afirmação do art. 65 do Código de Processo Penal (“faz coisa julgada no cível a sentença penal que reconhecer ter sido o ato praticado em estado de necessidade, em legítima defesa, em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito”). ● É bem verdade que o juiz civil não pode tornar a discutir o caráter delituoso de determinado fato, pois já se excluiu essa possibilidade no juízo criminal, fazendo coisa julgada na esfera cível. ● Entretanto, pode conceder a indenização por outros motivos, afinal, nem tudo o que é penalmente lícito, também o será civilmente. Unidade 2.4 Professora Katia Polon 49 EXISTÊNCIA DE SENTENÇA ABSOLUTÓRIA PENAL ● Não produzem coisa julgada no cível, possibilitando a ação de conhecimento para apurar culpa: ● a) absolvição por não estar provada a existência do fato (art. 386, II, CPP); ● b) absolvição por não constituir infração penal o fato (art. 386, III, CPP; art. 67, III, CPP); ● c) absolvição por não existir prova de ter o réu concorrido para a infração penal (art. 386, V, CPP); ● d) absolvição por insuficiência de provas (art. 386, VII, CPP); ● e) absolvição por excludentes de culpabilidade e algumas de ilicitude, estas últimas já vistas no tópico anterior (art. 386, VI, CPP); ● f) decisão de arquivamento de inquérito policial ou peças de informação (art. 67, I, CPP); ● g) decisão de extinção da punibilidade (art. 67, II, CPP). Em todas essas situações o juiz penal não fechou questão em torno do fato existir ou não, nem afastou, por completo, a autoria em relação a determinada pessoa, assim como não considerou lícita a conduta. ● Fazem coisa julgada no cível: ● a) declarar o juiz penal que está provada a inexistência do fato (art. 386, I, CPP); ● b) considerar o juiz penal que o réu não concorreu para a infração penal (art. 386, IV, CPP). Reabrir-se o debate dessas questões na esfera civil, possibilitando decisões contraditórias, é justamente o que quis a lei evitar (art. 935, CC, 2.ª parte). Unidade 2.4 Professora Katia Polon 50 SÍNTESE ● Ação civil ex delicto: é a ação proposta no juízo cível para requerer indenização em razão da prática de uma infração penal. ● Natureza do processo: trata-se de um processo de execução, pois a sentença condenatória produz um título executivo (art. 91, I, do Código Penal), que pode ser diretamente cobrado na órbita civil, debatendo-se somente o quanto é devido. ● Outra possibilidade de processo: pode-se ajuizar, antes mesmo de finda a ação penal, uma ação civil de reparação do dano provocado pelo crime, embora, nessa situação, seja conveniente que o juiz da ação civil suspenda o curso do processo aguardando-se a solução da esfera criminal, evitando-se decisões conflitantes. ● Exclusão da responsabilidade civil: quando o juízo penal afirmar a inexistência do fato ou considerar que o réu não foi o autor da infração penal, cessa a possibilidade de ingresso na esfera civil. Por outro lado, em algumas situações de exclusão da antijuridicidade – legítima defesa, exercício regular de direito e estrito cumprimento do dever legal – o mesmo ocorre. Quanto ao estado de necessidade, depende do caso concreto. Unidade 2.4 Professora Katia Polon 51Unidade 2.4 Professora Katia Polon 52Unidade 2.4 Slide 1 Slide 2 Slide 3 Slide 4 Slide 5 Slide 6 Slide 7 Slide 8 Slide 9 Slide 10 Slide 11 Slide 12 Slide 13 Slide 14 Slide 15 Slide 16 Slide 17 Slide 18 Slide 19 Slide 20 Slide 21 Slide 22 Slide 23 Slide 24 Slide 25 Slide 26 Slide 27 Slide 28 Slide 29 Slide 30 Slide 31 Slide 32 Slide 33 Slide 34 Slide 35 Slide 36 Slide 37 Slide 38 Slide 39 Slide 40 Slide 41 Slide 42 Slide 43 Slide 44 Slide 45 Slide 46 Slide 47 Slide 48 Slide 49 Slide 50 Slide 51 Slide 52
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