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A hermeneutica juridica segundo Carlos Maximiliano

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A hermenêutica jurídica segundo Carlos Maximiliano
A Interpretação Segundo a Vontade do Legislador
Biografia
Carlos Maximiliano Pereira dos Santos (1873- 1960) foi um dos juristas brasileiros de maior expressão no século XX
Gaucho, bacharelou-se em Direito em Ouro Preto/MG, em 1898
Exerceu a advocacia (1898-1914 e 1918-1934), foi deputado federal (1911-1914 e 1919-1923), ministro da Justiça e Negócios Interiores (1914-1918), consultor-geral da República (1932-1934), deputado da Assembleia Nacional Constituinte (1933-1934), procurador-geral da República (1934-1936) e ministro do Supremo Tribunal Federal (1936-1941).
Contribuição
Uniu o saber teórico ao prático, prestando relevantes serviços onde atuou;
Contribuiu decisivamente para o aperfeiçoamento do direito nacional;
Publicou, dentre outras, as seguintes obras: Comentários à Constituição Brasileira de 1891 (1918), Hermenêutica e Aplicação do Direito (1925), Direito das Sucessões (1937) e Condomínio: terras, apartamentos e andares perante o Direito (1944). 
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
No capítulo I, afirma que a hermenêutica, como uma ciência jurídica, ““tem por objeto o estudo e a sistematização dos processos aplicáveis para determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito”.
É a ciência que estuda os métodos e técnicas de interpretação do Direito, buscando sistematizá-los de modo a tornar mais fácil e eficiente o trabalho do exegeta. 
Nas palavras de Carlos Maximiliano, Hermenêutica “é a teoria científica da arte de interpretar”, isto é, “de determinar o sentido e o alcance das expressões do Direito” (MAXIMILIANO, 2011, p. 1).
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
Afirma que a razão de existir da hermenêutica é fato das leis positivas serem formuladas em termos gerais, ou seja, por meio de regras ou princípios que não descem a minúcias
Isso exige que o hermeneuta estabeleça a relação entre o texto abstrato e o caso concreto, entre a norma jurídica e o fato social, interpretando e aplicando o Direito de forma apurada, límpida, tendo como foco o ideal de justiça.
Trata-se de uma arte que possui suas técnicas, seus meios próprios para alcançar sua finalidade
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
Assim, segundo Maximiliano, não se pode confundir Hermenêutica com Interpretação, pois “esta é a aplicação daquela; a primeira descobre e fixa os princípios que regem a segunda” (MAXIMILIANO, 2011, p. 1).
Sendo o conceito de Hermenêutica mais abrangente, pois o mesmo diz respeito à sistematização dos processos aplicáveis para se determinar o sentido e o alcance das expressões jurídicas, não devem os dois vocábulos ser tidos como sinônimos;
Os princípios estabelecidos pela Hermenêutica, regem a interpretação, e esta leva a aplicação do direito.
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
A Aplicação do Direito diz respeito ao enquadramento de um caso concreto em uma norma jurídica adequada
Esclarece que a Aplicação do Direito pressupõe (MAXIMILIANO, 2011, p. 7):
A Crítica, a fim de apurar a autenticidade e, em seguida, a constitucionalidade da lei, regulamento ou ato jurídico;
A Interpretação, a fim de descobrir o sentido e o alcance do texto;
o suprimento das lacunas, com o auxílio da analogia e dos princípios gerais do Direito;
o exame das questões possíveis sobre a ab-rogação (revogação ou abolição total de uma lei), ou simples derrogação (revogação parcial de uma lei feita pelo poder competente) de preceitos, bem como acerca da autoridade das disposições expressas, relativamente ao espaço e ao tempo
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
Aplicação do Direito não prescinde da Hermenêutica, sendo esta um meio para se alcançar aquela, vista como a adaptação ou o enquadramento de um preceito a um caso real;
É a Aplicação do Direito, aquela atividade prática exercida pelo juiz após a definição da regra adequada à hipótese, servindo de ponte entre a doutrina e a prática, entre a ciência e a realidade.
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
Ao se referir a Interpretação, afirma que “interpretar é explicar, esclarecer, dar o significado de vocábulo, atitude ou gesto; [...] mostrar o sentido verdadeiro de uma expressão”. 
