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Faculdade Serra do Carmo Curso: Direito – Noturno - 2º Período Disciplina: Economia Acadêmicos: Adriano Berger Ferreira Katiuscia Abreu Larissa Macedo Rhaman Rosângela Carreiro Silma Pereira de Sousa Oster Danielle Vieira Helmuth Perleberg Neto A Escola Keynesiana 1 – Introdução Keynes surgiu com seu pensamento justamente quando o mundo experimentava a consolidação do sistema socialista no leste europeu através da doutrina de Karl Marx, enquanto o lado capitalista sentia as consequências do livre comércio e da força da iniciativa privada na ânsia pelo enriquecimento veloz. Se pelo lado socialista o Estado concentrava a gestão do poder econômico, industrial e comercial a fim de promover um senso de igualdade e justiça social, o que por volta da década de 70 mostrou-se ineficaz devido a morosidade do sistema econômico em promover o desenvolvimento tecnológico dos recursos industriais, no lado capitalista a ausência do Estado em controlar melhor o ímpeto da iniciativa privada mostrou-se um fator determinante para a crise mundial provocada pela Grande Depressão econômica dos EUA. Keynes introduziu assim, através de sua obra Teoria geral do emprego, dos juros e da moeda em 1936, a doutrina que podemos ver em operação até os dias de hoje, onde o Estado gerencia as taxas de juros para empréstimos e fomento do empreendedorismo, gerenciando também a política tributária com foco para o desenvolvimento de setores carentes e promotores de abastecimento em larga escala, promovendo assim um crescimento da empregabilidade e consequente ciclo de consumo e poupança de recursos pessoais para uso (indireto) do poder governante. 2 - A Teoria Keynesiana A teoria de Keynes é baseada no principio de que os consumidores alocam as proporções de seus gastos em bens e poupança, em função da renda. Quanto maior a renda, maior a percentagem da renda poupada. Assim se a renda agregada aumenta, em função do aumento do emprego, a taxa de poupança e reservas aumenta simultaneamente. Keynes defendeu a tese de que o Estado deveria intervir na fase recessiva dos ciclos econômicos com sua capacidade de imprimir moeda para aumentar a demanda efetiva através de déficits do orçamento do Estado e assim manter o pleno emprego. A mais importante Ação do Estado não está relacionada às atividades que os indivíduos particularmente já realizam, mas às funções que estão fora do âmbito individual, àquelas decisões que ninguém adota se o Estado não o faz. Os Estados Unidos, até a crise da década de 30, ainda se apoiavam prioritariamente nas teorias dos chamados Economistas Clássicos do século XVII. A intervenção do Estado na economia era rechaçada pela unanimidade dos empresários. Entretanto, com a crise de 1929 e a eleição do democrata Franklin Delano Roosevelt, em 1932, a teoria Keynesiana orientou todo o plano de recuperação do país. O famoso New Deal (cuja tradução literal seria "novo acordo" ou "novo trato"), que foi o nome dado à série de programas implementados nos EUA entre 1933 e 1937 durante o governo do Presidente Franklin D. Roosevelt, foi totalmente inspirado no modelo Keynesiano. Para Keynes, a demanda privada dos EUA pré-depressão era inadequada. Para criar uma demanda as pessoas precisavam obter meios para gastar. Nesse sentido o Estado deveria almejar o pleno emprego. Os custos sociais que implicariam nesse tipo de pensamento, segundo Keynes, não deveriam ser entendidos como um ônus para o Estado, mas um meio, por intermédio do qual, a demanda poderia aumentar e estimular a oferta. Assim, para Keynes, os governos deveriam estimular uma política de investimentos com baixas taxas de juros, bem como um amplo programa de obras públicas que proporcionaria empregos e geraria uma demanda maior de produtos industriais. O modelo intervencionista Keynesiano deve ser entendido como uma prática que visa salvar o capitalismo e corrigir as suas distorções. 