Diz que o exegeta deve “procurar e definir a significação de conceitos e intenções, fatos e indícios; porque tudo se interpreta; inclusive o silêncio” (MAXIMILIANO, 2011, p. 7);
“[...] não é simplesmente tornar claro o respectivo dizer, abstratamente falando; é, sobretudo, revelar o sentido apropriado para a vida real, e conducente a uma decisão reta [...]”
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
A tarefa do Interprete é árdua;
Ele deve “analisar o texto em si, o seu sentido e o significado de cada vocábulo”,
Fazer após um exame conjunto ou sistêmico, ou seja, compar o preceito com outros dispositivos da mesma lei, e com os de leis diversas. 
Em seguida, busca qual o fim da regra naquele texto, examinando também o objetivo da lei como um todo;
Para assim determinar o sentido e o alcance na norma jurídica, aplicando-a ou não ao caso concreto
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
Para interpretar e aplicar com acerto o Direito, enquadrando adequadamente o fato em uma norma, é indispensável que o exegeta bem compreenda os princípios para determinar com precisão seu conteúdo e alcance;
Quando a lei é imperfeita, incompleta ou ultrapassada, o trabalho do hermeneuta é mais complexo;
Para isso, o hermeneuta precisa buscar auxílio na sociologia do direito.
A Hermenêutica Jurídica segundo Carlos Maximiliano
Afirma Maximiliano:
[...] o intérprete é o renovador inteligente e cauto, o sociólogo do Direito. O seu trabalho rejuvenesce e fecunda a fórmula prematuramente decrépita, e atua como elemento integrador e complementador da própria lei escrita. Esta é a estática, e a função interpretativa, a dinâmica do Direito [...] (MAXIMILIANO, 2011, p. 10). 
A Vontade do Legislador
Na obra, Maximiliano dedica parte substancial a discutir a questão da à vontade do legislador (mens legislatoris);
Diz que, a partir de uma corrente mais tradicionalista, ligada aos exegetas do direito positivo, “o objetivo do intérprete seria descobrir, através da norma jurídica, e revelar a vontade, a intenção, o pensamento do legislador”;
Ideia que ele combate com a demonstração de que a vontade do legislador, embora real, é composta por opiniões múltiplas e por ideias amalgamadas (misturadas), de duas casas legislativas, resultando muitas vezes em redações finais imprecisas ou ambíguas. 
A Vontade do Legislador
A ideia de uma atividade interpretativa focada basicamente na vontade do legislador pressupõe um ordenamento jurídico completo, isento de lacunas, despido de antinomias. 
O dogma da lei perfeita assinala o ideal de um ordenamento que tenha prontas respostas para todas as controvérsias, o que exigiria do legislador a capacidade de antever soluções para todos os conflitos.
A Vontade do Legislador
Destaca-se que, nos tempos modernos, o dogma da completude do ordenamento resultou de uma concepção que faz da produção jurídica um monopólio estatal (monismo jurídico). 
Admitir que o ordenamento jurídico não é completo significa permitir a invasão de um “Direito concorrente”.
É importante considerar as seguintes ponderações:
A Vontade do Legislador
Abolição da crença de que o Direito é um monopólio do Estado. O Direito é um fenômeno social, não só estatal;
Revolta contra a ideia de que o Direito estatal é completo. O Direito Consuetudinário, por exemplo, informa a existência de um Direito de origem não legislativa;
Há lacunas e é preciso confiar no poder criativo do juiz;
Os grandes Códigos são de sociedades semi-feudais, não acompanhando as transformações sociais advindas com a Revolução Industrial;
Há um grave desajuste entre o Direito constituído e a realidade social.
A Vontade do Legislador
Maximiliano, com a experiência de quem foi deputado federal por duas legislaturas, mostra que os motivos
que induziram alguém a propor a lei podem não ser os mesmos que levaram outros a aprová-la; 
Mostra que poucos se interessam ou debatem os termos do projeto limitando-se a acompanhar os líderes de bancada ou partido. 
Assim, conclui ser extremamente difícil determinar a denominada vontade do legislador, afirmando, com ironia, que talvez fosse menos difícil aprender tal intenção volitiva quando o regime era monárquico (a vontade diretiva do Rei) (2011, pp. 18-20). 
A Vontade do Legislador
Afirma que “reduzir a interpretação à procura do intento do legislador é, na verdade, confundir o todo com a parte”. 
Acredita que tal descoberta, ainda que nem sempre realizável, seria útil apenas como elemento de Hermenêutica, a ser considerado ao lado de outros mais relevantes (histórico, sistemático e o teleológico).