3 - A influência do pensamento de Keynes nas Ciências Humanas: 3.1 – Na Sociedade Em uma breve comparação entre o modelo Clássico e o de Keynes, até 1930 não havia praticamente qualquer preocupação, por parte dos economistas do mundo ocidental, com os estudos dos problemas econômico em um âmbito mais amplo. Na época, especificamente o nível de emprego. Segundo os economistas clássicos, acreditava-se que haveria um mercado descompensado, no caso o mercado de trabalho, em que a oferta por trabalhadores excederia a procura, onde valor salarial em tal mercado cairia causando o equilíbrio entre oferta e procura de emprego. Essa garantia que seria adquirida pelos agentes econômicos era dada pela crença dos economistas clássicos no funcionamento da Lei de Say. Esta lei dizia que a oferta cria sua própria procura. Ou seja, os trabalhadores recém empregados iriam utilizar toda a renda salarial gerada na renda gerada na produção adicional para comprá-la. Na sua obra Teoria Geral de Emprego, do Juro e da Moeda, Keynes atacou dois postulados que eram a viga de sustentação do pensamento clássico: a Lei de Say e a efetividade da redução dos salários nominais para reduzir o desemprego da economia. Durante o início do Sec. XX até 1929, a economia passava por sérias mudanças, mais precisamente nos Estados Unidos, o qual crescia assustadoramente aumentando a sua capacidade produtiva. A filosofia do enriquecimento rápido ganhou as pessoas, que aderiram à especulação abandonando os negócios e a atividade produtiva. Basicamente, a atividade especulativa consistia na compra e venda de ações por valores artificiais, que se movimentavam não de acordo com a lucratividade da empresa, mas sim com a euforia do mercado. Mas como as ações não são nada mais do que o direito adquirido de participação nos lucros de uma empresa, muitos investidores criaram empresas fictícias (fantasmas) e passaram a vender suas ações (que nada valiam) por altos preços. A especulação atingiu patamares incríveis. Era como se, para ficar rico, só bastasse tomar emprestado algum dinheiro, aplicá-lo no mercado de ações, e esperar. Então a grande bolha especulativa foi violentamente estourada. Em 29/10 de 1929, num dia que ficou conhecido como a quinta-feira negra, uma avalanche de vendas esmagou as transações. Não havia ofertas de compra, todos queriam vender suas ações, pois não mais acreditavam em sua lucratividade. Algumas semanas depois, $30 milhões de riqueza haviam sumido no ar, e pessoas que contavam seus papéis (ações) acreditando que estavam em uma boa situação descobriram estar verdadeiramente pobres. O número de desempregados era de 1,5 milhões, e em 1933 já tinha aumentado 8 vezes, onde uma de cada quatro pessoas pertencentes à força de trabalho estava desempregada. O desespero e a miséria generalizaram-se com a queda dos salários e a extrema dificuldade de arrumar emprego. Umas das grandes e principais causas que alastrou-se para a até então famosa crise de 1929, onde muitas pessoas ficaram na miséria, é que muitos fazendeiros perderam parte de suas economias. Havia então um descompasso entre o crescimento do poder de compra e a produção nacional. Mas a estrutura produtiva industrial em expansão também apresentava problemas. O principal deles era causado pela introdução de novas tecnologias, que aumentavam a produtividade de uma indústria sem aumentar, pelo menos proporcionalmente, a demanda por seus produtos. O resultado imediato de tais inovações era a substituição do homem pela máquina, o que acabava piorando a situação do desemprego, já que a capacidade das outras indústrias para empregar não havia se alterado. E conforme a produção era aumentada, a renda concentrava-se, ficando retida até que surgisse, diante dos olhos dos capitalistas, uma possibilidade de aplicação satisfatoriamente lucrativa. A proposta econômica, e comimpacto social, de Keynes para esse período era que a economia alcançasse o pleno emprego, ou seja, que o Governo aumentasse os gastos aumentando assim a demanda de empregos com objetivo de que os novos trabalhadores favorecidos fossem atingidos mantendo-se assim o equilíbrio econômico. Por mais que em um período em crise os trabalhadores poupassem mais, ainda sim eles comprariam sua própria produção. 3.2 – Na Política A crise dos Estados Unidos foi acima de tudo uma crise do capitalismo. Foi sobre este sistema que Keynes se debruçou para depois criar a sua Teoria Geral. A intervenção do Estado na economia se fazia necessária para estabilizar os preços, o nível de emprego, a renda e outras variáveis macroeconômicas relevantes. É importante caracterizar a crise de 1929: foi uma crise de superprodução e de subconsumo, já que não havia demanda suficiente para absorver toda a oferta, o que fez com que sobrassem muitos produtos sem serem consumidos, o que teve como consequência uma queda generalizada dos preços (acentuada deflação) que, por sua vez, teve como decorrência uma redução expressiva da renda dos empresários que, por causa do prejuízo que tiveram, diminuíram substancialmente os investimentos, o que fez decrescer significativamente o nível de emprego. Daí surgiu Keynes defendendo a intervenção do Estado na economia para ajustar a oferta à demanda, principalmente para aumentar a demanda agregada na fase recessiva do ciclo econômico. Os estadistas seguiram a teoria de Keynes e a economia se desenvolveu. Os instrumentos para concretizar a intervenção do Estado na economia passaram a ser as políticas fiscal e monetária. A política fiscal é o componente da política econômica que se refere, por um lado, às receitas públicas, ou seja, à arrecadação dos tributos do Estado sobre a renda, o patrimônio e o consumo das pessoas físicas e jurídicas, e, por outro lado, aos dispêndios do Governo, os quais estão explicitados no orçamento público. Desta forma, a política fiscal abrange dois componentes distintos: o relativo à política tributária, concernente à receita pública, e a política orçamentária, pertinente à despesa pública. Com relação à política monetária, ela concerne ao controle da oferta de moeda e da taxa de juros, o que tem consequências para os níveis de investimento, emprego e consumo da economia. Assim o Governo implementaria a política monetária por meio de três mecanismos principais: o mercado aberto, o depósito compulsório e o redesconto. Keynes enfatizava mais a política fiscal do que a monetária, mas a existência de uma autoridade monetária pública exercendo controle sobre a oferta de moeda era tópico relevante na sua teoria econômica. 3.3 – Na Economia Brasileira A história da economia brasileira até a chegada do pensamento de Keynes pode ser dividida em 3 fases: A primeira fase é aquela da expansão dos estados territoriais originários, onde o Brasil se colocava como reserva patrimonial, base de operação de força de trabalho compulsória e fonte de fornecimento de metais preciosos e matérias primas. Inicialmente, nosso país se colocava como parte subordinada de um movimento que tinha seu motor principal na Europa e que constituía a etapa primeira da afirmação do modo de produção capitalista em nível mundial. Na segunda fase, o país aparecia como produtor de bens primários, os produtos agrícolas e matérias primas aqui produzidas, garantindo com isso o sucesso da acumulação capitalista nos países centrais que mantinham a natureza heterônoma da economia brasileira. Consideradas conjuntamente, as duas primeiras fases somam mais de quatro séculos. Em 1930 abre-se assim a terceira fase, que então inicia-se com a possibilidade da construção de uma economia nacional autônoma, em que o Estado tivesse o comando do ritmo e dos rumos do processo de acumulação. Entre os anos de 30 e meados dos anos 50, com a segunda grande guerra de entremeio, construiu-se na prática essa perspectiva, que poderíamos chamar “desenvolvimentista”, a qual visava ordenar de forma soberana o movimento de catching up da economia brasileira, de modo a tornar a industrialização o instrumento de um efetivo desenvolvimento do país. A doutrina de Keynes é ativista, preconiza a Ação do Estado na promoção e sustentação de sua economia. No período de exploração/expansão territoriais, de produção, de possibilidades e de falta de credibilidade, com uma política monetária de endividamento público o Brasil viveu um momento de estagnação na economia. Deflagrada no pensamento Keynes vivenciado no período, podendo observar uma relação onde o país passava por uma espécie de ondas, a saída preconizada pela doutrina Keynesiana se daria através da ação do Estado definida como um posicionamento político em defesa de estratégias a fim de direcionar estímulos à demanda de políticas fiscais, monetárias e de rendas. Assim, a expectativa sobre essas mudanças é a razão fundamental, recaindo sobre a análise da teoria Keynesiana da preferência pela liquidez. 3.4 – Na Economia Brasileira atual – séc. XXI As políticas de Keynes e os objetivos dela serviram, como uma lupa pela qual se analisara a economia brasileira contemporânea às perspectivas de novas ideias e proposições sobre os rumos tomados pelas Autoridades Econômicas Brasileiras (AEB), tendo como objetivo debater aspectos da política econômica e da performance da economia brasileira no período pós-implantação do Plano Real, entre 1994 e 2011, a partir das ideias que conformam a lógica operacional das políticas econômicas Keynesianas. É importante destacar que, mesmo diante de regimes monetário e cambial diversos, a ênfase das políticas econômicas brasileiras desde 1994 é, sobretudo, a estabilidade monetária e, portanto, a política econômica tem um papel ativo. Para Keynes, juros representam uma alternativa de investimento utilizada pelos agentes em suas tentativas de ampliação da riqueza que possuem. Keynes apontava ainda que não