Propõe, portanto, uma interpretação de perfil objetivo, na medida em que, “com a promulgação, a lei adquire vida própria” e se separa do legislador;
Devendo o exegeta tê-la como vontade da lei (voluntas legis) ou a razão de ser da lei (ratio legis), vontade do Estado, olhando menos para o passado e mais para o momento em que vive. 
In claris cessat interpretatio (lei clara não carece de interpretação)
Para se constatar a clareza de um preceito é preciso conhecer o seu sentido, isto é, interpretar.
“A verificação da clareza, portanto, ao invés de dispensar a exegese, implica-a”;
[...] o conceito de clareza é relativo: o que a um parece evidente, antolha-se obscuro e dúbio a outro, por ser este menos atilado e culto, ou por examinar o texto sob um prisma diferente ou diversa orientação. 
In claris cessat interpretatio (lei clara não carece de interpretação)
A interpretação se torna imprescindível diante de leis imperfeitas ou de preceitos falhos, ela também é fundamental quando a lei não é defeituosa, pois pode haver controvérsia justamente se o texto é ou não claro, sobre o real sentido e alcance de um preceito em confronto com outro.
O trabalho interpretativo estará presente no fazer o Direito, embora seja menor quando as disposições normativas são mais claras e precisas;
As técnicas de interpretação do Direito
Interpretação 
Os modelos normativos utilizam palavras - signos linguísticos que devem expressar o sentido daquilo que deve ser. 
A compreensão jurídica dos significados que referem os signos demanda o uso de uma tecnologia hermenêutica.
Por mais que haja correntes que apontem para a abordagem filosófica da hermenêutica, não pode desconsiderar a sua função instrumental, já que a mesmaoferece técnicas que norteiam a interpretação das normas jurídicas.
Interpretação 
Já na modernidade, esboçada no jusnatursalismo, entendia-se que interpretar é inserir a norma na totalidade de um sistema, então no Século XIX, desenvolve-se quatro técnicas interpretativas:
a interpretação gramatical, que buscava o sentido vocabular da lei; 
a interpretação lógica, que visava ao sentido proposicional;
a sistemática, que procurava o sentido global; 
e a histórica, que se destinava ao sentido genético
Interpretação 
Estas diversas técnicas interpretativas não operam isoladamente.
Antes se completam, mesmo porque não há, na teoria jurídica interpretativa, uma hierarquização segura das múltiplas técnicas de interpretação;
Na verdade, a interpretação da norma jurídica é sempre multidimensional, não unidimensional, e está se desenvolvendo a partir de diferentes perspectivas. É falado, como é sabido, de uma interpretação histórica, sistemática, gramatical e teleológica. Cada uma dessas interpretações nos oferece diferentes pontos de vista para entender o significado final da norma
Mourullo (1988)
Interpretação 
A técnica gramatical ou filológica, 
o hermeneuta se debruça sobre as expressões normativas, investigando a origem etimológica dos vocábulos e aplicando as regras estruturais de concordância ou regência, verbal e nominal. 
Trata-se de um processo hermenêutico quase que superado, ante o anacronismo do brocardo jurídico – in claris cessat interpretatio (lei clara não carece de interpretação).
Com efeito, a interpretação vocabular do texto recebe o nome de interpretação gramatical, pois busca fixar o sentido literal da norma jurídica. 
A interpretação gramatical deve ser, entretanto, apenas o ponto de partida e nunca sinalizar o término do processo hermenêutico, ante o risco da realização de injustiças (summum jus, summa injuria - Suma justiça, sua injúria)
Ou melhor Exercício do direito em excesso gera injúria excessiva.
Interpretação 
A técnica lógico-sistemática,
consiste em referir o texto ao contexto normativo de que faz parte, correlacionando, assim, a norma ao sistema do inteiro ordenamento jurídico e até de outros sistemas paralelos, conformando o chamado direito comparado. 
Em se tratando de interpretação legal, deve-se, portanto, comparar o texto normativo com outros do mesmo diploma legal ou de legislações diversas, mas referentes ao mesmo objeto, visto que, examinando as prescrições normativas, conjuntamente, é possível verificar o sentido de cada uma delas.
Assim, a interpretação sistemática revela­-se como a busca do sentido global da norma num conjunto abarcante, envolvendo sempre uma finalidade geral, visto que a percepção dos fins não é especificamente de cada norma isoladamente, mas exige uma visão ampliada da norma dentro do ordenamento jurídico.