podemos ter esperança de controlar as taxas internas de juros, se os movimentos de recursos de capital para fora do país forem ilimitados. Portanto, desde 1994 os juros da política monetária estiveram como principal instrumento utilizado para o exercício da política econômica brasileira. A articulação das políticas econômicas no Brasil desde 1995 acabaram por expandir a dívida publica e por comprometer o resultado fiscal do setor público, sendo que não restou alternativa ao setor publico a não ser financiar-se por uma taxação continuamente maior proporcionalmente ao PIB. Para a teoria Keynesiana, uma das possíveis causas para esse comportamento do produto brasileiro pode ter sido o desincentivo ao investimento, ao consumo e às exportações, decorrente tanto da política monetária contracionista quanto da apreciação cambial. Caso o interesse da política econômica, como se expressa na teoria Keynesiana, tivesse ocorrido no sentido de estimular o crescimento da riqueza, a alíquota dessa, que seria transferida ao Estado, aumentaria de forma automática sem a necessidade de uma maior carga tributária imposta à sociedade. Os superávits primários se tornaram uma meta e seus valores tornaram-se significativos após o início do governo Lula, em 2003. Como resposta a crise econômica internacional, o Governo ampliou os dispêndios públicos em políticas de transferência de renda, como o Bolsa Família e instituiu programas de investimentos públicos, como o “Minha casa, Minha Vida”. De forma diferente do que o déficit no orçamento de capital, o pensamento Keynesiano propõe que, os déficits financeiros (nominais) incorridos pelo Estado brasileiro não promovem a manutenção das taxas de empregos. Pelo contrário, visam conter a demanda agregada e a espiral, salário/preços. Para Keynes, um dos maiores problemasseria a melhoria da distribuição de renda, que seria um dos objetivos centrais de sua filosofia social. O governo brasileiro implementou diversas medidas para enfrentar a crise econômica internacional iniciada em 2007, notadamente de cunho fiscal e monetário. Tendo ainda o Banco Central do Brasil tomado algumas medidas importantes, sendo uma delas uma série de cortes na taxa de juros básica da economia brasileira reduzindo-a de 13,75% para 8,75% no período de janeiro a julho de 2009, agilizou a compra por parte dos bancos públicos de instituições financeiras em risco de insolvência e outras medidas financeiras. O Brasil, mesmo tendo implementado medidas contracíclicas, passou a sofrer diretamente os impactos então sentidos pelos países desenvolvidos. Como resultado da crise, a atividade econômica teve uma queda significativa de 0,6% do PIB em 2009 ante um crescimento de 5,1% em 2008. Nesse período os principais indicadores que dinamizam a demanda agregada da economia brasileira, quais sejam investimento, consumo e exportações caíram significativamente; a taxa de investimento recuo 20,3%, o consumo privado decresceu 1,1% e as exportações declinaram 22,1%. Não se pode dizer que as políticas contracíclicas implementadas tenham tido natureza estritamente Keynesiana, justamente porque as políticas econômicas Keynesianas propõem a ação contínua do Estado no sentido de se evitarem trajetórias recessivas ao contrário do Brasil. Enfim, não se espera do Estado remediar, mas sim evitar os ciclos econômicos a que estão sujeitas as economias monetárias. Keynes propõe políticas econômicas estabilizadoras automáticas que viabilizem bases seguras à ação empresarial, não as bases que se fizeram no Brasil, de compromisso constante. A preocupação de Keynes dizia respeito, essencialmente, a como promover a maior riqueza social possível e que fosse passível de usufruto pela maior quantidade de indivíduos, tendo como elemento central nessa produção de riqueza os empresários e seus animal spirits. Com o inicio do governo Dilma Roussef, a articulação das políticas econômicas instrumentais deteve um novo perfil, em que o crescimento econômico parece ter assumido uma importância equivalente à estabilidade de preços. Entretanto não se pode dizer que há tons mais próximos às ideias de Keynes na recente política econômica levada a efeito no País. O atual governo, bem como seu antecessor, detiveram posturas diferentes, que se refletiram em políticas fiscal e de renda que, em concomitância ao conservadorismo da política monetária, buscaram incentivar a ampliação do emprego, da renda e da riqueza. Talvez essa postura tenha sido responsável pelas maiores expansões do PIB, o que sinaliza que os empresários respondem aos estímulos dados pelo Estado, tal qual propugnado por Keynes. 3.5 – Na Economia Mundial Atual Sem dúvida estamos vivendo um daqueles momentos econômicos e sociais em que a incerteza radical é percebida de forma extremada, relacionada principalmente às expectativas empresariais de longo prazo no que se refere a um futuro incerto e nebuloso. Segundo Luiz Fernando de Paula, presidente da Associação Keynesiana Brasileira (AKB), o cenário internacional está bastante nebuloso quanto à recuperação econômica mundial, e em particular em relação ao risco de um novo contágio causado pelo aprofundamento da crise do euro, com fortes impactos sobre as outras regiões. Não há região hoje que puxe o crescimento mundial, seja os países mais dinâmicos asiáticos, EUA e muito menos a zona do euro. Apresenta-se assim o forte risco de estarmos em uma "double dip recession", uma dupla recessão, que pode ao fim e ao cabo vir a caracterizar uma Grande Recessão. A semiestagnação da economia norte-americana, combinada com a crise da zona do euro e a desaceleração econômica recente dos países emergentes abrem uma segunda rodada de recessão mundial. A taxa de desemprego nos EUA encontra-se ainda acima de 8% da população economicamente ativa; já a na zona do euro a mesma taxa aumentou de 10% no início de 2011 para mais de 11% em 2012. Nesta última região, a recessão, embora atinja mais os países do sul da Europa, aproxima-se de economias maiores, como França e Alemanha. Evidentemente, o centro da crise atual é a zona do euro, às voltas com sérios problemas estruturais e, mais importante, com a falta de uma estrutura de governança global razoavelmente eficaz para lidar com seus problemas. A questão estrutural está relacionada, entre outras, à existência de uma forte heterogeneidade econômica dos países da zona do euro devido a níveis de competitividade e de inflação distintos, em um contexto de uma moeda única. A recessão europeia transmite seus efeitos negativos para outras regiões, em particular países que dependem mais fortemente das exportações para seu dinamismo econômico, como a China, que sofre com o baixo dinamismo das economias avançadas e com a dificuldade do governo dar uma resposta à crise como fez em 2008-09, quando respondeu a crise com um forte programa de investimentos públicos em infraestrutura. Começa a aparecer problemas no sistema financeiro, relacionados ao aumento da inadimplência, agora agravados pela desaceleração econômica. Os impactos da crise mundial sobre a economia brasileira já se fazem sentir por vários canais: redução da demanda e preços das commodities, com efeitos sobre as exportações; diminuição nos fluxos de capitais externos face a maior aversão ao risco dos investidores; e, mais importante, uma deterioração nas expectativas empresariais face a percepção de incerteza quanto ao futuro da economia mundial e da incapacidade de dar respostas adequadas para a crise atual. Karl Polanyi mostrou em seu livro "A grande transformação" que, na evolução histórica do capitalismo, o liberalismo econômico se tornou um credo, com a universalização dos mercados autorregulados, através da defesa permanente do laissez-faire e do livre comércio. Começou como uma tentativa de eliminar algumas leis e regulamentações da produção até atingir a economia inteira. Houve uma forte participação do Estado para atingir um nível de regulação que tornasse o "laissez-faire" um principio ativo da economia. O paradoxo, para ele, é que "enquanto que a economia laissez-faire foi o produto da ação deliberada do Estado, as restrições subsequentes ao laissez-faire se iniciaram de forma espontânea. A sociedade, seguindo o princípio da autoproteção social, teria uma reação defensiva que se articula historicamente "não em torno de interesses de classes particulares, mas em torno da defesa das substâncias sociais ameaçadas pelos mercados". A crise econômica atual é uma crise de um mundo excessivamente liberalizado, em particular no que se refere às finanças globais. A sociedade está ameaçada pelas forças avassaladoras do livre mercado e pela inação e miopia dos governantes e elites políticas. A reconstrução de uma nova era de prosperidade só será possível repensando-se profundamente a relação Estado e economia, a geopolítica mundial, o grau de autonomia das políticas públicas frente a globalização, o formato da regulação do sistema financeiro, e o sistema de proteção social. O mercado é e sempre será, como destacou Polanyi, uma construção política e social. Tal e qual foi promovido por Keynes em sua teoria.
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