Interpretação (A técnica lógico-sistemática)
Assim, a interpretação sistemática revela­-se como a busca do sentido global da norma num conjunto abarcante, envolvendo sempre uma finalidade geral, visto que a percepção dos fins não é especificamente de cada norma isoladamente, mas exige uma visão ampliada da norma dentro do ordenamento jurídico.
A compreensão das normas jurídicas, como, de resto, a compreensão de todos os objetos culturais, ocorre no âmbito de uma estrutura circular, na qual se apreende o todo a partir das partes, e, reciprocamente, as partes a partir do todo sistêmico.
Interpretação (A técnica lógico-sistemática)
O método sistemático impede que as normas jurídicas sejam interpretadas de modo isolado, exigindo que todo o conjunto seja analisado simultaneamente à interpretação de qualquer texto normativo. 
Assim, não podemos buscar o significado de um artigo, de uma lei ou de um código. 
Ambos devem ser analisados em sintonia com a Constituição e as demais normas jurídicas.
Interpretação
Técnica histórica
o intérprete efetua investigação meticulosa dos antecedentes imediatos (declaração de motivos, debates parlamentares, projetos e anteprojetos) e remotos (institutos antigos) do modelo normativo.
 A Interpretação histórica assemelha-se à busca da vontade do legislador. Recorrendo aos precedentes normativos e aos trabalhos preparatórios, que antecedem a aprovação da lei, tenta encontrar o significado das palavras no contexto de criação da norma
Interpretação
Processo sociológico
assemelha-se à busca da vontade da lei. Focando o presente, tenta verificar o sentido das palavras imprecisas analisando-se os costumes e os valores atuais da sociedade. 
interpretação do direito objetiva: conferir a aplicabilidade da norma jurídica às relações sociais que lhe deram origem; 
elastecer o sentido da norma a relações novas, inéditas ao momento de sua criação; 
e temperar o alcance do preceito normativo, a fim de fazê-lo espelhar as necessidades atuais da comunidade jurídica.
Interpretação (Processo sociológico)
Após determinar-se um significado válido para a norma e encontrarem-se os fatos a que se refere, resta mostrar que sua aplicação concretizará seus fins sociais e levará ao bem comum, como determina o art.5° da LINDB (Lei de Introdução às normas do Direito Brasileiro - DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942.)
Art. 5o  Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum.
Interpretação
Interpretação teleológica 
busca os fins da norma legal; a interpretação axiológica busca explicitar os valores que serão concretizados
pela norma.
objetiva depreender a finalidade do modelo normativo. Daí resulta que a norma se destina a um escopo social, cuja valoração dependerá do hermeneuta, com base nas circunstâncias concretas de cada situação jurídica.
A técnica teleológica procura, deste modo, delimitar o fim, e determinar o seu real significado. 
A delimitação do sentido normativo requer, pois, a captação dos fins para os quais se elaborou a norma jurídica.
Interpretação
A interpretação teleológica serve de norte para os demais processos hermenêuticos. 
Isto é assim porque convergem todas as técnicas interpretativas em função dos objetivos que informam o sistema jurídico. 
Toda interpretação jurídica ostenta uma natureza teleológica, fundada na consistência axiológica do direito.
Interpretar uma lei importa, previamente, em compreendê-la na plenitude de seus fins sociais, a fim de poder-se, desse modo, determinar o sentido de cada um de seus dispositivos. Somente assim ela é aplicável a todos os casos que correspondam àqueles objetivos. Como se vê, o primeiro cuidado do hermeneuta contemporâneo consiste em saber qual a finalidade social da lei, no seu todo, pois é o fim que possibilita penetrar na estrutura de suas significações particulares.
(REALE, 1996)
Interpretação
Os vários caminhos interpretativos, iluminados que são pela teleologia do direito, permite que o intérprete transcenda da palavra em direção ao espírito do ordenamento jurídico. 
A hermenêutica jurídica oferece ao intérprete um repositório de técnicas interpretativas, destinadas à reso­lução dos problemas linguísticos inerentes ao discurso normativo. 
No desenvolvimento da interpretação jurídica, o quem se utiliza profissionalmente do direito se valerá destas ferramentas hermenêuticas para o esclarecimento e superação dos obstáculos da linguagem jurídica.

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